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A autonomia dos entes está intimamente relacionada a quatro aspectos: → Organização: cada um dos entes federativos possuí uma instrução própria de organização, assim: ↪ União rege-se pela Constituição Federal. ↪ Estados-Membros por suas Constituições Estaduais ↪ Municípios por suas leis orgânicas. ↪ Distrito Federal, por sua vez, organiza-se, outrossim, por lei orgânica, embora não seja um município propriamente dito. → Legislativa: dentro de suas competências, cada ente federativo pode legislar sobre determinados assuntos.: ↪ União, legisla o Congresso Nacional ↪ Estados-Membros, as Assembleias Legislativas ↪ Municípios, as Câmaras Municipais, responsáveis pela atividade legiferante (de produção das leis). ↪ Governo: cada ente federativo possuí, ainda, a autonomia de governo, ou seja, possui representação em cada uma das esferas sendo que: ↪ União, governa o (a) Presidente da República, ↪ Estados, os governadores ou governadoras, ↪ Municípios prefeitas ou prefeitos. ↪ O Distrito Federal, por sua vez, é governado por um governador de estado, e não por um prefeito. ↪ Administrativa: as competências atribuídas pela Constituição Federal para cada um dos entes administrativos podem ser instrumentalizadas por estes da forma como melhor lhes convier. Essa autonomia inclui a possibilidade de criar autarquias ou entes administrativos, bem como, se preferir, gerir os assuntos de estado por si só. Ou seja, cada ente federativo tem autonomia para gerir sua administração nos limites do que estabelece o texto Constitucional. Dessa forma, vemos que o modelo federativo estabelece uma cooperação entre os entes sem que haja, contudo, usurpação da autonomia daqueles. Há a União, que responde pelo país como um todo, mas dentro de sua organização, há espaço para que cada ente possa se posicionar política e administrativamente em acordo às suas peculiaridades. ● OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA FEDERATIVA NO BRASIL Os objetivos fundamentais (e em concursos já foi necessário conhecê-los, em contraposição aos fundamentos) vêm relacionados no art. 3.º da CF/88. Como advertiu Celso Bastos, “a ideia de objetivos não pode ser confundida com a de fundamentos, muito embora, algumas vezes, isto possa ocorrer. Os fundamentos são inerentes ao Estado, fazem parte de sua estrutura. Quanto aos objetivos, estes consistem em algo exterior que deve ser perseguido”. Federativos) Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - Construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - Garantir o desenvolvimento nacional; III - Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A União Federal mais os Estados-Membros, o Distrito Federal e os Municípios compõem a República Federativa do Brasil, o Estado federal, o país Brasil. A União, segundo José Afonso da Silva, “... se constitui pela congregação das comunidades regionais que vêm a ser os Estados-membros. Então quando se fala em Federação se refere à união dos Estados. No caso brasileiro, seria a união dos Estados, Distrito Federal e Municípios. Por isso se diz União Federal...”. Assim, uma coisa é a União — unidade federativa —, ordem central, que se forma pela reunião de partes, através de um pacto federativo. Outra coisa é a República Federativa do Brasil, formada pela reunião da União, Estados-Membros, Distrito Federal e Municípios, todos autônomos, nos termos da CF. A República Federativa do Brasil, portanto, é soberana no plano internacional (cf. art. 1.º, I), enquanto os entes federativos são autônomos entre si! A União possui “dupla personalidade”, pois assume um papel internamente e outro internacionalmente. ↪ Internamente, é uma pessoa jurídica de direito público interno, componente da Federação brasileira e autônoma na medida em que possui capacidade de auto- organização, autogoverno, autolegislação e autoadministração, configurando, assim, autonomia financeira, administrativa e política (FAP). ↪ Internacionalmente, a União representa a República Federativa do Brasil. A soberania é da República Federativa do Brasil, representada pela União Federal. ● BENS DA UNIÃO Enquanto pessoa jurídica, como qualquer outra, a União é titular de direitos reais como pessoais (CC, art. 99, III). Os bens da União estão arrolados no art. 20 e incisos ↪ Os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos. ↪ As terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental. ↪ Os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais. ↪ As ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal. ↪ O mar territorial. ↪ Os terrenos de marinha e seus acrescidos. ↪ Os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva. ↪ Os potenciais de energia hidráulica. ↪ Os recursos minerais, inclusive os do subsolo ↪ As cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos. ↪ As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios. ● COMPETÊNCIAS DA UNIÃO FEDERAL → Competência Não Legislativa da União Competência não legislativa, como o próprio nome ajuda a compreender, determina um campo de atuação político- administrativa, tanto é que são também denominadas competências administrativas ou materiais, pois não se trata de atividade legiferante. Regulamenta o campo do exercício das funções governamentais, podendo tanto ser exclusiva da União (marcada pela particularidade da indelegabilidade) como comum (também chamada de cumulativa, concorrente, administrativa ou paralela) aos entes federativos, assim esquematizadas: ↪ Competência exclusiva: onde somente a União pode atuar, sem poder delegar o exercício da função a outros (art. 21 da CF/88) ↪ Competência comum (cumulativa, concorrente, administrativa ou paralela): trata-se de competência não legislativa comum aos quatro entes federativos. Em relação à competência comum, o art. 23, parágrafo único, estabelece que leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. Como se trata de competência comum a todos, ou seja, concorrente no sentido de todos os entes federativos poderem atuar, o objetivo de referidas leis complementares é evitar não só conflitos como também a dispersão de recursos, procurando estabelecer mecanismos de otimização dos esforços. → Competência Legislativa da União Como a terminologia indica, trata-se de competências, constitucionalmente definidas, para elaborar leis. Elas foram assim definidas para a União Federal: ↪ Competência privativa: art. 22 da CF/88. Apesar de ser competência privativa da União, poderiam aquelas matérias ser regulamentadas também por outros entes federativos? Sim, de acordo com a regra do art. 22, parágrafo único, que permite à União, por meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias previstas no referido art. 22. Entendemos que essa possibilidade estende-se, também, ao Distrito Federal, por força do art. 32, § 1.º, da CF/88. Finalmente, havendo opção política e discricionária, referida delegação não poderá ser direcionada a um único Estadodeterminado, mas deverá ser para todos os Estados e o DF (no exercício de sua competência estadual). ↪ Competência concorrente: o art. 24 define as matérias de competência concorrente da União, Estados e Distrito Federal. Em relação àquelas matérias, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. Em caso de inércia da União, inexistindo lei federal elaborada pela União sobre norma geral, os Estados e o Distrito Federal (art. 24, caput, c/c o art. 32, § 1.º) poderão suplementar a União e legislar, também, sobre as normas gerais, exercendo a competência legislativa plena. Se a União resolver legislar sobre norma geral, a norma geral que o Estado (ou Distrito Federal) havia elaborado terá a sua eficácia suspensa, no ponto em que for contrária à nova lei federal sobre norma geral. Caso não seja conflitante, passam a conviver, perfeitamente, a norma geral federal e a estadual (ou distrital). Observe-se tratar de suspensão da eficácia, e não revogação, pois, caso a norma geral federal que suspendeu a eficácia da norma geral estadual seja revogada por outra norma geral federal, que, por seu turno, não contrarie a norma geral feita pelo Estado, esta última voltará a produzir efeitos (lembre-se que a norma geral estadual apenas teve a sua eficácia suspensa). ↪ Competência tributária expressa: art. 153, estudar especialmente em direito tributário). ↪ Competência tributária residual: art. 154, I, instituição, mediante lei complementar, de impostos não previstos no art. 153, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados na CF. ↪ Competência tributária extraordinária: art. 154, II, instituição, na iminência ou no caso de guerra externa, de impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. → : Não existe hoje, na prática, nenhum território federal. Contudo, a Constituição não veda sua existência, o que nos permite afirmar que, em determinado momento, poderá ocorrer, se assim for necessário. Antes da Constituição