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Desnutrição Infantil

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LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 1 
DESNUTRIÇÃO INFANTIL 
INSEGURANÇA ALIMENTAR E INSEGURANÇA DA SAÚDE 
A subnutrição é geralmente um desfecho de três fatores: 
• Suprimento alimentar familiar 
• Práticas de cuidado de crianças 
• Acesso a serviços de saúde e abastecimento de água/saneamento 
Em muito países pode ser que a causa mais preponderante sejam as infecções de repetição na infância, especialmente DDA + 
ambiente pouco seguro – aleitamento exclusivo. 
Pode haver também práticas complementares inadequadas e falta de tempo para dispensar cuidados às crianças 
 
Para evitar a ocorrência desse fluxograma é necessário ter segurança alimentar: “quando todas as pessoas, durante todo o tempo, 
possuem acesso a alimentos nutritivos, seguros e em quantidade suficiente para manter uma vida saudável e ativa” 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 2 
Para isso, precisamos de: disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade. à Isso tende a aumentar de acordo com a renda, no 
entando, na ausência de educação em saúde, não ocorrerá redução da subnutrição 
MEDINDO A INSEGURANÇA ALIMENTAR: 
A medida mais usada é a “sub-alimentação” (fome crônica), que é a proporção da população incapaz de ter suas necessidades 
diárias de energia para realizar atividades leves. 
Essa medida é feita pela Food and Agriculture Organization (FAO), baseada nas Food Balance Sheets ao nível nacional. 
• Não levam em conta a adequada nutrição, mas serve para monitorarmos as tendências globais 
• A FAO também mede o acesso aos alimentos, perguntando para os indivíduos se eles pulam refeições ou ficaram algum 
período sem alimentos nos últimos 12 meses 
PREVALÊNCIA DE SUBNUTRIÇÃO 
15% dos nascimentos ocorridos em países de baixa e média renda no ano 2010 tenham sido de bebês com BPN. 
Ao nível global, em 2011, 16% das crianças com menos de 5 anos de idade apresentavam baixo peso (peso para a idade Ez < –2 
DP). 
Os continentes mais afetados por essa prevalência são ásia e áfrica. 
Existe também importante carência de micronutrientes, estima- se que a prevalência global seja de: 
• 33% para deficiência de vitamina A 
o Tem diminuído devido aos programas de suplementação e à vacinação contra o sarampo 
• 29% para deficiência de iodo 
o Tem diminuído devido ao sal iodado 
• 17% para deficiência de zinco 
• 18% para anemia ferropriva 
O BRASIL ATUALMENTE: 
A falta de alimentos e o aumento da extrema pobreza se tornaram realidade para 14.5 milhões de famílias Brasileiras. O número 
de famílias na miséria registrado em abril de 2021 é o maior da série histórica do Ministério da Cidadania, iniciada em agosto de 
2012. 
 
Antes da pandemia, em fevereiro de 2020, já havia 13,4 milhões de famílias nesta situação. É considerada situação de extrema 
pobreza quando a renda per capita é de até R$ 89 mensais, de acordo com o Governo Federal. 
 
Há ainda 2,8 milhões de famílias vivendo em situação de pobreza, com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais. 
 
Atualmente, 58 milhões de brasileiros correm o risco de deixar de comer por não terem dinheiro. Isso significa que 27,7% da 
população vive uma situação de insegurança alimentar grave ou moderada, de acordo com um estudo feito pelo grupo Food For 
Justice da Universidade de Berlim: Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil de 2021. 
 AVALIAÇÃO DA VULNERABILIDADE SOCIAL 
Diante desses dados, é importante que quando um paciente se apresenta ao nosso consultório, nós avaliemos a situação de 
vulnerabilidade do ambiente no qual ele está inserido. Pontuando fatores de risco para a desnutrição no ambiente familiar e, 
assim, poder prestar orientação e assistência adequados para a prevenção. 
