Prévia do material em texto
RESUMO – ESCROTO AGUDO TUTORIA 1 • DEFINIÇÃO DO ESCROTO AGUDO - É uma dor escrotal moderada ou severa que se desenvolve ao longo de minutos a 1 ou 2 dias, podendo estar associado a edema ou hiperemia da pele. - Uma potencial emergência cirúrgica, por conta da necrose testicular que pode levar a alteração (vascular) da fertilidade e por reação imunológica desencadeada pelas substâncias liberadas pelo testículo isquêmico ocasiona num prejuízo na gônada contralateral. - Caracterizado por náuseas, sudorese, inquietação e dor. - O escroto agudo necessita de diagnóstico rápido e preciso para que a tomada de decisão cirúrgica ou expectante seja adequada. • FISIOPATOLOGIA, QUADRO CLÍNICO, EXAME FÍSICO, DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL E TRATAMENTO DE CADA TIPO 1. TORÇÃO TESTICULAR (TORÇÃO DO CORDÃO ESPERMÁTICO) - Torção do cordão espermático (vasos e epidídimo). - Antes dos 3 anos – 25 a 30% (crianças com criptorquidia – testículo que não foi para o saco) ou durante a puberdade - Causa 1/3 dos escrotos agudos (é a causa mais frequente da torção); - Aproximadamente 60% dos casos ocorrem em meninos com idade entre 12-18 anos; - Pode ser dois tipos: ➔ TORÇÃO EXTRAVAGINAL ▪ É mais comum entre recém-nascidos e crianças de menor idade durante a descida testicular. Quando ocorre no período pré-natal, leva à atrofia total testicular. ➔ TORÇÃO INTRAVAGINAL ▪ Ocorre na maioria sendo crianças e adultos, no pico da puberdade. O testículo fica em badalo de sino (fixação anormal da túnica). O tipo mais comum. a) FISIOPATOLOGIA Ocorre quando o suprimento de sangue arterial fica comprometido por uma rotação no cordão espermático, criando oclusão do cordão espermático e perda do suprimento vascular. b) QUADRO CLÍNICO - Caracterizado por dor escrotal sem relação com qualquer outro evento, progressiva em intensidade e sem febre. - Podem associar a náuseas e vômitos. c) EXAME FÍSICO - Testículo edemaciado, elevado e doloroso à palpação. - Testículo horizontalizado (sinal de angel) e fixo; - Epidídimo medial - Ausência do reflexo cremastérico - quando a base da coxa de um paciente em repouso é estimulada, em sua face medial, ou interna, o cremaster se contrai; - Sinal de Prehn negativo - não há alívio da dor com a elevação do testículo; d) DIAGNÓSTICO - USG de doppler com bolsa escrotal – marcado por comprometimento da irrigação e ausência de fluxo testicular. Exame mais eficaz. OBS: Se tempo menor que 6 horas, 85-97% de salvamento testicular. - Cintilografia testicular com Tecnécio 99m - exame que leva aproximadamente 30min pra ser realizado, mostrando interrupção do radiofármaco na topografia do testículo acometido por causa da interrupção da circulação sanguínea. - Exame Testicular para a Pontuação de Isquemia e Torção Suspeita (TWIST) – possui 5 variáveis, com uma pontuação > 5 diagnostica a torção com uma sensibilidade de 76% e especificidade de 100%; uma pontuação < 2 exclui a torção, com uma sensibilidade de 100% e uma especificidade de 82%: ➔ Edema testicular – 2 pontos ➔ Náuseas/Vômitos – 1 ponto ➔ Testículos duros à palpação – 1 ponto ➔ Testículo de alta equitação – 1 ponto ➔ Reflexo cremastérico ausente – 1 ponto e) TRATAMENTO - Apenas cirúrgico (quanto mais rápido for feita a cirurgia, mais fácil será de salvar o testículo); - A viabilidade do testículo depende da duração e integridade da torção (detecção dentro de 4-6h tem viabilidade de 100%); - Se o testículo readquirir boa perfusão, preserva-se o mesmo com pontos de fixação. Caso não seja viável, opta-se por orquiectomia. Também se realiza a fixação do testículo contralateral; - O acesso para o tratamento da torção extravaginal é a inguinotomia, em razão da possibilidade de presença de hérnia inguinal. 2. TORÇÃO DOS APÊNDICES TESTICULARES a) FISIOPATOLOGIA - Os restos embrionários do ducto mulleriano (apêndice testicular e epididimário) podem sofrer torção causando dor; - Mais comum aos 7-12 anos de idade. - Sem prevalência de lado; b) QUADRO CLÍNICO - Apresenta quadro clínico semelhante à torção testicular, com menos intensidade; - Dor localizada no polo superior testicular que aumenta progressivamente e desaparece quando ocorre necrose da hidátide. - Associada a náuseas ou vômitos; c) EXAME FÍSICO - Apêndice testicular aumentado (próximo ao epidídimo); - Testículo doloroso à palpação; - Sinal de blue dot – ponto com coloração azulada no testículo, chamada de hidátide de morganni. d) DIAGNÓSTICO - USG Doppler – marcado por fluxo testicular normal e lesão no testículo; - A cintilografia com Tecnécio é