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Livro - Curso Direito Tributario Cap XII ( ítens 1 a 5 )

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Capítulo	XII
Crédito	Tributário	e	Lançamento
Sumário:	 1.	 Enunciados	 e	 objetos	 da	 experiência	 —	 “fato”	 como	 enunciado	 protocolar	 —	 a
constituição	 jurídica	 do	 “fato”.	 2.	 O	 evento	 previsto	 em	 norma	 e	 a	 chamada	 “relação	 jurídica
efectual”.	3.	O	fato	jurídico	tributário	e	seu	efeito	peculiar:	 instaurar	o	vínculo	obrigacional.	4.	A
natureza	do	crédito	 tributário	—	crédito	e	obrigação.	5.	O	crédito	 tributário	no	Código	Tributário
Nacional.	 6.	 Sobre	 a	 norma	 individual	 e	 concreta	 que	 documenta	 a	 incidência.	 7.	 Os	 sujeitos
credenciados	a	emitir	a	norma	individual	e	concreta	relativa	à	percussão	tributária.	8.	Lançamento
tributário	 —	 o	 problema	 semântico.	 9.	 Demarcação	 conceptual	 do	 vocábulo	 “lançamento”.	 10.
Lançamento	 tributário:	 norma,	 procedimento	 e	 ato.	 11.	 Lançamento	 e	 a	 teoria	 dos	 atos
administrativos.	12.	Definição	de	lançamento	tributário.	13.	As	cláusulas	da	definição	satisfazendo
a	 estrutura	 do	 ato.	 14.	 A	 norma	 jurídica	 do	 ato	 de	 lançamento	 e	 a	 norma	 que	 figura	 como	 seu
conteúdo.	15.	O	velho	problema	da	natureza	declaratória	ou	constitutiva	do	lançamento	tributário.
16.	 Sobre	 o	 conteúdo	 do	 ato	 de	 lançamento.	 17.	 Os	 atributos	 do	 ato	 jurídico	 administrativo	 de
lançamento.	18.	Lançamento	provisório	e	definitivo.	19.	Lançamento	e	auto	de	infração.	20.	Do	erro
de	fato	e	do	erro	de	direito	no	 lançamento	 tributário.	21.	Alterabilidade	do	lançamento	no	direito
positivo	 brasileiro.	 22.	 Modalidades	 de	 lançamento	 —	 crítica.	 23.	 Aspectos	 do	 lançamento	 no
Código	Tributário	Nacional.	24.	A	norma	 jurídico-tributária,	 individual	e	concreta	produzida	pelo
sujeito	passivo.	25.	A	 linguagem	produtora	da	norma	 individual	 e	concreta	e	o	momento	em	que
ingressa	no	sistema	positivo.
1.	 Enunciados	 e	 objetos	 da	 experiência	 —	 “fato”	 como	 enunciado
protocolar	—	a	constituição	jurídica	do	“fato”
Jurgen	 Habermas129	 trabalha	 com	 a	 distinção	 entre	 fatos	 e	 objetos	 da
experiência.	 Os	 fatos	 seriam	 os	 enunciados	 linguísticos	 sobre	 as	 coisas	 e	 os
acontecimentos,	 sobre	 as	 pessoas	 e	 suas	 manifestações.	 Os	 objetos	 da
experiência	 são	 aquilo	 acerca	 do	 que	 fazemos	 afirmações,	 aquilo	 sobre	 que
emitimos	 enunciados.	 Deriva	 dessas	 observações	 que	 o	 status	 dos	 fatos	 é
diferente	 do	 status	 dos	 objetos	 a	 que	 se	 referem.	 Con	 los	 objetos	 hago
experiencias,	 los	hechos	 los	afirmo;	no	puedo	experimentar	hechos	ni	 afirmar
objetos	(o	experiencias	con	los	objetos).	E	Robert	Alexy130,	expondo	a	crítica	de
Habermas	à	teoria	da	verdade	como	correspondência,	para	afirmar	a	adoção	da
“verdade	consensual”,	esclarece	que	a	condição	para	a	verdade	das	proposições	é
o	acordo	potencial	de	 todos	os	demais,	querendo	significar	que	alguém	poderá
atribuir	 um	 predicado	 a	 um	 objeto	 se	 qualquer	 outro,	 que	 com	 esse	 alguém
estabeleça	diálogo,	viesse	a	atribuir	o	mesmo	predicado	ao	mesmo	objeto.
Essa	também	é	a	perspectiva	de	Tércio	Sampaio	Ferraz	Jr.131	com	relação	ao
conceito	 de	 fato:	 “É	 preciso	 distinguir	 entre	 fato	 e	 evento.	 A	 travessia	 do
Rubicão	por	Cesar	 é	um	evento.	Mas	 ‘Cesar	 atravessou	o	Rubicão’	 é	um	 fato.
Quando,	 pois,	 dizemos	 que	 ‘é	 um	 fato	 que	 Cesar	 atravessou	 o	 Rubicão’
conferimos	 realidade	ao	evento.	 ‘Fato’	não	é	pois	 algo	concreto,	 sensível,	mas
um	 elemento	 linguístico	 capaz	 de	 organizar	 uma	 situação	 existencial	 como
realidade”.
