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26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 1/48 DEMOCRACIA REPRESENTATIVA LIBERAL: PRINCÍPIOS E PRESSUPOSTOS Prof. Everton Rodrigo Santos Atualizado por: Prof. Honor de Almeida Neto https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 2/48 Nesta unidade temática, você vai aprender O aluno deve ser capaz de: entender a natureza humana e a natureza do poder; compreender os princípios da Democracia Representativa Liberal; entender a relação entre Democracia e os Direitos Humanos; analisar o impacto da cultura e, mais especificamente, da cultura política brasileira para a qualidade da democracia brasileira; entender o padrão de relação entre a sociedade brasileira e o estado patrimonial brasileiro; problematizar o impacto das novas tecnologias de comunicação e informação (NTIC) para crise de representatividade e confiança e a crise da democracia representativa liberal; compreender as caraterísticas associadas ao campo democrático e as características comuns ao campo autoritário; entender o papel do estado-rede e os novos polos de poder. Introdução A democracia é, sem dúvida, um consenso nacional. Não há pessoa, neste país, que não se intitule um democrata nato ou seu defensor. Na política brasileira, da direita à esquerda, todos são democratas, não é mesmo? Aliás, curiosamente, todos os golpes militares na América Latina foram dados em nome da democracia (ROUQUIEU, 1984). O golpe civil- https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 3/48 militar de 1964 foi eufemisticamente chamado de “Revolução de 64” e foi feito para “salvar” a democracia brasileira do autoritarismo dos comunistas/sindicalistas (SANTOS 2010). O presidente Fernando Collor, em 1992, sofreu impeachment em nome da democracia e a presidente Dilma Rousseff, mais recentemente, em 2016, também teve seu impeachment justificado pela defesa da democracia. A verdade é que a democracia tornou-se uma palavra, um “significante vazio de significado”, dito de outra forma, parece que a palavra “democracia” comporta qualquer coisa. Contudo, o mesmo fenômeno não ocorreu com os direitos humanos. Via de regra, para o senso comum, a defesa dos direitos humanos é a defesa do direito dos “bandidos” e dos “criminosos”. Apenas uma pequena parcela de militantes e entusiastas utiliza o termo no sentido positivo de direito de “todos”, normalmente, grupos mais identificados com partidos de esquerda e movimentos sociais. A confusão hoje no país ficou mais ou menos assim: ou você é pró bandidos ou você é pró Direitos Humanos. Convenhamos que se trata de uma simplificação grosseira sobre o debate. O objetivo deste tema, independentemente de posições políticas partidárias, é apresentar os conceitos de democracia e introduzir a discussão em torno dos direitos humanos, situando-os teórica e historicamente de maneira sucinta, mas articulada. Nossa pretensão é fornecer ao leitor universitário referenciais para uma reflexão mais “sofisticada” e menos “apaixonada” desses conceitos. Queremos esclarecer os termos do debate nesses tempos de “pós-verdade” e de “autoverdade” para que possamos saber o que de fato estamos discutindo no âmbito acadêmico quando enunciamos as palavras democracia e direitos humanos, principalmente porque uma está associada a outra. Vamos começar com uma provocação? Muito provavelmente, você que nos lê não é um democrata convicto, muito menos um defensor dos direitos humanos e, veja só, nós não lhe conhecemos, como podemos fazer tal afirmação? É que nós conhecemos o nosso país e a nossa cultura política. Nossa origem é autoritária, nascemos, enquanto nação brasileira, sob a égide da escravidão e do patriarcalismo machista. Nossos antepassados acreditavam na inferioridade natural dos negros e índios, acreditavam na ira de Deus, acreditavam que, diante de alguma pessoa com deficiência, estavam diante de uma pessoa menor, pecaminosa. Vejam que esse “peso” herdado de nossa história complica o debate aberto e esclarecido. Assim, a discussão aqui proposta não tem a pretensão de fornecer informações para você, isso você já tem de sobra na Internet e nas redes sociais, pois vivemos na sociedade da informação. O que nós queremos trazer é formação acadêmica com base em conceitos e teorias que ajudem o estudante universitário a compreender o fenômeno da democracia no mundo e, particularmente, no Brasil. Os conceitos nos ajudam a dar forma às informações que lemos nos jornais e nas redes, certo? Assim, vamos definir conceitualmente o que é democracia, ressaltando sua origem com os gregos lá na antiguidade, passando pelo mundo moderno, até nossos dias e, particularmente, vamos analisar como essa “tecnologia importada”, chamada democracia, chegou ao Brasil Fique aqui por enquanto com a ideia de democracia de Przeworski (1984) https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 4/48 chegou ao Brasil. Fique aqui por enquanto com