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Victoria Chagas 1 IRA INJÚRIA RENAL AGUDA Victoria Chagas 2 IRA/LRA – INJÚRIA RENAL AGUDA/LESÃO RENAL AGUDA O QUE É? - Queda abrupta da TFG – valor normal de 120/ml/min (taxa de filtração glomerular – representa o volume de sangue que os glomérulos filtram a cada minuto), levando a uma: • Retenção de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina) • Desregulação do volume extracelular e de eletrólitos (DHE/AB) - A azotemia costuma aparecer quando TFG <50% do valor normal, logo mesmo um paciente sem azotemia pode apresentar perda significativa da função renal • Cr >1,5mg/dl em homens • Cr >1,3mg/dl em mulheres EPIDEMIO - É mais comum no ambiente hospitalar, com incidência de 5-7% e de 1% fora do hospitalar. - Mortalidade pode variar entre 30-86% dependendo do contexto clínico do paciente - Os sobreviventes tem maior risco de desenvolver uma DRC (doença renal crônica) - Incidência aumenta com a idade, sendo 3,5 vezes maior nos pacientes acima de 70 anos ➢ FATORES DE RISCO: • Doença renal crônica • Idosos • Desidratação • Exposição a nefrotóxicos • Hipertensos e diabéticos FISIOPATO ➢ CLASSIFICAÇÃO DA IRA QUANTO A DIURESE • IRA OLIGÚRIA: DU <400-500ML/24H. • IRA NÃO OLIGÚRIA/POLIÙRIA: DU >400-500ML/24H - Mais de 50% das IRAS cursa com volume urinário normal em torno de 1 a 2 litros - Poliúria (+ de 3L) pode ser observado em alguns casos • IRA ANÚRIA: DU<50-100ML/24H. ** Como é possível insuficiência renal sem oligúria? Na insuficiência renal há redução significativa da TFG e com isso espera-se que haja uma redução proporcional do débito urinário, levando à oligúria. Entretanto, nas doenças tubulares, o débito urinário pode Victoria Chagas 3 FISIOPATO não diminuir, apesar de haver queda da TFG e injúria renal grave. A explicação é a seguinte: na tubulopatia, há uma queda desproporcional da reabsorção tubular! No néfron normal, cerca de 98% do que é filtrado é reabsorvido. Com o túbulo muito doente, a reabsorção pode cair, por exemplo, para 85%. Assim, mesmo com uma filtração glomerular reduzida (ex.: 10 ml/min ou 12 L/dia), se a reabsorção for de apenas 85% (10 L/dia), o débito urinário poderá se manter em 2 L/dia. Se a reabsorção piora (ex.: 9 L/dia), o paciente urina cerca de 3 L/dia. ➢ CLASSIFICAÇÃO ANATÔMICA o IRA PRÉ-RENAL (55-60% dos casos) - Origem “antes do rim” → parênquima renal íntegro - Hipoperfusão tecidual renal com PAS <80mmHg (redução do fluxo sanguíneo para o rim) • Redução do débito cardíaco → insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar, infarto agudo do miocárdio, hepatopatias crônicas e síndrome nefrótica. • Depleção do fluido corporal → diarreia/vômitos, hemorragias graves, ascite e desidratação, choques... • Alterações na autorregulação → medicamentos como AINES e IECA/BRA atuam interferindo na hemodinâmica do corpo, inibindo a ação ou produção das prostaglandinas (vasodilatação da arteríola aferente) e angiotensina ll (vasoconstrição da arteríola eferente), que auxiliam no aumento da pressão por meio do aumento da TFG. ✓ Fisiopatologia - Autorregulação da TFG → Quando há redução do fluxo sanguíneo renal, a arteríola aferente sofre dilatação por conta dos mediadores químicos (ex.: prostaglandinas, NO, etc.) e do reflexo miogênico, por conta do estímulo de barorreceptores nesse vaso, aumentando esse fluxo. Sinergicamente as arteríolas eferentes sofrem contração por conta do sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRAA). Tudo isso na tentativa de manter a TFG. - No entanto, a autorregulação possui certo limite, sendo feita somente até a PAS = 80 mmHg, abaixo disso o paciente entra num estado de hipoperfusão renal grave e duradoura, apresentando lesão renal - Na tentativa de conservação hidrossalina, a angiotensina II aumenta a reabsorção de sódio e água pelo néfron proximal, enquanto a aldosterona aumenta a reabsorção de sódio e água no néfron distal. A vasopressina ↑ a reabsorção de água no néfron distal → resulta em oligúria, urina hiperconcentrada e ↓ em sódio - Geralmente é reversível, mas pode evoluir para NTA (IRA renal) Victoria Chagas 4 FISIOPATO o IRA RENAL/INTRÍNSECA (35-40% dos casos) - Dano estrutural no parênquima por fatores intrínsecos → pode acometer qualquer segmento do néfron - Principal causa de IRA em UTI - Necrose tubular aguda (NTA) é a forma mais comum (90%) - Pode ser decorrente de IRA pré-renal não tratada - Pode cursar com oligúria (NTA isquêmica, rabdomiólise, glomerulonefrites), anúria ou não oligúria/poliúria (NTA por aminoglicosídeos, etc.) ✓ Necrose tubular aguda - Morte das células tubulares resultam em uma obstrução do túbulo do néfron e extravasamento do filtrado para o interstício → lesão nos túbulos prejudicam a reabsorção. - Tende a ser autolimitada com duração de 7 a 14 dias. - Pode ser: • Isquêmicas → choque cardiogênico, sepse, SIRS, pós operatório, e trauma grave... - Leva a uma IRA oligúrica • Tóxicas → leptospirose, venenos, contraste, pigmentos, metais pesados, rabdomiólise, medicamentos (aminoglicosídeos é o principal) ✓ Nefrite intersticial aguda (NIA) - Inflamação aguda do interstício renal - Incidência subestimada → necessita de biópsia renal - Geralmente há oligúria (pelo edema intersticial e compressão extrínseca dos túbulos) - Principais causas: • Medicamentos → antibióticos (penicilinas, cefalosporina, sulfas, tetraciclinas...), AINES, alopurinol, omeprazol, diuréticos, captopril... • Autoimunes → AR, Sjogren, sarcoidose • Infecções → pielonefrite aguda - Manifesta com febre, rash cutâneo, eosinofilia e sintomas inespecíficos. - Tratado com a suspenção de medicamento (fator precipitante), correção dos distúrbios hidroeletrolíticos e ácidos-base. Corticoide se graves e ausência de melhora após 7 dias Victoria Chagas 5 FISIOPATO o IRA PÓS RENAL (5-10% dos casos) - Interrupção no sistema urinário (ureter, bexiga e uretra) devido obstrução mecânica - Só irá se desenvolver nas obstruções bilaterais geralmente, pois o rim contralateral é capaz de suprir a falta do outro, exceto em caso de nefropatas crônicos. - Por conta do seu mecanismo congestivo, pode causar lesões e repercutir para IRA renal. ✓ Fisiopatologia - Congestionamento da urina → pressão glomerular aumenta e reduz a TFG. - Vale lembrar que essa ↓ da TFG ocorre ao longo do quadro → precipitado por fase de ↑ leve da TFG devido vasodilatação da aferente quando a pressão a. renal ↑ (prostaglandinas). Com o passar do tempo essa taxa vai decaindo devido produção local de vasoconstritores. CLÍNICA - No geral, os sintomas são devido à condição clínica causal (como hipovolemia, ICC, sepse) e muitas das vezes o paciente se apresenta assintomático. - Principais manifestações/complicações: ✓ OLIGÚRIA, ANÚRIA OU POLIÚRIA ✓ ALTERAÇÕES HIDROELETROLÍTICAS • Hipernatremia e hipervolemia → retenção de sódio (pode levar a uma HAS leve, edema cerebral, edema agudo de pulmão e edema periférico)→ com a diluição desse sódio pode levar uma hiponatremia que quando agudizada pode causar edema cerebral, crise convulsivas, cefaleia, confusão, coma. Victoria Chagas 6 CLÍNICA • Hipercalemia → retenção de potássio → menos comum, mas mais grave devido teor cardiotóxico quando em excesso (é assintomático em doses baixas) • Hiperfosfatemia e hipercalcemia → podem estar presentes devido excesso de potássio nesses pacientes ✓ DISTÚRBIOS ÁCIDO-BASE • Acidose metabólica → retenção de metabolitos ácidos por conta da falha na filtração → intervalo aniônico (ânion gap) elevado → em casos graves cursa com náuseas, vômitos, letargia e hiperpneia. Diagnostico por gasometria arterial e eletrólitos séricos. ✓ UREMIA (SÍNDROME URÊMICA AGUDA) → relacionada a azotemias graves (acúmulo de toxinas nitrogenadas como a ureia) com TFG <35 ml/min; ureia >120mg/dL e Cr (>4mg/dl) - Pacientes podem apresentar sintomas mais leves ou mais graves quando Ureia>380 mg/dl • Neurológica: Confusão, irritabilidade, delirium, convulsão, Babinsk + → encefalopatia urêmica • Cardiovascular: pericardite urêmica, tamponamento cardíaco e arritmia • Pulmonar: edema agudo de pulmão, pleurite... • Digestivos: náuseas, vômitos, anorexia, inflamação de mucosa, úlceras... • Hematológicas: trombocitopenia leve, disfunção plaquetária e anormalidade fatores de coagulação, anemia normocrômica e normocítica (devido