Ao	 mesmo	 tempo,	 é	 importante	 acrescentar,	 como	 faz	 este	 autor,	 que	 o
elemento	de	linguagem	“é	fato	que”,	constituindo	em	realidade	o	evento	que	ele
atesta	 ter	 ocorrido,	 há	 de	 assumir	 as	 proporções	 de	 um	 enunciado	 verdadeiro,
assim	 entendido	 aquele	 que	 expressa	 o	 uso	 competente	 da	 linguagem.	 Se	 o
discurso	 de	 quem	 expede	 a	 oração	manifestar-se	 de	 tal	modo	 que	 alguém	que
domine	o	idioma	também	o	faça,	então	o	enunciado	será	considerado	verdadeiro.
Daí	 a	 conclusão	de	 que	 a	 realidade	 constituída	 por	 um	enunciado	 é	 função	da
verdade	ou	do	uso	competente	do	idioma.	Tenhamos	presente	que	a	realidade,	o
mundo	real,	para	Tércio,	não	é	um	dado,	mas	uma	articulação	linguística	mais
ou	menos	uniforme	num	contexto	existencial132.
Não	é	qualquer	função	pragmática	da	linguagem	que	propicia	a	composição
de	 um	 enunciado	 factual.	 Além	 da	 linguagem	 descritiva,	 indicativa	 ou
declarativa,	muito	usada	na	comunicação	diária	e	no	discurso	científico,	torna-se
possível	 emitir	 enunciados	 fácticos	 também	 em	 linguagem	 prescritiva	 e	 em
linguagem	operativa	ou	performativa.	Obviamente	que	os	valores	lógicos	de	tais
enunciados	 serão	 os	 inerentes	 ao	 uso	 empregado:	 verdadeiro	 e	 falso,	 para	 o
descritivo;	 válido	 e	 não	 válido	 para	 o	 prescritivo;	 e	 eficaz	 e	 ineficaz	 para	 o
performativo.	 A	 despeito	 da	 função,	 porém,	 em	 todos	 eles	 haverá,
necessariamente,	um	quantum	de	referencialidade,	uma	vez	que	são	formações
linguísticas	 voltadas	 para	 o	 mundo	 fenomênico	 das	 coisas,	 projetando-se	 no
domínio	dos	objetos	da	experiência.	Na	composição	de	tais	enunciados,	sobre	as
regras	 que	 orientam	 a	 boa	 formação	 sintática,	 hão	 de	 observar-se	 os	 usos	 do
idioma,	 sem	 o	 que	 o	 sentido	 daquelas	 estruturas	 não	 será	 apto	 para	 fins
denotativos.	E	esses	fins	reclamam	a	identificação	da	ocorrência	num	intervalo
de	 tempo	 e	 num	 ponto	 do	 espaço.	 Serão,	 portanto,	 necessariamente,
determinativos.	 Por	 isso,	 o	 verbo	 há	 de	 estar	 no	 presente	 ou	 no	 passado,
excluindo-se	 o	 futuro.	 Como	 salienta	 Tércio	 Sampaio	 Ferraz	 Jr.133,	 não	 teria
cabimento	 afirmar-se	 como	 fato	 acontecimento	 futuro.	 Por	 outro	 lado,	 tal
afirmação	 não	 significa	 a	 impossibilidade	 de	 construir	 conjuntos	 que	 possam
receber,	um	a	um,	as	ocorrências	factuais	que	venham	a	suceder.	É	bom	lembrar
que	 se	 constrói	 uma	 classe	 ou	 conjunto	 enumerando	 os	 indivíduos	 que	 a
compõem,	 ou	 indicando	 as	 notas	 ou	 nota	 que	 o	 indivíduo	 precisa	 ter	 para
pertencer	à	classe	ou	conjunto.	A	primeira	é	a	forma	tabular;	a	segunda,	forma	de
construção.	 A	 modalidade	 em	 que,	 quase	 sempre,	 se	 manifesta	 a	 proposição
normativa	 geral	 e	 abstrata	 não	 é	 a	 forma	 tabular,	mas	 a	 forma	 de	 construção.
Nela	se	estatuem	as	notas	(conotação)	que	os	sujeitos	ou	as	ações	devem	ter	para
pertencerem	 ao	 conjunto.	 A	 relação	 de	 pertinencialidade	 é	 determinada
conotacionalmente.	 Este	 o	 modo	 mais	 frequente	 no	 direito	 positivo.	 Seria
infindável	formar	classes	pela	enumeração	dos	indivíduos	ou	ações,	já	que	o	real
é	 irrepetível	 e	 a	 experiência	 é	 infinita	 e	 inesgotável.	 São	 assim	 as	 previsões
hipotéticas:	 “dado	 que	 alguém	 realize	 operações	 relativas	 à	 circulação	 de
mercadorias,	 no	 território	 do	 Estado	 de	 São	 Paulo,	 reputando-se	 acontecido	 o
fato	 no	 momento	 em	 que	 as	 mercadorias	 deixarem	 o	 estabelecimento	 do
contribuinte,	 então...”.	 Cada	 enunciado	 que	 venha	 a	 ser	 formado,	 contendo	 os
caracteres	selecionados	na	composição	típica	da	hipótese,	subsumir-se-á	naquele
conjunto	que,	dessa	maneira,	poderá	receber	um	número	infinito	de	ocorrências
fácticas.	É	bom	ter	presente	que	a	formação	desses	segmentos	linguísticos	com
sentido	 completo	 pressupõe	 um	 processo	 seletivo,	 com	 a	 eleição	 dos	 traços
julgados	 mais	 relevantes	 para	 a	 identificação	 do	 objeto	 da	 experiência,
refletindo,	não	o	real,	mas	um	ponto	de	vista	sobre	o	real,	como	salienta	Samira
Chalhub134.
