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Brasília-DF. Comportamento animal Elaboração Profa. Dra. Larissa Mayumi Bueno Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA .................................................................... 5 INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7 UNIDADE I HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL ........................................................................... 9 CAPÍTULO 1 A HISTÓRIA DO ESTUDO DO COMPORTAMENTO ANIMAL ........................................................... 9 CAPÍTULO 2 MÉTODOS DE ESTUDO DO COMPORTAMENTO ANIMAL ........................................................... 14 UNIDADE II PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS ............................................................................... 25 CAPÍTULO 1 OS PROCESSOS COGNITIVOS NOS ANIMAIS ........................................................................... 25 CAPÍTULO 2 RITMOS BIOLÓGICOS ............................................................................................................. 32 UNIDADE III PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS .................................................................... 37 CAPÍTULO 1 COMUNICAÇÃO ANIMAL ....................................................................................................... 37 CAPÍTULO 2 AGRESSÃO E COOPERAÇÃO ANIMAL .................................................................................... 52 CAPÍTULO 3 COMPORTAMENTO REPRODUTIVO .......................................................................................... 62 UNIDADE IV EMOÇÕES E BEM-ESTAR ANIMAL ......................................................................................................... 75 CAPÍTULO 1 EMOÇÕES ............................................................................................................................. 75 CAPÍTULO 2 BEM-ESTAR ANIMAL ................................................................................................................ 80 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 88 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Se você tiver um cachorro, um gato, um periquito ou qualquer outro animal na sua casa, você com certeza sabe um pouco sobre comportamento animal, mesmo que restrito ao comportamento do seu bichinho de estimação. O estudo do comportamento animal é uma área nova dentro da Ciência. Desde o seu surgimento até os dias atuais, muito já foi descoberto e esclarecido. Mas, como toda área da Ciência, muito ainda temos a descobrir. A relação entre os humanos e os animais provavelmente data desde o próprio surgimento do humano moderno. Essa relação, então, ajudou muito na sobrevivência dos seres humanos. A forma como nós nos relacionamos e utilizamos os animais é mais uma questão ética, relacionada com a Filosofia, e não com as Ciências Biológicas. A preocupação das Ciências Biológicas sempre foi o entendimento das formas e dos processos da vida. Geralmente, nosso maior contato é com os animais domésticos, porque eles apresentam comportamentos que permitem a proximidade com os homens. Entretanto, animais selvagens também são fascinantes. Assim sendo, o entendimento do comportamento animal é imprescindível quando o assunto é a relação do homem com os animais. Nesse material, nós iremos analisar a história do estudo do comportamento animal, os métodos científicos empregados no estudo do comportamento, bem como os principais comportamentos exibidos pelos animais e seus mecanismos. Objetivos » Compreender a história do comportamento animal. » Compreender os métodos científicos utilizados no estudo do comportamento animal. » Entender quais são os principais comportamentos animais e seus mecanismos. » Entender o valor adaptativo de cada comportamento, ou seja, quais os benefícios que o comportamento traz ao animal. » Compreender o bem-estar animal, bem como os mecanismos que podemos contribuir para o bem-estar dos animais. 8 9 UNIDADE I HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL As evidências das primeiras observações sobre o comportamento animal vêm do Período Paleolítico Superior. A curiosidade sobre os animais e como eles se comportam parece que foi sempre ligada com a própria história da humanidade. Nessa unidade, seguindo Freitas e Nishida (2011), Yamamoto (2011) e Dugatkin (2013) nós veremos as primeiras vertentes e os primeiros pesquisadores do comportamento animal, bem como os métodos que são utilizados atualmente na observação e estudo dessa área científica. CAPÍTULO 1 A história do estudo do comportamento animal A definição de comportamento animal ainda é muito controversa. Vários autores postulam suas próprias definições baseando-senas suas próprias experiências adquiridas com o estudo do comportamento animal. Um dos maiores estudiosos do comportamento animal, Nikolaas Tinbergen, definiu o comportamento animal como “o total de movimentos realizado por um animal intacto” (DUGATKIN, 2013). Essa definição é um tanto quando generalizada, uma vez que considera todas as atividades realizadas pelo animal. Talvez a definição mais abrangente do que é o comportamento animal veio do autor Dugatkin (2013): “respostas coordenadas de todos os organismos viventes a estímulos internos e/ou externos”. Portanto, o comportamento animal envolve tanto os estímulos do meio ambiente em que o animal se encontra, como os estímulos do próprio organismo do animal. Registros feitos pelos humanos a partir da observação do comportamento de animais datam do Período Paleolítico Superior, há aproximadamente 40.000 anos. As pinturas 10 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL rupestres feitas pelos homens nas paredes das cavernas retratavam muitas cenas com animais, sendo que esses desenhos mostram posturas dos animais em diferentes situações. A observação do comportamento animal foi fundamental para a sobrevivência do homem, tanto para a caça, quanto para fugir de potenciais predadores. Portanto, o interesse do homem sobre como cada animal realizava seus comportamentos acompanhou toda a história da humanidade. O fundamento teórico que abriu as portas para o estudo do comportamento animal foi o famoso livro “A origem das espécies”, de Charles Darwin. Como você já deve saber, nesse livro está descrita a teoria da evolução, onde Darwin propõe o modelo da seleção natural, mostrando que há uma continuação entre os seres vivos. Quem foi considerado o fundador do estudo do comportamento animal foi justamente o assistente de Darwin, chamado de George Romanes. Os estudos feitos por Romanes, que levavam em conta a teoria da seleção natural, eram realizados principalmente com animais invertebrados. Posteriormente, vários outros estudiosos se interessaram pela observação e investigação do comportamento animal. Foi então que, na Europa, foi fundada a Etologia (palavra com origem grega, que significa “ethos” = hábito/costume e “logos” = estudo), enquanto que nos Estados Unidos foi fundada a Psicologia comparada ou experimental, também chamada de behaviorismo. Ambas estudavam o comportamento animal, porém, com abordagens diferentes. Generalizando, a etologia era mais indutiva, enquanto que o behaviorismo era mais dedutivo. A maioria dos etólogos eram médicos especialistas em anatomia comparada ou eram zoólogos. Eles levavam mais em conta o papel da natureza e dos aspectos biológicos no comportamento animal e estudavam uma ampla variedade de animais em seus ambientes naturais, observando os comportamentos e características específicas de cada espécie. Assim sendo, os etólogos eram evolucionistas, e salientavam os vários aspectos que não são aprendidos do comportamento, além da semelhança de alguns tipos de comportamentos entre indivíduos de diferentes espécies Os behavioristas geralmente eram médicos especialistas em fisiologia ou psicólogos. Eles acreditavam que os comportamentos dos animais eram aprendidos. Geralmente, eles estudavam um baixo número de espécies (ratos ou pombos) dentro de um laboratório controlado. Eles buscavam por leis e padrões gerais de aprendizagem de diferentes comportamentos e, posteriormente, generalizavam esses padrões para todas as outras espécies. 11 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I Como era de se esperar, existia um extenso debate entre essas duas vertentes de estudo do comportamento, principalmente durante o período de 1935 até 1975. De um lado, os etólogos criticavam os behavioristas, postulando que um comportamento não pode ser avaliado fora do ambiente natural do animal, e que cada espécie se comporta de tal forma devido a uma herança evolutiva. Além disso, eles afirmavam que o ambiente controlado do laboratório não criava estímulos suficientes para o animal, resultando em estudos que apenas confirmavam hipóteses antes formuladas. Do outro lado estavam as críticas dos behavioristas aos etólogos, que consistiam basicamente nas faltas de evidências da teoria evolutiva aplicada ao comportamento animal, onde não existiam comprovações de que certo comportamento realizado por um animal aumentavam suas chances de sobrevivência no ambiente e também não existiam comprovações acerca das estruturas mentais e corporais envolvidas no comportamento de um animal. A partir da década de 1970, começou a ocorrer uma integração gradativa entre esses dois conceitos. Essa integração ocorreu principalmente com o estudo de dois pesquisadores: Daniel Lehrman e Nikolaas Tinbergen (Figura 1). Lehrman era um naturalista de pássaros, seus estudos envolviam hormônios e o comportamento de pombos. Ele criticava a separação das duas vertentes entre comportamento inato (não aprendido) e o comportamento aprendido, argumentando que o comportamento exibido por um animal era uma interação entre o organismo em desenvolvimento e o seu hábitat. Tinbergen estudava o comportamento animal aliando a parte experimental com a parte natural, por meio de experimentos elegantes e muito criativos. Assim sendo, ele unia a parte naturalista com a parte experimental do estudo do comportamento animal. Ele estabeleceu vários parâmetros para o estudo do comportamento animal que são usados até hoje. Seu trabalho foi tão relevante, que ele recebeu o prêmio Nobel de fisiologia em 1973. 