Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PÓS-ANESTESIA VETERINÁRIA APOSTILA 2018 SÃO PAULO 2 SUMÁRIO 01 Introdução à Anestesiologia 03 02 Legislação 07 03 Comportamento animal 10 04 Avaliação pré-anestésica 12 05 Medicação pré-anestésica 15 06 Circuitos Anestésicos 22 07 Farmacocinética e farmacodinâmica 26 08 Anestesia inalatória 32 09 Anestesia intravenosa 35 10 Anestessia dissociativa 44 11 Anestésicos locais 49 12 Monitoração 55 13 Exames laboratoriais: Hemograma 59 14 Exames laboratoriais: Bioquímicos 68 15 Fluidoterapia 74 16 Eletrofisiologia cardíaca 78 17 Arritmias cardíacas 81 18 Anestesia no paciente cardiopata 89 19 Fisiologia respiratória 92 20 Ventilação mecânica 97 21 Planos anestésicos 106 22 Anestesia e analgesia peridural 111 23 Introdução ao sistema nervoso autônomo 117 24 Inotrópicos e vasopressores 122 25 Transfusão sanguínea 131 26 Equilíbrio ácido-básico e distúrbios eletrolíticos 142 27 Bloqueadores neuromusculares 149 28 Sedação e analgesia na UTI 160 29 Reanimação Cardio-Pulmonar 162 30 Avaliação da dor 169 31 Fisiopatologia da dor e tratamento 178 32 Dor crônica 187 33 Anestesia em paciente pediátrico 202 34 Anestesia em paciente geriátrico 212 35 Anestesia no endocrinopata 221 36 Anestesia no paciente crítico 235 37 Anestesia na torção vólvulo gástrica 240 38 Anestesia no paciente com enfermidade neurológica 244 39 Anestesia no paciente com ruptura diafragmática 248 40 Anestesia no em cadelas e gatas com piometra 250 41 Anestesia em gestantes 253 42 Anestesia em felinos 260 43 Anestesia em cavalos 271 44 Anestesia em aves 279 45 Anestesia em suínos 282 46 Anestesia em coelhos e roedores 286 47 Anestesia de ruminantes 290 48 Anestesia de répteis 293 49 50 51 Anestesia ambulatorial e dissociativa Técnicas de Anestesia Regional Metodologia científica 297 309 323 3 01.INTRODUÇÃO Dr. Rodrigo Marucio O termo anestesia (do grego na que significa privado de e aísthesia significando sensação) foi sugerido pelo médico e poeta norte-americano Oliver Wendel Holmes. A palavra, entretanto, já existia na língua grega, tendo sido empregada no sentido de insensibilidade dolorosa, pela primeira vez, por Dioscórides, no século I DC. Historicamente, a data de 16 de outubro de 1846 é considerada como a data em que se realizou a primeira intervenção cirúrgica com anestesia geral. Naquele dia, às 10 horas, no anfiteatro cirúrgico do Massachusetts General Hospital, em Boston, o cirurgião John Collins Warren realizou a extirpação de um tumor no pescoço de um jovem de 17 anos, chamado Gilbert Abbot. O paciente foi anestesiado com éter pelo dentista William Thomas Green Morton, que utilizou um aparelho inalador por ele idealizado. A cena deixou de ser documentada fotograficamente porque o fotógrafo sentiu-se mal ao presenciar o ato cirúrgico, foi posteriormente imortalizada em um quadro do pintor Roberto Hinckley, em 1882. Morton, que praticara com sucesso extrações dentárias sem dor, com inalação de éter, antevira a possibilidade da cirurgia sem dor e obtivera autorização para uma demonstração naquele Hospital. Ele não revelara a natureza química da substância que utilizava, dando-lhe o nome de letheon (do grego - esquecimento). Pressionado pela Associação Médica de Boston para que novas intervenções pudessem ser realizadas sem dor, teve de revelar a composição do letheon, que era apenas éter sulfúrico puro. A insensibilidade total durante o ato cirúrgico, até então, era considerada uma utopia nos meios acadêmicos. À exceção da China, onde se usava a milenar acupuntura, os recursos utilizados para amenizar a dor no ato cirúrgico consistiam de extratos de plantas dotadas de ação sedativa e analgésica, além da hipnose e bebidas alcoólicas, o que não dispensava, evidentemente, a contenção do paciente. Na Idade Média empregava-se um método originário da Escola de Alexandria, cuja fórmula foi encontrada no mosteiro de Monte Casino. Trata-se da esponja soporífera, que se preparava com os seguintes componentes: ópio, suco de amoras amargas, suco de eufórbia, suco de meimendro, suco de mandrágora, suco de hera, sementes de bardana, sementes de alface e sementes de cicuta. Modo de preparar e de usar: misturar bem, colocar em um recipiente de cobre com uma esponja, ferver até a evaporação total. Para usar, mergulhar a esponja em água quente por uma hora; a seguir colocá-la sob as narinas do paciente até que ele durma. Para despertar o paciente usar outra esponja embebida em vinagre. O primeiro passo para a anestesia geral foi dado por Joseph Priestley, ao descobrir o dióxido de nitrogênio (NO2) em 1773. Coube a Humphry Davy, um aprendiz de farmácia, na pequena cidade de Penzance, na Inglaterra, em 1796, experimentar os efeitos da inalação do NO2. Ele verificou que o gás produzia uma sensação agradável, acompanhada de um desejo incontido de rir (donde o nome de gás hilariante). Certa noite estava com dor de dente e, ao inalar o gás, notou que a dor desaparecera por completo. Deduziu que, se o NO2 suprimia a dor, poderia ser empregado no tratamento de outros tipos de dor. Em um de seus escritos, intitulado Vapores medicinais, sugeriu o emprego do NO2 em cirurgia: “Já que o gás hilariante parece possuir a propriedade de acalmar 4 as dores físicas, seria recomendável empregá-lo contra as dores cirúrgicas”. A medicina oficial não tomou conhecimento da sugestão. Henry Hill Hickman, médico e cirurgião inglês, avaliou em animais a ação do NO2, onde verificou que, sob a ação deste gás, podia realizar pequenas operações nos animais, sem que estes demonstrassem o menor sinal de dor. Tentou, sem êxito, obter autorização da Royal Society e da Associação Médica de Londres para repetir suas experiências em seres humanos. Sua petição foi recebida com frieza, a autorização negada e foi considerado um visionário. Como última tentativa, escreveu ao rei da França, Carlos X, pedindo-lhe para submeter o seu projeto à consideração da Academia de Paris. Em sessão de 28/9/1828, convocada especialmente para esse fim, a Academia deu seu parecer contrário, com um único voto a favor, do cirurgião Dominique Jean Larrey, que servira ao exército de Napoleão e conhecia o horror dos ferimentos de guerra e das amputações. Velpeau, um dos mais eminentes cirurgiões da França, declarou na ocasião que considerava uma quimera a obtenção da insensibilidade dolorosa durante o ato cirúrgico. Desiludido, Hickman faleceu dois anos depois, com apenas 29 anos de idade, sem ver realizado o seu sonho da cirurgia sem dor. Michael Faraday (1791-1867), físico inglês, estudando a liquefação dos gases e os líquidos voláteis, descobrira que os vapores de éter possuíam efeitos inebriantes semelhantes aos do dióxido de nitrogênio. Em uma nota publicada no Journal of Art and Sciences chamou a atenção para o fato da inalação de éter produzir insensibilidade total. Novamente, essa descoberta foi ignorada pelos meios médicos. Primeira descoberta da medicina -ANATOMIA MODERNA DATA 1543 QUEM: Andreas Vesalius (1514-1564) COMO- Antes do belga Vesalius, médicos não dissecavam cadáveres. Disputando ossos humanos com cães em cemitérios, ele abria cadáveres à faca e se empapava de sangue um nome da ciência. Arriscava a vida ao mexer em órgãos infectados e podres. O resultado dessas aventuras está em De Humani Corporis Fabrica, Libri Septem, um livro de anatomia com desenhos hiperrealistas considerado uma das obras primas da medicina. CONSEQÜÊNCIA - Avanços no estudo de doenças e tratamentos Segunda descoberta da medicina- BACTÉRIAS DATA -1675 QUEM - Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) COMO -Ele não era professor nem médico, apenas um comerciante letrado com um "hobby" curioso: fabricar e usar microscópios. O holandês Leeuwenhoek saiu do anonimato quando descobriu, comsuas poderosas lentes, criaturas minúsculas agitando-se em uma pequena amostra da água de chuva que havia se acumulado em uma tina. Por acaso, ele acabara de descobrir as bactérias. Daí em diante, passou a examinar ao microscópio tudo o que via, de cocô de pombo ao próprio esperma. CONSEQÜÊNCIA -Descoberta de uma das maiores causas de doenças e mortes. Terceira descoberta da medicina- CIRCULAÇÃO DO SANGUE 5 DATA -1628 QUEM -William Harvey (1578-1647) COMO -Para mostrar o caminho do sangue aos incrédulos, Harvey abria um porco vivo durante suas palestras. Esse médico britânico dedicou a vida a estudar o funcionamento e a anatomia do coração, veias e artérias. O resultado está em Exercitatio Anatomica de Motu Cordis et Sanguinis in Animalibus, obra fundamental sobre a circulação sanguínea, que pôs por terra conceitos errados que sobreviviam havia 14 séculos. CONSEQÜÊNCIA -Avanços no estudo de doenças e técnicas cirúrgicas Quarta descoberta da medicina - VACINA DATA -1796 QUEM -Edward Jenner (1749-1823) COMO -Durante muito tempo se lutou contra a varíola. A doença matava até 40% dos doentes e, entre aqueles que sobreviviam, muitos ficavam cegos e desfigurados. O mal também atacava o gado, cavalos e porcos. O britânico Jenner descobriu que, se uma pessoa fosse contaminada pela ferida da varíola bovina, uma forma muito mais branda da doença, ficaria livre de pegar a varíola humana. Estava descoberto o princípio da vacina. CONSEQÜÊNCIA -Prevenção contra varíola e outras doenças graves Quinta descoberta da medicina - ANESTESIA DATA -1842 QUEM -Crawford Long (1815-1878) COMO -Até o século 19, os pacientes costumavam desmaiar de dor e desespero durante as operações. Foi quando se descobriu o poder anestésico do éter. O primeiro a testar a teoria na mesa de cirurgia foi o americano Long, que convenceu um paciente a cheirar uma toalha embebida em éter até ficar