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APG 19 – Leite derramado e bolhas no oceano Nayara Viana - 3 período - unifipmoc Objetivos: Revisar a anatomorfologia das pleuras pulmonares. Descrever a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia e fatores de risco do derrame pleural e pneumotórax. Compreender o diagnóstico (traumático e não traumático), tratamento (classe e mecanismo de ação dos medicamentos) e exames complementares do derrame pleural e pneumotórax. Anatomorfologia das pleuras Cada pulmão é fechado e protegido por uma túnica serosa de camada dupla chamada pleura (túnica serosa). A camada superficial, chamada de pleura parietal, reveste a parede da cavidade torácica; a camada profunda, a pleura visceral, recobre os pulmões propriamente ditos. Entre a pleura visceral e a pleura parietal há um pequeno espaço, a cavidade pleural, que contém um pequeno volume de líquido lubrificante que é secretado pelas membranas (uma fina camada de líquido mucoide está presente entre as pleuras parietal e visceral). Este líquido pleural reduz o atrito entre as membranas, o que lhes possibilita deslizar facilmente uma sobre a outra durante a respiração. O líquido pleural também faz com que as duas membranas adiram uma à outra, assim como uma película de água faz com que duas lâminas microscópicas de vidro fiquem juntas, um fenômeno chamado de tensão superficial. Cavidades pleurais separadas circundam os pulmões esquerdo e direito. A membrana pleural é de natureza mesenquimal serosa e porosa, permitindo transudação contínua de pequenas quantidades de líquido intersticial para o espaço pleural. Esse líquido carreia consigo proteínas teciduais, as quais conferem ao líquido pleural uma característica mucoide, que permite deslizamento extremamente fácil dos pulmões em movimento. A quantidade total de líquido em cada cavidade pleural é em geral pequena – poucos mililitros. Sempre que essa quantidade supera um volume suficiente apenas para permitir fluxo do líquido na cavidade pleural, seu excesso é bombeado pelos vasos linfáticos, os quais se abrem da cavidade diretamente para: (1) o mediastino; (2) a superfície superior do diafragma; e (3) as superfícies laterais da pleura parietal. Pressão negativa do espaço pleural A fim de manter os pulmões expandidos, sempre se faz necessária uma força negativa. Essa força é proporcionada pela pressão negativa do espaço pleural normal. A causa base dessa pressão negativa é o bombeamento de líquido do espaço pleural pelos vasos linfáticos. A pressão intrapleural é a pressão do líquido presente no delgado espaço entre a pleura visceral e a pleura parietal. Essa pressão consiste em uma leve sucção, o que significa se tratar de uma pressão negativa. A pressão intrapleural normal, no início da inspiração, é de, aproximadamente –5 centímetros de água (cmH2O), que é a quantidade de sucção necessária para manter os pulmões abertos em nível de repouso. Durante a inspiração normal, a expansão da caixa torácica traciona os pulmões para fora com uma força maior e cria uma pressão mais negativa, chegando à média de –7,5 cmH2O. Há uma crescente negatividade da pressão intrapleural desde –5 a –7,5 cmH2O durante a inspiração, e um aumento no volume pulmonar em 0,5 ℓ. Em seguida, durante a expiração, os eventos essencialmente se revertem. LÍQUIDO PLEURAL Aspecto mucoide que permite o fácil deslizamento dos pulmões em movimento. Possui água. Altas concentrações de monócitos e baixa concentrações de linfócitos, macrófagos e células mesoteliais. Poucas proteínas. Não possui hemácias. FORMAÇÃO E REABSORÇÃO DO LÍQUIDO PLEURAL Formado: a partir dos capilares sanguíneos da pleura parietal (com elevada pressão hidrostática da circulação sistêmica). 1. Reabsorvido: esse processo se dá por dois mecanismos. Mecanismo não seletivo: através dos vasos linfáticos (especialmente os da pleura parietal) que vão para o mediastino. 