É necessário que os profissionais conheçam as situações de vulnerabilidade social mais frequentes em seu território, assim como 
os equipamentos sociais disponíveis para acesso da população. 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 3 
São exemplos de assistências disponíveis: 
• centros de Referência em Assistência Social (Cras) 
• Conselho Tutelar 
• Possuir número de identificação social (NIS) à Cadastro Único para programas de assistência social e redistribuição de 
renda 
São fatores de risco para a desnutrição: 
• A probreza 
• O próprio ciclo de vida – crianças de zero a 6 anos e idosos, por exemplo, apresentam maior vulnerabilidade; 
• Deficiência (auditiva, física, mental, visual, múltiplas); 
• Discriminação por etnia, gênero, orientação sexual/opção pessoal, faixa etária; 
• Violência (física e/ou psicológica), abuso sexual, maus-tratos, negligência; 
• Abandono; 
• Exploração sexual; 
• Uso de estratégias e alternativas diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social – famílias 
e pessoas em situação de rua/sem domicílio fixo/população de rua; 
• Conflito com a lei; 
• Perda total ou parcial dos bens – vítima de sinistros (desabamento/enchente/incêndio); 
• Problemas de subsistência, situação de mendicância, ausência de acessibilidade às demais políticas sociais; 
• Inserção precária ou não inserção no mercado de trabalho formal e informal, entre outras. 
INVESTIGAÇÃO NUTRICONAL 
ANAMNESE 
Avalia-se: 
• Condições de Nascimento 
o Tipo de parto 
o Local do parto 
o Peso ao nascer 
o Idade Gestacional 
o Índice de Apgar 
o Intercorrências clínicas na gestação, no parto e no período neonatal 
o Tratamentos Realizados 
• Antecedentes familiares 
o Condições de saúde dos pais e dos irmãos 
o Número de gestações anteriores 
o Número de irmãos 
• Avaliar Hábitos Familiares e Condições Socioeconômicas à onde faremos avaliação da vulnerabilidade social familiar 
Além disso, podemos avaliar marcadores de consumo alimentar, a fim de 
EXAME FÍSICO 
Na primeira consulta de acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento realizamos exame físico completo. De maneira 
rotineira avaliamos: 
DADOS ANTROPOMÉTRICOS: 
• Peso 
• Comprimento ou Estatura 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 4 
• Perímetro Cefálico até 2 anos 
• IMC 
o A avaliação antropométrica é um dos passos da Vigilância Alimentar e Nutricional, que se constitui em uma 
importante ferramenta para conhecer a situação nutricional de indivíduos e de coletividades e apoiar a 
decisão de profissionais e gestores quanto aos cuidados de Saúde que devem ser ofertados. 
MEDIDAS DE SUBNUTRIÇÃO 
Muitos desfechos nutricionalmente precários têm início intrautero e se manifestam com o baixo peso ao nascimento (< 2.500g), 
sendo as principais causas para isso, o parto prematuro (mais comum em países ricos) e a RCF (mais comum nos países pobres). 
Sendo assim, faremos a avaliação do estado nutricional em conjunto com os resultados da antropometria, avaliando-os de 
acordo com a caderneta de saúde da criança dentro das curvas de escore z e de percentis, que segue os padrões definidos pela 
OMS. 
Existem outros métodos mais antigos para avaliação nutricional, como o de GOMEZ e o de WATERLOW, mas iremos nos basear 
primordialmente na caderneta de saúde da criança definida pelo Ministério da Saúde. 
