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Carla Bertelli – 3° Período Derrame Pleural e Pneumotórax Problema 15 1 – Revisar a morfofisiologia das pleuras 2 – Compreender a etiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e exames complementares usados no diagnóstico do derrame pleural e do pneumotórax Morfofisiologia das Pleuras O espaço pleural é um espaço real, possuindo normalmente de 10 a 20 μm de largura, se estendendo ao redor do pulmão à raíz hilar. Duas membranas serosas delimitam o espaço pleural, sendo recobertas por uma única camada de células mesoteliais. Uma dessas membranas recobre os pulmões, a pleura visceral, e outra, a face interna da parede visceral, diafragma e mediastino, a pleura parietal. Uma quantidade de líquido de 0,1 a 0,2 mL/Kg serve para lubrificar a cavidade e diminuir a aderência entre os folhetos. Esse fluido tem origem, principalmente nos capilares da pleura parietal, que produz, aproximadamente, 0,6 mL/h e é absorvido uma quantidade semelhante pelo sistema linfático pleural parietal. A drenagem linfática difere nas duas pleuras. Na pleura visceral, a drenagem linfática é realizada pelo sistema linfático pulmonar. Já na pleura parietal é feita pelos diversos sistemas linfáticos sistêmicos e por meio da presença de estomas que ligam a cavidade pleural diretamente a rede linfática submesotelial. Esses estomas são orifícios na camada mesotelial que se abrem para o espaço pleural, sendo os principais locais de remoção do líquido pleural. A formação de líquido pleural depende de um equilíbrio de pressões hidrostáticas opostas pelas pressões osmóticas contrabalanceadas. Como a situação normal é um estado estacionário, a taxa de absorção do líquido pleural deve ser semelhante à taxa de formação. O fluxo linfático é influenciado tanto pela contratilidade intrínseca dos vasos linfáticos quanto pelos movimentos respiratórios extrínsecos. A contratilidade intrínseca pode ser alterada por hormônios, citocinas ou estimulação adrenérgica. Já os movimentos respiratórios podem auxiliar o fluxo linfático aplicando uma pressão alternada nos linfáticos subpleurais ou expandindo e contraindo as aberturas dos estômatos linfáticos. Os movimentos respiratórios também promovem uma circulação intrapleural contínua de líquido pleural, o que pode favorecer a entrega de líquido pleural aos estômatos Distúrbios na formação ou absorção resultam no acúmulo de excesso de líquido pleural, sendo chamado de derrame pleural. Carla Bertelli – 3° Período Derrame Pleural O derrame pleural se caracteriza pelo acúmulo anormal de líquido no espaço pleural. A frequência geral de derrame pleural em uma radiografia de tórax varia de 0,3% a 1%, porém este valor muda bastante de acordo com a doença de base. Ocorrem mais comumente em pacientes como pneumonia ou com insuficiência cardíaca Prevalência seja de 320 casos a cada 100.000 habitantes. Pode ser classificado em transudato ou exsudato, segundo os critérios de Light. • Transudato - resulta de desequilíbrio nas pressões hidrostática e oncótica no tórax, como ocorre na ICC e síndrome nefrótica, levando ao acúmulo de líquido com baixa concentração proteica • Exsudato - resulta de um processo inflamatório pleural que promove um aumento de permeabilidade capilar e liberação de mediadores, ocasionando o extravasamento de líquido rico em proteína. • Efusão parapneumônica – presença de líquido associado a pneumonia ou sepse • Empiema - presença de pus na cavidade pleural. Classificação Derrame pleural transudativo: é secundário a doenças sistêmicas, tendo tratamento baseado na resolução da causa base, por exemplo, a compensação da insuficiência cardíaca ou da nefropatia. Derrame pleural parapneumônico: o diagnóstico é feito a partir do derrame pleural na presença de pneumonia ou sepse por meio de toracocentese diagnóstica. Derrame pleural maligno: é unilateral e volumoso, podendo ocorrer por meio da invasão pleural ou mediastinal (síndrome da veia cava), acometimento linfático ou ainda por causas parenquimatosas (atelectasia). Derrame pleural tuberculoso: pode ocorrer tanto na infecção primária quanto na reativação da doença e reflete a presença de bacilos no espaço pleural ou a reação imune mediada por células T, alterando a fisiologia do mesotélio. Critérios de Light Diferenciação entre exsudatos e transudatos. Avaliação bioquímica da proteína sérica, líquido pleural e desidrogenase lática (DHL). 