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Tema 3 Sociedade e Contemporaneidade

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26/04/2022 20:52 T003
https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 1/48
DEMOCRACIA 
REPRESENTATIVA 
LIBERAL: PRINCÍPIOS E 
PRESSUPOSTOS
Prof. Everton Rodrigo Santos
Atualizado por: Prof. Honor de Almeida Neto
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
26/04/2022 20:52 T003
https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 2/48
Nesta unidade temática, você vai aprender
O aluno deve ser capaz de:
entender a natureza humana e a natureza do poder;
compreender os princípios da Democracia Representativa Liberal;
entender a relação entre Democracia e os Direitos Humanos;
analisar o impacto da cultura e, mais especificamente, da cultura política brasileira para a
qualidade da democracia brasileira;
entender o padrão de relação entre a sociedade brasileira e o estado patrimonial
brasileiro;
problematizar o impacto das novas tecnologias de comunicação e informação (NTIC) para
crise de representatividade e confiança e a crise da democracia representativa liberal;
compreender as caraterísticas associadas ao campo democrático e as características
comuns ao campo autoritário;
entender o papel do estado-rede e os novos polos de poder.
Introdução
A democracia é, sem dúvida, um consenso nacional. Não há pessoa, neste país, que não se
intitule um democrata nato ou seu defensor. Na política brasileira, da direita à esquerda,
todos são democratas, não é mesmo? Aliás, curiosamente, todos os golpes militares na
América Latina foram dados em nome da democracia (ROUQUIEU, 1984). O golpe civil-
 
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
26/04/2022 20:52 T003
https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 3/48
militar de 1964 foi eufemisticamente chamado de “Revolução de 64” e foi feito para “salvar”
a democracia brasileira do autoritarismo dos comunistas/sindicalistas (SANTOS 2010). O
presidente Fernando Collor, em 1992, sofreu impeachment em nome da democracia e a
presidente Dilma Rousseff, mais recentemente, em 2016, também teve seu impeachment
justificado pela defesa da democracia. A verdade é que a democracia tornou-se uma
palavra, um “significante vazio de significado”, dito de outra forma, parece que a palavra
“democracia” comporta qualquer coisa.
Contudo, o mesmo fenômeno não ocorreu com os direitos humanos. Via de regra, para o
senso comum, a defesa dos direitos humanos é a defesa do direito dos “bandidos” e dos
“criminosos”. Apenas uma pequena parcela de militantes e entusiastas utiliza o termo no
sentido positivo de direito de “todos”, normalmente, grupos mais identificados com partidos
de esquerda e movimentos sociais. A confusão hoje no país ficou mais ou menos assim: ou
você é pró bandidos ou você é pró Direitos Humanos. Convenhamos que se trata de uma
simplificação grosseira sobre o debate.
O objetivo deste tema, independentemente de posições políticas partidárias, é apresentar
os conceitos de democracia e introduzir a discussão em torno dos direitos humanos,
situando-os teórica e historicamente de maneira sucinta, mas articulada. Nossa pretensão é
fornecer ao leitor universitário referenciais para uma reflexão mais “sofisticada” e menos
“apaixonada” desses conceitos. Queremos esclarecer os termos do debate nesses tempos
de “pós-verdade” e de “autoverdade” para que possamos saber o que de fato estamos
discutindo no âmbito acadêmico quando enunciamos as palavras democracia e direitos
humanos, principalmente porque uma está associada a outra.
Vamos começar com uma provocação? Muito provavelmente, você que nos lê não é um
democrata convicto, muito menos um defensor dos direitos humanos e, veja só, nós não lhe
conhecemos, como podemos fazer tal afirmação? É que nós conhecemos o nosso país e a
nossa cultura política. Nossa origem é autoritária, nascemos, enquanto nação brasileira, sob
a égide da escravidão e do patriarcalismo machista. Nossos antepassados acreditavam na
inferioridade natural dos negros e índios, acreditavam na ira de Deus, acreditavam que,
diante de alguma pessoa com deficiência, estavam diante de uma pessoa menor,
pecaminosa. Vejam que esse “peso” herdado de nossa história complica o debate aberto e
esclarecido. Assim, a discussão aqui proposta não tem a pretensão de fornecer informações
para você, isso você já tem de sobra na Internet e nas redes sociais, pois vivemos na
sociedade da informação. O que nós queremos trazer é formação acadêmica com base em
conceitos e teorias que ajudem o estudante universitário a compreender o fenômeno da
democracia no mundo e, particularmente, no Brasil. Os conceitos nos ajudam a dar forma às
informações que lemos nos jornais e nas redes, certo?
Assim, vamos definir conceitualmente o que é democracia, ressaltando sua origem com os
gregos lá na antiguidade, passando pelo mundo moderno, até nossos dias e,
particularmente, vamos analisar como essa “tecnologia importada”, chamada democracia,
chegou ao Brasil Fique aqui por enquanto com a ideia de democracia de Przeworski (1984)
 
