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Infecções Sexualmente Transmissíveis Relevância: Muito Alta Todos as aulas da Mentoria possuem relevância moderada, alta ou muito alta, baseado na incidência nas provas de residência médica dos últimos 5 anos. Infecções Sexualmente Transmissíveis 3 Tema muito frequente em provas, quase sempre com questões fáceis ou médias, aquelas que você não pode errar de jeito nenhum. Fique atento(a) aos principais conceitos sobre HPV e violência sexual, que são dois assuntos em alta! O que você precisa saber? Síndromes de corrimento vaginal Este é o tópico mais cobrado nas provas, e o principal é saber fazer o diagnóstico diferencial entre as doenças mais comuns (vaginose, tricomoníase e candidíase), desde as características clínicas do corrimento, até diferenças no Teste das Aminas, microscópio, etc. Preste muita atenção nas características fundamentais de cada doença citadas abaixo: Vaginose Desequilíbrio da fl ora vaginal, com envolvimento especial da bactéria anaeróbia Gardnerella vaginalis. Corrimento fl uido branco acinzentado, por vezes por ser descrito como amarelo acinzentado, com odor fétido, sem (ou pouca) irritação ou dispareunia. Uma característica importante - e que as bancas adoram lembrar - é que o odor costuma piorar após atividade sexual ou durante o período da menstruação. O nome é “vaginose” ao invés de “vaginite” exatamente porque tipicamente não há infl amação. Teste das aminas (Whiff Test) positivo, pH acima de 4,5 e encontro das células-alvo (clue cells ou células-guia) no exame microscópico. Presença das células-alvo (clue cells) à microscopia. O diagnóstico pode ser estabelecido pelos critérios de Amsel quando a microscopia estiver disponível: Critérios de Amsel - Vaginose Bacteriana (necessários pelo menos 3) Corrimento vaginal homogêneo pH >4,5 Presença de clue cells no exame de lâmina a fresco Teste de Whiff positivo Infecções Sexualmente Transmissíveis 4 Tratamento pode ser via oral (VO) ou tópico com metronidazol (500 mg de 12/12 horas por 7 dias, se VO). Em grávidas e lactantes o metronidazol também é a primeira escolha. Atenção ao efeito Antabuse (dissulfi ram-like) na associação do metronidazol com o álcool. O que é o teste das aminas? Método diagnóstico que mistura conteúdo vaginal coletado com uma gota de solução de hidróxido de potássio (KOH) a 10%. O resultado é positivo quando o odor da secreção torna-se fétido (“peixe podre”), o que ocorre em casos de vaginose bacteriana (principalmente) e tricomoníase. Tricomoníase Causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis. Corrimento amarelo-esverdeado, odor fétido e infl amação presente (irritação, dispareunia). Colo em framboesa (colpite), colo tigróide no Teste de Schiller, teste das aminas positivo, pH acima de 4,5 e encontro de protozoários fl agelados no exame microscópico. Exame especular com achado de colpite, o famoso colo em framboesa, típico da tricomoníase. Tratamento com Metronidazol sempre por via oral (2 g em dose única ou 500 mg de 12/12 horas por 7 dias). O tratamento das parcerias sexuais é obrigatório e segue o mesmo esquema. Quando diagnosticada, deve-se proceder com pesquisa de outras IST (HIV, Sífi lis, Hepatites B e C) e identifi cação de outras parcerias sexuais. Candidíase Causada por fungos do gênero Candida, sendo em quase 90% dos casos pela espécie Candida albicans. Os principais fatores de risco para candidíase são a gestação, diabetes, imunossupressão, obesidade e uso de contraceptivos orais. O quadro clínica se caracteriza por corrimento esbranquiçado, com grumos, prurido intenso, disúria e sinais de infl amação. Teste das aminas negativo, pH menor que 4,5 e presença de pseudo-hifas ao exame microscópico com KOH. Infecções Sexualmente Transmissíveis 5 Exame especular mostrando secreção branca e grumosa, típica da candidíase. Pseudo-hifas