2. Mecanismo seletivo: (para água e pequenas moléculas) pelos capilares sanguíneos da pleura visceral (com baixa pressão hidrostática da circulação pulmonar). MECANISMOS DE DEFESA DA PLEURA Incluem funções que vão desde uma barreira mecânica contra invasão de agentes agressores até um sistema sofisticado e coordenado de citocinas e células inflamatórias. CÉLULAS MESOTELIAIS Respondem em grande parte pela imunidade inata da pleura. Reconhecem o organismo agressor e iniciam uma resposta inflamatória, coordenando essa ação e o tipo de resposta varia de acordo com o agente agressor. A superfície das células mesoteliais é coberta por glicoconjugados, as sialomucinas, que são moléculas que repulsam a presença de células anormais, partículas e microrganismos, impedindo a aderência desses agentes. Produzem fibronectina, que inibe a adesão de microrganismos. Além disso, produzem radicais de oxido nítrico em resposta a estimulação por citocinas, lipopolissacarídeos e particulados. MEMBRANA BASAL PLEURAL Secreta enzimas como lisozima, imunoglobulinas (IgG e IgA) e complemento, que ajudam na função antibacteriana. Derrame pleural Coleção de grandes quantidades de líquido livre no espaço pleural. O derrame pleural (efusão pleural) é análogo ao acúmulo de líquido no edema tecidual, podendo ser considerado um edema da cavidade pleural. As causas da efusão são as mesmas causas do edema em outros tecidos, incluindo as seguintes: (1) bloqueio ou diminuição da drenagem linfática da cavidade pleural; como na carcinomatose mediastinal. (2) insuficiência cardíaca comgestiva, que causa aumento excessivo das pressões capilares periféricas e pulmonares, levando à transudação excessiva de líquido para a cavidade pleural; (3) pressão coloidosmótica plasmática muito diminuída, permitindo transudação excessiva de líquido; como na síndrome nefrótica. (4) Aumento da pressão negativa intrapleural, como na atelectasia (é a expansão parcial ou incompleta do pulmão, causada por uma obstrução ou por compressão do tecido pulmonar). (5) infecção ou qualquer outra causa de inflamação das superfícies da cavidade pleural, o que aumenta a permeabilidade das membranas capilares e permite rápido depósito de proteínas plasmáticas e líquido dentro da cavidade. Etiologia e epidemiologia O líquido que se acumula em um derrame pleural pode ser um transudato ou exsudato, purulento, quiloso ou sanguíneo. O acúmulo de transudato seroso (líquido claro) na cavidade pleural muitas vezes é chamado de hidrotórax. A condição pode ser unilateral ou bilateral. A causa mais comum de hidrotórax é a insuficiência cardíaca congestiva. Outras causas são insuficiência renal, nefrose, insuficiência hepática e câncer. Um exsudato pleural é um líquido com uma densidade específica superior a 1,020 e frequentemente contém células inflamatórias. Derrames pleurais transudativos e exsudativos podem ser diferenciados pela medição dos níveis de lactato desidrogenase (LDH) e níveis de proteína no líquido pleural.8 LDH é uma enzima liberada a partir de tecido pleural inflamado ou lesionado. Como as medições de LDH podem ser facilmente obtidas a partir de uma amostra de líquido pleural, este é um marcador útil para o diagnóstico de distúrbios exsudativos da pleura. O líquido no derrame pleural pode se acumular devido á: Aumento da formação: o aumento da formação do líquido pleural pode ser causado em duas diferentes situações: Desequilíbrio nas pressões hidrostáticas e/ou oncóticas pleurais ou alteração da permeabilidade capilar pleural. Aumento do fluxo de entrada: as condições que aumentam o fluxo de entrada de fluido na cavidade pleural são: Aumento da permeabilidade da barreiraendotelial, aumento da pressão microvascular, diminuição da pressão pleural, diminuição da pressão osmótica plasmática. Diminuição dasaída: já a saída do fluido depende da depuração do líquido do espaço pleural e da presença de vasos linfáticos. TIPOS DE LÍQUIDO QUE SE ACUMULAM NO DERRAME PLEURAL O líquido que se acumula em um derrame pleural pode ser um transudato ou exsudato, purulento, quiloso ou sanguíneo. Transudato O acúmulo de transudato seroso (líquido claro) na cavidade pleural muitas vezes é chamado de hidrotórax. Permeabilidade da membrana pleurocapilar (K) normal ou pouco alterado: Baixa densidade, Pequena concentração de proteínas, Ausência de células inflamatórias. O líquido acumula-se por distúrbios nos fatores hidrodinâmicos que regulam a formação e a absorção