normal e a ecografia demonstra testículo e epidídimo normais. e) TRATAMENTO - Sintomáticos usando remédios para dor (analgésico ou anti inflamatórios); - Ou cirurgia (casos de exceção, casos que não melhoram); 3. ORQUIEPIDIDIMITES (ORQUITE + EPIDIDIMITE) São doenças inflamatórias dos testículos (orquite) e do epidídimo (epididimite), ocorrendo mais frequentemente entre os adolescentes e adultos. a) FISIOPATOLOGIA ➔ ORQUITE ▪ Consiste no comprometimento testicular (quase sempre bilateral); ▪ Fatores de risco: doenças virais (ex: caxumba) e infecções urinárias (ex: uropatias obstrutivas baixa congênitas ou adquiridas); ➔ EPIDIDIMITE ▪ Consiste no comprometimento do epidídimo. ▪ Geralmente acomete adultos jovens e crianças. ▪ Fatores de risco: DSTs (chlamídia e gonococcus) e ITU. b) QUADRO CLÍNICO - Instalação gradual, acompanham queixas urinárias (disúria e poliúria), sintomas gerais (febre, prostração); c) EXAME FÍSICO - Aumento escrotal; - Hiperemia; - Dor intensa; - Sinal de Prehn positivo (alívio da dor com a elevação manual do testículo); d) DIAGNÓSTICO - USG Doppler - marcado por aumento do volume testicular por edema, espessamento do epidídimo e aumento do fluxo vascular; e) TRATAMENTO ➔ CLÍNICO ▪ Uso de suspensório testicular + AINEs/analgésicos/antibióticos. ➔ CIRÚRGICO ▪ Indicado apenas em casos de abscessos escrotais. 4. HIDROCELE COMUNICANTE a) FISIOPATOLOGIA - Aumento do volume, ocorrendo um acúmulo do líquido dentro da túnica vaginal do testículo. - Podem ser comunicantes com a cavidade abdominal, residuais ou associadas às hérnias inguinais; - Geralmente espera-se até 9 meses para indicação da cirurgia. b) DIAGNÓSTICO - Feito por suas características clínicas, sendo indolor, com palpação sugestiva de conteúdo cístico, e por meio da transiluminação escrotal e da ecografia; - Transiluminação da bolsa escrotal. - coloca a lanterna atrás da bolsa escrotal e ela aparece como uma lanterna, o que significa que há acúmulo de líquido. c) TRATAMENTO - É cirúrgico – fechamento do conduto peritônio vaginal; 5. HÉRNIA INGUINO-ESCROTAL ENCARCERADA a) FISIOPATOLOGIA - Consiste no abaulamento inguinal e aumento do escroto; - É potencialmente grave (pode necrosar as alças intestinais); b) QUADRO CLÍNICO - Peso/incômodo e desconforto na virilha - Dor c) EXAME FÍSICO - Abaulamento na região inguinal em repouso ou durante a manobra de valsalva. d) DIAGNÓSTICO - USG onde demonstra as alças intestinais. 6. VASCULITES (PÚRPURA DE HENOCH-SCHÖNLEIN) Também conhecida como púrpura anafilactóide ou púrpura reumática, é a vasculite (ou seja, uma inflamação dos vasos da pele, podendo também acometer os vasos do intestino, articulações e rins) maisfrequente nas crianças e nos adolescentes; a) FISIOPATOLOGIA - É uma doença autoimune que acompanha manifestações sistêmicas e pode resultar no comprometimento do cordão espermático. b) QUADRO CLÍNICO - Nefrite; - Dor abdominal; - Dor articular; - Rash púrpura; - Dor e edema da bolsa escrotal (quando há comprometimento do cordão espermático); 7. EDEMA ESCROTAL IDIOPÁTICO - Consiste no comprometimento da parede da bolsa escrotal sem afetar o conteúdo; - Não há fator etiológico definido (idiopático); - Pode ocorrer em decorrência de dermatite ou picada de inseto; a) QUADRO CLÍNICO - Espessamento e hiperemia da pele escrotal, sem acometimento de estruturas mais profundas; b) TRATAMENTO - Uso de antialérgicos e suspensão escrotal. 8. TRAUMA DA BOLSA ESCROTAL - É um diagnóstico sugerido pela história (ex: paciente alega que bateu o escroto); - Ocorre comumente em escolares e pré-escolares; a) FISIOPATOLOGIA - Tipicamente ocorre unilateralmente e envolve a compressão contra o osso púbico; - Geralmente acomete o testículo direito (pelo fato de o cordão espermático esquerdo ser mais longo, a posição mais alta do testículo direito o torna mais propenso a lesão contusa em direção óssea); b) QUADRO CLÍNICO - Dor significativa e edema acentuado; - Hematomas e defeitos na pele; c) EXAME FÍSICO - Aumento do volume do escroto; - Equimoses (manchas arroxeadas) e hematomas (coleção de sangue); d) DIAGNÓSTICO - USG Doppler (avalia o conteúdo escrotal e a integridade do testículo); 9. TUMOR ESCROTAL - Raramente com sinais flogísticos e dolorosos; - Tem evolução insidiosa e podem se associar à torção testicular; - A maioria é maligno sendo o tumor do saco vitelino o tipo histológico mais comum (50% de todos os tumores); - Deve-se realizar uma abordagem cirúrgica via inguinal; - Realiza-se um exame histopatológico no transoperatório, o que determinará a necessidade ou não de orquiectomia;