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ANA BEATRIZ CAMPOS 1 ENDOCRINOLOGIA – A1B2 kANATOMIA DA TIREOIDE É uma glândula em formato de borboleta que se situa á frente da traqueia. É a maior glândula endócrina e é responsável pela produção de T3 e T4. É composta por 2 lobos, um direito e outro esquerdo, que são divididos pelo istmo e, essa glândula pesa em torno de 10-20g. Além disso, a glândula tireoide tem uma relação próxima com os nervos laríngeo recorrente e paratireoides, que são em grupo de 4 e ficam por trás da glândula tireoide. Lembrando que a paratireoide pode ter várias alterações anatômicas, mas o comum, é que seja localizada como descrito. Por ser próxima ao nervo laríngeo recorrente, em cirurgias de tireoide pode haver lesão desse nervo. HISTOLOGIA ® Unidade funcional: folículo tireoidiano; ® Células foliculares tireoideanas; ® Células parafoliculares (calcitonina); ® Colóide: depósito de hormônio tireoidiano; • A tiroide produz 100% do T4 e apenas 20% do T3 circulante. 80% do T3 vem da deiodinação do T4 nos tecidos periféricos. OBS: Por isso que quando vamos fazer reposição de hormônio tireoidiano, não precisa fornecer T3, pois o T4 que a gente prescreve já é suficiente, devido a essa deiodinação. • As formas livres são metabolicamente ativas (T4 e T3), ou seja, não estão ligados a nenhuma proteína. • O T3 tem uma maior atividade biológica comparado ao T4 (4-10x mais potente do que o T4). • O T4 é inativado em T3 reverso (D3). O T3 reverso é inativo, não tem função biológica. FORMAÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Dentro da célula folicular vai acontecer a síntese de proteínas (principalmente da tireoglobulina). A tireoglobulina vaib ser deslocada até a parte interna do folículo (coloide) e, ao mesmo tempo vai haver o transporte ativo de iodo para dentro da célula à iodo vai ser acoplado a tireoglubulina para formar moléculas (DIT e MIT) à produção de hormônios tireoidianos (T3 e T4). Depois que estão acoplados a tireoglubulinas, voltam para a célula folicular à vão ser clivados à liberados na corrente sanguínea. A tireoperoxidase é uma enzima que catalisa algumas dessas etapas, por isso ela é muito importante na formação dos hormônios tireoidianos. OBS: Nas doenças autoimunes da tireoide, existe anticorpo tanto contra a tireoperoxidase, como contra também a proteína tireoglobulina. EIXO HIPOTÁLAMO-HIPÓFISE-TIREOIDE: O hipotálamo produz o TRH que vai pelo sistema porta estimular a hipófise anterior para liberar o TSH e, esse último vai estimular a tireoide a produzir e liberar o T3 e T4. O TSH também estimula o crescimento da célula folicular, então, também faz com que a tireoide cresça. ANA BEATRIZ CAMPOS 2 ENDOCRINOLOGIA – A1B2 O T4 e o T3 vão agir nos tecidos e, quando estão em excesso vão fazer feedback negativo. Quando há esse excesso, eles bloqueiam a ação do TSH e do TRH. O que mais exerce esse feedback negativo é o T3. O T4 perde a molécula de iodo para se transformar em T3 nos tecidos periféricos. Pequenas alterações de T3 e T4, vão repercutir em grandes alterações do TSH, pois ele se eleva muito antes do T3 e T4 começar a cair realmente. EXAME FÍSICO • Inspeção: Observar o paciente deglutir; • Palpação: - Se for de frente pro paciente, utilizar os 2 polegares. Centraliza o pescoço, identifica o pombo de adão e logo abaixo do pombo coloca os polegares. - A consistência deve ser fibro-elástica, com superfície lisa, indolor, móvel e se tem ou não nódulos. • Dimensões: - Horizontal: 1 cm, vertical: 2 cm. Hipotireoidismo • Ocorre quando há produção ou ação deficiente dos hormônios tireoidianos. • 95% dos casos o hipotireoidismo é primário, ou seja, o