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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Rever a morfologia das vias aéreas inferiores (pleuras); 2- Discutir sobre a epidemiologia, etiologia e fatores de risco do derrame pleural e pneumotórax; 3- Debater sobre a fisiopatologia e as manifestações clínicas do derrame pleural e pneumotórax; 4- Explicar como é realizado o diagnóstico do derrame pleural e pneumotórax. Morfologia das vias aéreas inferiores PLEURAS ↠ Em volta de cada pulmão há um saco achatado cujas paredes são formadas por uma membrana serosa chamada pleura (“ao lado”). A camada externa desse saco é a pleura parietal, enquanto a camada interna, diretamente sobre o pulmão, é a pleura visceral (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A pleura parietal cobre a superfície interna da parede torácica, a superfície superior do diafragma e as superfícies laterais do mediastino. A partir do mediastino, ela se reflete lateralmente envolvendo os grandes vasos que seguem para o pulmão (raiz pulmonar). Na área onde esses vasos entram no pulmão, a pleura parietal é contínua à pleura visceral, que cobre a superfície externa do pulmão (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O espaço entre as pleuras parietal e visceral é a cavidade pleural, preenchida com uma película fina de fluido pleural. Produzido pelas pleuras, esse fluido lubrificante permite que os pulmões deslizem sem atrito sobre a parede torácica durante os movimentos respiratórios (MARIEB, 7ª ed.). ↠ O fluido também mantém as pleuras parietal e visceral unidas. As pleuras podem deslizar com facilidade de lado a lado uma sobre a outra, mas sua separação sofre uma forte resistência. Consequentemente, os pulmões se agarram com firmeza à parede torácica e são obrigados a se expandir e recuar à medida que o volume da cavidade torácica aumenta e diminui durante a respiração (MARIEB, 7ª ed.). ↠ As pleuras também dividem a cavidade torácica em três compartimentos separados - o mediastino central e dois compartimentos pleurais laterais, cada um contendo um pulmão. Essa compartimentalização ajuda a evitar que os pulmões em movimento ou o coração interfiram um no outro, além de limitar a disseminação de infecções localizadas e o grau de lesão traumática (MARIEB, 7ª ed.). ↠ A pressão na cavidade pleural, que é negativa em relação à pressão atmosférica, mantém os pulmões contra a parede do tórax e o impede de entrar em colapso. Os distúrbios da pleura incluem derrame pleural, APG 15 – “BALA PERDIDA” Sistema respiratório e pleura. A. Visão geral. B. Cavidade pleural e pleura. C. Corte diagramático através do coração e dos pulmões, com vasos pulmonares e árvore traqueobrônquica. Os pulmões invaginam um saco pleural membranáceo contínuo – a pleura visceral (pulmonar) recobre os pulmões, e a pleura parietal reveste a cavidade torácica. As pleuras parietal e visceral são contínuas em torno da raiz do pulmão. A pleura parietal pode ser dividida regionalmente nas partes costal, diafragmática, mediastinal e cervical. Observe o recesso costodiafragmático. A cavidade pleural é um espaço potencial entre as pleuras parietal e visceral que contém uma fina camada de líquido. Se um volume suficiente de ar penetrar na cavidade pleural, há comprometimento da tensão superficial que mantém aderidas as pleuras parietal e visceral (pulmão à parede torácica), e o pulmão colapsa (atelectasia) por causa de sua elasticidade inerente (retração elástica). Quando um pulmão colapsa, a cavidade pleural – normalmente um espaço potencial – torna-se um espaço real (B) e pode conter ar (pneumotórax), sangue (hemotórax) etc. 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck hemotórax, pneumotórax e inflamação pleural (PORTH, 10ª ed.). SUPRIMENTO SANGUÍNEO ↠ A pleura parietal é suprida por artérias intercostais. Em humanos e outros grandes mamíferos, a pleura visceral é exclusivamente suprida pela circulação bronquial, que drena nas veias pulmonares (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Ambas as pleuras em humanos, portanto, contam com uma circulação sistêmica, embora a circulação bronquial pleural visceral possa ter uma pressão de perfusão ligeiramente mais baixa que a circulação intercostal e pleural parietal por causa de sua drenagem em um sistema venoso de pressão mais baixa (BROADDUS, 6ª ed.). VASOS LINFÁTICOS ↠ Se forem injetadas partículas de carbono dentro do espaço pleural como um marcador visível das vias de drenagem linfática, posteriormente se constatará que o carbono negro é captado nos vasos linfáticos no lado parietal, e não no lado visceral. A pleura visceral possui extensos vasos linfáticos, mas eles não se conectam ao espaço pleural (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Os vasos linfáticos pleurais parietais se conectam ao espaço pleural via estomas, orifícios de 8 a 10 μm de diâmetro que são formados por descontinuidades na camada mesotelial onde o mesotélio se une ao endotélio linfático subjacente. Os estomas podem acomodar partículas tão grandes quanto eritrócitos. Em vários estudos experimentais, foi demonstrado que esses linfáticos são a principal via de saída do líquido do espaço pleural (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Dos estomas, o líquido drena para as lacunas, que são vasos linfáticos coletores submesoteliais semelhantes a aranhas que, então, drenam nos linfáticos infracostais, nos linfonodos paraesternais e periaórticos, para o