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chegou ao Brasil. Fique aqui por enquanto com a ideia de democracia de Przeworski (1984),
“amas a incerteza e serás democrático”, ou com a de Voltaire (2008), “não concordo com
nenhuma palavra do que dizes, mas lutarei até a minha morte pelo direito que tens em dizê-
las”.
Vamos também tangenciar conceitualmente os direitos humanos, bem como situar esse
debate em termos históricos, demonstrando sua importância civilizadora. Mesmo que você
não se torne um humanista até o final desta disciplina, pelo menos você pode se
transformar em um pragmático defensor dos direitos humanos, pois a sua vida, acredite, vai
depender deles e de sua existência neste início de século XXI. Essas discussões serão
colocadas sob o quadro da sociedade do conhecimento, da informação e da comunicação,
em que as novas tecnologias “empoderaram” as pessoas como nunca antes foi visto,
principalmente em contextos de sociedades “materialistas” como as latino-americanas, em
que a sobrevivência no curto prazo está sempre na ordem do dia. Essa contextualização
tende a complexificar ainda mais a situação. De simples receptores que ouviam
passivamente ao rádio e assistiam à TV, as pessoas passaram a emissoras de informação e
opinião nas redes sociais, Twitter, Facebook, Whatsapp. Essas novas tecnologias não
somente conectaram mais as pessoas, mas também tornaram o mundo muito mais visível,
abrindo uma crise crescente de confiança nas instituições políticas e na própria democracia
liberal, em um contexto agravado pela crise do capitalismo global. Essa sinergia entre crise
de confiança na democracia e crise do capitalismo poderá estar levando o mundo e o nosso
país a um retrocesso civilizatório nesse estágio do desenvolvimento capitalista? A
democracia e os direitos humanos estão sob ameaça?
Democracia ontem e hoje
A democracia tem suas raízes ligadas ao continente europeu, mais precisamente à cidade de
Atenas na Grécia antiga, onde se desenvolveu por volta dos séculos IV e V antes de Cristo.
No seu sentido etimológico, democracia significa demos: povo; e kratos: poder; ou seja,
poder do povo. Certamente, você já ouviu falar nessa definição de Google, de dicionário.
 
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https://drive.google.com/file/d/1DNx3LtcoAb0Ryn6c-8wIN4c9fXLTjFMU/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
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Figura 1: Democracia grega.
A primeira indagação que devemos fazer é por que o poder precisa pertencer ao “povo”, por
que não pode pertencer a alguém, a algum grupo de pessoas bem-intencionado e
esclarecido? Talvez isso vá desagradar você, mas nós precisamos adverti-lo de que as
pessoas,como argumentou o “fundador” da Ciência Política, Nicolau Maquiavel, são egoístas
e mesquinhas, e é da natureza humana pensar nos interesses individuais em primeiro lugar.
Assim, o excesso de poder nas mãos de uma única pessoa ou grupo sempre leva à tirania,
ao abuso de poder; por essa razão, o controle do Estado pela “demos”, pelo povo, é sempre
prudente. A democracia como conceito visa distribuir o poder entre todos e regular a
competição política através de regras.
 
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Figura 2: Um dos princípios da democracia é a distribuição do poder e a regulação da
disputa pelo poder através de regras democráticas. É uma tecnologia que visa regular a
relação entre inúmeros interesses diversos. Uma forma de regular a relação entre diferentes
de formas a evitar sua autodestruição.
 
