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Indaial – 2020 Direito ConstituCional ii- organização Do estaDo e Dos PoDeres Prof. Rodrigo Flores Fernandes Prof.ª Rosana Maria de Moraes e Silva Antunes Prof.ª Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza Prof. Pablo Rodrigo Bes 1a Edição 2020 Elaboração: Prof. Rodrigo Flores Fernandes Prof.ª Rosana Maria de Moraes e Silva Antunes Prof.ª Maytê Ribeiro Tamura Meleto Barboza Prof. Pablo Rodrigo Bes Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Conteúdo produzido Copyright © Sagah Educação S.A. Impresso por: III aPresentação Olá Caro Acadêmico! Esta disciplina abordará as questões relativas ao Direito Constitucional II, principalmente aos assuntos pertinentes a Organização do Estado e dos Poderes. Na Unidade 1 será trabalhado a questão do Estado, em especial as formas de federação, bem como os tipos de Federalismo. Será trabalhado nesta unidade a organização político-administrativa do estado, para explicar a repartição de competências da federação brasileira, descriminando as competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Também será trabalhado as competências da união, dos estados, dos municípios e do distrito federal, distinguindo a intervenção federal de intervenção estadual, como também saber identificar os princípios explícitos aplicáveis à Administração Pública. Verificamos os princípios explícitos aplicáveis à Administração Pública e aos institutos de desconcentração e descentralização, por meio dos quais se formam órgãos e pessoas jurídicas pertencentes à Administração Pública Indireta. Para isso, você deverá reconhecer o que é a Administração Pública Direta e o que é a Administração Pública Indireta, comparando-as entre si. Por fim, deverá distinguir servidor público de empregado público, analisando os seus respectivos regimes previdenciários. Na Unidade 2 trabalhar-se-á os Poderes do Estado Brasileiro, desde o Poder Executivo, Poder Legislativo, Processo Legislativo e o Poder Judiciário. Definindo os sistemas de governo adotados nas democracias ocidentais e as competências do Chefe e dos ministros do Poder Executivo. Na Unidade 3 será estudado as Instâncias Superiores do Poder Judiciário Brasileiro, como também o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ), perpassando pela ordem social e o empreendedorismo social. Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento. Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 – DO ESTADO ....................................................................................................................1 TÓPICO 1 – DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO ..................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 FORMAS DE ESTADO, DE FEDERAÇÃO E TIPOS DE FEDERALISMO .................................3 3 FORMAS DE INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS ......7 4 HIPÓTESES DE CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS ....................................................................................................................................8 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................11 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................12 TÓPICO 2 – DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL ...........................................................................................13 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................13 2 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA ..................................13 3 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL ................................................................................................................................................15 4 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS E MATERIAIS....................................21 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................23 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................24 TÓPICO 3 – DA INTERVENÇÃO ........................................................................................................25 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................25 2 INTERVENÇÃO FEDERAL VERSUS INTERVENÇÃO ESTADUAL .......................................25 3 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS DA INTERVENÇÃO ..........................................28 4 JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES ACERCA DA HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO ....................................................................................................................................30 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................34 TÓPICO 4 – DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ...............................................................................35 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................35 2 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ......................................................35 3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA.................................................................38 4 SERVIDORPÚBLICO VERSUS EMPREGADO PÚBLICO ........................................................41 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................43 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................44 sumário VIII UNIDADE 2 – DOS PODERES DO ESTADO ...................................................................................45 TÓPICO 1 – DO PODER EXECUTIVO ...............................................................................................47 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................47 2 SISTEMAS DE GOVERNO ................................................................................................................47 3 COMPETÊNCIAS DO CHEFE E DOS MINISTROS DO PODER EXECUTIVO ....................49 4 PROCEDIMENTO DE IMPEACHMENT ........................................................................................52 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................55 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................56 TÓPICO 2 – DO PODER LEGISLATIVO ...........................................................................................59 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................59 2 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO ..............................................................................................59 3 COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO ...........................................................................64 4 OBJETO ...................................................................................................................................................64 5 PRAZO ....................................................................................................................................................65 6 PODERES ...............................................................................................................................................65 7 IMUNIDADE PARLAMENTAR ........................................................................................................66 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................68 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................69 TÓPICO 3 – DO PROCESSO LEGISLATIVO ...................................................................................71 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................71 2 LEI ORDINÁRIA VERSUS LEI COMPLEMENTAR ................................................ 