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Eletrocardiograma Teoria e Exercícios 1 99 2 17 3 25 4 Conceitos básicos Ativação normal do coração Sobrecargas atriais Sobrecargas ventriculares 30 5 Bradicardias e bloqueios 35 6 Bloqueios de ramo 42 7 Síndromes isquêmicas 47 8 aquiarritmias 54 9 67 10 79 11 83 12 85 13 Distúrbios eletrolíticos Eletrocardiograma nas crianças Erros na avaliação do ECG Eletrocardiogramas – exercícios Eletrocardiogramas – laudos 136 CAPÍTULO 1 Conceitos Básicos Conceitos básicos Potencial de repouso A célula cardíaca em repouso tem o seu exterior predominantemente positivo e o interior predomi- nantemente negativo (devido à predominância de proteínas intracelulares), o que gera um potencial transmembrana de repouso de aproximadamente –90 mV. O sódio é o íon predominante no meio ex- tracelular. A relação entre a concentração de sódio intracelular (10 mEq/L) e extracelular (140 mEq/L) é de aproximadamente 14 vezes maior, constituin- do, dessa forma, o íon mais importante do extra- celular. Já a distribuição do potássio é ainda mais assimétrica, sendo 30 vezes mais abundante no am- biente intracelular (150 mEq/L) do que no extrace- lular (5 mEq/L), sendo, dessa maneira, o principal íon intracelular e um dos principais responsáveis pelo potencial transmembrana de repouso. Potencial de ação Ao receber um estímulo acima de seu limiar de excitabilidade, iniciam-se fluxos iônicos pela embrana celular, inicialmente com o rápido afluxo de sódio por canais rápidos de sódio (fase 1 do potencial de ação), gerando rápida diminuição do potencial de ação, até a positivação deste, ficando por breves instantes o meio intracelular mais positivo do que o extracelular. A seguir, inicia-se uma fase de platô (fase 2), com equilíbrio da entrada de sódio e saída de potássio, seguida pelo início da repolarização celular (fase 3), com saída de potássio da célula, e finalmente a fase 4 , em que o potencial transmembrana volta ao normal e a bomba sódio-potássio trata de restabelecer os equilíbrios iônicos presentes pre- viamente à despolarização. Figura 1.1 Potencia de ação de A despolarização do coração é o evento inicial para a contração cardíaca. As correntes elétricas que se propa- gam pelo coração são produzidas por três componentes: as células do marca-passo cardíaco, o tecido de condução especializado e o próprio miocárdio. Entretanto, o ECG registra apenas os potenciais de despolarização (estimu- lação) e repolarização (recuperação) gerados pelo miocárdio atrial e ventricular. 10 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... O estímulo de despolarização para o batimento cardíaco normal origina-se no nó sinoatrial (SA) ou nó sinusal (Fig. 1.2), um conjunto de células marca-passo que disparam espontaneamente, ou seja, apresentam automaticidade. A primeira fase da ativação elétrica cardíaca é a propagação da onda de despolarização pelos átrios direito e esquerdo, seguida da contração atrial. Em seguida, o impulso estimula o marca-passo e os tecidos de condução especializados nas áreas do nó atrioventricular (AV) e do feixe de His. Essas duas regiões, em conjunto, constituem a junção AV. O feixe de His bifurca-se em dois ramos principais, direi- to e esquerdo, que rapidamente transmitem a onda de despolarização para o miocárdio ventricular direito e esquerdo por meio das fi bras de Purkinje. O ramo principal esquerdo bifurca-se em duas subdivi- sões, o fascículo anterior esquerdo e o fascículo pos- terior esquerdo. A seguir, as ondas de despolarização propagam-se pela parede ventricular, do endocárdio para o epicárdio, defl agrando a contração ventricular. Como as ondas de despolarização e repolarização cardíacas têm direção e magnitude, podem ser repre- sentadas por vetores. O vetorcardiograma, exame que mede e revela esses potenciais instantâneos, não é mais amplamente utilizado na prática clínica. Entre- tanto, os princípios gerais da análise vetorial continu- am essenciais para a compreensão sobre a gênese da confi guração das ondas dos ECG normal e patológico. A análise vetorial ilustra o conceito central da eletro- cardiografi a, isto é, que o ECG registra a complexa so- matória espacial e temporal dos potenciais elétricos de múltiplas fi bras miocárdicas conduzidos à super- fície corporal. O princípio responde pelas limitações inerentes à sensibilidade (a atividade de determina- das regiões cardíacas pode estar anulada ou ser tênue demais para ser registrada) e especifi cidade (a mesma soma vetorial pode resultar em ganho ou perda seleti- va de forças em direções opostas) do ECG. Figura 1.2 Esquema do sistema de condução cardíaca. Teoria do Dipolo Para simplifi carmos a despolarização celular, podemos raciocinar como se o fenômeno fosse uma onda, com uma crista positiva, que se segue de um rastro de negatividade. Cada pequeno segmento de cargas positivas e negativas pode ser representado por um vetor, que é um segmento de reta defi nido por grandeza, direção e sentido. Por convenção, represen- tamos a seta do vetor como sendo positiva e sua cauda como negativa. Figura 1.3 Desta maneira, uma despolarização pode ser descrita por milhares de pequenos vetores, cada um representando ondas da despolarização celular. A essa multidão de vetores podemos aplicar regras comuns aos vetores, ou seja, vetores de mesma