98% de sensibilidade e 77% de especificidade e 95% de eficácia. TRANSUDATO Extravasamento de líquido sem agressão pleural. Resultam de desequilíbrios nas pressões hidrostáticas e oncóticas no tórax, como ocorre em ICC, síndrome nefrótica, cirrose hepática, ou condições externas ao espaço pleural. Carla Bertelli – 3° Período Condições externas: movimento de fluido dos espaços peritoneal, cerebrospinal ou retroperitoneal ou de causas iatrogênicas, como infusão de cristaloides através de um cateter venoso central que migrou para o mediastino ou espaço pleural. Transudato tem um número de possibilidades limitados para seu diagnóstico, podendo ser discernida na apresentação clínica do paciente. EXSUDATO Processo inflamatório pleural que promove um aumento da permeabilidade capilar e liberação de mediadores, ocasionando em extravasamento de líquido rico em proteína. Desafio diagnóstico. Doenças em qualquer órgão podem resultar em derrame pleural exsudativo. Mecanismos que podem desencadear ele: infecção, malignidades, respostas imunológicas, anormalidades linfáticas, inflamação não infecciosa, causa iatrogênicas e movimentos de fluídos abaixo do diafragma. A presença de qualquer um desses critérios já classifica o derrame como sendo exsudativo. PRINCIPAIS CAUSAS TRANSUDATO • Insuficiência cardíaca congestiva. • Cirrose hepática • Nefropatias • Hipoproteinemia • Síndrome da veia cava superior • Atelectasia • Desnutrição • Neoplasia • Hipotireoidismo • Diálise peritoneal • Urinotórax • Cateteres centrais • Mixedema EXSUDATO • Pneumonia bacteriana • Neoplasia • Tuberculose • Pancreatite • Hemotórax • Exposição ao asbesto • Parapnêumonico • Colagenoses • Infecciosas • Quilotórax • Sarcoidose • Pós-revascularização miocárdica • Câncer • Infarto pulmonar Carla Bertelli – 3° Período TRANSUDATIVO E EXSUDATIVO • Embolia pulmonar • Sarcoidose Etiologia A maioria dos derrames se formam devido a anormalidades nos locais torácicos, como membranas pleurais, pulmões, mediastino ou diafragma. Menos comumente podem ocorrer também por acometimento do SNC, rim, pâncreas. O acometimento direto das membranas pleurais pela doença pode levar a um derrame pleural aumentando a formação de líquido e interferindo na função linfática da pleura parietal. As elevações da pressão hidrostática também podem aumentar a filtração dos microvasos da membrana pleural. Malignidade: ocorrem os dois mecanismos, de aumento da entrada e diminuição da saída de líquido, devido a infiltração extensiva em capilares pleurais, levando a aumento da filtração ou produção de citocinas que aumenta a permeabilidade capilar e formação de efusão, infiltrando-se nos linfáticos ou linfonodos de drenagem, diminuindo assim a taxa de saída. Tuberculose: ocorre envolvimento das pleuras com reação granulomatosa que também pode levar aos dois mecanismos. A alta concentração proteica nos derrames pleurais tuberculosos indica sua origem nos capilares envolvidos com uma inflamação intensa. A taxa de saída, por outro lado, pode indicar que a inflamação da pleura parietal é tão extensa e intensa que compromete a função linfática pleural. A elevaçãoda pressão hidrostática dos microvasos pleurais aumenta a filtração dos microvasos pleurais parietais e diminui a drenagem linfática no sistema venoso. Além disso, uma elevação da pressão venosa pulmonar aumenta a filtração da pleura visceral. Embolia pulmonar: ocorre um grande aumento das taxas de entrada de líquido pelo aumento das pressões hidrostáticas nas veias pulmonares e/ou veias sistêmicas, além de diminuir a pressão pleural devido a atelectasias. Também pode diminuir as taxas de saída devido ao aumento da pressão venosa sistêmica, dificultando a drenagem linfática. Síndrome da veia cava superior: a taxa de entrada de líquido no espaço pleural é aumentada, devido à elevação na pressão venosa sistêmica e diminuição na pressão osmótica plasmática. Acometimento pulmonar: devido