 
EM RESUMO: 
De acordo com a Caderneta de Saúde da Criança, existem 4 curvas que podemos utilizar para avaliar o estado nutricional do 
paciente infantil: 
• Peso por Estatura (P/E) à Até os 5 anos de idade 
• Peso por Idade (P/I) à Até os 10 anos de idade 
• Estatura por Idade (E/I) à até os 19 anos de idade 
• IMC à até os 19 anos de idade 
Todas essas curvas estão disponíveis em valores de percentis e de escore Z, lembrando que essas medidas são correspondentes 
entre si, sendo: 
Percentil 99.9 Escore-Z +3 
Percentil 97 Escore-Z +2 
Percentil 85 Escore-Z +1 
Percentil 50 Escore-Z 0 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 5 
Percentil 15 Escore-Z -1 
Percentil 3 Escore-Z -2 
Percentil 0,1 Escore-Z -3 
Depois de medirmos os valores exigidos pelas curvas, nós classificaremos o estado nutricionalda criança, de acordo com os 
seguintes parâmetros 
ESTATURA: Adequada em todos os níveis, execto ABAIXO do escore-Z -2 (p3), onde é classificada como baixa estatura 
PESO: 
CRIANÇAS MENORES DE 5 ANOS: 
Escore-Z > +3 à Obesidade 
Escore-Z > +2 à Sobrepeso 
Escore-Z > +1 à risco de sobrepeso 
+1 > Escore-Z > -2 à peso adequado (ATENÇÃO: entre o 
p15 e o p5, consideramos risco para desnutrição) 
Escore-Z < -2 à baixo peso à magreza à desnutrição 
moderada 
Escore-Z < -3 à muito baixo peso à magreza acentuada à 
desnutrição grave 
CRIANÇAS MAIORES DE 5 ANOS: 
Escore-Z > +3 à Obesidade grave 
Escore-Z > +2 à Obesidade 
Escore-Z > +1 à Sobrepeso 
+1 > Escore-Z > -2 à peso adequado (ATENÇÃO: entre o 
p15 e o p5, consideramos risco para desnutrição) 
Escore-Z < -2 à baixo peso à magreza à desnutrição 
moderada 
Escore-Z < -3 à muito baixo peso à magreza acentuada à 
desnutrição grave 
SE HÁ EDEMA A DESNUTRIÇÃO É GRAVE 
MICRONUTRIENTES: 
É importante também estar atento a deficiência de micronutrientes: 
• A deficiência de vitamina A é causada pela baixa ingesta de retinol (em alimentos de origem animal) ou de seus 
precursores carotenoides, principalmente o β-caroteno (em frutas e verduras de cor alaranjada, e em verduras de folhas 
verde-escuro). 
o A prevalência de deficiência clínica é avaliada a partir dos sinais e sintomas de xeroftalmia (principalmente 
cegueira noturna e manchas de Bitot). 
o A deficiência subclínica é definida por uma concentração sérica de retinol <0,70 μmol/L. 
o A deficiência de vitamina A é a principal causa de cegueira evitável em crianças. Também está associada a taxas 
maiores de morbidade e mortalidade entre crianças pequenas. 
• A deficiência de iodo é a principal causa de comprometimento mental evitável. 
o Uma tireoide aumentada (bócio) é sinal de deficiência. 
o A concentração urinária média de iodo em crianças na faixa etária de 6-12 anos é usada para avaliar a prevalência 
da deficiência na população em geral, sendo que uma média <100 μg/L indica ingesta insuficiente de iodo. 
• A anemia ferropriva (por deficiência de ferro) é comum na infância, seja pela baixa ingesta de ferro ou pela má absorção, 
ou ainda como resultado de doença ou infestação parasitária. 
o Os valores de corte para hemoglobina que definem a anemia são 110 g/L para crianças de 6-59 meses; 115 g/L 
para crianças de 5-11 anos; e 120 g/L para crianças de 12-14 anos. Os valores de corte definidores de anemia 
para mulheres não gestantes são 120 g/L; para gestantes, 110 g/L; e para homens, 130 g/L. 
• A deficiência de zinco aumenta o risco de morbidade e mortalidade associado à diarreia, pneumonia e possivelmente de 
outras doenças infecciosas. 
o A deficiência de zinco ao nível da população é avaliada a partir das ingestas dietéticas de zinco. 