direção e senti- do podem ser representados por um vetor resultante da soma deles; vetores de mesma direção e sentidos opostos são representados por um vetor resultante da subtração dos vetores; e vetores de diversas direções podem ser representados por vetores resultantes de sua projeção ortogonal. Figura 1.4 Assim, podemos representar todos os vetores de despolarização que ocorrem em uma célula em um único vetor resultante, produto da soma de todos os vetores que ocorrem momentaneamente naquela cé- lula. A somatória dos vetores de todas as células do coração vai gerar um vetor para cada momento da ati- vação das câmaras cardíacas. Agora que sabemos como se comportam os ve- tores e de onde se originam, temos de representá-los grafi camente. Escolhemos representar os vetores pelo sistema de derivações. Cada derivação é como um ob- servador, que se pauta pela seguinte convenção: se a derivação observa a seta do vetor, a representação é como positividade e se a derivação enxerga a ca da do vetor, ele será representado como uma negatividade 11 1 Conceitos básicos Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Desta maneira, um mesmo vetor poderá ser re- presentado de formas diferentes, dependendo da derivação que o “enxergar”. É como o mesmo vetor por diferentes “pontos de vista”. Figura 1.5 As derivações 1 e 2 enxergam o mesmo fenômeno elétrico, representado aqui por um vetor. A derivação 1 enxerga a cauda do ve- tor, e, assim, traduz o que vê como uma inscrição negativa. Já a deriva- ção 2 vê a seta do vetor e, assim, elucida uma positividade. Projeção As derivações podem ser representadas planos sobre os quais se projetam os vetores. Assim, o tamanho da representação que a derivação fará do vetor será equivalente à sua projeção. Aqui se aplicam as regras de projeção de vetores, e devemos lembrar que a projeção de um vetor que está a 90º da derivação é zero. Notemos que a derivação tem uma positividade e uma negatividade. Desta forma, é importante obser- var que a projeção cairá na parte negativa ou positiva da derivação, determinando uma representa-ção positiva ou negativa. Figura 1.6 Vetor paralelo à derivação: projeção máxima. Figura 1.7 Vetor inclinado em relação à derivação: regras da projeção de vetores. Figura 1.8 Vetor a 90º com a derivação: a resultante é um ponto ou nula. Assim, essa derivação não verá o vetor e terá como traçado uma linha isoelétrica . A somatória dos infinitos dipolos gerados na des-polarização cardíaca cria , de intensidade maior do que os dipolos individuais, que podemser captados pelos eletrocardiógrafos. Podemos dizer que cada fase da despolarização cardíaca possui um vetor específico, existindo um vetor correspondente à despolarização atrial e outros correspondentes a fase d despolarização ventricular. O sistema de derivações foi desenvolvido para captar esses fenômenos do maior número de pontos de vista possível, e assim, permitir a representação gráfica os fenômenos elétricos cardíacos. A derivação irá descrever graficamente o que estiver acontecendo no momento. D1 D2 D3 Figura 1.9 Projeção de um vetor nas derivações bipolares. A seta den- tro do triângulo de Einthoven representa um vetor QRS orientado a -30º. Em D1, a projeção ocorre no mesmo sentido da derivação e o ECG regis- tra uma onda positiva. Em D3, a projeção ocorre em sentido contrário e no ECG a onda é negativa. Em D2, o vetor é perpendicular à derivação, inscrevendo no ECG uma onda isodifásica. Despolarização Derivação 1 Extracelular Intracelular -++++++++++++++++++++++++ ----------++++++++++++++++++ -------------------------+++++++++ ---------------------------------------+++ ------------------------------------------- ++++++++++++++++++++++++ ++++++++++++++---------------- ++++++++++++++++++++++---- +++++-------------------------------- +------------------------------------------ Figura 1.10 Quando o impulso elétrico ultrapassa o nó atrio- ventricular, percorre rapidamente os feixes de His, estimulando simultaneamente os dois ventrículos a partir do endocárdio. Inicialmente, o septo é ativado. Como a massa do ventrículo esquerdo é cerca de 2 a 3 vezes maior que a do ventrículo direito, as forças elétricas do VE predominam, despolarizando o septo da esquerda para a direita. No ECG, verifica-se a inscrição de uma onda negativa inicial (onda Q) nas derivações es- querdas, correspondente à ativação do septo. 12 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Figura 1.12 O sistema de condução. A seguir, ocorre a despolarização das paredes li- vres dos ventrículos (paredes não septais), que apre- sentam maior massa. A soma das forças elétricas dos dois ventrículos determina agora a orientação do QRS para a esquerda. O ECG registra ondas R nas de- rivações esquerdas, bem como ondas S no lado oposto, decorrentes da predominância elétrica do VE. Finalmente, a ativação das porções basais dos ventrículos, próximas ao sulco atrioventricular, é res- ponsável pela porção fi nal do QRS (onda S). Esta variação no sentido da corrente elétrica nos ventrículos é registrada no eletrocardiograma como um complexo polifásico – complexo QRS, que se orien- ta para a esquerda e para trás, apontando para o ven- trículo esquerdo. Repolarização +++-------------------------------------- ++++++++++++++++++++++++ ------------------------------------------- -----+++++++++++++++++++++ ----------------------++++++++++++ ++++++++++++---------------------- Figura 1.11 A repolarização ventricular (onda T) é registrada no eletro- cardiograma como uma onda mais lenta, positiva e paralela ao QRS na maioria das derivações. A repolarização atrial tem voltagem muito peque- na e quase sempre coincide com o QRS, não tendo importância prática. Na figura 1.10, vimos uma das regras da des- polarização: as primeiras regiões a se despolariza- rem serão as primeiras a se repolarizarem e, por isso, a repolarização terá sentido inverso ao da despolarização. Essa regra de despolarização e repolarização é válida para os átrios, onde a camada de miocárdio é mais delgada. Já nos ventrículos, temos um fenôme- no diferente: como o miocárdio ventricular é muito es-pesso, a o Nos ventrículos, a repolarização ocorre de maneira inversa, ou seja, Isto acontece pelas altas pressões e pela isquemia relativa a que o miocárdio ventricular está submetido. Por este motivo, a aparên-cia mais habitual do eletrocardiograma tem a repolari-zação com o mesmo sentido da despolarização. Resumo Polarização: estado de repouso Despolarização: estimulação Repolarização: recuperação Resumo do sistema de condução Estrutura Localização Função Nó SA Parede atrial direita logo abaixo da aber- tura da veia cava superior Marca-passo primário inicia impulsos normalmente conduzidos através dos átrios esquerdo e direito Frequência intrínseca de 60 – 100 bpm Nó AV Parede septal posterior do átrio direito ime- diatamente atrás da valva tricús- pide e próxima da abertura do seio coronário Recebe impulso do nó SA e retarda a retransmissão do impulso ao feixe de His, dando tempo para os átrios esvaziarem seus conteúdos nos ventrículos antes do iní- cio da contração ventricular Feixe de His Porção superior do septo interventricular Recebe impulso do nó AV e o retransmite para os ramos direito e esquerdo. Capacidade de marca-passo intrínseca de 40 – 60 bpm Ramos direito e esquerdo Septo interventricular Recebe impulso do feixe de His e o retransmite as fi bras de Purkinje no miocárdio ventricular Fibras de Purkinje Miocárdio ventricular Recebe impulso dos ramos e o retransmite ao miocár- dio ventricular. Capacidade de marca-passo intrínseca de 20 – 40 bpm Tabela 1.1 Para estudar os fenômenos elétricos do coração, Einthoven criou um sistema com três derivações: co- locou um voluntário com os dois braços e o pé direito mergulhados em baldes de solução eletrolítica e rea- 1 Conceitos básicos 13 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Sistemas de derivações lizou um gráfico com as oscilações das diferenças de potencial entre esses pontos. Desta maneira, eram criadas as três primeiras derivações: DI, DII e DIII. Como comparam a diferença de potencial entre dois pontos, são chamadas de derivações bipolares. Com o desenvolvimento da técnica, acrescenta- ram-se mais três derivações, simplesmente comparan- do cada um dos pontos de Einthoven com um eletrodo neutro. Nasciam, assim, as derivações unipolares. D1 D2 D3 aVR aVL aVF Figura 1.13 Derivações bipolares. Figura original dos experimentos de Einthoven. A derivação DI registra a variação da corrente elétrica en-tre o braço direito e o esquerdo. DII entre o braço direito e a perna. DIII entre o braço esquerdo e a perna. Teoricamente, essas três derivações formam um triângulo equilátero, denominado triângulo de Einthoven. À direita temos as derivações unipolares. Tanto as derivações unipolares como as bipolares fazem parte do chamado pplano frontal, com duas dimensões: direita e esquerda, superior e inferior. Como vimos, no plano frontal temos um sistema de derivações unipolares e bipolares. Cada derivação tem uma visão diferente dos fenômenos elétricos cardíacos. Espacialmente, as derivações podem ser representadas conforme o esquema a seguir: As derivações unipolares foram chamadas pelo nome de seu polo ativo, ou seja, direita, esquerda e pé. Tais derivações têm baixas voltagens e, por isso, precisam ser amplificadas para o registro eletrocardio-gráfico. Por isso, seus nomes em inglês: avFoot, avLeft e avRight. Av= amplified voltage. Figura 1.14 As derivações unipolares registram os potenciais elétricos braço direito, braço esquerdo e perna. Assim, o que temos de fazer é projetar o vetor resultante da despolarização ventricular em cada uma das derivações para obtermos o eletrocardiograma. Vamos tomar como exemplo uma projeção de um ve- tor apenas nas derivações bipolares para ver como se- ria o traçado resultante. DI DII DIII Figura 1.15 No exemplo acima, tanto DI quanto DII viram a projeção do vetor cair em suas positividades e, assim, representaram o vetor como positivo. Já a derivação DIII estava a 90º do vetor, e desse modo a projeção dele na derivação foi nula. Por este mo- tivo, o fenômeno em questão não pode ser visua- lizado em DIII, e essa derivação exibirá uma linha isoelétrica. Para facilitar o trabalho de projeção dos ve- tores e de interpretação do eletrocardiograma,foi adotado o sistema hexa xial, que nada mais é do que esquema acima com um único centro. Por convenção, os valores são positivos para baixo do eixo e negativos acima destes; as setas indicam as partes positivas das derivações. +90º +aVF +60º +II +30º -aVR 0º +1 -30º +aVL -60º -III -90º -aVF -120º -II -150º +aVR 180º -I +150º -aVL +120º +III De svi o e xtr em o d o eix o Desvio do eixo à esquerda Eix o n or m al D esvio do eixo à direita Figura 1.16 Sistema hexa xial. A superposição das derivações bi-polares (DI, DII e DIII) às unipolares (avR, avL e avF) resulta numa figura circular com derivações em intervalos de 30º. As orientações abaixo da linha horizontal são consideradas positivas e as acima, negativas. 