Federal de 1988 existiam três territórios federais no Brasil: Amapá, Roraima e Fernando de Noronha. Fernando de Noronha viria a ser incorporado ao estado de Pernambuco, e Amapá e Roraima se tornaram estados autônomos. ↪ Os territórios federais não são entes federativos: Sua administração é vinculada à União e, por isso, não têm autonomia de governo. Dessa forma, o governante do território federal é escolhido pelo Presidente da República, representante maior da União. ↪ As competências materiais exclusivas da União: encontram-se disciplinadas no artigo 21 da Constituição Federal, enquanto as competências concorrentes encontram-se no artigo 23, cuja transcrição seria inviável para a organização do trabalho. ↪ As competências legislativas exclusivas da União: encontram-se disciplinadas, por sua vez, no artigo 22, e as competências concorrentes com as de outros entes federativos no artigo 24. Os Estados federados são autônomos, em decorrência da capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação. Trata-se de autonomia, e não de soberania, na medida em que a soberania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Internamente, os entes federativos são autônomos, nos limites de suas competências, constitucionalmente definidas, delimitadas e asseguradas. Constituem pessoas jurídicas de direito público interno, autônomos, nos seguintes termos: → Auto-organização: (CF, art. 25, caput), a carta maior confere aos Estados-Membros o direito de se organizar em acordo com as suas próprias Constituições (Constituição Estadual), obviamente sempre dentro dos limites de competência estabelecidos também pela mesma Constituição Federal. → Autogoverno: (CF, arts. 27, 28 e 125) estabelecem regras para a estruturação dos “Poderes”: ↪ Legislativo: Assembleia Legislativa; ↪ Executivo: Governador do Estado; ↪ Judiciário: Tribunais e Juízes. → Autoadministração e autolegislação: (arts. 18 e 25 a 28) regras de competências legislativas e não legislativas, que serão oportunamente estudadas, diz respeito à autonomia do estado em gerir da forma que melhor lhe convier, sendo característico de sua própria natureza de ente federativo, explicitada na ideia da regência do Estado- Art. 18º A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. § 2º Os Territórios Federais integram a União, e sua criação, transformação em Estado ou reintegração ao Estado de origem serão reguladas em lei complementar. Membro por sua Constituição e suas leis, que delinearão o seu funcionamento ● BENS DOS ESTADOS-MEMBROS De acordo com o art. 26 da CF/88, incluem-se entre os bens dos Estados: ↪ As águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União; ↪ As áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros; ↪ As ilhas fluviais, lacustres não pertencentes à União; ↪ As terras devolutas não compreendidas entre as da União. ● COMPETÊNCIAS DOS ESTADOS-MEMBRO → Competência Não Legislativa dos Estados-Membros ↪ Competência comum (cumulativa, concorrente, administrativa ou paralela): trata-se de competência não legislativa comum aos quatro entes federativos, quais sejam, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, prevista no art. 23 da CF/88. ↪ Competência residual (remanescente ou reservada): são reservadas aos Estados as competências administrativas que não lhes sejam vedadas, ou a competência que sobrar (eventual resíduo), após a enumeração dos outros entes federativos (art. 25, § 1.º), ou seja, as competências que não sejam da União (art. 21), do Distrito Federal (art. 23), dos Municípios (art. 30, III a IX) e comum (art. 23). → Competência Legislativa dos Estados-Membros Como a terminologia indica, trata-se de competências, constitucionalmente definidas, para elaborar leis. Foram assim definidas para os Estados-Membros: ↪ Competência expressa: art. 25, caput, qual seja, a capacidade de auto-organização dos Estados-Membros, que se regerão pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios da CF/88. ↪ Competência residual (remanescente ou reservada): art. 25, § 1.º, toda competência que não for vedada está reservada aos Estados-Membros, ou seja, o resíduo que sobrar, o que não for de competência expressa dos outros entes e não houver vedação, caberá aos Estados materializar. ↪ Competência delegada pela União: art. 22, parágrafo único, como vimos, a União poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias de sua competência privativa prevista no art. 22 e incisos. Tal autorização dar-se-á por meio de lei complementar. ↪ Competência concorrente: art. 24, a concorrência para legislar dar-se-á entre a União, os Estados e o Distrito Federal, cabendo à União legislar sobre normas gerais e aos Estados, sobre normas específicas. ↪ Competência suplementar: art. 24, §§ 1.