ducto torácico, e dentro do sistema venoso sistêmico (BROADDUS, 6ª ed.). SUPRIMENTO NERVOSO ↠ A pleura parietal contém fibras nervosas sensitivas, supridas pelos nervos intercostais e frênicos, e há muito se acredita que seja o principal local de sensação de dor na pleura (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ As regiões diafragmáticas costal e periférica são inervadas pelos nervos intercostais, e a dor proveniente dessas regiões é sentida na parede torácica adjacente. A região diafragmática central é inervada pelo nervo frênico, e a dor proveniente dessa região é sentida no ombro ipsilateral (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Demonstrou-se, mais recentemente, que a pleura visceral possui fibras nervosas sensitivas que podem participar da dor ou de outras sensações como a dispneia. Além disso, adesões pleurais podem conter fibras dolorosas e contribuir para a dor pós-toracotomia ou pós- pleurodese (BROADDUS, 6ª ed.). LÍQUIDO PLEURAL NORMAL E ROTAÇÃO DE PROTEÍNAS ↠ O líquido pleural normal surge dos vasos pleurais sistêmicos em ambas as pleuras, flui através das membranas pleurais permeáveis para dentro do espaço pleural, e sai do espaço pleural via vasos linfáticos pleurais parietais (BROADDUS, 6ª ed.). ➢ A pressão intrapleural é mais baixa que a pressão intersticial de ambos os tecidos pleurais. Essa diferença de pressão constitui um gradiente para o movimento do líquido dentro, mas não fora, do espaço pleural. ➢ As membranas pleurais são permeáveis à líquido e proteína. ➢ As células mesoteliais expressam vários transportadores e aquaporinas, mas não se demonstrou que estes tenham um papel na reabsorção dos derrames. ➢ A entrada do líquido pleural é lenta e compatível com taxas conhecidas de fluxo intersticial. ➢ A concentração de proteína do líquido pleural normal é baixa em ovinos e provavelmente em humanos. ➢ A maior parte do líquido sai do espaço pleural por ultrafiltração, e não por difusão ou transporte ativo. Isto é evidente porque a concentração de proteína dos derrames pleurais permanece constante à medida que o derrame é absorvido, que é o que se espera da ultrafiltração. Se o líquido fosse absorvido por difusão ou transporte ativo, as proteínas sairiam de forma mais lenta e a concentração de proteína aumentaria progressivamente. Além disso, os eritrócitos instilados dentro do espaço pleural são absorvidos intactos e quase na mesma proporção do líquido e da proteína. Isto indica que a via de saída principal são os orifícios grandes o suficiente para acomodar os eritrócitos de ovinos (6 a 8 μm de diâmetro). Aúnica saída possível é através de estomas pleurais parietais (10 a 12 μm de diâmetro) dentro dos vasos linfáticos pleurais. Derrame Pleural ↠ O termo derrame pleural é usado para descrever acumulação anormal de líquido ou exsudato na cavidade pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ Ocasiona-se um derrame pleural quando a taxa de formação de líquido excede a taxa de remoção (PORTH, 10ª ed.). ↠ O derrame pleural é uma manifestação comum de doenças pleurais primárias e secundárias, que podem ser inflamatórias ou não inflamatórias. Normalmente, não mais do que 15 mL de um líquido seroso, relativamente acelular e claro, lubrificam a superfície pleural (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck Epidemiologia ↠ A prevalência do derrame pleural na prática médica é variável nas distintas regiões do mundo e aparecem em aproximadamente 400 de cada 100.000 habitantes (CASCONE et. al., 2016). ↠ No Brasil, estudos indicam que 20% a 30% dos pacientes internados por Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) cursam com derrame pleural parapneumônico. Além disso, o derrame pleural neoplásico é uma complicação frequente em pacientes oncológicos (SANAR). Etiologia e Fatores de Risco ↠ Os derrames pleurais são comuns e de etiologias altamente diversas; os derrames podem surgir das membranas pleurais próximas ou de órgãos torácicos ou abdominais mais distantes (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ As causas mais frequentes são a insuficiência cardíaca congestiva, a etiologia neoplásica e secundária ao embolismo pulmonar (CASCONE et. al., 2016). ↠ A incidência de derrame pleural em pacientes com ICC é alta. Em uma série de 60 pacientes com exacerbação de ICC estável, imagens de TC de tórax demonstraram que 50 pacientes (83%) tinham derrame pleural no lado direito e em 46 pacientes (77%) o derrame era no lado esquerdo. Aproximadamente um terço dos derrames tinham um volume excedendo os 700 ml (BROADDUS, 6ª ed.). Fisiopatologia Normalmente, o líquido entra no espaço pleural a partir dos capilares da pleura parietal e é removido pelos vasos linfáticos localizados na pleura parietal. Os líquidos também podem entrar a partir dos espaços intersticiais do pulmão através da pleura visceral ou a partir de pequenos orifícios no diafragma. Por conseguinte, o líquido pode se acumular quando há uma formação excessiva de líquido (a partir do interstício pulmonar, da pleura parietal ou da cavidade peritoneal) ou quando há uma redução na sua remoção pelos vasos linfáticos (PORTH, 10ª ed.). ↠ O acúmulo de líquido pleural ocorre nas seguintes situações: (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ➢ Aumento da pressão hidrostática, como na insuficiência cardíaca congestiva. ➢ Aumento da permeabilidade vascular, como na pneumonia. ➢ Diminuição da pressão osmótica, como na síndrome nefrótica. ➢ Aumento da pressão negativa intrapleural, como na atelectasia. ➢ Diminuição da drenagem linfática, como na carcinomatose mediastinal. ↠ Para que o líquido pleural se acumule formando um derrame, é provável que tanto a velocidade de sua entrada deva aumentar quanto a velocidade de saída deva diminuir. Se somente a velocidade de entrada aumentasse, seria necessária uma velocidade sustentada de mais de 30 vezes a normal para exceder a capacidade de reserva de remoção linfática; se a velocidade de saída diminuísse, levaria mais de um mês à velocidade de entrada normal de 12 mL por dia para se produzir um derrame detectável por radiografia de tórax (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Assim, em situação clínica, é mais provável que o excesso de líquido pleural se acumule devido a alterações tanto nas velocidades de entrada quanto de saída (BROADDUS, 6ª ed.). 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A entrada aumentada do líquido pode resultar de maior filtração através de capilares sistêmicos ou pulmonares ou da entrada de outro líquido (p. ex., quilo, líquido cerebroespinal, urina, fluido intravenoso de um cateter deslocado) (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A diminuição da saída de líquido pode resultar de interferência na função linfática (p. ex., obstrução dos estomas pleurais parietais, inibição da contratilidade linfática, infiltração de linfonodos paraesternais de drenagem, ou elevação da pressão venosa sistêmica na qual o linfonodo drena) (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Na presença de um líquido que ocupa espaço no espaço pleural, o pulmão recua para dentro, a parede torácica recua para fora, e o diafragma é deprimido inferiormente e, algumas vezes, é invertido. Se o pulmão e a parede torácica tiverem complacências normais, a diminuição no volume pulmonar responde por aproximadamente um terço do volume do derrame pleural, e o aumento de tamanho do hemitórax responde pelos dois terços remanescentes. Como resultado, os volumes pulmonares estão reduzidos abaixo do volume de derrame pleural. Se o pulmão, sob outros aspectos, estiver normal, não há evidência de que um derrame cause significativa hipoxemia, presumivelmente porque a ventilação e a perfusão diminuem similarmente (BROADDUS, 6ª ed.). OBS.: O líquido que se acumula em um derrame pleural pode ser um transudato ou exsudato, purulento, quiloso ou sanguíneo (PORTH, 10ª ed.). Transudatos e exsudatos ↠ Para determinar a origem de derrames, uma distinção clássica e útil é aquela entre transudatos e exsudatos (BROADDUS, 6ª ed.). ➢ Os transudatos formam-se por extravasamento de líquido através de uma barreira capilar intacta, devido a aumentos nas pressões hidrostáticas ou reduções nas pressões osmóticas através dessa barreira. Os transudatos geralmente indicam que as membranas pleurais não estão doentes (BROADDUS, 6ª ed.). ➢ Os exsudatos geralmente se formam do extravasamento de líquido e proteína através uma barreira capilar alterada com aumento da permeabilidade. A razão de proteína, a razão de LDH e a concentração de LDH pleural absoluta constituem os critérios de Light (BROADDUS, 6ª ed.). TRANSUDATOS ↠ Os transudatos incluem vários líquidos com baixo teor de proteína que surgem dos leitos capilares não lesionados. A maioria dos transudatos e, de fato a maioria de todos os derrames, são causados por insuficiência cardíaca congestiva. Demonstrou-se que esses transudatos se formam principalmente a partir de extravasamento de edema através de capilares pulmonares normais dentro do interstício pulmonar; esse edema intersticial pode então se mover para a frente do espaço pleural e através da pleura visceral permeável para o interior do espaço pleural (BROADDUS, 6ª ed.). OBS.: É notável que a anormalidade primária na maioria dos casos de derrame pleural transudativo se origine nos órgãos e não na pleura ou pulmões, especialmente no coração, fígado e rins (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Outros transudatos, aqueles associados à síndrome nefrótica ou atelectasia, podem se formar por causa das pressões alteradas (osmóticas ou hidrostáticas) através dos capilares pleurais. Alguns transudatos, geralmente pequenos, podem se desenvolver primariamente devido a uma redução isolada na velocidade de saída (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ O hidrotórax hepático e os derrames decorrentes de diálise peritoneal se desenvolvem quando o líquido flui do espaço peritoneal dentro do espaço pleural com pressão mais baixa através de orifícios macroscópicos no diafragma (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ O mecanismo predominante que leva ao derrame pleural em um paciente com cirrose e a ascite parece ser o movimento do fluido ascítico da cavidade peritoneal, através de defeitos no diafragma, para dentro do espaço pleural.1 A diminuição da pressão osmótica no plasma é apenas um fator secundário (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Finalmente, outros fluidos com teor muito baixo de proteína, como urina ou líquido cerebroespinal, ou líquidos intravenosos podem encontrar uma saída para o espaço pleural, caso seucurso normal seja interrompido (BROADDUS, 6ª ed.). O acúmulo de transudato seroso (líquido claro) na cavidade pleural muitas vezes é chamado de hidrotórax. A condição pode ser unilateral ou bilateral. A causa mais comum de hidrotórax é a insuficiência cardíaca congestiva. Outras causas são