14 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Figura 1.17 O sistema de referência hexa xial composto pelos eixos das seis derivações do plano frontal. Os eixos das seis derivações do plano frontal foram rearranjados de modo que os seus centros cruzem uns com os outros. Esses eixos dividem o plano em 12 segmentos, cada um formando com o próximo um ângulo de 30º. As extremidades positivas de cada eixo estão rotuladas com o nome da derivação. 30 graus. Para localizarmos um evento qualquer no plano frontal, Por estarem ortogonalmente dispostas, delimitam quatro quadrantes diferentes. Assim, se um fenômeno é positivo em D e positivo em a F, podemos dizer que tal fenômeno está localizado entre 0 e +90 graus. Após localizarmos em que quadrante está o fenômeno, devemos Ao localizar uma derivação isoelétrica, sabemos que o fenômeno está a exatamente a 90º dessa derivação. Figura 1.19 Visão das derivações V1 V2 V3 V4 V5 V6 V3R V4R Figura 1.20 As derivações do plano horizontal (torácicas ou precor- diais) são obtidas com eletrodos nas localizações apresentadas. Outras derivações torácicas que não fazem parte do ECG de 12 derivações podem ser usadas para visu- alizar superfícies específicas do coração. Derivações torácicas direitas são utilizadas na suspeita de um IAM ventricular direito. Derivação R = Derivação V2 Derivação V2R = Derivação V1 1 Conceitos básicos 15 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Derivação V3R = Linha média entre V2R e V4R Derivação V4R = Linha hemiclavicular direita, quinto espaço intercostal Derivação V5R = Linha axilar anterior direita no mesmo nível da V4R Derivação V6R = Linha hemiaxilar direita no mesmo nível da V4R V 6 R V 5 R V 4 R V 3 R V1 V2 V3 V4 V5 V6 (V2R)(V1R) Figura 1.21 Localização das derivações precordiais esquerda e direita. Resumo das derivações de membros Derivação Eletrodo positivo Eletrodo negativo Superfície do coração visualizada Derivação I Braço esquerdo Braço direito Lateral Derivação II Perna esquerda Braço direito Inferior Derivação III Perna esquerda Braço esquerdo Inferior Tabela 1.2 Resumo das derivações aumentadas Derivação Eletrodo positivo Superfície do coração visualizada Derivação avR Braço direito Nenhuma Resumo das derivações aumentadas (cont.) Derivação avL Braço esquerdo Lateral Derivação avF Perna esquerda Inferior Tabela 1.3 Resumo das derivações precordiais Derivação Posição do eletrodo positivo Superfície do coração visualizada Derivação V1 Porção direita do esterno, 4º espaço intercostal Septo Derivação V2 Porção esquerda do esterno, 4º espaço intercostal Septo Derivação V3 Linha média entre V2 e V4 Anterior Derivação V4 Linha hemiclavicular esquerda, 5º espaço intercostal Anterior Derivação V5 Linha axilar anterior esquerda no mesmo nível que V4 Lateral Derivação V6 Linha hemiaxilar esquerda no mesmo nível que V4 Lateral Tabela 1.4 Visão das derivações clássicas de membros e derivações aumentadas. Como dissemos anteriormente, as derivações são denominadas bipolares (DI, DII e DIII – Triângulo de Einthoven) unipolares (avR, avL e avF) e precordiais (V1 a V6). Os eletrodos devem ser posicionados de acordo com a tabela abaixo: - Amarelo: membro superior esquerdo - Verde: membro inferior esquerdo - Vermelho: membro superior direito - Preto: membro inferior direito - V1: 4º espaço intercostal direito paraesternal - V2: 4º espaço intercostal esquerdo paraesternal - V3: entre V2 e V4 - V4: 5º EICE linha hemiclavicular - V5: horizontal a V4, linha axilar anterior - V6: horizontal a V4, linha axilar média 16 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... CAPÍTULO 2 Ativação Normal do Coração 18 O átrio direito está disposto verticalmente, como se estivesse “esticado” entre as duas veias cavas. Já o átrio esquerdo está disposto mais horizontalmente. Esta disposição dos átrios será determinante na definição dos vetores gerados pela despolarização dessas estruturas. O primeiro vetor, resultante da despolarização de todo o átrio direito, dirige-se verticalmente para baixo, para a frente e ligeiramente para a esquerda. O segundo vetor, resultante da despolarização de todo o átrio esquerdo, tem orientação predominan- te para a esquerda, para trás e, com frequência, dis- cretamente para baixo, sendo quase perpendicular à ativação ventricular direita. O vetor resultante da ativação atrial é denomina- do SÂP (eixo espacial de P – spacial axis of P). A onda P resulta da soma das forças elétricas dos dois átrios. Sua porção inicial corresponde ao AD e a porção final, ao AE. Devido à localização do nó sinusal, a onda P normal se orienta para a esquerda e para baixo. Figura 2.1 SÂP – Vetor resultante da ativação atrial. A ativação ventricular é bastante complexa: tem iní- cio no septo interventricular, por sua proximidade com o sistema de condução do coração. Ela segue, então, pela parede livre dos ventrículos, acabando em suas porções basais. Assim, dividimos a ativação