A	 esta	 altura,	 já	 podemos	 dizer	 que	 o	 enunciado	 factual	 é	 protocolar,
surpreendendo	 uma	 alteração	 devidamente	 individualizada	 do	 mundo
fenomênico,	com	a	clara	determinação	das	condições	de	espaço	e	de	tempo	em
que	se	deu	a	ocorrência.	Articulação	de	linguagem	organizada	assim,	com	esse
teor	de	denotatividade,	chamaremos	de	fato,	fato	político,	econômico,	biológico,
psicológico,	 histórico,	 jurídico	 etc.	 No	 direito	 positivo,	 correspondem	 ao
antecedente	das	normasindividuais	e	concretas.
Nos	enunciados	que	se	projetem	para	o	futuro,	selecionando	marcas,	aspectos,
pontos	de	vista,	linhas,	traços,	caracteres,	que	não	se	refiram	a	um	acontecimento
isolado,	 mas	 que	 se	 prestem	 a	 um	 número	 indeterminado	 de	 situações,
reconheceremos	as	previsões	típicas	que	aparecem	nos	antecedentes	normativos,
de	 feição	 predominantemente	 conotativa.	 Chamá-los-emos	 “enunciados
conotativos”	 e	 diremos	 que	 frequentam	 as	 normas	 jurídicas	 gerais	 e	 abstratas.
Vamos	 ter,	então,	enunciados	denotativos	ou	fatos	e	enunciados	conotativos	ou
classes	formadas	com	os	predicados	que	os	enunciados	factuais	deverão	conter.
Convém	 advertir,	 portanto,	 que	 essas	 orações	 conotativas	 não	 abrigam
propriamente	 fatos,	 mas	 elementos	 caracterizadores	 de	 eventuais	 ocorrências
fácticas,	pelo	que,	em	termos	rigorosos,	não	devemos	dizer	que	o	 fato	 jurídico
esteja	contido	na	hipótese.
Os	 enunciados	 das	 normas	 gerais	 e	 abstratas,	 por	 isso	 que	 lidam	 com	 uma
acentuada	 carga	 de	 indeterminação	 (vaguidade),	 necessitam	 dos	 enunciados
denotativos	das	normas	 individuais	para	atingirem	a	concretude	da	experiência
social.
Pois	 bem.	 Tais	 reflexões,	 de	 fora	 parte	 as	 implicações	 que	 certamente
provocam	 no	 âmbito	 da	 teoria	 geral	 do	 conhecimento,	 adquirem	 uma
importância	enorme	para	fundamentar	o	ponto	de	vista	deste	trabalho,	porquanto
nossa	proposta	epistemológica	descansa	precisamente	na	circunstância	de	que	há
uma	 linguagem,	 que	 nominamos	 de	 social,	 constituidora	 da	 realidade	 que	 nos
cerca.	 Sobre	 essa	 camada,	 a	 “linguagem	 do	 direito	 positivo”,	 como	 discurso
prescritivo	de	condutas,	vai	 suscitar	aquele	plano	que	 tratamos	como	sendo	da
“facticidade	 jurídica”:	 fatos	 jurídicos	não	são	simplesmente	os	 fatos	do	mundo
social,	constituídos	pela	linguagem	de	que	nos	servimos	no	dia	a	dia.	Antes,	são
os	 enunciados	 proferidos	 na	 linguagem	 competente	 do	 direito	 positivo,
articulados	em	consonância	com	a	teoria	das	provas.	Quem	quiser	relatar	com
precisão	 os	 fatos	 jurídicos,	 nomeando-lhes	 os	 efeitos,	 que	 use	 a	 teoria	 das
provas,	 responsável	 pelo	 estilo	 competente	 para	 referência	 aos	 acontecimentos
do	mundo	do	direito.
Com	 efeito,	 se	 as	 mutações	 que	 se	 derem	 entre	 os	 objetos	 da	 experiência
vierem	 a	 ser	 contadas	 em	 linguagem	 social,	 teremos	 os	 fatos,	 no	 seu	 sentido
mais	largo	e	abrangente.	Aquelas	mutações,	além	de	meros	“eventos”,	assumem
a	 condição	 de	 “fatos”.	Da	mesma	 forma,	para	 o	 ponto	 de	 vista	 do	 direito,	 os
fatos	 da	 chamada	 realidade	 social	 serão	 simples	 eventos,	 enquanto	 não	 forem
constituídos	 em	 linguagem	 jurídica	 própria.	 Pensemos	 num	 exemplo	 singelo:
nasce	uma	criança.	 Isto	é	um	evento.	Os	pais,	entretanto,	contam	aos	vizinhos,
relatam	os	pormenores	aos	amigos	e	escrevem	aos	parentes	de	fora	para	dar-lhes
a	notícia.	Aquele	evento,	por	força	dessas	manifestações	de	linguagem,	adquiriu
também	as	proporções	de	um	fato,	num	de	seus	aspectos,	 fato	social.	Mas	não
houve	o	fato	jurídico	correspondente.	A	ordem	jurídica,	até	agora	ao	menos,	não
registrou	o	aparecimento	de	uma	nova	pessoa,	centro	de	imputação	de	direitos	e
de	 deveres.	 A	 constituição	 jurídica	 desse	 fato	 vai	 ocorrer	 quando	 os	 pais	 ou
responsáveis	comparecerem	ao	cartório	de	registro	civil	e	prestarem	declarações.