12 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL Figura 1. Fotografia de Nikolaas Tinbergen, importante estudioso do comportamento animal. Fonte: <https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1973/tinbergen-facts.html>. Um famoso experimento feito por Tinbergen é o relacionado ao comportamento das vespas escavadoras da espécie Philanthus triagulum. As fêmeas dessa espécie constroem ninhos subterrâneos, onde ficam abrigadas as suas larvas. Geralmente, os locais onde as fêmeas constroem os ninhos são muito próximos, ficando vários ninhos um do lado do outro. Essas fêmeas necessitam capturar e carregar abelhas para servirem de alimento para suas larvinhas dentro do ninho. Quando as fêmeas saem dos ninhos para procurarem abelhas, elas fecham as entradas dos ninhos para proteger suas larvinhas. Depois de capturar as abelhas e voltarem ao ninho, as fêmeas nunca erram o seu ninho. Tinbergen queria saber como cada fêmea sabia qual ninho era o seu. Ele observou que, ao sair e fechar o ninho, antes de voar atrás de abelhas, cada fêmea sobrevoava em círculos a região de seu ninho. Tinbergen postulou que existiam pistas geográficas que indicavam para as fêmeas a localização exata de seu ninho. Assim sendo, Tinbergen começou a realizar seus experimentos. Depois que a fêmea saía de seu ninho, o sobrevoava e finalmente ia atrás de abelhas, ele mudava a geografia do local. Por exemplo, se um ninho tivesse próximo à alguma pedra, ele mudava a pedra de local. Quando ocorria então alguma interferência no ambiente feita por Tinbergen, a vespa errava o local de seu ninho. Assim sendo, ele concluiu que as fêmeas de Philanthus triagulum utilizavam pistas espaciais para encontrarem seus ninhos. Esse experimento de Tinbergen é um exemplo do que hoje é o estudo do comportamento animal. Existe sempre, em cada indivíduo, uma predisposição biológica somada a uma modulação do ambiente na execução de um comportamento. Em outras palavras, nos repertórios de comportamentos exibidos por um ser vivo, existe sempre https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/laureates/1973/tinbergen-facts.html 13 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I uma determinação genética e também uma determinação do ambiente no qual está inserido o animal. Assim sendo, o estudo do comportamento animal envolve uma multidisciplinariedade entre estudos biológicos, bioquímicos,genéticos, botânicos, da psicologia, matemáticos, estatísticos e de ecologia. O estudo do comportamento animal no Brasil começou por volta de 1960, com o Laboratório de Psicologia Animal no Instituto de Psicologia da USP. O principal pesquisador desse laboratório era o cientista Walter Hugo de Andrade Cunha e sua pesquisa envolvia o estudo dos aspectos da psicologia humana, associando com aspectos evolutivos. Desde os primeiros estudiosos do comportamento animal, essa área de estudo tem trazido muitas contribuições para a ciência e também para o conhecimento. Dentre essas contribuições, nós podemos citar: » Conhecimentos obtidos por meio de estudos de comportamentos em animais forneceram respostas a certos comportamentos humanos. Por exemplo, os estudos feitos com choques aplicados em ratos forneceram bases para os conhecimentos da ansiedade e depressão em humanos. » Através do estudo do comportamento de animais é possível predizer mudanças no ambiente natural desses animais. Se o animal não realiza comportamentos naturais que antes eram realizados, isso pode inferir que o ambiente está mudando. Portanto, esse conhecimento pode auxiliar na preservação ambiental. » O conhecimento do comportamento animal de uma espécie pode auxiliar em estratégias de manejo e conservação dessa espécie e até mesmo em conhecimentos que levam a estratégias de manutenção do bem-estar dessa espécie. 14 CAPÍTULO 2 Métodos de estudo do comportamento animal Como toda investigação científica, o estudo do comportamento animal é realizado por métodos científicos. Como falamos anteriormente, investigar o comportamento de um animal só é possível por meio da multidisciplinariedade. Assim sendo, a análise de um comportamento começa desde a ativação de genes e suas sínteses proteicas, produzindo sinais que vão ser recebidos através dos receptores celulares do sistema nervoso, que vão, então, emitir sinais nervosos para os tecidos musculares, gerando uma contração muscular e, portanto, a ação comportamental em si. É interessante que, no estudo do comportamento animal, a descrição de um comportamento não seja restrita a um único animal, mas que essa descrição possa ser aplicada a toda a população, ou toda a espécie, ou até mesmo, a espécies similares entre si. Além disso, na investigação do comportamento exibido por uma população ou uma espécie, são também interessantes questões relativas à evolução e adaptação do comportamento, não somente o comportamento exibido pelo período de vida dos indivíduos na população e/ou espécie. Da existência de um comportamento em uma população e/ou umas espécies existem as inferências de que esse comportamento é adaptativo, auxiliando de alguma maneira na sobrevivência dos indivíduos, ao contrário, o comportamento não seria mantido na população; a execução de um comportamento pelo animal se dá por meio de escolhas perante as condições do ambiente em que o animal se encontra, ponderando a questão do custo/benefício ao realizar determinado comportamento. Segundo Tinbergen (1963), ao se estudar o comportamento animal, é necessário responder algumas questões, dentre elas: 1. Qual o mecanismo por trás de um comportamento? Em outras palavras, quais estímulos que levam o animal a realizar um comportamento e quais os mecanismos neurobiológicos e/ou hormonais que desencadearam esse estímulo? 2. Como o comportamento se desenvolve no indivíduo no decorrer da sua idade? Se ocorrer uma variação do comportamento com a idade, como esse comportamento vai diferenciar no benefício adquirido pelo animal no decorrer do tempo? 15 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I 3. Como o comportamento influencia na taxa de sobrevivência e de reprodução de um indivíduo, população ou espécie? 4. Quando o comportamento apareceu na história evolutiva de uma espécie e como esse comportamento influenciou a história evolutiva dessa espécie? As duas primeiras questões se referem a causas proximais, enquanto que as duas últimas se referem a causas distais. As causas proximais dizem respeito às análises comportamentais relativas ao tempo de vida de um animal, ou seja, dizem respeito às questões imediatas. Já as causas distais se referem à história evolutiva do comportamento, o que a espécie carrega em sua história e o que ela vai passar para frente, para outras gerações, ou seja, são análises das forças evolutivas de um comportamento. É claro que, para todas essas análises comportamentais multidisciplinares que visam responder às quatro questões de Tinbergen, é necessário que primeiro seja feita uma análise descritiva de um comportamento. Não tem como estudarmos as causas proximais ou distais se nem ao menos sabemos qual é e como é certo comportamento de um animal, não é mesmo? Geralmente, os estudos comportamentais descritivos descrevem, na verdade, o repertório comportamental exibido por uma espécie através da elaboração de um etograma. O etograma consiste de uma lista de comportamentos exibidos por uma espécie, seguida de uma descrição minuciosa de cada comportamento. Além disso, geralmente, o etograma é dividido em categorias de comportamentos. Essas categorias vão depender do repertório de comportamentos que o animal realiza, ou seja, comportamentos que o animal realiza sozinho, comportamentos que o animal realiza em grupos, comportamentos que o animal realiza quando está forrageando, comportamentos que o animal realiza quando está se reproduzindo, entre outras categorias. A descrição do comportamento tem que ser feita de uma forma minuciosamente detalhada, pois outro cientista, ao utilizar o etograma, tem que conseguir reconhecer o comportamento descrito. A descrição de um comportamento de uma forma precisa, detalhada e científica é extremamente desafiadora. Imagine aquela brincadeira que fazemos quando você tem em mãos um desenho e descreve esse desenho para um ou mais amigos poderem desenhá-lo, sem eles nunca terem visto o desenho que está em suas mãos e você poder apenas falar formas e posições, sem nunca poder dizer qual é o nome dos objetos 16 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL no desenho. Os resultados são cômicos e muitas vezes, muito diferentes do desenho original. Se já é difícil fazer com que os seus amigos desenhem com precisão o mesmo desenho que você está descrevendo, imagina então descrever a