problema está na própria tireoide. Apenas 5% dos casos esse hipotireoidismo é secundário (o problema se encontra na hipófise ou hipotálamo). • Fatores de risco: - > 60 anos; - Sexo feminino; - Bócio ou ATPO +; - Nódulos tireoidianos; - História familiar +; - Radioterapia cervical; - Doença autoimune; - Alguns fármacos (amiodarona); - Baixa ingesta de iodo; - Sd. de Down e Turner; ® Primário: O hipotálamo produz TRH à Estimula a hipófise anterior á liberar o TSH à o TSH estimularia a tireoide á produzir T3 e T4. Porém, a tireoide tem algum problema que está impedindo-a de funcionar normalmente, ou seja, o feedback negativo deixa de acontecer. Com isso, vai haver um maior estímulo para a liberação de TSH, então, a hipófise entende que não está acontecendo a produção de T3 e T4 e começa a produzir mais TSH. Quanto + cai a produção de T3 e T4, mais se eleva a produção de TSH pela hipófise. T3 e T4 ¯ e TSH ® Secundário: A tireoide está funcionando normalmente, os tecidos estão intactos, tem a capacidade de produzir T3 e T4. Mas, existe algum problema na hipófise, sendo assim, não consegue produzir TSH, mesmo com o TRH estimulando no hipotálamo. Sem TSH, não há estimulo para que a tireoide produza os seus hormônios. T3 e T4 ¯ e TSH ¯ ou normal ® Terciário: A hipófise e a tireoide estão intactas, mas existe algum problema na região do hipotálamo e não consegue fazer o estímulo do TRH, consequentemente a hipófise não produz TSH e a tireoide não produz os hormônios tireoidianos. T3 e T4 ¯ e TSH ¯ • Na prática clínica, como a gente não dosa o TRH não conseguimos diferenciar secundário x terciário, chamamos essas formas de HIPOTIREOIDISMO CENTRAL. • Causas do hipotireoidismo: ® Primário: Por ¯ do tecido tireoidiano funcionante, dentro dessas causas a TIREOIDITE DE HASHIMOTO é + comum; radioterapia ou tireoidectomia; tireoidites (são inflamações da tireoide, geralmente de causa viral); doenças infiltrativas; agnesia ou ectopia tireoidiana; radioterapia externa; ingestão excessiva de iodo (Wolff-Chaikoff). Por defeitos na síntese/liberação dos hormônios tireoidianos; drogas – amiodarona, lítio; deficiência grave de iodo; disormonogênese congênita. ® Secundário ou terciário: Patologia tumoral. Inflamatória, isquêmica (e seu tratamento). SINTOMAS E SINAIS Astenia, fadiga, rouquidão, voz arrastada, letargia, reflexos diminuídos, ganho de peso (não é um ganho de peso que leve o paciente á ficar obeso – apenas de 3- 5 kg), inapetência (paciente que está engordando e não sente fome), bradicardia, depressão, constipação intestinal, pele e cabelos secos, intolerância ao frio com pele fria, sudorese, edema facial e anemia. Um paciente bem típico é aquele lento, que não raciocina bem, letárgico, com a cara de sono, olhos inchados (rosto inchado), cabelos ressecados, a pele seca. ANA BEATRIZ CAMPOS 3 ENDOCRINOLOGIA – A1B2 Faces típicas de hipotireoidismo: Edema periorbital, face edemaciada – letárgica, perda lateral da sobrancelha. • Laboratorialmente: - Dislipidemia ( LDL, TG); - de prolactina – devido ao estímulo do TRH, CPK – responsável pelas dores musculares/câimbras; - Alterações menstruais; - Infertilidade; - Impotência; - Déficit de crescimento; - Puberdade precoce ou atrasada; TESTES DE FUNÇÃO TIREOIDIANA O TSH é o primeiro exame á ser pedido, para rastreio e seguimento. Diante de uma alteração dos hormônios tireoidianos, o TSH primeiro é alterado. VR: 0,5 – 5,0 mUI/L (> em idosos). • Geralmente, dosamos o TSH em pacientes > 35 anos, principalmente se for mulher; presença de dislipidemia; gestantes ou mulheres que pretendem engravidar; fatores de risco para disfunção tireoidiana; sintomas ou sinais de doença tireoidiana. • Quando