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A verdade é que a política apareceu tarde em nossa vida, como argumentou Robert Dahl
(1971), nós sempre estivemos ocupados com o nosso “umbigo”. Todos precisam ser
controlados, principalmente eu e você. A maneira mais eficiente que a humanidade
encontrou para conter os egoísmos até o presente momento foi a democracia.
É fato que o conceito de democracia tem vários significados, é um termo controverso e
polissêmico, e mesmo para pensadores como Platão e Aristóteles, na antiguidade, a
democracia não era bem vista. Para o primeiro, ela era uma das piores formas de governo e,
para o segundo, era uma forma corrompida de governar. Fato curioso é que a democracia
dos gregos, vista pelos olhos de hoje, era bem restrita, pois somente os cidadãos podiam
participar da vida política da cidade-estado (da polis), isto é, nem escravos nem mulheres
podiam participar, pois não eram considerados cidadãos. Contudo, o primeiro aspecto
importante a reter é é que, pela primeira vez na história da humanidade, os gregos
pensaram em uma forma de governo que não se limitava à participação direta dos cidadãos
em assembleias e reuniões, mas em toda a administração da cidade. Claro que essa
democracia foi pensada de forma direta para proporções pequenas como Atenas, que, na
época de Péricles, tinha algo em torno de 45 mil habitantes, mas esse fato já foi um enorme
avanço para a época (DAHL,1992).
O segundo aspecto a reter é a perspectiva posta por Platão e Aristóteles para a teoria
democrática. Platão, em sua obra “O Estadista e as Leis”, vai fazer a classificação sêxtupla
das formas de governo corrompidas (tirania, oligarquia e democracia extremada) e as
virtuosas (monarquia, aristocracia e democracia moderada) que depois será perenizada por
Aristóteles na sua obra a “Política” (FERRAZ, 2014). Atentem para o fato de que a
“democracia moderada” de Platão é o conceito que mais nos aproxima da ideia de
democracia que temos hoje. Aristóteles chamará a “democracia moderada” de Platão de
“politeia”. A Politeia significava o governo de muitos para o bem de todos, é a ideia da
democracia subordinada às leis, capaz de controlar o egoísmo e os interesses individuais em
prol do bem de todos (FERRAZ, 2014).
Veja então que a Ciência Política, esse ramo do conhecimento que tem como objeto de
estudo o Poder e o Estado, debruça-se a estudar não só a natureza do poder (que é má/pois
o poder é mau), como também as diversas formas que foram sendo gestadas
historicamente para conter o poder. Guarde essa ideia: o princípio da democracia é tirar o
poder das pessoas e colocar nas normas, nas regras, nas leis.
 
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Figura 3: Não há democracia sem leis, as regras (constituição) visam salvaguardar o
interesse comum/público em detrimento do interesse pessoal. Esse por sinal é o papel da
burocracia. Editais de concursos públicos têm essa função, criar critérios gerais e impessoais
que evitem o nepotismo e o patrimonialismo.
 
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Ainda que o conceito de democracia seja controverso, assistimos com os gregos o
nascimento de dois princípios básicos que atravessaram a história conceitual da categoria
democracia, segundo Ferraz (2014): a ideia de liberdade política e igualdade política. Esses
dois princípios estarão para sempre ligados aos direitos fundamentais da pessoa humana, a
ideia de que “eu sou livre e sou igual a qualquer outra pessoa”. Dahl (1971) dirá, mais tarde,
na sua obra a “Poliarquia”, de outra forma, que todo regime democrático deve
necessariamente estar aberto à participação e à contestação para ser classificado enquanto
tal.
Na sequência histórica, a ideia de democracia vai submergir durante muitos séculos depois
da antiguidade para somente reaparecer séculos depois na modernidade sob um novo
desafio, o desafio da representação política que não havia sido posto para os gregos que
tinham apenas vivenciado a experiência da democracia direta em Atenas. A democracia
direta, portanto, não lança mão da representação, ou seja o povo vota determinado tema
sem eleger representantes para tal. Trata-se de um tipo de democracia com limites quanto
ao número de votantes/população. O que temos hoje mais próximo de uma democracia
direta é o plebiscito.
A democracia moderna representativa
A democracia representativa tem sua origem na famosa Carta Magna de 1215, na Inglaterra,
que completou 800 anos em 2015. Nessa carta foram firmados, ainda na Idade Média, os
limites do poder real e a constituição de um embrião do que viria a ser, mais tarde, o
parlamento moderno. Entre outras coisas, a carta estabelecia, por exemplo, o direito à
liberdade religiosa, a limitação do poder real à autorização dos barões, no que diz respeito
ao valor dos impostos, o direito de os homens recorrerem à justiça, liberdade para viajar ao
exterior (FERRAZ, 2014). Essa ideia de limitar o poder ou mesmo separá-lo em diferentes
instituições, como executivo, legislativo e judiciário começa a aparecer em vários países nos
séculos XVII e XVIII, como na Inglaterra, nos Estados Unidos ou mesmo na França.
Na Inglaterra, teremos o “Bill of Rights”, de 1689, ou seja, uma declaração feita pelo
parlamento inglês não só de direitos e liberdades dos seus súditos, mas também uma
declaração que define a sucessão da coroa. Esse documento foi imposto aos soberanos
ingleses Guilherme III e Maria II. Nos EUA, teremos a Declaração de Independência dos
Estados Unidos, de 1776, com a Constituição Americana delimitando e separando poderes.
Em 1789, a Revolução Francesa, com a famosa Declaração Universal dos Direitos do Homem
e do Cidadão. Vejam que se a democracia guarda desde a antiguidade a preocupação com a
distribuição e o controle do poder pela “demos”, é na sua versão moderna que
observaremos a cristalização dos direitos fundamentais da pessoa contra o arbítrio estatal.
 