EXAMES COMPLEMENTARES 
• Hemograma 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 6 
o Rastrear anemia em crianças de baixo peso e muito baixo peso 
• Exame Parasitológico 
o Complementar para identificar causas de desnutrição e investigação de anemias 
• Alterações laboratoriais na desnutrição grave 
o Hipoglicemia 
o Hiponatremia (Na+ corporal normal e até normal) 
o Hipocalemia/Hipomagnesemia 
o Hipoalbuminemia à no kwarshiokor há reação inflamatória sistêmica que aumenta a permeabilidade vascular 
DESNUTRIÇÃO AGUDA GRAVE 
A desnutrição aguda grave é definida pela relação peso para o comprimento grave e/ou edema bilateral. à Ez < -3 DP 
• Em crianças de 6-59 meses, uma medida de circunferência da região médio-superior do braço < 115 mm também denota 
magreza extrema: uma fita colorida. 
• O edema bilateral é diagnosticado segurando ambos os pés, colocando um polegar na ponta do outro e comprimindo de 
modo suave porém firme por 10 segundos. Uma cova (cavidade) permanecendo sob cada polegar indica a presença de 
edema bilateral. 
Crianças com desnutrição aguda grave têm consumido dietas insuficientes em termos de fornecimento de energia e nutrientes, 
em relação as suas necessidades. 
A magnitude dos déficits será diferente dependendo da duração da inadequação, quantidade e diversidade de alimentos 
consumidos, presença de antinutrientes (como fitato), variação individual de requerimentos, além de número e gravidade de 
infecções coexistentes e suas durações. 
As infecções podem levar a déficits de nutrientes profundos e desequilíbrios: exemplificando, os aminoácidos são desviados para 
formar as proteínas de fase aguda e há perdas por diarreia de potássio, magnésio, vitamina A e zinco, além de perdas de glicina e 
taurina associadas ao supercrescimento de bactérias intestinais. 
• Os déficits também podem surgir da utilização aumentada de nutrientes em resposta a agentes nocivos (p. ex., cisteína 
e metionina para desintoxicação de cianógenos da dieta). 
As crianças que desenvolvem desnutrição edematosa tendem mais do que as crianças não edematosas a terem sido expostas a 
agentes nocivos geradores de estresse oxidativo e/ou a terem déficits maiores de antioxidantes de radicais livres (glutationa, 
vitaminas A, C e E, e ácidos graxos essenciais) ou de cofatores (zinco, cobre, selênio). 
MANIFESTAÇÕES CLÍNCAS 
O primeiro fator a ser identificado é a falha em ganhar peso e apenas depois ocorre a perda de peso à tá ai a importância da 
monitorização contínua das crianças. 
Existe grande perda de tecido: nas coxas, nádegas e parte superior dos braços, nas costelas e escápulas. 
A pele perde turgor e se torna frouxa, já que os tecidos subcutâneos são quebrados para fornecer energia. A princípio a face se 
torna normal, porém, o nosso ultimo tecido a ser consumido será as nossas a bola de Bichat, quando, então, a face se tornará 
definhada e mirrada (face simiana) 
Os olhos se tornam fundos devido a perda de tecido adiposo retro-orbital, enquanto as glândulas lacrimais e salivares se 
atrofiam, levando à falta de lagrimas e ao ressecamento bucal 
Ocorre distensão abdominal devido aos músculos abdominais enfraquecidos e aos gases oriundos do supercrescimento 
bacteriano na porção superior do intestino. 
Na desnutrição edematosa, o edema primeiro ocorre nos pés e, depois, na parte inferior das pernas. Sendo que pode haver 
rápida evolução para mãos, bracos e face (face de lua). 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 7 
A pele pode ter manchas ecuras, ficar rachadas e/ou descamadas (dermatose tipo pintura descascada), com pele pálida e 
facilmente infectada. 
