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SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA UMA REDE DINÂMICA EM TEMPOS LÍQUIDOS

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SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA: UMA
REDE DINÂMICA EM
TEMPOS LÍQUIDOS
Prof. Honor de Almeida Neto
Nesta unidade temática, você vai
aprender
■ dominar/compreender as teorias sociológicas contemporâneas
propostas pela disciplina;
■ analisar elementos constantes da sociedade Informacional, digital e em
rede.
■ realizar análises conjunturais que envolvam os códigos que distinguem a
contemporaneidade;
■ compreender a relação indivíduo e sociedade em suas complexas
dimensões;
■ interpretar e analisar o contexto social local e global a partir de teorias
sociológicas contemporâneas;
■ problematizar o impacto das novas tecnologias de comunicação e
informação (NTIC) na qualidade das relações humanas e sociais.
Introdução
Vivemos em um período marcado pela inovação tecnológica cuja velocidade dos
fenômenos e a complexidade, que envolve toda e qualquer temática a ser
pesquisada, deixa a todos uma sensação de incerteza quanto ao futuro. Para
um melhor entendimento dos códigos que distinguem a era em que vivemos –
Era Digital – e o estágio atual do sistema capitalista de produção, aponto neste
item alguns pressupostos. O objetivo é instrumentalizar você, aluno, para que
possa apreender alguns princípios e categorias teóricas contemporâneas das
Ciências Sociais, ou seja, para que você tenha mais elementos para entender
- 2 -
esse nosso tempo, em que “o homem ganha em liberdade, mas perde em
certezas [...]” (BAUMAN, 2001).
Categorias de análise e conceitos são instrumentais das ciências, sobretudo das
ciências humanas e sociais, que funcionam como “óculos”, como “lentes” que
ampliam o nosso olhar sobre a realidade trazendo mais rigor e objetividade à
análise. Rigor remete à forma de produção do conhecimento científico, à
necessidade de demonstração das teorias (hipóteses) através do confronto com
dados coletados na realidade. Isso distingue o saber científico de outros
saberes, e torna esse conhecimento mais confiável. Pensar cientificamente é
fundamental, sobretudo hoje, em tempos de “pós-verdade” e de “autoverdade”,
em que convicções são construídas a partir de uma enxurrada de produção e
disseminação de inverdades, notícias falsas (fake news). A autoverdade é um
“efeito colateral” dos princípios da autocomunicação de massa e da autonomia
comunicativa dos cidadãos, possibilitada pelas novas mídias, e que constitui e
distingue a sociedade da informação e do conhecimento.
Daí que proponho neste primeiro tema uma breve análise do impacto das
Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) para a qualidade das
relações humanas e sociais. Ou seja, uma análise sociotécnica da sociedade
contemporânea, que tenha como centro ou como nó central desta Rede
Dinâmica as mediações sociais, os meios através dos quais nos comunicamos
uns com os outros, e suas novas características e possibilidades presentes nesse
novo ecossistema cognitivo (LEVY, 1990).
Velocidade, visibilidade e compartilhamento são dimensões do que alguns
autores das Ciências Sociais denominam de Sociedade Líquida-Moderna
(Zigmunt Bauman); Sociedade em Rede Dinâmica (Manuel Castells), Sociedade
Complexa e Paradigma da Complexidade (Edgar Morin), e ainda, Cibercultura
- 3 -
(Pierre Levy) e Geração Digital (Dom Tapscott). Dentre outros, todos esses
teóricos analisam as sociedades tendo em vista o impacto das novas
tecnologias, pois a forma como nos comunicamos e como as informações
circulam foram e sempre serão centrais para entendermos a experiência
humana na terra desde a pré-história. Este será o ponto convergente em toda a
discussão proposta por esta disciplina e irá perpassar, de uma forma ou de
outra, todos os seis temas a serem abordados.
