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Thalita Albuquerque - MEDICINA ASMA Achados mais comuns: dispneia, tosse crônica, sibilância e desconforto torácico paroxístico. Espirometria com broncodilatador é o exame mais importante. É preciso definir o grau de controle dos sintomas. INTRODUÇÃO A asma é uma doença potencialmente comum e grave, caracterizada pela inflamação crônica de vias aéreas e hiperresponsividade dos brônquios, devido a uma resposta constritora aumentada a estímulos, que normalmente não aconteceria. Entre as manifestações clínicas dessa patologia estão a tosse, dispneia, sibilos e desconforto torácico, que tendem a se exacerbar no inicio da manhã e à noite. Ao longo do tempo, por ser uma doença crônica, outros sintomas podem se apresentar, além da variação na intensidade e limitação respiratória. Existem diversas classificações da asma, mas alguns estímulos podem estar presentes, independente do tipo, e causar exacerbação de sintomas, como: poeira, fumaça, odores fortes, mudança de temperatura, alimentos, exercícios, medicamentos e ansiedade. EPIDEMIOLOGIA A asma é uma doença respiratória crônica comum que afeta de 5 a 20% da população mundial. Já na população brasileira, segundo o DATA-SUS, essa prevalência é de 10 a 25%, sendo responsável por cerca de 100.000 internações e 2.000 mortes por ano. FISIOPATOLOGIA O processo de sensibilização ocorre na asma, quando os alérgenos são inalados e tem contato com as células dendríticas do epitélio respiratório, que reconhecem os alérgenos e os apresentam aos linfócitos T auxiliares, que produzem citocinas. As citocinas estimulam a produção de IgE pelos linfócitos B, de mastócitos e aumentam meia-vida de eosinófilos. A fase aguda acontece devido a esse processo, quando o individuo entra em contato com o alérgeno estimula a cadeia inflamatória, que permite sua ligação aos IgE’s. A partir daí os mastócitos liberam mediadores que abrem a junção das células e permite a entrada dos alérgenos na mucosa (quando ocorre a produção de mais mastócitos e eosinófilos, que irão liberar ainda mais mediadores: leucotrienos, prostaglandinas e histamina). Esses últimos promovem o broncoespasmo, aumento da permeabilidade vascular, produção de muco, e células de defesa. Tudo isso promove o quadro clínico de obstrução brônquica. Já a fase tardia ocorre horas depois do contato com o alérgeno, que se inicia com a chega de leucócitos e liberação de mediadores pelo endotélio, que caracteriza a hipersensibilidade brônquica e inflamação eosinofílica. Em alguns portadores de asma agravada, existe a deposição de colágeno abaixo do epitélio, gerando espessamento intersticial e lesões irreversíveis, como hipertrofia da musculatura lisa, aumento das células caliciformes e glândulas submucosas. O que altera a estrutura pulmonar, dificultando a ventilação. Apesar da alergia ser o principal processo fisiopatológico da asma, existem algumas vias que estimulam eosinófilos sem haver o contato com o alérgeno aéreo, como por exemplo cigarro, medicamentos, infecções de vias aéreas, alterações de temperatura (servem como gatilho para o desenvolvimento da doença). Existe ainda a asma não eosinofilica, (como a neutrofílica), que envolve um infiltrado inflamatório atípico e que pode ser resistente ao tratamento de corticoides, se tornando frequentemente asma grave. ASMA ALÉRGICA Fenotipo mais comum de asma, inicia-se geralmente na infância e está associada a história familiar de doença alérgica, o escarro mostra predominância de eosinófilos e esse paciente geralmente responde bem ao uso de corticoides inalatórios. ASMA NÃO ALÉRGICA Também chamada de asma não associada à atopia, onde o perfil celular pode ser neutrofílico, eosinofílico ou conter apenas algumas células inflamatórias. Esses pacientes possuem menor resposta aos corticoides inalatórios. ASMA DE INÍCIO TARDIO Predomina em adultos, especialmente mulheres, com início tardio dos sintomas, normalmente esses pacientes tem atopia e necessitam de doses elevadas de corticoides. ASMA COM LIMITAÇÃO FIXA AO FLUXO AÉREO Pacientes com asma de longa duração desenvolvem uma limitação fixa ao flxo aéreo, em virtude de um processo de remodelamento da parede das vias aéreas. CLASSIFICAÇÃO ➢ Agudizada, crônica e crônica agudizada. ➢ Controlada, parcialmente controlada e não controlada. Thalita Albuquerque - MEDICINA ➢ Intermitente, persistente leve/moderada/grave. DIAGNÓSTICO CLÍNICO E FUNCIONAL O diagnostico da asma é sugerido por um ou mais sintomas (dispneia, tosse crônica, sibilância, desconforto torácico à noite ou no inicio da manhã), associado a exames (espirometria) que comprovem a variação e limitação do fluxo aéreo expiratório. Na anamnese