sequência de movimentos de um animal de forma precisa e científica. Existe outra questão que é importante de ser levada em conta quando estamos descrevendo o comportamento de um animal. Observe a Figura 2. Como você descreveria o comportamento do cachorro perante ao homem? Figura 2. Fotografia de um cachorro e um humano Fonte: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hug_in_Lisbon_(10580535916).jpg>. Se você disse que o cachorro está abraçando o homem, você acabou de cometer uma ação que não devemos fazer jamais ao descrever o comportamento animal: a antropomorfização. A antropomorfização consiste em descrever o comportamento de um animal fazendo o uso de ações humanas, como, por exemplo, na figura acima, dizer que o cachorro está “abraçando” o homem. Existem primatas que mostram os dentes para algum coespecífico como forma de ameaça, e não porque ele está “sorrindo” para outro membro de sua espécie. Como exemplo da descrição de um comportamento, podemos citar uma espécie bastante conhecida e bastante estudada no meio científico, o rato: » Escavação: Os ratos escavam puxando uma porção de substrato para trás com suas patas dianteiras, fazendo uma pilha sob seus estômagos. Às vezes o rato usa todo o seu corpo para puxar uma porção de substrato 17 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I para trás. Periodicamente, eles limpam a pilha de substrato acumulada, chutando-a para trás com as patas traseiras. Os ratos podem limpar seus túneis empurrando o substrato com suas patas dianteiras e cabeça. Para acessar um exemplo de etograma, acesseo link: <http://www.ratbehavior. org/Glossary.htm>. Lá você encontrará o etograma de uma das espécies mais estudada no nosso planeta: o rato! Agora que vimos um exemplo de como um comportamento é descrito, vamos ver então como é formado um etograma completo. Para isso, vamos usar o exemplo de um animal que é muito próximo ao homem e que, na verdade, é conhecido como “o melhor amigo do homem”. Nesse exemplo, então, veremos o etograma descrito a partir de um cão da raça Teckel, de acordo com Suhett et al. (2011): Categoria: estados Deitado: parte mediana do corpo e parte interna das patas em contato com o chão. Sentado: parte traseira do corpo em contato com o chão. Na maioria das vezes quando ele está se coçando. Andar: locomoção com deslocamento das patas para frente e para trás. Correr: locomoção com deslocamento rápido, onde as patas traseiras ultrapassam o meio do corpo. Comer: consumir alimentos sólidos. Beber: consumir água ou outro líquido. Categoria: solitário Auto-higienização: lamber o próprio corpo e muitas das vezes a própria região ano genital. Coçar: arranhar o próprio corpo com as patas traseiras ou com os dentes. Cavar: arranhar o solo com uma ou ambas as patas dianteiras criando um buraco. Mastigar grama: mastigar e engolir ramos vegetais. Geralmente, mais tarde saia em forma de vômito. http://www.ratbehavior.org/Glossary.htm http://www.ratbehavior.org/Glossary.htm 18 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL Bocejar: boca aberta, olho fechados e orelhas para trás. Farejar solo: investigar o chão com o focinho, cheirando. Espreguiçar: esticar as patas traseiras e dianteiras alternadamente, corpo esticado. Chacoalhar: balançar o corpo rapidamente, agitando bruscamente os pelos, começando da cabeça, agitando as orelhas até o rabo. Categoria: social amigável Cheirar: investigar alguém de sua família, cheirando os pés. Convite para brincar: pular, bater as patas nos pés de um de seus familiares ou inclinar a cabeça entre as patas dianteiras. Brincar de caçar: perseguir outros animais; leves patadas arranhões e mordidas (lagartixa, passarinhos, ratos e outros animais). Categoria: social não agonístico Submissão: voltar o ventre para cima, abanar a calda entre as patas e rolar no chão. Em alerta: cabeça e orelhas levantadas, boca aberta com a língua para fora. Categoria: eliminação/marcação Urinar (levantar a pata): urinar com a pata traseira levantada do chão. Urinar sobre: urinar no mesmo local que outro cachorro urinou ou defecou alguns minutos antes. Defecar: defecar usando uma postura agachada. Categoria: social agonístico Investir: avançar em direção a qualquer outra pessoa que não seja membro da família, com os pelos eriçados e orelha para trás. Rosnar: vocalização forte e longa, dentes a mostra, boca semiaberta e orelhas para trás. Latir: vocalização curta, direcionada a animais ou pessoas que passam na rua. Morder: mordida com a mandíbula fechada. 19 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I Se você tiver um cão, analisando o etograma acima, quantos desses comportamentos você consegue identificar no seu cão? Você acha que o etograma acima está suficientemente detalhado para que você possa reconhecer esses comportamentos no seu cão? Existe algum outro comportamento que você observa em seu cão que você acrescentaria ao etograma acima? Outro exemplo de etograma de outro animal que está muito próximo a nós é o etograma de um gato doméstico, de acordo com Silva (2015): Limpeza: sentado sobre as patas traseiras, lambe seis vezes a pata esquerda enquanto mantém a direita apoiada ao chão. Após isso, lambe a pata direita repetindo este ato mais seis vezes. Em outros momentos, ainda continua sentado sobre as patas traseiras, porém, mantendo a pata esquerda esticada. O gato lambe a pata dianteira direita por nove vezes seguidas. Espreguiçar: o animal espreguiça-se esticando as patas dianteiras projetando seu corpo para trás, e após isso, estica as patas traseiras projetando seu corpo à frente, cada uma durante cerca de 20 segundos. Fuga: o animal fica com medo ao escutar barulhos e ruídos externos à residência. Nesse momento ele olha rapidamente para os lados mexendo rapidamente as orelhas, e ligeiramente corre para debaixo de uma das camas do quarto, e lá permanece até o ruído sumir, com aproximadamente 1min 33seg. Explorar: o animal sai de dentro da casa cheirando-a por duas e/ou três vezes, e senta-se na varanda. Lá o animal se senta sobre as patas traseiras abanando o rabo de um lado para o outro cerca de 19 vezes por minuto enquanto está parado. Rolar: no quintal o gato deita de barriga para baixo, patas dianteiras e traseiras esticadas, rola vagarosamente para direita esfregando-se no chão cerca de 8 vezes por minuto. Brincar: o animal, ao visualizar alguns “materiais” (papeis, caixa de fósforos etc.) no chão, olha ao seu redor desconfiadamente e vai passando de uma pata para a outra numa velocidade consideravelmente rápida até atravessar todo o corredor. Ao entrar na cozinha, ele continua com o ato até a caixa de fosforo entrar e não conseguir tirá-la, saindo em seguida para o quintal. 20 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL Beber água: o gato aproxima-se da vasilha de água, cheira-a cinco vezes de pé sobre as quatro patas. Bebe água por 20 segundos, olha uma vez para cada lado e volta a beber por mais 10 segundos. Interação: ao chegar à sala de estar, o gato visualiza sua dona sentada e rapidamente chega até ela e esfrega a cabeça nas pernas durante 55 segundos. Após isso ele se senta sobre as patas traseiras mantendo as patas dianteiras esticadas durante 2min 13seg., e novamente volta a esfregar-se na sua dona durante 34 segundos. Dormir: o animal fica deitado lateralmente com as patas dianteiras e traseiras esticadas em cima da cama de um dos donos, dorme aproximadamente 3 horas pela manhã. Durante a tarde o animal dorme mais 1h32min na varanda. Descanso: o animal sentou-se sobre as patas traseiras durante 47 segundos até que deitou mantendo as patas dianteiras esticadas ao chão, cabeça em pé e orelhas voltadas para cima e assim permaneceu durante 18min. Aproximação do recinto com alimento: ao aproximar-se da vasilha de ração, o gato cheira-a por 13 vezes antes de começar a comer. Comer: ainda de pé sobre as quatro patas, o gato avança contra a comida por 10 vezes durante 18 segundos. Senta-se sobre as patas traseiras enquanto continua a comer com as orelhas voltadas para baixo. Pós-alimentação: o animal interrompe o ato de comer e caminha até a varanda. Lá, senta sobre as patas traseiras, enquanto observa o ambiente durante 20 segundos, olhando para o lado direito, após isso, o animal deita-se no chão e cochila durante 37 minutos. Defecação: o animal vai até a cozinha e fica de frente à porta que leva até o quintal, ao observar que está fechada, corre para varanda e lá vai para porção que tem terra. Anda durante o espaço cheirando. Após isso, começa a cavar mexendo as patas 14 vezes até cavar um buraco, aproxima-se e lá fica durante 32 segundos. Após defecar, joga areia novamente em cima do buraco, cheira-o e vai para a sala. Se você tem um gatinho na sua casa, ao analisar o etograma acima, você consegue identificar alguns dos comportamentos acima citados em seu gato? Você acha que esses comportamentos estão suficientemente detalhados? Você acrescentaria algum comportamento de seu gato a esse etograma? O etograma do gato não está dividido em categorias. Como você dividiria em categorias os comportamentos acima descritos? 