a ideia de democracia de Przeworski (1984), “amas a incerteza e serás democrático”, ou com a de Voltaire (2008), “não concordo com nenhuma palavra do que dizes, mas lutarei até a minha morte pelo direito que tens em dizê- las”. Vamos também tangenciar conceitualmente os direitos humanos, bem como situar esse debate em termos históricos, demonstrando sua importância civilizadora. Mesmo que você não se torne um humanista até o final desta disciplina, pelo menos você pode se transformar em um pragmático defensor dos direitos humanos, pois a sua vida, acredite, vai depender deles e de sua existência neste início de século XXI. Essas discussões serão colocadas sob o quadro da sociedade do conhecimento, da informação e da comunicação, em que as novas tecnologias “empoderaram” as pessoas como nunca antes foi visto, principalmente em contextos de sociedades “materialistas” como as latino-americanas, em que a sobrevivência no curto prazo está sempre na ordem do dia. Essa contextualização tende a complexificar ainda mais a situação. De simples receptores que ouviam passivamente ao rádio e assistiam à TV, as pessoas passaram a emissoras de informação e opinião nas redes sociais, Twitter, Facebook, Whatsapp. Essas novas tecnologias não somente conectaram mais as pessoas, mas também tornaram o mundo muito mais visível, abrindo uma crise crescente de confiança nas instituições políticas e na própria democracia liberal, em um contexto agravado pela crise do capitalismo global. Essa sinergia entre crise de confiança na democracia e crise do capitalismo poderá estar levando o mundo e o nosso país a um retrocesso civilizatório nesse estágio do desenvolvimento capitalista? A democracia e os direitos humanos estão sob ameaça? Democracia ontem e hoje A democracia tem suas raízes ligadas ao continente europeu, mais precisamente à cidade de Atenas na Grécia antiga, onde se desenvolveu por volta dos séculos IV e V antes de Cristo. No seu sentido etimológico, democracia significa demos: povo; e kratos: poder; ou seja, poder do povo. Certamente, você já ouviu falar nessa definição de Google, de dicionário. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 5/48 https://drive.google.com/file/d/1DNx3LtcoAb0Ryn6c-8wIN4c9fXLTjFMU/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 6/48 Figura 1: Democracia grega. A primeira indagação que devemos fazer é por que o poder precisa pertencer ao “povo”, por que não pode pertencer a alguém, a algum grupo de pessoas bem-intencionado e esclarecido? Talvez isso vá desagradar você, mas nós precisamos adverti-lo de que as pessoas,como argumentou o “fundador” da Ciência Política, Nicolau Maquiavel, são egoístas e mesquinhas, e é da natureza humana pensar nos interesses individuais em primeiro lugar. Assim, o excesso de poder nas mãos de uma única pessoa ou grupo sempre leva à tirania, ao abuso de poder; por essa razão, o controle do Estado pela “demos”, pelo povo, é sempre prudente. A democracia como conceito visa distribuir o poder entre todos e regular a competição política através de regras. https://drive.google.com/file/d/1DNx3LtcoAb0Ryn6c-8wIN4c9fXLTjFMU/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 7/48 https://drive.google.com/file/d/1x451lDnitce7v8mGnIIb_vFxpg6MXFfp/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 8/48 Figura 2: Um dos princípios da democracia é a distribuição do poder e a regulação da disputa pelo poder através de regras democráticas. É uma tecnologia que visa regular a relação entre inúmeros interesses diversos. Uma forma de regular a relação entre diferentes de formas a evitar sua autodestruição. https://drive.google.com/file/d/1x451lDnitce7v8mGnIIb_vFxpg6MXFfp/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 9/48 A verdade é que a política apareceu tarde em nossa vida, como argumentou Robert Dahl (1971), nós sempre estivemos ocupados com o nosso “umbigo”. Todos precisam ser controlados, principalmente eu e você. A maneira mais eficiente que a humanidade encontrou para conter os egoísmos até o presente momento foi a democracia. É fato que o conceito de democracia tem vários significados, é um termo controverso e polissêmico, e mesmo para pensadores como Platão e Aristóteles, na antiguidade, a democracia não era bem vista. Para o primeiro, ela era uma das piores formas de governo e, para o segundo, era uma forma corrompida de governar. Fato curioso é que a democracia dos gregos, vista pelos olhos de hoje, era bem restrita, pois somente os cidadãos podiam participar da vida política da cidade-estado (da polis), isto é, nem escravos nem mulheres podiam participar, pois não eram considerados cidadãos. Contudo, o primeiro aspecto importante a reter é é que, pela primeira vez na história da humanidade, os gregos pensaram em uma forma de governo que não se limitava à participação direta dos cidadãos em assembleias e reuniões, mas em toda a administração da cidade. Claro que essa democracia foi