do líquido pleural, resultando no acúmulo deste. Suas causas principais são insuficiência cardíaca, cirrose hepática e distúrbios renais, como síndrome nefrótica. Insuficiência cardíaca (aumenta pressão hidrostática); Síndrome nefrótica (diminuição pressão osmótica); Insuf. Hepática (cirrose- diminuição pressão osmótica). Exudato Permeabilidade da membrana pleurocapilar (K) aumentada (e também a capacidade de drenagem é reduzida), elementos contidos no sangue poderão passar com mais facilidade para o espaço pleural: Densidade superior a 1.020. Níveis de proteínas maiores que 2 g/dL. Contém marcadores inflamatórios bioquímicos e células inflamatórias. Acúmulo de líquido ocorre quando os fatores locais que influenciam o acúmulo de líquido pleural são alterados. Em geral ocorrem por condições inflamatórias ou neoplásicas. Principais causas: o Invasão microbiana: por infecção pulmonar direta ou por via sanguínea (pleurite supurativa ou empiema). Tumor (carcinoma pulmonar ou neoplasias metastáticas, no pulmão ou na pleura, e mesotelioma). Infarto pulmonar. Pleurite viral. Estas condições são responsáveis por aproximadamente 70% de todos os casos de derrame pleural. Um derrame pleural exsudativo preenche pelo menos um dos seguintes critérios: 1.A razão entre a proteína no líquido pleural e a proteína sérica é maior que 0,5. 2.A razão entre os níveis de LDH no líquido pleural e os níveis séricos de LDH é maior que 0,6. 3.Um valor de LDH no líquido pleural superior a dois terços do limite superior dos níveis séricos normais de LDH. Purulento Purulento/empiema: Geralmente resulta da semeadura bacteriana ou micótica do espaço pleural. Mais comumente, essa semeadura ocorre por disseminação contígua de organismos de uma infecção intrapulmonar, mas, ocasionalmente, ocorre por disseminação linfática ou hematogênica a partir de uma fonte mais distante. O empiema é caracterizado por pus loculado, verde-amarelado e cremoso, composto por massas de neutrófilos mesclados com outros leucócitos. Embora um empiema possa se acumular em grandes volumes (até 500 a 1.000 mL), em geral o volume é pequeno, e o pus permanece localizado. O empiema pode se resolver, mas o exsudato geralmente se organiza em aderências fibrosas densas, firmes, que frequentemente obliteram o espaço pleural ou envolvem os pulmões; em qualquer um desses casos, a expansibilidade pulmonar pode ser seriamente afetada Causas: pneumonia bacteriana adjacente, ruptura de abscesso pulmonar no espaço pleural, invasão de infecção subdiafragmática, infecção associada a traumatismo. Quilotórax O quilo, um líquido leitoso que contém quilomicra, é encontrado no líquido linfático originário do sistema digestório. O quilotórax também pode ser o resultado de traumatismo, inflamação ou infiltração cancerígena capaz de obstruir o transporte do quilo através do ducto torácico para a circulação central. É a causa mais comum de derrame pleural no feto e no recém-nascido, resultante de malformação congênita dos ductos torácicos ou dos canais linfáticos. Também pode ocorrer quilotórax como uma complicação de procedimentos cirúrgicos intratorácicos e da utilização de grandes veias para nutrição parenteral total e monitoramento hemodinâmico. Sanguíneo Hemorrágico (Hemotórax): Essa é uma complicação fatal de uma ruptura de aneurisma aórtico ou trauma vascular ou pode ocorrer no pós- operatórioacidente de punção, neoplasia, tuberculose, TEP. Manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento As manifestações de derrames parapneumônicos variam de acordo com a causa. O empiema pode ser acompanhado de febre, aumento da contagem de leucócitos e outros sinais de inflamação. O líquido na cavidade pleural age como massa ocupando espaço; causa uma diminuição na expansão do pulmão no lado afetado que é proporcional ao volume de líquido acumulado. Os sinais característicos de derrame pleural são submacicez ou macicez à percussão e redução dos sons respiratórios. Pode ocorrer hipoxemia devido à diminuição da área de superfície, que geralmente é corrigida com oxigênio suplementar. Dispneia, o sintoma mais comum, surge quando o líquido comprime o pulmão, resultando no aumento do esforço ou