71 3 EMENDAS CONSTITUCIONAIS E CLÁUSULAS PÉTREAS ...................................................73 4 PROCESSO LEGISLATIVO ORDINÁRIO .....................................................................................75 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................78 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................79 TÓPICO 4 – DO PODER JUDICIÁRIO ..............................................................................................81 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................81 2 PODER JUDICIÁRIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .............................................81 3 QUINTO CONSTITUCIONAL ..........................................................................................................84 4 SÚMULA VINCULANTE ...................................................................................................................85 5 RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL .............................................................................................86 6 PRECATÓRIO JUDICIAL ...................................................................................................................87 7 ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO .................................................................................88 RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................91 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................92 UNIDADE 3 – INSTANCIAS SUPERIORES SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL .....................95 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................95 2 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL COMO ÓRGÃO GUARDIÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ..............................................................................................................95 3 FORÇA NORMATIVA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................................98 4 COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS ATRIBUÍDAS A SUPREMA CORTE ..................100 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................104 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................105 IX TÓPICO 2 – O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL E O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA ....................................................................................................................107 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................107 2 COMPOSIÇÃO E COMPETÊNCIAS .............................................................................................107 2.1 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL ..................................................................................................... 107 2.2 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA .........................................................................................110 3 SÚMULA VINCULANTE E REPERCUSSÃO GERAL ...............................................................112 4 RECURSOS EXTRAORDINÁRIO, ESPECIAL E ORDINÁRIO ...............................................116 4.1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO .................................................................................................... 116 4.2 RECURSO ESPECIAL ...................................................................................................................117 4.3 RECURSO ORDINÁRIO ...............................................................................................................117 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................122 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................123 TÓPICO 3 – DA ORDEM SOCIAL ....................................................................................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL ............................................................................................125 3 EDUCAÇÃO, CULTURA E DESPORTO .......................................................................................1324 IMPORTÂNCIA DO INCENTIVO DO ESTADO ÀS ÁREAS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO ........................................................................................................137 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................139 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................140 TÓPICO 4 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL .............................................................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 O QUE É EMPREENDEDORISMO SOCIAL? ..............................................................................141 3 AS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL......................... 145 4 AS AÇÕES DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL ....................................................................150 RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................157 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................158 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................159 X 1 UNIDADE 1 DO ESTADO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • Explicar as formas de Estado, em especial as formas de federação, bem como os tipos de Federalismo. • Analisar as formas de incorporação, subdivisão e desmembramento de Estados. • Descrever as hipóteses de criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. • Explicar a repartição de competências da federação brasileira. • Discriminar as competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. • Esquematizar a repartição de competências legislativas e materiais. • Distinguir intervenção federal de intervenção estadual. • Explicar os pressupostos materiais e formais da intervenção. • Interpretar a jurisprudência das cortes superiores acerca da (im) possibilidade de intervenção. • Identificar os princípios explícitos aplicáveis à Administração Pública. • Comparar a Administração Pública Direta com a Administração Pública Indireta. • Distinguir servidor público de empregado público e os seus respectivos regimes previdenciários. PLANO DE ESTUDOS Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO TÓPICO 2 – DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL TÓPICO 3 – DA INTERVENÇÃO TÓPICO 4 – DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 2 Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO 1 INTRODUÇÃO A organização político-administrativa do Estado é de suma importância para que se possa entender as formas possíveis, o que é federação e federalismo, bem como quais são as modificações previstas no ordenamento jurídico em relação aos entes federativos. Nesta unidade, você vai ler sobre as formas de Estado, em especial, a federação e os tipos de federalismo. Conhecerá também as formas de incorporação, subdivisão e desmembramento de Estados e quais as hipóteses de criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. 2 FORMAS DE ESTADO, DE FEDERAÇÃO E TIPOS DE FEDERALISMO As formas de Estado expressam como é o exercício do poder político no próprio Estado. Uma primeira classificação das formas de Estado seria Estado unitário (simples), que se divide em: • unitário puro; • unitário descentralizado administrativamente; • unitário descentralizado administrativa e politicamente. O Estado unitário puro (centralizado): [...] é aquele em que as competências estatais são exercidas de maneira centralizada pela unidade que concentra o poder político. A centralização do exercício do poder é, pois, a característica dessa forma de Estado unitário (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 276). UNIDADE 1 | DO ESTADO 4 O Estado unitário descentralizado administrativamente (ou regional) é diferente do unitário puro, tendo em vista que são criados órgãos para o fim de executar, por meio de delegação, as decisões políticas criadas pelo poder central. Essa delegação também pode ser feita a pessoas, ou seja: [...] o Estado unitário descentralizado administrativamente, apesar de ainda concentrar a tomada de decisões políticas nas mãos do Governo Nacional, avança descentralizando a execução das decisões políticas já tomadas. Criam-se pessoas para, em nome do Governo Nacional, como se fossem uma extensão deste (longa manus), executar, administrar, as decisões políticas tomadas (LENZA, 2015, p. 711). São exemplos de Estado unitário descentralizado administrativa e politicamente a Espanha, França e Portugal. No Estado unitário descentralizado administrativa e politicamente, a descentralização também ocorre na esfera política. Assim, os entes descentralizados conseguem realizar uma análise da sua realidade e do seu caso concreto sobre as execuções das decisões emanadas pelo governo central. DICAS