deve-se buscar atopias, exposições ambientais ou ocupacionais, além de fatores de piora dos sintomas. O exame físico do asmático é inespecífico, a presença de sibilo indica obstrução, mas não acontece com todos os pacientes. ESPIROMETRIA Exame realizado com o paciente sentado, onde ele respira normalmente usando o volume corrente e em determinado momento faz uma inspiração máxima forçada, logo em seguida uma expiração com força máxima e esforço continuado (6 segundos), deve se repetir a manobra ao menos 3 vezes para uma amostra de qualidade. Ela avalia a capacidade vital, o volume máximo de ar exalado no primeiro segundo e a proporção entre eles. É o principal exame complementar no diagnostico da asma, sendo que o resultado habitual é obstrução do fluxo aéreo (relação VEF1/CVF < 0,7) com prova broncodilatadora positiva (VEF1 aumenta pelo menos 200mL). Alguns indivíduos asmáticos possuem espirometria normal. PICO DE FLUXO ESPIRATÓRIO Esse exame apresenta menos acurácia do que a espirometria, podendo ser utilizado quando essa está indisponível. A variação do PFE ao longo do dia maior que 20% são sugestivas de asma. TESTES ALÉRGICOS A presença de atopia aumenta a probabilidade de que um paciente com sintomas respiratórios tenha asma alérgica, mas isso não é específico. Ela pode ser avaliada pelo teste cutâneo de leitura imediata e IgE. RADIOGRAFIA DE TORÁX É habitualmente normal, mas não é essencial para diagnostico. É importante par afastar outras causas. ASMA INDUZIDA PELO EXERCÍCIO O exercício é um potencial exacerbador da asma. Por isso é preciso diferenciar broncoconstrição induzida pelo exercício do descontrole da doença, a fim de tratar corretamente as duas situações. ASMA NA GESTANTE Durante a gestação ocorre uma piora no quadro de asma de um terço das mulheres com a doença, manutenção em um terço e melhora no último terço. Asma na gestante causa pré-eclâmpsia, prematuridade, baixo peso e parto cesariano. O tratamento de escolha deve ser budesonida e beclometasona (corticoides inalatórios). ASMA OCUPACIONAL 20% de asma com início tardio pode ter causas ocupacionais, perguntar os pacientes se melhoram quando estão fora do trabalho é essencial na anamnese. É quase sempre precedida por rinite, e faz parte do tratamento afastar o paciente do agente relacionado. TOSSE VARIANTE DE ASMA Em alguns pacientes, a tosse é a única manifestação, predominando no período noturno, permanecendo assintomático ao longo do dia, e por isso é preciso documentar a variabilidade da função pulmonar Thalita Albuquerque - MEDICINA ou a hiperresponsividade das vias aéreas. Deve ser diferenciada da bronquite eosinofílica. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnostico diferencial em um paciente com suspeita de asma varia conforme a idade. Qualquer um desses pode ser encontrado em conjunto com a asma. De 6 a 11 anos os principais diagnósticos diferenciais são: síndrome da tosse crônica das vias aéreas superiores, inalação de corpo estranho, bronquiectasias, discinesia ciliar primaria, doença cardíaca congênita, displasia broncopulmonar e fibrose cística. De 12 a 39 anos os principais são: STCVAS, disfunção de cordas vocais, hiperventilação, bronquiectasias, fibrose cística, doença cardíaca congênita,inalação de corpo estranho. > 40 anos os mais comuns são: disfunção de corda vocal, hiperventilação, DPOC, falência cardíaca, tosse relacionada a medicações, embolia pulmonar, obstrução central de via aérea. TRATAMENTO DA ASMA A principal meta é a obtenção do controle da doença. O controle deve ser avaliado principalmente em relação as ultimas 4 semanas, e deve abordar sintomas, necessidade da medicação de alivio, limitação em atividades físicas. Sendo classificada em controlada, não controlada ou parcialmente controlada. Existem algumas formas de se avaliar o controle da doença, como o questionário de controle da asma e o teste de controle da asma. Depois de classificar o paciente é necessário saber o risco futuro de exacerbação da asma, alguns fatores como comorbidades, exposições ao fumo, alérgenos e poluição, más condições socioeconômicas, baixa FEV1, entre outros, influenciam na agudização da doença. A gravidade é outro fator que deve ser levado em consideração no tratamento, que se dá pela quantidade de medicamentos necessários para o seu controle. A classificação de gravidade e a determinação do seu manejo deve ser feita após a exclusão de causas importantes de descontrole (comorbidades não tratadas, uso incorreto dos medicamentos, etc). Etapa 1 e 2 são portadores de asma leve, etapa 3 é moderada e etapa 4 e 5 asma grave. CORTICOIDE INALATÓRIO DOSE BAIXA DOSE MÉDIA DOSE ALTA Thalita Albuquerque - MEDICINA Budesonida 200-400mcg 