pensada de forma direta para proporções pequenas como Atenas, que, na época de Péricles, tinha algo em torno de 45 mil habitantes, mas esse fato já foi um enorme avanço para a época (DAHL,1992). O segundo aspecto a reter é a perspectiva posta por Platão e Aristóteles para a teoria democrática. Platão, em sua obra “O Estadista e as Leis”, vai fazer a classificação sêxtupla das formas de governo corrompidas (tirania, oligarquia e democracia extremada) e as virtuosas (monarquia, aristocracia e democracia moderada) que depois será perenizada por Aristóteles na sua obra a “Política” (FERRAZ, 2014). Atentem para o fato de que a “democracia moderada” de Platão é o conceito que mais nos aproxima da ideia de democracia que temos hoje. Aristóteles chamará a “democracia moderada” de Platão de “politeia”. A Politeia significava o governo de muitos para o bem de todos, é a ideia da democracia subordinada às leis, capaz de controlar o egoísmo e os interesses individuais em prol do bem de todos (FERRAZ, 2014). Veja então que a Ciência Política, esse ramo do conhecimento que tem como objeto de estudo o Poder e o Estado, debruça-se a estudar não só a natureza do poder (que é má/pois o poder é mau), como também as diversas formas que foram sendo gestadas historicamente para conter o poder. Guarde essa ideia: o princípio da democracia é tirar o poder das pessoas e colocar nas normas, nas regras, nas leis. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 10/48 https://drive.google.com/file/d/1W7gbfuZX4VF7tT85ljNiNqFgoZatNVWJ/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 11/48 Figura 3: Não há democracia sem leis, as regras (constituição) visam salvaguardar o interesse comum/público em detrimento do interesse pessoal. Esse por sinal é o papel da burocracia. Editais de concursos públicos têm essa função, criar critérios gerais e impessoais que evitem o nepotismo e o patrimonialismo. https://drive.google.com/file/d/1W7gbfuZX4VF7tT85ljNiNqFgoZatNVWJ/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 12/48 Ainda que o conceito de democracia seja controverso, assistimos com os gregos o nascimento de dois princípios básicos que atravessaram a história conceitual da categoria democracia, segundo Ferraz (2014): a ideia de liberdade política e igualdade política. Esses dois princípios estarão para sempre ligados aos direitos fundamentais da pessoa humana, a ideia de que “eu sou livre e sou igual a qualquer outra pessoa”. Dahl (1971) dirá, mais tarde, na sua obra a “Poliarquia”, de outra forma, que todo regime democrático deve necessariamente estar aberto à participação e à contestação para ser classificado enquanto tal. Na sequência histórica, a ideia de democracia vai submergir durante muitos séculos depois da antiguidade para somente reaparecer séculos depois na modernidade sob um novo desafio, o desafio da representação política que não havia sido posto para os gregos que tinham apenas vivenciado a experiência da democracia direta em Atenas. A democracia direta, portanto, não lança mão da representação, ou seja o povo vota determinado tema sem eleger representantes para tal. Trata-se de um tipo de democracia com limites quanto ao número de votantes/população. O que temos hoje mais próximo de uma democracia direta é o plebiscito. A democracia moderna representativa A democracia representativa tem sua origem na famosa Carta Magna de 1215, na Inglaterra, que completou 800 anos em 2015. Nessa carta foram firmados, ainda na Idade Média, os limites do poder real e a constituição de um embrião do que viria a ser, mais tarde, o parlamento moderno. Entre outras coisas, a carta estabelecia, por exemplo, o direito à liberdade religiosa, a limitação do poder real à autorização dos barões, no que diz respeito ao valor dos impostos, o direito de os homens recorrerem à justiça, liberdade para viajar ao exterior (FERRAZ, 2014). Essa ideia de limitar o poder ou mesmo separá-lo em diferentes instituições, como executivo, legislativo e judiciário começa a aparecer em vários países nos séculos XVII e XVIII, como na Inglaterra, nos Estados Unidos ou mesmo na França. Na Inglaterra, teremos o “Bill of Rights”, de 1689, ou seja, uma declaração feita pelo parlamento inglês não só de direitos e liberdades dos seus súditos, mas também uma declaração que define a sucessão da coroa. Esse documento foi imposto aos soberanos ingleses Guilherme III e Maria II. Nos EUA, teremos a Declaração de Independência dos Estados Unidos, de 1776, com a Constituição Americana delimitando e separando poderes. Em 1789, a Revolução Francesa, com a famosa Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão. Vejam que se a democracia guarda desde a antiguidade a preocupação com a distribuição e o controle do poder pela “demos”, é na sua versão moderna que observaremos a cristalização dos direitos fundamentais da pessoa contra o arbítrio estatal. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t00313/48 https://drive.google.com/file/d/1LxJjp1arFrSPE5_aCw-R6VnIkdAREKY2/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 14/48 Figura 4: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Eventos históricos como a Revolução Francesa marcaram a história da democracia, pois tratam de conquistas da sociedade na relação com o poder estatal, neste caso contra a nobreza. Fonte: Wikimedia https://drive.google.com/file/d/1LxJjp1arFrSPE5_aCw-R6VnIkdAREKY2/view?usp=sharing https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FMarianne%23%2Fmedia%2FFile%3AEug%25C3%25A8ne_Delacroix_-_La_libert%25C3%25A9_guidant_le_peuple.jpg&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2lhdnSzwspP9bc81AhKnhD https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 15/48 Guarde esta ideia: todo verdadeiro democrata é sempre um grande desconfiado do poder do Estado, pois a democracia moderna liberal nasce contrapondo-se ao arbítrio do poder absolutista (que legislava, executava e julgava sozinho). Com Montesquieu (1991), na teoria dos três poderes, haverá uma separação desse poder absoluto em três poderes independentes e interdependentes. Cada um desses poderes deveria ser capaz de contrariar o outro poder, executando, legislando ou julgando. Assim, o próprio liberalismo, enquanto corrente teórica, nasce afirmando direitos, contrapondo-se às arbitrariedades do Estado e de pessoas. A democracia é uma invenção burguesa. O pensamento liberal-burguês prega a liberdade do indivíduo na relação com o Estado, que concentra, por exemplo, o monopólio da violência (exército, polícia, judiciário, Ministério Público). Liberdade em todos os sentidos, não somente o econômico. Pense nisso, então: a democracia é uma conquista das sociedades na relação com o Estado, é uma tecnologia de distribuição de poder: https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 16/48 https://drive.google.com/file/d/16fc8o8ItlP8f_dfBHgAhjF3ZG71wjAU2/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 17/48 Figura 5: A relação Estado x sociedade. Os pais fundadores dos EUA, entre eles James Madison (1991), defendiam o governo representativo como forma de evitar a irracionalidade das massas. O inimigo de uma sociedade livre não é só um monarca, a tirania não é uma questão numérica, a multidão pode ser tão tirânica como um rei absoluto (COUTINHO, 2017). A política exige certa preparação do cidadão que não está necessariamente ao alcance das massas; por essa razão, a ideia da representação. https://drive.google.com/file/d/16fc8o8ItlP8f_dfBHgAhjF3ZG71wjAU2/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 18/48 https://drive.google.com/file/d/1tOurzr6H5q37b5KE8Xr4PB3EPe3434d2/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 19/48 Figura 6: A Democracia representativa baseia-se na delegação do poder de representar a população, centrado no parlamentar eleito. Que fala (ou deveria falar) em nome dos seus eleitores. https://drive.google.com/file/d/1tOurzr6H5q37b5KE8Xr4PB3EPe3434d2/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 20/48 Nessa ordem das coisas é que a democracia representativa também vai precisar do primado da lei! Por quê? Porque, como afirmava Rousseau (1991), o homem vivia feliz no seu “estado de natureza”, pois dependia das “coisas” (das chuvas, dos ventos, do clima) e não de “outro homem”; quando ele se torna um ser social, advém toda a sua infelicidade, porque ele passa a depender dos outros. A solução, segundo Rousseau (1991), seria depender das “coisas” novamente, mas agora as “coisas” não são mais as chuvas, os ventos, mas as leis, que nada mais são do que a materialização da vontade geral dos cidadãos. Dessa forma, obedecer a elas é obedecer a si mesmo, é ser livre! Daí decorre outro processo importante para a democracia moderna, que é o constitucionalismo (nos séculos XVII, XVIII, na Inglaterra, na França e nos EUA, entre outros) a necessidade de estabelecer uma Constituição, em uma carta, os direitos e deveres dos cidadãos. Junto à ideia da representação da Constituição, temos acoplada a ela a soberania popular, ou seja, o direito de eleger representantes no parlamento pelo voto, que se dará mais ou menos nos séculos XVIII, XIX e XX na Europa e nos EUA. Então, quando falamos no Estado Democrático de Direito, estamos falando do encontro entre três processos políticos que ocorreram, grosso modo, ao longo de quatro séculos, na Europa e nos EUA, entre os séculos XVII, XVIII, XIX e XX. Governo representativo (parlamento), Constitucionalismo (Constituição) e o Sufrágio Universal (Voto) (FERRAZ, 2014). Quando um desses pilares da democracia moderna e liberal são atingidos, dizemos que a democracia está em perigo. Quadro 1. Os três pilares da democracia OS TRÊS PILARES DA DEMOCRACIA Quando um destes três pilares não é respeitado/valorizado, a democracia está em risco. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 21/48 GOVERNO REPRESENTATIVO /PARLAMENTO https://drive.google.com/file/d/1zw8XKnSsjljFij3TAw3UL7qFWqUIQnfw/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1hKa8N9ztYqywWgFYIZJwHDkfJxOhwQHg/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 22/48 CONSTITUCIONALISMO/JUDICIÁRIO https://drive.google.com/file/d/1hKa8N9ztYqywWgFYIZJwHDkfJxOhwQHg/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 23/48 SUFRÁGIO UNIVERSAL/ VOTO https://drive.google.com/file/d/1quWDCsSYjbw8abS7hFlUrdMPL6rO0gER/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 24/48 Não por acaso, quando se dá um golpe de Estado ou alguma ruptura institucional, a primeira coisa que se fecha é o parlamento, a câmara dos representantes, suprime-se o voto popular e se “amordaça” o judiciário. Vejam o exemplo da Venezuela em 2017, que, seguindo a “cartilha autoritária”, esvaziou o parlamento e, por consequência, o voto popular, convocando uma Assembleia Constituinte dominada pelos apoiadores do executivo (Madurismo) e expurgando juízes que não concordavam com o mandatário do executivo. Fato semelhante ocorreu com a ditadura militar no Brasil, pois se trata de uma cartilha comum a governos antidemocráticos. A verdade é que esse “modelo democrático liberal” descrito aqui neste item foi exportado para uma boa parte do mundo ocidental com suas virtudes e vícios, inclusive para o Brasil. A democracia em terras brasileiras A democracia foi uma “tecnologia política” europeia de fato em seu início, mas que não se limitou ao continente europeu; ela foi exportada para os outros quatro continentes que irão processá-la de diferentes maneiras, dadas as especificidades de cada localidade. Ela chega, por exemplo, na América, por volta do século XVIII, mas vai ser absorvida de diferentes maneiras em diferentes territórios da região. Na América do Norte, por exemplo, que teve uma colonização inglesa, houve a importação de instituições horizontais anglo-saxãs, constituindo uma sociedade mais ativa, mais independente doEstado. Na América Latina, com a colonização espanhola e portuguesa (sobretudo), tivemos a importação de instituições verticais ibéricas, dentro de uma perspectiva de sociedades hasteadas, ou seja, sociedades criadas de cima para baixo, com uma sociedade mais dependente do Estado. O Brasil, colonizado por portugueses, de forte tradição autoritária e católica, terá uma relação bastante tortuosa com a importação do regime democrático liberal de governo. Achávamos que, feita a independência do país, bastava confeccionar uma constituição parecida com os modelos vigentes na Europa ou nos Estados Unidos que assim teríamos, enfim, a democracia. Ledo engano. As leis por si só não funcionam, elas precisam da adesão da sociedade para de fato funcionarem. A lei que proíbe o fumo em lugares fechados demorou para ser efetivada, pois, para funcionar, as pessoas precisaram se conscientizar dos malefícios do fumo, bem como mudar hábitos, ou ao menos abrir mão do seu desejo individual de fumar em nome da vontade geral, do bem comum, como sugere Rousseau. Veja que a Vontade Geral, o bem comum não é uma soma das vontades individuais, como se possa crer. O que é bom para o público (comum) pode não ser bom para mim (indivíduo) ok? Para os teóricos do institucionalismo, a democracia precisa de leis, regras e de uma Constituição, ou seja, de um “esqueleto legal”, que dê norte, que balize a sociedade; mas https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 25/48 ç , j , q g , q , q ; também vai precisar de “músculos”, como afirmam os culturalistas, de uma “cultura política” congruente com esse sistema legal, em outras palavras, com um conjunto de valores, opiniões e atitudes de seus cidadãos que sejam aderentes ao regime democrático (ALMOND e VERBA 1970). Para uma lei existir, ela precisa existir primeiro na cabeça das pessoas e depois no papel. Aqui, no Brasil, ela existe primeiro no papel e só depois na cabeça das pessoas; por essa razão, é comum ouvir no Brasil: “a lei não pegou”! Quando falamos em regime democrático, grosso modo, estamos falando da maneira pela qual o poder é distribuído entre o Estado e a Sociedade. Quanto mais ele se concentra no polo do Estado mais autoritário, mais despótico ele é; quanto mais ele se concentra no polo da sociedade, mais democrático ele tende a ser. Os gregos, como vimos, foram os primeiros a impulsionarem o pêndulo do poder para a “demos”, para a sociedade, para o povo. Depois, esse regime foi aperfeiçoado pelos ingleses, franceses, americanos e demais países no mundo que tentam até hoje aperfeiçoar instituições e a cultura política para que moderem o poder. Poder aqui é a capacidade que eu tenho de impor as minhas vontades a uma determinada relação, mesmo encontrando resistências (WEBER, 1999). Daí que, como vimos no Tema 1, as relações humanas e sociais são relações de poder e dominação. https://drive.google.com/file/d/16ACYEWQKy4FABH8mZ5fTpYlaoo7DhjtL/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 