A segunda classificação das formas de Estado é o Estado composto, que se divide em: • confederação; • união pessoal; • união real. A confederação é a união de Estados soberanos, por meio de um tratado, para um determinado fim. Tal tratado será regido pelas normas do Direito Internacional. Um exemplo de confederação são os Estados Unidos entre 1776 e 1787. A união pessoal ocorre quando dois ou mais Estados soberanos passam a ter somente um chefe de Estado. Um exemplo de união pessoal era Portugal e Brasil no ano de 1826, em que Dom Pedro IV (Dom Pedro I no Brasil) repre- sentava o governante. Tal forma já passou à categoria histórica, devido à forma precária e sem qualquer vantagem política, não mais existindo atualmente. Na união real, os Estados soberanos organizam-se internamente e, perante relações internacionais, demonstram-se como uma só unidade. A união real é uma situação que imperou de 1815 a 1822 entre os Reinos de Portugal, Brasil e Algarve. São também exemplos de união real: TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO 5 • sob a forma monárquica, Império Austro–Húngaro (1867 a 1918); • sob a forma republicana, Tanganica e Zanzibar, desde 1964 (sob o nome de Tanzânia). A terceira classificação é o Estado federado, ou federação: O Estado será federado (federal, complexo ou composto) se o poder político estiver repartido entre diferentes entidades governamentais autônomas, gerando uma multiplicidade de organizações governamentais que coexistem em um mesmo território. Portanto, o Estado federado é caracterizado por ser um modelo de descentralização política, a partir da repartição constitucional de competências entre as entidades federadas autônomas que o integram. O poder político, em vez de permanecer concentrado na entidade central, é dividido entre as diferentes entidades federadas dotadas de autonomia (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 276). O Estado federado ou federação restou adotado pela República Federativa do Brasil, tanto o é que no art. 1º, caput, da Constituição Federal de 1988 está disposto: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). Os Estados federados possuem a sua realidade de forma individual, mas é possível descrever algumas característicascomuns quando se denota a forma federativa. São elas: • descentralização política (a constituição determina autonomia aos entes); • repartição de competência (garantia de autonomia entre os entes); • constituição rígida como base jurídica (constituição federal distribuindo competência entre os entes); • inexistência do direito de secessão (proibição de separação da federação); • soberania do Estado federal (o Estado federal é soberano, e os entes são autônomos, mas fazem parte do todo); • intervenção (instrumento para manter, na crise, a manutenção da federação); • auto-organização dos Estados membros (formação das Constituições estaduais); • órgão representativo dos Estados-membros (cada Estado-membro possui representatividade perante o Estado — no Brasil — Senado Federal); • guardião da Constituição (existência de um tribunal constitucional — no Brasil — Supremo Tribunal Federal [STF]); • repartição de receitas (certa autonomia financeira). Com relação ao federalismo, adotamos neste capítulo a tipologia disposta na doutrina de Lenza (2015, p. 713-717), que dispõe: • federalismo por agregação ou desagregação (segregação); • federalismo dual ou cooperativo; • federalismo simétrico ou assimétrico; UNIDADE 1 | DO ESTADO 6 • federalismo orgânico; • federalismo de integração; • federalismo de equilíbrio; • federalismo de segundo grau. O federalismo por agregação ou desagregação (segregação) denota tipos de formação histórica, uma vez que são Estados independentes ou soberanos que decidiram unir-se entre si e formar um só Estado, buscando, assim, a indissolubilidade do vínculo federativo. É o caso dos Estados Unidos, da Alemanha e da Suíça. O federalismo por desagregação é um Estado unitário que resolve descen- tralizar, por exemplo, o Brasil. O federalismo dual ou cooperativo expressa o modo de separação das atribuições ou competências. Assim, no federalismo dual, existe uma rigidez, não se permitindo uma interpenetração ou cooperação entre os Estados-membros. No federalismo cooperativo, expressa-se uma atuação comum ou concorrente para que assim os Estados-membros atuem de forma conjunta. Também como exemplo, citamos os Estados Unidos na sua origem. O federalismo simétrico ou assimétrico analisa a esfera de desenvolvimento e cultural de forma geral, pois no simétrico há uma homogeneidade no Estado federado. Como exemplos, citamos os EUA, que expressam o federalismo simétrico; já o Brasil expressa o federalismo assimétrico, uma vez que estabelece um tratamento diferenciado entre os entes federados, o que pode decorrer da diversidade de cultura e de língua presente no Estado. No federalismo orgânico, a manutenção do Estado é pensada como um todo em detrimento da parte, ou seja, há uma preocupação com um poder central. É parecido com o federalismo de integração, em que há uma preponderância do governo central sobre os demais entes para que assim se tenha uma interação nacional. O federalismo de equilíbrio busca a harmonia entre os entes para que assim haja um fortalecimento das instituições. Já o federalismo de segundo grau dispõe a ideia da Constituição Federal de 1988, que institui o municipalismo: Ganham os Municípios o poder de auto-organização, sujeitos, entretanto, aos princípios da Constituição Federal, aos da Constituição do respectivo Estado, além de estarem obrigados ao respeito a uma série de preceitos expressos, conforme o disposto no art. 29 da Constituição Federal. Isto corrobora a tese de que a Constituição de 1988 consagra um federalismo de segundo grau (FERREIRA FILHO, 2012, p. 75). A seguir, analisaremos as formas de incorporação, subdivisão e desmembramento dos Estados, em razão da importância no entendimento da organização político-administrativa. TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO 7 3 FORMAS DE INCORPORAÇÃO, SUBDIVISÃO E DESMEMBRAMENTO DE ESTADOS Para se analisar as formas de alteração nos Estados-membros no Brasil, citamos o art. 18, § 3º, da Constituição Federal de 1988: Art. 18 A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição. [...] § 3º Os Estados podem incorporar-se entre si, subdividir-se ou desmembrar-se para se anexarem a outros, ou formarem novos Estados ou Territórios Federais, mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar [...] (BRASIL, 1988, documento on-line). Nesse sentido, o art. 18 da Constituição Federal de 1988 disciplina que pode haver um arranjo diferente em relação aos Estados ou Territórios Federais, ou seja, respeitado o procedimento, há a possibilidade de os Estados ou Territórios Federais incorporarem-se entre si, subdividirem-se ou desmembrarem-se para se anexar a outros ou formar novos Estados ou Territórios Federais. O que não é permitido é o direito de secessão. Assim, é necessário distinguir incorporação, divisão e desmembramento. Na incorporação, dois ou mais Estados se fundem e dão origem a um novo Estado ou Território Federal, por consequência, os Estados deixam de existir da forma que eram anteriormente. Nesse caso, o plebiscito, conforme disciplina o art. 18, § 3º, ocorre com as populações envolvidas. Na divisão, o Estado é separado em novos Estados, ou seja, deixa de existir da forma que era para formar novos Estados. No desmembramento: [...] podem ocorrer três situações distintas: I) a anexação da parte desmembrada a um outro Estado, sem a criação de um novo ente federativo; II) a formação de um novo Estado-Membro; ou III) a formação de um Território Federal. Ao contrário do que ocorre na incorporação e na subdivisão, no desmembramento não há o desaparecimento do ente federativo primitivo (ou originário). Tanto no desmembramento por anexação quanto no desmembramento por formação os Estados originários continuam a existir, apesar da redução territorial e populacional (NOVELINO, 2016, p. 542). O procedimento a ser adotado nos casos citados está também disciplinado no art. 18. Assim, nesse sentido, é necessário, além do plebiscito da população diretamente interessada, uma lei complementar por parte do Congresso Nacional. Cabe referência à Lei nº 9.709, de 18 de novembro de 1998, que, no art. 7º, define a população diretamente interessada: [...] as consultas