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Ações Possessórias O ordenamento jurídico brasileiro dedica especial proteção à posse. Verifica-se que, uma vez ameaçada de agressões à posse, a lei permite duas mecanismos de defesa contra o agressor: a autotutela (consubstanciada no art. 1210 do CC - “O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse”.) ou as ações possessórias. As ações possessórias, também chamados interditos possessórios, são instrumentos para conservar, recuperar ou proteger a posse de determinado imóvel, que tenha sido sujeito ou ameaçado de injusta agressão de terceiro. Ressalta-se que o bem jurídico tutelado por essas ações é tão somente a posse, não sendo necessário a existência de propriedade. São três as ações possessórias: a ação de reintegração de posse, a de manutenção de posse e o interdito proibitório. O que difere uma da outra é a natureza da agressão à posse. Vejamos a diferenciação proposta por Marcus Vinícius Dias Gonçalves: As ações possessórias são também chamadas interditos possessórios. São elas: a reintegração de posse, a manutenção de posse e o interdito proibitório, cabíveis quando houver, respectivamente, esbulho, turbação ou ameaça. O que permite identificar qual a adequada é o tipo de agressão que a posse sofreu. É preciso identificar cada um desses tipos: esbulho: pressupõe que a vítima seja desapossada do bem, que o perca para o autor da agressão. É o que ocorre quando há uma invasão e o possuidor é expulso da coisa; turbação: pressupõe a prática de atos materiais concretos de agressão à posse, mas sem desapossamento da vítima. Por exemplo: o agressor destrói o muro do imóvel da vítima; ou ingressa frequentemente, para subtrair frutas ou objetos de dentro do imóvel; ameaça: não há atos materiais concretos, mas o agressor manifesta a intenção de consumar a agressão. Se ele vai até a divisa do imóvel, e ali se posta, armado, com outras pessoas, dando a entender que vai invadir, haverá ameaça. 1 1 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado / Marcus Vinicius Rios Gonçalves. – São Paulo : Saraiva, 2011. P 764 Todavia, em alguns casos concretos, não é possível diferenciar com exatidão se o caso é de turbação, esbulho ou ameaça. Por este motivo, tais ações são consideradas fungíveis entre si, ou seja, permite ao juiz que conceda uma forma de ação possessória diferente da postulada. Vejamos, pois, algumas características destas ações: a) fungibilidade: conforme já colocado, por força do art. 554 do CPC, “A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados”; b) Possibilidade de cumulação de pedidos: o art. 555 do CPC coloca como possível a cumulação ao pedido de proteção possessória pedidos de condenação em perdas e danos, indenização dos frutos ou imposição de medida para evitar nova turbação ou esbulho (provavelmente pela fixação de astreintes); c) Natureza dúplice: o réu poderá, na contestação, alegar que foi ele quem foi ofendido em sua posse, e por sua vez requerer a proteção possessória ao juiz, e mesmo cumular os pedidos descritos acima. Tal fato é descrito no art. 556 do CPC; d) Exceção de domínio: Não pode o réu defender-se alegando, meramente, que é proprietário do bem. Verifica-se que tais ações existem para proteger a posse, não importando quem de fato seja o proprietário; e) Proibição de ajuizamento de ação de reconhecimento de domínio (art. 557, CPC): Na pendência de julgamento da ação possessória, e vedado tanto ao autor quanto ao réu intentar ação de reconhecimento de domínio (ou seja, ação para discutir a propriedade). Tal ação só poderá ser intentada se for contra terceiro (fora da lide possessória), ou após o trânsito em julgado da ação possessória Por fim, em relação ao procedimento, temos que, por força do art. 558 do CPC, as ações de manutenção e reintegração de posse pelo rito especial somente podem ser intentadas no caso de posse nova (ano e dia do esbulho ou turbação). No caso de prazo superior a esse, a ação correrá pelo procedimento comum, não perdendo, contudo, seu caráter possessório. A esse respeito: Existem dois tipos de ação possessória: a de força nova e a de força velha. O que as distingue é o procedimento, o que fica evidenciado pelo art. 924 2 do CPC: “Regem o procedimento de manutenção e reintegração de posse as normas da seção seguinte, quando intentada dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho; passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório”. A ação de força nova é aquela intentada dentro do prazo de ano e dia, a contar da data do esbulho ou da turbação. O que a caracteriza é o procedimento especial, em que há a possibilidade de liminar própria, com requisitos específicos. Se o autor propuser a ação depois de ano e dia, ela observará o procedimento comum. 3 2 Referência ao dispositivo do CPC atual. No novo CPC, encontra-se no art. 558, que passou a vigorar com a seguinte redação: “Art. 558. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas da Seção II deste Capítulo quando a ação for proposta dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Parágrafo único. Passado o prazo referido no caput, será comum o procedimento, não perdendo, contudo, o caráter possessório.” 3 GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito processual civil esquematizado / Marcus Vinicius Rios Gonçalves. – São Paulo : Saraiva, 2011. P 769
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