O	 oficial	 do	 cartório	 expedirá	 norma	 jurídica,	 em	 que	 o	 antecedente	 é	 o	 fato
jurídico	 do	 nascimento,	 na	 conformidade	 das	 declarações	 prestadas,	 e	 o
consequente	é	a	prescrição	de	relações	jurídicas	em	que	o	recém-nascido	aparece
como	titular	dos	direitos	subjetivos	fundamentais	(ao	nome,	à	integridade	física,
à	 liberdade	 etc.),	 oponíveis	 a	 todos	 os	 demais	 da	 sociedade.	 Eis	 uma	 relação
jurídica	 em	 que	 o	 sujeito	 ativo	 está	 determinado,	 e	 o	 passivo,	 em	 estado	 de
indeterminação.
É	que,	muitas	vezes,	o	direito	posto	não	se	satisfaz	com	a	linguagem	ordinária
que	utilizamos	em	nossas	comunicações	corriqueiras:	exige	uma	forma	especial,
fazendo	 adicionar	 declarações	 perante	 autoridades	 determinadas,	 requerendo	 a
presença	de	 testemunhas	e	outros	 requisitos	mais.	 Justamente	o	que	 sucede	no
caso	do	nascimento.	A	linguagem	do	direito	não	aceita	as	comunicações	que	os
pais	 fazem	 aos	 vizinhos,	 amigos	 e	 parentes.	 Impõe,	 para	 que	 o	 fato	 se	 dê	 por
ocorrido	juridicamente,	um	procedimento	específico.	Eis	a	linguagem	do	direito
positivo	 (Ldp)	 incidindo	 sobre	 a	 linguagem	 da	 realidade	 social	 (Lrs)	 para
produzir	uma	unidade	na	linguagem	da	facticidade	jurídica	(Lfj).
Um	 trecho	da	obra	de	San	Tiago	Dantas	 cai	 como	uma	 luva	para	 ilustrar	o
que	acaba	de	ser	dito:
Se	o	Registro	Civil	diz	que	alguém	já	morreu,	nem	mesmo	exibindo	a
pessoa,	é	possível	provar	que	esse	alguém	está	vivo.
O	 registro	cria,	por	 conseguinte,	uma	presunção	a	 respeito	do	estado
civil	das	pessoas,	não	podendo	ser	atacada	por	nenhuma	outra	prova.
Como,	 porém,	 é	 claro	 que	 pode	 estar	 errado,	 tem-se	 que	 admitir	 a
retificação	dos	assentos	de	 registro	civil	e	até	mesmo	a	anulação	dos
assentos	 quando	 eles	 forem	 integralmente	 falsos.	 De	 sorte	 que,	 se
quiser-se	provar	a	respeito	do	estado	civil	de	uma	pessoa	algo	diverso
do	 que	 diz	 o	 registro	 civil,	 preliminarmente,	 há	 voltar-se	 contra	 o
próprio	assento	de	registro	civil	e,	depois	de	anulado,	ou	retificado,	é
que	 se	poderá	 trazer	 a	 sua	prova	 a	 juízo.	Aliás,	 nesse	momento,	 não
haverá	nenhuma	outra,	senão	aquela,	porque	a	anterior	estará	destruída
pelo	processo	que	se	moveu.	Portanto,	vê-se	que	o	registro	civil	é	algo
de	extraordinário	alcance135.
Esta	é	a	linguagem	competente	para	dizer	do	estado	das	pessoas,	delimitando
o	universo	do	direito	positivo	e	construindo	a	realidade	jurídica.
2.	O	evento	previsto	em	norma	e	a	chamada	“relação	jurídica	efectual”
Predomina	a	concepção	segundo	a	qual	a	situação	verificada	no	mundo	físico-
social,	 ocorrida	 em	 estrita	 conformidade	 com	 a	 previsão	 da	 lei,	 faria	 surgir,
inapelavelmente,	 a	 relação	 jurídica,	 por	 força	 da	 imputação	 normativa.	 No
campo	 dos	 tributos,	 teríamos	 o	 “fato	 gerador”	 provocando	 o	 nascimento	 da
obrigação	 tributária,	 independentemente	 de	 qualquer	 ato	 específico	 de
reconhecimento	 de	 seus	 destinatários.	 Daí	 a	 tradicional	 distinção	 entre	 o
fenômeno	da	 incidência,	 fulminante	 e	 infalível,	 e	 o	 posterior	 ato	 de	 aplicação,
confiado	 à	 competência	 dos	 vários	 agentes	 do	 poder	 público	 ou	 privado	 e
mediante	o	qual	os	comandos	prescritivos	adquiririam	eficácia	social,	cumprindo
os	objetivos	últimos	do	direito	positivo.