O cabelo é fácil de arrancar, pode perder cachos e ondulações e, quando escuro, torna-se claro/avermelhado. 
O fígado é aumentado devido a esteatose hepática. 
• kwashiorkor: acomete crianças acima de 2 anos; caracteriza-se por alterações de pele (lesões hipercrômicas, 
hipocrômicas ou descamativas), acometimento de cabelos (textura, coloração, facilidade de soltar do couro cabeludo), 
hepatomegalia (esteatose), ascite, face de lua, edema de membros inferiores e/ou anasarca e apatia. O edema 
geralmente é bilateral simétrico, começa nos pés (marcado 1+ edema), progride para os pés e as mãos baixas (2+ 
edema) e, em casos graves, pode envolver a face (3+ edema) 
• marasmo: acomete crianças menores de 12 meses, com emagrecimento acentuado, baixa atividade, irritabilidade, 
atrofia muscular e subcutânea, com desaparecimento da bola de Bichat (último depósito de gordura a ser consumido, 
localizado na região malar), o que favorece o aspecto envelhecido (fáscies senil ou simiesca), com costelas visíveis e 
nádegas hipotróficas. O abdome pode ser globoso e raramente com hepatomegalia. 
FISIOPATOLOGIA 
 
 
ingesta 
insuficiente para 
necessidades 
diárias
adaptação 
redutiva
reservas adiposas 
mobilizadas
proteínas de 
músculos, pele e 
trato GI 
mobilizadas
conservação de 
energia
diminuição da 
atividade física
diminuição do 
crescimento
diminuição do MB 
e da reserva 
funcional de 
órgãos
redução das 
repostas 
inflamatórias e 
imunes
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERALDO AMAPÁ p. 8 
 
As deficiências de micronutrientes limitam a capacidade do corpo de inativar radicais livres, causadores de dano celular. Edema e 
alterações nos cabelos/pele são sinais externos de dano celular. 
 
TRATAMENTO DA DESNUTRIÇÃO GRAVE 
O tratamento é dividido em duas etapas: 
• Estabilização 
o Reparo da função celular 
o Correção do desequilíbrio hidroeletrolítico 
o Restauração da hemostasia 
o Prevenção de morte 
§ Hipoglicemia 
§ Hipotermia 
§ Infecção 
• Reabilitação 
o Restauração de tecidos comprometidos 
O tratamento deve ter uma progressão adequada, a fim de evitar o desenvolvimento da Síndrome Metabólica à 
potencialmente fatal 
Geralmente as crianças são levadas ao atendimento médico por alguma doença. Não podemos enfocar na doença como 
faríamos em uma criança bem nutrida, pois isso ignora o metabolismo desorganizado das crianças desnutridas e pode levar a 
morte. 
TRATAMENTO HOSPITALAR 
Necessitam de internação: edema +++ ou sinais de instabilidade (anorexia, REG, não alerta) 
Fígado
produz menos 
glicose
• chance de 
hipoclicemia
produz menos 
albumina, 
transferrina e 
outras ptn de 
transporte
Rins
menos capazes 
de excretar 
líquidos e sódio
• aumenta 
volemia e risco 
de sobrecarga 
hídrica
Coração
menor e mais 
fraco
DC reduzido
sobrecarga 
hídrica --> IC
Eletrólitos 
e Proteínas
Sódio se acumula 
nas células (MP 
mais frágil e falha 
da bomba)
• excesso de sódio 
corporal, retenção 
líquida e edema
Potássio migra 
para fora das 
células e 
excretado na 
urina
• desequilíbrio 
eletrolítico, 
retenção líquida, 
edema e anorexia
A perda de 
proteína muscular 
é acompanhada 
de perda de: K+, 
Zn e Cu
Trato GI
Menos ácido 
gátrico e enzimas
Menor motilidade
• bactérias colonizam 
estômago e intest. 