26/48 Figura 7: Quanto mais poder para o Estado, menos democrático e mais autoritário e quanto mais poder para o povo, menos autoritário e mais democrático. https://drive.google.com/file/d/16ACYEWQKy4FABH8mZ5fTpYlaoo7DhjtL/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/16ACYEWQKy4FABH8mZ5fTpYlaoo7DhjtL/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 27/48 Nesse sentido, a democracia precisa de cidadãos autônomos, independentes, de uma sociedade econômica e educacionalmente potente para poder se contrapor ao poder do Estado. Por essa razão, alguns estudiosos da democracia dizem que quase todas as nações democráticas do mundo são ricas e as ricas são democráticas, ao passo que as nações pobres quase todas são autoritárias e as autoritárias são pobres (HUNTIGTON, 1994). https://drive.google.com/file/d/19ijgyblAUv-D-1majBB1mhBz0leH0kBz/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 28/48 Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém. Jean-Jacques Rousseau Figura 8: A democracia, de acordo com Jean-jacques Rousseau. Há uma forte correlação entre riqueza e democracia. Veja um pequeno exemplo no Quadro 1 a seguir: https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 29/48 https://docs.google.com/document/d/14kylShS7t8211G0k-T9Gg73YwyfVIviubWogZ6G6TSg/edit?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 30/48 Quadro 1: Índice de democracia da revista The Economist 2015. Veja a posição do Brasil e entenda nossos limites culturais em lidar com a democracia Conforme o Quadro 1, Noruega, Estados Unidos e Reino Unido são países com altos índices de desenvolvimento (SEN, 2000) e, consequentemente, são democracias plenas. Argentina, Brasil e México, em posição intermediária, são considerados países em desenvolvimento e apresentam democracias imperfeitas. Zimbabwe, Síria e Coreia do Norte são países pobres e, portanto, têm regimes autoritários. Não é que a riqueza cria por si só a democracia, mas a sua permanência por longos períodos pode favorecer a democracia. O cientista político Ronald Inglehart (2001), um dos precursores da Pesquisa Mundial de Valores (WVS), vai acrescentar um ingrediente a mais nessa explicação. Para ele, o crescimento econômico não leva automaticamente à democracia, pois, normalmente, nesse estágio do desenvolvimento capitalista (da modernização), as pessoas têm valores “materialistas”, ou seja, estão preocupadas ainda com sua sobrevivência, com suas condições materiais de vida, ao passo que a democracia precisa mesmo é que as pessoas tenham valores “pós-materialistas”, em outras palavras, valores ligados à autoexpressão, à participação, esses sim valores que seriam compatíveis com a democracia como regime de governo conforme Gráfico 1: https://docs.google.com/document/d/14kylShS7t8211G0k-T9Gg73YwyfVIviubWogZ6G6TSg/edit?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 31/48 https://drive.google.com/file/d/1UQNgaNoH-aX6h77AqlxJkuU-tT87nblm/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1UQNgaNoH-aX6h77AqlxJkuU-tT87nblm/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 32/48 Gráfico 1: Pesquisa mundial de valores. Para saber mais clique aqui. Fonte: World Values Survey (WVS). https://drive.google.com/file/d/1UQNgaNoH-aX6h77AqlxJkuU-tT87nblm/view?usp=sharing http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.ufrgs.br%2Fnupesal%2Fprojetos%2Fsingle%2FWorld_Values_Survey_Brasil_2000_-_Atual&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2zMc27LwpymjPJcD2lcN4N http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.worldvaluessurvey.org%2FWVSContents.jsp%3FCMSID%3DFindings&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw0DOvGt3P8QSDfGsGDaJK3W https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 33/48 Observe que quanto mais à direita do Gráfico 1 (acima) mais “pós-materialista” o país é, por exemplo: na Suécia, lá na ponta (na Europa Protestante), as pessoas estão preocupadas com a extinção do planeta, com o meio ambiente e são menos religiosas. Na ponta esquerda oposta, está Marrocos (África Islâmica), lá as pessoas estão preocupadas em comer, vestir; enfim,são mais “materialistas” e mais religiosas. As chances da democracia estão mais no lado direito do gráfico do que no esquerdo. Assim, como os fundamentalismos religiosos são mais encontrados do lado esquerdo de nosso Gráfico 1 do que do lado direito, muito embora os ataques (o terrorismo, por exemplo) aconteçam com frequência contra o lado direito. O que está por trás dessa ideia é que a democracia precisa de um poder fora da esfera do Estado para existir, precisa de resistência, precisa de uma classe média, educada, participativa, com valores “pós-materialistas”, mas, sobretudo, de oposição. Algo que não se instaura do dia para a noite, exige tempo para que os valores sejam incorporados pelas pessoas, pela cultura, pela sociedade. Estamos chamando de oposição as forças políticas que se contrapõem ao governo e