º a 4.º, no âmbito da legislação concorrente, como vimos, a União limita-se a estabelecer normas gerais e os Estados, normas específicas. No entanto, em caso de inércia legislativa da União, os Estados poderão suplementá-la, regulamentando as regras gerais sobre o assunto, sendo que, na superveniência de lei federal sobre norma geral, a aludida norma estadual geral (suplementar) terá a sua eficácia suspensa, no que for contrária à lei federal sobre normas gerais editadas posteriormente. Assim, poderíamos, conforme a doutrina, dividir a competência suplementar em duas, a saber: a) competênciasuplementar complementar: na hipótese de já existir lei federal sobre a matéria, cabendo aos Estados e ao Distrito Federal (na competência estadual) simplesmente completá-las. b) competência suplementar supletiva: nessa hipótese inexiste a lei federal, passando os Estados e o Distrito Federal (na competência estadual), temporariamente, a ter a competência plena sobre a matéria. ↪ Competência tributária expressa: art. 155, estudar especialmente em direito tributário. → ç Muito embora seja vedada a secessão, por atentar contra os princípios fundamentais do pacto federativo, a eventual criação de novos estados é prevista em nossa Constituição Federal. Art. 18. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. (...) § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, através de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. . Novos estados podem se formar por: ↪ Incorporação (fusão): ocorre quando dois estados ou mais se unem para formarem um só. Estado A + Estado B = Estado C ↪ Subdivisão (cisão): Ocorre quando um estado originário se divide em outros estados. Estado A = Estado B + Estado C ↪ Desmembramento: ocorre quando uma parte do estado originário se divide, surgindo um novo estado, sem que se extinga o original. Estado A = Estado A + Estado B Recentemente, houve uma proposta de desmembramento do estado do Pará em outros três estados, segundo a qual restaria o Pará, e passariam a existir dois novos estados-membros, o estado de Carajás, e o Estado de Tapajós. A medida não obteve sucesso, e manteve-se a estrutura original prevista na Constituição para o estado do Pará. → Plebiscito: por meio de plebiscito, a população interessada deverá aprovar a formação do novo Estado. Não havendo aprovação, nem se passará à próxima fase, na medida em que o plebiscito é condição prévia, essencial e prejudicial à fase seguinte. → Propositura do projeto de lei complementar: o art. 4.º, § 1.º, da Lei n. 9.709/98 estabelece que, em sendo favorável o resultado da consulta prévia ao povo mediante plebiscito, será proposto projeto de lei perante qualquer das Casas do Congresso Nacional; → Audiência das Assembleias legislativas: à Casa perante a qual tenha sido apresentado o projeto de lei complementar referido no item anterior compete proceder a audiência das respectivas Assembleias Legislativas (art. 4.º, § 2.º, da Lei n. 9.709/98, regulamentando o art. 48, VI, da CF/88). Observe-se que o parecer das Assembleias Legislativas dos Estados não é vinculativo, ou seja, mesmo que desfavorável, poderá dar-se continuidade ao processo de formação de novos Estados (ao contrário da consulta plebiscitária). → Aprovação pelo Congresso Nacional: após a manifestação das Assembleias legislativas, passa-se à fase de aprovação do projeto de lei complementar, proposto no Congresso Nacional, através do quórum de aprovação pela maioria absoluta, de acordo com o art. 69 da CF/88. Cabe alertar que o Congresso Nacional não está obrigado a aprovar o projeto de lei, nem o Presidente da República está obrigado a sancioná-lo. Ou seja, ambos têm discricionariedade, mesmo diante de manifestação plebiscitária favorável, devendo avaliar a conveniência política para a República Federativa do Brasil. O Município pode ser definido como pessoa jurídica de direito público interno e autônoma nos termos e de acordo com as regras estabelecidas na CF/88. Muito se questionou a respeito de serem os Municípios parte integrante ou não de nossa Federação, bem como sobre a sua autonomia. A análise dos arts. 1.