Mudaram as formas como nos relacionamos com o conhecimento, visto que
90% do conhecimento produzido no mundo está digitalizado e ao alcance,
senão de todos, de boa parcela da população mundial (CASTELLS, 2018). Aqui
me refiro a conhecimento e não à informação, pois é o conhecimento científico
e a formação acadêmica que nos permitem lidar com essa avalanche de
informações, e saber minimamente separar o “joio” do “trigo”. Eis a importância
cada vez maior das Ciências Humanas e do próprio saber acadêmico, pois na
mesma medida em que as tecnologias possibilitam maior autonomia e acesso
ao conhecimento, empoderando os indivíduos como nunca antes registrado,
também dão voz a “idiotas” mal preparados e mal formados, mas que a exemplo
de nós professores (mestres, doutores) e pesquisadores também formam
opinião e influenciam a construção da cultura que nos constrói, mas hoje em
escala global. Esse é nosso métier, instrumentalizar os estudantes e a sociedade
como um todo para lidar melhor com os desafios e possibilidades desses tempos
líquidos para um exercício mais pleno da cidadania, através de uma postura
crítica, solidária e responsável pelos bens comuns.
- 4 -
Sociedade contemporânea: uma rede
dinâmica em tempos líquidos
Há algo em comum em nosso cotidiano que aproxima a forma como vivemos e
nos relacionamos hoje, pois as novas mediações sociais (mídias) rompem com
noções e percepções clássicas relativas ao tempo e ao espaço. Viram o mundo
literalmente de “cabeça para baixo” e nos colocam frente a problemas e desafios
cada vez mais complexos, e que estão a exigir novas formas de enfrentamento
com vistas a tentar solucioná-los ou ao menos minimizar os seus impactos. Não
temos mais os limites das distâncias físicas que nos afastavam uns dos outros e
nem tampouco temos tempo. O espaço hoje é global, desterritorializado, e o
tempo é veloz, atemporal.
No mundo do trabalho e da vida em sociedade como um todo, temos a nítida
sensação de que algo está ainda por fazer. Parece mesmo que 24 horas por dia
não são e não serão suficientes para dar conta de tantas demandas. E tudo tem
de ser para agora, em tempo real, ao ritmo do Twitter, do WhatsApp e do
Facebook e com a solução e a resposta na ponta dos dedos. Lidar com a
velocidade do nosso tempo e com esse novo e exíguo “prazo de validade” para
as coisas, que é colocado a todos num mundo em constante e rápida
transformação é uma necessidade percebida por todos. E ninguém irá nos
ensinar como fazer, não existem modelos a seguir e estamos cada vez mais
entregues a nós mesmos, a nossas capacidades e incapacidades. Somos levados
súbita e obrigatoriamente a nos tornarmos indivíduos autônomos.
Nessa perspectiva, em um tempo de transição de uma sociedade de base
industrial para uma sociedade do conhecimento e da informação, crise é a
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palavra do momento. Crise na família, na infância, crise de identidade, crise na
política, nos valores, na economia. Crise que remete à incapacidade das
instituições tipicamente modernas (sólidas, lentas, burocráticas, piramidais,
controladoras), em atender a demandas pós-modernas (velozes, em rede,
complexas). Crise que se observa também na educação e na formação
demandada pelo campo acadêmico, que está a exigir novas habilidades, novas
atitudes e novas competências. Competências cuja instauração é medida e
avaliada pela capacidade de resolver problemas, de lidar com novas
situações-problema que se colocam a cada dia e cuja solução anterior não é
garantia de sucesso futuro. Nas palavras de Bauman (2008) “na sociedade
líquido-moderna, em um piscar de olhos nossos ativos se tornam passivos e
nossas capacidades incapacidades e aprender com a experiência é pouco
recomendável”. Por isso, tanto ouvimos falar em formação permanente,
formação continuada, aprender a aprender e, nesse sentido, a formação
acadêmica em todos os níveis também demanda mudanças, pois não se resume
mais apenas ao conhecimento teórico.
A universidade, casa por excelência do saber, tem muito a contribuir para que
possamos escapar ao risco da disseminação do senso comum (mentiras,
bobagens, mitos) com o status de ciência, o que, segundo o epistemólogo
francês Gaston Bachelard, constitui-se no principal obstáculo epistemológico a
ser superado pelo senso científico,pois nas palavras desse pensador, “o senso
científico constrói-se contra o senso comum”.