No	âmbito	do	sistema	de	referência	com	que	operamos,	nem	o	evento,	isto	é,
a	 singela	 ocorrência	 que	 envolve	 a	 presença	 direta	 ou	 indireta	 de	 sujeitos	 de
direito,	 mas	 que,	 por	 qualquer	 motivo,	 não	 foi	 ainda	 relatada	 em	 linguagem
competente,	 nem	 a	 chamada	 “relação	 efectual”,	 propagada	 por	 efeito	 daquele
acontecimento,	 teriam	 significação	 jurídica,	 como	entidades	 a	 serem	estudadas
pela	Dogmática.
Poder-se-á	 objetar	 que	 o	 “fato”,	 vale	 dizer,	 o	 enunciado	 de	 linguagem
produzido	segundo	os	rigores	da	lei,	reporta-se	à	data	e	às	condições	do	evento,
proposição	 que	 em	 parte	 é	 verdadeira,	 mas	 que	 não	 é	 suficiente	 para	 elevar
aquela	transformação	do	mundo	social	à	condição	de	“fato	jurídico”.	Realizadas
as	 provas	 (que	 são	 também	 enunciados	 de	 linguagem)	 exigidas	 pelo
ordenamento	 jurídico,	 dá-se	 o	 fato	 por	 existente,	 pronto	 para	 desencadear
direitos	 e	 deveres	 correlatos,	 pouco	 importando	 se	 o	 evento	 ocorreu	 ou	 não
ocorreu.	É	sabido	que	o	juiz	há	de	julgar	pelas	provas	dos	autos,	desvinculando-
se	 das	 ocorrências	 que,	 conquanto	 verificadas	 nos	 domínios	 da	 experiência
social,	não	lograram	ingressar	na	linguagem	integrante	do	processo.
É	 preciso	 dizer	 que	 não	 se	 está	 predicando	 o	 abandono	 do	 “evento”	 e	 da
correspondente“relação	efectual”.	Tão	só	advertindo	para	a	circunstância	de	que
o	 fato	 jurídico	e	a	 relação	 jurídica,	na	configuração	plena	de	 suas	 integridades
constitutivas,	 como	entidades	do	universo	normativo,	 inserindo-se	no	processo
de	positivação	do	direito	para	alterar	as	condutas	intersubjetivas,	vão	comparecer
como	 objetos	 de	 nossa	 indagação	 apenas	 quando	 revestirem	 a	 forma	 de
linguagem,	 e	 linguagem	 competente,	 significa	 referir	 aquela	 que	 o	 sistema
prescritivo	 estabelecer	 como	 adequada	 ao	 relato	 do	 evento	 e	 do	 correlativo
vínculo	 entre	 sujeitos.	 Pouco	 importa,	 desse	 modo,	 se	 o	 acontecimento	 se
verificou	efetivamente	ou	não.	Havendo	construção	de	linguagem	própria,	como
o	 direito	 preceitua,	 dar-se-á	 por	 juridicamente	 ocorrido.	 Por	 outro	 lado,	 não
sendo	 possível	 relatá-lo,	 seja	 por	 não	 ter-se	 realizado	 concretamente,	 seja	 por
inexistirem	provas	que	a	ordem	positiva	admite	como	válidas,	nada	aconteceu.
Para	a	metodologia	de	nossa	análise	faz-se	necessário	relegar	o	evento	e	sua
relação	efectual	ao	 território	dos	meros	objetos	da	experiência,	ao	menos	até	o
momento	 em	 que,	 ingressando	 no	 grande	 processo	 de	 comunicação	 que	 é	 o
direito,	tenham	assumido	a	simbologia	própria	do	jurídico.	A	partir	desse	marco
falaremos,	então,	em	fato	jurídico	e	relação	jurídica;	“fato	gerador”	e	obrigação
tributária.
3.	 O	 fato	 jurídico	 tributário	 e	 seu	 efeito	 peculiar:	 instaurar	 o	 vínculo
obrigacional
Concretizando-se	 o	 fato	 previsto	 no	 descritor	 da	 regra	 de	 incidência,
inaugura-se,	 como	 vimos,	 uma	 relação	 jurídica	 de	 conteúdo	 patrimonial,	 que
conhecemos	 por	 “obrigação	 tributária”.	 Tudo,	 evidentemente,	 nos	 termos	 dos
instrumentos	comunicacionais	que	o	direito	estipula.
Na	verdade,	tanto	é	fato	o	enunciado	protocolar	que	satisfaz	as	condições	de
pertinencialidade	à	classe	do	descritor	da	norma	geral	e	abstrata,	como	é	fato	a
relação	jurídica	que	se	compõe	em	decorrência	(lógica,	não	cronológica)	daquele
acontecimento	relatado	em	linguagem.	Apenas,	um	é	fato	predicativo	(o	que	está
no	tópico	de	antecedente	da	norma	individual	e	concreta),	ao	passo	que	outro	é
fato	 relacional	 (o	 que	 se	 encontra	 na	 posição	 sintática	 de	 prescritor).	 Ambos,
porém,	 são	 construídos	 a	partir	 dos	 critérios	da	hipótese	 e	da	 consequência	da
regra-matriz	de	incidência,	que	é	norma	geral	e	abstrata.
A	 composição	 interna	 do	 liame	obrigacional	 já	 foi	 estudada,	mas	 não	 custa
recordar	que	é	integrada	pela	presença	de	três	elementos	—	sujeito	ativo,	sujeito
passivo	 e	 objeto	 —	 que	 se	 entrelaçam	 num	 vínculo	 abstrato.	 Renovemos	 a
representação.