plebiscitárias previstas nos arts. 4º e 5º entende-se por população diretamente interessada tanto a do território que se pretende desmembrar, quanto a do que sofrerá desmembramento; em caso de fusão ou anexação, tanto a população da área que se quer anexar quanto a da que receberá o acréscimo; e a vontade popular se aferirá pelo percentual que se manifestar em relação ao total da população consultada (BRASIL, 1998, documento on-line). UNIDADE 1 | DO ESTADO 8 Assim, é de suma importância a participação da população diretamente interessada, sendo condição sine qua non para a modificação: Note-se que, se o plebiscito for desfavorável, o procedimento estará encerrado, constituindo, pois, a aprovação das populações diretamente interessadas, verdadeira condição de procedibilidade do processo legislativo da lei complementar. Caso, porém, haja aprovação plebiscitária, o Congresso Nacional soberanamente decidirá pela aprovação ou não da lei complementar. Em síntese, a negativa no plebiscito impede o processo legislativo, enquanto a concordância dos interessados permite que o projeto de lei complementar seja discutido no Congresso Nacional, sem contudo vinculá-lo, pois esse deverá zelar pelo interesse geral da República Federativa e não somente pelo das populações diretamente interessadas (MORAES, 2017, p. 231). A Constituição Federal de 1988, como demonstrado, estabelece o procedimento para modificação do ente federativo Estado. No que compete ao município, a Constituição Federal de 1988 é de suma importância pelas inovações que trouxeem seu bojo, entre as quais, a elevação do município a ente federativo, como analisaremos a seguir (BRASIL, 1988). 4 HIPÓTESES DE CRIAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E DESMEMBRAMENTO DE MUNICÍPIOS A importância da Constituição Federal de 1988 em relação aos municípios refere-se ao fato de elevar ao status de ente federativo o que, de certo modo, traria uma maior autonomia e um autogoverno: A inovação da Constituição Cidadã, com relação aos municípios, foi tê-los inserido como componentes da federação, estruturando- os como entidades políticas autônomas, dotadas de autogoverno, podendo determinar os seus interesses da forma que melhor lhes convier, respeitados, obviamente, os parâmetros constitucionais. As Constituições anteriores não conferiam aos municípios a qualidade de entes da federação brasileira, mas os enquadravam como entidades relativamente autônomas. O autogoverno era característico apenas da União e dos estados-membros, sendo destes últimos a prerrogativa de estruturar a organização política dos municípios (AGRA, 2018, p. 389). No que compete aos municípios, as hipóteses de criação, incorporação, fusão e desmembramento estão dispostas também no art. 18 da Constituição Federal de 1988, no § 4º: Art. 18 [...] § 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei (BRASIL, 1988, documento on-line). TÓPICO 1 | DA ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA DO ESTADO 9 Antes da Constituição Federal de 1988, de acordo com Barcellos (2018, p. 258), a realidade era a seguinte: Sob a vigência da Constituição de 1967/1969, a criação de Municípios era regulada por lei complementar nacional, e a LC nº. 1/1967, art. 2º, previa exigências mínimas em termos de população (10 mil), arrecadação tributária (5 milésimos da arrecadação estadual de impostos) e estrutura urbana (centro urbano com no mínimo 200 casas), além da consulta às populações interessadas e de lei estadual autorizativa. O art. 18, § 4º, da Constituição de 1988, em sua redação original, mudou esse regime e passou a prever que a criação, incorporação, fusão e desmembramento de Municípios dependeriam de lei estadual, observados requisitos fixados em lei complementar estadual, e consulta prévia às populações interessadas. Ou seja: quaisquer eventuais requisitos seriam fixados pelos Estados. Assim, nos casos dos municípios, havia um certo cuidado com as autono- mias alcançadas com sua criação: No caso dos Municípios, as hipóteses de criação, incorporação, fusão e desmembramento (CF, art. 18, § 4º) foram alteradas pela Emenda Constitucional nº 15/1996 com a finalidade conter a proliferação com fins eleitoreiros de Municípios sem a estrutura necessária para o exercício de suas autonomias (NOVELINO, 2016, p. 544). Com a criação de muitos municípios, houve ajuizamento junto ao STF de ações buscando a declaração da inconstitucionalidade das leis estaduais que criavam os municípios, por não respeitarem os procedimentos necessários, conforme a redação do art. 18, § 4º, da Constituição Federal de 1988. Porém, diante desse quadro social brasileiro, houve, por parte do legislativo federal, com a Emenda Constitucional nº 57, de 18 dezembro de 2008, o acréscimo do art. 96 nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias: Art. 96 Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à época de sua criação (BRASIL, 2008, documento on-line). Assim, os requisitos expressos e necessários são: • lei complementar federal estipulando período para que ocorra, porém, é imprescindível a manifestação legislativa; • lei ordinária federal declarando a viabilidade do município; • consulta (plebiscito) da população envolvida provocada pela Assembleia Legislativa, em lei estatual, conforme estabelece a Lei nº 9.709/1998, no art. 5º: “O plebiscito destinado à criação, à incorporação, à fusão e ao desmembramento de Municípios, será convocado pela Assembleia Legislativa, de conformidade com a legislação federal e estadual” (BRASIL, 1998, documento on-line); • lei ordinária estadual, respeitando o período estabelecido na lei federal, em que é estabelecido a criação do novo município. UNIDADE 1 | DO ESTADO 10 Com a criação do novo município, deve ser observado — em relação à escolha dos representantes dos poderes Executivo e Legislativo, ou seja, de prefeito, vice-prefeito e vereadores — o prazo do pleito eleitoral para que seja simultâneo em todo o País, conforme o art. 29, I, da Constituição Federal de 1988: Art. 29 O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os seguintes preceitos: I — eleição do Prefeito, do Vice-Prefeito e dos Vereadores, para mandato de quatro anos, mediante pleito direto e simultâneo realizado em todo o País (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim, abordamos neste capítulo as formas de Estado e federação, bem como de que forma legal pode haver modificação nos entes federados (Estados e municípios). O STF declarou inconstitucionalidade de lei estadual que criou município na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2240. Saiba mais acessando o link abaixo https://goo.gl/MEVw9B UNI 11 Neste tópico, você aprendeu que: • A organização político-administrativa do Estado é de suma importância para que se possa entender as formas que ele pode ter, o que é Federação e Federalismo, bem como quais modificações são previstas no ordenamento jurídico em relação aos Entes Federativos. • Foi visto as formas de Estado, em especial a Federação e os tipos de Federalismo. • Conheceu-se também as formas de incorporação, subdivisão e desmembramento de Estados e quais as hipóteses de criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 Em relação à organização político-administrativa, para formar um novo Estado-membro, a Constituição Federal de 1988 estabelece, no que concerne aos requisitos que: a) Far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos. b) Far-se-ão por lei ordinária, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos. c) Mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito, e do Congresso Nacional, por lei complementar. d) Mediante aprovação da população diretamente interessada, por meio de plebiscito, e da Assembleia, por lei complementar. e) Mediante aprovação de 10% da população diretamente interessada e do Congresso Nacional, por lei complementar. 