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https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
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Figura 4: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Eventos históricos como a Revolução Francesa
marcaram a história da democracia, pois tratam de conquistas da sociedade na relação com
o poder estatal, neste caso contra a nobreza.
Fonte: Wikimedia
 
https://drive.google.com/file/d/1LxJjp1arFrSPE5_aCw-R6VnIkdAREKY2/view?usp=sharing
https://www.google.com/url?q=https%3A%2F%2Fen.wikipedia.org%2Fwiki%2FMarianne%23%2Fmedia%2FFile%3AEug%25C3%25A8ne_Delacroix_-_La_libert%25C3%25A9_guidant_le_peuple.jpg&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2lhdnSzwspP9bc81AhKnhD
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Guarde esta ideia: todo verdadeiro democrata é sempre um grande desconfiado do poder
do Estado, pois a democracia moderna liberal nasce contrapondo-se ao arbítrio do poder
absolutista (que legislava, executava e julgava sozinho). Com Montesquieu (1991), na teoria
dos três poderes, haverá uma separação desse poder absoluto em três poderes
independentes e interdependentes. Cada um desses poderes deveria ser capaz de
contrariar o outro poder, executando, legislando ou julgando.
Assim, o próprio liberalismo, enquanto corrente teórica, nasce afirmando direitos,
contrapondo-se às arbitrariedades do Estado e de pessoas. A democracia é uma invenção
burguesa. O pensamento liberal-burguês prega a liberdade do indivíduo na relação com o
Estado, que concentra, por exemplo, o monopólio da violência (exército, polícia, judiciário,
Ministério Público). Liberdade em todos os sentidos, não somente o econômico. Pense
nisso, então: a democracia é uma conquista das sociedades na relação com o Estado, é uma
tecnologia de distribuição de poder:
 
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https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
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Figura 5: A relação Estado x sociedade.
Os pais fundadores dos EUA, entre eles James Madison (1991), defendiam o governo
representativo como forma de evitar a irracionalidade das massas. O inimigo de uma
sociedade livre não é só um monarca, a tirania não é uma questão numérica, a multidão
pode ser tão tirânica como um rei absoluto (COUTINHO, 2017). A política exige certa
preparação do cidadão que não está necessariamente ao alcance das massas; por essa
razão, a ideia da representação.
 
https://drive.google.com/file/d/16fc8o8ItlP8f_dfBHgAhjF3ZG71wjAU2/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
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Figura 6: A Democracia representativa baseia-se na delegação do poder de representar a
população, centrado no parlamentar eleito. Que fala (ou deveria falar) em nome dos seus
eleitores.
 
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Nessa ordem das coisas é que a democracia representativa também vai precisar do primado
da lei! Por quê? Porque, como afirmava Rousseau (1991), o homem vivia feliz no seu “estado
de natureza”, pois dependia das “coisas” (das chuvas, dos ventos, do clima) e não de “outro
homem”; quando ele se torna um ser social, advém toda a sua infelicidade, porque ele passa
a depender dos outros. A solução, segundo Rousseau (1991), seria depender das “coisas”
novamente, mas agora as “coisas” não são mais as chuvas, os ventos, mas as leis, que nada
mais são do que a materialização da vontade geral dos cidadãos. Dessa forma, obedecer a
elas é obedecer a si mesmo, é ser livre!
Daí decorre outro processo importante para a democracia moderna, que é o
constitucionalismo (nos séculos XVII, XVIII, na Inglaterra, na França e nos EUA, entre outros)
a necessidade de estabelecer uma Constituição, em uma carta, os direitos e deveres dos
cidadãos. Junto à ideia da representação da Constituição, temos acoplada a ela a soberania
popular, ou seja, o direito de eleger representantes no parlamento pelo voto, que se dará
mais ou menos nos séculos XVIII, XIX e XX na Europa e nos EUA. Então, quando falamos no
Estado Democrático de Direito, estamos falando do encontro entre três processos políticos
que ocorreram, grosso modo, ao longo de quatro séculos, na Europa e nos EUA, entre os
séculos XVII, XVIII, XIX e XX. Governo representativo (parlamento), Constitucionalismo
(Constituição) e o Sufrágio Universal (Voto) (FERRAZ, 2014). Quando um desses pilares da
democracia moderna e liberal são atingidos, dizemos que a democracia está em perigo.
Quadro 1. Os três pilares da democracia
OS TRÊS PILARES DA DEMOCRACIA
Quando um destes três pilares não é respeitado/valorizado, a democracia está em risco.
 