de Candida albicans O tratamento tópico é considerado a primeira escolha e deve ser feito com Miconazol 2% (ou outro imidazólico) por 7 dias ou Nistatina 100.000 UI, por via vaginal por 14 dias. O tratamento oral com Fluconazol (150 mg, dose única) e Itraconazol (100 mg, de 12 em 12 horas por 1 dia) são considerados segunda opção. O tratamento oral está contraindicado em gestantes e lactantes. OBS: Em caso de candidíase recorrente - quatro ou mais episódios sintomáticos em um ano -, o esquema mais utilizado é o fl uconazol (150 mg) semanal por 6 meses. Observe abaixo como é administrado: • INDUÇÃO: Ataque na primeira semana nos dias 1, 4 e 7 • MANUTENÇÃO: após a semana de indução, fl uconazol uma vez por semana por 6 meses. IMPORTANTE: Dentre as 3 doenças, a única transmitida somente por via sexual é a Tricomoníase. Por conta disso, o Ministério da Saúde (MS) considera a vaginose bacteriana e a candidíase como infecções endógenas - lembrando que esses patógenos fazem parte da flora vaginal fisiológica. Por outro lado, a tricomoníase - assim como as infecções genitais pelo Gonococo e Clamídia (mais detalhes abaixo) - é considerada uma IST. Como consequência, não está indicado o tratamento de parceiros no caso da Vaginose, e só há indicação de tratamento de parceiros sintomáticos na Candidíase. Fique atento: apesar de ser uma IST, a tricomoníase não é uma doença de notificação compulsória! Infecções Sexualmente Transmissíveis 6 Quadro Resumo: Outras Vulvovaginites (atenção com quadros que não se encaixem nos 3 acima): • Vaginite descamativa: vaginite purulenta crônica, de etiologia desconhecida, onde há ausência de lactobacilos, pH alcalino e número elevado de polimorfonucleares. Pode haver colonização por cocos gram-positivos (Staphylococcus aureus, estreptococo do grupo B) ou E. coli. Tratamento: Clindamicina tópico ou hidrocortisona tópica. • Vulvovaginites inespecífi cas: pré-púberes, relacionada a roupas apertadas e má higiene. Atenção com abuso sexual e corpo estranho em crianças. Tratamento: melhora da higiene, uso de roupas adequadas. Sabonetes de higiene íntima não são recomendados. • Vaginite citolítica: Características clínicas muito similares a candidíase, porém sem o fungo presente. A história clássica é de “candidíase recorrente que não responde aos tratamentos convencionais”. Tratamento: ducha vaginal com bicarbonato. • Vaginite atrófi ca: Pós-menopausa, secura vaginal, secreção mal cheirosa, aquosa, leucorréia ou corrimento amarelado ou ,dispareunia, irritação vulvovaginal, prurido, sangramentos (vulvar ou vaginal), pH ≥ 5 e sintomas urinários. Tratamento: estrogênio tópico. Infecções por Gonococo e Clamídia A Neisseria gonorrhoeae (gonococo) e a Chlamydia trachomatis (clamídia) são duas bactérias clinicamente importantes e que podem causar infecção em diversos órgãos e sistemas do corpo humano. A partir de agora, iremos abordar as principais infecções de trato genital feminino e masculino causadas por esses dois patógenos. Características clínicas e diagnóstico Mulheres Cervicite, que normalmente é assintomática (70-80% dos casos) ou oligossintomática, e a doença infl amatória pélvica (DIP). Cervicite é a infl amação do epitélio colunar endocervical, não podemos confundir com as vulvovaginites. Características das principais vulvovaginites Condição Vaginose Tricomoníase Candidíase Corrimento Branco-Acinzentado Amarelo-Esverdeado Branco grumoso Whiff teste Positivo Positivo Negativo Tratamento Metronidazol (Tópico ou oral) Metronidazol oral Miconazol / Nistatina tópicos pH >4,5 >4,5 <4,5 Infecções Sexualmente Transmissíveis 7 Exame especular demonstrando material purulento no colo uterino (cervicite). Qual o grande risco da cervicite? Ascensão das bactérias e início de uma Doença Infl amatória Pélvica. Se a cervicite normalmente é assintomática, quando devemos desconfi ar deste diagnóstico