2 Assinale a alternativa correta no que tange à formação dos Estados quanto aos requisitos estabelecidos constitucionalmente para a forma desmembramento/ formação: a) O Estado A, originário, mantém sua existência, mas seu território é desmembrado em dois Estados, formando assim A e B. b) O Estado A deixa de existir e seu território é desmembrado em dois Estados, formando assim B e C. c) O Estado A, originário, cede parte de seu território ao Estado B, que passa a ser ampliado. d) O Estado A e o Estado B deixam de existir e cedem seus territórios, formando um Estado único, C. e) O Estado A e o Estado B mantêm suas existências e cedem seus territórios, formando um Estado único C. AUTOATIVIDADE13 TÓPICO 2 DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Constituição Federal de 1988 distribui, entre os entes federados, o que compete a cada um, seja de forma exclusiva ou concorrente. Assim, restam estabelecidas as competências da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Nesta unidade, você vai ler sobre a repartição de competências da federação brasileira. Serão discriminadas as competências da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal, bem como explicada a repartição de competências legislativas e materiais. 2 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS DA FEDERAÇÃO BRASILEIRA A forma federativa é também representada pela repartição de competências entre os entes federativos. Nesse sentido, é importante a repartição de competências de cada ente na República Federativa do Brasil, especificadas na Constituição Federal de 1988. Com relação aos critérios utilizados para a repartição de competências, uma parte da doutrina afirma que o critério adotado é o princípio da predo- minância do interesse. De acordo com Novelino (2016, p. 534): A Competência para tratar de assuntos de interesse nacional ou predominantemente geral foi atribuída à União. É o caso, por exemplo, da competência para legislar sobre diretrizes da política nacional de transportes (CF, art. 22, IX); emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros (CF, art. 22, XV); normas gerais de licitação e contratação (CF, art. 22, XXVII); ou, ainda, defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional (CF. art. 22, XXVIII). A competência para tratar de assuntos de interesse predominantemente local, foi atribuída aos Municípios (CF, art. 30, I). Aos Estados restaram competências residuais para tratar de assuntos de interesse regional (CF, art. 25, § 1.0). Ao Distrito Federal, em razão de sua natureza híbrida, foi atribuída competência para tratar de assuntos de interesse regional e local (CF, art. 32, § 1º). UNIDADE 1 | DO ESTADO 14 Também encontramos a visão de que o critério adotado para a repartição das competências sofreu influência política, tornando-se, assim, uma espécie de critério híbrido. Conforme Agra (2018, p. 398): O critério escolhido foi híbrido, também influenciado pelas decisões políticas tomadas em um contexto social determinado, pela tradição histórica e pela real possibilidade de implantação das competências, haja vista que aquelas matérias que necessitam de grande aporte financeiro ou de uniformidade legislativa na federação devem ficar ao encargo da União. As técnicas de repartição de competência podem ser: a) numeração das prerrogativas para a União e o remanescente para os demais componentes federativos; b) numeração dos poderes para os estados-membros e o remanescente para a União; e c) competência numerada para todos os órgãos federativos. Com relação ao modelo de repartição de competências, a Constituição Federal adota o modelo horizontal, em que não há subordinação ou hierarquização, no exercício das competências, entre os entes federados, como resta expresso nos arts. 21 a 23, 25 e 30. No modelo vertical, a mesma matéria é atribuída a diferentes entes federativos — assim, cria-se uma relação de subordinação, como, por exemplo, consta no art. 24, também chamada de competência legislativa concorrente, em que cabe à União legislar de forma geral, conforme dispõe o § 1º: “Art. 24 [...] § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais” (BRASIL, 1988, documento on-line). Já os estados e o Distrito Federal têm a competência de completar tais normas gerais, conforme expresso no § 2º: “Art. 24 [...] § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados” (BRASIL, 1988, documento on-line). Com relação aos municípios, a Constituição Federal estabeleceu a com- petência legislativa para legislar sobre assuntos de interesse local e, quando houver legislação federal ou estadual, a competência é suplementar, conforme art. 30, I e II: “Art. 30 Compete aos Municípios: I — legislar sobre assuntos de interesse local; II — suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; [...]” (BRASIL, 1988, documento on-line). É de fundamental importância para o entendimento da repartição das competências na federação brasileira o conceito de espécies de competências, que são: • administrativas; • legislativas; • tributárias. TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL 15 As competências administrativas dispõem sobre a atuação direta do ente federado, ou seja, definem o limite e onde o ente federativo deve atuar de forma político- -administrativa (por exemplo, art. 21 da Constituição Federal). Nas competências legislativas, são definidas as matérias nas quais o ente tem competência para criar leis (por exemplo, art. 22 da Constituição Federal). Já as competências tributárias estabelecem ao ente federado atribuição de instituir tributos (por exemplo, art. 145 da Constituição Federal). DICAS Definidos alguns conceitos importantes para a compreensão da repartição das competências, analisaremos a seguir as competências da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. 3 COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL As competências da União estão estabelecidas nos arts. 21 e 22 da Constituição Federal, sendo que o art. 21 traz as competências administrativas exclusivas da União, ou seja, que não podem ser delegadas, são elas: Art. 21 Compete à União: I — manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II — declarar a guerra e celebrar a paz; III — assegurar a defesa nacional; IV — permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V — decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI — autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII — emitir moeda; VIII — administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada; IX — elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; X — manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; XI — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; XII — explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens; b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; UNIDADE 1 | DO ESTADO 16 c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres; XIII — organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; XIV — organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência finan- ceira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; XV — organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbitonacional; XVI — exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão; XVII — conceder anistia; XVIII — planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; XIX — instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX — instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; XXI — estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; XXII — executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; XXIII — explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006); c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; XXIV — organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; XXV — estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa (BRASIL, 1988, documento on- line). Já o art. 22 da Constituição Federal dispõe sobre competências legislativas, que são privativas da União: Art. 22 Compete privativamente à União legislar sobre: I — direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II — desapropriação; III — requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL 17 IV — águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V — serviço postal; VI — sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII — política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII — comércio exterior e interestadual; IX — diretrizes da política nacional de transportes; X — regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI — trânsito e transporte; XII — jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII — nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV — populações indígenas; XV — emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI — organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII — organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; XVIII — sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX — sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX — sistemas de consórcios e sorteios; XXI — normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, con- vocação e mobilização das polícias militares e corpos de bombeiros militares; XXII — competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII — seguridade social; XXIV — diretrizes e bases da educação nacional; XXV — registros públicos; XXVI — atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII — normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalida- des, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1º, III; XXVIII — defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX — propaganda comercial. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo (BRASIL, 1988, documento on-line). Tais competências legislativas são privativas da União, porém, o parágrafo único do art. 22 faculta que haja delegação legislativa aos Estados e ao Distrito Federal, por meio de lei complementar, o que permitiria que o ente delegado legislasse sobre determinada matéria. Assim, ao contrário do art. 21, em que a competência é indelegável, no art. 22, respeitados os requisitos, a competência é delegável. No Texto Constitucional, há, de forma esparsa, outras competências da União, como: UNIDADE 1 | DO ESTADO 18 • art. 23 — competências administrativas comuns aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios; • art. 24 — competências legislativas concorrentes aos Estados e ao Distrito Federal; • arts. 145, 148, 149, 153, 154, I e II, e 195, § 4º — competências tributárias. O art. 23 da Constituição Federal traça as chamadas competências comuns. São competências materiais e administrativas, das quais são titulares a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios. Assim, atuam em igualdade, não havendo subordinação. A atuação de um ente federativo não exclui a atuação de outro. Art. 23 É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I — zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II — cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III — proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV — impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V — proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; VI — proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII — preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII — fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento ali- mentar; IX — promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X — combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promo- vendo a integração social dos setores desfavorecidos; XI — registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII — estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional (BRASIL, 1988, documento on-line). As competências concorrentes são competências legislativas à União, aos Estados e ao Distrito Federal, conforme art. 24 da Constituição Federal: Art. 24 Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor- rentemente sobre: I — direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II — orçamento; III — juntas comerciais; TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL 19 IV — custas dos serviços forenses; V — produção e consumo; VI — florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII — proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e pai- sagístico; VIII — responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico,estético, histórico, turístico e paisagístico; IX — educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; X — criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI — procedimentos em matéria processual; XII — previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII — assistência jurídica e Defensoria pública; XIV — proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV — proteção à infância e à juventude; XVI — organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a com- petência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário (BRASIL, 1988, documento on-line). Incumbe à União estabelecer normas gerais. Porém, caso a União não legisle sobre isso, podem os Estados e o Distrito Federal legislar sobre as peculiaridades da sua realidade, conforme o art. 24, § 3º, da Constituição Federal: “Art.24 [...] § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades” (BRASIL, 1988, documento on-line). Mas, se houver, edição de norma geral por parte da União e as normas editadas pelos estados e pelo Distrito Federal forem incompatíveis, estas têm a sua eficácia suspensa, conforme o art. 24, § 4º, da Constituição Federal: “Art. 24 [...] § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário” (BRASIL, 1988, documento on-line). As competências dos Estados são as chamadas competências remanescentes, ou residuais, tendo em vista que podem legislar e exercer competências que não lhe são vedadas pela Constituição, conforme o art. 25: “Art. 25 [...] § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line). Outras competências dos estados presentes no Texto Constitucional são: • art. 18, § 4º — criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios; • art. 25, § 2º — exploração de gás canalizado; • art. 25, § 3º — instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; • art. 125 — organização da justiça; • art. 144, § 10 — estruturar a segurança viária; • arts. 145, 149, § 1º, e 155 — competências tributárias. UNIDADE 1 | DO ESTADO 20 Com relação à competência do Distrito Federal, além dos já citados arts. 22, parágrafo único, 23 e 24, a Constituição Federal disciplinou no art. 32, § 1º, o seguinte: “Art. 32 [...] § 1º Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios” (BRASIL, 1988, documento on-line). Outras competências do Distrito Federal presentes no Texto Constitucional são: • art. 30 — competências dos municípios; • arts. 145, 149, § 1º, 149-A, 155 e 156 — competências tributárias. A competência dos municípios está disposta no art. 30 da Constituição Federal: Art. 30 Compete aos Municípios: I — legislar sobre assuntos de interesse local; II — suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III — instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei; IV — criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual; V — organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI — manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; VII — prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII — promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX — promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual (BRASIL, 1988, documento on-line). Outras competências do município presentes no Texto Constitucional são: • art. 144 — questão de segurança viária; • arts. 145, 149, § 1º, 149-A e 156 — competências tributárias; • art.182 — políticas de desenvolvimento urbano. Restam discriminadas as competências de cada ente federado. Cabe, por fim, esquematizar a repartição de competências legislativas e materiais, de forma geral. TÓPICO 2 | DAS COMPETÊNCIAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DOS MUNICÍPIOS E DO DISTRITO FEDERAL 21 4 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS E MATERIAIS As competências legislativas podem ser divididas pelos critérios horizontal (não há subordinação) e vertical (há subordinação). O Quadro 1 apresenta, de modo sintético, as competências legislativas estabelecidas pela Constituição Federal para cada ente federado, de forma a não haver interferência ou subordinação. São também competências legislativas em que primeiro cabe à União estabelecer normas gerais — assim, os demais entes podem atuar de forma a complementar a sua realidade e aos seus interesses. QUADRO 1 – ESQUEMA DE COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS FONTE: o autor Competência legislativa (horizontal) Competência legislativa (vertical) União — arts. 21 e 22 Competência concorrente — art. 24 — União, Estados e Distrito Federal Estados — competência residual — art. 25, § 1º Estados e Distrito Federal — competência complementar — art. 24, § 2º (existindo norma federal) Distrito Federal, art. 32, § 1º (competências atribuídas a Estados e municípios) Estados e Distrito Federal — competência legislativa plena — art. 24, § 3º (inexistindo norma federal) Municípios — art. 30 Municípios — competência complementar — art. 30, II (existindo legislação