delgado
bactérias: 
danificam mucosa 
e desconjugam 
sais biliares
Digestão e 
absorção 
comprometidas
Tecido
Replicação e 
reparo celular 
diminuídos
Risco de 
translocação 
bacteriana do 
trato GI
Circulação
Função imune 
compromePda
• risco de infecção
Massa eritrocitária 
diminuida
Liberação de ferro
• aumento do risco de 
hipoglicemia
Ferro não 
ferritina: 
crescimento de 
patógenos e 
formação da 
radicais livres
Ao prescrever o tratamento, é essencial considerar essas alterações funcionais, caso contrário os órgãos e sistemas serão 
sobrecarregados levando rapidamente à morte. 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 9 
TRATAMENTO DE EMERGÊNCIA 
Para crianças com choque ou outras condições emergenciais 
Tal diferença se deve ao fato de o choque decorrente de desidratação e sepse muitas vezes coexistir e ser difícil de diferenciar 
com base na clínica. 
Crianças com desidratação respondem a líquidos IV, enquanto aquelas com choque séptico são irresponsivas. 
Como as crianças com desnutrição grave podem sucumbir rapidamente à sobrecarga hídrica, devem ser monitoradas de perto. 
 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 10 
 
 
ESTABILIZAÇÃO 
Dura de 1 a 7 dias. 
Prevenção de morte 
• Hipotermia à aquecer e manter aquecida 
• Hipoglicemia à Tratar via oral se consciente e EV se tem alterações de consciência e alimentação frequente (2-2h) 
(NÃO TEM GLICOGÊNIO) 
• Distúrbios Hidroeletrolíticos à RO (mesmo grave, dar preferência para o oral) 
o Via venosa só em sinais de choque, devido à disfunção miocárdica que pode evoluir para IC 
o NÃO SE REPÕE SÓDIO 
• Tratamento da infecção à antibióticoterapia 
Dieta deve ser habitual para a criança da idade (pode-se restringir a lactose) à NÃO HIPERALIMENATAR (risco de morte) 
Suplementa-se: 
• Potássio 
• Magnésio 
• Zinco 
NÃO SE SUPLEMENTA FERRO à pode aumentar estresse oxidativo e metabolismo de bactérias 
Uso de polivitamínicos 
• Vitamina A 
o Cegueira noturna 
o Manchas de Bitot 
o Ceratomalacia 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 11 
• Ácido Fólico 
Após estabilização hemodinâmica, hidreletrolítica e acidobásica (suporte metabólico), inicia-se a alimentação: 
fornecer no máximo 100 kcal/kg/dia (iniciando com taxa metabólica basal acrescida de fator de estresse que varia de 10 a 30%, 
fornecendo de 50 a 60 kcal/kg/dia no primeiro dia e aumentando de acordo com a avaliação clínica e laboratorial da criança), 
130 mL/kg/dia de oferta hídrica e 1 a 1,5 g de proteína/kg/dia, dieta com baixa osmolaridade (< 280 mOsmol/L) e com baixo teor 
de lactose (< 13 g/L) e sódio. 
Se a ingestão inicial for inferior a 60 a 70 kcal/kg/dia, indica-se terapia nutricional por sonda nasogástrica. 
De acordo com os dias de internação e a situação clínica da criança, são recomendados aumento gradual de volume e diminuição 
gradativa da frequência. Nessa fase, pode ser utilizado um preparado alimentar artesanal contendo 75 kcal e 0,9 g de proteína/100 
mL ou fórmula infantil polimérica isenta de lactose. Em situações de doenças associadas que cursam com má absorção grave, 
pode ser necessária a utilização de fórmulas extensamente hidrolisadas ou à base de aminoácidos. 