fazemos rastreio e temos um TSH anormal, devemos considerar causas não tireoidianas também, tais como: - Alteracoes fisiológicas da gestação; - Sd. do eutireoideano doente (pacientes com doenças + graves/UTI); - Uso de drogas – amiodarona, lítio e glicocorticoides; • Quando pedir T4 LIVRE? - Pacientes com doença hipotalâmica-hipofisária; - Diagnóstico e seguimento do hipertireoidismo; - Não há indicação de pedir T3 nohipotireoidismo; DIAGNÓSTICO LABORATORIAL TIREOIDITE DE HASHIMOTO O Hashimoto é uma causa do hipotireoidismo, mas nem sempre causa o hipo. O Anti-TPO é o principal anticorpo nessa patologia. O Anti-TPO não é uma doença, caso +, pode não trazer nenhuma consequência ao paciente. Todos os pacientes com Hashimoto possuem uma tendência para hipotireoidismo, tanto quem está com hormônios normais, como quem está com hipertireoidismo também. USG alterada também não é diagnóstico. O paciente pode ter Anti-TPO presente e USG alterada e, mesmo assim, os hormônios se encontrarem normais. TRATAMENTO hipotireoidismo LEVOTIROXINA (LT4): 1,6 – 1,8 mcg/kg/dia • Após o início do tto, vai reavaliar o paciente: 6-8 semanas. • A meta do TSH é de 0,5-2,5 mUI/L. • Após atingir a meta, pode reavaliar o paciente a cada 6-12 meses. • Paciente idoso/cardiopata: Iniciar o tto com 25 mcg à Ajustes a cada 2-4 semanas. Lembrando que a medicação pode alterar a FC, por isso o cuidado nesses pacientes. • Não existe efeitos adversos dessa medicação, mas pode acontecer em casos de superdosagem (tireotoxicose – excesso de hormônio da tireoide). • Lembrando que na gravidez, se a paciente já tem hipotireoidismo, NÃO SUSPENDE A MEDICAÇÃO. O bb não tem tireoide até 8 semanas, todo o hormônio vai dá mãe e, se retira a medicação que a mãe já tem déficit, pode gerar consequências graves ao bb, como por exemplo: alteração no desenvolvimento mental e de crescimento. Mantém LT4! Aumenta a dose 25-30%. META TSH: 1ª Trimestre < 2.5 mUI/L e no 2ª e 3ª < 3.0 mUI/L. • No hipotireoidismo central: Tratar a causa. Porém, também repõe a LT4 e vai ajustar pelo T4 (TSH nesse caso não é confiável, pode tá de todo jeito), sempre tentando manter o T4 1/3 superior da normalidade. • Em crianças, quanto + nova, maior será a dose de LT4. Já em idosos e no hipotireoidismo subclínica, a dose vai ser menor: ANA BEATRIZ CAMPOS 4 ENDOCRINOLOGIA – A1B2 • Metas na reposição da LT4 de acordo com a faixa etária: COMO AVALIAR SE O TTO ESTÁ TENDO UMA BOA RESPOSTA ® Melhora rápida dos sintomas; ® Normalização dos hormônios; ® Duração do tto: geralmente ad eternum (HASHIMOTO). ® Mesmo em paciente que altera TSH no hipo subclínico, às vezes eles voltam a produzir seus hormônios normais. ® Ausência de resposta: Þ Falta de adesão; Þ Redução da absorção: - ¯ do pH (acloridria, IBPs, gastrite atrófica); - Sd. Disabsortivas (d. celíaca, int. lactose, giardíase, cx bariátrica). - Fármacos (antiácidos, cálcio, sulfeto ferroso, korlisate. Tratamento pré e pós. Antes, como visível nas fotos, tudo fica edemaciado. Hipotireoidismo Subclínico TSH T4 LIVRE NORMAL • Evidência de associação, principalmente se TSH ³ 10, é um maior risco para pacientes com DAC e ICC. • O curso do hipo subclínico é variável, 50% pode ser transitório, então, quando você pega um paciente com hipo suclínico, mesmo que você tenha anticorpo + e USG alterada, não quer dizer que ele vai ter a doença parasempre, ele pode ter uma regressão depois. ® Fatores de progressão (vai ficar com o hipo definitivo): - Anticorpos +; - USG alterada; - TSG > 10; - Bócio; • Tratamento: Só trata em caso de hipo persistente, gestante, pacientes com alto risco cardiovascular. Adendo: pacientes gestantes ou com desejo de engravidar