inconsciente. Quando acordou, o sujeito estava sem um cisto no pescoço, sem memória das últimas horas e, melhor, não precisou sentir as dores atrozes da cirurgia. CONSEQÜÊNCIA -Cirurgias indolores e mais bem-sucedida Sexta descoberta da medicina - RAIO X DATA -1895 QUEM -Wilhelm Röntgen (1845-1923) COMO - O alemão Röntgen investigava uma estranha luz amarelo-esverdeada emitida por um aparelho em seu laboratório. Fez vários testes e, desconfiado, chamou a esposa, Bertha, para comprovar seu palpite. Pediu a ela que colocasse a mão esquerda sobre uma chapa fotográfica e ligou o tal aparelho por seis minutos. Quando revelou a chapa, encontrou o desenho dos ossos dos dedos de Bertha e a silhueta de sua aliança. Eram os raios X. CONSEQÜÊNCIA -Método para diagnósticos mais rápidos e precisos Sétima descoberta da medicina - CULTURA DE TECIDOS DATA -1906 QUEM -Ross Harrison (1870-1959) 6 COMO -O zoologista americano Harrison descobriu como cultivar células vivas em laboratório, independentemente das plantas ou animais de onde vieram. A descoberta permitiu estudar moléculas e células de organismos vivos, desenvolver vacinas contra poliomielite, sarampo, caxumba e raiva, auxiliar na busca de indícios que ajudem a descobrir a causa do câncer e da aids. CONSEQÜÊNCIA - Revolução no estudo das doenças Oitava descoberta da medicina- COLESTEROL DATA - 1912 QUEM - Nikolai Anichkov (1885- 1964) COMO - O russo Anichkov alimentou coelhos com gemas de ovos e descobriu que o animal que mais mata seres humanos no mundo é... a galinha. Durante a autópsia, Anichkov notou a presença de placas nas artérias dos coelhinhos, iguais às encontradas nas aortas de corações humanos. Com essa observação, apontou para a medicina o perigo do consumo de colesterol e as doenças provocadas por esse tipo de gordura, como a arteriosclerose. CONSEQÜÊNCIA - Novos rumos para o estudo das doenças cardíacas Nona descoberta da medicina -ANTIBIÓTICOS DATA -1929 QUEM -Alexander Fleming (1881-1955) COMO -O médico e bacteriologista escocês Fleming descobriu, em 1929, a fórmula da penicilina, o primeiro antibiótico do mundo. Mas foram necessários mais de 12 anos para que se chegasse à etapa de ministrar a nova fórmula em humanos, o que ocorreu somente durante a Segunda Guerra Mundial. Base dos antibióticos, a penicilina revolucionou a medicina e deu impulso decisivo à moderna indústria farmacêutica. CONSEQÜÊNCIA - A melhor arma contra bactérias Décima descoberta da medicina - DNA DATA -1953 QUEM -Maurice Wilkins (1916-2004) COMO -A maior parte dos méritos pela descoberta do DNA coube a James Watson e Francis Crick. A dupla de cientistas publicou, em 1953, um artigo em que desvendavam o mistério da estrutura de espiral dupla que caracteriza a "chave da vida". No entanto, a façanha não seria possível sem os estudos do físico neozelandês Wilkins, o primeiro a isolar uma molécula de DNA e fotografá-la com raios X, revelando a forma helicoidal. CONSEQÜÊNCIA -Revolução na biologia molecular. 7 02. LEGISLAÇÃO Dr. Rodrigo Marucio Responsabilidade Civil O Conselho Federal de Medicina em sua resolução CFM Nº 1.802/2006, artigo 1º, dispõe aos médicos anestesiologistas que: “Antes da realização de qualquer anestesia, exceto nas situações de urgência, é indispensável conhecer, com a devida antecedência, as condições clínicas do paciente, cabendo ao médico anestesiologista decidir da conveniência ou não da prática do ato anestésico, de modo soberano e intransferível”. O Conselho Federal de Medicina Veterinária não possui legislação específica regulamentando a especialidade da anestesiologia. Esforços tem sido realizados nesse sentido com a fundação de órgãos específicos como a Associação Paulista de Anestesiologia Veterinária (2008) e o Colégio Brasileiro de Anestesiologia Veterinária (2012). A procuradora do CRMV-PR Giorgia Bach Malacarne, em seu artigo “Responsabilidade Civil do Médico Veterinário”, explica que de acordo com o Código de Defesa do Consumidor, o médico veterinário na prática da clínica, direção de hospitais e assistência técnica e sanitária aos animais é considerado um prestador de serviços. O proprietário do animal/paciente que recebe atendimento é o consumidor deste serviço. Está, portanto, o profissional sujeito às regras decorrentes das relações de consumo. Por responsabilidade civil entende-se o dever que incumbe à determinada pessoa de reparar o prejuízo causado por ato próprio ou por pessoa ou coisa que dela dependa. Aplica- se, portanto, na verificação de supostos erros profissionais, a teoria da responsabilidade civil subjetiva, prevista no artigo 14, parágrafo 4º do Código de Defesa do Consumidor, onde a culpa do profissional deve ficar suficientemente demonstrada, em uma ou mais de suas modalidades: negligência, imprudência ou imperícia. Negligência: é o resultado do descuido e da falta de atenção. É não apresentar a conduta esperada para a situação, ou seja, não fazer o que deveria ser feito. A negligência é passiva. O tipo mais clássico de negligência médica é o abandono ao doente. Exemplo: especialista que no pós operatório imediato abandona o paciente deprimido ou hipoventilado. Imprudência: é uma ação precipitada e sem cautela, ou seja, faz o que não deveria ser feito. O médico é imprudente quando, tendo conhecimento do risco e não ignorando a ciência médica, toma a decisão de agir assim mesmo. Exemplo: o anestesista que inicia o ato anestésico sem o equipamento necessário para intubação de emergência ou aspiração de um vômito imprevisível ou outra intercorrência. Imperícia: é o desconhecimento, incompetência, inexperiência, inaptidão técnica, despreparo profissional, falta de qualificação técnica, teórica ou prática, ou ausência de conhecimentos elementares e básicos da profissão. A imperícia não significa apenas desconhecer totalmente o procedimento,mas também aplicar deficientemente o conhecimento que o médico possui ou deveria possuir. Caso seja instaurada uma ação judicial, o ressarcimento do dano será determinado somente se: 8 1) Houver comprovação do dano 2) Houver culpa do profissional 3) Houver nexo de causalidade entre a suposta lesão e a conduta do médico veterinário Segundo o Código de Defesa do Consumidor, o proprietário do paciente pode propor uma ação para reparação dos danos causados por um prazo de até 5 anos, iniciando-se a contagem a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Como em qualquer outra atividade humana, a falha procedimental se faz presente, sendo impossível apontar-se um médico ou ser humano que nunca tenha errado. O especialista deve assumir o compromisso de empregar todas as técnicas, instrumentos e recursos disponíveis no sentido de alcançar o objetivo almejado por ele e pelo proprietário, porém jamais poderá garantir a quem quer que seja um resultado satisfatório do tratamento por ele instituído. Sobre a importância da discussão prévia com o proprietário, o art. 94 do Código Civil dispõe que: “Nos atos bilaterais o silêncio intencional de uma das partes, a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela não se teria celebrado o contrato”. Partindo do preceito contido no mencionado artigo, tem- se a conclusão de que é imprescindível que o proprietário seja previamente esclarecido, em linguagem a ele compreensível, sobre a doença, os limites do tratamento proposto e eventuais reações adversas, além das possíveis complicações. Redução do Índice de Mortalidade As taxas de mortalidade associadas à anestesia na veterinária vêm sendo reduzidas com o passar dos anos, mas ainda continuam altas quando comparadas com a medicina humana. Nota-se que o período de recuperação é um dos momentos em que esta taxa é maior conforme alguns estudos, não devendo esta fase ser negligenciada. Em outro estudo, evidenciou-se que quanto maior a monitoração empregada no paciente, como eletrocardiograma, oximetria de pulso e capnografia, e a implementação de medidas simples como a presença constante de um veterinário durante o procedimento anestésico reduz o risco de morte dos pacientes. Em um estudo sobre os fatores de risco associados a anestesia em cães, concluiu-se que são fatores que aumentam a probabilidade de morte: procedimento de urgência, pacientes acima de 12 anos, animais com peso inferior a 5kg quando comparados a animais com peso entre 5 e 15 quilos entre outros. Uma medida simples e que comprovadamente reduz o risco de mortalidade nos procedimentos anestésicos/cirúrgicos é a execução de um check list. O check list deve ser adaptado ao lugar em que se trabalho, mas como princípios básicos são considerados: 1 - Confirmação do paciente: identificação, procedimento a ser realizado, local da cirurgia, histórico disponível para consulta. 2 - Confirmação da equipe: identificar os membros da equipe com as respectivas funções verbalmente 3 - Confirmação de equipamento: verificar se equipamentos anestésicos e monitores, por exemplo, a oximetria de pulso, estão disponíveis e funcionando 9 4 - Confirmação de pós operatório: confirmar verbalmente medicações e cuidados pós- operatórios e os responsáveis por cada função. Verificar necessidade da manutenção ou reposição de algum equipamento ou fármaco. Além do checklist, outras medidas que podem reduzir o risco anestésico são: estabilização do paciente antes da indução anestésica, a pré-oxigenação, monitoração e terapia suporte no pré- anestésico, trans e pós-anestésico e o conhecimento das principais interações medicamentosas em anestesia. Bibliografia complementar MAKARY, A. M., DANIEL, M. Medical error—the third leading cause of death in the US. BMJ 2016; 353:i 2139. MALACARNE, G. B. Responsabilidade Civil do Médico Veterinário. Artigo do site do CRMV-PR (2008). Disponível em: http://www.crmv-pr.org.br/?p=imprensa/artigo_detalhes&id=51# CONSTANTINO, C. F. Julgamento ético do médico: reflexão sobre culpa, nexo de causalidade e dano. Revista Bioética 2008 16 (1): 97 – 107 GIFONI, J. M. M. Cap. 112 - Erro Médico em Anestesia: O que pensam os Juízes de Direito? Em: Medicina Perioperatória. CAVALCANTI, I. L.; CANTINHO, F. A. F.; ASSAD, A. Rio de Janeiro: Sociedade de Anestesiologia do Estado do Rio de Janeiro, 2006. BRODBELT, D. C.; BLISSITT, K. J.; HAMMOND, R. A.; NEATH, P.J.; YOUNG, L.E.; PFEIFFER, D.U.; WOOD, J. L. The risk of death: the confidential enquiry into perioperative small animal fatalities. Veterinary Anesthesia and Anagelsia, 35 (5): 365 – 73, 2008. CARARETO, R.; ROCHA, L. S.; GUERRERO, S. N. H.; SOUSA, M. G.; NUNES, N.; DE PAULA, D. P.; NISHIMORI, C. E. Estudo retrospectivo da morbidade e mortalidade associada com anestesia geral inalatória em cães..Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 26, n. 4, p. 569-574, 2005. BILLE, C.; AUVIGNE, V.; LIBERMANN, S.; BOMASSI, E.; DURIEUX, P.; RATTEZ, E. Risk of anaesthetic mortality in dogs and cats: an observational cohort study of 3546 cases. Veterinary Anesthesia and Anagelsia, 39(1):59-68, 2012. 10 03. MANEJO COMPORTAMENTAL Como abordar o paciente felino e canino da sala de atendimento Bruna Bons A criação de vínculos cada vez mais fortes entre humanos e animais, aliado à falta de conhecimento da natureza comportamental dos cães e gatos e suas necessidades básicas leva ao surgimento de comportamentos aberrantes e anormais que podem causar problemas para os animais, tutores e para a equipe veterinária ou até mesmo chegar ao trágico desfecho do abandono. Uma correta socialização e manejo comportamental dos animais podem evitar situações estressantes durante o atendimento. Quais são os benefícios no manejo comportamental? - ↓ estresse: animais mais relaxados e dóceis - ↓ infecção hospitalar - ↓ riscos à equipe - ganho de tempo - exame físico e plano anestésico mais eficientes - cultivo da relação com o tutor (tutor percebe que há uma procupação com o paciente e fortalece relações com o veterinário). Período sensível ou de socialização Podemos definir esse período como o espaço de tempo compreendido entre o início da maturidade sensorial e a consolidação das estruturas nervosas que controlam a resposta de medo perante situações novas. Nos cães o período de socialização está compreendido entre a 3a semana e o 3o mês de vida e nos gatos entre a 2a semana e o 2o mês de vida. É ainda durante este espaço de tempo que se dá o desenvolvimento sensorial e locomotor do animal e, graças a ele, o cachorro aprende a deslocar-se, explorar o seu meio envolvente e a interagir com os demais. Portanto, é recomendado que o animal tenha contato com outros cães, de portes diferentes, gatos e fundamentalmente, com crianças, adultos e idosos. É geralmente nessa fase que ocorrem as vacinações no consultório veterinário. Esse procedimento pode ser estressante para o animal e levar à uma associação negativa desde o momento da caixa de transporte até o reconhecimento do uniforme do profissional (jaleco branco, por exemplo). Para evitar essa memória negativa, a consulta veterinária pode ser programada inicialmente para ser apenas uma visita prévia ao consultório para receber petiscos e se familiarizar com o ambiente, sendo a vacinação realizada em uma visita separada. A fase sensível é particularmente importante para a vida futura do cão e daqueles que irão conviver com ele. A maioria dos problemas comportamentais caninos tem origem em uma fase sensível deficiente ou mal conduzida. As recomendações para diminuir o estresse na consulta veterinária se iniciam em casa, porém a clínica veterinária pode contribuir para diminuir o estresse dos animais, separando o atendimentopara cães e gatos, por exemplo. 11 Cães - Caixa de transporte: A caixa de transporte pode servir para outras finalidades, como por exemplo cama ou lugar de receber petiscos. Dessa forma, o animal pode se acostumar ao ambiente e não ficar ansioso quando tiver que entrar na caixa para ser transportado. - Transporte: a caixa seja fixada no carro com cinto de segurança para evitar acidentes. - Focinheira: Os animais devem ser acostumados à focinheira. O treinamento pode ser feito gradativamente e com petiscos. - Feromônios: podem ser borrifados na caixa, na clínica, nos braços; D.A.P.- Dog Appeasing Pheromone - Brinquedos na recepção Gatos - Usar a caixa de transporte para associação positiva também. - Feromônios: Felliway® – associado à sensação de bem estar Felifriend® - mais específico para socialização - A recepção da clínica pode dispor de vasos com lavanda, manjericão, hortelã, catnip. Gatos preferem lugares mais altos com uma visão ampla do ambiente. Podem ser colocadas prateleiras para acomodar as caixas de transporte, evitando que fiquem no mesmo nível dos No consultório, é aconselhável colocar uma toalha sobre a mesa para evitar a sensação tátil desagradável das patinhas em contato com a mesa gelada. É importante ressaltar que a contenção manual bruta aumenta a probabilidade de luta. Gatos psicologicamente saudáveis e equilibrados emitem sinais de desconforto, sinalizando que a aproximação não é bem vinda. Caso a tentativa de captura continue, ele pode atacar. O animal sempre emite sinais de fuga antes do ataque. Bibliografia complementar RODAN, I.; SUNDAHL, E.; CARNEY, H.; GAGNON, A. C.; HEATH, S.; LANDSBERG, G.; SEKSEL, K.; YIN, S. AAFP and ISFM Feline-Friendly Handling Guidelines. Journal of Feline Medicine and Surgery (2011) 13, 364–375 Dicas de como preparar a clínica para receber gatos: http://icatcare.org/catfriendlyclinic 12 04. AVALIAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA Dr. Rodrigo Marucio Exame pré-anestésico Conhecer previamente o paciente e a técnica cirúrgica a ser realizada é fundamental para o sucesso da anestesia. Os principais objetivos da avaliação pré-anestésica são: • Determinar a condição física do paciente e determinar o risco anestésico. • Conversar com o tutor sobre o procedimento. • Expor quais são as alternativas e as possíveis complicações do caso. • Obter autorização do tutor por meio de um termo de consentimento escrito. • Investigar condições ocultas que possam trazer problemas no transoperatório. • Elaborar o protocolo anestésico. A primeira parte da avaliação pré-anestésica consiste na identificação e exame físico do animal. São dados importantes a espécie, raça, idade, peso, sexo, estado reprodutivo, estado nutricional e temperamento. Felídeos por exemplo, possuem uma capacidade de glucuronização hepática limitada e são mais suscetíveis ao laringoespasmo e à hipotermia. Deve-se atentar também para particularidades como: agressividade, animais braquicefálicos, neonatos ou pediátricos, idosos e que apresentem doenças concomitantes. A anamnese deve conter informações sobre o jejum, histórico de anestesias e ocorrência de complicações, alergias, doenças concomitantes e transfusão sanguínea prévia. Também deve-se pesquisar se o animal está recebendo algum medicamento ou se apresenta sinais como: tosse, convulsão, desmaio, vômito, diarreia, dificuldade respiratória, cianose e náusea. A presença de algum desse sinais leva à uma investigação minuciosa da causa e avaliação da sua influência no procedimento anestésico. O jejum deve se adequar às necessidades do paciente. De maneira geral, deve-se respeitar o jejum alimentar de 6 a 8 horas para gatos e cães até 5 kg, de 8 a 10 horas para cães de 5 a 20 kg e de 10 a 12 horas para cães acima de 20 kg ou idosos. O jejum hídrico deve ser de 2 horas. Pacientes pediátricos devem respeitar jejum reduzido, sento estabelecido o tempo de 4 a 6 horas. Paciente neonatos não devem fazer jejum. Após a anamnese é realizado o exame físico e avaliação dos exames complementares. Cabe ao médico anestesiologista o direito de solicitar ou não exames complementares extras e/ou avaliação por outros especialistas durante o exame pré-anestésico. Lembrando sempre que a solicitação de tais exames deve respeitar o bom senso, ou seja, deve-se saber quais exames podem levar a alterações de conduta para aquele paciente. A partir da avaliação pré-anestésica podemos classificar o paciente quanto ao risco anestésico. Abaixo encontra-se o sistema de classificação adaptado da American Society of Anesthesiologists: 13 (Classificação ASA) Sugestão de exames pré-anestésicos de acordo com a idade e a categoria de risco ASA: IDADE ASA Até 6 meses 6 meses a 6 anos Mais de 6 anos I e II Hematócrito, proteína, glicemia Hematócrito, proteína função renal Hematócrito, proteína, função renal, ECG, urinálise III Hemograma, proteína, glicemia, função renal, pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 Hemograma, ECG, glicemia, função renal, função hepática, pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 Hemograma, glicemia, ECG, função renal, função hepática, eletrólitos (Na+, K+, Ca2+), pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 IV e V Hemograma, ECG, glicemia, função renal, função hepática, eletrólitos (Na+, K+, Ca2+), pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 Hemograma, ECG, glicemia, função renal, função hepática, eletrólitos (Na+, K+, Ca2+), pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 Hemograma, ECG, glicemia, função renal, função hepática, eletrólitos (Na+, K+, Ca2+), pH, HCO3 e gases sanguíneos, urinálise1 ECG = Eletrocardiograma; HCO3 = Bicarbonato Observações: 1- A urinálise poderá ser requisitada apenas nos casos cujos sinais clínicos envolvam o trato genitourinário. 