e realizar o tratamento, segundo o MS? Toda paciente com corrimento vaginal e/ou diagnóstico de vulvovaginite deve ser examinada com atenção. A presença de dor à mobilização do colo uterino, material mucopurulentono orifício externo do colo, edema cervical e/ou sangramento ao toque da espátula ou swab, já é sufi ciente para iniciarmos o tratamento empírico contra as bactérias. Homens As infecções por gonococo e clamídia nos homens são frequentemente sintomáticas, causando uretrite (corrimento uretral mucopurulento, disúria). Portanto, é fundamental entender: as mulheres são frequentemente portadoras assintomáticas dessas bactérias, porém são elas que estão em risco da DIP. Quais são as diferenças clínicas da uretrite gonocócica para as não gonocócicas (normalmente clamídia)? • Gonocócica: Início abrupto, corrimento mucopurulento mais frequente e marcante. Raramente pode ter complicações sistêmicas, como artrite ou septicemia. Complicações locais como a balanopostite, epididimite e prostatite são mais comuns. • Clamídia: Início mais insidioso, com a disúria prevalecendo sobre o corrimento. Pode se associar à Síndrome de Reiter (uretrite, artrite e conjuntivite). Como é feito o diagnóstico das infecções por gonococo e clamídia? Quase sempre o diagnóstico será sindrômico, com o tratamento cobrindo as duas bactérias (tanto nos homens quantos nas mulheres). Infecções Sexualmente Transmissíveis 8 Para o diagnóstico específico, o método de escolha é a detecção do material genético das bactérias por técnicas de biologia molecular (PCR, captura híbrida), inclusive para casos assintomáticos. A cultura com meio especial (Thayer-Martin) é uma possibilidade para casos de cervicite gonocócica sintomática. Tratamento DICA: As questões nas cervicites costumam cobrar a posologia completa (incluindo dose) dos antibióticos utilizados. Fonte: DCCI/SVS/MS IMPORTANTE: O Ciprofl oxacino era uma opção para o tratamento de infecções pelo gonococo, mas não está mais indicado pelo MS, por conta da resistência bacteriana. Atenção também com a mudança na dose do Ceftriaxone, que passou recentemente de 250 mg para 500 mg. Doença Infl amatória Pélvica Causada pela ascensão de microorganismos do trato genital inferior, comprometendo o endométrio, tubas uterinas e adjacências. As duas principais bactérias envolvidas são o gonococo e clamídia, mas a DIP é uma doença polimicrobiana, podendo ter diversos patógenos envolvidos, como o Mycoplasma genitalium, Mycoplasma hominis, Ureaplasma urealyticum, Trichomonas vaginalis, Bacteroides spp. e fragilis, etc. OBS: apesar do gonococo e clamídia ainda serem considerados os principais agentes etiológicos da doença, estudos nos últimos anos demonstraram queda de sua incidência, demonstrando a presença dessas bactérias em apenas 1/3 dos casos. Condição Clínica Tratamento Infecção gonocócica NÃO complicada (uretra, colo do útero, reto e faringe) Infecção gonocócica disseminada Conjuntivite gonocócica no adulto Infecção por clamídia Ceftriaxona 500mg, IM, dose única MAIS Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Ceftriaxona 1g, IM ou IV ao dia, completando ao menos 7 dias de tratamento MAIS Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única OU Doxiciclina 100mg, VO, 2x/dia, por 7 dias (exceto gestantes) Ceftriaxona 1g, IM, dose única Infecções Sexualmente Transmissíveis 9 Características clínicas e diagnóstico O quadro clínico básico é a dor abdominal baixa ou pélvica, associada a febre e corrimento vaginal. O Ministério da Saúde considera a DIP uma doença subdiagnosticada e recomenda um alto grau de suspeição para o diagnóstico, além de tratamento imediato, mesmo em casos de suspeita leve. Fatores de risco para a DIP ***IMPORTANTE: Os anticoncepcionais orais possuem uma relação muito controversa com a doença inflamatória pélvica. Aparentemente, existe um aumento no risco