Não é prevista recuperação do estado nutricional, e sim sua conservação e a estabilização clínico-metabólica 
 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 12 
 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 13 
 
 
O estado de desidratação é facilmente diagnosticado de forma errada em crianças com definhamento grave, uma vez que os sinais 
usuais (como contração lenta da pele, olhos fundos) podem estar presentes mesmo na ausência de desidratação. A reidratação, 
portanto, deve ser estreitamente monitorada quanto aos sinais de sobrecarga hídrica. Os níveis séricos de eletrólitos podem 
conduzir ao erro, devido ao vazamento de sódio do sangue para dentro das células e do potássio para fora das células. Manter a 
ingesta constante de eletrólitos e nutrientes permite que os sistemas sejam estabilizados mais rápido do que com o ajuste da 
ingesta em resposta aos resultados laboratoriais. 
REABILITAÇÃO 
Dura de 2 a 6 semanas 
Inicia-se com o retorno do apetite 
• Aumento de calórias e proteínas (crescimento de catch-up) à 150-220/kg/dia 
• Suplementação de ferro 
• Alta para tratamento ambulatorial COM follow-up (pesagem semanal) 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 14 
Após a transição, devem ser fornecidas 150-220 kcal/kg/dia e 4-6 g de proteínas/kg/dia, mantendo o fornecimento contínuo de 
potássio, magnésio e micronutrientes. Adicionar então ferro (3 mg/kg/dia). Se o bebê for amamentado, incentivar a continuidade 
da amamentação. 
progredir a dieta de modo mais intensivo, visando a recuperar grande parte do peso perdido, estimular física e emocionalmente, 
orientar a mãe ou cuidador da criança e preparar para a alta. 
Devem ser ofertadas 1,5 vez a recomendação de energia para a idade (cerca de 150 kcal/kg/dia), oferta hídrica de 150 a 200 
mL/kg/dia e proteica de 3 a 4 g/kg/ dia e menor teor de lactose. 
Nesta fase, pode-se utilizar preparado artesanal sugerido pela OMS contendo 100 kcal e 2,9 g de proteína para cada 100 mL, 
fórmula infantil com menor conteúdo de lactose ou dieta enteral polimérica pediátrica isenta de lactose para crianças com idade 
inferior a 1 ano (1 kcal/mL). 
Para ajuste da densidade energética de fórmulas infantis (0,7 kcal/mL), podem ser utilizados módulos de polímeros de glicose e 
lipídios (óleos vegetais), adição máxima de 3%. Esse procedimento permite que a dieta oferecida apresente melhor densidade 
energética, mas compromete o fornecimento de minerais e micronutrientes. 
É importante o fornecimento de preparados com multivitaminas (1,5 vez a recomendação para crianças saudáveis) e de zinco, 
cobre e ferro; 
Crianças com desnutrição grave têm retardos do desenvolvimento, por isso cuidar com amor, brincar de forma estruturada e 
promover estimulação sensorial durante e após o tratamento é essencial para ajudar a recuperação da função cerebral. 
SÍNDROME DA REALIMENTAÇÃO 
Quando carboidratossão administrados em excesso, o aumento resultante dos níveis séricos de insulina pode produzir 
hipocalemia, hipofosfatemia e hipomagnesemia. A principal característica da síndrome da realimentação é o desenvolvimento de 
hipofosfatemia grave após a captação celular de fosfato durante a 1a semana de início da realimentação. Níveis séricos de fosfato 
≤0,5 mmol/L podem produzir enfraquecimento, rabdomiólise, disfunção de neutrófilos, insuficiência cardiorrespiratória, 
arritmias, convulsões, alteração do nível de consciência ou morte súbita. Os níveis de fosfato devem ser monitorados durante a 
realimentação e, se estiverem baixos, deve ser feita a administração de fosfato durante a realimentação, para tratar a 
hipofosfatemia grave 
 
CUIDADOS A SEREM DISPENSADOS 
• Realizar investigação sobre as possíveis causas, com atenção especial para o desmame inadequado, a alimentação não 
saudável, as intercorrências infecciosas e outros agravos clínicos, cuidados gerais de higiene, aspectos psicossociais da 