2- Faz-se necessária a avaliação de cálcio nos animais portadores de processos neoplásicos. Fonte: HOVET – FMVZ – USP Devido ao diverso grau de importância dada aos padrões estéticos pelos tutores (no caso de cães de exposição, por exemplo), é aconselhável avisar que será feita tricotomia da 14 pata para cateterização e tricotomia para eventual bloqueio regional (ex: peridural). Isso pode evitar a surpresa e descontentamento do tutor no momento da alta do animal. Além disso, é importante lembrar e deixar claro para o tutor que todos os pacientes submetidos à anestesia podem apresentar eventuais intercorrências, mesmo que estes pacientes apresentem um baixo risco anestésico. 15 05. MEDICAÇÃO PRÉ-ANESTÉSICA Dr. Rodrigo Marucio A medicação pré-anestésica, ou MPA, tem como principal intuito promover a tranquilização, sedação, analgesia, reduzir os efeitos indesejáveis de outros fármacos e reduzir a secreção das vias aéreas. Além disso, ela promove a redução dos efeitos indesejáveis de outros fármacos, propicia um maior miorrelaxamento, potencializa os anestésicos gerais, viabiliza alguns procedimentos com anestesia local e promove uma indução e recuperação mais suaves. A taxa de mortalidade no período de MPA é de 1%, e vale lembrar que animais de raças de pequeno porte normalmente possuem um metabolismo acelerado, necessitando de doses um pouco maiores do que aqueles de raças de porte grande ou gigante. Ao pacientes das raças braquicefálicas possuem um tônus vagal acentuado. Já os de origem oriental, uma tendência a excitação paradoxal. As classes farmacológicas utilizadas na MPA que serão discutidas a seguir são: Anticolinérgicos, Tranquilizantes, Benzodiazepínicos, Sedativos, Opióides e Dissociativos. As doses e o tempo de duração são referentes a espécie canina. ANTICOLINÉRGICOS São fármacos vagolíticos ou parassimpatolíticos devido ao fato de bloquearem os efeitos do nervo vago. Mecanismo de ação: Antagonistas competitivos de receptores colinérgicos muscarínicos Indicações: - Redução das secreções produzidas por alfa-2 agonistas e cetamina.- Bradicardia transanestésica. - Cirurgias oftálmicas. Os receptores muscarínicos são subdivididos em: § M1 – localizados nos neurônios do SNC. § M2 – localizados no nódulo sinoatrial e atrioventricular. § M3 – localizados nas glândulas secretoras, endotélio vascular e musculatura lisa. No sistema cardiovascular: o Taquicardia (pode aumentar a incidência de arritmias e taquicardia sinusal). o Reduz o efeito vagal no coração, com mínima alteração na pressão arterial. o Pode haver um estímulo vagal inicial. 16 No sistema digestório: o Reduz as secreções. o Diminui a motilidade do trato gastrointestinal. o Diminui o tônus do esfíncter esofágico e pequeno efeito sobre o pH gástrico resultando em refluxo gastresofágico e esofagite em cães anestesiados. No SNC: o Em doses elevadas, provocam torpor e confusão mental - bloqueio de receptores muscarínicos no SNC. o Glicopirrolato não ultrapassa a barreira hematoencefálica. Os principais fármacos dessa classe são: Atropina Dose: 0,022 – 0,044 mg/kg IV, IM, SC Latência: IV = 1 min, IM = 5 min Pico do efeito: IV = 5 min, IM = 10-20 min - Doses baixas IV podem causar inicialmente bradicardia por meio do bloqueio de receptores muscarínicos pré-sinápticos. - Provoca elevação de 30 – 40% da FC por aproximadamente 30 minutos. - Pode causar diminuição das secreções oculares por 1 a 2 dias. - Gatos, ratos e coelhos apresentam a enzima atropina esterase no fígado, causando rápida degradação da atropina. Escopolamina Dose: 0,01 – 0,02 mg/kg IV, IM, SC Uso de eleição para Equinos. Glicopirrolato Dose: 0,01 mg/kg IV, IM, SC TRANQUILIZANTES o Diminuem a ansiedade sem causar sedação. o Possuem ação subcortical. o Não induzem perda de consciência. o Fazem parte deste grupo as fenotiazinas e as butirofenonas. Butirofenonas 17 - Droperidol: dose: 0.5 – 1 mg/kg, duração até 3 horas Ação antiemética 1000 vezes maior que a clorpromazina. - Azaperona: dose 1 – 4 mg/kg Tranquilizante de eleição para suínos Fenotiazínicos: Acepromazina, Clorpromazina e Levomepromazina. Mecanismo de ação: promovem depressão do sistema nervoso central (tálamo, hipotálamo, tronco cerebral e vias aferentes sensitivas). Em altas doses possuem efeitos extrapiramidais (tremores e catalepsia). No SNC bloqueiam neurotransmissores pré e pós-sinápticos de serotonina e dopamina. Doses: • Acepromazina: dose 0.02 – 0.05mg/kg, duração 2 – 10 horas Em cães, a ação tem início entre 10 e 15 minutos. O pico de efeito acontece aos 30 minutos. • Clorpromazina: dose 0.2 – 0.5 mg/kg, duração 2 – 4 horas • Levopromazina: dose 0.2 – 0.5 mg/kg, duração 2 – 4 horas Vantagens: efeito tranquilizante, antiemético, anti-histamínico, antiarrítmico, antiespasmódico, antitoxêmico, não interferem na motilidade gastrointestinal, potencializam outros fármacos, diminuem secreções, diminuem a CAM do isoflurano em cães. - Diminui a incidência de vômito de 48% para 18% em cães tratados com morfina - Pode diminuir a frequência respiratória, porém sem alteração de pH arterial, PCO2, PO2 ou SatO2. Desvantagens: podem causar hipotermia, vasodilatação periférica, redução de pressão arterial, redução do débito cardíaco em 20-25% por até 2 horas, redução do limiar convulsivo (em discussão), não possuem antagonista, não produzem analgesia, causam dilatação esplênica levando a queda nos valores de hematócrito e hemoglobina. SEDATIVOS Agonistas α-2 adrenérgicos: Xilazina, Detomidina, Medetomidina, Dexmedetomidina, Romifidina Mecanismo de ação: ativam receptores α pré e pós-sinápticos a nível de SNC e periférico (SNP), inibindo síntese e liberação de noradrenalina. 18 Efeitos: o Sedação. o Analgesia. o Relaxamento muscular. o Redução de 40-70% a CAM dos halogenados. o Potencialização da ação dos barbitúricos em 50-70% . o Redução da secreção de ADH (vasopressina). o Inibição da produção de insulina (efeito hipoinsulinemia e hiperglicemia). o Redução da liberação de ACTH e cortisol. o Redução da motilidade gastrointestinal e indução de vômito. o Aumentam a salivação. Atenção: o São contraindicados no 1/3 final da gestação por induzir aborto (efeito ocitócito). o Ruminantes são mais sensíveis. o Podem causar timpanismo em bovinos o Suínos são refratários, especialmente à xilazina. o Pode ser absorvido por feridas e por mucosas. o A dexmedetomidina está sendo utilizada recentemente em estudos com choque séptico. o Xilazina é contraindicada em cardiopatas e em pacientes em choque . Xilazina Possui duas fases de efeito distintas: § Primeiros 5 – 10 minutos: age em receptores α1 e α2 pós-sinápticos, causando vasoconstrição, elevando a pressão arterial e levando a bradicardia reflexa. § Após atua em receptor α2 pré-sináptico, causando uma redução nos valores de pressão arterial (hipotensão ou apenas retorno ao normal). o Podem gerar Bloqueios Atrio-Ventriculares (BAV) de 1º ou 2º. o Estes fármacos não posuem afinidade específica pelos receptores α2, ligando-se também com os α1. A relação de afinidade encontra-se na tabela a seguir: Fármaco Relação α2:α1 Xilazina 160 Clonidina 220 Detomidina 260 Medetomidina 1620 Dexmedetomidina 1620 Xilazina: Cães, gatos: 0,2 - 0,5 mg/kg Equinos: 0,5 – 1 mg/kg Bovino: 0,05 - 0,2 mg/kg IM 19 Romifidina: Cães e gatos: 0,1 mg/kg Cavalos: 0,04 – 0.16 mg/kg Detomidina: Equinos: 0,01 – 0,04 mg/kg Medetomidina: Cães, gatos e Equinos: 0,01 – 0,04 mg/kg. BENZODIAZEPÍNICOS o Efeito sedativo, hipnótico, anticonvulsivante, amnésico e miorrelaxante. o Deprime o sistema límbico. o Aumenta a atividade gabaérgica. o Causa mínima depressão cardiorrespiratória. o Pode ter efeito paradoxal. o Alta taxa de ligação a proteínas plasmáticas (97-98%). Mecanismo de ação: age em receptor GABAA, impedindo influxo de cálcio, impedindo a despolarização Diazepam Dose: 0,1 – 1 mg/kg IV Composto cristalino, insolúvel em água, oleoso - O principal metabólito do diazepam é o desmetildiazepam ou nordiazepam. O metabólito é mais ativo e possui meia vida de eliminação de 3,6 horas no cão e 21 horas no gato - O diazepam é eliminado na urina em forma de metabólitos conjugados com ácido glicurônico. Midazolam: Dose: 0,2 – 0,5 mg/kg IV, IM Hidrossolúvel - Meia vida curta - 1,7 horas - Maior potência hipnótica - Pode causar hipotensão em doses elevadas. Antagonistas Ioimbina: 0.1 – 0.2 mg/kg IV/IM Atipamezole: 0.15 – 0.2 mg/kg IV/IM 20 Antagonista Flumazenil Dose: 0,05 mg/kg – IV - Reverte o efeito em 2 a 4 min - Período hábil : 60 min Zoletil ou Telazol - Mistura de tiletamina com zolazepam. - Durante a recuperação no cão pode causar excitação, pois o zolazepam é metabolizado primeiro. - No gato, durante a recuperação, há depressão, pois a tiletamina é metabolizada primeiro. - Não utilizar em pacientes com Insuficiência Renal e felinos obstruídos. OPIOIDES Classificação: Agonista total: Morfina, Meperidina, Oximorfina, Fentanila, Alfentanila, Sufentanila, Remifentanila. Agonista parcial : Buprenorfina. Agonista-antagonista: Butorfanol, Nalbufina. Antagonista: Naloxona. o Causam analgesia, sedação e potencialização dos anestésicos gerais. o Podem provocam depressão cardiorrespiratória (principalmente em primatas). o Analgesia supraespinhal, espinhal e local. o Os receptores opióides são classificados em µ, κ, Δ, γ. Morfina Dose: 0,05 – 2 mg/kg - SC, IM, IV (para animais agitados no pós cirúrgivo 0,5 mg/kg diluídos em 5 mL de NaCl). Latência: 5 – 10 min IM, 30 seg IV . - Boa estabilidade cardiovascular, ótima analgesia.Entretanto, provoca náusea, vômito, pode ocasionar prurido, reduz a motilidade do trato gastrointestinal, pode causar retenção urinária. - Quando administrada pela via epidural, possui duração de 12 – 24h e pela via