de cervicite, mas uma redução na chance de ascensão dos patógenos. No cômputo geral, o risco de DIP parece não ser alterado significativamente, mas a gravidade e a extensão da doença são minimizadas. Já o DIU é considerado classicamente um fator de risco para DIP, mas recentemente verifi cou-se que o aumento na incidência da doença ocorre apenas nas 3 primeiras semanas da inserção do dispositivo, o que pode refl etir uma infecção preexistente ou falha na técnica. A grande polêmica está na indicação de retirada do dispositivo em pacientes que desenvolvem a doença. Atualmente, o MS não recomenda a remoção do DIU. Porém, se houver necessidade (casos refratários ao tratamento), a retirada não deve ser feita antes das duas primeiras doses de antibioticoterapia. Em pacientes que desejam colocar o dispositivo intrauterino o tratamento para DIP deve ser instituído antes da inserção. Fatores de risco para a doença inflamatória pélvica Múltiplos parceiros Parceiros com IST’s Idade entre 15 e 25 anos Imunossupressão Uso de contraceptivos*** Infecções Sexualmente Transmissíveis 10 Critérios diagnósticos para DIP 3 critérios maiores + 1 menor OU 1 critério elaborado = diagnóstico confi rmado de DIP. Tratamento Critérios para tratamento hospitalar ou cirúrgico da DIP Critérios menores Temperatura axilar >37,5°C ou temperatura retal >38,3°C Conteúdo vaginal ou secreção endocervical anormal Massa pélvica > 5 leucócitos por campo de imersão em material de endocérvice Leucocitose Proteína C reativa ou VHS elevada Comprovação laboratorial de infecção cervical por gonococo, clamídia ou micoplasmas Critérios maiores Dor no hipogástrio Dor à palpação dos anexos Dor à mobilização de colo uterino Critérios elaborados Evidência histopatológica de endometrite Presença de abscesso tubo-ovariano ou de fundo de saco de Douglas em estudo de imagem Laparoscopia com evidência de DIP Hospitalar Abscesso tubo-ovariano Gestação Ausência de resposta clínica ao tratamento ambulatorial após 72 horas Intolerância a antibióticos orais ou dificuldade para seguimento ambulatorial Estado geral grave, com náuseas, vômitos e febre Dificuldade na exclusão de emergência cirúrgica (ex.: irritação peritoneal) Cirúrgico Abscesso tubo-ovariano roto ou em crescimento Abscesso em fundo de saco de Douglas Ausência de resposta ao tratamento clínico Hemoperitônio Infecções Sexualmente Transmissíveis 11 Tratamento • Ambulatorial: Ceftriaxone 500 mg IM, em dose única (gonococo) + Doxiciclina 100 mg VO, de 12 em 12 horas por 14 dias (clamídia) + Metronidazol 500 mg VO, de 12 em 12 horas por 14 dias (anaeróbios). • Hospitalar: Ceftriaxone 1 g EV, por 14 dias (gonococo) + Doxiciclina 100 mg VO, de 12 em 12 horas por 14 dias (clamídia) + Metronidazol 400 mg EV, de 12 em 12 horas por 14 dias (anaeróbios). As medicações parenterais devem ser substituídas pela via oral após 24 horas da resolução dos sintomas. Em referências internacionais, o ceftriaxone e metronidazol são substituídos pela cefoxitina - cefalosporina de segunda geração com boa cobertura contra o gonococo e bactérias anaeróbias. • Cirúrgico: Videolaparoscopia ou laparotomia, dependendo da situação clínica da paciente. OBS: Tratar todos os parceiros dos últimos dois meses para gonococo e clamídia, com ceftriaxone + azitromicina, como esquemas citados em Infecções por Gonococo e Clamídia → Tratamento Complicações As principais complicações da DIP são a infertilidade, prenhez ectópica, dor pélvica crônica, Síndrome de Fitz-Hugh-Curtis (acometimento hepático). Tais complicações atingem 9% a 20% das pacientes, risco que aumenta a cada novo episódio da doença. Essa incidência alta justifi ca a grande preocupação do MS com o diagnóstico e tratamento precoces da DIP. Vamos agora ver uma questão da UNICAMP 2018 que aborda o tema. Preste atenção, além do CCQ, nos sinais clínicos que a paciente apresenta e que