insuficiência renal, nefrose, insuficiência hepática e câncer (PORTH, 10ª ed.). O mecanismo responsável pelo derrame pleural transudativo associado à síndrome nefrótica é provavelmente a combinação de redução da pressão osmótica plasmática e aumento da pressão hidrostática. A elevação da pressão hidrostática se deve à retenção de sal, que 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck produz hipervolemia. Os derrames pleurais em pacientes com síndrome nefrótica geralmente são bilaterais e muitas vezes sua localização é infrapulmona (BROADDUS, 6ª ed.). EXSUDATOS ↠ Os exsudatos surgem de leitos capilares lesionados no pulmão, pleura ou tecidos adjacentes. A maioria dos exsudatos, como aqueles associados à pneumonia ou embolia pulmonar (EP), provavelmente se forma após inflamação pulmonar e lesão quando um edema pulmonar com alto teor de proteína extravasa para dentro do espaço pleural (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ As condições que produzem derrames pleurais exsudativos incluem pneumonia bacteriana, infecção viral, infarto pulmonar e câncer. Essas condições são responsáveis por aproximadamente 70% de todos os casos de derrame pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ Outra grande categoria de exsudatos surge de lesão pleural devido à inflamação, infecção ou malignidade. Os exsudatos também podem se formar quando o líquido exsudativo no mediastino (ruptura esofágica ou quilotórax), retroperitônio (pseudocisto pancreático) ou peritônio (ascite com peritonite bacteriana espontânea ou síndrome de Meig) encontra uma saída dentro do espaço pleural de pressão mais baixa (BROADDUS, 6ª ed.). Um exsudato pleural é um líquido com uma densidade específica superior a 1,020 e frequentemente contém células inflamatórias (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Como drenagem linfática não altera a concentração de proteína no fluido pleural, a concentração de proteína dá informação sobre a formação do fluido, e não sobre sua remoção (BROADDUS, 6ª ed.). IMPORTANTE: Derrames pleurais transudativos e exsudativos podem ser diferenciados pela medição dos níveis de lactato desidrogenase (LDH) e níveis de proteína no líquido pleural. LDH é uma enzima liberada a partir de tecido pleural inflamado ou lesionado. Como as medições de LDH podem ser facilmente obtidas a partir de uma amostra de líquido pleural, este é um marcador útil para o diagnóstico de distúrbios exsudativos da pleura. Um derrame pleural exsudativo preenche pelo menos um dos seguintes critérios: (PORTH, 10ª ed.). ➢ A razão entre a proteína no líquido pleural e a proteína sérica é maior que 0,5 ➢ A razão entre os níveis de LDH no líquido pleural e os níveis séricos de LDH é maior que 0,6 ➢ Um valor de LDH no líquido pleural superior a dois terços do limite superior dos níveis séricos normais de LDH. EMPIEMA, QUILOTÓRAX E HEMOTÓRAX EMPIEMA (DP INFLAMATÓRIO) ↠ Derrames parapneumônicos constituem um tipo comum de derrame pleural e são amplamente causados por infecções bacterianas, como pneumonia. Um tipo comum de derrame parapneumônico é o empiema, uma infecção na cavidade pleural que resulta em um exsudato que contém glicose, proteínas, leucócitos e restos de células e tecidos mortos (PORTH, 10ª ed.). ↠ O empiema é caracterizado por pus loculado, verde- amarelado e cremoso, composto por massas de neutrófilos mesclados com outros leucócitos. Embora um empiema possa se acumular em grandes volumes (até 500 a 1.000 mL), em geral o volume é pequeno, e o pus permanece localizado. O empiema pode se resolver, mas o exsudato geralmente se organiza em aderências fibrosas densas, firmes, que frequentemente obliteram o espaço pleural ou envolvem os pulmões; em qualquer um desses casos, a expansibilidade pulmonar pode ser seriamente afetada (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ É causado por pneumonia bacteriana adjacente, ruptura de um abscesso pulmonar no espaço pleural, invasão de uma infecção subdiafragmática ou infecção associada a traumatismo (PORTH, 10ª ed.). QUILOTÓRAX (DP NÃO INFLAMATÓRIO) ↠ Quilotórax é o derrame de linfa na cavidade torácica. O quilo, um líquido leitoso que contém quilomicra, é encontrado no líquido linfático originário do sistema digestório. O ducto torácico transporta o quilo para a circulação central. O quilotórax também pode ser o resultado de traumatismo, inflamação ou infiltração cancerígena capaz de obstruir o transporte do quilo através do ducto torácico para a circulação central (PORTH, 10ª ed.). ↠ É a causa mais comum de derrame pleural no feto e no recém-nascido, resultante de malformação congênita dos ductos torácicos ou dos canais linfáticos. Também pode ocorrer quilotórax como uma complicação de procedimentos cirúrgicos intratorácicos e da utilização de grandes veias para nutrição parenteral total e monitoramento hemodinâmico (PORTH, 10ª ed.). ↠ Essa disfunção geralmente é causada por malignidades que obstruem os ductos linfáticos maiores. Geralmente, esses cânceres se originam dentro da cavidade torácica e invadem os linfáticos localmente, mas ocasionalmente 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck cânceres mais distantes metastatizam através dos linfáticos e crescem dentro do linfático direito ou do ducto torácico, produzindo obstruções (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). HEMOTÓRAX (DP NÃO INFLAMATÓRIO) ↠ O escape de sangue para a cavidade pleural é conhecido como hemotórax. Quase invariavelmente