ao pulmão ser uma fonte potencialmente grande de líquido imediatamente adjacente ao espaço pleural, o líquido intersticial pulmonar pode se mover para o espaço pleural ao longo de um gradiente de pressão através das membranas pleurais. Edema pulmonar: que ocorre na insuficiência cardíaca congestiva, por exemplo, cursa com elevação nas pressões venosas sistêmicas e venosas pulmonares, levando à aumento da filtração de ambas as membranas pleurais, diminuição da absorção via linfáticos pleurais e aumento da filtração no pulmão para o espaço pleural. A concentração de proteínas nos derrames transudativos observados com insuficiência cardíaca também argumenta fortemente que os derrames consistem principalmente de líquido intersticial pulmonar. Assim, espera-se que o líquido derivado do aumento da filtração através de vasos sistêmicos tenha uma concentração proteica muito baixa. A concentração de proteínas no líquido pleural e a proporção de proteínas pleurais / séricas podem aumentar com a terapia diurética aguda, de modo que um Carla Bertelli – 3° Período transudato verdadeiro possa produzir índices sugestivos de exsudato. Acometimentos extrapleurais ou extrapulmonares: como de mediastino e diafragma, por exemplo, fazem com que o excesso de líquido de qualquer tecido do corpo chegue ao espaço pleural pelo fluxo passivo em direção à baixa pressão do espaço pleural. Fisiopatologia O líquido entra no espaço pleural a partir dos capilares da pleura parietal e é removido pelos vasos linfáticos localizados na pleura parietal. Os líquidos também podem entrar a partir dos espaços intersticiais do pulmão através da pleura visceral ou a partir de pequenos orifícios no diafragma O líquido que se acumula em um derrame pleural pode ser um transudato ou exsudato, purulento, quiloso ou sanguíneo. O acúmulo de transudato seroso (líquido claro) na cavidade pleural muitas vezes é chamado de hidrotórax, pode ser unilateral ou bilateral. A causa mais comum de hidrotórax é a insuficiência cardíaca congestiva Um exsudato pleural é um líquido com uma densidade específica superior a 1,020 e frequentemente contém células inflamatórias. Depende dos efeitos pleurais das doenças sistêmicas ou de doenças que comprometam diretamente a pleura. O mecanismo para que o derrame ocorra seria um desbalanço na entrada ou na saída do líquido pleural. O aumento da formação do líquido pleural pode ser causado em duas diferentes situações: (1) desequilíbrio nas pressões hidrostáticas e/ou oncóticas pleurais e (2) alteração da permeabilidade capilar pleural. Empiema: se refere a uma infecção na cavidade pleural que resulta em um exsudato que contém glicose, proteínas, leucócitos e restos de células e tecidos mortos. É causado por pneumonia bacteriana adjacente, ruptura de um abscesso pulmonar no espaço pleural, invasão de uma infecção subdiafragmática ou infecção associada a traumatismo. QUILOTÓRAX Derrame de linfa na cavidade torácica O quilo, um líquido leitoso que contém quilomicra, é encontrado no líquido linfático originário do sistema digestório. O ducto torácico transporta o quilo para a circulação central. O quilotórax também pode ser o resultado de traumatismo, inflamação ou infiltração cancerígena capaz de obstruir o transporte do quilo através do ducto torácico para a circulação central. É a causa mais comum de derrame pleural no feto e no recém-nascido, resultante de malformação congênita dos ductos torácicos ou dos canais linfáticos. Também pode ocorrer quilotórax como uma complicação de procedimentos cirúrgicos intratorácicos e da utilização de grandes veias para nutrição parenteral total e monitoramento hemodinâmico. Hemotórax Hemotórax é um tipo específico de derrame pleural em que existe sangue na cavidade pleural. O sangramento pode ser o resultado de uma lesão no tórax, uma complicação de cirurgia torácica, câncer ou ruptura de um grande vaso, como um aneurisma da aorta. Carla Bertelli – 3° Período O hemotórax pode ser classificado como mínimo, moderado ou grande. Um hemotórax mínimo: envolve, pelo menos, 250 mℓ de sangue no espaço pleural. 