são indicadores de DIP. Infecções Sexualmente Transmissíveis 12 (UNICAMP - 2018) Mulher, 32a, G3P3C0, sem parceiro fixo, comparece ao Pronto Atendimento queixando-se de dor em baixo ventre há sete dias, com piora nas últimas horas. Método anticoncepcional: acetato de medroxiprogesterona de depósito 150 mg intramusculara cada três meses, há dois anos, última dose há dois meses e meio. Relata ausência de sangramento menstrual há vários meses. Exame físico: regular estado geral, corada, FR= 28 irpm, 38,8ª C, FC= 110 bpm, PA=: 80x50 mmHg. Abdome: plano, doloroso à palpação superficial e descompressão brusca positiva. Exame ginecológico: colo uterino sem lesões macroscópicas, presença de secreção endocervical abundante, opalescente e viscosa exteriorizando-se pelo orifício externo.Toque vaginal: útero de volume normal, doloroso à mobilização do colo, anexo direito doloroso à mobilização e aumentado de volume. Ultrassonografia transvaginal: útero de tamanho normal, sem conteúdo intracavitário, anexo esquerdo normal, tuba direita dilatada com nodulação de 3,5x3,0 cm de aspecto heterogêneo, moderada quantidade de líquido espesso em cavidade peritoneal. O DIAGNÓSTICO E CONDUTA SÃO: (A) Doença inflamatória pélvica; tratamento ambulatorial com doxiciclina 100 mg via oral de 12/12 horas associado a metronidazol 500 mg via oral de 12/12 horas por 14 dias e ceftriaxona 500 mg intramuscular dose única e reavaliar em 3 dias. (B) Doença inflamatória pélvica com abscesso tubo-ovariano roto; laparotomia exploradora e antibioticoterapia endovenosa. (C) Gestação ectópica rota em anexo direito; laparotomia exploradora e salpingectomia a direita. (D) Doença infl amatória pélvica associada a hidrossalpinge à direita; internação para antibioticoterapia endovenosa e reavaliação com ultrassonografi a transvaginal em 2 dias. GABARITO: LETRA B CCQ (Conteúdo chave da questão) Saber que no abscesso tubo-ovariano roto a conduta é cirúrgica. Úlceras Genitais Você basicamente precisa saber diferenciar clinicamente as 5 principais etiologias de úlceras genitais. A maneira que utilizamos para diferenciá-las nas questões é separando em dois grandes grupos. Úlceras dolorosas Herpes (HSV 2 e 1) Infecções Sexualmente Transmissíveis 13 Lesões vesiculares características do herpes. Manifestações Clínicas: Múltiplas lesões, rasas, dolorosas polimórfi cas, com adenopatia bilateral sem fi stulização. Há duas formas de apresentação: primoinfecção e surtos recidivantes. Primoinfecção: período de incubação médio de seis dias e costuma ter sintomatologia local e sistêmica mais intensa, com febre, mialgia, vesículas maiores e mais numerosas do que nas recidivas. O colo do útero quando acometido pode apresentar corrimento vaginal abundante. Estima-se que apenas entre 13% a 37% das pessoas infectadas pelo vírus tornam-se sintomáticas. Tratamento: O tratamento é com feito com Aciclovir 400 mg VO, 3x/dia. A duração do tratamento depende da apresentação: • Primoinfecção: 7 a 10 dias, iniciar o mais rápido possível. • Recidiva: 5 dias, iniciar preferencialmente no período prodrômico (aumento de sensibilidade local, ardor, dor, prurido e hiperemia da região genital). Pacientes com episódios frequentes de herpes genital (mais de 6 ao ano) são candidatos à terapia supressiva, com aciclovir VO 400 mg (duas vezes ao dia) por 6 meses, podendo ser estendido para até dois anos. OBS: A presença de lesões ativas de herpes genital é contraindicação ao parto vaginal, obrigando a realização de cesárea. Cancro mole (Haemophilus ducreyi) Úlceras causadas pelo cancro mole. Infecções Sexualmente Transmissíveis 14 Outra causa de úlcera dolorosa, o Cancro mole apresenta-se por úlceras de fundo sujo, friável, adenopatia unilateral com fi stulização. Tratamento: Azitromicina 1 g VO, em dose única. Parceiros sexuais devem ser tratados com o mesmo esquema, ainda que