essa é uma complicação fatal de uma ruptura de aneurisma aórtico ou trauma vascular ou pode ocorrer no pós- operatório (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). ↠ O sangramento pode ser o resultado de uma lesão no tórax, uma complicação de cirurgia torácica, câncer ou ruptura de um grande vaso, como um aneurisma da aorta (PORTH, 10ª ed.). ↠ O hemotórax pode ser classificado como mínimo, moderado ou grande. Um hemotórax mínimo envolve, pelo menos, 250 mℓ de sangue no espaço pleural. Pequenas quantidades de sangue geralmente podem ser absorvidas, e geralmente o hemotórax desaparece em um intervalo de 10 a 14 dias, sem outras complicações (PORTH, 10ª ed.). Manifestações Clínicas ↠ Os sintomas comuns dos pacientes com derrames são a dor torácica pleurítica, tosse e dispneia. Parece que os três sintomas se devem a diferentes causas (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A dor torácica pleurítica deriva de inflamação da pleura parietal e possivelmente da pleura visceral. Ocasionalmente, esse sintoma é acompanhado por fricção pleural audível ou palpável, refletindo o movimento dos tecidos pleurais anormais (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A tosse pode ser induzida por distorção do pulmão, da mesma maneira que a tosse segue-se ao colapso pulmonar decorrente de um pneumotórax (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ A dispneia mais provavelmente é causada pela ineficiência mecânica dos músculos respiratórios que são estirados pelo deslocamento em direção externa da parede torácica e pelo deslocamento para baixo do diafragma. Após a remoção de grandes quantidades de líquido pleural, a dispneia geralmente é aliviada de imediato, embora a redução do volume do líquido pleural esteja associada a pequenos aumentos somente no volume pulmonar e pouca melhora, ou uma real diminuição na PO2 (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Outra explicação relacionada é que a dispneia se deve à inversão do diafragma causada pelo peso do derrame pleural, e a dispneia é imediatamente aliviada quando a toracocentese permite a restauração de um diafragma em formato de domo. Parece que os efeitos mecânicos de um derrame pleural são responsáveis pela dispneia e pelo rápido alívio da dispneia após a remoção do líquido pleural(BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Os sinais característicos de derrame pleural são submacicez ou macicez à percussão e redução dos sons respiratórios. Pode ocorrer hipoxemia devido à diminuição da área de superfície, que geralmente é corrigida com oxigênio suplementar (PORTH, 10ª ed.). ↠ As manifestações de derrames parapneumônicos variam de acordo com a causa. O empiema pode ser acompanhado de febre, aumento da contagem de leucócitos e outros sinais de inflamação. O líquido na cavidade pleural age como massa ocupando espaço; causa uma diminuição na expansão do pulmão no lado afetado que é proporcional ao volume de líquido acumulado (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico ↠ A anamnese e o exame físico são fundamentais para uma avaliação de derrame pleural. Dados da vida profissional, do uso de medicamentos, da histórica médica clínica e cirúrgica podem ajudar na elaboração de uma suspeita etiológica (DANTAS; REIS., 2018). MEDICAMENTOS ASSOCIADOS A DERRAME PLEURAL: metotrexato, amiodarona, fenitoína e beta-bloqueadores (DANTAS; REIS., 2018). ↠ O exame de tórax revela percussão maciça, frêmito ausente e diminuição ou ausência de murmúrio vesicular (DANTAS; REIS., 2018). EXAMES COMPLEMENTARES ↠ O diagnóstico de derrame pleural deve se basear no resultado de radiografias, ultrassonografia e tomografia computadorizada (TC) de tórax. Pode ser realizada toracentese (aspiração de líquido do espaço pleural) para obter uma amostra de líquido pleural para o diagnóstico (PORTH, 10ª ed.). 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck AVALIAÇÃO INICIAL POR IMAGEM OBS.: Os líquidos pleurais se acumulam na parte inferior da cavidade torácica devido aos pulmões, que apresentam menor densidade que o líquido (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Na radiografia de tórax póstero-anterior (PA) é necessária uma quantidade de líquido maior que 200 ml para obliterar o recesso costofrênico lateral, enquanto na radiografia de perfil, basta 50 ml para alterar o recesso costofrênico posterior (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Uma radiografia em decúbito lateral pode ser realizada para estimar a quantidade de líquido e na suspeita de derrame loculado (DANTAS; REIS., 2018). ↠ A ultrassonografia está indicada nos casos de dúvida e para ajudar na localização da punção nos derrames pleurais pequenos ou loculados. Muitos trabalhos mostram sucesso na punção guiada por USG em até 88% dos pacientes que falharam na primeira tentativa (DANTAS; REIS., 2018). INDICAÇÃO DE TORACONCETESE ↠ A indicação de toracocentese diagnóstica ocorre na presença de derrame pleural maior que 10mm na radiografia de decúbito lateral ou na USG, sem causa conhecida (DANTAS; REIS., 2018). ↠ A toracocentese inicial é geralmente realizada com propósito diagnóstico, a menos que o paciente apresente dispneia ao repouso, onde a forma terapêutica é realizada com retirada de até 1500 ml (DANTAS; REIS., 2018). ANÁLISE DO LÍQUIDO PLEURAL ↠ Aparência do líquido: pode promover dicas diagnósticas, tais como: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ Aspecto sanguinolento sugere