intratecal até 72h. Metadona Dose: 0,2 – 0,5 mg/kg SC, IM, IV Latência:5 – 10 minutos IM, 15 – 30 seg IV - Sedativo, não induz vômito, baixa incidência de liberação de histamina, possui efeito antagonista NMDA 21 - Em doses de 0,5mg/kg provoca depressão cardiovascular, reduzindo o DC em 30-40% Buprenorfina Dose: 10 – 30 µg/kg SC, IM, IV Meperidina Dose: 0,4 – 4 mg/kg – SC, IM Latência: 5 – 10 minutos IM Evitar o uso IV. Duração: 1h - Efeito analgésico fraco, boa sedação, pode provocar liberação de histamina, não induz vômito. - Contraindicada em mastocitomas ou outros pacientes que apresentem maior risco de choque anafilático. Tramadol Dose: 1 – 4 mg/kg Latência: 5 – 10 minutos IM - Efeito analgésico moderado, atua também inibindo receptação de serotonina e norepinefrina, sendo indicado para analgesia pós-operatória. Atualmente, sua eficácia e tempo de duração em cães são discutidos no Guideline for Pain treatment da AHAA. Fentanil Dose: 1 - 5 µg/kg Latência: 30 segundos IV - Pode causar bradicardia, principalmente se aplicado rapidamente IV. Butorfanol: Dose: 0,1 – 0,4 mg/kg SC, IM, IV ANTAGONISTAS: Naloxona: 0.04 mg/kg 22 06. SISTEMAS E CIRCUITOS ANESTÉSICOS Dr. Adriano Carregaro Os sistemas e circuitos anestésicos essenciais para a anestesia inalatória. Para o emprego deste tipo de anestesia é necessário: acesso às vias aéreas, dispor de equipamento específico e de um indivíduo com conhecimento e habilidades técnicas especializadas. Como material básico para obtenção de acesso às vias aéreas dos pacientes, pode-se citar o laringoscópio, o abre-bocas (dispensáveis em pequenos animais), as máscaras e por fim os tubos endotraqueais de diversos tamanhos. Após a correta obtenção do acesso à via aérea com colocação do tubo endotraqueal, este será conectado a um SISTEMA. O sistema basicamente é composto de um cilindro de oxigênio, válvulas redutoras de pressão, chicotes, fluxômetro e balão reservatório. Na medicina veterinária, praticamente todos os sistemas específicos incluem o vaporizador de agente anestésico. O combustível do sistema é o oxigênio e também o ar comprimido. Para fazer o cálculo do volume de oxigênio no cilindro, precisamos usar a Lei de Boyle. P1 X V1 = P2 X V2 P = pressão V = volume As pressões nos cilindros normalmente vem expressas em kgf/cm2. Por exemplo, dentro de um cilindro de 5 litros, temos uma pressão de 150 kgf/cm2. . Quando esse oxigênio está no ambiente a 1 atm (1 kgf/cm2 = 1 atm), esse oxigênio passa a ser 750 litros. P1 X V1 = P2 X V2 150 x 5 = 1 x V2 750 = V2 Quantas horas de anestesia podemos ter supondo que usamos o fluxo de 1 L/min? 750 minutos = 12,5 horas. 23 A válvula redutora de pressão mostra o quanto de pressão tem no cilindro e quanto de pressão há na rede (no aparelho de anestesia). A pressão cilindro, pode ser, por exemplo 150 kgf/cm2.,, porém a pressão no sistema não pode passar de 4,5 kgf/cm2.. A válvula redutora de pressão tem a função de diminuir a pressão do cilindro para o aparelho não ser danificado. Também é possível utilizar o concentrador de oxigênio. Ele fornece acima de 90% de oxigênio, é portátil e sem custo (de recarga de oxigênio). Porém, depende de eletricidade e tem um fluxo muito baixo, no máximo 15 L/min, não sendo possível utilizar o ventilador com o concentrador. Por isso, ventiladores que funcionam somente a partir de oxigênio são altamente custosos, sendo aconselhável utilizar o ar comprimido. Quando a válvula redutora já vem acoplada ao cilindro, também não é possível fazer ventilação, pois ela permite fluxo máximo 10 L/min. Os fluxometros são aqueles que liberam o fluxo em uma maior escala, em litros/min; já os rotâmetros possuem uma regulagem mais fina, liberando o fluxo em ml/min. Para verificar o fluxo, regulamos a bailarina ou esfera de metal, sendo a primeira mais precisa. Os vaporizadores podem ser calibrados ou universais, abaixo encontram-se listados as principais características de cada um: UNIVERSAL: serve para todos os anestésicos inalatórios (exceto desflurano), não possui mecanismos para compensar fluxo, temperatura ou pressão, não permite o cálculo da % vaporizada, não possui limite de vaporização (pode alcançar valores de até 30%). Utilizado em poucos lugares do mundo. CALIBRADO: é específico para cada agente, pois considera a pressão de vapor do fármaco, possui mecanismos para compensação de fluxo, temperatura e pressão, os pneumáticos são formados por um sistema de bypass, onde o dial controla o fluxo. Os semieletrônicos e eletrônicos não fazem bypass, a vaporização se dá em função da temperatura. Possui limite de vaporização (isoflurano por exemplo chega até 5%). Os circuitos possuem áreas em que não há troca gasosa. Essas áreas constituem o espaço-morto mecânico: Traqueias: geralmente possuem 22mm de diâmetros e 110-130cm de comprimento. Balão: o tamanho do balão deve ser 3x o volume corrente do paciente. Sua função é fornecer um meio de ventilar o paciente e dar elasticidade ao sistema. Canister: é utilizado em circuitos reinalatórios; a cal sodada impõe resistência ao sistema. A cal sodada que vai dentro do caníster é formada por: 95% de Ca(OH)2, 4% NaOH e 1% de KOH. Sua umidade ideal é de 14 a 18%. Os mamíferos produzem em média 3-5ml/kg/min de CO2, e 100g de cal sodada absorvem 20L de CO2. O recomendado é trocar a cal sodada quando ela mudar 75% de cor (ficando roxa). 24 TIPOS DE SISTEMAS • Valvulares – reinalatórios: possuem válvulas unidirecionais que inferem maior resistência mecânica à respiração. Possuem também canister com cal sodada, que propicia pouca perda de calor e retem o CO2 liberado pelo paciente. Há um reaproveitamento do gás expirado, mantém calor, permite a utilização de baixos fluxos de gases frescos (10-50 ml/kg/min), consequentemente baixa poluição ambiental. São indicados para pacientes maiores que 5kg. Ex.: Circuito circular valvular • Valvulares – Não reinalatórios: possuem válvulas unidirecionais, mas não há mistura do gás inspirado com o expirado. É utilizado para oxigenação ou reanimação cardiopulmonar. Ex.: Ambu e válvula de Hudson (ou de demanda). • Avalvulares ou Não Reinalatórios: são classificados como sistemas Mapleson, não possuem válvulas ou caníster. Oferecem baixa resistência mecânica à respiração, e por isso são indicados para pacientes com peso inferior a 5Kg. Por outro lado, apresentam maior perda de umidade e calor. O gás expirado é eliminado por arraste e por isso, é um sistema que necessita de um fluxo de gases frescos alto. Ex.: Bain e Baraka. 25 • Avalvulares Reinalatórios: conhecido como Sistema To-and-Fro ou Vai-e-vem. Apresenta menor perda de umidade e calor, possui cal sodada.Utilizava-se em equinos. 26 07. FARMACOCINÉTICA E FARMACODINÂMICA Dr. Adriano Carregaro Todo fármaco precisa de um receptor para agir, logo todos os fármacos que conhecemos e utilizamos hoje em dia foram desenvolvidos a partir da observação da ação de uma substância endógena em um receptor. Uma alteração química, por menor que seja, tanto no receptor ou na substância química tem potencial para inativar toda a molécula farmacológica, ou alterar seus efeitos. Lembrando sempre que nenhuma substância química atua com total especificidade no organismo. Isso está frequentemente associado ao aparecimento de efeitos colaterais não desejados. Um medicamento não cria uma função no organismo, apenas modifica uma preexistente. FARMACODINÂMICA Estudo dos mecanismos de ação de um medicamento sobre as funções bioquímicas e fisiológicas de um organismo. Receptores Componente do organismo com o qual a substância interage Alvos: 1) Enzimas (ex neostigmina inibindo a acetilcolinesterase) 2) Moléculas transportadores: contém um local de reconhecimento para identificar e transportar moléculas para o interior do citoplasma. Alguns medicamentos agem bloqueandoesse sistema de transporte (cocaína impede captação de catecolaminas) 3) Receptores não ligados à proteína G a) Ligados à tirosinacinase: fatores de crescimento e insulina b) Reguladores da transcrição de ácido desoxirribonucleico: hormonios esteróides e tireoideanos 4) Receptores celulares ligados à proteína G: transmissão de mensagem direta ou indireta As proteínas G são mensageiro entre os receptores. São compostas de 3 subunidades. Gs = estimulante de adenilatociclase Gi = inibidora de adenilatociclase Go= relacionada a canais iônicos b) Sistema adenilatociclase/monofosfato de adenosina cíclico Um proteína Gs é ativada e estimula a enzima adenilatociclase a produzir AMPc que é um segundo mensageiro de várias funções c) Sistema fosfolipase com fosfato de inositol Sistema multirregulador e envolve vários mensageiros. A Gq ativa dois compostos celulares: IP3 e DAG. O Ip3 é hidrossúvel e entra no citoplasma para liberar Ca. O DAG é lipossolúvel e permanece na membrana ativando a proteína cinase C. d) regulação de canais iônicos: proteína Go interage com os canais iônicos, sem formar segundo mensageiro. Ex: GABA e NMDA 27 Interação medicamentosa: Sinergismo a) por adição: efeito combinado de dois medicamentos é igual à soma dos efeitos isolados de cada um (na figura abaixo representado por A+B) b) por potenciação: efeito combinado é maior que a soma dos dois isolados. Nesse tipo de efeito as substâncias geralmente atuam por dois mecanismo de ação diferentes (na figura abaixo representado por A+C) Antagonismo a) Farmacológico competitivo: antagonista compete com agonista pelo mesmo receptor. Quando acopla no receptor forma um complexo inativo. Quando aumenta a quantidade do agonista, ele desloca o antagonista do receptor. Pode ser parcialmente reversível ou irreversível: o antagonista não se desloca ou o faz muito lentamente b) Não competitivo: antagonista bloqueia a cadeia de eventos desencadeada pelo agonista. Não adianta aumentar a quantidade de agonista. c) Antagonismo fisiológico: subsâncias que agem em receptores diferentes porém o efeito final é oposto e se anula (ex: noradrenalina (vasoconstrição) e histamina (vasodilatação) d) antagonismo químico: reagem quimicamente entre si e não com o organismo (ex. Quelantes de metais) Exemplo de opióides agonistas puros, agonistas parciais e antagonistas. 