º e 18, bem como de todo o capítulo reservado aos Municípios, leva-nos ao único entendimento de que eles são entes federativos, dotados de autonomia própria, materializada por sua capacidade de auto- organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação. Ainda mais diante do art. 34, VII, “c”, que prevê a intervenção federal na hipótese de o Estado não respeitar a autonomia municipal. Como já alertamos, trata-se de autonomia, e não de soberania, uma vez que a soberania é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Internamente, os entes federativos são autônomos, na medida de sua competência, constitucionalmente definida, delimitada e assegurada. → Auto-organização: (art. 29, caput) os Municípios organizam-se por meio de Lei Orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos na Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição. § 2º Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação. § 3º Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum. Art. 28. A eleição do Governador e do Vice- Governador de Estado, para mandato de quatro anos, realizar-se-á no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao do término do mandato de seus antecessores, e a posse ocorrerá em primeiro de janeiro do ano subsequente, observado, quanto ao mais, o disposto no art. 77. Constituição Federal, na Constituição do respectivo Estado e o preceituado nos incisos I a XIV do art. 29 da CF/88. → Autogoverno: elege, diretamente, o Prefeito, Vice- Prefeito e Vereadores (incisos do art. 29); quanto a competência, encontra-se disciplinada nos incisos seguintes do mesmo artigo da constituição, tanto no que tange ao executivo quanto ao legislativo. → Autoadministração e autolegislação: (art. 30) regras de competência que serão oportunamente estudadas. O STF, ao destacar a essência da autonomia municipal, estabeleceu que a autoadministração implica a capacidade decisória quanto aos interesses locais, sem delegação ou aprovação hierárquica (ADI 1.842, item 3 da ementa). Os municípios possuem grande autonomia política no Brasil. Desde o Império, quando as câmaras municipais detinham grande poder político e de determinação, muitas vezes mais definitivos que os mecanismos e ordens que emanavam dos poderes centrais do Império. Parte disso talvez se dê graças ao fato de que os municípios são, de fato, o ente federativo mais aproximado da população, onde a vida quotidiana acontece verdadeiramente, e por isso, muitas vezes, suas decisões e diretrizes são as que mais impactam na vida dos cidadãos. Os municípios encontram-se na terceira esfera de soberania, estando, de certa forma, submetidos aos limites do Estado ao qual pertencem, bem como à União, dentro de suas competências ● COMPETÊNCIAS DOS MUNICÍPIOS → Competência Não Legislativa dos Municípios ↪ Competência comum (cumulativa, concorrente, administrativa ou paralela): trata-se de competência não legislativa comum aos quatro entes federativos, quais sejam, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, prevista no art. 23 da CF/88. ↪ Competência privativa (enumerada): (CF, art. 30, III a IX) assim definida, compete aos Municípios: III — instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedadede prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei. IV — Criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual. V — Organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial. VI — Manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental. VII — Prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população. VIII — Promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano. IX — Promover a proteção do patrimônio histórico- cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual. → Competência Legislativa dos Municípios ↪ Competência expressa: (CF, art. 29, caput) qual seja, como vimos, a capacidade de auto-organização dos Municípios, através de lei orgânica. ↪ Competência do interesse local: (CF, art. 30, I) o interesse local diz respeito às peculiaridades e necessidades ínsitas à localidade. ↪ Competência suplementar: (CF, art. 30, II) estabelece competir aos Municípios suplementar a legislação federal e a estadual no que couber. “No que couber” norteia a atuação municipal, balizando-a dentro do interesse local. Observar ainda que tal competência se aplica, também, às matérias do art. 24, suplementando as normas gerais e específicas, juntamente com outras que digam respeito ao peculiar interesse daquela localidade. ↪ Competência plano diretor: (CF, art. 182, § 1.