ventricular em três fases, cada uma gerando vetores específicos. O vetor resultante da ativação septal é o cha- mado vetor 1, que ocorre entre 15 e 20 ms da ativação septal. Tal vetor se origina na superfície septal esquer- da e aponta para a base do músculo papilar anterior do ventrículo direito. Assim, tal vetor aponta para fren- te, para baixo e para direita. Em seguida, inicia-se a ativação das paredes livres dos ventrículos. Os ventrículos se ativam pe- los ramos do feixe de His, e aqui é importante lembrar que o ramo esquerdo tem três divisões: os fascícu- los anterossuperior, posteroinferior e anteromedial. Cada fascículo dá origem a um vetor (figura 2.3), denominado de 2AM (para a frente, para a esquerda e paralelo ao plano horizontal), 2PI (para baixo e discre- tamente para a esquerda) e 2AS (discretamente para cima e para a esquerda). O resultante desses três vetores constitui o ve- tor 2, que ocorre entre 20 e 60 ms da ativação ventri- cular e se dirige para a esquerda, para trás e para baixo. Por fim, temos o vetor 3, que ocorre entre 60 e 80 ms e é resultante da ativação das porções basais do ventrículo esquerdo, se dirigindo para cima, para trás e, frequentemente, para a direita. No ECG verifica-se a inscrição de uma onda ne- gativa inicial (onda Q) nas derivações esquerdas, cor- respondente à ativação do septo. A seguir ocorre a despolarização das paredes li- vres dos ventrículos (paredes não septais), que apre- sentam maior massa. A soma das forças elétricas dos dois ventrículos determina agora a orientação do QRS para a esquerda. O ECG registra ondas R nas de- rivações esquerdas bem como ondas S no lado oposto, decorrentes da predominância elétrica do VE. Finalmente, a ativação das porções basais dos ventrículos, próximas ao sulco atrioventricular, é responsável pela porção final do QRS (onda S). Esta variação no sentido da corrente elétrica nos ventrículos é registrada no eletrocardiograma como um complexo polifásico QRS, que se orienta para a esquerd e para trás apontando para o ventrículo esquerdo. Figura 2.2 Ativação normal. Eletrocardiografia- CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Ativação atrial Ativação ventricular 2 Ativação normal do coração 19 A repolarização ventricular (onda T) é registra- da no eletrocardiograma como uma onda mais lenta, positiva e paralela ao QRS na maioria das derivações. A repolarização atrial tem voltagem muito pe- quena e quase sempre coincide com o QRS, não tendo importância prática. O eletrocardiograma é registrado em papel mi- limetrado, no qual, na direção vertical, 1 mm corres- ponde a 0,1 mV, e na horizontal, 1 mm equivale a 0,04 s. A velocidade do papel é de 25 mm/s, portanto, em 1 minuto, o aparelho registra 1.500 mm de traçado. Para o cálculo da frequência cardíaca, utilizamos a fórmula FC = 1.500/RR, onde RR = intervalo entre duas ondas R consecutivas e que corresponde a 1 ciclo cardíaco (FR normal variando de 60 a 100 bpm). Tempo Vo lta ge m 5 m m 0,2 s 1 m m 0,04 s Figura 2.4 Frequência cardíaca normal e nas principais arritmias FC ou frequência atrial Outros parâmetros Diagnóstico provável FC de 50 a 100 bpm Onda P com orientação normal Ritmo sinusal FC > 100 bpm Onda P com orientação normal Taquicardia sinusal FC > 100 bpm Ausência de P – QRS estreito Taquicardia supraventricular FC > 100 bpm Ausência de P – QRS largo TV ou aberrância de condução Frequência atrial: 150 a 250 bmp Onda P desviada Taquicardia atrial Frequência atrial: 250 a 350 bmp Bloqueio AV 2:1, 3:1 ou 4:1 Flutter atrial Frequência atrial > 350 bmp RR muito irregular Fibrilação atrial FC < 50 bpm Onda P com orientação normal Bradicardia sinusal FC < 60 bpm Onda P ausente Ritmo juncional ou idioventricular FC < 60 bpm Onda P desviada Ritmo ectópico atrial FC < 40 bpm Dissociação AV Bloqueio AV total Tabela 2.1 Modifi cações da onda P Orientação Dimensões Morfologia Diagnósti- co provável 0º a + 0º < 2,5 x 2,5 mm Arredondada P normal, ritmo sinusal 0º a +90º Amplitude > 0,25 mV Pontiaguda Sobrecarga do AD Desvio para trás Duração > 0,10 s V1: fase negativa > 1 mm² Entalhada Sobrecarga do AE Desvio para trás Amplitude > e duração > Pontiaguda, entalhada Sobrecarga biatrial Para a esquerda Normais Plus-minus (DI, DIII, avF) Distúrbio de condução intra-atrial Desvio: 0º a -90º PR curto Negativa em DII, DIII, avF Ritmo Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Registro do ECG 20 Modificações da onda P (cont.) Desvio > +90º Normais QRS, T des- viados > +90º Dextrocardia Tabela 2.2 Representa a despolarização ventricular. Tem voltagem mais elevada porque a massa do miocárdio ventricular é maior que a dos átrios, mas a duração é praticamente a mesma (0,15 até 0,11 s) devido à con- dução rápida do estímulo elétrico pelo sistema His- -Purkinje. A orientação predominante do QRS nor- mal é sempre para a esquerda (entre -30º e +90º) e para trás, direcionada para o VE, devido à sua pre- dominância elétrica. Distúrbios na condução intraventricular, de causa orgânica ou funcional, aumentam a duração da despolarização dos ventrículos e alargam o QRS, modificando sua morfologia “estreita” característica e, eventualmente, desviam o eixo elétrico do coração. O desvio do QRS para a direita é definido quando o eixo no plano frontal desvia para além de +90 graus. A causa mais comum de desvio