malignidade, TEP ou trauma; ➢ Líquido leitoso pode indicar quilotórax ou pseudoquilotórax; ➢ Aspecto purulento define empiema; ➢ Odor pútrido pode indicar infecção anaeróbios; 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Diferenciação entre exsudato e transudato: o método mais difundido e aceito é o critério de Light. Este possui sensibilidade de 98% para diagnóstico de exsudato e consegue diferenciar exsudato de transudato em 93 a 96% dos casos. Consiste em três parâmetros, bastando um positivo para caracterizar como exsudato: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ Proteína pleural/sérica > 0,5; ➢ LDH pleural/sérico > 0,6; ➢ LDH > 2/3 do limite superior da normalidade para nível sérico. ↠ Na suspeita de transudato, pode-se coletar uma amostra de soro e líquido pleural somente para LDH e proteína. Se o paciente utiliza diurético, é necessário acrescentar a dosagem pleural e sérica de albumina (DANTAS; REIS., 2018). ↠ Na suspeita de exsudato, a dosagem de outros parâmetros é fundamental para avaliação diagnóstica. Os principais são: (DANTAS; REIS., 2018). ➢ pH: o líquido pleural possui aproximadamente pH de 7,60; ➢ Glicose; ➢ Esfregaço e culturas de organismos; ➢ Adenosina deaminase: enzima que tem função importante na proliferação e na diferenciação dos linfócitos e na maturação dos monócitos. ➢ Contagem celular total e diferencial: predomínio de neutrófilos no líquido pleural indica processo agudo. Se a celularidade evidenciar predomínio de linfócitos (> 50% das células), as principais causas são malignidade e TB. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA ↠ Detecta uma pequena quantidade de líquido pleural (menor que 10 ml) (DANTAS; REIS., 2018). Pneumotórax ↠ O termo “pneumonotórax” se refere à existência de ar no espaço pleural. O pneumotórax provoca o colapso parcial ou completo do pulmão afetado (PORTH, 10ª ed.). CLASSIFICAÇÃO ↠ O pneumotórax pode suceder sem uma causa óbvia ou lesão (i. e., pneumotórax espontâneo) ou como resultado de uma lesão direta ao tórax ou às grandes vias respiratórias (i. e., pneumotórax traumático) (PORTH, 10ª ed.). ↠ O pneumotórax espontâneo primário (PEP) se apresenta sem um evento externo precipitante na ausência de doença pulmonar clínica (UPTODATE, 2022). ↠ O pneumotórax espontâneo secundário (PES) apresenta como complicação da doença pulmonar subjacente (UPTODATE, 2022). ↠ O pneumotórax traumático pode ser categorizado em: (UPTODATE, 2022). ➢ Iatrogênico: induzido por um procedimento médico (p. ex.: biópsia, cateterismo venoso central). ➢ Não iatrogênico: por trauma externo, podendo ser chamado também de “pneumotórax aberto”. ↠ Quando o defeito atua como válvula, permitindo a entrada de ar durante a inspiração, mas não a sua saída durante a expiração, ele funciona efetivamente como uma bomba de ar, criando pressões progressivamente crescentes no pneumotórax hipertensivo, que podem ser suficientes para comprimir as estruturas mediastinais vitais e o pulmão contralateral (ROBBINS & COTRAN, 9ª ed.). Epidemiologia ↠ Atualmente a incidência de pneumotórax espontâneo é de 2 a 7 casos em mulheres e 14 a 22 casos em homens por 100 mil habitantes/ano. Ocorre normalmente em homens jovens atletas. Principalmente aqueles com histórico familiar sugestivo (SANAR). ↠ A maior incidência é em pacientes portadores da DPOC (50 a 75%), seguidos pelos portadores de neoplasias malignas ou metástases (15%), fibrose cística (3 a 4%) e tuberculose (2%) (SANAR). ↠ Em contraste com o PEP, o PES apresenta-se em pacientes mais velhos (> 55 anos) – 61% dos pacientes 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck internados com pneumotórax espontâneo foram em decorrência da DPOC (UPTODATE, 2022). Etiologia e Fatores de risco ↠ Acredita-se que o PSP ocorre devido a: (UPTODATE, 2022). ➢ Pequenas manchas subpleurais apical ou blebs (ou seja, sacos de ar entre o tecido pulmonar e a pleura) que se rompem na cavidade pleural – ocorre classicamente em homens altos e finos entre as idades de 10 a 30 anos, acredita-se que o desenvolvimento de blebs seja devido ao aumento da pressão negativa ou maior estiramento alveolar mecânico no ápice dos pulmões durante o crescimento ou um fenômeno congênito no qual o tecido pulmonar no ápice cresce mais rapidamente do que a vasculatura, assim, superando seu suprimento sanguíneo. ➢ Tabagismo: fator de risco devido a inflamação das vias aéreas e bronquiolite respiratória. ➢ Predisposição genética: herança recessiva autossômica, poligênica e ligados ao X. Fisiopatologia ↠ Em sujeitos normais, a pressão no espaço pleural é negativa com relação à pressão alveolar durante todo o ciclo respiratório. O gradiente de pressão entre os alvéolos e o espaço pleural — a pressão transpulmonar — é o resultadoda retração elástica inerente do pulmão (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Durante a respiração espontânea, a pressão pleural também é negativa com relação à pressão atmosférica. A capacidade residual funcional, ou volume expiratório final em repouso do pulmão, é o volume em que a tração inerente para fora da parede torácica é igual, mas em direção oposta à tração para dentro (retração) do pulmão (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ Quando se desenvolve uma comunicação entre um alvéolo ou outro espaço aéreo intrapulmonar e o espaço pleural, o ar fluirá do alvéolo para o interior do espaço pleural até não haver mais uma diferença de pressão ou até que a comunicação