8 Pequenas quantidades de sangue geralmente podem ser absorvidas, e geralmente o hemotórax desaparece em um intervalo de 10 a 14 dias, sem outras complicações. Um hemotórax moderado: preenche cerca de um terço do espaço pleural e pode produzir sinais de compressão pulmonar e perda de volume intravascular. Essa condição requer drenagem imediata e substituição de líquidos intravasculares. Um grande hemotórax: enche metade ou mais de um dos lados do tórax e geralmente é causado por hemorragias de um vaso de alta pressão, como uma artéria intercostal ou mamária. Requer drenagem imediata e, se a hemorragia continua, deve ser realizado um procedimento cirúrgico para controlar o sangramento. Manifestações clínicas: além das alterações na oxigenação, ventilação, trabalho respiratório e sons respiratórios, podem acompanhar o hemotórax alguns sinais de perda de sangue, incluindo um aumento da frequência cardíaca. Como o hemotórax é abrupto no início, as manifestações geralmente são repentinas e aflitivas. Uma das complicações do hemotórax moderado ou grande não tratado é o fibrotórax – que é a fusão das superfícies pleurais por fibrina, hialina e tecido conjuntivo – e, em alguns casos, a calcificação do tecido fibroso, o que restringe a expansão do pulmão Pneumotórax O termo pneumotórax se refere à existência de ar no espaço pleural. Colapso parcial ou completo do pulmão afetado. O pneumotórax pode suceder sem uma causa óbvia ou lesão (i. e., pneumotórax espontâneo) ou como resultado de uma lesão direta ao tórax ou às grandes vias respiratórias (i. e., pneumotórax traumático). Pneumotórax de tensão descreve uma condição potencialmente fatal na qual o aumento da pressão no interior da cavidade pleural compromete tanto a função respiratória quanto a função cardíaca MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Depende: volume, velocidade de formação do derrame, a reserva cardiopulmonar do paciente, a presença ou não de processo inflamatório pleural, a extensão de acometimento, presença de doença de base e, ainda, a distensibilidade da caixa torácica. Sintomas clássicos: dor torácica, dispneia e tosse seca. Hipoxemia devido à diminuição da área de superfície. Inicialmente a tosse é seca, esporádica e pouco intensa, causada pelo estímulo inflamatório à pleura parietal. Em grandes volumes, ocorre desarranjo estrutural que pode levar a acúmulo de secreções e, posteriormente, desenvolvimento de infecções bacterianas associadas, podendo ocasionar tosse produtiva. A dispneia é multifatorial, mais relacionada ao tempo de aparecimento e a velocidade de acúmulo do líquido, do que propriamente com o volume. A tosse e a dor torácica (pleurítica), geram desconforto respiratório que associado ao maior número de incursões respiratórias (paracompensar o baixo volume corrente), causam sintomas mais intensos, como a dispneia. Carla Bertelli – 3° Período Outro fator relacionado a dispneia é o estado funcional cardiorrespiratório do paciente, porque, com reserva baixa, mesmo pequenos derrames podem causar dispneia. A dor pleurítica é, em geral, ventilatório- dependente, bem localizado, em pontada e de moderada intensidade. Ocorre por estímulos dos nervos intercostais (pleura parietal). O diagnóstico diferencial deve ser feito com dor de origem cardíaca e doenças abdominais. Derrame pleural tuberculoso pode, ainda, cursar com febre e emagrecimento e derrames parapneumônico, com tosse produtiva, expectoração purulenta e febre. Alterações no exame físico só ocorrem com, pelo menos, 300 mL de líquido na cavidade pleural. Sinal de Lemos Torres: corresponde a um abaulamento expiratório localizado nos últimos espaços intercostais, principalmente à expiração forçada nos pequenos e médios derrames. Sinal de Litten: corresponde a ausência da visualização da depressão intercostal inspiratória no hemitórax acometido. Sinal de Signorelli: corresponde a mudança do som claro pulmonar durante a percussão da coluna vertebral. Parábola de Damoiseau: delimita o limite superior do derrame pleural Carla Bertelli – 3° Período Pneumotórax Problema 15 Definição O termo pneumotórax se refere à existência de ar no espaço pleural. O pneumotórax provoca o colapso parcial ou completo do pulmão afetado. Etiologia e Patogênese O pneumotórax