da frequência respiratórios. Geralmente só ocorre dor pleurítica quando existe inflamação. No entanto, pode ser sentido um desconforto constante com grandes derrames. Há também a tosse seca, inicialmente a tosse é seca, esporádica e pouco intensa, causada pelo estímulo inflamatório à pleura parietal e sintomas sistêmicos, como astenia, emagrecimento e febre dependem de inflamação ou do mecanismo etiopatogênico envolvido. O diagnóstico de derrame pleural deve se basear no resultado de radiografias, ultrassonografia e tomografia computadorizada (TC) de tórax. Radiografia do tórax: Evidencia opacificação homogênea ocupando a parte inferior do hemitórax afetado, geralmente com concavidade mais elevada lateralmente (parábola de Demoiseau). USG e TC do tórax: em situações especiais, quando a radiografia for inconclusiva. US tórax: superior à radiografia de tórax na detecção de derrame pleural, podendo ser realizado à beira do leito e não tem contraindicações. Detecta septações com sensibilidade superior à tomografia computadorizada e é utilizado também para guiar a toracocentese diagnóstica. TC tórax: útil na avaliação do diagnóstico etiológico como neoplasia, TEP (angio-CT), pneumonia, etc. Auxilia na diferenciação de abscesso e empiema. Além disso, o exame físico evidencia: Palpação (expansibilidade diminuída e frêmito toracovocal abolido). Percussão (macicez) e ausculta (murmúrio vesicular abolido e egofonia na parte mais alta do derrame.) ***Podendo ocorrer sopro pleurítico (colapso pulmonar) e atrito pleural (decorrente de inflamação) Comprovação diagnóstica Toracocentese: procedimento de punção do tórax com agulha fina ou de Cope para coleta e análise do líquido pleural (bioquímica, citologia diferencial, citologia oncótica e exames bacteriológicos), além de exame anatomopatológico da pleura. O tratamento do derrame pleural transudativo baseia-se muitas vezes no tratamento da síndrome edemigênica associada, como no caso da insuficiência cardíaca e cirrose hepática. Nos derrames exsudativos, a determinação da etiologia é fundamental para o manejo adequado do fator causal. Há diversos diagnósticos diferenciais e tratamentos específicos. Tuberculose pleural: Uma das causas mais frequentes de derrame pleural no Brasil, é caracterizada por um exsudato ricamente proteico (> 4,0 g/dL), linfomonocitário e com ADA elevado. O tratamento é semelhante ao da forma pulmonar, sendo utilizado o esquema básico (dois meses de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol, seguidos por quatro meses de rifampicina e isoniazida). Derrame pleural parapneumônico: Derrame parapneumônico podeocorrer em até 50% dos casos de pneumonia. Caracteriza-se por ser um exsudato com predomínio de neutrófilos; seu aspecto macroscópico pode variar de citrino a francamente purulento. Alguns critérios são marcadores de má evolução e caracterizam o derrame como complicado: pH < 7,2; glicose < 40 mg/dL; DHL > 1000 UI ou pesquisa positiva para agentes bacterianos (gram ou culturas). Nesses casos de derrame complicado, bem como no empiema (drenagem de conteúdo purulento), a necessidade de drenagem torácica (toracostomia) é imperativa. Em casos não complicados, deve-se manter o mesmo esquema antimicrobiano iniciado, sem necessidade de drenagem. Derrame pleural maligno: Habitualmente está relacionado à doença avançada e incurável, com sobrevida reduzida. Pode corresponder à doença metastática (câncer de pulmão, mama ou linfoma) ou a primária da pleura (mesotelioma). Pode ser apresentação inicial de doença metastática em aproximadamente 25% dos casos. Classicamente, gera um exsudato sanguinolento e recidivante. A presença de pH menor que 7,2 indica pior prognóstico, com expectativa de vida próxima a trinta dias. Além da análise do líquido, achados de espessamento pleural (> 1 cm) ou diafragmático (> 7 mm) e nodularidade pleural observados na ultrassonografia ou tomografia de tórax corroboram com o diagnóstico de malignidade. Nem toda presença de derrame pleural em neoplasia denota acometimento pleural metastático, podendo também traduzir pneumonia por obstrução brônquica, embolia pulmonar ou linfangite. Assim, uma avaliação pormenorizada é fundamental