A história das relações humanas e da construção social dos fenômenos não
pode ser desvinculada da história das mediações sociais, das técnicas, das
tecnologias disponíveis em cada período histórico, bem como das rupturas que
a penetrabilidade dessas mediações instaura nas sociedades, em todas as suas
- 6 -
dimensões. Ao se complexificar, as mediações instauram mudanças nas
relações sociais e geram novas possibilidades. Mas então, quais são essas novas
mediações? Quais são as suas características? Qual é a penetrabilidade nas
sociedades e quais os impactos e transformações que instauram?
Novas mediações tecnológicas: novas revoluções
Jornais e revistas impressas e on-line, programas de rádio e TV interativos,
séries, filmes, documentários, blogs, sites, convergência de mídias e inúmeros
novos aplicativos móveis (Instagram, Facebook, Whatsapp, Twitter) apontam
para o fato de que vivemos em uma sociedade da informação, era do digital,
planetária, sociedade midiática, fluída, em rede. O conceito de mídia, segundo
Pierre Lévy, refere-se ao suporte ou veículo da mensagem. O impresso, o rádio,
a televisão, o cinema ou a Internet, por exemplo, são mídias” (LÉVY, 1993).
Embora o acesso e a troca de informações sempre estivessem presentes na
sociedade, hoje, as mediações disseminam a informação de uma maneira
inédita e com características que a distinguem das mediações anteriores. Os
dispositivos comunicacionais, hoje disponíveis, possibilitam diferentes formas
de comunicação entre as pessoas, rompem com a comunicação passiva, típica
de mediações anteriores. Abrem novas possibilidades aos sujeitos cujas ações
retroagem sobre a sociedade, complexificando-a. Lembrem-se de que o homem
constrói a cultura que constrói o homem, e assim sucessivamente.
Quanto às características dessas mídias, Levy aponta para três grandes
categorias, um-todos, um-um e todos-todos. A imprensa, o rádio e a televisão
são estruturados de acordo com o princípio um-todos: um centro emissor envia
suas mensagens a um grande número de receptores passivos e dispersos. O
correio ou telefone organizam relações recíprocas entre interlocutores, mas
- 7 -
apenas para contato indivíduo a indivíduo ou ponto a ponto, um-um (LÉVY,
1999). O advento das mídias interativas, como a Internet, trouxe de original,
para as relações sociais, a maior possibilidade de conexão entre as pessoas, em
tempo muitíssimo mais veloz e independente da distância e do espaço. Um
dispositivo de comunicação todos-todos.
Os computadores além de agregarem formas de comunicação típicas de outras eras,
como a escrita, a imagem e o som, e acelerarem a velocidade das informações,
permitem uma interconexão planetária inédita que efetivamente nos transforma em
moradores de uma “aldeia global”.
O ciberespaço (espaço virtual), este novo espaço de troca, de relação, é
construído em função das novas tecnologias e de suas características. Na
comparação com as mediações anteriores, sobretudo a imprensa e a televisão, a
Internet é potencialmente transformadora, visto que a televisão e a imprensa
podem impor uma visão da realidade e proibir a resposta, a crítica e o confronto
entre posições divergentes, o que não ocorre no mundo virtual, interativo, pois
“em contrapartida, a diversidade das fontes e a discussão aberta são inerentes
- 8 -
ao funcionamento de um ciberespaço que é incontrolável por essência” (LÉVY,
1999).
Ao contrário do caráter alienante e passivo associado a televisão (um-todos), a
comunicação no ciberespaço (todos-todos), uma forma interação ativa e não
passiva, está associada a aspectos como autonomia, individualidade, customização.
Daí o potencial empoderamento dos cidadãos a partir da característica das novas
técnicas.
Ao contrário das mídias anteriores que estimulavam a passividade e a
obediência, a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira
vez, a comunicação de muitos com muitos e em escala global. E, assim como a
difusão da máquina impressora (prensa) no Ocidente criou o que McLuhan
chamou de a Galáxia de Gutenberg, ingressamos agora em um novo mundo de
comunicação: a Galáxia da Internet (CASTELLS, 2003).