são necessárias para a existência da democracia, já as forças que estão no comando do Estado chamamos de governo ou situação (forças de plantão no Estado). Então, ora um partido ou uma coalisão de partidos pode estar na situação, ora eles podem estar na oposição. Isto é saudável e dá equilíbrio ao regime democrático. Todavia, lembre-se de que esse fato de ser situação ou oposição nada tem a ver com ser de esquerda ou direita na política. Essa terminologia vem desde a revolução francesa no século XVIII e designava aqueles na assembleia francesa que sentavam à esquerda, chamados de jacobinos (com sensibilidade para as questões sociais) e os que sentavam à direita, os girondinos (com sensibilidade para as questões econômicas). https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 34/48 https://drive.google.com/file/d/10SZXBTHs50oHu8FZVm6s03zPfo6ERH_R/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 35/48 Figura 9: Origem dos conceitos de esquerda e direita. Essa classificação permanece atual e se constitui em um norte para a análise e a ação política de uma forma ampla. https://drive.google.com/file/d/10SZXBTHs50oHu8FZVm6s03zPfo6ERH_R/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 36/48 A discussão se dá também em torno do ESTADO e de suas atribuições, pois nessa perspectiva “ser esquerda” é desejar um Estado mais voltado ao desenvolvimento social, à distribuição de renda, a políticas sociais, portanto, à ideia de mais Estado, ao passo que ser de direita é conceber como função um Estado mais voltado à eficácia econômica, ao controle dos gastos públicos, portanto, menos Estado. Há portanto uma relação com a renda e com a dependência ou não do Estado. Segundo o cientista político Alberto Carlos Almeida, em todo o mundo os mais ricos votam mais na “direita”. Como demonstra o mapa eleitoral brasileiro das últimas eleições de 2018 (primeiro turno). Este desenho é basicamente o mesmo das últimas seis eleições presidenciais no Brasil. Veja que as regiões mais carentes do país votam no PT, um partido mais identificado com valores de esquerda e de centro-esquerda, sobretudo, e os mais ricos no PSDB (um partido de centro-direita) e, agora, nas últimas eleições, o PSL, um partido de extrema- direita que substituiu geograficamente a densidade eleitoral do PSDB. Ou seja, sobretudo no norte e nordeste o PT e no sul e sudeste o PSL. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 37/48 Clique aqui e veja o Mapa eleitoral do 1º turno das eleições presidenciais 2018. Mapa eleitoral do Brasil. http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fespeciais.g1.globo.com%2Fpolitica%2Feleicoes%2F2018%2Fmapa-da-apuracao-no-brasil-presidente%2F1-turno%2F&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw1buC9t5a2BfKZWU6CBujHn http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fespeciais.g1.globo.com%2Fpolitica%2Feleicoes%2F2018%2Fmapa-da-apuracao-no-brasil-presidente%2F1-turno%2F&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw1buC9t5a2BfKZWU6CBujHn https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 38/48 Quanto maior a densidade de votos, mais vermelho (mais vitórias do PT) ou mais verde escuro (mais vitórias do PSL), e quanto menor a densidade eleitoral, mais para a cor rosa ou para um verde claro, ok? Veja então que, quanto maior a renda do indivíduo, via de regra menos ele necessita do Estado, pois tem recursos suficientes para suprir suas necessidades básicas ligadas, por exemplo, à saúde (plano de saúde privado), educação (escola privada) e segurança (seguros, vigilância privada, etc.). Para uma classe média e média alta o estado pode ser visto como uma espécie de “sócio” que não dá o retorno em serviços de acordo com os impostos. Ao passo que se para populações carentes, apenas o serviço público é acessível, é a única alternativa possível a sua sobrevivência, daí uma maior dependência do Estado e das políticas públicas. Claro que isso não impede que alguém mais abastado economicamente não possa eleger partidos de esquerda por outras motivações como a solidariedade, uma sensibilidade social maior etc, ou o contrário. Mas não é esse o padrão de comportamento do eleitor, como demonstra Alberto Carlos Almeida (2018). Lembre-se que os indivíduos agem de acordo com seus interesses individuais em primeiro lugar, lembram?o grande número de imigrantes nos Estados Unidos que elegeram um presidente declaradamente avesso à imigração nos Estados Unidos, e cujo lema de campanha é “A América para os americanos”. É Aliás, temos um caso exemplar disso, a malfadada natureza humana (má, mesquinha, egoísta). Enquanto houver desigualdade, haverá “esquerda”. Já, o cientista político italiano Norberto Bobbio (1995) vai afirmar que o que separa a esquerda da direita é a ideia da igualdade; para ele, as pessoas são ao mesmo tempo iguais e diferentes. São iguais porque todos precisam viver, se alimentar, se vestir, mas ao mesmo tempo são