O	gráfico	expõe	a	obrigação	tributária	na	sua	completude	sintática.	Todos	os
componentes	 que	 nele	 consignamos	 são	 elementos	 ínsitos,	 necessários	 e,
portanto,	imprescindíveis	à	existência	da	relação	jurídica	obrigacional.	O	objeto
é	 o	 centro	 de	 convergência,	 para	 onde	 afluem	as	 atenções	 e	 preocupações	 dos
sujeitos.	Diz-se	que	o	sujeito	ativo	tem	o	direito	subjetivo	de	exigir	a	prestação
pecuniária.	Em	contranota,	o	sujeito	passivo	tem	o	dever	jurídico	de	cumpri-la.
Reproduzimos	essa	contraposição	de	interesses	mediante	dois	vetores,	de	mesma
intensidade,	 com	 a	 mesma	 direção,	 porém	 de	 sentidos	 contrários,	 justamente
para	 mostrar	 que,	 satisfeito	 o	 dever	 jurídico,	 desaparece	 o	 direito	 subjetivo	 e
vice-versa.	Ao	se	anularem	mutuamente,	extingue-se	a	relação	jurídica,	que	não
pode	subsistir,	repetimos,	à	míngua	de	qualquer	dessas	entidades	integrantes	de
sua	estrutura.
Pois	bem.	Ao	direito	subjetivo	de	que	está	investido	o	sujeito	ativo	de	exigir	o
objeto,	denominamos	crédito.	E	ao	dever	 jurídico	(ou	também	dever	subjetivo)
que	a	ele	se	contrapõe,	de	prestar	o	objeto,	designamos	débito.	Revela,	por	isso,
inominável	 absurdo	 imaginar-se	 obrigação	 sem	 crédito.	 No	 domínio	 dos
desatinos,	equipara-se	à	concepção	do	vínculo	obrigacional	sem	sujeito	ativo,	ou
sem	sujeito	passivo,	ou	sem	objeto.	Todos,	conjugados	e	coalescentes,	mantendo,
entre	 si,	 os	 nexos	 que	 salientamos,	 outorgam	 ao	 liame	 o	 porte	 e	 a	 dignidade
categorial	de	obrigação.
Definimos	 crédito	 tributário	 como	 o	 direito	 subjetivo	 de	 que	 é	 portador	 o
sujeito	 ativo	 de	 uma	 obrigação	 tributária	 e	 que	 lhe	 permite	 exigir	 o	 objeto
prestacional,	representado	por	uma	importância	em	dinheiro.
É	oportuno	expressar,	com	o	propósito	de	amarrar	melhor	os	conceitos,	que
uma	coisa	é	o	objeto	da	obrigação:	no	caso,	a	conduta	prestacional	de	entregar
uma	porção	de	moeda;	outra,	o	objeto	da	prestação,	representado	aqui	pelo	valor
pecuniário	pago	ao	credor	ou	por	ele	exigido.
4.	A	natureza	do	crédito	tributário	—	crédito	e	obrigação
Nasce	 o	 crédito	 tributário	 no	 exato	 instante	 em	 que	 irrompe	 o	 laço
obrigacional,	 isto	 é,	 ao	 acontecer,	 no	 espaço	 físico	 exterior	 em	 que	 se	 dão	 as
condutas	 inter-humanas,	 aquele	 evento	 hipoteticamente	 descrito	 no	 suposto	 da
regra-matriz	 de	 incidência	 tributária,	 mas	 desde	 que	 relatado	 em	 linguagem
competente	para	identificá-lo.
O	 direito	 positivo	 brasileiro,	 atrelado	 ao	 preconceito	 da	 chamada	 “verdade
por	 correspondência”,	 e	 crendo	 que	 o	 sistema	 normativo	 operasse	 por	 conta
própria,	 detendo	 mecanismos	 que	 o	 fizessem	 incidir	 em	 situações	 concretas,
independentemente	 da	 ação	 humana	 de	 aplicá-lo,	 utiliza	 signos	 diferentes,
fazendo	acreditar	que	a	obrigação	surgiria	com	a	ocorrência	do	simples	evento,
mas	 que	 o	 crédito	 seria	 constituído	 pelo	 ato	 de	 lançamento,	 prerrogativa	 dos
funcionários	 da	 Administração.	 Por	 esse	 modo,	 distingue	 o	 momento	 da
incidência,	 na	 realização	 do	 evento,	 daquele	 da	 aplicação,	 em	 que	 o	 agente
administrativo,	 tomando	 conhecimento	 da	 ocorrência,	 firmasse	 em	 linguagem
específica	os	 termos	que	presidiram	o	acontecimento,	bem	como	os	 traços	que
identificam	o	laço	obrigacional.