assintomáticos. Úlceras indolores Sífi lis primária (Treponema pallidum) Lesão de sífi lis primária. Bordos elevados, fundo limpo, única, indolor, adenopatia sem fi stulização. O período de incubação varia de 10 a 90 dias, com duração média de três semanas. Tratamento: Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, IM, em dose única. O tratamento com dose única é válido para pacientes com sífi lis primária, secundária e latente recente. No entanto, se sífi lis tardia (> 2 anos) ou de duração indeterminada, o mesmo tratamento deve ser repetido por 3 semanas no total (7,2 milhões UI). Além disso, se houver o diagnóstico ou alta suspeita de neurossífi lis, o tratamento deve ser feito com penicilina cristalina EV (4 em 4 horas ou infusão contínua) por 14 dias. Por fi m, pacientes alérgicos à penicilina devem usar a doxiciclina, exceto para gestantes, quando a dessensibilização e uso da penicilina estão indicados. OBS: Sífi lis é um assunto fundamental para as provas e será visto na Mentoria na aula de Infecções Congênitas, já que a abordagem mais cobrada pelas bancas, disparadamente, é a Sífi lis Congênita. Infecções Sexualmente Transmissíveis 15 Donovanose (Klebsiella granulomatis) Lesão ulcerovegetante friável, indolor, sem adenopatia (pode formar pseudobulbão inguinal). Tratamento: Azitromicina 1 g VO, uma vez por semana. A duração é até a cicatrização das lesões, no mínimo por 3 semanas. Não é necessário tratar parceiros pela baixa infectividade. Linfogranuloma venéreo (Chlamydia trachomatis) Lesão única e indolor que geralmente não é diagnóstica. Após isso, há evolução para adenopatia dolorosa, geralmente unilateral. Após esta fase, há fi stulização em bico de regador (múltiplos orifícios). Tratamento: Doxiciclina 100 mg VO, de 12 em 12 horas por 21 dias. Parceiros sexuais assintomáticos devem ser tratados por uma semana com o mesmo antibiótico e dosagem ou com azitromicina 1 g, em dose única. Vamos ver agora como o tema é abordado. Note a importância de saber as características das úlcera para resolver questões sobre o tema. (USP - RP 2018) Homem, 27 anos, refere que há 3 semanas apresentou pequena úlcera no pênis que resolveu espontaneamente. Há 1 semana refere surgimento de caroço avermelhado e doloroso na região inguinal esquerda. Refere relações sexuais desprotegidas frequentes e nega uso de drogas ilícitas. Nega doenças prévias. Exame genital: Linfonodomegalia inguinal esquerda, dolorosa à palpação, com cerca de 5 cm de diâmetro e associada a hiperemia da pele. Sem outras lesões. Qual é o agente etiológico mais provável? (A) Herpes simples (B) Haemophilus ducreyi (C) Treponema pallidum (D) Chlamydia trachomatis GABARITO: LETRA CCQ (Conteúdo chave da questão) Saber a evolução clínica do Linfogranuloma venéreo e seu agente etiológico! Infecções Sexualmente Transmissíveis 16 HPV O papilomavírus humano, conhecido pela sigla de HPV, é muito conhecido pela sua relação íntima com alguns tipos de câncer, especialmente o de colo uterino. Nesta aula, vamos focar nas verrugas anogenitais, forma clínica importante e que atinge aproximadamente 2% das pessoas infectadas pelo vírus. Prevenção e clínica Vacinação Quadrivalente (6, 11, 16 e 18), feita em duas doses separadas por 6 meses. • Meninas de 9 a 14 anos. • Meninos de 11 a 14 anos. Formas clínicas: 1) Assintomática transitória (mais comum). 2) Lesões oncogênicas. Associadas aos tipos 16 e 18. 