º) o plano diretor deverá ser aprovado pela Câmara Municipal, sendo obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes. Serve como instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana. ↪ Competência tributária expressa: art. 156, estudar especialmente em direito tributário. → Competência municipal para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição O STF analisou a competência municipal para legislar sobre a proibição de queimada em canaviais (RE586.224). No precedente em análise, de maneira inovadora, a Corte, por unanimidade, firmou a tese de que o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente com a União e Estado, no limite do seu interesse local e desde que tal regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (CF, art. 24, inciso VI, c/c 30, inc. I e II). Em igual perspectiva, o STF, em momento seguinte, entendeu a legitimidade e constitucionalidade de legislação municipal com base na qual se aplicam multas por poluição do meio ambiente, decorrente da emissão de fumaça por veículos automotores no perímetro urbano. Assim, a matéria é de competência concorrente (CF, art. 24, VI), sobre a qual a União expede normas gerais. Os Estados e o Distrito Federal editam normas suplementares e, na ausência de lei federal sobre normas gerais, editam normas para atender a suas peculiaridades. Por sua vez, os Municípios, com base no art. 30, I e II, da CF, legislam naquilo que for de interesse local, suplementando a legislação federal e a estadual no que couber. . → ç A criação de novos municípios encontra-se disciplinada no artigo 18, parágrafo 4º da Constituição Federal, que teve sua redação alterada pela Emenda Constitucional 15/1996, fixa as regras para a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios, nos seguintes termos e obedecendo às seguintes etapas: → Lei complementar federal: determinará o período para a mencionada criação, incorporação, fusão ou desmembramento de Municípios, bem como o procedimento (cf. ADI 2.702). → Estudo de viabilidade municipal: deverá ser apresentado, publicado e divulgado, na forma da lei, estudo demonstrando a viabilidade da criação, incorporação, fusão ou desmembramento de municípios; → Plebiscito: desde que positivo o estudo de viabilidade, far-se-á consulta às populações dos Municípios envolvidos (de todos os Municípios envolvidos, e não apenas da área a ser desmembrada, como vimos em relação aos Estados-Membros), para aprovarem ou não a criação, incorporação, fusão ou desmembramento. Referido plebiscito será convocado pela Assembleia Legislativa, de conformidade com a legislação federal e estadual (art. 5.º da Lei n. 9.709/98). → Lei estadual: dentro do período que a lei complementar federal definir, desde que já tenha havido um estudo de viabilidade e aprovação plebiscitária, serão criados, incorporados, fundidos ou desmembrados Municípios, através de lei estadual. Portanto, o plebiscito é condição de procedibilidade para o processo legislativo da lei estadual. Se favorável, o legislador estadual terá discricionariedade para aprovar ou rejeitar o projeto de lei de criação do novo Município. Em igual sentido, mesmo que aprovada a lei pelo legislador estadual, o Governador de Estado poderá vetá-la. O Distrito Federal surge da transformação do antigo Município neutro (sede da Corte e Capital do Império), nos termos do art. 2.º da Constituição de 1891, passando a ser a Capital da União, mantida a sede na cidade do Rio de Janeiro. Nesse momento de sua instituição não se podia considerá-lo como entidade federada autônoma, mas simples autarquia territorial. De acordo com o art. 3.º e parágrafo único da Constituição de 1891 (regra essa mantida nos textos seguintes), ficou pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que seria oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura Capital federal. Efetuada a mudança da Capital, concretizando-se os compromissos de interiorização do País, o Distrito Federal, que se localizava na cidade do Rio de Janeiro, passaria a constituir um Estado. Com a Constituição de 1988, de acordo com o art. 18, § 1.º, a Capital Federal passa a ser Brasília, situada no território do Distrito Federal, que, no novo modelo, ainda localizado no Planalto Central do Brasil, deixa de ser mera autarquia territorial, tornando-se ente federativo, com autonomia parcialmente tutelada pela União. Brasília, por sua vez, nos termos do art. 6.