21 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I Se você for fazer alguma pesquisa sobre o comportamento de algum animal, é importante fazer antes uma revisão literária para ver se já não existe um etograma descrito do animal, como é o caso do rato (exemplo acima). Isso economizará tempo e trabalho desnecessário.Depois de feita, então, a descrição dos comportamentos de um animal, algumas pesquisas requerem a quantificação desses comportamentos. Por exemplo, em alguma pesquisa feita em relação ao bem-estar de um animal, é importante se fazer uma análise da quantificação de comportamentos relativos ao bem-estar do animal, e comportamentos relativos ao estresse do animal. Existem várias maneiras para se quantificar o comportamento animal: » Através da latência, que é o tempo em que o animal demora para exibir certo comportamento. Por exemplo, durante um comportamento de disputa por território entre dois machos de leão, se um macho demorar 4 minutos para desferir a primeira mordida no outro macho, dizemos que esse comportamento teve um período de latência de 4 minutos. » Através da frequência, onde observamos a quantidade de vezes que o animal exibiu tal comportamento em um espaço de tempo. Por exemplo, na briga dos leões, se num período de 20 minutos o leão A mordeu o leão B 40 vezes, dizemos que a frequência desse comportamento foi de duas mordidas por minuto. » Através da duração, onde se quantifica quanto tempo durou certo comportamento. As 40 vezes que o leão foi mordido, cada mordida pode ter tido um tempo de duração diferente. A primeira mordida pode ter demorado 3 segundos, enquanto a segunda pode ter demorado 9 segundos e assim por diante. Vamos supor que, dos 20 minutos, o leão A passou 16 minutos mordendo o leão B. Essa então será a frequência desse comportamento. » Através da intensidade, onde vemos qual a força de certo comportamento. Ainda usando o exemplo dos leões, se compararmos a frequência de mordidas de um leão com o outro, vemos qual animal exibiu o comportamento de mordida mais intenso. Podemos também verificar a intensidade de cantos de machos de anuros para atrair as fêmeas, por exemplo. 22 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL O pesquisador, ao analisar o comportamento animal, tanto com o intuito de descrevê- lo, quanto com o intuito de quantificá-lo, pode se deparar com um grande problema: a rapidez que algumas espécies têm em executar o comportamento. Assim, fica muito difícil perceber detalhes do comportamento para descrevê-lo ou para quantificá-lo. Para resolver esse problema, os pesquisadores podem utilizar alguns recursos que facilitam a análise dos comportamentos exibidos por um animal. » Filmagens: filmar e gravar os animais são ótimos recursos para analisar o comportamento animal. Com a filmagem, o pesquisador pode analisar o vídeo em câmera lenta e voltar a assisti-lo quantas vezes necessárias. » Descrições verbais: a descrição verbal pode ocorrer de forma escrita ou em gravações de áudio. Esse recurso é basicamente o que o nome diz: descrever verbalmente o comportamento, enquanto ele ocorre. » Planilha de registro: onde o pesquisador faz uma lista dos comportamentos exibidos pela espécie ou indivíduo em questão (retirados de um etograma previamente elaborado) e registra esses comportamentos conforme eles vão sendo executados nessa planilha. » Registradores automáticos de eventos: esses recursos são geralmente softwares altamente refinados (e muitas vezes de alto custo), que podem analisar imagens e vídeos e fazer análises quantitativas. Outro exemplo é a clássica gaiola de Skinner, onde o animal que está dentro da gaiola recebe uma recompensa (comida ou água) ao acionar uma alavanca. Essa gaiola está ligada a um sistema elétrico de tal forma que o tempo que o animal permanecia acionando a alavanca é transmitido a uma folha de papel. Entretanto, a existência de todos esses recursos não substitui a habilidade e o conhecimento de um pesquisador de saber o que analisar, quando analisar e por quanto tempo analisar. Também existem variações no tempo de análise do comportamento de acordo com o intuito da pesquisa: » Registro contínuo: como o nome diz, o registro do repertório comportamental ocorre de forma contínua, sem interrupção. Esse tipo de registro possibilita a quantificação dos comportamentos por latência, frequência e também a duração do comportamento. Se um pesquisador estiver analisando o comportamento de corte de uma dada espécie, esse tipo de registro é o ideal, uma vez que ele vai conseguir analisar a sequência e duração de cada comportamento exibido durante a corte. » Registro intervalar: esse tipo de registro é obtido por intervalos num dado período. Por exemplo, o pesquisador pode registrar o 23 HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL │ UNIDADE I comportamento de uma espécie a cada minuto durante uma hora. O pesquisador, analisando o comportamento, a cada minuto irá anotar se tal comportamento está sendo executado ou não. No final, ele vai obter um escore de quantas vezes o comportamento foi executado a cada minuto durante uma hora. Como já mencionamos, a intenção do estudo do comportamento animal nunca é restrita a um único indivíduo. Para a realização da descrição, dos registros e da quantificação de um ou mais comportamentos de uma espécie, é praticamente impossível analisar todos os indivíduos de uma espécie no mundo. Portanto, para o estudo do comportamento animal, assim como outros estudos científicos, é necessário utilizar uma amostra que seja suficiente para a extrapolação dos dados para toda a espécie. Para o estudo do comportamento animal, também existem diferentes tipos de amostragem: » Amostragem pelo animal focal: o pesquisador determina um pequeno grupo amostral e, a partir dele, escolhe um único animal, que será o seu animal focal. Ele então anota todo o comportamento executado pelo animal focal de cada pequeno grupo amostral num determinado período de tempo. » Amostragem por escaneamento: em um período de tempo, determina-se um certo número de intervalos (por exemplo, análises a cada minuto durante uma hora). O pesquisador, então, anota o comportamento que todos os animais à vista da amostra estão realizando naquele exato momento do intervalo. É importante que o pesquisador saiba identificar cada animal por meio de marcações naturais (padrões de machas, tamanho, entre outros) ou artificias. » Amostragem ad libidum: nesse tipo de amostragem, o pesquisador vai anotar todos os comportamentos de sua amostra durante um período determinado de tempo. Esse é com certeza o tipo mais trabalhoso de amostragem e é geralmente utilizado numa observação preliminar (por exemplo, um teste piloto). » Amostragem comportamental: nesse tipo de amostragem, o pesquisador foca em um tipo de comportamento, ao invés de focar nos animais executando o comportamento. Assim, quando o dado comportamento é executado, o pesquisador anota todos os detalhes dos animais envolvidos nesse comportamento. Esse tipo de amostragem é muito utilizado quando o comportamento é realizado em baixa frequência pela amostra. 24 UNIDADE I │ HISTÓRIA E MÉTODOS DO COMPORTAMENTO ANIMAL Depois que o pesquisador obtém todos os dados de seu estudo, ou seja, a descrição e a quantificação de comportamentos dentro da amostra, ele precisa validar esses resultados. Assim como qualquer outro estudo científico, essa validação se dá por meio de testes estatísticos. O objetivo de cada pesquisa é que determina o teste estatístico apropriado para que os dados sejam então validados. Diante do que vimos até agora sobre as metodologias de estudo do comportamento animal, nós lhe fazemos a seguinte pergunta, querido aluno: é melhor estudar o comportamento de uma espécie em campo (ambiente natural) ou em laboratório? Antes de respondermos essa pergunta, vamos analisar as vantagens e desvantagens de ambas as situações. Estudo do comportamento animal em campo: » Vantagens: o ambiente natural do animal fornece todos os elementos necessários para que o animal realize seu comportamento, como as condições climáticas, a sazonalidade, a flora, o solo, as presas e os predadores, entre outros. » Desvantagens: em campo, é difícil o pesquisador conseguirvisualizar os animais o tempo todo, sendo que alguns podem sair facilmente do seu campo de visão (entrando em tocas, se escondendo atrás de moitas, ou entrando no meio de seu bando e ficando oculto pelos outros animais). Existe também a dificuldade de acesso a animais subterrâneos, animais voadores e animais noturnos. Estudo do comportamento animal em laboratório: » Vantagens: facilidade em observar os animais e a possibilidade de controlar as variáveis que possam modular o comportamento do animal (fotoperíodo, umidade etc.). » Desvantagens: ausência de todos os fatores que modulam o comportamento de um animal e que pode levar o animal a cessar esse comportamento e também o aparecimento de outros tipos de comportamentos (por exemplo, comportamentos associados ao estresse). Portanto, se é melhor estudar o comportamento de um animal em campo ou em laboratório depende, na verdade, do objetivo do estudo. Todo o estudo científico tem como objetivo responder a uma ou mais perguntas e a metodologia escolhida para se realizar o estudo deve ser a metodologia mais adequada para responder a essas perguntas. 