diferentes, pois vivem de modo diferente, alimentam-se diferentemente e vestem-se também diferentemente uns dos outros. Assim, ser de direita, segundo o autor, é achar que nós somos muito mais diferentes do que iguais, o acento é naquilo que nos separa, ao passo que os de esquerda acham que nós somos muito mais iguais do que diferentes, o acento é no que nos aproxima. Faça sua escolha, pois, como argumentava o jornalista Nelson Rodrigues, “toda a unanimidade é burra”. As duas forças políticas são bem-vindas na sociedade democrática, pois novamente equilibram o “jogo de poder”. O conflito é importante na democracia, o problema são os extremos, tanto a extrema esquerda, quanto a extrema direita, pois ambos são negadores da democracia e não comungam de consensos básicos necessários para ela existir. Na história da humanidade, o Stalinismo e o Nazismo foram exemplos claros desses extremos, o primeiro à esquerda e o segundo à direita, os dois negadores da condição humana, dos indivíduos, dos direitos humanos e das liberdades. Por isso que quem não concorda com eles está contra eles. https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 39/48 https://drive.google.com/file/d/1e9iJZPFt-56cSHLh75AOzl7UJ31AzKuH/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 40/48 Figura 10: Não há diferenças entre os extremos. A democracia está sujeita a ser atacada, golpeada, tanto pela extrema esquerda quanto pela extrema direita. A democracia e o jogo democrático só são possíveis de serem jogados pelo centro (centro-esquerda e centro- direita). https://drive.google.com/file/d/1e9iJZPFt-56cSHLh75AOzl7UJ31AzKuH/view?usp=sharinghttps://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 41/48 https://drive.google.com/file/d/1Cuzb8_xg2rLBmTijjick-hQWhS5K4emE/view?usp=sharing https://drive.google.com/file/d/1Cuzb8_xg2rLBmTijjick-hQWhS5K4emE/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 42/48 https://drive.google.com/file/d/1Cuzb8_xg2rLBmTijjick-hQWhS5K4emE/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 43/48 A centro esquerda e a centro direita, conforme ilustra o INFOGRÁFICO, são as forças políticas comprometidas com a democracia, com as regras do “jogo político” e com as leis de uma forma geral (BOBBIO, 1995). O que une fortemente a extrema direita e a extrema esquerda é, sem dúvida, o forte autoritarismo e a negação da democracia e das liberdades. Os extremos são antiliberais e anticapitalistas e quase sempre favoráveis a mais Estado e menos direitos humanos. Algumas pessoas confundem e reduzem a compreensão do termo esquerda e direita a ser defensor do capitalismo ou defensor do socialismo. Isso é um engano. O fim do socialismo real no final da década de oitenta sepultou essa dicotomia, mas não sepultou a desigualdade no mundo (PIKETTY, 2013). Dessa forma, enquanto existirem desigualdades sociais existirá sempre alguém à esquerda, mesmo que seja sob a égide do capitalismo. Ser de esquerda ou de direita é uma questão relacional. O ex-presidente americano Barack Obama, com a defesa da igualdade de negros e da comunidade gay nos EUA, certamente situa-se mais à esquerda do sistema americano do que à direita. O presidente americano Donald Trump, com a defesa de um muro para separar os americanos dos mexicanos que imigram ilegalmente, com a sua xenofobia aos imigrantes ilegais, situa-se à direita. Veja que Trump vê mais as diferenças entre as pessoas do que suas semelhanças, ele olha mais para aquilo que separa do que para aquilo que une as pessoas. Certo? https://drive.google.com/file/d/1Cuzb8_xg2rLBmTijjick-hQWhS5K4emE/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 44/48 https://drive.google.com/file/d/1gNM89iHKlgWx6hlVYWcKld6IhqUyi4pj/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 45/48 Figura 11: Posso estar mais à direita de um partido ou mais à esquerda ou mais ao centro. Ser esquerda ou ser direita é uma questão relacional. Certamente, há jornalistas e pensadores que dizem que não há mais esquerda e direita, que essas ideias e ideologias foram enfraquecidas em prol dos interesses políticos partidários mais pragmáticos e imediatos. Ledo engano. Nós não podemos decretar o fim de um termo que é usual, e ainda hoje a política usa esses termos. Experimente chamar o Donald Trump e o Bolsonaro de esquerda e o Barack Obama e o Lula de direita que aparecerá alguém na multidão para dizer que você está enganado. Mas se esses termos não existem, por que a reação? Por fim, afinal de contas qual é mesmo a relação entre democracia e direitos humanos? É o que aprofundaremos no próximo tema desta disciplina. https://drive.google.com/file/d/1gNM89iHKlgWx6hlVYWcKld6IhqUyi4pj/view?usp=sharing https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0 26/04/2022 20:52 T003 https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 46/48 Referências ALMOND, Gabriel y VERBA, Sidnei. The Civic Culture. 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