federal e estadual) Com relação às competências materiais (administrativas), a referência direta é o art. 23 da Constituição Federal. Segundo Ferreira Filho (2012, p. 77): A competência administrativa é, em princípio, correlata à competência legislativa. Assim, quem tem competência para legislar sobre uma matéria tem competência para exercer a função administrativa quanto a ela. Entretanto, há todo um campo que é comum no plano administrativo à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios (art. 23). Neste, todos esses entes federativos devem cuidar do cumprimento das leis, independentemente da origem federal, estadual, distrital, ou municipal. Portanto, essas são as competências da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios, permitindo um melhor entendimento da federação brasileira. UNIDADE 1 | DO ESTADO 22 O link a seguir traz na íntegra a Súmula Vinculante nº. 2 do Supremo Tribunal Federal, relativa à competência legislativa da União para legislar sobre a exploração de loteria. https://goo.gl/wQzjgE UNI 23 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • A Constituição Federal de 1988 distribui, entre os entes federados, o que compete a cada um — seja de forma exclusiva ou de forma concorrente. • Assim, restam estabelecidas as competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. • Aprendemos sobre a repartição de competências da federação brasileira, bem como serão discriminadas as competências da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. • Por fim, foi apresentado um esquema da repartição de competências legislativas e materiais. 24 1 Segundo a Constituição Federal de 1988, compete privativamente à União legislar sobre: a) proteger os documentos, as obras e outros bens de valorhistórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos. b) proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas. c) serviço postal e populações indígenas. d) preservar as florestas, a fauna e a flora. e) zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público. 2 Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: a) custas dos serviços forenses b registros públicos c) serviço postal d) propaganda comercial e) seguridade social AUTOATIVIDADE 25 TÓPICO 3 DA INTERVENÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988 especifica quais são os seus entes federativos e as respectivas competências de cada um deles, demonstrando, assim, a autonomia político-administrativa existente entre União, estados e municípios brasileiros. Nesse sentido, podemos perceber que a intervenção é ato excepcionalíssimo, pois infringe essa autonomia. Neste unidade, aprenderemos a distinguir intervenção federal de intervenção estadual e identificaremos quais são os pressupostos materiais e formais para a decretação do ato. Por fim, analisaremos a jurisprudência dos tribunais superiores acerca da possibilidade ou da impossibilidade de intervenção. 2 INTERVENÇÃO FEDERAL VERSUS INTERVENÇÃO ESTADUAL Primeiramente, para distinguirmos intervenção federal de intervenção estadual, faz-se necessário retomarmos o art. 18, caput, da Constituição Federal de 1988, que afirma: “A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição” (BRASIL, 1988, documento on-line). A partir da leitura desse dispositivo, depreendemos que a República Federativa do Brasil é formada por entes que compõem a federação (União, estados, Distrito Federal e municípios) e são autônomos nos termos da própria Constituição. Tais termos, citados na parte final do art. 18, também estão expressos de forma geral entre os arts. 21 a 24 da Constituição, bem como em outros artigos esparsos no Texto Constitucional que não serão colacionados aqui, tendo em vista que não são o cerne do presente capítulo (BRASIL, 1988). Dessa maneira, a Constituição fornece meios para que haja a autonomia disposta e expressa nos artigos já citados. Porém, quando o art. 18 cita “nos termos desta Constituição”, já nos conduz à inferência de que existe um limite também expresso no Texto Constitucional apesar da autonomia conferida pela 26 UNIDADE 1 | DO ESTADO lei aos entes federativos. Portanto, existem casos legalmente previstos em) que é possível que um ente federativo adentre a competência de outro ente com o objetivo de intervir. A esse respeito, Paulo e Alexandrino (2017, p. 316) explicam: Porém, a Constituição brasileira admite o excepcional afastamento dessa autonomia política, por meio da intervenção de uma entidade política sobre outra, diante do interesse maior de preservação da própria unidade da Federação. Por isso, o processo de intervenção atua como antítese da autonomia, haja vista que, por meio dele, afasta- se temporariamente a atuação autônoma do estado, Distrito Federal ou município que a tenha sofrido. Em nosso País somente podem ser sujeitos ativos de intervenção a União e os estados-membros. Não existe intervenção praticada por município ou pelo Distrito Federal. Cabe observar que, quando a União atua como sujeito ativo de intervenção, ela não está somente agindo na qualidade e no interesse da pessoa jurídica União, ordem jurídica parcial, mas, sim, no interesse e na defesa do Estado federal, como ordem jurídica global. Assim, a intervenção por parte da União origina a chamada intervenção federal, que se fundamenta nos arts. 34 e 35 da Constituição. O art. 34 se refere à intervenção realizada em um estado ou no Distrito Federal e o art. 35, à intervenção nos municípios localizados em território federal. Já a intervenção realizada pelos estados, denominada intervenção estadual, ocorre nos municípios pertencentes ao estado interventor e se baseia no art. 35 (BRASIL, 1988). No tangente à intervenção federal, encontramos duas espécies: a interven- ção federal espontânea e a intervenção federal provocada. A primeira é assim denominada porque pode ocorrer de ofício, ou seja, o Presidente da República pode tomar a iniciativa para que ocorra a intervenção conforme o art. 84, X, da Constituição: “Compete privativamente ao Presidente da República: [...] X — decretar e executar a intervenção federal” (BRASIL, 1988, documento on-line). As hipóteses de intervenção federal espontânea estão arroladas no art. 34, I, II, III e V, do mesmo diploma legal. Vejamos: Art. 34 A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para: I — manter a integridade nacional; II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III — pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; [...] V — reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei (BRASIL, 1988, documento on-line). TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO 27 Quanto às hipóteses de intervenção federal provocada, verificamos dois tipos: por solicitação e por requisição. Em síntese, a diferença reside no fato de que, na intervenção provocada por solicitação, não há discricionariedade (análise de conveniência e oportunidade) do Chefe do Poder Executivo, de modo que o ato está vinculado ao decreto. De acordo com o art. 34, IV, da Constituição, os casos desse tipo de intervenção são justificáveis para “[...] garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação” (BRASIL, 1988, documento on-line). Esse dispositivo combina-se com a primeira parte do art. 36, I: “[...] no caso do art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido [...]” (BRASIL, 1988, documento on- line). Logo, a intervenção é de solicitação, visto que o Poder que sofrer coação ou for impedido pode solicitá-la. Com relação à intervenção provocada por requisição, o fundamento tem como legitimados: • o Supremo Tribunal Federal (STF), segundo o art. 34, IV, da Constituição combinado com a segunda parte do art. 36, I, do mesmo diploma legal; • o STF, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nos termos do art. 34, VI, da Constituição; • o STF com representação pelo(a) Procurador(a)-Geral da República, conforme o art. 34, VII combinado com a primeira parte do art. 36, III, e a primeira parte do art. 34, VI, combinado com a segunda parte do art. 36, III, ambos pertencentes à Constituição e regulados pela Lei nº. 12.562, de 23 de dezembro de 2011. Ademais, cabe destacarmos que os casos em que há intervenção municipal estão dispostos no art. 35 da Constituição: O Estado não intervirá em seus Municípios, nem a União nos Municípios localizados em Território Federal, exceto quando: I — deixar de ser paga, sem motivo de força maior, por dois