seja selada. Similarmente, quando a comunicação se desenvolve através da parede torácica entre a atmosfera e o espaço pleural, o ar entrará no espaço pleural até o gradiente de pressão ser eliminado ou a comunicação ser fechada (BROADDUS, 6ª ed.). A influência de um pneumotórax no volume do hemitórax e do pulmão é ilustrada na figura abaixo. Neste exemplo, entrou ar suficiente no espaço pleural para elevar a pressão pleural de –5 para –2,5 cm H2O, de modo que a pressão transpulmonar ou de retração diminuiu de 5 para 2,5 cm H2O. A quantidade de ar necessária para efetuar essa alteração na pressão pleural pode ser vista como igual a 33% da capacidade vital do paciente: a maior parte desse ar pleural (25% da capacidade vital) é responsável pelo ar deslocado do pulmão, e o resto é responsável pela expansão da cavidade torácica ao longo de sua curva pressão-volume (em 8% da capacidade vital). A elevação da pressão pleural também causa desvio do mediastino em direção contralateral, hemitórax aumentado e hemidiafragma deprimido. Esses achados são esperados e não indicam necessariamente que está presente um pneumotórax de tensão (BROADDUS, 6ª ed.). ↠ As principais consequências fisiológicas de um pneumotórax são a diminuição da capacidade vital e da Po2 arterial. Em pacientes com PEP, a diminuição da capacidade vital normalmente é bem tolerada. Mas se a função pulmonar do paciente for anormal antes do desenvolvimento do pneumotórax, a diminuição da capacidade vital poderá levar à insuficiência respiratória com hipoventilação alveolar e acidose respiratória (BROADDUS, 6ª ed.). Influência de um pneumotórax nos volumes do pulmão e hemitórax. Nesta ilustração, o pneumotórax causou a elevação da pressão intrapleural de –5 para –2,5 cm H2O. O pulmão e a cavidade torácica se movem em suas respectivas curvas pressão-volume para novos volumes para o pulmão (A) e a cavidade torácica (B). Note que o volume do hemitórax se torna maior à medida que o volume do pulmão se torna menor. As alterações nos volumes do hemitórax e pulmonar são desiguais por causa das diferenças nas inclinações das duas curvas pressão-volume. CV, capacidade vital. 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ O pneumotórax reduz os volumes pulmonares, a complacência pulmonar e a capacidade de difusão. As consequências dependem do tamanho do pneumotórax, da presença ou não de estado hipertensivo e da condição pulmonar subjacente (BARRETO, 2008). PNEUMOTÓRAX ESPONTÂNEO ↠ Acredita-se que o pneumotórax espontâneo se desenvolve devido à ruptura de uma bolha de ar na superfície do pulmão. A ruptura dessas bolhas possibilita que o ar atmosférico proveniente das vias respiratórias entre na cavidade pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ Como a pressão alveolar normalmente é maior do que a pressão pleural, o ar flui dos alvéolos para o espaço pleural provocando o colapso da porção envolvida do pulmão, como resultado de seu próprio recuo. O ar continua a fluir para dentro do espaço pleural, até que não exista um gradiente de pressão ou até que a diminuição no tamanho do pulmão interrompa o extravasamento (PORTH, 10ª ed.). O pneumotórax espontâneo é dividido em primário e secundário. O pneumotórax primário se desenvolve em pessoas saudáveis, enquanto o pneumotórax secundário ocorre em pessoas com doença pulmonar subjacente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Os casos de pneumotórax espontâneo secundário geralmente são mais graves, porque se desenvolvem em pessoas com doença pulmonar subjacente. Estão associados a diferentes tipos de doenças pulmonares causadoras do aprisionamento de gases e da destruição do tecido pulmonar (PORTH, 10ª ed.). PNEUMOTÓRAX CATAMENIAL ↠ É um tipo de pneumotórax relacionado com o ciclo menstrual e geralmente é recorrente. Tipicamente ocorre em mulheres na faixa etária entre 30 e 40 anos com histórico de endometriose. Cerca de um terço de todos os casos de pneumotórax espontâneo em mulheres que se submetem à cirurgia é causado por pneumotórax catamenial (PORTH, 10ª ed.). ↠ Em geral, afeta o pulmão direito e se desenvolve em um período de 72 h antes do início da menstruação. Embora a causa do pneumotórax catamenial seja desconhecida, tem sido sugerido que, durante a menstruação, o ar pode ter acesso à cavidade peritoneal e, em seguida, entrar na cavidade pleural através de um defeito no diafragma. A endometriose pleural e diafragmática também tem sido implicada como causa desta condição patológica (PORTH, 10ª ed.). PNEUMOTÓRAX DE TENSÃO ↠ Acontece quando a pressão intrapleural excede a pressão atmosférica. É uma condição potencialmente fatal e se desenvolve quando uma lesão ao tórax ou às estruturas respiratórias possibilita que o ar entre, mas não consiga sair do espaço pleural (PORTH, 10ª ed.). ↠ Isso origina o aumento rápido da pressão no interior do tórax e causa atelectasia por compressão do pulmão não afetado, desvio no mediastino para o lado oposto do Pneumotórax aberto ou comunicante (em cima) e pneumotórax de tensão (embaixo). Em um pneumotórax aberto, o ar entra no tórax durante a inspiração e sai durante a expiração. Pode haver ligeira insuflação do pulmão afetado devido a uma diminuição na pressão, à medida que o ar se move para fora. No pneumotórax de tensão, o ar pode entrar, mas não sair. À medida que a pressão aumenta no tórax, o coração e os grandes vasos são comprimidos e as estruturas do mediastino são deslocadas para o lado oposto do tórax. A traqueia é empurrada de sua posição normal na linha média para o lado oposto do tórax, e o pulmão não afetado é comprimido. 