Ao contrário das mídias anteriores que estimulavam a passividade e a
obediência, a Internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira
vez, a comunicação de muitos com muitos e em escala global. E, assim como a
difusão da máquina impressora (prensa) no Ocidente criou o que McLuhan
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chamou de a Galáxia de Gutenberg, ingressamos agora em um novo mundo de
comunicação: a Galáxia da Internet (CASTELLS, 2003).
A invenção da prensa por Gutemberg, por volta de 1450, permitiu que os livros que
antes eram manuscritos, caros e em pouca quantidade, passassem a ser impressos
em menos tempo, em grandes quantidades e com um menor custo. A acessibilidade
ao público em geral da palavra impressa impulsionou a democratização do saber e
lançou as bases para a moderna economia do conhecimento, pois além de tornar o
conhecimento acessível a um público maior também permitiu que as gerações
seguintes conhecessem o trabalho das gerações predecessoras de forma sistemática
e cumulativa.
O impacto das tecnologias é central para que possamos entender o que se
define como Terceira Revolução Industrial e/ou Era Digital, e as novas
possibilidades associadas a esse nosso tempo. Como tipo ideal, podemos
identificar três grandes rupturas, três grandes revoluções. Motor da acumulação
e expansão capitalista, a máquina a vapor promoveu a revolução tecnológica do
séc. XVIII. O mesmo ocorreu com a eletricidade no século XIX e com a
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automação, que representam o estágio mais recente da evolução tecnológica,
ou a terceira onda da Revolução Industrial (ALBORNOZ, 2000). Caracterizada
como um processo de mudança de uma economia agrária e manual para uma
economia dominada pela indústria, a Primeira Revolução Industrial tem início na
Inglaterra em 1760 e se alastra para o resto do mundo, provocando profundas
mudanças na sociedade. Caracteriza-se pelo uso de novas fontes de energia;
invenção de máquinas que permitem aumentar a produção com menor gasto
de energia humana; divisão e especialização do trabalho; desenvolvimento do
transporte e da comunicação e aplicação da ciência na indústria.
O filme “O jovem Karl Marx” retrata o começo do processo de industrialização na
Europa e a implantação do modo de produção capitalista e suas consequências
para a dinâmica da sociedade à época. Clique aqui para Assistir ao trailer do
filme.
A revolução também promove mudanças na estrutura agrária e o declínio da
terra como fonte de riqueza; a produção em grande escala voltada ao mercado
internacional; a afirmação do poder econômico da burguesia; o crescimento das
- 11 -
https://www.youtube.com/watch?v=2bHVqtI16Ko
https://www.youtube.com/watch?v=2bHVqtI16Ko
cidades e o surgimento da classe operária, tendo como espaço de trabalho a
fábrica. Segundo Lester Thurow (EXAME, 2001), se há trezentos anos cerca de
90% da população vivia da agricultura, atividade que era exercida com a mesma
tecnologia primitiva – cavalos, bois, pessoas e fertilizantes de origem animal, foi
a invenção da máquina a vapor que fez com que 8 mil anos de agricultura como
atividade dominante da humanidade chegasse ao fim, e, em 30 anos, os
industriais da Inglaterra conseguiram reunir uma fortuna maior que a dos
nobres, que foram os homens mais ricos dos séculos anteriores.
A Primeira Revolução Industrial caracterizou-se pela concentração dos
trabalhadores nas fábricas e pelas transformações na rotina das cidades. O uso
de máquinas permitiu o ingresso de mulheres e de crianças no mundo do
trabalho, principais vítimas do trabalho precarizado do começo do período de
industrialização. Para aumentar o desempenho dos operários, a produção foi
dividida em várias operações. O operário passou a executar uma única etapa,sempre do mesmo modo, o que o alienou do processo de trabalho, ou seja, fez
com que ele perdesse a noção do produto final de seu trabalho.
O clássico filme “Tempos Modernos” de Charles Chaplin retratou com brilhantismo o
processo de mecanização e de alienação do trabalho humano, transformado em
mercadoria no capitalismo industrial. Destaca também a alienação entre o trabalho
humano e o fruto de seu trabalho, apropriado pelo capital (capitalista).