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https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 21/48
GOVERNO REPRESENTATIVO /PARLAMENTO
 
https://drive.google.com/file/d/1zw8XKnSsjljFij3TAw3UL7qFWqUIQnfw/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1hKa8N9ztYqywWgFYIZJwHDkfJxOhwQHg/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
26/04/2022 20:52 T003
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CONSTITUCIONALISMO/JUDICIÁRIO
 
https://drive.google.com/file/d/1hKa8N9ztYqywWgFYIZJwHDkfJxOhwQHg/view?usp=sharing
https://sites.google.com/ulbra.br/g000003gs002/t001?authuser=0
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https://sites.google.com/ulbra.br/G000003GS002/t003 23/48
SUFRÁGIO UNIVERSAL/ VOTO
 
https://drive.google.com/file/d/1quWDCsSYjbw8abS7hFlUrdMPL6rO0gER/view?usp=sharing
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Não por acaso, quando se dá um golpe de Estado ou alguma ruptura institucional, a
primeira coisa que se fecha é o parlamento, a câmara dos representantes, suprime-se o
voto popular e se “amordaça” o judiciário. Vejam o exemplo da Venezuela em 2017, que,
seguindo a “cartilha autoritária”, esvaziou o parlamento e, por consequência, o voto popular,
convocando uma Assembleia Constituinte dominada pelos apoiadores do executivo
(Madurismo) e expurgando juízes que não concordavam com o mandatário do executivo.
Fato semelhante ocorreu com a ditadura militar no Brasil, pois se trata de uma cartilha
comum a governos antidemocráticos.
A verdade é que esse “modelo democrático liberal” descrito aqui neste item foi exportado
para uma boa parte do mundo ocidental com suas virtudes e vícios, inclusive para o Brasil.
A democracia em terras brasileiras
A democracia foi uma “tecnologia política” europeia de fato em seu início, mas que não se
limitou ao continente europeu; ela foi exportada para os outros quatro continentes que irão
processá-la de diferentes maneiras, dadas as especificidades de cada localidade. Ela chega,
por exemplo, na América, por volta do século XVIII, mas vai ser absorvida de diferentes
maneiras em diferentes territórios da região.
Na América do Norte, por exemplo, que teve uma colonização inglesa, houve a importação
de instituições horizontais anglo-saxãs, constituindo uma sociedade mais ativa, mais
independente doEstado. Na América Latina, com a colonização espanhola e portuguesa
(sobretudo), tivemos a importação de instituições verticais ibéricas, dentro de uma
perspectiva de sociedades hasteadas, ou seja, sociedades criadas de cima para baixo, com
uma sociedade mais dependente do Estado.
O Brasil, colonizado por portugueses, de forte tradição autoritária e católica, terá uma
relação bastante tortuosa com a importação do regime democrático liberal de governo.
Achávamos que, feita a independência do país, bastava confeccionar uma constituição
parecida com os modelos vigentes na Europa ou nos Estados Unidos que assim teríamos,
enfim, a democracia. Ledo engano. As leis por si só não funcionam, elas precisam da adesão
da sociedade para de fato funcionarem. A lei que proíbe o fumo em lugares fechados
demorou para ser efetivada, pois, para funcionar, as pessoas precisaram se conscientizar
dos malefícios do fumo, bem como mudar hábitos, ou ao menos abrir mão do seu desejo
individual de fumar em nome da vontade geral, do bem comum, como sugere Rousseau.
Veja que a Vontade Geral, o bem comum não é uma soma das vontades individuais, como se
possa crer. O que é bom para o público (comum) pode não ser bom para mim (indivíduo)
ok?
Para os teóricos do institucionalismo, a democracia precisa de leis, regras e de uma
Constituição, ou seja, de um “esqueleto legal”, que dê norte, que balize a sociedade; mas
 