pode suceder sem uma causa óbvia ou lesão (i. e., pneumotórax espontâneo) ou como resultado de uma lesão direta ao tórax ou às grandes vias respiratórias (i. e., pneumotórax traumático). Pneumotórax de tensão descreve uma condição potencialmente fatal na qual o aumento da pressão no interior da cavidade pleural compromete tanto a função respiratória quanto a função cardíaca. PNEUMOTÓRAX PRIMÁRIO acredita-se que as bolhas subpleurais, que estão presentes em aproximadamente 90% dos casos, leva a obstrução das pequenas vias aéreas devido a inflamação, o que acaba aumentando a pressão alveolar, resultando na ruptura de alvéolos, e consequentemente fazendo com que desloque ar para o interstício e hilo pulmonar o que gera o pneumotórax. PNEUMOTÓRAX SECUNDÁRIO A pressão pleural acaba excedendo a pressão no interstício, o ar do alvéolo rompido move- se para o interstício resultando em pneumomediastino. Se ocorrer deslocamento de ar até o espaço pleural, tem-se o pneumotórax. Pode ocorrer também a ruptura do alvéolo, o que faz com que o ar se desloque diretamente para o espaço pleural. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO Desenvolve devido à ruptura de uma bolha de ar na superfície do pulmão. A ruptura dessas bolhas possibilita que o ar atmosférico proveniente das vias respiratórias entre na cavidade pleural. Como a pressão alveolar normalmente é maior do que a pressão pleural, o ar flui dos alvéolos para o espaço pleural provocando o colapso da porção envolvida do pulmão, como resultado de seu próprio recuo. O ar continua a fluir para dentro do espaço pleural, até que não exista um gradiente de pressão ou até que a diminuição no tamanho do pulmão interrompa o extravasamento. O pneumotórax espontâneo é dividido em primário e secundário. Espontâneo primário Ocorre na ausência de doença pulmonar subjacente ou trauma. As bolhas geralmente se localizam na parte superior dos pulmões. A sua incidência é maior no sexo masculino e na faixa etária entre 20 e 30 anos. Carla Bertelli – 3° Período Cerca de metade das ocorrências de pneumotórax são devidas a essa condição. O tabagismo e um histórico familiar positivo são fatores associados ao pneumotórax espontâneo primário. Normalmente ocorre em repouso, mas também pode ocorrer durante mergulho ou voo em altas altitudes. Uma inflamação das pequenas vias respiratórias relacionada com o tabagismo provavelmente contribui para o desenvolvimento da doença, e a interrupção do hábito de fumar pode reduzir a possibilidade de recorrência. Espontâneo secundário Ocorre associado a uma doença pulmonar subjacente, como por exemplo a doença pulmonar obstrutiva crônica que é a causa mais frequente. Estão associados a diferentes tipos de doenças pulmonares causadoras do aprisionamento de gases e da destruição do tecido pulmonar, como asma, tuberculose, fibrose cística (FC), sarcoidose, carcinoma broncogênico e doenças pleurais metastáticas. Uma causa comum de pneumotórax espontâneo secundário é o enfisema. Os casos de pneumotórax espontâneo secundário podem ser fatais por causa da lesão pulmonar subjacente e da pouca reserva compensatória. Possui uma taxa de mortalidade, maior que a do espontâneo primário, de aproximadamente 1%. A sua incidência é maior no sexo masculino e na faixa etária acima de 45 anos. Também pode ocorrer como uma complicação da tuberculose, pneumonia e neoplasia pulmonar. PNEUMOTÓRAX CATAMENIAL É um tipo de pneumotórax relacionado com o ciclo menstrual e geralmente é recorrente. Ocorre em mulheres na faixa etária entre 30 e 40 anos com histórico de endometriose. Cerca de um terço de todos os casos de pneumotórax espontâneo em mulheres que se submetem à cirurgia é causado por pneumotórax catamenial. Afeta o pulmão direito e se desenvolve em um período de 72 h antes do início da menstruação. Embora a causa do pneumotórax catamenial seja desconhecida, tem sido sugerido que, durante a menstruação, o ar pode ter acesso à cavidade peritoneal e, em seguida, entrar na cavidade pleural através de um defeito no diafragma. A endometriose pleural e diafragmática também tem sido implicada como causa desta condição patológica. PNEUMOTÓRAX TRAUMÁTICO Os casos de