Talvez,	 por	 ter	 trilhado	 esse	 caminho,	 teve	 de	 incorrer	 em	 outra
impropriedade,	qual	seja	a	de	separar	o	crédito	da	obrigação,	como	se	pudesse
haver	 esse	 desnexo.	 Passou	 por	 alto	 pela	 indissociabilidade	 dessas	 figuras
básicas	 do	 fenômeno	 jurídico,	 tratando-as	 isoladamente,	 como	 se	 fora	 isso
possível.	 Sim,	 porque	 o	 crédito	 nada	mais	 é	 que	 o	 direito	 subjetivo	 de	 que	 o
sujeito	 ativo	 se	 vê	 investido	 de	 exigir	 a	 prestação,	 enquanto	 débito,	 seu
contraponto,	 é	 o	 dever	 jurídico	 de	 cumprir	 aquela	 conduta.	 E	 não	 pode	 haver
vínculo	 jurídico	 de	 cunho	 obrigacional	 se	 inexistir	 um	 sujeito	 de	 direito,	 na
condição	de	credor,	em	face	de	outro	sujeito	de	direito,	na	qualidade	de	devedor,
de	tal	forma	que	subtrair	o	crédito	da	estrutura	obrigacional	significa	pulverizá-
la,	 fazê-la	 desaparecer,	 desmanchando	 a	 organização	 interna	 que	 toda	 relação
jurídica	há	de	exibir,	como	instrumento	de	direitos	e	deveres	correlatos.
O	crédito	é	elemento	integrante	da	estrutura	lógica	da	obrigação,	de	tal	sorte
que	ostenta	a	relação	de	parte	para	com	o	todo.	A	natureza	de	ambas	as	entidades
é,	portanto,	rigorosamente	a	mesma.
Agora,	assunto	de	outra	índole,	pouco	importando	para	a	compreensão	dessa
matéria	 é	 a	 circunstância	 de	 o	 titular	 do	 crédito	 vir	 a	 exigir	 aquilo	 a	 que	 tem
direito,	 bem	 como	 a	 situação	 do	 devedor	 que	 se	 nega	 a	 cumprir	 a	 prestação
devida.	 São	 problemas	 inerentes	 à	 eficácia	 social	 do	 direito,	 que	 muito
interessam	 à	 Sociologia	 Jurídica,	 mas	 que	 não	 se	 incluem	 nos	 domínios	 da
“Ciência	do	Direito	em	sentido	estrito”.
5.	O	crédito	tributário	no	Código	Tributário	Nacional
A	Lei	n.	5.172/66	contempla	o	crédito	tributário	no	Título	III,	consagrando-
lhe	seis	capítulos.	Cuidaremos	aqui	das	Disposições	Gerais	 (Cap.	 I),	onde	vêm
firmados	os	conceitos	que	o	legislador	emprega	no	desenvolvimento	disciplinar
da	matéria.
O	 crédito	 tributário	 decorre	 da	 obrigação	 principal	 e	 tem	 a	 mesma
naturezadesta.
Eis	a	redação	do	art.	139.	O	dispositivo	demonstra	reconhecer	a	inerência	de
que	 falamos	 e	 imprime	 à	 dualidade	crédito/obrigação	 um	 tom	explicativo	que
pode	 até	 espertar	 alguma	 dúvida,	 pois,	 se	 o	 crédito	 decorre	 da	 obrigação,	 é
possível	supor	que	haja	obrigação	sem	crédito,	o	que	a	Teoria	Geral	do	Direito
não	 concebe.	 Seja	 como	 for,	 a	 segunda	 afirmação	 prescritiva	 (e	 tem	 a	mesma
natureza	desta)	ratifica	a	identidade	essencial,	conduzindo	à	ilação	de	que	devem
ser	considerados	numa	relação	de	todo	(obrigação)	para	parte	(crédito).
O	preceito	não	merece,	em	si,	uma	crítica	mais	acesa,	se	bem	que	nele	já	se
note	a	inclinação	reprovável	de	separar-se	a	obrigação	do	crédito,	cristalizada	em
vários	preceptivos	que,	a	seu	tempo,	iremos	examinando.
O	 art.	 140	 introduz	 a	 ideia,	 correta	 a	 nosso	 ver,	 de	 que	 as	 mutações
porventura	experimentadas	pelo	crédito	tributário,	do	seu	nascimento	à	extinção,
não	 afetam	 o	 vínculo	 que	 lhe	 deu	 origem.	 E,	 de	 fato,	 as	 circunstâncias
modificadoras	 do	 crédito,	 no	 que	 toca	 à	 sua	 extensão,	 a	 seus	 efeitos,	 ou	 às
garantias	e	privilégios	a	ele	atribuídos,	não	chegam	a	abalar	o	laço	obrigacional.
Há	 um	 limite,	 contudo,	 que	 não	 poderia	 ser	 ultrapassado:	 a	 exclusão	 de	 sua
exigibilidade,	 que	 equivale,	 ontologicamente,	 à	 extinção.	 Pecou	 nisso	 a
proposição	 normativa	 que	 comentamos,	 porque	 a	 exclusão	 do	 crédito	 implica
mutilar	 a	 obrigação	 tributária	 num	 ponto	 fundamental	 à	 sua	 existência	 como
figura	jurídica.	De	que	modo	imaginaríamos	um	liame	em	que	o	sujeito	passivo
é	 cometido	 do	 dever	 jurídico	 de	 cumprir	 a	 prestação,	mas	 o	 sujeito	 ativo	 não
detém	 a	 titularidade	 do	 direito	 subjetivo	 de	 postular	 aquele	 mesmo
comportamento?	E	a	bilateralidade	ingênita	à	relação	jurídica	obrigacional,	que
é,	antes	de	tudo,	um	vínculo	entre	sujeitos	—	o	pretensor	e	o	devedor?