28 FARMACOCINÉTICA É o estudo do movimento de uma substância química no interior de um organismo vivo, isto é, dos processos de absorção, de distribuição, de biotransformação e de excreção,ou seja, tudo que o organismo faz no medicamento. Absorção: movimento do medicamento do sítio de administração até a corrente sanguínea. Medicamentos lipossolúveis são absorvidos mais facilmente (passam pela bicamada lipídica). As substâncias são divididas em 1) Sem carga ou apolar: não sofrem influência do pH e atravessam qualquer barreira fisiológica 2) ácidos orgânicos (ácido fraco): pH determina velocidade de absorção. São mais bem absorvidos em pH alcalino (ex no intestino 7,5 a 8,0) 3) Bases orgânicas. (ex AL) Transporte Transporte Passivo: a maioria dos medicamentos Primeiro: filtração – passa pelos poros O tamanho da molécula é importante Depois ocorrre difusão passiva: Dissolvem-se da região mais concentrada para a menos concentrada. Depende da natureza lipofílica ou hidrofílica (partição óleo-água), pH e pKa pKa – constante de dissociação: é o pH onde o medicamente está 50 % na forma ionizada e 50% na forma não ionizada As substâncias são abdorvidas na forma ionizada Transporte Mediado por Carreador: São componentes da membrana celular que transportam substancias para dentro da célula. Fazem por difusão facilitada sem gasto de energia e a favor do gradiente de concentração (ex: glicose) ou por transporte ativo onde há gasto de energia. Pinocitose (abs. de partículas líquidas) ou fagocitose (abs de particulas sólidas) Usam energia celular Barreiras Mucosa gastrintestinal: formado por células justapostas. As substancias não passam entre as células, passam através das membranas. Pele, córnea e bexiga: Não passam entre as células. Só através delas. Exclusivo para subst. apolares. Capilar: a) com máculas (músculos, vísceras, ossos) = apresentam zonas frouxas na junção das células e substâncias saem dali para o meio EC 29 b) fenestrados: (rins e gls salivares, pancreas, hipofise) = livre acesso de substancias c) com bloqueio completo (barreira hematoencefálica) = somente através das células. Barreira Hemato-encefálica: barreira formada por capilares de parede contínua, poucas vesículas de pinocitose e células endoteliais unidas. Impede entrada de substâncias polares ou de grande peso molecular no SNC. Barreira placentária: comporta-se como as demais barreiras. Medicamentos lipofílicos e de baixo peso molecular atravessam facilmente. Fatores que alteram a absorção: Ligados à via de administração: área de superfície absortiva, circulação local Ligados ao fármaco: Solubilidade, pH local, forma química, concentração Ligados ao indivíduo: variabilidade fisiológica, idade, patologias Volume de distribuição Indica se o medicamento permanece mais tempo no sangue ou se distribui aos tecidos. É um fenômeno no qual o medicamento após ter chegado no sangue, sai desse compartimento e vai para o local de ação ou depósito. Após ser absorvido, o medicamento pode ficar livre no sangue, se ligar a proteínas plasmáticas ou ser sequestrado para depósito no organismo. Somente o medicamento livre é distribuído para os tecidos. Compartimento central (bem perfundido): coração, fígado, rins e cérebro Compartimento periférico = ossos, pele, depósito de gordura Fatores que alteram a distribuição: área de superfície absortiva, circulação local, solubilidade, pH local, coeficiente de partição, barreiras biológicas, ligação às proteínas plasmáticas Fármaco altamente ligados às proteínas plasmáticas: benzodiazepínicos (99%), Fenilbutazona (99%), Meloxicam (99%), Carprofeno (99%), Acepromazina (99%), Firocoxibe (98%), Propofol (95%) Fármaco com baixa ligação às proteínas plasmáticas:Metadona (85%), Fentanil (85%), Butorfanol (80%), Tiopental (76%), Etomidato (76%), Meperidina (70%), Lidocaína (70%), Remifentanil (70%), Cetamina (50%), Morfina (35%) 30 Meia-vida (t1/2): tempo para que a concentração plasmática de um fármaco se reduza à metade Biotransformação: Serve para favorecer a eliminação Deixa os metabólitos mais polares e menos lipossolúveis. Fase I = oxidação, redução ou hidrólise Convertem o medicamento original em metabólito mais polar Ocorrem geralmente no REL no fígado Fase II = aumenta hidrossolubilidade - Glicuronidação: atenção aos gatos, que possuem deficiência nessa etapa Conjugação com ácido glicurônico: lidocaína, propofol, alguns opioides, - Metilação - Acetilação: cães possuem dificuldade de acetilação - Sulfatação: suínos tem dificuldade de sulfatação Excreção: passagem do fármaco para o meio externo Renal: dependente de hipoproteinemia, desidratação, choque hipovolêmico, hipotensão, hipertensão Biliar Pulmonar Lacrimal, sudorípara Láctea Referência complementar KUKANICH, B.; LASCELLES, B. D. X.; PAPICH, M. G. Pharmacokinetics of morphine and plasma concentrations of morphine-6-glucuronide following morphine administration to dogs. Journal of Veterinary Pharmacology and Therapeutics. 28 (4), p. 371–376, 2005. 31 SANO, .; NISHIMURA, R.; KANAZAWA, H.; IGARASH,I E.; NAGATA, Y.; MOCHIZUKI, M.; SASAKI, N. Pharmacokinetics of fentanyl after single intravenous injection and constant rate infusion indogs. Veterinay Anesthesia and Analgesia. 33(4):266-73, 2006. RUDIN, A.; LUNDBERG, J. F.; HAMMARLUND-UDENAES, M.; FLISBERG, P.; WERNER MU. Morphine metabolism after major liver surgery. Anesthesia and Analgesia. 104(6):1409-14, 2007. DERSHWITZ,M.; HOKE, J. F.; ROSOW, C. E.; MICHAŁOWSKI, P.; CONNORS, P. M.; MUIR, K. T.; DIENSTAG, J. L. Pharmacokinetics and pharmacodynamics of remifentanil in volunteer subjects with severe liver disease. Anesthesiology. 84(4):812-20, 1996. 32 08. ANESTESIA INALATÓRIA Dr. André Escobar É a anestesia obtida por meio da absorção de um princípio ativo pela via respiratória, passando para a corrente circulatória e atingindo o sistema nervoso central, produzindo anestesia geral. A anestesia inalatória possui como vantagens: mínima biotransformação pelo fígado, eliminação pela expiração, permite controle dinâmico do plano anestésico, recuperação mais rápida do que da anestesia total intravenosa, melhora da oxigenação (administração com O2.). Entretanto, necessita de aparelhos específicos e de profissionais especializados para sua realização, além de constante monitoração. Ela deve promover: amnésia (perda da memória), inconsciência (falta de resposta a um estímulo não doloroso), imobilidade (perda dos movimentos em resposta a um estímulo doloroso) e Inibição da resposta autonômica simpática. Seu mecanismo de ação não é completamente conhecido e são formuladas algumas hipóteses: 1- Teoria lipídica (dissolviam a membrana lipídica dos neurônios, alterando sua excitabilidade) 2 - Ativação ou inibição de diferentes alvos moleculares: Canais iônicos (GABA, glicina, glutamato, serotonina, acetilcolina, canais de K+) Os principais sítios de ação dos anestésicos inalatórios são: - Amnésia: GABAA (subunidade α-5) – Hipocampo - Hipnose – alvos moleculares no cérebro - GABAA (subunidade β-2) – neocórtex - Imobilidade – mediado na medula espinhal GABAA – Pequena contribuição Inibição de receptores de glutamato e canais de K+ Ativação de receptores de glicina 33 Características físico-químicas 1) Coeficiente de solubilidade: Capacidade de uma substância de se dissolver em um meio 2) Coeficiente de solubilidade sangue-gás: pressão parcial do anestésico quando é estabelecido equilíbrio entre o anestésico dissolvido no sangue e no ar alveolar Fatores que alteram a solubilidade: temperatura Fatores que alteram a solubilidade entre espécies: hematócrito (maior carreador de anestésicos inalatórios), proteína plasmática (concentração e estrutura entre espécies), concentração de lipídeos, osmolaridade 3) Velocidade de indução e recuperação 4) Pressão de vapor: as moléculas estão constantemente passando do meio líquido para o gasoso - Em equilíbrio em recipientes fechados (número de moléculas que passam de um estado para o outro é o mesmo) - Quanto maior a pressão de vapor, maior a capacidade de vaporização - Existem vaporizadores específicos para alguns agentes 34 5) Concentração alveolar mínima (CAM): concentração alveolar mínima necessária para prevenir movimento em 50% dos pacientes após estímulo doloroso ao nível do mar - A CAM nas diversas espécies é consistente - A partir de certo ponto, o aumento da intensidade do estímulo doloroso não aumenta a CAM (estímulo supramáximo) - A CAM varia com a altitude: CAM (V%) ao nível mar = CAM (V%) local x pressão local/pressão ao nível do mar Ex.: CAM São Paulo = CAM ao nível do mar / (700/760) - CAM 8% maior em São Paulo CAM Machupicchu = CAM ao nível do mar / (560/760) - CAM 26% maior em Machupicchu Fatores que diminuem a CAM: hipercapnia (PaCO2 > 45 mmHg), acidose metabólica, hipóxia (PaO2 < 60 mmHg), hipotensão, hipotermia, gravidez, sedativos, tranquilizantes, opioides, anestésicos locais e gerais O anestésico ideal deve ser estável sem conservantes, não inflamável, facilmente vaporizado em temperatura ambiente, ter baixo coeficiente de solubilidade sangue/gás (indução e recuperação rápida), ser potente (promover anestesia com baixa concentração inspirada),não ser irritante das vias aéreas, promover baixa depressão cardiovascular, não sensibilizar o miocárdio às catecolaminas, não ser biotransformado pelo fígado, ter baixo custo, ausência de toxicidade renal e hepática e ser compatível com vaporizadores existentes. Efeitos fisiológicos: 1) Depressão respiratória dose-dependente. Diminui a resposta ventilatória à hipercapnia pela inibição dos quimiorreceptores de CO2 e O2 e pode levar à apneia. 