que tenha anticorpo + e USG alterada. Coma Mixedematoso • É uma complicação grave de alta mortalidade (40-50%), + comum em mulheres idosas com hipotireoidismo não diagnosticado ou mal tratado. • Fatores precipitantes: - Infecção; - Hipotermia; - AVC, ICC, IAM, Ins. Respiratória, sangramentos; - Drogas (analgésicos, sedativos, tranquilizantes, diuréticos, lítio, amiodarona); • Diagnóstico - Feito por uma tríade: • Sintomas (do hiportireoidismo, sendo que bem + grave): ® Hipotermia, bradicardia, hipotensão; ® Pele infiltrada, fria, macroglossia, fácies edemaciada; ® Depressão respiratória, íleo paralítico; ® Desorientação, letargia, coma, confusão/psicose; • Principais achados: ANA BEATRIZ CAMPOS 5 ENDOCRINOLOGIA – A1B2 ® Hiponatremia, hipoglicemia; ® Hipoxemia, hipercapnia; ® Anemia, aumento do CPK; • Tratamento: ALTAS DOSES DE T4L E/OU T3 (300 – 600 mcg/dia) 7 DIAS à depois entra na dose de manutenção. Reposição de glicocorticoides OBS: Se o paciente tiver uma insuficiência adrenal e você der hormônio da tireoide, isso vai precipitar uma crise adrenal, vai piorar mais ainda a situação do paciente. Por isso, fazemos corticoide juntamente com a reposição dos hormônios tireoidianos. Manejo dos fatores precipitantes, aquecimento. Tratar complicações metabólicas. Hipotireoidismo Congênito • Distúrbio endócrino congênito mais frequente. • Incidência de 1:5.000 crianças nascidas vivas. • Uma das principais causas de retardo mental irreversível, que pode ser PREVENIDA, pois o hipotireoidismo é rastreado no teste do pezinho. • Causas: ® Digenesias tireoidianas (maioria – 85%) - ectopia, hipoplasia ou agenesias. • Sinais e sintomas: ® > 95% são assintomáticas ao nascer; ® Se não for tratado, pode ter icterícia neonatal prolongada; ® Choro pouco; ® Letargia; ® Movimentos lentos; ® Constipação; ® Macroglossia; ® Hérnia umbilical; ® Fontanelas amplas; ® Hipotonia; ® Pele seca; • Triagem (teste do pezinho): Avalia o TSH. Pode ser feito após 48h de vida até o 4ª dia. OBS: O teste do pezinho rastreia e tem que ser confirmado logo após com exames laboratoriais. Bócio Atóxico • Bócio atóxico é aquele que não está associado ao hipertireoidismo. Tudo que está associado ao hipertireoidismo, a gente chama de tóxico. • Pode ser difuso (sem nódulos) ou multinodular. • É mais comum em áreas carentes de iodo (chamado de bócio endêmico). • Em países que tem iodo suficiente (como no Brasil) a principal causa é Tireoidite de Hashimoto (associado ou não ao hipotireoidismo). • Quadro clínico: - Aumento da tireóide; - Sintomas compressivos; - Rouquidão (raro); - Sinal de Pemberton: Ao levantar os 2 braços à Hiperemia facial (a tireoide comprime e dificulta o retorno venoso). • Exames laboratoriais: O paciente pode se apresentar com eutireoidismo ou hipotireoidismo. • USG: Bócio manifesto – não necessariamente com alteração de Hashimoto. Em casos + graves pode haver desvio de traqueia por causa do bócio (imagem A); estenose de traqueia na tomografia (B); bócio gigante em casos + graves – geralmente em região endêmica, que falta iodo (imagem C) • Pode solicitar uma CINTILOGRAFIA TIREOIDIANA, mas não vai fazer muita diferença na pratica (só em casos que vai haver hipertireoidismo – já não é bócio atóxico), mas pode aparecer. Nesse exame, pode haver uma captação heterogênea. • Tratamento: Objetivo: Excluir câncer – através da PAAF (se houver indicação). Se não tem nódulos, a gente só indica o tratamento se tiver sintomas compressivos ou por estética para retirar o bócio aumentado. Cirurgia é o melhor tto para esses pacientes, mas em alguns casos pode ser feito o IODO (resposta pobre).
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