patológico do QRS para a esquerda, além de -30°, é o bloqueio da divisão anterossuperior do ramo esquerdo, denominado de hemibloqueio anterior esquerdo. Esse bloqueio divisional é muito frequente porque o respectivo fascículo é muito fino, assim como o ramo direito do feixe de His. Assim, o comprometimento inicial do miocárdio por doença ou por avanço da idade pode resultar em BDAS antes de qualquer outra manifestação. Os distúrbios de condução intraventricular que alargam o QRS podem ocorrer por lesão anatômica (bloqueios de ramo em cardiopatias diversas) ou transtornos funcionais dependentes de frequência cardíaca (aberrância de condução em taquiarritmias supraventriculares), de alteração metabólica (hiperpotassemia e hipotermia) e de intoxicação medicamentosa (quinidina). A causa mais comum de QRS alargado é o blo- queio de um dos ramos, direito ou esquerdo, do feixe de His (Tabela 2.4). No bloqueio do ramo direito, o estímulo percorre inicialmente o ramo esquerdo, despolarizando o septo esquerdo e a parede livre do VE antes de despolarizar o VD. Assim, a porção inicial do complexo QRS que resulta da despolarização do VE é normal, e a porção final consequente à despolarização tardia e anômala do VD é alargada e desviada para a frente. No ECG, as alterações mais características são o alargamento do QRS com desvio do eixo elétrico para a frente e, na derivação V1, a morfologia polifásica rSR’, que lembra uma letra “M” estilizada. O bloqueio do ramo esquerdo altera a despolarização ventricular desde o início e, portanto, a ativação septal está alterada, com sentido invertido. O ECG se caracteriza por complexos QRS alargados e monofásicos na maioria das derivações, com ondas R entalhadas que lembram a figura de uma torre estilizada, mas a orientação espacial é normal, e em V1 observam-se complexos do tipo QS ou rS. Os bloqueios divisionais do ramo esquerdo, em- bora possam aumentar a duração da despolarização ventricular, não causam alargamento patológico do QRS, devido às conexões de suas terminações pela rede de Purkinje. O QRS largo por condução intraventricular anor- mal ocorre também devido à pré-excitação (Wolff-Pa- rkinson-White) ou à origem ventricular do estímulo (extrassístoles e taquicardias ventriculares, ritmos idioventriculares e marca-passo artificial). A síndrome de Wolff-Parkinson-White é detec- tada quando um paciente com história de taquicar- dia apresenta no ECG, em ritmo sinusal, sinais de pré-excitação: PR curto e QRS alargado por onda delta. A onda delta é a despolarização ventricular precoce pela via anômala que alarga a porção inicial do QRS e encurta o intervalo PR. Essas manifestações indicam a existência de um feixe atrioventricular anômalo e pre- disposição a taquicardias paroxísticas por reentrada. Marca-passos ventriculares produzem QRS alarga- do. Nos marca-passos bipolares, as espículas são pequenas e, quando não visualizadas, simulam ritmo idioventricular. Nas arritmias ventriculares, a característica fundamental para o diagnóstico é o QRS alargado, que denota a origem ectópica do estímulo no ven- trículo. O aumento do automatismo de um foco ectó- pico pode ocasionar uma extrassístole ventri cular, um ritmo idioventricular acelerado ou uma taquicardia ventricular. Taquicardias ven triculares também resul- tam de outros mecanismos, tais como a reentrada. No bloqueio AV total, o ritmo do ventrículo é idioven- tricular de escape e o QRS é alargado quando a loca- lização do foco é afastada do feixe de His. As arritmias supraventriculares se caracteri- zam por apresentarem QRS estreito, mas podem também exibir QRS alargado em duas situações: distúrbio de condução preexistente ou aberrância de condução frequência-dependente. Se um paciente com arritmia supraventricular já apresentava bloqueio de ramo, é evidente que o QRS permanecerá alargado, com a mesma morfologia. A aberrância de condução não é incomum em extrassístoles atriais e nas taqui- cardias supraventriculares, sendo muitas vezes con- fundida com arritmias ventriculares. Na FA, a aber- rância de condução tem particularidades próprias e é denominada fenômeno de Ashman. Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... 2 Ativação normal do coração 21 Na hiperpotassemia, o alargamento do QRS apa- rece quando os níveis de potássio atingem aproximada- mente 8 mEq/L. Geralmente é acompanhado de ondas T altas, simétricas e de base estreita, e de ondas P com amplitude diminuída ou ausentes. Entalhes fi nais que alargam o QRS recebem denomi- nações diversas: ondas J ou O (de “Osborn”) na hipoter- miae ondas épsilon na displasia arritmogênica do VD. A onda J é inespecífi ca, ocorrendo também na hipercal- cemia e até mesmo em indivíduos normais com repolari- zação precoce, mas na hipotermia vem acompanhada de bradicardia e QT prolongado. A displasia arritmogênica do VD é uma cardiopatia rara que predispõe a taquicardias ventriculares e morte súbita. Anormalidades do QRS Parâmetro Orientação Diagnósti- co provável Duração normal (até 0,11 s) -30° a +90° Normal Duração normal Desvio para direita > +90° SVD Duração normal Desvio para esquerda > -30° BDAS Duração aumentada Normal BRE Duração aumentada Desvio para frente BRD Amplitude aumentada Normal SVE Ondas Q anormais Área inativa Tabela 2.3 Causas de alargamento do QRS Bloqueios de ramo Arritmias ventriculares - Ritmo ventricular de escape (BAVT) - Ritmo idioventricular acelerado - Extrassístoles e taquicardias ventriculares Aberrância de condução e frequência dependentes (extrassís- toles e taquicardias supraventriculares) Síndrome de pré-excitação (Wolff -Parkinson-White) Marca-passo ventricular artifi cial Hiperpotassemia Hipotermia Distúrbios da condução intraventricular inespecífi cos (miocardiopatias) Medicamentos (quinidina) Tabela 2.4 Causas de desvio do QRS para direita Sobrecarga ventricular direita Longilíneo Área inativa lateral alta Bloqueio do ramo direito Embolia pulmonar Dextrocardia Bloqueio divisional posteroinferior Arritmias ventriculares ECG de recém-nascido Troca de eletrodos Tabela 2.5 Causas de desvio patológico do QRS para esquerda BDAS Infarto de parede inferior Infarto inferior com BDAS SVE BRE Enfi sema pulmonar Síndrome de Wolff -Parkinson-White Ritmo idioventricular Taquiarritmias Hiperpotassemia Marca-passo cardíaco artifi cial Tabela 2.6 Tem início na onda P e vai até o início do QRS, correspondendo ao tempo gasto pelo estímulo elétrico desde sua origem no nó sinusal até alcançar os ventrí- culos. A maior parte do intervalo PR decorre do atraso fi siológico da condução no nó AV, necessário para que os átrios sejam esvaziados antes da contração ventri- cular. O intervalo PR normal varia de a s. Variações da duração do intervalo PR Causas de intervalo PR curto Causas de intervalo PR longo Causas de intervalo PR variável Ritmo juncional Síndrome de Wolff - -Parkinson-White Condução AV acelerada Bloqueio AV de 1º grau Idade avançada Bloqueio AV de 2º grau Mobitz I (fenômeno de Wennckebach) Dissociação AV Marca-passo atrial mutável Dupla via de condução nodal Tabela 2.7 Variações do segmento PR Causas de infradesnivelamento do segmento PR Causas de supradesnivelamento do segmento PR Pericardite Infarto atrial Infarto atrial Tabela 2.8 O segmento ST é uma porção do traçado do ECG entre o complexo QRS e a onda T. Representa a parte inicial da repolarização dos ventrículos direito e es- querdo. O segmento ST começa no fi nal do complexo QRS (onda S) e termina com o surgimento da onda T. Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... 22 Nas derivações de membro, o segmento ST nor- mal é isoelétrico (plano), mas pode normalmen- te estar um pouco elevado ou deprimido (nor- malmente menos que 1 mm). Nas derivações precordiais, o desvio do segmen- to ST pode variar de -0,5 a +2 mm. O ponto em que o complexo QRS e o segmento ST se encontram é denominado junção ou ponto J. (Figura 2.5). Diversas condições podem causar desloca- mento do segmento ST da linha isoelétrica, seja em direção positiva ou negativa. Isquemia, lesão ou infarto do miocárdio estão entre as causas de deslocamento do seguimento ST. O segmento ST é considerado elevado se o seguimento se deslocar acima da linha de base. É considerado deprimido caso se desloque abai- xo da linha de base. A elevação do segmento ST no formato de uma “carinha feliz” (smiley), concavidade ascenden- te, geralmente é benigna, particularmente se ocorrer em um paciente assintomático e nor- malmente sadio (Figura 2.6). Ponto J Figura 2.5 O ponto no qual o complexo QRS e o segmento ST se en- contram é denominado de “junção ou “ponto J”. A B Figura 2.6 A: a elevação do segmento ST no formato de uma “carinha feliz” (concavidade ascendente) é geralmente benigna, particularmente quando ocorre em um paciente sadio e assintomático. B: a elevação do segmento ST no formato de uma “carinha triste” (concavidade descen- dente) está muitas vezes associada a um padrão de lesão aguda. A aparência arqueada (“rosto carrancudo”) da elevação do segmento ST é denominada padrão de lesão agudo. Outras possíveis formas de elevação do seg- mento ST vistas no IAM agudo estão demons- tradas na Figura 2.7. Um segmento ST horizontal (formando um ân- gulo agudo com a onda T) sugere isquemia. Os digitálicos causam uma depressão (esca- vação) do segmento ST às vezes denominada como “dig dip” (“intoxicação digitálica”). Figura 2.7 Formas variadas de elevação do segmento ST vistas no IAM. Causas de desnivelamento do segmento ST Alteração de ST Diagnósticos possíveis Supradesnivelamento IAM, pericardite, BRE, repolarização precoce Infradesnivelamento SVE, isquemia, digita Tabela 2.9 É resultante da repolarização ventricular sen- do uma onda de maior duração e menor voltagem, com porção ascendente mais lenta que a descendente. A onda T normal é positiva e paralela ao complexo QRS na maioria das derivações, exceto em V1 e V2, em que o QRS habitualmente é negativo e a onda T positiva. Por vezes, observa-se uma última onda arre- dondada e menor, a onda U, que representa poten- ciais tardios. Causas de aumento de amplitude da onda T Hiperpotassemia Vagotonia Fase hiperaguda do infarto do miocário Causas de achatamento e inversão da onda T Insuficiência coronária Pericardite Miocardiopatia Hipertrofia ventricular esquerda (strain) Hipertrofia ventricular direita Bloqueio do ramo esquerdo Wolff-Parkinson-White Alteração metabólica AVCH (ondas T “cerebrais”) Onda T juvenil Memória elétrica (BRE intermitente, pós-taquicardia e marca-passo de demanda) Idiopática Tabela 2.10 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... 