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Entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, após a
Primeira Guerra Mundial, um novo período foi denominado “Segunda Revolução
Industrial”. A invenção da eletricidade potencializou a capacidade produtiva do
homem, rompendo com os limites da noite e do dia. A energia elétrica esteve
para a Segunda Revolução Industrial como a máquina a vapor esteve para a
Primeira. Trouxe um enorme aumento da produção industrial e, para aumentar
ainda mais a produtividade do trabalho, Frederick W. Taylor criou o método de
administração científica, que se tornaria conhecido como taylorismo. Taylor
apontava como grande problema das técnicas administrativas existentes o
desconhecimento pela gerência, bem como pelos trabalhadores, dos métodos
que otimizam o trabalho, tarefa que seria efetivada pela gerência, através de
experimentações sistemáticas de controle de tempos e de movimentos. Uma
vez descobertos, os métodos foram repassados aos trabalhadores que se
transformaram em executores de tarefas pré-definidas.
Esta imagem remete à diminuição de espaços voltados à auto-organização dos
trabalhadores, típicos da época e do então estágio de desenvolvimento das forças
produtivas, rígidas, controladoras, hierarquizadas e com tarefas compartimentadas
e mecânicas. Baseado sobretudo no controle dos trabalhadores e não em sua
capacidade criativa, inovadora.
- 13 -
O próprio salário tinha uma relação estreita com o tempo de execução da tarefa,
da jornada de trabalho. Veremos posteriormente que essa relação entre tempo
e salário modifica-se na atualidade.
Primeiro, foi a substituição das ferramentas manuais pelas máquinas; depois, a
eletricidade e o motor de combustão interna, bem como o início das tecnologias
de comunicação, como o telégrafo e o telefone, sendo ambos períodos
marcados por transformações constantes e em grande velocidade (CASTELLS,
1999). A gênese da Terceira Revolução Industrial encontra-se no período
Pós-Segunda Guerra Mundial, a transformação do modelo produtivo começou a
se apoiar nas tecnologias que já vinham surgindo nas décadas do pós-guerra e
nos avanços das novas tecnologias da informação. Em substituição ao
taylorismo (americano), o método de produção japonês (toyotismo) combina
máquinas de alta complexidade com uma nova forma gerencial e administrativa
de produção, menos hierarquizada e delegando, cada vez mais, a
responsabilidade pela tomada de decisão às equipes de trabalho.
Hoje, os computadores e dispositivos móveis tornam-se a principal ferramenta
em quase todos os setores da economia, do conhecimento, da informação. Na
relação entre capital e trabalho (mão de obra), um novo perfil de trabalhador é
exigido pelo mercado, com maior valorização de sua capacidade criativa. As
tecnologias demandam novas competências aos trabalhadores, para além de
meras habilidades, restritas a tarefas repetitivas e rígidas. A valorização de
competências humanas, em meio ao processo produtivo, leva diversos autores a
denominar a sociedade atual como sociedade do conhecimento. A maior
exigência de qualificação da mão de obra aumenta também o fosso entre
desempregados e subempregados.
- 14 -
Quanto aos pressupostos da Sociedade Informacional, Castells (1999) distingue
modo de desenvolvimento de modo de produção. O modo de produção diz
respeito à forma como é distribuído o produto do trabalho, como são feitos a
apropriação e o uso do excedente, podendo ser, portanto, capitalista (o controle
e a distribuição do excedente sob o domínio do capital), ou estadista (sob o
domínio e controle do Estado). Já o modo de desenvolvimento é determinado
pelo elemento principal para a produtividade, outrora o modo de
desenvolvimento agrário (cuja riqueza maior era a posse da terra); depois a
indústria, o industrialismo (a riqueza ligada a posse de fontes de energia e
máquinas), e, hoje em dia, o controle e a produção de informação, o
informacionalismo (CASTELLS, 1999).
Historicamente, os modos de desenvolvimento modelam o comportamento
social e, inclusive, a comunicação simbólica dos povos. No modo de
desenvolvimento informacional, as relações técnicas de produção difundem-se
por todo o conjunto de relações e estruturas sociais, ou seja, há uma íntima
ligação entre cultura e forças produtivas que tende a trazer o surgimento de
novas formas históricas de interação, controle e transformação social. As
instituições, as companhias e a sociedade em geral transformam a tecnologia,
qualquer tecnologia, apropriando-a, modificando-a, experimentando-a [...] esta
é a lição que a história social da tecnologia ensina [...]. A comunicação
consciente (linguagem humana) é o que faz a especificidade biológica da espécie
humana. Como nossa prática é baseada na comunicação, e a Internet
transforma o modo como nos comunicamos, nossas vidas são profundamente
afetadas por essa nova tecnologia da comunicação (CASTELLS, 2003).