2) Depressão cardiovascular dose-dependente. Diminuição de frequência cardíaca e da resistência vascular periférica e consequente queda do débito cardíaco. 3) Hipotermia. 4) Aumento da pressão intracraniana. 35 09. ANESTESIA INTRAVENOSA Suzane Lilian Beier A anestesia geral intravenosa provoca a depressão do SNC de forma dose-dependente e reversível. Os objetivos são promover hipnose, analgesia, miorrelaxamento, com estabilidade cardiovascular e de forma que a recuperação seja rápida e tranquila. São principalmente indicados para a indução anestésica e para manutenção de pacientes em UTI’s. Suas principais vantagens são ter baixo custo, não promover sobrecarga pulmonar e não necessita de equipamentos específicos. Como principais desvantagens, pode-se citar um controle de profundidade mais difícil e uma recuperação mais prolongada. Também pode ser utilizada em cirurgias de curta duração (2 – 3 horas), mas em cirurgia mais longas há um acúmulo dos fármacos. A aplicação de fármacos intravenosos pode ser classificada da seguinte forma: • Bólus – loading dose – é aquela aplicação realizada em menos de um minuto. • Bólus intermitente – aplicação repetidas de bólus, causam picos intermitentes na concentração plasmática do fármaco. • Infusão Contínua (IC) – fármaco aplicado de forma contínua por um tempo prolongado. • Bólus + IC – realiza-se a aplicação de um bólus para alcançar a concentração plasmática desejada rapidamente, e mantem-se a IC para manter essa concentração plasmática. • Taxa de infusão Variada (TVI) – A taxa de infusão muda com o tempo conforme necessidade do paciente. • Infusão alvo controlada (TCI) – feita com equipamentos especiais, com um programa que analisa através da farmacocinética e regula velocidade da bomba de infusão, assim como a anterior visam evitar o efeito cumulativo dos fármacos. Obs.: Para atingir a concentração plasmática terapêutica só com infusão contínua, necessitaria de 4 a 5 tempos de meia-vida plasmática do fármaco, pois as doses são reduzidas. • Infusão rápida – de 1 a 30 minutos • Infusão lenta – de 30 a 60 minutos • Infusão contínua – acima de 1 hora A maioria dos fármacos necessitam de bolus inicial antes de começar a infusão contínua. Uma exceção a essa regra é o remifentanil que não necessita de bolus inicial devido a sua farmacocinética. Para evitar - se o acúmulo de drogas e a recuperação prolongada pode se fazer a administração intravenosa realizada com redução na taxa de infusão com o passar do tempo (TVI) e o modo TCI – Target Controlled Infusion. 36 Na TVI a concentração do fármaco administrada ao longo do tempo vai diminuindo: - Fentanil: bólus 5mg/kg, IC: 30 µg/kg/h por 30 minutos 20 µg/kg/h por 30 minutos 10 µg/kg/h por 60 minutos - Propofol para caninos: bólus 4 – 5 mg/kg IC: 0.3 mg/kg/min por 20 minutos 0.2 mg/kg/min por 15 minutos 0.1 mg/kg/min até o fim Já no TGI há um software que controla a velocidade de infusão da bomba conforme a concentração desejada do fármaco no plasma ou sítio efetor em mcg/ml. Exemplos de equipamentos que realizam esse modo de infusão são a Harvard Pump e o Diprifusor. As vantagens da TCI são a indução suave, transição fácil para a manutenção da anestesia, controle de profundidade anestésica e recuperação rápida. Fármacos utilizados na medicina veterinária para anestesia venosa: v BARBITÚRICOS Fármaco TIOPENTAL FENOBARBITAL PENTOBARBITAL Latência 15 – 30 seg 12 minutos 30 – 60 seg Ação ultracurta Longa Curta Duração 10 – 20 min 6– 12 horas 60 – 120 min TIOPENTAL Caracteristicas físico químicas Sal sódico (ácido fraco/base forte) pKa: 7.6 pH: >10 Uso exclusivo IV Concentração recomendada para uso (diluição em água destilada) em: - Cães 2,5%. - Felinos 1,25% - Equinos 5%. O mecanismo de ação do tipopental é a potencialização do receptor GABA, aumentando o tempo de duração do canal aberto e a frequência de abertura do canal. Esse fármaco é altamente lipossolúvel o que exige cuidado ao utilizar em animais obesos. Além disso, o seu uso exige cautela em cães da raça Galgos, pois esses possuem baixa gordura 37 corporal (redistribuição muito rápida), baixa concentração sérica de albumina, além de deficiência no metabolismo hepático (enzima p450), o que pode promover uma recuperação com excitação. As contra indicações são: obstrução intestinal, torção gástrica, piometra e qualquer quadro de choque endotoxêmico ou de acidose, pois nessa situação há um aumento da fração livre ativa do tiopental. Farmacocinética: Possui efeito cumulativo, metabolismo sistema microssomal hepático com dessulfuração e oxidação, a eliminação é renal e a meia vida do tiopental é de t1/2b = 5- 12 hs. Farmacodinâmica: Sistema cardiovascular: provoca depressão cardiorrespiratória, do centro vasomotor, reduz a contratilidade cardíaca, SNC: reduz consumo de O2 cerebral, fluxo sanguíneo cerebral, pressão intracraniana e causa depressão do centro termorregulador. Sistema urinário: redução do fluxo sanguíneo renal – FSR, taxa de filtração glomerular – TFG e do volume urinário = DU. Sistema respiratório: depressão do centro bulbar – apneia, redução do volume minuto, redução da frequência respiratória, redução da sensibilidade à hipoxia e hipercapnia e hipercapnia e acidose respiratória. Útero : redução do tônus uterino, depressão fetal. Olho: midríase inicial, seguida de miose e redução da pressão intraocular. Doses: Canino: 7 – 12,5 mg/kg Felino e Equino: 4 – 5 mg/kg v COMPOSTOS IMIDAZÓLICOS O Etomidato é o representante desta classe mais utilizado, portanto as características descritas referem-se a este fármaco. O Etomidato tem como solvente o propilenoglicol que causa dor a injeção, flebites e pode causar reações alérgicas. A hemólise também pode ocorrer devido a hiperosmolaridade e para evitar se deve se diluir essa fármaco a aplicação. Propriedades físico químicas: pH: 5.1 Osmolaridade: 4965 – muito alta Taxa de ligação a proteinas: 76% Solvente: propilenoglicol Farmacocinética: Não tem efeito cumulativo, ação ultra curta, alta lipossubilidade, tempo de meia vida de 3 minutos e metabolizado por esterases hepáticas e plasmáticas, cujo metabólito é inativo a excreção e por vias renal e biliar. 38 Farmacodinâmica: Ação depressora semelhante ao GABA. Sistema cardiovascular: reduz pressão artérial, aumenta discretamente a frequência cardíaca, volume sistólico e o débito cardíaco e reduz resistência vascular periférica. SNC: reduz consumo de O2 cerebral, reduz fluxo sanguíneo cerebral, reduz pressão intracraniana. Sem redução da pressão arterial média, a perfusão cerebral é mantida ou até aumentada. Sistema respiratório: redução do volume corrente, aumento da frequência respiratória, redução do volume minuto. Apnéia não é comum. Sistema digestório: redução da motilidade e tônus aumento de secreções após cessar administração, pode ter vômito durante a indução se o animal não estiver bem sedado. Desvantagens: pode provocar mioclonias (por isso seu uso deve ser sempre associado a benzodiazepínicos), tromboflebite, inibição na síntese de cortisol (pois inibe o metabolismo do cortisol) e da aldosterona quando usado em infusão contínua. Dose: Caninos e felinos: 0.5 – 2 mg/kg Obs.: Associar com benzodiazepínico, fentanil e/ou lidocaína. v ALQUIFENÓIS O propofol é o representante desta classe mais utilizado, portanto as características descritas referem-se a este fármaco. È uma emulsão aquosa a 1%: - 10% de óleo de soja - 2,25% de glicerol - 1,2% de fosfolipídeo de ovo purificado. Propriedades fisico quimicas: pH: 7.0, baixa solubilidade em água e de aspecto leitoso. Farmacocinética: metabolização principalmente hepática, com conjugação com ácido glicurônico, mas também em pulmão, intestinos, plasma e rins.Os metabólitos são inativos e excretados pela urina. CUIDADO: Felinos tem dificuldade de conjugação, portanto cuidado com infusões contínuas prolongadas.Os galgos tem baixa concentração sérica de albumina e família das p450 deficiente, o que provoca um despertar mais lento. O uso exclusivo do propofol é pela via intravenosa, a latência e semelhante ao tiopental mas a recuperação é mais rápida devido ao clearence. Farmacodinâmica: Sistema cardiovascular: redução da sensibilidade barorreflexa a queda da PA, redução da pressão arterial, redução da frequência cardíaca, redução da resistência vascular periférica, redução do débito cardíaco (venodilatação) em 40 a 60%. Em doses equipotentes comparado ao tiopental: maior depressão, não causa arritmias, intensifica arritmias causadas por adrenalina, aumenta fluxo sanguíneo coronariano (vasodilatação coronariana) e reduz consumo de oxigênio miocárdico. 