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ç , j , q g , q , q ;
também vai precisar de “músculos”, como afirmam os culturalistas, de uma “cultura política”
congruente com esse sistema legal, em outras palavras, com um conjunto de valores,
opiniões e atitudes de seus cidadãos que sejam aderentes ao regime democrático (ALMOND
e VERBA 1970). Para uma lei existir, ela precisa existir primeiro na cabeça das pessoas e
depois no papel. Aqui, no Brasil, ela existe primeiro no papel e só depois na cabeça das
pessoas; por essa razão, é comum ouvir no Brasil: “a lei não pegou”!
Quando falamos em regime democrático, grosso modo, estamos falando da maneira pela
qual o poder é distribuído entre o Estado e a Sociedade. Quanto mais ele se concentra no
polo do Estado mais autoritário, mais despótico ele é; quanto mais ele se concentra no polo
da sociedade, mais democrático ele tende a ser. Os gregos, como vimos, foram os primeiros
a impulsionarem o pêndulo do poder para a “demos”, para a sociedade, para o povo.
Depois, esse regime foi aperfeiçoado pelos ingleses, franceses, americanos e demais países
no mundo que tentam até hoje aperfeiçoar instituições e a cultura política para que
moderem o poder. Poder aqui é a capacidade que eu tenho de impor as minhas vontades a
uma determinada relação, mesmo encontrando resistências (WEBER, 1999). Daí que, como
vimos no Tema 1, as relações humanas e sociais são relações de poder e dominação.
 
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Figura 7: Quanto mais poder para o Estado, menos democrático e mais autoritário e quanto
mais poder para o povo, menos autoritário e mais democrático.
 
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Nesse sentido, a democracia precisa de cidadãos autônomos, independentes, de uma
sociedade econômica e educacionalmente potente para poder se contrapor ao poder do
Estado. Por essa razão, alguns estudiosos da democracia dizem que quase todas as nações
democráticas do mundo são ricas e as ricas são democráticas, ao passo que as nações
pobres quase todas são autoritárias e as autoritárias são pobres (HUNTIGTON, 1994).
 
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Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e
ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém.
Jean-Jacques Rousseau
Figura 8: A democracia, de acordo com Jean-jacques Rousseau.
Há uma forte correlação entre riqueza e democracia. Veja um pequeno exemplo no Quadro
1 a seguir:
 
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https://docs.google.com/document/d/14kylShS7t8211G0k-T9Gg73YwyfVIviubWogZ6G6TSg/edit?usp=sharing
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Quadro 1: Índice de democracia da revista The Economist 2015. Veja a posição do
Brasil e entenda nossos limites culturais em lidar com a democracia
Conforme o Quadro 1, Noruega, Estados Unidos e Reino Unido são países com altos índices
de desenvolvimento (SEN, 2000) e, consequentemente, são democracias plenas. Argentina,
Brasil e México, em posição intermediária, são considerados países em desenvolvimento e
apresentam democracias imperfeitas. Zimbabwe, Síria e Coreia do Norte são países pobres
e, portanto, têm regimes autoritários.
Não é que a riqueza cria por si só a democracia, mas a sua permanência por longos
períodos pode favorecer a democracia. O cientista político Ronald Inglehart (2001), um dos
precursores da Pesquisa Mundial de Valores (WVS), vai acrescentar um ingrediente a mais
nessa explicação. Para ele, o crescimento econômico não leva automaticamente à
democracia, pois, normalmente, nesse estágio do desenvolvimento capitalista (da
modernização), as pessoas têm valores “materialistas”, ou seja, estão preocupadas ainda
com sua sobrevivência, com suas condições materiais de vida, ao passo que a democracia
precisa mesmo é que as pessoas tenham valores “pós-materialistas”, em outras palavras,
valores ligados à autoexpressão, à participação, esses sim valores que seriam compatíveis
com a democracia como regime de governo conforme Gráfico 1:
 
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Gráfico 1: Pesquisa mundial de valores. Para saber mais clique aqui.
Fonte: World Values Survey (WVS).
 