para o estadiamento e tratamento corretos. Embolia pulmonar: Cerca de 95% dos derrames por embolia pulmonar são unilaterais e, em sua maioria, não necessitam de toracocentese caso o diagnóstico já esteja estabelecido. Naqueles submetidos à toracocentese, cerca de 80% correspondem a derrame exsudativo e 20% transudativo. Apresenta-se hemorrágico somente quando há infarto pulmonar associado. A terapêutica baseia-se apenas no tratamento da própria embolia pulmonar, sendo a anticoagulação plena suficiente na maioria dos casos. Um método usado no tratamento paliativo de derrames pleurais causados por um câncer é a injeção de um agente esclerosante na cavidade pleural. Esse método de tratamento provoca obliteração do espaço pleural e impede que o líquido torne a se acumular. Pode ser necessária uma drenagem torácica nos casos em que o derrame permanece. Pneumotórax O termo “pneumonotórax” se refere à existência de ar no espaço pleural. O pneumotórax provoca o colapso parcial ou completo do pulmão afetado. Normalmente, a pressão dentro do espaço pleural é ligeiramente subatmosférica. No entanto, quando uma quantidade de ar se acumula dentro do espaço pleural, a pressão dentro dele se torna positiva e existe uma compressão do pulmão subjacente. O pneumotórax provoca o colapso parcial ou completo do pulmão afetado e reduz os volumes pulmonares, a complacência pulmonar e a capacidade de difusão. Etiologia e patogênese O pneumotórax pode suceder sem uma causa óbvia ou lesão (i. e., pneumotórax espontâneo) ou como resultado de uma lesão direta ao tórax ou às grandes vias respiratórias (i. e., pneumotórax traumático). Pneumotórax de tensão descreve uma condição potencialmente fatal na qual o aumento da pressão no interior da cavidade pleural compromete tanto a função respiratória quanto a função cardíaca. Pneumotórax espontâneo: se desenvolve devido à ruptura de uma bolha de ar na superfície do pulmão. A ruptura dessas bolhas possibilita que o ar atmosférico proveniente das vias respiratórias entre na cavidade pleural. Como a pressão alveolar normalmente é maior do que a pressão pleural, o ar flui dos alvéolos para o espaço pleural provocando o colapso da porção envolvida do pulmão, como resultado de seu próprio recuo. O ar continua a fluir para dentro do espaço pleural, até que não exista um gradiente de pressão ou até que a diminuição no tamanho do pulmão interrompa o extravasamento. O pneumotórax espontâneo é dividido em primário e secundário. O pneumotórax primário se desenvolve em pessoas saudáveis, enquanto o pneumotórax secundário ocorre em pessoas com doença pulmonar subjacente. PRIMÁRIO Acontece em pessoas saudáveis. Geralmente se desenvolve enquanto o paciente está em repouso, e raramente durante exercício extenuante. As bolhas geralmente se localizam na parte superior dos pulmões. Mais frequentemente em jovens altos do sexo masculino, com idade entre 10 e 30 anos. A síndrome de Birt-HoggDubé é uma condição autossômica dominante caracterizada pela maior incidência de pneumotórax espontâneo, tumores benignos da pele e tumores renais. O tabagismo e um histórico familiar positivo são fatores associados ao pneumotórax espontâneo primário. Uma inflamação das pequenas vias respiratórias relacionada com o tabagismo provavelmente contribui para o desenvolvimento da doença, e a interrupção do hábito de fumar pode reduzir a possibilidade de recorrência. SECUNDÁRIO São mais graves, porque se desenvolvem em pessoas com doença pulmonar subjacente e por terem pouca reserva compensatória. Estão associados a diferentes tipos de doenças pulmonares causadoras do aprisionamento de gases e da destruição do tecido pulmonar, como asma, tuberculose, fibrose cística (FC), sarcoidose, carcinoma broncogênico e doenças pleurais metastáticas. Uma causa comum de pneumotórax espontâneo secundário é o enfisema. Os casos de pneumotórax espontâneo secundário podem ser fatais por causa da lesão pulmonar subjacente e da pouca reserva compensatória. Pneumotórax catamenial: é um tipo de pneumotórax relacionado com o ciclo menstrual e geralmente é recorrente. Tipicamente ocorre em mulheres na faixa etária entre 30 e 40 anos com histórico de