Excedeu-se	 a	 autoridade	 legislativa	 ao	 consignar	 que	 a	 exclusão	 da
exigibilidade	do	crédito	não	mexe	com	a	estrutura	da	obrigação.	Mexe	a	ponto
de	desarmá-la,	de	destruí-la.	Excluir	o	crédito	quer	dizer	excluir	o	débito,	com
existências	simultâneas,	numa	correlação	antagônica.	E	modificação	de	tal	vulto
extingue	 a	 obrigação	 tributária.	 Mais	 para	 a	 frente,	 retomaremos	 o	 fio	 desse
raciocínio,	 uma	 vez	 que	 o	 Código	 Tributário	 Nacional,	 deploravelmente,
enveredou	por	esse	caminho	que	criticamos,	erigindo	a	exclusão	do	crédito	como
instituto	jurídico.
Vamos	ao	art.	141:
O	crédito	 tributário	 regularmente	constituído	somente	se	modifica	ou
extingue,	 ou	 tem	 sua	 exigibilidade	 suspensa	 ou	 excluída,	 nos	 casos
previstos	 nesta	 Lei,	 fora	 dos	 quais	 não	 podem	 ser	 dispensadas,	 sob
pena	de	responsabilidade	funcional	na	forma	da	lei,	a	sua	efetivação	ou
as	respectivas	garantias.
Ao	referir-se	a	crédito	regularmente	constituído,	o	comando	do	art.	141	quis
aludir	ao	crédito	líquido,	já	devidamente	determinado	no	seu	quantum,	estando,
portanto,	em	condições	de	ser	reclamado	do	devedor.	Sempre	que	o	legislador	do
Código	menciona	constituir	 o	 crédito	 reporta-se	 ao	 ato	 jurídico	 administrativo
do	 lançamento,	 em	 que	 o	 agente	 público,	 aplicando	 a	 lei	 ao	 caso	 concreto,
formaliza	a	obrigação	tributária.
Desse	 modo,	 fica	 patente	 que	 as	 modificações	 verificadas	 no	 crédito	 já
formalizado	 (única	maneira	 que	 nos	 parece	 possível	 cogitar	 de	 sua	 existência)
hão	 de	 ser	 promovidas,	 exclusivamente,	 sob	 o	 manto	 da	 Lei	 n.	 5.172/66.	 O
funcionário	da	Administração	Tributária	está	impedido	de	dispensar	a	efetivação
do	crédito	ou	as	 respectivas	garantias,	 sob	pena	de	 responsabilidade	 funcional,
na	 forma	 da	 lei.	 Na	 implicitude	 dessa	mensagem	 prescritiva,	 vemos	 o	magno
princípio	da	 indisponibilidade	dos	 interesses	públicos,	um	dos	 fundamentos	do
direito	administrativo.
É	bom	enfatizar	que	a	dispensa	de	créditos	ou	de	suas	garantias	e	privilégios
não	se	inscreve	apenas	àqueles	que	tiverem	sido	formalizados	pela	via	do	ato	de
lançamento,	 como	 veremos	 mais	 adiante.	 Todavia,	 aquilo	 que	 o	 legislador
pretendeu	exprimir,	nessa	parte	do	dispositivo,	é	que	à	margem	das	autorizações
expressas	na	legislação	tributária,	o	funcionário,	em	qualquer	hipótese,	não	está
autorizado	a	abrir	mão	da	exigência.
Por	defeito	de	estilo,	a	porção	final	do	mandamento	ficou	obscura.	A	cláusula
intercalada	—	sob	pena	de	responsabilidade	funcional	na	forma	da	lei	—	devia
ter	sido	deixada	para	o	fim,	ganhando	o	período	maior	clareza	e	precisão.	Além
disso,	 foi	 esquecida	 a	 partícula	 reflexiva	 se,	 anteposta	 ao	 verbo	 extingue.
Mantendo	as	palavras	que	o	preceptivo	contém,	ficaria	melhor	desta	maneira:
O	crédito	 tributário	 regularmente	constituído	somente	se	modifica	ou
se	extingue,	ou	tem	sua	exigibilidade	suspensa	ou	excluída,	nos	casos
previstos	 nesta	Lei,	 fora	 dos	 quais	 não	 podem	 ser	 dispensadas	 a	 sua
efetivação	 ou	 as	 respectivas	 garantias,	 sob	 pena	 de	 responsabilidade
funcional,	na	forma	da	lei.
6.	Sobre	a	norma	individual	e	concreta	que	documenta	a	incidência
A	mensagem	 deôntica,	 emitida	 em	 linguagem	 prescritiva	 de	 condutas,	 não
chega	a	 atingir,	 diretamente,	os	 comportamentos	 interpessoais,	 já	que	partimos
da	premissa	de	que	não	 se	 transita	 livremente	do	mundo	do	“dever-ser”	 ao	do
“ser”.	 Interpõe-se	 entre	 esses	 dois	 universos	 a	 vontade	 livre	 da	 pessoa	 do
destinatário,	 influindo	 decisivamente	 na	 orientação	 de	 sua	 conduta	 perante	 a
regra	do	direito.	Além	do	mais,	qualquer	que	seja	a	forma,	a	função	e	o	tipo	da
linguagem	 utilizada	 no	 fenômeno	 comunicacional,	 nunca	 chega	 ela	 a	 tocar	 os
objetos	 a	 que	 se	 refere,	 por	 força	 do	 princípio	 da	 autorreferencialidade	 da
linguagem,	 que	 se	 retroalimenta,	 prescindindo	 dos	 dados	 exteriores	 da

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