º da Lei Orgânica do DF, além de ser a Capital da República Federativa do Brasil e sede do governo federal, é, também, sede do governo do Distrito Federal. O Distrito Federal é, portanto, uma unidade federada autônoma, visto que possui capacidade de auto- organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação: → Auto-organização: (CF, art. 32, caput) estabelece que o Distrito Federal se regerá por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias e aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal; → Autogoverno: (CF, art. 32, §§ 2.º e 3.º) eleição de Governador e Vice-Governador e dos Deputados Distritais; → Autoadministração e autolegislação: regras de competências legislativas e não legislativas. ● COMPETÊNCIAS DO DISTRITO FEDERAL → Competência Não Legislativa do DF ↪ Competência comum (cumulativa ou paralela): trata- se de competência não legislativa comum aos quatro entes federativos, quais sejam, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, prevista no art. 23 da CF/88. → Competência Legislativa do DF O art. 32, § 1.º, prescreve que ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios. Assim, tudo o que foi dito a respeito Art. 18. § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por lei complementar federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicadosna forma da lei. dos Estados aplica-se ao Distrito Federal, bem como o que foi dito sobre os Municípios no tocante à competência para legislar também a ele se aplica. ↪ Competência expressa: (CF, art. 32, caput) elaboração da própria lei orgânica. ↪ Competência residual: (CF, art. 25, § 1.º) toda competência que não for vedada, ao Distrito Federal estará reservada. ↪ Competência delegada: (CF, art. 22, parágrafo único) como vimos, a União poderá autorizar o Distrito Federal a legislar sobre questões específicas das matérias de sua competência privativa. Tal autorização dar-se-á mediante lei complementar. ↪ Competência concorrente: (CF, art. 24) em que se estabelece concorrência para legislar entre União, Estados e Distrito Federal, cabendo à União legislar sobre normas gerais e ao Distrito Federal, sobre normas específicas. ↪ Competência suplementar: (CF, art. 24, §§ 1.º a 4.º) no âmbito da legislação concorrente, como vimos, a União limita-se a fixar normas gerais e o Distrito Federal, normas específicas. No entanto, em caso de inércia legislativa da União, o Distrito Federal poderá suplementá-la e regulamentar as regras gerais sobre o assunto, sendo que, na superveniência de lei federal sobre norma geral, a aludida norma distrital geral (suplementar) terá a sua eficácia suspensa, no que for contrária à lei federal sobre normas gerais editadas posteriormente. ↪ Competência interesse local: (CF, art. 30, I, combinado com o art. 32, § 1.º). ↪ Competência tributária expressa: (CF, art. 147, parte final, c/c os arts. 156 e 155) a estudar especialmente em direito tributário. ● CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES → Impossibilidade de divisão do Distrito Federal em Municípios: o art. 32, caput, expressamente, veda a divisão do Distrito Federal em Municípios, ao contrário do que acontece com os Estados e Territórios; → Autonomia parcialmente tutelada pela União: ↪ O art. 32, § 4.º, declara inexistirem polícia civil, polícia penal, polícia militar e corpo de bombeiros militar, pertencentes ao Distrito Federal. Tais instituições, embora subordinadas ao Governador do Distrito Federal (art. 144, § 6.º), são organizadas e mantidas diretamente pela União (art. 21, XIV, na redação dada pela EC n. 104/2019, que alterou a Constituição Federal para criar as polícias penais federal, estaduais e distrital), sendo que a referida utilização pelo Distrito Federal será regulada por lei federal. ↪ Também observar que o Poder Judiciário e o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios são organizados e mantidos pela União (arts. 21, XIII, e 22, XVII) → EC n. 69/2012: na mesma linha da Reforma do Poder Judiciário (EC n. 45/2004), que assegurou às Defensorias Públicas Estaduais autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária (dentro dos limites constitucionais), com atraso de 8 anos, a EC n. 69/2012 transferiu da União para o DF as atribuições de organizar e manter a Defensoria Pública do Distrito Federal, determinando a aplicação dos mesmos princípios e regras que, nos termos da Constituição Federal, regem as Defensorias Públicas dos Estados.
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