25 UNIDADE II PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS Como veremos nessa unidade, o comportamento dos animais é moldado pelos processos cognitivos dos próprios animais e também pelos ritmos biológicos. Nessa unidade, seguindo Yamamoto e Volpato (2011) e Dugatkin (2013), nós veremos como esses dois fatores interferem no comportamento dos animais. CAPÍTULO 1 Os processos cognitivos nos animais De uma maneira simplificada, podemos definir os processos cognitivos como os processos em que o animal adquire conhecimentos. Em outras palavras, a cognição animal é a aprendizagem do animal. Estudar os processos cognitivos de um animal envolve estudar os mecanismos que recebem, interpretam e transmitem informações. Portanto, como você já deve imaginar, os processos cognitivos são fundamentais para a sobrevivência de um animal. Geralmente, o processo cognitivo se inicia por meio do recebimento de um estímulo do ambiente. Esse estímulo é recebido e processado no aparato do sistema nervoso de um animal. Assim sendo, a capacidade de aprendizagem no mundo animal varia de acordo com as espécies, uma vez que cada espécie possui diferentes morfologias e tamanhos dos componentes do sistema nervoso. O sistema nervoso e, principalmente, o cérebro de cada espécie se desenvolveram evolutivamente para receberem informações do ambiente, além de interpretar e, dependendo do estímulo, enviar o comando de resposta frente ao estímulo. Outra informação importantíssima do sistema nervoso é o armazenamento de informações, ou seja, a memória do animal. 26 UNIDADE II │ PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS Os estímulos que o animal recebe do ambiente são chamados de processos aferentes. Já a resposta que o animal produz perante esses estímulos são chamados processos eferentes. Existem também os mecanismos reaferentes, que são os mecanismos modulados ao longo do tempo através do feed-back constante entre os processos aferentes e eferentes, visando sempre obter uma melhor resposta perante o estímulo recebido. Por exemplo, uma espécie de predador que, ao longo do tempo, exerce melhor o seu comportamento de caça. Pelo que vimos até aqui, já podemos inferir algumas informações: » A aprendizagem é um comportamento que é adquirido por meio do resultado de experiências prévias de um animal. » Os mecanismos de aprendizagem variam de espécie para espécie e de acordo com o ambiente em que vivem. » A aprendizagem pode ser modulada no decorrer da vida do animal. Outra informação importante é que a resposta do animal frente a um estímulo recebido nem sempre é a mesma. A resposta pode variar de acordo com as condições ambientais ou as condições fisiológicas do animal. Por exemplo, um animal dentro de sua toca pode receber o estímulo da fome, mas está um temporal terrível lá fora (condição ambiental), portanto, esse animal não vai sair de sua toca para procurar comida, como seria a resposta usual perante esse estímulo. Um filhotinho pode receber o estímulo de seu irmãozinho para ir “brincar”, mas esse outro filhotinho pode estar com fome, ou doente (condição fisiológica) e, assim, ele não responderá ao estímulo de “brincar” como era esperado pelo seu irmãozinho. Outra condição que pode interferir na resposta comportamental de um estímulo recebido é a habituação. A habituação ocorre diante de um estímulo repetitivo, mas que não é acompanhado por situações desagradáveis. É o que acontece, por exemplo, quando inserimos uma ave predadora empalhada em um campo de trigo quando queremos evitar que passarinhos venham e se alimentem do trigo. Nos primeiros momentos que os passarinhos verem o animal empalhado eles vão fugir, mas como o animal não vai se mexer para atacá-los, não ocasionando, portanto, uma situação desagradável, os passarinhos vão se habituar ao animal empalhado. A habituação não é uma adaptação sensorial, ou seja, o órgão sensorial continua a captar os estímulos. A adaptação ocorre no sistema nervoso, onde a resposta perante o estímulo recebido não é produzida. A condição de habituação pode ser extremamente vantajosa, uma vez que o animal não altera seu estado fisiológico (estresse) e nem gasta 27 PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II energia produzindo uma resposta “à toa”, e permanece realizando a atividade que esse animal estava fazendo. Imagina se uma galinha ciscando ao lado de uma árvore parasse e corresse toda vez que uma folha caísse da árvore? Entretanto, a habituação pode ser complicada quando animais são mantidos em cativeiro (por algum motivo) e depois são soltos na natureza. No cativeiro, esses animais podem se habituar a estímulos que são extremamente fatais no ambiente natural. A habituação também pode ser extremamente complicada quando o assunto é o estudo experimental do comportamento. A habituação dos animais em estudo submetidos às condições experimentais é muito indesejada, uma vez que o animal vai parar de responder aos estímulos, atrapalhando a pesquisa. Assim sendo, os pesquisadores precisam constantemente elaborar estratégias para contornar esse problema. Na aprendizagem animal, existe também o condicionamento. O condicionamento ocorre através de um estímulo condicionado e um estímulo não condicionado. Como exemplo, podemos citar o clássico experimento realizado por Ivan Pavlov, em 1800 (Figura 3). Pavlov inseria um aparato nas bochechas de cachorros a fim de medir a salivação desses animais. A princípio, ele acendia uma luz (estímulo condicionado), o que nada influenciava no animal. Posteriormente, ele oferecia ao animal pó de carne (estímulo não condicionado), o que fazia a salivação do animal aumentar. Com o tempo, o cachorro passava a associar a luz com o pó de carne e passava a salivar quando a luz era acesa, ficando, assim, condicionado ao estímulo condicionado (luz). O condicionamento realizado por Pavlov é conhecido como condicionamento clássico ou condicionamento pavloviano. Como vimos, ele é caracterizado por um estímulo condicionado seguido por um estímulo não condicionado, resultando em uma resposta condicionada. O estímulo não condicionado pode ser chamado de reforço positivo ou reforço negativo. Como o nome diz, o reforço positivo consiste de situações agradáveis, como comida, água, parceiro reprodutivo, entre outros. O reforço negativo consiste de situações desagradáveis, como um choque, um gosto ruim, um odor ruim a presença de um predador, entre outros. Se Pavlov, em seu experimento, apenas acendia a luz e o animal já salivava e, em seguida, ele não mais oferecia o pó de carne ao cachorro, com o tempo, o animal já não mais salivava com a luz. Esse cessar do comportamento quando não há um estímulo não condicionado seguido do estímulo condicionado é chamado de extinção do comportamento. 28 UNIDADE II │ PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS Figura3. Fotografia do experimento de condicionamento clássico, por Pavlov. Fonte: Dugatkin, 2013. O condicionamento clássico também depende de fatores chamados de aprendizagem por sombreamento, aprendizagem inibitória e aprendizagem latente. A aprendizagem por sombreamento ocorre quando exibimos dois estímulos condicionados ao animal, porém, o animal responde melhor a apenas um dos estímulos, assim sendo, um dos estímulos é “sombreado” pelo outro estímulo. A aprendizagem inibitória ocorre quando o animal associa somente um dos estímulos, respondendo somente a ele. Podemos dizer, então, que um dos estímulos bloqueou o efeito do outro estímulo. A aprendizagem latente ocorre quando, depois de oferecido o estímulo condicionado, o estímulo não condicionado (reforço positivo ou negativo) não é muito claro ou não é imediato. Para entendermos melhor esses tipos de aprendizagem, vamos exemplificar com alguns experimentos. Nesses experimentos vamos usar ratos e expor esses ratos a estímulos condicionados (luz e uma bola vermelha) e depois apresentamos um estímulo não condicionado (odor de gato). Agora, vamos dividir esses experimentos em grupo 1, grupo 2, grupo 3 e grupo 4. No grupo 1, apresentamos aos ratos apenas a bola vermelha seguido do odor de gato. Passado algum tempo, o rato é condicionado a se esconder quando apresentamos somente a bola vermelha. 29 PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II No grupo 2, apresentamos aos ratos tanto a bola vermelha quanto a luz, sendo que esses dois estímulos são apresentados ao mesmo tempo e, posteriormente, apresentamos o odor de gato. Depois comparamos as respostas individualmente, ou seja, só apresentamos a bola vermelha ou só a luz. Se a resposta varia entre esses dois estímulos, em que os ratos respondem melhor à bola vermelha ou respondem melhor à luz, temos um caso de sombreamento. No terceiro grupo, os ratos aprendem primeiro a associar a bola vermelha com o odor do rato. Mais para frente, adicionamos também a luz. Esse experimento difere do grupo 2, em que os ratos já eram expostos a ambos os estímulos simultaneamente e, no grupo 3, primeiro os ratos associam um estímulo e depois adicionamos o segundo estímulo. Depois, comparamos as respostas com os estímulos individuais novamente. Se os ratos só responderem à bola vermelha e não à luz, temos um caso de aprendizagem inibitória, em que um estímulo bloqueia outro estímulo. No grupo 4, nós vamos apenas mostrar a bola vermelha aos ratos sem depois mostrar o odor do gato por um longo período de tempo. Depois, em algum momento, nós começamos a mostrar a bola vermelha e, em seguida, o odor do gato. Com isso, nós vemos que os ratos demoram mais para aprender a associar a bola vermelha ao perigo do que os animais do grupo 1, mostrando então um caso de aprendizagem latente. Além do condicionamento clássico de Pavlov, existe também o condicionamento operante ou condicionamento instrumental. Esse tipo de condicionamento também envolve um ou mais estímulos que são reforçados ou suprimidos pela apresentação de um ou mais reforços. A diferença entre o condicionamento clássico e o condicionamento operante é que, no condicionamento operante, o animal deve realizar uma ação ativamente. Um clássico exemplo do condicionamento operante já foi citado anteriormente neste material, que é a caixa de Skinner (Figura 2). Quando colocamos um animal (geralmente um rato ou um pombo) dentro da caixa de Skinner, ele deve aprender que, ao acionar uma alavanca, ele receberá uma recompensa (comida ou água). O que faz o animal sempre executar a ação é o que o pesquisador Edward Thorndike chamou de “lei do efeito”, em que o animal somente executará a ação se dela surgir um efeito positivo (comida, água, entre outros). Se, ao contrário do efeito positivo, o animal acionasse a alavanca e recebesse um choque, o animal aprenderia com o tempo que ele não deve acionar a alavanca. Quando treinamos os nossos cachorrinhos a sentar e depois damos a ele um biscoitinho, estamos realizando um condicionamento operante. O cachorro tem que executar uma ação (sentar) para receber a recompensa (reforço positivo). 