https://drive.google.com/file/d/1UQNgaNoH-aX6h77AqlxJkuU-tT87nblm/view?usp=sharing
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.ufrgs.br%2Fnupesal%2Fprojetos%2Fsingle%2FWorld_Values_Survey_Brasil_2000_-_Atual&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw2zMc27LwpymjPJcD2lcN4N
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fwww.worldvaluessurvey.org%2FWVSContents.jsp%3FCMSID%3DFindings&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw0DOvGt3P8QSDfGsGDaJK3W
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Observe que quanto mais à direita do Gráfico 1 (acima) mais “pós-materialista” o país é, por
exemplo: na Suécia, lá na ponta (na Europa Protestante), as pessoas estão preocupadas com
a extinção do planeta, com o meio ambiente e são menos religiosas. Na ponta esquerda
oposta, está Marrocos (África Islâmica), lá as pessoas estão preocupadas em comer, vestir;
enfim,são mais “materialistas” e mais religiosas. As chances da democracia estão mais no
lado direito do gráfico do que no esquerdo. Assim, como os fundamentalismos religiosos
são mais encontrados do lado esquerdo de nosso Gráfico 1 do que do lado direito, muito
embora os ataques (o terrorismo, por exemplo) aconteçam com frequência contra o lado
direito.
O que está por trás dessa ideia é que a democracia precisa de um poder fora da esfera do
Estado para existir, precisa de resistência, precisa de uma classe média, educada,
participativa, com valores “pós-materialistas”, mas, sobretudo, de oposição. Algo que não se
instaura do dia para a noite, exige tempo para que os valores sejam incorporados pelas
pessoas, pela cultura, pela sociedade.
Estamos chamando de oposição as forças políticas que se contrapõem ao governo e são
necessárias para a existência da democracia, já as forças que estão no comando do Estado
chamamos de governo ou situação (forças de plantão no Estado). Então, ora um partido ou
uma coalisão de partidos pode estar na situação, ora eles podem estar na oposição. Isto é
saudável e dá equilíbrio ao regime democrático.
Todavia, lembre-se de que esse fato de ser situação ou oposição nada tem a ver com ser de
esquerda ou direita na política. Essa terminologia vem desde a revolução francesa no século
XVIII e designava aqueles na assembleia francesa que sentavam à esquerda, chamados de
jacobinos (com sensibilidade para as questões sociais) e os que sentavam à direita, os
girondinos (com sensibilidade para as questões econômicas).
 
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Figura 9: Origem dos conceitos de esquerda e direita. Essa classificação permanece atual e
se constitui em um norte para a análise e a ação política de uma forma ampla.
 
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A discussão se dá também em torno do ESTADO e de suas atribuições, pois nessa
perspectiva “ser esquerda” é desejar um Estado mais voltado ao desenvolvimento social, à
distribuição de renda, a políticas sociais, portanto, à ideia de mais Estado, ao passo que ser
de direita é conceber como função um Estado mais voltado à eficácia econômica, ao
controle dos gastos públicos, portanto, menos Estado.
Há portanto uma relação com a renda e com a dependência ou não do Estado. Segundo o
cientista político Alberto Carlos Almeida, em todo o mundo os mais ricos votam mais na
“direita”. Como demonstra o mapa eleitoral brasileiro das últimas eleições de 2018 (primeiro
turno). Este desenho é basicamente o mesmo das últimas seis eleições presidenciais no
Brasil. Veja que as regiões mais carentes do país votam no PT, um partido mais identificado
com valores de esquerda e de centro-esquerda, sobretudo, e os mais ricos no PSDB (um
partido de centro-direita) e, agora, nas últimas eleições, o PSL, um partido de extrema-
direita que substituiu geograficamente a densidade eleitoral do PSDB. Ou seja, sobretudo no
norte e nordeste o PT e no sul e sudeste o PSL.
 
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Clique aqui e veja o Mapa eleitoral do 1º turno das eleições presidenciais 2018.
Mapa eleitoral do Brasil.
 