anos consecutivos, a dívida fundada; II — não forem prestadas contas devidas, na forma da lei; III — não tiver sido aplicado o mínimo exigido da receita municipal na manu- tenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde; IV — o Tribunal de Justiça der provimento a representação para assegurar a observância de princípios indicados na Constituição Estadual, ou para prover a execução de lei, de ordem ou de decisão judicial (BRASIL, 1988, documento on-line). Em caso de município localizado em território federal, o decreto de inter- venção municipal é de competência da União, de forma que quem o decreta é o Presidente da República. Além disso,cada estado-membro processa e decreta a intervenção do município que pertence ao seu território. Consideremos o ensinamento de Agra (2018, p. 427-428) acerca do assunto: 28 UNIDADE 1 | DO ESTADO As intervenções municipais, sejam as praticadas pelos estados- membros, sejam as praticadas pela União nos municípios dos seus territórios, nos casos do art. 35, incs. I a III, da CF, não necessitam de solicitação de nenhum dos três poderes, sendo classificadas como espontâneas. No caso do art. 35, inc. IV, da CF, é necessária representação por parte do procurador-geral de Justiça do Estado. Exceto este último caso, em que não é exigida apreciação por parte do Poder Legislativo, todos os demais requerem sua apreciação. Demonstradas as distinções entre intervenção federal e intervenção estadual, passemos à próxima etapa dos nossos estudos, que se propõe a explicar os pressupostos materiais e formais da intervenção. 3 PRESSUPOSTOS MATERIAIS E FORMAIS DA INTERVENÇÃO Para explicarmos os pressupostos materiais e formais da intervenção, buscamos, na doutrina, a organização exposta por José Afonso da Silva no seu curso de Direito Constitucional Positivo (SILVA, 2005). Os pressupostos materiais se fundamentam nas situações em que a segu- rança do Estado, o equilíbrio federativo, as finanças estaduais e a estabilidade da ordem constitucional estão em risco. Assim, os pressupostos materiais podem ser resumidos da seguinte maneira: • Defesa do País, nos termos do art. 34, I e II: “[...] I — manter a integridade nacional; II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra” (BRASIL, 1988, documento on-line); • Defesa do princípio federativo, conforme o art. 34, II a IV: II — repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra; III — pôr termo a grave comprometimento da ordem pública; IV — garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação (BRASIL, 1988, documento on-line). • Defesa das finanças estaduais, segundo o art. 34, V: V — reorganizar as finanças da unidade da Federação que: a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo motivo de força maior; b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição, dentro dos prazos estabelecidos em lei (BRASIL, 1988, documento on-line). • Defesa da ordem constitucional, de acordo com o art. 34, VI e VII: VI — prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial; VII — assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b) direitos da pessoa humana; c) autonomia municipal; TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO 29 d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvi- mento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (BRASIL, 1988, documento on-line). Esses pressupostos são considerados formais porque justamente disciplinam a forma como se operacionalizará a intervenção, bem como quais são os limites estabelecidos pela Constituição (BRASIL, 1998). Silva (2005, p. 486) esclarece o tema: A intervenção federal efetiva-se por decreto do Presidente da República, o qual especificará a sua amplitude, prazo e condições de execução e, se couber, nomeará o interventor (art. 36, § 1º). Há, pois, intervenção sem interventor. É que ela pode atingir qualquer órgão do poder estadual. Se for no executivo, o que tem sido a regra, a nomeação do interventor será necessária, para que exerça as funções do Governador. Se for no legislativo apenas, tornar-se-á necessário o interventor, desde que o ato de intervenção atribua as funções legislativas ao Chefe do Executivo estadual. Se for em ambos, o interventor será também necessário para assumir as funções executivas e legislativas. Vejamos quais são os pressupostos formais da intervenção, que estão discriminados no Quadro 2 a seguir. QUADRO 2 – PRESSUPOSTOS FORMAIS DE INTERVENÇÃO Fundamento Forma Art. 34, I, II, III, e V, da Constituição Federal Verificação dos motivos que autorizam a intervenção. Art. 34, IV, da Constituição Federal Solicitação do Poder Legislativo ou do Executivo coacto ou impedido, ou de requisição do STF, se a coação for exercida contra o Judiciário. Art. 34, VI, da Constituição Federal Requisição do STF, do STJ ou do TSE. Art. 34, VII, da Constituição Federal Provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República, representação de Ação Direta Interventiva (ADI). Art. 34, VII, da Constituição Federal Provimento, pelo STF, de representação do Procurador-Geral da República, representação no caso de recusa de lei federal. FONTE: Adaptado de Brasil (1988, documento on-line) 30 UNIDADE 1 | DO ESTADO Ainda acerca dos aspectos formais, devemos lembrar que a Lei nº 12.562/2011, que regulamenta o art. 36, III, da Constituição Federal, dispõe sobre o processo e o julgamento da representação interventiva perante o STF (BRASIL, 2011). Agora que já conhecemos os pressupostos materiais e formais da inter- venção, avancemos no conteúdo e passemos à análise de algumas decisões do STF acerca da possibilidade ou da impossibilidade de intervenção. Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, foi somente no ano de 2018 que houve a expedição de um decreto pelo Presidente da República com vistas à intervenção de um estado-membro. Trata-se do Decreto nº. 9.288, de 16 de fevereiro de 2018, que decidiu pela intervenção federal no estado do Rio de Janeiro com o objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública. DICAS 4 JURISPRUDÊNCIA DAS CORTES SUPERIORES ACERCA DA HIPÓTESE DE INTERVENÇÃO Ao estudarmos a jurisprudência das cortes superiores acerca da hipótese de intervenção, cabe a análise de uma decisão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS) em que o Procurador de Justiça do Estado ajuizou representação por intervenção federal em razão do descumprimento de decisão do próprio TJRS sobre a intervenção estadual no município de Vila Flores por causa da falta de pagamento de precatórios. A decisão do TJRS teve a seguinte ementa: REPRESENTAÇÃO POR INTERVENÇÃO FEDERAL NO ESTADO. DETERMINAÇÃO DE INTERVENÇÃO EM MUNICÍPIO. DESCUMPRIMENTO. ATO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO. IMPOSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO. Representação por intervenção federal no Estado, por descumprimento de decisão do Tribunal de Justiça de intervenção estadual em município. Ato político-administrativo. Descumprimento que não figura causa de intervenção da União no Estado. Art. 34, VI, CF. Precedentes do STF. DESACOLHERAM A REPRESENTAÇÃO, POR MAIORIA (BRASIL, 2010, documento on-line). Tal decisão teve por base a jurisprudência do STF que considera determi- nado caráter político-administrativo e, nesse sentido, há, na decisão do Chefe do Poder Executivo, certa discricionariedade em expedir ato interventivo. A jurisprudência que fundamentou essa tese conta com a seguinte ementa: TÓPICO 3 | DA INTERVENÇÃO 31 E M E N T A: AGRAVO DE INSTRUMENTO - INTERVENÇÃO ESTADUAL EM MUNICÍPIO — INEXECUÇÃO DE ORDEM JUDICIAL (CF, ART. 35, IV) — REQUISIÇÃO, AO GOVERNADOR DO ESTADO, DA EFETIVAÇÃO DO ATO INTERVENTIVO — NATUREZA MATERIALMENTE ADMINISTRATIVA DO PROCEDIMENTO DE INTERVENÇÃO — INVIABILIDADE DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO — DIRETRIZ JURISPRUDENCIAL FIRMADA PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL — RECURSO IMPROVIDO. — O procedimento destinado a viabilizar, nas hipóteses de descumprimento de ordem ou de sentença judiciais (CF, art. 34, VI e art. 35, IV), a efetivação do ato de intervenção - trate-se de inter- venção federal nos Estados-membros, cuide-se de intervenção estadual nos Municípios — reveste-se de caráter político-administrativo, muito embora instaurado perante órgão competente do Poder Judiciário (CF, art. 36, II e art. 35, IV), circunstância
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