30 UNIDADE II │ PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS Mas até agora nós apenas falamos sobre comportamentos de animais realizados frente a experimentos em laboratórios. E no ambiente animal, o que os animais aprendem? No ambiente natural, um elefante aprenderia a subir na árvore ou a caçar uma zebra? É claro que não, não é mesmo? No ambiente natural é de se esperar que o animal aprenda os comportamentos que são essenciais à sua sobrevivência e também à propagação de sua espécie (reprodução). Assim sendo, o repertório de comportamento que o animal exibe reflete não só as condições de sobrevivência e reprodução, mas refletem também essas condições no ambiente em que o animal vive. Assim sendo, cada comportamento aprendido pode ser moldado pela seleção natural. Quando o conceito de seleção natural e o ambiente que o animal vive entram em jogo, nós falamos, então, de um modelo ecológico de aprendizagem. Figura 4. Fotografia de um rato dentro de uma caixa de Skinner. Fonte: Dugatkin, 2013. Para entendermos o modelo ecológico de aprendizagem, vamos citar um experimento realizado pelo cientista John Garcia e seu colega na década de 1960 (GARCIA et al., 1966). Eles realizaram um experimento condicionante com ratos. Nesse experimento, os cientistas ofereceram aos ratos: » estímulos condicionados: › água associada com luz e barulho e › água associada com um gosto ruim. 31 PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II » estímulos não condicionados: › toxina (o que deixava os ratos doentes) e › choque (o que causava dor nos ratos). Assim sendo, os experimentos foram conduzidos dando água com luz e barulho aos ratos seguido pela toxina ou pelo choque ou então dando água com gosto ruim aos ratos seguido da toxina ou do choque. Os ratos associaram facilmente a água com gosto ruim com a toxina, ou seja, eles evitavam beber a água com gosto ruim quando seria seguido pela toxina. Da mesma forma, os ratos evitavam beber a água associada com luz e barulho quando era seguido pelo choque. O contrário não era associado pelos ratos. Quando era oferecida a água associada com luz e barulho, os ratos não associavam com a toxina e continuavam a beber a água. E, quando era oferecida a água com gosto ruim seguido pelo choque, os ratos também não deixavam de beber a água. Por que os ratos faziam a associação entre a água com gosto ruim e a toxina e não faziam a associação com a água com luz e barulho e a toxina? A resposta é simples: adaptação! De alguma forma a seleção natural favorece a associação entre um gosto ruim e ficar doente, uma vez que é comum comer uma coisa estragada e ficar doente. Assim como a dor de um choque é mais facilmente associada com algum barulho ou pista visual, uma vez que a dor pode vir de uma mordida de um predador (que foi previamente visto ou ouvido). No ambiente natural, portanto, as informações aprendidas pelos animais são informações que são relevantes à sua sobrevivência e que podem ser associativas com o ambiente em que vivem. Os animais aprendem o que podem ou não comer, onde podem ou não dormir, quais predadores são perigosos e como escapar deles, entre outros comportamentos. Outro fator importante do estudo da aprendizagem animal é a memória, pois é através da memória que ocorre o armazenamento de informações adquiridas em uma experiência prévia e ao acessar novamente essa experiência, o animal repete ou não o mesmo comportamento. O estudo da memória em animais é extremamente complicado, pois não sabemos se o animal esqueceu a informação previamente armazenada, ou se ele agora está exibindo um novo comportamento, ou apenas ignorando a informação armazenada. Portanto, o estudo da memória representa outro desafio para os estudiosos do comportamento animal. Para saber mais sobre estudose experimentos sobre a memória e os processos cognitivos animais, acesse o link: <http://www.ib.usp.br/~rpavao/memoria. pdf>. http://www.ib.usp.br/~rpavao/memoria.pdf http://www.ib.usp.br/~rpavao/memoria.pdf 32 CAPÍTULO 2 Ritmos biológicos Todos os processos biológicos possuem ciclicidade. Em outras palavras, os processos biológicos são recorrentes, eles ocorrem em eventos sequenciais que se repetem em intervalos regulares. Quando dizemos processos biológicos, estamos nos referindo desde os eventos dentro de uma célula, dos órgãos e os sistemas de um organismo, até comportamentos exibidos por diferentes populações de uma ou várias espécies. Nesse capítulo, nós utilizaremos alguns exemplos de estudos realizados com plantas, que foram os primeiros organismos nos estudos pioneiros de ritmos biológicos. Posteriormente, veremos alguns exemplos de ritmos biológicos nos animais. Devido à importância dos ritmos biológicos, existe uma área da ciência que é dedicada para o estudo dos mecanismos das alterações tanto fisiológicas, quanto comportamentais decorrentes dos ritmos biológicos, conhecida como Cronobiologia. Os ritmos biológicos são as oscilações nos sistemas biológicos que se repetem regularmente. Essas oscilações podem ocorrer tanto como respostas ao ambiente quanto no próprio sistema endógeno do animal. Quando os ritmos biológicos ocorrem endogenamente, eles são chamados de sistemas de temporização. Tanto os ciclos endógenos (ou sistemas de temporização) quanto os ciclos ambientais possuem períodos variados de duração e, consequentemente, possuem diferentes classificações: » Ritmos circadianos: apresentam ciclos com que tem duração em torno de 24 horas, mas que podem apresentar duração entre 20 a 28 horas. » Ritmos ultradianos: apresentam ciclos menores do que 20 horas. Geralmente os ciclos ultradianos estão relacionados aos sistemas de temporização (endógenos), podendo ser os ciclos dos níveis hormonais, por exemplo. » Ritmos infradianos: apresentam períodos maiores do que 28 horas. » Ritmos circaseptanos: apresentam períodos de sete dias. » Ritmos circamensais: apresentam períodos de 30 dias. » Ritmos circanuais: apresentam períodos de 365 dias. 33 PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II As primeiras observações sobre os ritmos biológicos foram realizadas em 1729 pelo francês Jean Jacques De Marian. Ele observou os movimentos de fototropismo de uma espécie de planta Mimosa. Essa espécie de planta permanece com suas folhas abertas quando estão expostas à luz, e fecham as folhas na ausência de luz (Figura 5). O dito popular diz que essa planta “dorme” durante a noite. De Marian observou que os movimentos de abrir e fechar das folhas eram mantidos mesmo quando não existia o ciclo de presença e ausência de luz. Figura 5. A espécie de planta Mimosa quando se encontra aberta (esquerda) e quando se encontra fechada (direita). Fonte: <https://blogdoprofh.wordpress.com/2013/09/21/evidencias-de-um-criador-o-complexo-mecanismo-celular-das- plantas-para-com-estimulos-externos/>. A continuidade do movimento da planta Mimosa mesmo na ausência do estímulo ambiental (presença e ausência de luz) demonstra a existência de um ciclo endógeno na planta, chamado de ritmo de livre-curso. A existência dos ritmos de livre-curso também está presente em nós. Vamos supor que hoje você faça uma viagem para o Japão. Ao chegar lá, você terá dificuldades em se adaptar ao fuso horário, uma vez que durante o dia no Brasil é noite no Japão e vice- versa. Assim sendo, durante a noite você estará acordado e durante o dia você estará sonolento. Demoraria alguns dias até você se adaptar, tudo por conta do ritmo de livre- curso. Em alguns casos, os ciclos endógenos e os ciclos ambientais não são independentes entre si, apresentando uma sincronização entre ambos. Essa sincronização pode ocorrer por meio de dois mecanismos (TOMOTAMI; ODA, 2012): » Arrastamento: ocorre quando os ciclos ambientais vão gradativamente alterando os ciclos endógenos. É o que acontece, por exemplo, quando um animal está adaptado a ritmos circadianos de 12 horas de luz e https://blogdoprofh.wordpress.com/2013/09/21/evidencias-de-um-criador-o-complexo-mecanismo-celular-das-plantas-para-com-estimulos-externos/ https://blogdoprofh.wordpress.com/2013/09/21/evidencias-de-um-criador-o-complexo-mecanismo-celular-das-plantas-para-com-estimulos-externos/ 34 UNIDADE II │ PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS 12 horas de escuro. Com o passar as estações, a duração do dia vai diminuindo, passando a ser 10 horas de luz e 14 horas de escuro, 8 horas de luz e 16 horas de escuro e assim por diante. Assim sendo, ocorre um “arrastamento” do ciclo endógeno perante o ciclo ambiental. » Mascaramento: no mascaramento, um ou vários estímulos podem alterar o ritmo biológico endógeno. O mascaramento difere do arrastamento