39 SNC: potencialização do GABA, redução do fluxo sanguíneo cerebral , redução da pressão intra-craniana e efeito miorrelaxante. Sistema respiratório: apnéia velocidade-dependente, redução da frequência respiratória, hipercapnia com acidose respiratória e redução da PaO2 = hipoxemia. Outros efeitos indesejáveis: Hipotermia: Depressão do centro termorregulador. Dor a injeção: Pode causar dor na injeção IV. Tremores musculares: contrações involuntárias com hiperextensão dos membros anteriores e posteriores relaxados. Conservação: Cuidado! frasco após aberto deve ser descartado por conta da contaminação. Doses: Cão e Gato: 2 – 5 mg/kg com MPA e 6 – 8 mg/kg sem MPA. *Apenas o Propofol, sem coadjuvante. v DERIVADOS DAS FENICICLINAS Os principais representantes na medicina veterinária são Cetamina e Tiletamina. Caracteristicas físico químicas: - pH: 3.5 – 5.5 (dor à aplicação por via IM). - Taxa de ligação a proteínas: 53% - Solúveis em água. Promovem a anestesia dissociativa que consiste em: catalepsia (perda do tônus com rigidez muscular), incapacidade de responder a estímulos, manutenção dos reflexos, inconsciência total ou parcial e analgesia. - Depressão do sistema tálamo-cortical. - ‘Excitação’ do sistema límbico-hipocampal. - Efeito antitoxêmico por redução do TNF. Utilização: Agentes indutores anestésico, analgesia preventiva, manutenção anestésica , analgesia co-adjuvante e e feito antitoxêmico. CETAMINA Mistura racêmica R e S. O enantiômero S produz mais analgesia e tem o clearence mais elevado. Farmacocinética: Sofre biotransformação hepático gerando metabólitos norquetamina (ativo) e hidrocetamina (inativo) e eliminação renal (80% na forma inalterada em felinos, sendo contra indicado seu uso em nefropatas e felinos com obstrução uretral) e biliar. 40 Biodisponibilidade: Via intramuscular – 93% Via oral – 20% Via intranasal – 50% Via retal 30% Duração: 10 – 20 minutos IV e 30 min IM. Doses: Caninos: 2 – 4 mg/kg IV; 5 – 8 mg/kg IM. Felinos: 2 – 3 mg/kg IV; 7 – 10 mg/kg IM e 20 – 40 mg/kg VO. Farmacodinâmica: SNC: aumento da PIC e a vasodiltação cerebral, inibe recaptação de norepinefrina, estimula o sistema nervoso simpático. Portanto é contraindicado para: Traumas cranianos, cirurgias de SNC e epiléticos. Sistema cardiovascular: aumenta frequência cardíaca, pressão arterial, débito cardíaco e contratilidade do miocárdio. Sistema respiratório: apnéia transitória, padrão apnêustico, intubação – manutenção reflexo laringotraqueal. Efeito analgésico: por antagonismo NMDA, agonista de receptores opióides e interação direta com canais de sódio (efeito de anestésico local). Outros efeitos: Aumenta a pressãointra ocular (PIO). DOSES CETAMINA para analgesia adjuvante: CÃO e GATO 0,5 mg/kg, IV bolus. 0,6 mg/kg/h = (10ug/kg/min) IV, infusão contínua. Conclusões em relação ao uso de cetamina: É segura como agente indutor nos casos de pacientes com instabilidade hemodinâmica. Em infusão contínua, reduz a CAM dos anestésicos inalatórios em cães, gatos e equinos de forma concentração dependente. Baixas doses de cetamina além de promover analgesia quando associada a opioides, reduz o requerimento destes. As utilizações de associações farmacológicas são muito interessantes para reduzir a dose total dos fármacos e desta forma, reduzir a ocorrência dos efeitos indesejados. Na indução anestésica, as associações reduzem a dose necessária de propofol. Os benzodiazepínicos não são tão eficazes na redução da dose de propofol, mas fornecem um maior relaxamento 41 muscular, importante em algumas cirurgias. Utilização de acepromazina na MPA normalmente propricia uma recuperação mais suave. Sugestões de associações para indução de anestesia geral: • Propofol 2mg/kg + Cetamina 0,5 a 1mg/kg. • Propofol 3mg/kg + BNZD 0.2 mg/kg. • Propofol 2mg/kg + Fentanil 2.5 – 5.0ug/kg. • Propofol 3mg/kg + Lidocaína 1.5mg/kg. • Cetamina 2-5mg/kg + BNZD 0.5mg/kg. • Etomidato 0.5-2.0mg/kg + BNZD 0.25mg/kg. • Etomidato 0.5-2.0mg/kg + Fentanil 2.5ug/kg + BNZD 0.25mg/kg. Definições: PIVA - Parcial Intravenous Anesthesia ou Anestesia Parcial Intravenosa ou Anestesia Balanceada. Ou seja, uso da anestesia inalatória e intravenosa. PIVA associações: 42 TIVA - Total Intravenous Anesthesia ou Anestesia Total Intravenosa. Técnicas de anestesia total intravenosa por infusão contínua: Cão: • Propofol - 0,2– 0,4 mg/kg/min com: o Remifentanil 0,15 – 0,3 µg/kg/min. ou o Fentanil 20 - 30 µg/kg/h. e/ou o Cetamina 10 µg/kg/min. e/ou o Lidocaína 50 ug/kg/min (desligar 30 minutos antes do término do procedimento). Ventilação mecânica – ou Suplementação oxigênio. Exemplos de Protocolos em Cães: 1) MPA acepram 0,05 mg/kg + morfina 0,5mg/kg (IM). Indução Propofol 4-5 mg/kg. Manutenção PROPOFOL 0,3 mg/kg/min primeiros 20 min 0,2 mg/kg/min mais 15 minutos 0,1 mg/kg/min até o final da cirurgia. Analgesia fentanil infusão 20 - 30ug/kg/h bomba ou bolus intermitente 5 ug/kg a cada 15 min Lembre-se - desligar o fentanil 15 min antes do término da cirurgia em casos de cirurgias prolongadas. Ventilação mecânica / suplementação com oxigênio. 2) MPA acepram 0,05 mg/kg + morfina 0,5 mg/kg (IM) Indução Propofol 2 mg/kg + cetamina 1 mg/kg + fentanil 2.5 – 5.0ug/kg - IV Manutenção PROPOFOL 0,2 mg/kg/min primeiros 20 min 0,1 mg/kg/min até o final Analgesia fentanil 20-30 µg/kg/h Ventilação mecânica / suplementação de oxigênio. 3) MPA acepram 0,05 mg/kg + morfina 0,5 mg/kg (IM) Indução Propofol 2 mg/kg + cetamina 1 mg/kg. Manutenção PROPOFOL 0,2 mg/kg/min primeiros 20 min 0,1 mg/kg/min até o final Analgesia remifentanil 0,2 µg/kg/min até o final da cirurgia Ventilação mecânica. 4) MPA acepram 0,05 mg/kg + metadona 0,5mg/kg (IM) Indução Propofol 2 mg/kg + cetamina 1mg/kg. Manutenção PROPOFOL 0,3 mg/kg/min primeiros 20 min 0,2 mg/kg/min até o final Analgesia cetamina infusão 10 ug/kg/min bomba Suplementação de oxigênio. 43 Exemplo de Protocolos para Gatos: 1) Gatos tranquilos/calmos: MPA - metadona 0,3mg/kg + acepram 0,05 mg/kg Indução Propofol 2 mg/kg + cetamina 1mg/kg Manutenção PROPOFOL 0,2 mg/kg/min primeiros 15 min 0,1 mg/kg/min por 10 min 0,05 mg/kg/min até o final. Analgesia cetamina infusão 10 ug/kg/min. Suplementação de oxigênio 44 10. ANESTESIA DISSOCIATIVA Dr. André Escobar A anestesia dissociativa é caracterizada por toda anestesia capaz, de maneira seletiva, de dissociar o córtex cerebral, causando analgesia e “desligamento”, sem perda dos reflexos protetores. Anestesia dissociativa NÃO é considerada anestesia geral! Características clínicas: - Estado cataléptico. - Excitação. - Analgesia. - Movimentos involuntários não associados a dor. - Hipertonicidade. - Manutenção dos olhos abertos. - Respiração apneustica. - Aumento das secreções, FC, PAM, PIO e PIC. Indicações: • Procedimentos cirúrgicos menos complexos associado à anestesia local (ex. castração de equinos machos). • Contenção química de animais domésticos e selvagens. • Parte do protocolo de indução e manutenção anestésica. • Analgesia. Vantagens: • Fácil de realizar (aceitável em campanhas de castração de cães e gatos). • Custo reduzido: não há necessidade de aparelhos específicos. • Pode-se realizar procedimentos a campo, associado à anestesia local (ex: castração equinos). • Não deprime tanto o sistema cardiovascular. • Alto índice respiratório. • Recuperação de melhor qualidade do que anestesia inalatória em equinos (< 1 hora). • Não há exposição do anestesista aos anestésicos inalatórios. Desvantagens: • Efeito cumulativo – recuperação com delírio. • O controle do plano anestésico é mais difícil. • Administração suplementar de O2 é mais difícil a campo. • Depende de metabolismo hepático. Ação no SNC: Depressão direta do córtex e tálamo. 45 Incapacidade receber\processar informações sensoriais. Estimulação do sistema límbico e hipocampo. Mecanismo de ação: - Antagonismo NMDA . - Agonista de receptores opioides. - Antagonismo muscarínico. - Ação gabaérgica. - Bloqueio da recaptação de catecolaminas. - Bloqueio de canais de sódio e potássio. - Agonista opioide sigma. 1 - Glutamato – neurotransmissor (Sinapse) - Potenciação de longa duração. - Melhoria duradoura na transmissão do sinal entre dois neurônios. - Receptores: AMPA e NMDA no SNC. AMPA – Despolarização da célula pós-sináptica e transmissão do impulso nervoso. A maioria das respostas pós-sinápticas de baixa atividade. NMDA– Receptor bloqueado por uma molécula de magnésio. ◦ Aumento da despolarização intracelular repele o magnésio permitindo a transmissão do impulso nervoso. - Doses necessárias para bloquear receptores NMDA são baixas. Características farmacológicas - Alta lipossolubilidade. - Boa absorção pelas vias IM, SC, IN, VO e retal. - Rápida distribuição. - Metabolismo hepático. - Produz norcetamina – metabólito ativo, com potência semelhante à cetamina e pode provocar recuperação prolongada. Apresentações da cetamina: - Cetamina Racêmica: Solução: 50% S(+) + 50% R(-) . - Cetamina (S+): menores efeitos colaterais, 2X mais potente. Clearence: 35% mais elevado. Volume de distribuição semelhante. Maior efeito analgésico. Maior afinidade receptores NMDA. Menos efeitos adversos. Metabolismo mais rápido. Eliminação e recuperação mais rápidas. Recuperação mais tranquila. 46 Latência: Depende da via: 0,5 até 5 minutos 1⁄2 eliminação é curta: - Cão: 61 minutos - Cavalos: 42 minutos (40% fica no animal após ele ficar em posição quadrupedal) - Vacas: 108 minutos Efeitos Farmacológicos SNC: - Inconsciência/catalepsia em dose alta. - Ativação do sistema límbico (excitação). - Analgesia (melhor somática ). - Ação anestésica local (potencializa efeito dos anestésicos locais). - Provoca vasodilatação cerebral + hipertensão. - ↑ fluxo sanguíneo cerebral (FSC). - ↑ pressão intracraniana (PIC) (hipercapnia). - ↑ Pressão intraocular (PIO). - Ação anticonvulsivante em discussão. - Delírio pós-anestésico. - Ataxia. - Aumento de atividade muscular. - Sensibilidade ao toque. - Possíveis recuperações violentas. Sistema Cardiovascular: - Efeitos dose-dependentes. - Efeito estimulante diminuído quando associado com a MPA. - Efeito simpaticomimético central (pode induzir arritmias indiretamente). - Bloqueia a recaptação de catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). - Efeito inotrópico positivo. - ↑ Frequência cardíaca. - ↑ Débito cardíaco. - ↑ Pressão arterial.
Compartilhar