Se, ao longo da história da humanidade, a riqueza esteve sempre ligada à posse
e ao controle de recursos materiais como a terra, o ouro, o petróleo (fonte de
- 15 -
energia), hoje a riqueza não é algo material, palpável, ela é imaterial: o
conhecimento. O conhecimento é a fonte primária de riqueza na sociedade
pós-industrial. Ao transformar e produzir tecnologia em busca de novos
conhecimentos e novas formas de processamento das informações, nossa
sociedade acaba inevitavelmente se organizando em forma de rede, sendo essa
uma de suas características principais. Hoje, com a acentuação da globalização
através das novas tecnologias de informação e comunicação, redimensionam-se
as noções de espaço e de tempo, e ao aproximar distâncias e comunicar os fatos
em tempo real, as novas mediações permitem que muitas intervenções no
contato entre as pessoas possam acontecer. O maior número de mediações faz
com que as pessoas interajam mais, o que aumenta a velocidade dos
fenômenos e a sua complexidade.
O que é inerente à sociedade informacional é o fato de as tecnologias agora
disponíveis ampliarem, em quantidades impensáveis e imprevisíveis, as ações
humanas e o seu alcance, quaisquer que sejam essas ações, “boas” ou “ruins”.
Imagine, por exemplo, que pela Internet podemos realizar uma obra social, mas
também organizar uma briga de torcidas organizadas de futebol. Imagine a
extensão da ação de um pedófilo, por exemplo, que antes tinha apenas os
grupos familiares e os vizinhos como potenciais alvos de sua ação. Hoje ele tem
o mundo todo. Concomitantemente, novos espaços e formas de articulação são
potencializados, pois a informação, fonte de poder na sociedade informacional,
é mais socializada, fazendo com que relações sociais antes desconhecidas
venham à tona modificando culturas.
A maior visibilidade dos fenômenos sociais faz com que sejam construídos
através de relações cada vez mais secundárias e menos primárias: “[...] vivemos
em uma época de mundialização, todos os nossos grandes problemas deixaram
- 16 -
de ser particulares para se tornarem mundiais [...]” (MORIN, 1999). Os
fenômenos sociais, hoje, são construídos de forma cada vez mais complexa,
necessitando por parte do analista outros “óculos”, daí o uso da categoria de
análise “Rede Dinâmica”. A “Rede Dinâmica” é um conceito que condensa a
complexidade e a diversidade do mundo atual, e os potenciais trazidos pelas
novas mediações que caracterizam a Terceira Revolução Industrial. Há uma
lógica de funcionamento desse nosso mundo aparentemente ilógico, mesmo
construído com um grau cada vez maiorde imprevisibilidade e de incerteza. Tal
lógica é a lógica da rede à qual vivemos conectados, interligados,
interdependentes. Trata-se de um novo paradigma que perpassa a dinâmica
social.
O movimento de produção das sociedades sempre foi, ao longo da História,
auto-organizativo, porém, na Terceira Revolução Industrial, ou era
pós-industrial, temos mais espaços para realizar os nossos potenciais, pois as
mediações, hoje, têm mais elementos voltados à autonomia, estão mais de
acordo com o ritmo de cada um. Por exemplo, não necessitamos mais aguardar
o ritmo e a boa vontade do caixa do banco para pagarmos uma conta. Não
precisamos sequer nos deslocar até o banco (cujo atendimento presencial está,
aliás, em extinção), mas precisamos de conhecimento sobre como operar uma
transferência bancária pelo computador. Temos hoje, potencialmente, melhores
condições de interagir com o social a partir de uma postura mais autônoma. O
pressuposto de produção das sociedades, atualmente, constrói-se do individual
para o coletivo, através dos movimentos que desencadeiam seus agentes, das
energias e interesses dos agentes individuais para o todo. Trata-se, também, por
isso, de uma sociedade eminentemente aprendente, no sentido de poder
constituir-se enquanto um espaço de formação para os seus agentes (ALMEIDA
NETO, 2007).