por ser uma ação direta do ambiente em cima do ritmo endógeno. Por exemplo, uma mudança de temperatura durante o dia pode forçar um animal diurno a exercer algumas atividades durante a noite, quando a temperatura estará ideal para essas atividades. Assim sendo, a temperatura inibiu (mascarou) o ritmo endógeno do animal. Entretanto, além da influência de fatores ambientais, os ritmos endógenos podem também apresentar influências de fatores genéticos. Em 1935, Erwin Bunning realizou um experimento com plantas de feijão, que também apresentam movimentação foliar. Ela utilizou diferentes plantas que apresentavam diferentes períodos de movimentação foliar, cruzando essas espécies entre si. Do cruzamento, resultaram plantas que apresentavam períodos intermediários entre as plantas parentais. Assim sendo, Bunning demonstrou que a movimentação foliar nas plantas de feijão também apresenta determinação genética. As considerações atuais na Cronobiologia levam em conta tanto os ciclos endógenos (e a influência genética) de um animal, bem como os ciclos ambientais em que o animal está inserido. A maioria dos estudos que investigam os mecanismos dos ritmos biológicos é feita com ritmos circadianos, entretanto, existem diversos outros estudos com ritmos com maior duração, que levam em conta toda uma relação existente entre os mecanismos endógenos e ambientais na modulação dos ritmos biológicos e também do desenvolvimento de um indivíduo (crescimento, amadurecimento, envelhecimento), bem como de uma população e até mesmo de uma espécie ao longo do tempo (relações filogenéticas). Para ter acesso a mais informações e experimentos relacionados à Cronobiologia, acesse o link: <http://www.ib.usp.br/revista/volume9f3>. Em relação aos animais, seguindo Tomotani e Oda (2012), as atividades geralmente se concentram em um período do dia. Em outras palavras, um animal não fica em atividade o tempo todo, apresentando períodos alternados de descanso e de atividade. Assim sendo, dependendo do período de atividade de um animal, ele pode ser classificado como animal noturno, animal diurno ou animal crepuscular. http://www.ib.usp.br/revista/volume9f3 35 PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS │ UNIDADE II Um animal noturno é um animal que apresenta suas atividades durante a noite, um animal diurno é um animal que apresenta suas atividades durante o dia, enquanto que um animal crepuscular possui as atividades durante o crepúsculo. O período de atividade de um animal está relacionado com adaptações na fisiologia, na morfologia e também no comportamento do animal, sendo que essas adaptações estão relacionadas justamente com os desafios que o ambiente fornece durante os períodos de atividade. Por exemplo, durante o dia a temperatura pode ficar muito elevada em algumas regiões do mundo. Assim, os animais diurnos, tanto os endotérmicos, quanto os ectotérmicos possuem adaptações para manter a homeostase diante do desafio das temperaturas elevadas. Os animais noturnos enfrentam os desafios da iluminação limitada, portanto, eles possuem adaptações quepermitem se localizar no escuro. Porém, existem algumas espécies de animais que não apresentam um período de atividade definido, podendo, em algumas épocas, apresentar atividades noturnas e, em outras épocas, apresentar atividades diurnas. É o caso, por exemplo, de primatas do gênero Aotus e do gênero Eulemur. Esses animais não apresentam um período definido de atividade, sendo que em algumas épocas suas atividades estão concentradas no período noturno, enquanto que em outras épocas suas atividades estão concentradas em período diurno (ERKERT; CRAMER, 2006). Assim sendo, esses animais são classificados como catêmeros. Portanto, os animais catêmeros são aqueles que não apresentam período definido de atividade. Além disso, existem animais que podem mudar o período de atividade devido a alguma mudança ambiental. E o caso de algumas aves migratórias. Essas aves migratórias são diurnas, porém, na época da migração, elas passam a ser noturnas, executando seus voos migratórios durante a noite (BERTHOLD, 2001). Alguns animais podem ainda mudar o período de atividades devido à influência das atividades humanas. Uma das atividades humanas que pode ter levado à mudança do período de atividades de alguns animais diurnos foi a caça. O urso marrom e o coiote são animais diurnos, mas em locais em que ocorria a caça desses animais, os mesmos passaram a apresentar atividade noturna. Entretanto, o estudo dos ritmos biológicos de animais não é uma tarefa fácil. Para se ter acuidade científica sobre o ritmo biológico de um animal, é necessário que os pesquisadores observem os animais em intervalos regulares durante muitos dias e noites seguidas. Você já deve imaginar que esse trabalho de campo não é fácil, como citamos 36 UNIDADE II │ PROCESSOS COGNITIVOS E RITMOS BIOLÓGICOS anteriormente. O animal pode se esconder em tocas, por exemplo, o que dificultaria a observação de suas atividades. Alguns pesquisadores tentam contornar os desafios de se estudar os animais em seus ambientes naturais levando-os para um laboratório. A investigação dos ritmos biológicos de algumas espécies em laboratório acaba que funcionando bem, como no caso de camundongos e ratos. Assim sendo, essas duas espécies acabaram sendo modelos muito utilizados para estudos dos ritmos biológicos. Entretanto, algumas espécies de animais quando inseridas dentro do ambiente de laboratórios, acabam executando padrões de atividades diferentes do que os observados em ambientes naturais. É o caso de duas espécies de roedores da família Muridae, as quais apresentam atividades durante o dia em ambiente natural, mas em ambiente de laboratório, seu período de atividade muda. Assim sendo, quais são as vantagens da existência dos ritmos biológicos? Os ritmos biológicos fornecem aos animais a antecipação de certos eventos. Assim, o animal consegue organizar recursos e atividades antes mesmo de elas serem necessárias. Por exemplo, próximo à estação reprodutiva de uma espécie, as fêmeas já podem começar a produzir os óvulos e os machos já podem começar a produzir espermatozoides para que, assim, com a chegada da estação reprodutiva, os gametas já estejam prontos para serem utilizados. Outro exemplo é o que ocorre com algumas espécies de formigas da América do Norte que coletam e estocam alimento durante a primavera e o verão. Com a chegada do outono e inverno, não há mais alimento disponível, mas as formigas têm o seu estoque de alimento para a sua sobrevivência. 37 UNIDADE III PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS Quando estão em seu ambiente natural, os animais apresentam um repertório muito extenso de comportamentos naturais. Nessa unidade, seguindo Yamamoto e Volpato (2011), Dugatkin (2013) e Goodenough et al. (2001), nós veremos os principais comportamentos exibidos pelos animais, os quais são essenciais para a sua sobrevivência. CAPÍTULO 1 Comunicação animal Praticamente todos os animais se comunicam. A comunicação está existente até mesmo em espécies solitárias, uma vez que os indivíduos necessitam encontrar, por meio da comunicação, um parceiro sexual, além de comunicar aos outros indivíduos de sua espécie os limites de seu território. Geralmente, a comunicação animal não está restrita aos indivíduos de uma mesma espécie. Por exemplo, duas espécies que possuem predadores comuns podem aprender o sinal de alerta que uma das espécies dá para seus coespecíficos e também se beneficiar dessa comunicação de que o predador está por perto. A habilidade dos animais de se comunicarem uns com os outros é com certeza o fundamento do comportamento social. A comunicação animal envolve basicamente três elementos: um sinal emitido, o emissor desse sinal e o receptor desse sinal. O que deve ser levado em conta na comunicação animal é que a emissão do sinal geralmente traz benefícios para o receptor e, algumas vezes, pode trazer benefícios para o receptor. Por exemplo, imagine um pequeno roedor andando à noite no chão entre folhas secas. As folhas secas estão encobrindo o roedor, protegendo-o de ser visto por algum predador que possa estar por perto. Mas, não podemos esquecer o fato de que, por menor que o roedor seja, conforme ele anda pelas folhas secas, ele está emitindo ruídos. Uma coruja 38 UNIDADE III │ PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS poderia facilmente ouvir esses ruídos e então encontrá-lo e devorá-lo. Nessa situação, nós temos um sinal omitido (ruído das folhas secas), o emissor (roedor) e o receptor (coruja). Mas esse com certeza não foi um caso de comunicação animal, uma vez que o pequeno roedor de forma alguma pretendia comunicar à coruja a sua localização. Assim sendo, nesse caso, não ocorreu nenhum benefício para o emissor do sinal. Outro fator importante que temos que levar em consideração na comunicação animal é que a emissão do sinal ocorre dentro de um ambiente. Isso parece óbvio, mas é importante lembrarmos que cada ambiente possui suas características distintas que podem ou não interferir na propagação do sinal desde o emissor até o receptor. Dentro da comunicação animal existem vários tipos de sinais: sinais acústicos, sinais visuais, sinais tácteis, sinais químicos e sinais elétricos. Cada tipo de sinal tem vantagens e desvantagens relativas com o ambiente e com a intenção do sinal a ser emitido. Sinais acústicos Os sinais acústicos, como o nome diz, envolve a comunicação por meio do som. Para isso, é necessário que o animal