endometriose. Cerca de um terço de todos os casos de pneumotórax espontâneo em mulheres que se submetem à cirurgia é causado por pneumotórax catamenial. Em geral, afeta o pulmão direito e se desenvolve em um período de 72 h antes do início da menstruação. Embora a causa do pneumotórax catamenial seja desconhecida, tem sido sugerido que, durante a menstruação, o ar pode ter acesso à cavidade peritoneal e, em seguida, entrar na cavidade pleural através de um defeito no diafragma. A endometriose pleural e diafragmática também tem sido implicada como causa desta condição patológica. Pneumotórax traumático: Os casos de pneumotórax traumático podem ser causados por lesões penetrantes ou não penetrantes. A fratura ou a luxação de costelas que penetram na pleura são a causa mais comum de pneumotórax resultante de lesões torácicas não penetrantes. Essas podem ser acompanhadas de hemotórax. O pneumotórax também pode acompanhar uma fratura da traqueia, dos brônquios principais ou uma ruptura do esôfago. Pessoas com pneumotórax resultante de traumatismo torácico frequentemente apresentam outras complicações e necessitam de cirurgia torácica. Procedimentos clínicos como aspirações com agulha transtorácica, inserção de linha central, intubação e ventilação com pressão positiva, ocasionalmente, podem causar pneumotórax. Também pode se desenvolver um pneumotórax traumático como complicação de uma reanimação cardiopulmonar. TIPOS: Iatrogênico: ocorre induzido por um procedimento médico, geralmente induzido por cateterismo venoso central, toracocentese, ventilação mecânica e etc. Não iatrogênico/traumático: pode ocorrer por trauma aberto ou fechado. Trauma contuso/fechado: lesão do tecido sem expor externamente; comumente por fratura de costela; Trauma penetrante/aberto: exposto para o meio externo, através do qual o ar atmosférico entra no espaço pleural durante ainspiração e sai durante a expiração, dificultando a ventilação do paciente. Pneumotórax de tensão: Acontece quando a pressão intrapleural excede a pressão atmosférica. É uma condição potencialmente fatal e se desenvolve quando uma lesão ao tórax ou às estruturas respiratórias possibilita que o ar entre, mas não consiga sair do espaço pleural. Isso origina o aumento rápido da pressão no interior do tórax e causa atelectasia por compressão do pulmão não afetado, desvio no mediastino para o lado oposto do tórax e compressão da veia cava, o que resulta na diminuição do retorno venoso para o coração e na redução do débito cardíaco.Embora possa se desenvolver um pneumotórax de tensão em pessoas com pneumotórax espontâneo, esse tipo é observado mais frequentemente em pessoas com pneumotórax traumático. Pode resultar também de um barotrauma causado por ventilação mecânica, em consequência do alto volume corrente em pessoas no ventilador. Na imagem: Pneumotórax aberto ou comunicante (em cima) e pneumotórax de tensão (embaixo). Em um pneumotórax aberto, o ar entra no tórax durante a inspiração e sai durante a expiração. Pode haver ligeira insuflação do pulmão afetado devido a uma diminuição na pressão, à medida que o ar se move para fora. No pneumotórax de tensão, o ar pode entrar, mas não sair. À medida que a pressão aumenta no tórax, o coração e os grandes vasos são comprimidos e as estruturas do mediastino são deslocadas para o lado oposto do tórax. A traqueia é empurrada de sua posição normal na linha média para o lado oposto do tórax, e o pulmão não afetado é comprimido. Fisiopatologia Os pulmões, em condições normais, tendem ao colapso e isto só não acontece devido à ação das pressões atmosférica e pleural. A pressão no espaço pleural é negativa em relação à pressão atmosférica. O gradiente de pressão resultante mantém a pleura visceral oposta contra a pleura parietal na parede torácica, em um equilíbrio dinâmico. A penetração do ar altera todo esse equilíbrio pressórico torna a pressão na cavidade pleural positiva, em relação à pressão atmosférica. Quando ocorre a perda desse equilíbrio o pulmão sofre o colapso. CONSEQUENCIAS Quando se desenvolve uma comunicação entre um alvéolo ou outro espaço aéreo intrapulmonar e o espaço pleural, o ar fluirá do alvéolo para o interior