Buscar

Vestir a camisa sim ou não

Prévia do material em texto

10/02/2012 » Opinião 
Vestir a camisa: sim ou não? 
 
* Por José Augusto Figueiredo 
 
A alta competitividade e a rotatividade do mercado de trabalho atual despertam em algumas pessoas a necessidade de se sentirem mais 
compromissadas com a organização em que atuam. Algumas buscam inconscientemente essa dedicação aparente para se sentirem úteis e 
valorizadas, pois se tornaram dependentes do vínculo afetivo que criaram com o trabalho. 
 
"Vestir a camisa" de uma empresa, embora para muitos pareça um fator positivo, pode ser uma grande armadilha. Um indivíduo que 
passou boa parte de sua vida em uma instituição, investindo em seu trabalho e esperando uma valorização em troca, está mais propenso a 
entrar em um grande conflito interno, em caso de desligamento. Esse tipo de situação é mais comum entre os profissionais da geração X, 
que colocaram em suas carreiras altas doses de vínculo "aspiracional". 
 
Já a geração Y passa pelo movimento contrário: são descamisados profissionais. Quando entram em uma instituição, eles têm como 
prioridade seus próprios sonhos e suas próprias metas. Esses jovens são colaboradores desapegados que possuem uma identidade própria 
independentemente da organização em que trabalham. Já as gerações anteriores adotaram para si a identidade de suas organizações. 
 
Os profissionais mais jovens tendem a se preocupar, primeiramente, com o que consideram importante e relevante para si mesmos. E, por 
isso, colocam os ideais e as metas da empresa em um plano paralelo ao seu, e são movidos por desafios contínuos. Realização. Para eles, 
salário e benefícios não são motivos de comprometimento. Sua permanência em uma organização está, geralmente, relacionada à 
capacidade que a empresa tem de inovar e reconhecê-los. Essa geração crê que o objetivo de seu trabalho é a realização pessoal. 
 
Comparando as duas, é possível perceber como as mudanças econômicas, políticas e sociais influenciaram o comportamento dos indivíduos 
no mercado de trabalho. 
 
A reestruturação pós-crise, por exemplo, alterou as relações da "pessoa" com a "empresa". Diante de qualquer oportunidade de troca, um 
profissional contemporâneo não hesitará em migrar de companhia. Isso ocorre porque muitos têm hoje uma relação meramente 
profissional com o trabalho, o que é saudável. Afinal, o vínculo emocional não é mais estável, já que muda de acordo com as diferentes 
situações vividas dentro da organização. 
 
Nesse contexto, o que antes era visto como honra e mérito, hoje soa como careta e até repulsivo. Mas vale lembrar que a geração Y não 
teve tempo de desenvolver habilidades como a geração anterior. Os mais velhos aprenderam com a escola da vida e, justamente por isso, 
entram em conflito com os mais novos. 
 
Muitas vezes, um Y tem dificuldade em confiar em um X, pois se esquece de que aquela pessoa pode até ter menos conhecimento teórico 
do que ele, mas tem muito mais experiência e habilidade para lidar com situações diversas. 
 
A geração Y vem com o mesmo defeito de fábrica que as anteriores: cresceu dentro de um modelo educacional que privilegia o 
individualismo e a competição, o que há tempos é um grave problema em vários lugares do mundo. Na escola, o aluno é valorizado por seu 
desempenho individual, e quanto maior forem suas notas, melhor será sua valorização. 
Espírito de grupo. Quando esses indivíduos vão parar no mercado de trabalho, eles não sabem trabalhar em equipe, pois passaram a vida 
toda sendo valorizados por aquilo que faziam individualmente. Sendo assim, eles têm muita dificuldade de compartilhar conhecimento. 
 
Fazendo todas essas considerações, o que nossa experiência demonstra é que todo sentimento em demasia gera desequilíbrio. E esse fato 
pode prejudicar o desenvolvimento profissional. 
 
Se por um lado "vestir a camisa" pode ser algo negativo, dependendo das proporções que tal comprometimento tiver, ser um profissional 
sem amarras nem consonância com os ideais da corporação também pode contribuir para relações efêmeras e superficiais, que em nada 
viabilizam o crescimento. 
 
* José Augusto Figueiredo é Chief Operating Officer (COO) da DBM na América Latina e presidente do International Coaching Federation – 
ICF Brasil

Continue navegando