- 17 -
Há, hoje em dia, a necessidade de forjar um novo habitus no trabalhador, mais
flexível e que acompanhe esse frenético ritmo de inovações. Como as
tecnologias rompem as barreiras de tempo e de espaço, observa-se uma
descentralização crescente das tarefas no âmbito do trabalho (do emprego em
processo de extinção). A remuneração não se dá mais na relação direta entre
tempo e salário, ou seja, não se calcula mais em função do tempo em que o
trabalhador cumpre sua jornada na empresa, fábrica, mas sim pelo produto do
seu trabalho. Assim, o controle e a administração do tempo passa para a mão
do trabalhador, passa a ser sua responsabilidade. Emergem profissionais
liberais com vários empregadores e que têm na mobilidade de sua mão de obra
um diferencial. As tecnologias permitem essa fluidez nos locais de trabalho,
atualmente em grande parte restritos ao computador pessoal, ou mesmo a um
celular de última geração.
A riqueza da sociedade em rede está em sua diversidade e não na uniformidade,
temos condições de explorar a diversidade dos agentes que a compõem, os
diversos e impensáveis capitais que possuem, que formam o que Lévy
denomina de inteligência coletiva, coletivos inteligentes a serem construídos de
forma intencional pela Rede. Lévy refere a engenharia do laço social como “a
arte de suscitar coletivos inteligentes e valorizar ao máximo a diversidade das
qualidades humanas” (LÉVY, 1998). Quanto melhor os grupos humanos
conseguem se constituir em coletivos inteligentes, em sujeitos cognitivos,
abertos, capazes de iniciativa, de imaginação e de reação rápidas, melhor
asseguram seu sucesso no ambiente altamente competitivo que é o nosso
(LÉVY, 1998). Ou seja, quanto mais próximos da figura de uma rede dinâmica
estivermos (ágeis, aprendentes etc.) mais sintonizados com o novo ambiente
estaremos.
- 18 -
Quando Levy refere o potencial democrático da sociedade informacional, ele
fala da possibilidade de construção de coletivos inteligentes que valorizem a
diversidade das inúmeras redes que a dinâmica do social constrói e reconstrói,
que escapem de controles verticalizados, que misturem lazer, cultura, trabalho e
produção, pois se inserem na lógica econômica dos mercados. É importante
ressaltar que, inevitavelmente, toda a sociedade está sendo afetada pela nova
dinâmica social, fato que reforça a importância de lançar um olhar que dê conta
dessas transformações.
Infográfico
G000003GS001 - Rede Dinâmica
Referências
ALBORNOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 2000, Coleção
Primeiros Passos.
ALMEIDA NETO, Honor de. Trabalho Infantil na Terceira Revolução
Industrial. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007. Disponível em E-book:
<http://www.pucrs.br/edipucrs/online/trabalhoinfantil.pdf>.
BAUMAN, Zygmunt.Modernidade líquida. R.J.: Zahar, 2001.
______. Vida Líquida. RJ: Zahar, 2008.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede – A era da informação: economia,
sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
- 19 -
https://drive.google.com/open?id=1dePELP8B4hld90mH-xszd4-sGlqk_DMaPC4Ue5gHY74&authuser=1
______. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a
sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da
informática. Rio de Janeiro: 34, 1993.
______. A inteligência coletiva. São Paulo: Loyola, 1998.
______. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999.
MORIN, Edgar. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS,
Francisco Menezes; SILVA, Juremir Machado da. (ORGs.) Para navegar no
século XXI: tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: Sulina/
EDIPUCRS, 1999.
THUROW, Lester. A Terceira Revolução Industrial. Entrevistado por Nely Caixeta,
Revista Exame, São Paulo: Ideias, p. 100-108, 28 de nov. 2001.
Créditos
Coordenação e Revisão Pedagógica: Claudiane Ramos Furtado
Design Instrucional: Luiz Specht
Diagramação: Marcelo Ferreira
Ilustrações: Marcelo Germano
Revisão ortográfica: Ane Arduin
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