do espaço pleural até não haver mais uma diferença de pressão ou até que a comunicação seja selada. A elevação da pressão pleural também causa desvio do mediastino em direção contralateral, hemitórax aumentado e hemidiafragma deprimido. As principais consequências fisiológicas de um pneumotórax: Diminuição da capacidade vital. Redução da PO arterial: parece se devido à criação de regiões do pulmão com baixas relações ventilaçãoperfusão e com ventilação ausente, ocasionando a hipoventilação alveolar. Se a função pulmonar do paciente for anormal antes do desenvolvimento do pneumotórax, a diminuição da capacidade vital poderá levar à insuficiência respiratória com hipoventilação alveolar e acidose respiratória. Manifestações clínicas As manifestações de pneumotórax dependem do tamanho e da integridade do pulmão subjacente. O pneumotórax deve ser suspeitado em pacientes com aumento de frequência respiratória, dispneia aguda de início súbito e dor no peito (dor pleurítica) ventilatóriodependente e ipsolateral. Pneumotórax espontâneo primário Ocorre com mais frequência, indivíduos no início de seus 20 anos e raramente após os 40 anos. Principais sintomas: aguda, em geral localiza-se no lado do pneumotórax, dispneia. Os sinais vitais geralmente são normais, com exceção de taquicardia moderada, deve-se suspeitar de pneumotórax de tensão se estiverem presentes taquicardia >140bpm, hipotensão, cianose. O lado com pneumotórax pode ser maior que o contralateral e se move menos durante o ciclo respiratório.Essa assimetria pode se manifestar durante a inspiração como atraso no movimento do lado afetado, com retardo da inspiração até que o pulmão preservado atinge o mesmo nível de pressão que o pulmão com ar retido no espaço pleural. Geralmente se desenvolve hipoxemia logo depois de um grande pneumotórax, seguida por vasoconstrição de vasos sanguíneos no pulmão afetado, fazendo o fluxo sanguíneo se deslocar para o pulmão não afetado. Em pessoas com pneumotórax espontâneo primário, esse mecanismo muitas vezes retorna a saturação de oxigênio ao normal no intervalo de 24 h. O frêmito tátil está ausente. Os sons respiratórios estão ausentes ou reduzidos no lado afetado. Pneumotórax secundário Manifestações clinicas: são mais graves do que as associadas a PEP, dispneia, dor torácica, cianose e hipotensão. O exame físico nem sempre é útil, porque os pacientes podem já ter pulmões hiperexpandidos, diminuição do frêmito tátil, percussão hiper- ressonante e sons respiratórios distantes. Pneumotórax traumático (Iatrogênica) Deve suspeitar em qualquer paciente tratado por ventilação mecânica, cuja condição clinica deteriore-se subitamente. Em qualquer paciente que se torne mais dispneico após um procedimento de intervenção associado ao desenvolvimento de um pneumotórax. Pneumotórax traumático (não iatrogênico) Paciente pode ter dispneia significante e de evolução muito rápida. Pneumotórax de tensão As estruturas no espaço do mediastino se deslocam para o lado oposto da caixa torácica. Quando isto ocorre, a posição da traqueia, que normalmente se localiza na linha média do pescoço, se desvia junto com o mediastino. A posição da traqueia pode ser utilizada como um meio de avaliar o desvio do mediastino. Devido ao aumento na pressão intratorácica, ocorre uma redução do volume sistólico de tal ponto que o débito cardíaco é diminuído, apesar de um aumento na frequência cardíaca. Pode haver distensão da veia jugular no pescoço, enfisema subcutâneo e sinais clínicos de choque devido ao comprometimento da função cardíaca. Diagnóstico e tratamento Radiografia do tórax ou TC confirmam o diagnóstico de pneumotórax. Ar na cavidade pleural (linha “escura” determina a pleura onde deveria estar apenas parênquima pulmonar). Pneumotórax pequeno: necessita de RX durante expiração forçada ou em decúbito lateral. Desvio do mediastino contralateralmente ao pulmão complicado. • Realize oximetria de pulso e gasometria para determinar o efeito sobre os níveis de oxigênio no sangue. • ECG: desvio do eixo QRS, alterações inespecíficas do ST, inversão de T, QRS com amplitude diminuída (no pneumotórax em hemitórax E). PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO PRIMÁRIO Sugerido pela historia clinica e exame físico, sendo estabelecido pela demonstração de uma linha pleural no RX. PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO SECUNDÁRIO A possibilidade de um pneumotórax deve ser considerada em todo paciente com DPOC que apresente súbito aumento de dispneia e/ou dor torácica. O exame físico nem sempre é útil, porque os pacientes podem já ter pulmões hiperexpandidos, diminuição do frêmito tátil, percussão hiper- ressonante e sons respiratórios distantes A demonstração de uma linha pleural na radiografia de tórax pode ser difícil em radiografias de pacientes com DPOC por causa de seus pulmões enfisematosos. PNEUMOTÓRAX TRAUMÁTICO (IATROGENICA) Deve suspeitar em qualquer paciente tratado por ventilação mecânica, cuja condição clinica deteriore-se subitamente. O diagnostico requer confirmação por imagens ultrassonográficas ou radiográficas. Em pacientes com extensas opacidades pulmonares, pode haver pouca evidencia de colapso pulmonar, mas o ar no espaço pleural pode ser indicado pelo sinal de “sulco profundo”. PNEUMOTÓRAX TRAUMÁTICO (NÃOIATROGENICA) Feito por USS, radiografia de tórax ou TC. Um pneumotórax detectável na TC, mas não na radiografia de tórax, é chamado de pneumotórax oculto e responde por cerca de 40% dos pneumotórax traumáticos. A USS é mais sensível que a radiografia de tórax em posição supina para identificar pneumotórax, mas também ocorrem falsos positivos, especialmente em pacientes com doença pulmonar subjacente. PNEUMOTÓRAX DE TENSÃO No pneumotórax hipertensivo é possível visualizar nos exames de imagem desvio do mediastino, rebaixamento do mediastino e alargamento dos espaços intercostais. Tratamento O tratamento de pneumotórax varia de acordo com a causa e a extensão do distúrbio. PNEUMOTÓRAX LEVE Em casos de um pneumotórax espontâneo pequeno, o ar geralmente é espontaneamente reabsorvido. Portanto, é necessário apenas observar e acompanhar com radiografias de tórax. Pode ser utilizado oxigênio suplementar para corrigir a hipoxemia até que o ar seja reabsorvido. PNEUMOTÓRAX MAIOR Em casos de um pneumotórax maior, o ar deve ser retirado com agulha de aspiração ou por um sistema de drenagem fechado, com ou sem sucção. Este tipo de sistema de drenagem utiliza uma válvula unidirecional ou uma câmara de selo d’água para tornar possível que o ar saia do espaço pleural e impedir que penetre novamente no tórax. PNEUMOTÓRAX GRAVE O tratamento de emergência de casos de pneumotórax de tensão envolve a inserção imediata de uma agulha de grande calibre ou um dreno no lado afetado do tórax, juntamente com a drenagem por válvula unidirecional ou sucção contínua do tórax para ajudar na reinflação do pulmão afetado. Uma ferida aspirativa da parede torácica, que viabiliza a passagem de ar para dentro e para fora da cavidade torácica, deve ser tratada imediatamente, cobrindo-se a área com um curativo hermético (p. ex., gaze com vaselina, pedaço de plástico firme). Tubos torácicos devem ser inseridos o mais rapidamente possível para reexpandir o pulmão. Obs.... Paciente estável com pneumotórax pequeno ( < que 3 cm): o tratamento é conservador, com prescrição de analgésicos e repouso relativo. Solicitar radiografia de tórax em 4 a 6 h para acompanhar a progressão do pneumotórax se o quadro clínico radiológico for estável o paciente poderá ser liberado para reavaliação no dia seguinte. Paciente estava com pneumotórax grande ( > 3 cm): nessa situação paciente deve ser hospitalizado.O tratamento de escolha é a aspiração simples e pode ser eficaz na maioria dos casos o local da punção geralmente o segundo espaço intercostal anterior com linha hemiclavícular homolateral ao pneumotórax. Pode se proceder aspiração de todo o ar ou conectar um cateter com um sistema de válvula de heimlish. Pacientes que falham em reexpandir o pulmão devem ser submetidos a drenagem torácica com selo da água. Paciente instável independente do tamanho do pneumotórax: o tratamento é a drenagem torácica. Caso não seja disponível pode ser tentar aspiração simples, esses pacientes devem ser hospitalizados para observação.
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