família, vínculo e afeto (utilizar orientações do item 3 deste manual); 
LAUANA GOMES – MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ p. 15 
• Se houver identificação de determinantes sociais que afetem a saúde da criança, buscar articulação intersetorial, 
especialmente com os serviços de Assistência Social e de redes de apoio existentes no território. Caso a criança já 
frequente a creche ou a pré-escola, também se deve buscar a articulação com a rede de Educação; 
• Se necessário, apoiar a mãe e/ou responsável pela criança a identificar, em sua rede social, possíveis parceiros 
(familiares e amigos) para ajudar no cuidado à criança; 
• Orientar e apoiar a mãe e/ou responsável quanto à alimentação adequada e saudável para a idade da criança 
(aleitamento materno e alimentação complementar para menores de 2 anos e alimentação saudável para maiores de 2 
anos), desenvolvimento infantil, principais agravos à saúde, cuidados de higiene, saúde bucal e suplementação de 
micronutrientes; 
• Tratar as intercorrências clínicas, se houver 
• Orientar o retorno da criança ao serviço de Saúde no intervalo estipulado de acordo com a Figura 1, organizando a 
equipe de Saúde para realizar o acolhimento adequado do caso; 
• De acordo com a gravidade do caso e se a equipe de referência da Atenção Básica julgar necessário e for possível, deve 
ser organizada uma avaliação multiprofissional, com participação de profissionais do Núcleo de Apoio à Saúde da 
Família (Nasf) ou outros profissionais da Rede de Atenção à Saúde que possam desenvolver o apoio matricial à equipe 
de referência para construção compartilhada do cuidado visando à melhor resolutividade no âmbito da Atenção Básica; 
• Esgotadas as possibilidades terapêuticas na Atenção Básica, encaminhar o caso para os serviços de Atenção 
Especializada, mantendo a coordenação do cuidado e acompanhamento na Atenção Básica. 
CONSEQUÊNCIAS DA SUBNUTRIÇÃO 
Morte prematura. 
RCF + amamentação subótima no 1º mês de vida à 19% de todas as mortes de crianças com menos de 5 anos de idade 
RCF + amamentação subótima no 1º mês de vida + retardo do crescimento + Baixo peso para altura + Deficiências de Vitamina A 
e Zinco à 45% das mortes de crianças ao nível global e grande número de crianças que se tornam incapacitadas e com 
deficiência de crescimento por toda a vida. 
As crianças com algum grau de subnutrição estão mais suscetíveis ao risco de morte por causas infecciosas, já que a subnutrição 
compromete a função imune. Por isso, as infecções são mais graves e demoradas nas crianças subnutridas, podendo inclusive 
piorar o quadro nutricional, entrando em um ciclo de infecções e desnutrição progressivamente pior. 
Além disso, o dano físico e cognitivo tem impacto futuro sobre a saúde e bem-estar econômico à lembrar das podas neuronais 
desse período. 
Existe mais chances de DM II, doenças crônicas, DNPM precário. As deficiências de iodo e ferro também levam à perda do 
potencial cognitivo. à Tudo isso é tem prejuízo individual, familiar e nacional. 
INTERVENÇÕES ESSENCIAIS: 
• Previnir o BPN 
• Prevenção do baixo IMC materno e da anemia 
• Cessação do tabagismo 
• Espaço entre nascimentos 
• Adiamento da gravidez para após os 18 anos de idade 
• Aleitamento materno exclusivo 
• Educação em saúde objetiva e clara 
• Boa alimentação complementar 
• Suplementação de micronutrientes quando necessário 
o o fornecimento de suplementação com doses altas de vitamina A a cada 6 meses para crianças com <5 anos de 
idade pode diminuir a mortalidade infantil em 5%-15%, enquanto a suplementação com zinco pode diminuir a 
mortalidade na faixa etária de 1-4 anos em 18%; a incidência de diarreia em 13%; e a incidência de pneumonia 
em 19%. 
• Monitorar o crescimento infantil

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