DRC) - Sintomas específicos das etiologias: • IRA PRÉ-RENAL: sinais de hipovolemia → sede, hipotensão postural, má perfusão, hemorragias, diarreia, vômitos, poliúria, choque... • IRA RENAL NEFROTÓXICA OU ISQUÊMICA: ✓ Glomerulonefrite: sedimento urinário ativo, edema, hipertensão e oligúria ✓ Nefrite intersticial aguda: ingestão recente de drogas, febre, exantema ou artralgias. ✓ Oclusão de veia ou artéria renal: dor no flanco associado há fibrilação atrial ou IAM. • IRA PÓS-RENAL: dor suprapúbica ou em flanco associada à bexiga palpável pode sugerir obstrução ureteral; nictúria, polaciúria e hesitação na síndrome prostática. Victoria Chagas 7 DIAGNÓS TICO - Começa a partir da identificação da patologia de base - Anamnese + exame físico + exames laboratoriais ➢ PRINCIPAIS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO RENAL: • UREIA SÉRICA − VR: 20-40 mg/dl − Amônia é tóxica ao organismo, então é convertida a ureia que é menos tóxica. − Como é eliminada quase exclusivamente pelo rim e de fácil dosagem, pode ser usada para estimar função renal → níveis ↑ quando TFG <50 ml/min − Não é o melhor método, pois cerca de 50% da ureia é absorvida no túbulo proximal, portanto condições que aumentam a reabsorção afetam seus valores (hipovolemia, insuficiência renal, sangramento, dieta hiperproteica...). • CREATININA SÉRICA − VR: Homens <1,5 mg/dl e Mulheres <1,3 mg/dl − Substância produzida pelo músculo, derivada da creatina (armazena energia no miócito) − A sua desvantagem é que para que seu nível eleve, é necessária uma queda da TFG em <50% do normal → devido a isso, os estágios inicias da disfunção renal pode não ser detectado com essa dosagem apenas. − A creatinina sérica é inversamente proporcional TFG → TFG ↓ pela metade a Cr deve ↑ dobro − Algumas drogas/substâncias podem ↑ a Cr sem que haja ↓ de TFG → penicilina (competem com Cr pela secreção no T. proximal – eleva até 0,5 mg/dl); acetoacetato e na rabdomiólise. • CLEARENCE DE CREATININA − VR: 90 – 130 ml/min − O mais utilizado para diagnosticar estágio inicial da IRA. − Na IRA avançada perde sua precisão, ↑ TFG 35% devido Cr secretada nos túbulos. − É uma estimativa da TFG (costuma ser 10-15% maior q a TFG real devido secreção tubular) − Pode ser avaliado diretamente pelo exame de urina 24hrs: paciente coleta toda a urina durante 24 hrs e leva ao laboratório, lá retira o sangue (deve ser no intervalo de 72 horas da urina) e faz a conta pela fórmula acima. − Pode ser estimada também através de fórmulas matemáticas (não usa em IRA) • INULINA − Considerado o padrão ouro, mas só é usado em pesquisas devido ↑ complexidade e custo Victoria Chagas 8 DIAGNÓS TICO ➢ EXAMES LABORATORIAIS: ** Valor normal de ureia/creatina é → 20:1 ➢ EXAME DE IMAGEM NA IRA PÓS RENAL: • USG: pode haver amento da ecogenicidade dos rins, perda da diferenciação corticomedular e dilatação do sistema coletor • TC de abdome: pode haver apresentação hiperdenso do cálculo ➢ BIÓPSIA RENAL - Indicada apenas em casos selecionados → causa desconhecida para o quadro, evolução atípica e/ou prolongada, suspeita de nefrite intersticial, necrose cortical, doença ateroembólica, glomerulonefrites agudas ou rapidamente progressivas e vasculites. ➢ CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS • KDIGO → mais usado na prática Victoria Chagas 9 TRATA MENTO ➢ MEDIDAS GERAIS • Monitoramento constante dos eletrólitos, creatina e ureia • Dieta com baixo sódio e potássio • Suspensão de fármacos como AINES, BRA e IECA • Evitar fármacos nefrotóxicos como contrastes radiológicos o IRA PRÉ-RENAL: • Reposição volêmica • Normalizar PAS • Suspender uso de diurético se possível o IRA RENAL: • Depende da doença de base • Em obstrução por trombo ou êmbolo → anticoagulante e estatina • Em intoxicação → suspender agente agressor • Em inflamação → corticoides o IRA PÓS-RENAL: • Avaliação urológica • Desobstrução do trato urinário com cateter vesical • Aumento da ingesta hídrica ➢ INDICAÇÕES DE DIÁLISE DE EMERGÊNCIA • Acidose metabólica grave • Eletrólitos → hipercalemia • Intoxicação • Overload → congestão cardíaca • Uremia
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