2 Ativação normal do coração 23 É o intervalo defi n ido do início do QRS ao tér- mino da onda T; representa a sístole elétrica ven- tricular, que é o tempo total de despolarização e re- polarização dos ventrículos no ECG. Como o QT varia muito com a frequência cardíaca, utiliza-se preferen- cialmente o QTc, que é o intervalo QT corrigido para a FC, expresso pela fórmula: QTc = QT/√RR. O QTc é considerado normal até s . Onda P Complexo QRS Onda T Onda U ST R PR Intervalo PR Intervalo QT Q S Inferior a 0,10 s 0,12 - 0,20 s abaixo de 0,38 s Figura 2.8 Esquema de ECG: ondas, intervalos e segmentos. Finalmente, na análise do ECG, devem ser obser- vados ainda dois pequenos trechos do traçado: o seg- mento PR, entre o fi m da onda P e o início do QRS, e o segmento ST, entre o fi m do QRS e o início da onda T, procurando os desnivelamentos em relação à linha de base do traçado (supra ou infradesnivelamento). A onda T pode ser seguida por uma onda adicional de baixa amplitude conhecida como onda U. Essa onda de repolarização tardia, usualmente com menos de 0,1 mV de amplitude, normalmente tem a mesma polaridade de onda T precedente e é maior nas deriva- ções medioprecordiais e em frequências cardíacas mais lentas. Sua base eletrofi siológica é incerta; ela pode ser causada pela repolarização das fi bras de Purkinje, pelo longo potencial de ação das células mediomiocárdicas (células M) ou pela despolarização tardia em áreas do ventrículo que sofrem relaxamento mecânico tardio. Causas de diminuição do intervalo QT Hipercalcemia Outras alterações metabólicas (hipercalcemia pura e acidose metabólica) Digital Causas de aumento do intervalo QT Distúrbios eletrolíticos (hipocalcemia, hipopotassemia e hipomagnesemia) Antiarrítmicos (dos grupos IA e III da classifi cação inter- nacionalde medicamentos antiarrítmicos) Psicotrópicos (antidepressivos tricíclicos e antipsicóticos) Outros medicamentos (cisaprida e alguns anti-histamínicos) Isquemia miocárdica (angina instável ou infarto agudo do miocárdio) Arritmias (pós-taquicardia ventricular ou pós-parada cardíaca) Lesões agudas do sistema nervoso central (hemorragia ce- rebral, infecções do SNC, processos expansivos) Hipotermia Bloqueio de ramo Síndromes do QT longo congênito Tabela 2.11 aVRI II III V1 V2 V3 V4 V5 V6 aVL aVF Figura 2.9 Eletrocardiograma normal de um indivíduo saudável. Ritmo sinusal com frequência de 75 bpm; intervalo PR de 0,16 s; intervalo QRS com duração de 0,08 s; intervalo QT de 0,36 s; QTC de 0,40 s; eixo médio do QRS em cerca de +70°. As derivações precordiais mostram a progres- são normal da onda R com zona de transição (onda R= onda S) em V3. aVRI II II III V1 V2 V3 V4 CAL V5 V6 aVL aVF Figura 2.10 ECG normal. Ritmo sinusal. FC= 65 bpm. Durações de P (0,09 s), PR (0,16 s), QRS (0,08 s) e QT (0,38 s) normais. Orientações de P, QRS e T proximais de + 70º. Progressão normal das ondas R nas precordiais. Ondas T positivas e paralelas ao QRS na maioria das derivações. Segmento ST nivelado. Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... 24 aVRI II III II V1 V2 V3 V4 CAL V5 V6 aVL aVF Figura 2.11 Repolarização precoce. Variante normal. Supradesnivelamento crônico do segmento ST mais acentuado nas precordiais em indivíduo assitomático de 47 anos do sexo masculino adepto à prática esportiva. A frequência cardíaca de 53 bpm, o intervalo PR de 0,18 s e as ondas T amplas são parâmetros compatíveis com vagotonia. Figura 2.12 Traçado normal com um padrão juvenil de inversão de onda T nas derivações V1, V2 e V3, bem como um padrão de rep ção precoce manifestado por elevação do segmento ST nas derivações I, II, avF, V4, V5 e V6. A interpretação do eletrocardiograma em etapas Estimar a frequência cardíaca Definir o ritmo cardíaco (regular vs. irregular; relação das ondas P para os complexos QRS) Medir os intervalos (PR, duração do QRS, QT) Calcular/ estimar QTc Estimar o eixo QRS Examinar a morfologia, duração e eixo da onda P Examinar a progressão do QRS e sua transição nas derivações precordiais Examinar os complexos QRS em grupos regionais (derivações septais: [V1, V2]; anteriores [V2, V3, V4]; derivações laterais [I, avL, V5, V6]; deriva- ções das paredes inferior e posterior [II, III, avF, V1, V2]) Examinar os segmentos ST nos grupos regionais Examinar as ondas T nas derivações regionais Tabela 2.12 Eletrocardiografia - CardioSite Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Eletrocardiografia Cardiosite Esta é uma amostra do E-book Eletrocardiograma Teoria e Exercícios 2021. Para adquiri-lo entre no site www.cardiosite.com.br e compre esta edição 2021 do E-book por R$ 50,00. 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Sobre Dr Anderson Luiz da Silva Médico graduado pela Universidade Federal Fluminense (Niterói/RJ) Especialista em Cardiologia pela Universidade Federal Fluminense (Niterói/RJ) Título de Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB Fundador e Editor do CardioSite (www.cardiosite.com.br) Para refletir Podem roubar seus bens materiais, mas não podem furtar seu conhecimento. Uma crise leva embora seu sossego, mas não a sua profissão. Estude... Invista em você... Sua inteligência é uma dádiva divina. Estudar, revisar, treinar, treinar, treinar... Amostra E-book de Eletrocardiografia Teoria e Exercícios 2021 Amostra E-book de Eletrocardiografia Teoria e Exercícios 2021 Amostra E-book Eletrocardiograma Teoria e Exercícios 2020