2% a 5% das mulheres infectadas desenvolvem alguma alteração no exame preventivo provocadas pelo HPV. 3) Lesões benignas (verrugas, condiloma acuminado). Associadas aos tipos 6 e 11. Atinge 2% da população infectada. Todos os aspectos do potencial oncogênico e condutas relacionadas ao exame colpocitológico serão abordados na aula de câncer de colo de útero. Agora, nós vamos nos concentrar no tratamento das verrugas. Tratamento Existem diversas opções para o tratamento das verrugas anogenitais, sem uma escolha considerada ideal para todos os casos. Preste atenção nas contraindicações (especialmente na gestação) e, na dúvida, o ácido tricloroacético aparece como uma opção muito utilizada para a maioria das lesões não extensas. • Ácido tricloroacético: Ótima opção para lesão não extensas, inclusive em gestantes. Necessita de múltiplas sessões. • Podofi lina: Contraindicado em gestantes. Também necessita de múltiplas sessões. • Crioterapia: Adequado paralesões mais extensas, pode necessitar de mais de 1 sessão. • Eletrocautério: Sessão única, contraindicado nas lesões em mucosa vaginal, cervicais e anais. Infecções Sexualmente Transmissíveis 17 • Exérese cirúrgica: Tratamento indicado em lesões com suspeita de malignidade. • Imiquimode ou Podofi lotoxina: Opções de tratamento domiciliar (autoaplicado). O primeiro dura 4 meses e não pode ser usado em mucosas, enquanto o segundo dura 4 semanas. O imiquimode está contraindicado na gestação. Violência sexual Assunto importantíssimo para a prática e provas de residência. Neste tópico, alguns aspectos legais ganham relevância, sendo absolutamente necessário saber as condutas que o profi ssional deve ou não fazer ao atender uma paciente vítima de violência sexual. Condutas possíveis no manejo de paciente vítima de violência sexual Profi laxias Profi laxias não virais • Penicilina Benzatina 2,4 milhões UI, em dose única (sífi lis). • Azitromicina 1 g, em dose única (clamídia e cancro mole). • Ceftriaxone 500 mg, em dose única (gonococo). • Metronidazol 2 g, em dose única (tricomoníase). OBS: As profi laxias para as doenças não virais podem ser adiadas, ao contrário do que ocorre com as doenças virais (HIV e hepatite B). De qualquer forma, a recomendação é o uso imediato ou precoce. O que fazer Notificar ao SINAN imediatamente Notificar conselho tutelar em caso de paciente menor de 18 anos Solicitar sorologias (HIV, Hepatites B e C, VDRL) e exames laboratoriais (hemograma e transaminases) Coletar conteúdo vaginal para pesquisa de gonococo e clamídia Realizar profilaxia para doenças virais e não virais Oferecer método contraceptivo de emergência O que não fazer Chamar ou exigir que paciente chame a polícia ou faça BO antes de atendimento Exigir exame de corpo de delito Infecções Sexualmente Transmissíveis 18 Profi laxias virais: • Hepatite B: completar esquema vacinal (3 doses ao todo) se for incompleto ou desconhecido. Aplicar imunoglobulina até 14 dias do ato, somente se o agressor for HBsAg reagente ou pertencente a um grupo de risco (pessoas que usam drogas, por exemplo). • HIV: Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir por 28 dias. Somente até 72 horas do ato. Contracepção de emergência Levonorgestrel 1,5 mg em dose única ou dividido em duas tomadas a cada 12 horas. Até 120 horas do ato. OBS: Apesar do DIU de cobre ser um anticoncepcional de emergência efi caz (isso mesmo!), ele está contraindicado em casos de violência sexual, devido ao risco de infecção. Abortamento em casos de violência sexual O que o médico NÃO pode exigir: • Boletim de ocorrência. • Autorização judicial. O que deve exigir: • Termo de consentimento livre e esclarecido (paciente faz). • Termo de responsabilidade (paciente faz). • Termo de relato circunstanciado (paciente faz). • Parecer técnico (médico faz). • Termo de aprovação de procedimento de interrupção da gravidez (institucional). O médico pode se recusar a realizar o procedimento? Como qualquer ato médico, pode ser recusado, caso não seja uma emergência e haja outro profi ssional disponível para realizá-lo. #JJTop3 Diagnóstico diferencial das vulvovaginites e úlceras genitais. Tratamento da DIP e critérios de internação e cirurgia. Conduta em casos de violência sexual. equipe@jjmentoria.com.br jjmentoria www.jjmentoria.com.br
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