produza o som. A produção do som pode ocorrer através de órgãos especializados, como a laringe nos mamíferos e a siringe nas aves. Os sons também podem ser produzidos por meio do atrito entre partes do corpo, como ocorre nos insetos, quando esses animais esfregam as patas entre si ou as patas no abdome, como no caso da cigarra. A produção de sons por meio do atrito de partes corporais nos insetos é conhecida como estridulação. Além disso, os animais podem também produzir sons atritando partes do corpo no substrato ou em algum componente disponível no meio ambiente. O som é uma onda que se propaga em meio material (ar ou água). Como toda onda, o som possui amplitude, comprimento e frequência. Nós humanos conseguimos ouvir apenas uma faixa de frequência do som, que vai de 20 a 20.000 Hz. Sons com frequências abaixo de 20 Hz, são classificados como infrassons. Sons com frequências acima de 20.000 Hz, são classificados como ultrassons. Assim sendo, existem muito mais sons na natureza do que a nossa “vã biologia” é capaz de ouvir! Algumas espécies se comunicam por ultrassom, como os morcegos, alguns insetos, alguns cetáceos e alguns roedores. Outras espécies podem se comunicar através do infrassom, como os pombos, alguns cetáceos e os elefantes. Os infrassons produzidos pelos elefantes ainda possuem a interessante caraterística de gerar uma vibração no substrato que pode se propagar por quilômetros e ser percebida por outro elefante através das patas. 39 PRINCIPAIS COMPORTAMENTOSEXIBIDOS PELOS ANIMAIS │ UNIDADE III Devido à sua alta frequência, o ultrassom é mais energeticamente custoso de ser produzido. Além disso, os sons de baixa frequência conseguem se propagar por distâncias mais longas e atravessar obstáculos com muito mais facilidade do que os sons de alta frequência. A velocidade de propagação do som no ar é de 300 metros a cada segundo e na água a propagação do som é cinco vezes maior. Portanto, um som produzido com a mesma intensidade se propaga muito mais rápido em ambiente aquático do que em ambiente terrestre. Os animais que utilizam sinais acústicos conseguem então se comunicar em longas distâncias. Além disso, o som pode ser modulado pelo animal, alterando a sua frequência e sua amplitude, resultado numa complexidade de repertórios de sons, sendo que cada tipo de som pode servir para comunicar intenções diferentes. Na utilização do som como meio de comunicação, ambientes com baixa visibilidade não são um problema. Um exemplo de comunicação por sinal acústico que salienta a complexidade da modulação do som é a espécie de macaco Chlorocebus pygerythrus, o “vervet monkey” (Figura 6). Esses macacos produzem diferentes sons de alerta para diferentes predadores: 1. Quando um indivíduo avista um leopardo, ele emite um tipo de som. Os companheiros de seu bando respondem rapidamente, subindo nas árvores e olhando para o chão, procurando por sinais do predador. 2. Quando um indivíduo avista uma águia predadora, ele emite outro tipo de som. Seus companheiros respondem descendo das árvores e se escondendo entre a vegetação do substrato e ficam olhando para cima, vigiando a águia. 3. Quando um indivíduo avista uma serpente, ele emite um som também diferente, e os seus companheiros respondem se apoiando em uma postura bípede e olhando para o chão, procurando pela serpente avistada. Como podemos observar, os sinais acústicos e a sua modulação são de extrema importância para essa espécie. Os indivíduos avisam o bando inteiro sobre a presença de um predador por perto e, para cada tipo de predador, a reação do bando exige uma diferente estratégia de proteção. 40 UNIDADE III │ PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS Figura 6. Exemplar de “vervet monkey”, Chlorocebus pygerythrus. Fonte: <https://www.monkeyworlds.com/vervet-monkey/>. Os sinais visuais De uma maneira geral, os sinais visuais são mais complexos que os sinais acústicos. A comunicação por meio do uso de sinais visuais pode ser produzida de muitas maneiras: » por uma postura corporal; » por padrões de coloração corporal; » por movimentos coordenados do corpo; » pela expressão facial (primatas); » pela disposição intencional de itens disponíveis no ambiente (p. ex.: construção de ninhos). O grande complicador no uso de sinais visuais para a comunicação é que o receptor deve estar prestando atenção no emissor. Nos sinais acústicos, por exemplo, o receptor pode não estar olhando para o emissor e mesmo assim receber o sinal. Além disso, os sinais acústicos requerem um mínimo de iluminação do ambiente, do contrário, o receptor não vai conseguir perceber o sinal. Assim sendo, é muito mais comum a comunicação por sinais visuais entre espécies diurnas do que espécies noturnas. A comunicação visual também requer que a distância entre o emissor e o receptor seja curta, senão o receptor simplesmente não irá enxergar o emissor ou não vai enxergar a 41 PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS │ UNIDADE III mensagem que o receptor quer transmitir. Além disso, os sinais visuais possuem curta duração. O ambiente pode interferir nos sinais visuais, encobrindo-os. É o que acontece em florestas com vegetação muito densa, por exemplo. Portanto, os sinais visuais são mais adequados para a comunicação entre indivíduos que vivem em locais onde o ambiente não encobre os sinais e onde os indivíduos se localizam próximos uns aos outros. Entretanto, a comunicação por meio dos sinais visuais é bem precisa. O receptor vai saber exatamente a localização do emissor, além disso, a transmissão da mensagem é extremamente rápida. Um clássico exemplo da comunicação visual vem do caranguejo chama-maré, do gênero Uca (Figura 7). Os machos apresentam uma das garras modificadas, sendo muito maior do que a outra. Na estação reprodutiva, os machos constroem tocas na praia e ficam em frente das suas tocas movimentando suas garras para cima e para baixo. Esse movimento é um sinal visual para a fêmea, que vai se aproximar do macho, avaliando-o e avaliando também a sua toca, para ver se copula ou não com esse macho. O macho fica insistentemente fazendo o movimento com suas garras mesmo quando não tem nenhuma fêmea por perto. Porém, quando uma fêmea se aproxima, o macho aumenta a frequência de seus movimentos. Essa é uma forma do macho economizar energia, mas sem deixar de emitir a sua mensagem por meio de um sinal visual. Figura 7. Exemplar de um caranguejo chama-maré. Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Uca#/media/File:Fiddler_crab.jpg>. Outros sinais visuais são aqueles que se referem às ameaças. Por exemplo, um lobo quando está ameaçando mostra os dentes e também pode eriçar alguns pelos, na 42 UNIDADE III │ PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS EXIBIDOS PELOS ANIMAIS tentativa de parecer de maior porte. Alguns tubarões podem curvar a coluna vertebral, formando uma “corcunda”, sendo este também um sinal visual de ameaça. Existe uma espécie de peixe (Xyrauchen texanus) que habita o Rio Colorado, um rio que possui águas muito turvas, dificultando a visão e, por consequência, dificulta a comunicação por meio de sinais visuais. Entretanto, em águas rasas, cada indivíduo dessa espécie ocupa um pequeno espaço. Assim, com a aproximação de outro indivíduo da mesma espécie, o indivíduo que já está ocupando o território vira seus olhos para baixo. Assim, o olho reflete a luz solar na parte branca (globo ocular) do olho, e o olho acaba virando um farolete, indicando que aquele território já possui um habitante. Essa foi uma forma que essa espécie de peixe encontrou para aproveitar a luz solar e driblar a dificuldade de comunicação por sinais visuais através das águas turvas do Rio Colorado. Sinais químicos A comunicação pelos sinais químicos requer tanto a habilidade da produção de componentes químicos que enviem uma mensagem do emissor, quanto um aparato do receptor para receber e interpretar esses componentes químicos, sendo que a recepção dos sinais químicos podem ocorrer tanto pelo paladar, quanto pelo olfato. Os sinais químicos são geralmente produzidos pelo emissor por glândulas especializadas, mas também podem ser produzidos por feromônios presentes na urina, fezes e suor. A recepção desses sinais químicos pelo receptor ocorre pelo olfato e/ou paladar, e algumas espécies possuem um órgão especializado na detecção de componentes químicos no ar (ou água): o órgão vomeronasal ou órgão de Jacobson. Os sinais químicos podem transmitir muitas informações sobre o emissor: sua espécie, seu sexo, seu estágio reprodutivo, seu nível de estresse e ansiedade. Além disso, os sinais químicos podem marcar territórios e enunciar a presença de predadores ou presas. As substâncias químicas produzidas pelo emissor podem ser compostas por moléculas químicas bem simples (como nos insetos) até moléculas químicas arranjadas em estruturas extremamente complexas. Muitas vezes, devido à sua alta complexidade, essas substâncias são chamadas de mosaicos de odor. Essa alta complexidade pode exigir um receptor específico, o que configura uma das vantagens da comunicação química, que é a percepção do sinal apenas por um receptor específico, e não, por exemplo, por um predador. A percepção dos sinais químicos pelo receptor pode ser chamada de quimiorrecepção. Existem dois tipos de quimiorrecepção: remota e por contato. Na quimiorrecepção remota, o sinal químico emitido pelo emissor é volátil, e pode ser emitida a longas 43 PRINCIPAIS COMPORTAMENTOS
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