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fespeciais.g1.globo.com%2Fpolitica%2Feleicoes%2F2018%2Fmapa-da-apuracao-no-brasil-presidente%2F1-turno%2F&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw1buC9t5a2BfKZWU6CBujHn
http://www.google.com/url?q=http%3A%2F%2Fespeciais.g1.globo.com%2Fpolitica%2Feleicoes%2F2018%2Fmapa-da-apuracao-no-brasil-presidente%2F1-turno%2F&sa=D&sntz=1&usg=AOvVaw1buC9t5a2BfKZWU6CBujHn
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Quanto maior a densidade de votos, mais vermelho (mais vitórias do PT) ou mais verde
escuro (mais vitórias do PSL), e quanto menor a densidade eleitoral, mais para a cor rosa ou
para um verde claro, ok?
Veja então que, quanto maior a renda do indivíduo, via de regra menos ele necessita do
Estado, pois tem recursos suficientes para suprir suas necessidades básicas ligadas, por
exemplo, à saúde (plano de saúde privado), educação (escola privada) e segurança (seguros,
vigilância privada, etc.). Para uma classe média e média alta o estado pode ser visto como
uma espécie de “sócio” que não dá o retorno em serviços de acordo com os impostos. Ao
passo que se para populações carentes, apenas o serviço público é acessível, é a única
alternativa possível a sua sobrevivência, daí uma maior dependência do Estado e das
políticas públicas. Claro que isso não impede que alguém mais abastado economicamente
não possa eleger partidos de esquerda por outras motivações como a solidariedade, uma
sensibilidade social maior etc, ou o contrário. Mas não é esse o padrão de comportamento
do eleitor, como demonstra Alberto Carlos Almeida (2018). Lembre-se que os indivíduos
agem de acordo com seus interesses individuais em primeiro lugar, lembram?o grande
número de imigrantes nos Estados Unidos que elegeram um presidente declaradamente
avesso à imigração nos Estados Unidos, e cujo lema de campanha é “A América para os
americanos”. É Aliás, temos um caso exemplar disso, a malfadada natureza humana (má,
mesquinha, egoísta).
Enquanto houver desigualdade, haverá “esquerda”.
Já, o cientista político italiano Norberto Bobbio (1995) vai afirmar que o que separa a
esquerda da direita é a ideia da igualdade; para ele, as pessoas são ao mesmo tempo iguais
e diferentes. São iguais porque todos precisam viver, se alimentar, se vestir, mas ao mesmo
tempo são diferentes, pois vivem de modo diferente, alimentam-se diferentemente e
vestem-se também diferentemente uns dos outros. Assim, ser de direita, segundo o autor, é
achar que nós somos muito mais diferentes do que iguais, o acento é naquilo que nos
separa, ao passo que os de esquerda acham que nós somos muito mais iguais do que
diferentes, o acento é no que nos aproxima.
Faça sua escolha, pois, como argumentava o jornalista Nelson Rodrigues, “toda a
unanimidade é burra”. As duas forças políticas são bem-vindas na sociedade democrática,
pois novamente equilibram o “jogo de poder”. O conflito é importante na democracia, o
problema são os extremos, tanto a extrema esquerda, quanto a extrema direita, pois ambos
são negadores da democracia e não comungam de consensos básicos necessários para ela
existir.
Na história da humanidade, o Stalinismo e o Nazismo foram exemplos claros desses
extremos, o primeiro à esquerda e o segundo à direita, os dois negadores da condição
humana, dos indivíduos, dos direitos humanos e das liberdades. Por isso que quem não
concorda com eles está contra eles.
 
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Figura 10: Não há diferenças entre os extremos. A democracia está sujeita a ser atacada,
golpeada, tanto pela extrema esquerda quanto pela extrema direita. A democracia e o jogo
democrático só são possíveis de serem jogados pelo centro (centro-esquerda e centro-
direita).
 
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A centro esquerda e a centro direita, conforme ilustra o INFOGRÁFICO, são as forças
políticas comprometidas com a democracia, com as regras do “jogo político” e com as leis de
uma forma geral (BOBBIO, 1995). O que une fortemente a extrema direita e a extrema
esquerda é, sem dúvida, o forte autoritarismo e a negação da democracia e das liberdades.
Os extremos são antiliberais e anticapitalistas e quase sempre favoráveis a mais Estado e
menos direitos humanos.
Algumas pessoas confundem e reduzem a compreensão do termo esquerda e direita a ser
defensor do capitalismo ou defensor do socialismo. Isso é um engano. O fim do socialismo
real no final da década de oitenta sepultou essa dicotomia, mas não sepultou a
desigualdade no mundo (PIKETTY, 2013). Dessa forma, enquanto existirem desigualdades
sociais existirá sempre alguém à esquerda, mesmo que seja sob a égide do capitalismo.
Ser de esquerda ou de direita é uma questão relacional. O ex-presidente americano Barack
Obama, com a defesa da igualdade de negros e da comunidade gay nos EUA, certamente
situa-se mais à esquerda do sistema americano do que à direita. O presidente americano
Donald Trump, com a defesa de um muro para separar os americanos dos mexicanos que
imigram ilegalmente, com a sua xenofobia aos imigrantes ilegais, situa-se à direita. Veja que
Trump vê mais as diferenças entre as pessoas do que suas semelhanças, ele olha mais para
aquilo que separa do que para aquilo que une as pessoas. Certo?
 
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Figura 11: Posso estar mais à direita de um partido ou mais à esquerda ou mais ao centro.
Ser esquerda ou ser direita é uma questão relacional.
Certamente, há jornalistas e pensadores que dizem que não há mais esquerda e direita, que
essas ideias e ideologias foram enfraquecidas em prol dos interesses políticos partidários
mais pragmáticos e imediatos. Ledo engano. Nós não podemos decretar o fim de um termo
que é usual, e ainda hoje a política usa esses termos. Experimente chamar o Donald Trump
e o Bolsonaro de esquerda e o Barack Obama e o Lula de direita que aparecerá alguém na
multidão para dizer que você está enganado. Mas se esses termos não existem, por que a
reação?
Por fim, afinal de contas qual é mesmo a relação entre democracia e direitos humanos? É o
que aprofundaremos no próximo tema desta disciplina.
 
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