pneumotórax traumático podem ser causados por lesões penetrantes ou não penetrantes. Carla Bertelli – 3° Período A fratura ou a luxação de costelas que penetram na pleura são a causa mais comum de pneumotórax resultante de lesões torácicas não penetrantes. Essas podem ser acompanhadas de hemotórax. O pneumotórax também pode acompanhar uma fratura da traqueia, dos brônquios principais ou uma ruptura do esôfago. Pessoas com pneumotórax resultante de traumatismo torácico frequentemente apresentam outras complicações e necessitam de cirurgia torácica. IATROGÊNICO • Ocorre como resultado de algum procedimento invasivo. • Procedimentos clínicos como aspirações com agulha transtorácica, inserção de linha central, intubação e ventilação com pressão positiva e punção venosa. • Está sendo cada vez mais comum devido ao número crescente de intervenções médicas invasivas. • Também pode se desenvolver um pneumotórax traumático como complicação de uma reanimação cardiopulmonar. PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO Acontece quando a pressão intrapleural excede a pressão atmosférica. Condição potencialmente fatal e se desenvolve quando uma lesão ao tórax ou às estruturas respiratórias possibilita que o ar entre, mas não consiga sair do espaço pleural. Isto origina o aumento rápido da pressão no interior do tórax e causa atelectasia por compressão do pulmão não afetado, desvio no mediastino para o lado oposto do tórax e compressão da veia cava, o que resulta na diminuição do retorno venoso para o coração e na redução do débito cardíaco. Embora possa se desenvolver um pneumotórax de tensão em pessoas com pneumotórax espontâneo, este tipo é observado mais frequentemente em pessoas com pneumotórax traumático. Pode resultar também de um barotrauma causado por ventilação mecânica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Dependem do tamanho e da integridade do pulmão subjacente. Espontâneo Dor torácica ipsolateral, aumento quaseimediato da frequência respiratória, dispneia, que se manifesta como resultado da ativação de receptores que monitoram o volume pulmonar. Assimetria do tórax por causa do ar que estiver aprisionado na cavidade pleural no lado afetado. Esta assimetria pode se manifestar durante a inspiração como um atraso no movimento do lado afetado, com retardo da inspiração até que o pulmão preservado atinge o mesmo nível de pressão que o pulmão com ar retido no espaço pleural. A percussão do tórax produz um som hiper- ressonante e os sons respiratórios se apresentam mais baixos ou inexistentes sobre a área do pneumotórax. Ao exame físico, normalmente observa-se diminuição ou abolição do murmúrio vesicular e frêmito toraco-vocal, diminuição da expansibilidade torácica e hipertimpanismo à percussão. Carla Bertelli – 3° Período Hipertensivo As estruturas no espaço do mediastino se deslocam para o lado oposto da caixa torácica A posição da traqueia, que normalmente se localiza na linha média do pescoço, se desvia junto com o mediastino. A posição da traqueia pode ser utilizada como um meio de avaliar o desvio do mediastino. Devido ao aumento na pressão intratorácica, ocorre uma redução do volume sistólico de tal ponto que o débito cardíaco é diminuído, apesar de um aumento na frequência cardíaca. Pode haver distensão da veia jugular no pescoço, enfisema subcutâneo (i. e., ar nos tecidos subcutâneos do tórax e pescoço) e sinais clínicos de choque devido ao comprometimento da função cardíaca. Diagnóstico A suspeita diagnostica é feita baseada no quadro clínico (dispneia e dor torácica) e no exame físico. A radiografia simples de tórax com duas incidências, póstero-anterior e perfil, é suficiente para confirma o diagnostico através da presença de ar radiotransparente entre a parede torácica e/ou diafragma e pleura visceral. O pneumotórax hipertenso é uma emergência médica e deve ser diagnosticado clinicamente. Não é necessária uma confirmação do diagnostico através de uma radiografia de tórax, uma vez que, deve ser tratado imediatamente. Realize oximetria de pulso e gasometria para determinar o efeito sobre os níveis de oxigênio no sangue.
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