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck tórax e compressão da veia cava, o que resulta na diminuição do retorno venoso para o coração e na redução do débito cardíaco (PORTH, 10ª ed.). OBS.: Embora possa se desenvolver um pneumotórax de tensão em pessoas com pneumotórax espontâneo, esse tipo é observado mais frequentemente em pessoas com pneumotórax traumático. Pode resultar também de um barotrauma causado por ventilação mecânica, em consequência do alto volume corrente em pessoas no ventilador (PORTH, 10ª ed.). Manifestações clínicas ↠ As manifestações de pneumotórax dependem do tamanho e da integridade do pulmão subjacente (PORTH, 10ª ed.). ↠ Nos casos de pneumotórax espontâneo, as manifestações da doença por vezes incluem o desenvolvimento de dor torácica ipsilateral. Ocorre aumento quase imediato da frequência respiratória, muitas vezes acompanhado por dispneia, que se manifesta como resultado da ativação de receptores que monitoram o volume pulmonar (PORTH, 10ª ed.). ↠ Pode haver assimetria do tórax por causa do ar que estiver aprisionado na cavidade pleural no lado afetado. Essa assimetria pode se manifestar durante a inspiração como atraso no movimento do lado afetado, com retardo da inspiração até que o pulmão preservado atinge o mesmo nível de pressão que o pulmão com ar retido no espaço pleural. A percussão do tórax produz um som hiper-ressonante e os sons respiratórios se apresentam mais baixos ou inexistentes sobre a área do pneumotórax (PORTH, 10ª ed.). ↠ Nos casos de pneumotórax de tensão, as estruturas no espaço do mediastinose deslocam para o lado oposto da caixa torácica. Quando isto ocorre, a posição da traqueia, que normalmente se localiza na linha média do pescoço, se desvia junto com o mediastino. A posição da traqueia pode ser utilizada como um meio de avaliar o desvio do mediastino. Devido ao aumento na pressão intratorácica, ocorre uma redução do volume sistólico de tal ponto que o débito cardíaco é diminuído, apesar de um aumento na frequência cardíaca. Pode haver distensão da veia jugular no pescoço, enfisema subcutâneo (i. e., ar nos tecidos subcutâneos do tórax e pescoço) e sinais clínicos de choque devido ao comprometimento da função cardíaca (PORTH, 10ª ed.). ↠ Geralmente se desenvolve hipoxemia logo depois de um grande pneumotórax, seguida por vasoconstrição de vasos sanguíneos no pulmão afetado, fazendo o fluxo sanguíneo se deslocar para o pulmão não afetado. Em pessoas com pneumotórax espontâneo primário, esse mecanismo muitas vezes retorna a saturação de oxigênio ao normal no intervalo de 24 h (PORTH, 10ª ed.). ↠ A hipoxemia tende a ser mais grave em pessoas com doença pulmonar subjacente, nas quais se desenvolve pneumotórax espontâneo secundário ou em pessoas com doença cardíaca subjacente, que são incapazes de fazer a compensação por meio de um aumento na frequência cardíaca e no volume sistólico. Independentemente da etiologia, a hipoxemia causada pela perda parcial ou total da função pulmonar pode ser fatal (PORTH, 10ª ed.). ↠ Sem uma intervenção imediata, o aumento da pressão torácica prejudicará ainda mais tanto a função cardíaca quanto a função pulmonar, resultando em hipoxemia e hipotensão graves, que muitas vezes levam à parada respiratória e cardíaca (PORTH, 10ª ed.). Diagnóstico ↠ A suspeita do diagnóstico é feita pela história e pelo exame físico. Já́ a confirmação do diagnóstico é feita sempre por exames de imagem. A exceção a essa regra é a ocorrência de pneumotórax hipertensivo, situação que o diagnóstico presuntivo (sem a confirmação por exames de imagem) obriga ao imediato tratamento, tendo em vista a emergência médica e o risco de óbito. Nesse caso, a saída de ar sob pressão através da agulha/abocath ou do dreno de tórax confirma o pneumotórax (BARRETO, 2008). ↠ O exame de imagem habitualmente utilizado é a radiografia convencional de tórax de boa qualidade em incidência póstero-anterior e de perfil. A imagem característica é uma faixa de ar sem marcas vasculares entre a parede torácica e/ou diafragma e a pleura visceral. São necessários pelo menos 50 mL de ar para que o 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck pneumotórax seja visível na radiografia em posição ereta (BARRETO, 2008). ↠ O consenso brasileiro de doenças pleurais adotou a medida da distância entre o ápice do pulmão e o ápice do estreito superior da cavidade pleural. Caso essa distância seja maior que 3 cm, define-se o pneumotórax como de grande volume (BARRETO, 2008). Referências MARIEB, E.; WILHELM, P.; MALLATT, J. Anatomia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2014 KUMAR, Vinay; ABBAS, Abul; ASTER, Jon. Robbins & Cotran Patologia - Bases Patológicas das Doenças, 9ª edição. Grupo GEN, 2016. NORRIS, Tommie L. Porth – Fisiopatologia, 10ª edição. Grupo GEN, 2021. BROADDUS, V. Courtney. Murray & Nadel Tratado de Medicina Respiratória, 6ª edição. Grupo GEN, 2017. CASCONE et. al. Características clínicas y epidemiológicas de los pacientes hospitalizados com derrame pleural. Medicina Interna (Caracas), 2016. DANTAS; REIS. Protocolo de abordagem de derrame pleural. Revista Médica UFC, 2018. UPTODATE. Gary Lee. Pneumotórax em adultos: epidemiologia e etiologia, 2022. BARRETO, Sérgio S M. Pneumologia. (Série no Consultório). Grupo A, 2008.
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