400-800mcg >800mcg Beclometasona (partícula extrafina) 100-200mcg 200-400mcg >400mcg Beclometasona (partícula padrão) 200-500mcg 500-1000mcg >1000mcg Furoato de fluticasona 100mcg - 200mcg Propionato de fluticasona 100-250mcg 250-500mcg >500mcg Mometasona 200mcg 400-800mcg >800mcg Ciclesonida 80-160mcg 260-320mcg >320mcg Aqueles que nunca foram tratados da asma, devem começar conforme a intensidade de sintomas: ➢ Menos que 2 vezes ao mês: etapa 1 ➢ 2 vezes ou mais por mês: etapa 2 ➢ Maioria dos dias ou acordando 1 vez ou mais por semana com asma: etapa 3 ➢ Maioria dos dias ou acordando 1 vez ou mais por semana com asma ou função pulmonar reduzida: etapa 4 (corticoide oral pode ser necessário). Após o inicio do tratamento, os ajustes devem ser feitos conforme mudanças no intervalo desses sintomas. ETAPA 1 Anteriormente baseava-se apenas no uso de broncodilatadores de curta duração, ideal para pacientes com sintomas ocasionais. No entanto, a nova recomendação é de usar preferencialmente formoterol/CI em baixas doses quando necessário. Outra alternativa seria usar o SABA em associação com CI de baixa dose. ETAPA 2 Os CI de baixa dose ou formoterol/CI em baixa dose quando necessários são a primeira escolha. Como alternativas temos os antileucotrienos, combinação de SABA + CI de baixa dose quando necessário. ETAPA 3 Associação de CI de baixa dose + B2-agonista de ação prolongada é a primeira escolha. Como alternativas temos: CI de media dose ou CI de baixa dose + antileucotrieno. Formoterol/CI de baixa dose pode ser utilizados como dose extra. ETAPA 4 Sempre que possível a escolha consiste em combinação de CI em dose média e B2-agonista de ação prolongada. As alternativas são CI de alta dose e/ou tiotropio (antagonista muscarínico de ação prolongada) ou antileucotrieno. ETAPA 5 A primeira escolha é CI em altas doses + B2-agonista de ação prolongada; mas nesses casos deve avaliar fenótipo do paciente (se tem ou não atopia, etc) e considerar adicionar, caso ele ainda não esteja usando, o tiotrópio; como alternativa pode-se adicionar imunobiológicos (omalizumabe, mepolizumabe, benralizumabe – ação anti IgE), pois melhora controle da asma e reduz efeitos adversos relacionado ao uso prolongado de corticoide sistêmico. Caso o paciente permaneça com sintomas, vale pensar em corticoides orais (pacientes com limitação em atividades diárias e frequentes exacerbações). TRATAMENTO ADJUVANTE Afastar exposição ocupacional, alérgenos e poluentes, dieta saudável, controle de comorbidades, evitar medicações que pioram sintomas (AINES, BB, AAS), controle de peso e vacina anual para influenza. AVALIAÇÃO DO PACIENTE Os pacientes devem ser acompanhados para monitorar controle de sintomas, fatores de risco, exacerbações, resposta a mudanças no tratamento; no inicio após a mudança no tratamento deve-se reavaliar a cada 1 a 3 meses, e depois de 3 a 12 meses. Além de recomendar a busca por sistema de saúde caso os sintomas permaneçam mesmo após o uso das medicações prescritas. A redução na dose das medicações pode ser iniciada após a obtenção do controle por pelo menos 3 meses. O paciente deve ter um plano de ação adequado, caso abaixe a dose e os sintomas retornem. DISPNEIA A dispneia é uma queixa comum, que afeta até 50% dos pacientes que estão no departamento de emergência, e em mais de 3% dos casos, é a queixa principal. É o termo utilizado para caracterizar desconforto respiratório, a sensação pode ser percebida de diversas formas, como aperto no peito, sufocamento, falta de ar, etc. Pode ser classificada quanto ao seu inicio: ➢ Grau 0: dispneia em esforços extremos. ➢ Grau 1: ao andar depressa ou em subidas leves. ➢ Grau 2: ao caminhar normalmente. ➢ Grau 3: ao caminhar menos de 100 metros. ➢ Grau 4: em atividades habituais. Pode ocorrer em situações normais ou em patologias graves, por isso deve-se avaliar sintomas associados, inicio do sintoma, comorbidades, antecedentes patológicos, sinais de gravidade e ritmo respiratório. Thalita Albuquerque - MEDICINA As etiologias são variadas e dentre elas estão: causas cardíacas (cardiomiopatias, doenças valvares, doença isquêmica, arritmias), pulmonares (asma, DPOC, doenças intersticiais pulmonares, neoplasias, hipertensão pulmonar, embolia pulmonar), causas diversas (DRGE, ansiedade, hiperventilação, descondicionamento físico, obesidade, gravidez, anemia, hiper e hipotireoidismo) e causas mais urgentes (tamponamento cardíaco, edema agudo pulmonar, infarto, pneumotórax, pneumonia, obstrução de via aérea superior). As causas mais comuns de dispneia na infância é DRGE, inalação de corpo estranho, infecções de via aérea superior, fibrose cística, bronquiolite, pneumonia, asma e doença cardíaca congênita.