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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 2 – mod XI – Perda de seguimento médico Eritropoese + anemias ferropriva + ferro Série vermelha: eritropoese - Função das hemácias (eritrócitos): transporte de hemoglobina para perfusão de tecidos e tamponamento sanguíneo (tampão ácido-base). - As hemácias são discos bicôncavos, anucleadas, com volume médio de 90 a 95 micrômetos³. Pode apresentar variações de forma conforme essas células vão se espremendo entre os capilares - Mesmo se alterando consideravelmente, ela quase nunca se rompe, pois, essa célula apresenta excesso de membrana celular quando relacionado com o seu material interno. - Tempo de vida dos eritrócitos: 120 dias - As hemácias tem enzimas que conseguem metabolizar glicose e formar o ATP, além disso, possuem flexibilidade da membrana e capacidade de transporte de íons pela mesma. - Com o tempo elas vão ficando cada vez mais frágeis até que chegam ao ponto de ruptura. Essa ruptura ocorre em pontos estreitos da circulação (geralmente no Baço). - Após a ruptura, a hemoglobina resultante será fagocitada por macrófagos, o Ferro será liberado na circulação e irá ser transportado pela transferrina até a medula óssea ou até o fígado (vira ferritina- armazenamento) e a Porfina será transformada em pigmento biliar (bilirrubina) e será eliminada pela bile. Produção das Hemácias - Primeiras semanas de vida embrionária: as hemácias são nucleadas e produzidas pelo Saco Vitelino. - Segundo trimestre de gestação até 6 a 7 meses de vida fetal: produzidas pelo Fígado, Baço e Linfonodos. - Último mês de gestação e após o nascimento, infância e vida adulta: Medula Óssea (exclusivamente) - Nos 2 primeiros anos de vida, toda a medula óssea produz hemácias, mas durante o resto da infância há substituição progressiva da medula dos ossos longos por gordura, sendo que então a medula hemopoética no adulto é confinada ao esqueleto central e a extremidades proximais do fêmur e úmero. - Em adultos, produção nas vértebras, costelas, crânio, esterno, sacro e pelve, extremidades perto dos fêmures. - A cada dia são produzidos em torno de 10¹² novos eritrócitos (glóbulos vermelhos), por meio de um processo complexo e regulado de maneira precisa pela eritropoese. - A partir da célula tronco, a eritropoese irá passar pelas células progenitoras CFU (unidade formadora de colônias granulocíticas, eritroides, monocíticas e megacariocíticas), BFU (unidade de formação explosiva eritroide) e CFUe (CFU eritroide) até gerar o primeiro percursor: Proeritroblasto. - Proeritroblasto: célula grande, com citoplasma azul- escuro, núcleo central com nucléolo e cromatina. Vai amadurecendo e perdendo RNA. - Na ordem de maturação, teremos: (1) pró-eritroblasto; (2) eritroblasto basofílico; (3) eritroblasto policromatofílico; (4) eritroblasto ortocromático ou “hemácia nucleada”; (5) reticulócito; e (6) hemácia ou eritrócito - Reticulócito: Célula um pouco maior que os eritrócitos, fica de 1 a 2 dias na medula óssea e também circula no sangue periférico durante tempo idêntico antes de amadurecer (principalmente no baço) para que todo RNA seja totalmente catabolizado. Regulação da Eritropoese - Regulada pelo hormônio Eritropoetina. - 90% do hormônio são produzidos pelas células intersticiais peritubulares renais e 10% no fígado e em outros lugares. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - Não há reservas pré-formadas do hormônio, sendo que o que estimula para a produção do mesmo é a TENSÃO DE OXIGÊNIO NOS TECIDOS DOS RINS. - A hipóxia induz fatores que estimulam a produção de eritropoietina. - A produção de eritropoietina irá aumentar em casos de anemia, quando a hemoglobina é incapaz de liberar oxigênio normalmente por algum motivo metabólico ou estrutural. - Também é aumentada quando o oxigênio atmosférico está baixo, quando há disfunção cardíaca, pulmonar ou lesão na circulação renal que afeta a liberação de oxigênio para os rins. - A eritropoietina estimula a eritropoese por aumentar o número de células progenitoras comprometidas com a eritropoese. - Em estados de estímulo eritropoético crônico (DPOC), a proporção de células eritroides na medula óssea aumenta, gerando expansão anatômica da eritropoese na medula gordurosa, e em algumas vezes até em sítios extramedulares. - Em contrapartida, o aumento de fornecimento de oxigênio aos tecidos irá diminuir o estimulo para produção de eritropoietina. - A eritropoietina como fármaco é usado principalmente em tratamento de anemias causadas por nefropatias. É usada via cutânea. Sua principal indicação é a nefropatia em estágio final (com ou sem diálise). - Ferro oral muitas vezes é necessário para maximizar a resposta a eritropoietina. Hemoglobina - Principal função do eritrócito: transporte de oxigênio e retorno de gás carbônico. Para isso, os eritrócitos possuem uma proteína especializada - Hemoglobina. - Cada eritrócito contém, aproximadamente, 640 milhões de hemoglobina. Cada hemoglobina A (normais em adultos) possui 4 cadeias polipeptídicas (α2β2) e seu próprio grupo heme. - O sangue normal do adulto também pode ter pequenas quantidades de outros tipos de hemoglobinas - HbF e HbA². - Cada molécula de heme combina-se com uma cadeia de globina formando um tetrâmero de cadeias de globina, sendo que cada cadeia possui seu próprio núcleo heme. - Grupo heme: Fe²+ - Metemoglobina: é a situação clínica em que a hemoglobina circulante está presente com o ferro na sua forma oxidada (Fe³ - férrico), ñ se liga ao O2, portanto não leva oxigênio para os tecidos. Isso pode acontecer devido a deficiência hereditárias, tanto de enzimas quando da herança de uma hemoglobina estruturalmente anormal- HbM. Eritrócitos - Permite que a hemoglobina passe repetidamente através da microcirculação, mesmo em vasos com diâmetro muito pequenos, além de manter a Hb em sua forma reduzida (ferrosa), mantendo o equilíbrio osmótico apesar de carregar uma grande quantidade de proteína dentro de si (própria Hb). - Sendo assim, essa célula possui formato bicôncavo flexível, com capacidade de gerar energia com ATP pela via anaeróbica e gerar redutores como NADH e NADPH. - Sua membrana compreende dupla camada lipídica, proteínas integrais e um esqueleto de membrana. - 50% do eritrócito é composto de proteína, 20% de fosfolipídios, 20% de colesterol e 10% de carboidratos. - Os defeitos nessas proteínas geram algumas anomalias na forma da membrana dos eritrócitos: esferocitose e eliptocitose. Valores de Referência: Série Vermelha Eritrócitos/Hemácias: eles 4,5-6,5; elas 3,9-5,6 Hemoglobina: eles 13,5-17,5; elas 11,5-15,5 Hematócrito: eles 40-52%; elas 36-48%. 3x valor de Hb VCM: 80-95 HCM: 27-34 CHCM: 30-35 *VCM: Volume Corpuscular Médio *HCM: Hemoglobina Corpuscular Média (peso da Hb na hemácia) *CHCM: Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (concentração de Hb na hemácia). Anemia - Definida como diminuição da [ ] de Hb no sangue em níveis abaixo dos VR para idade e para o sexo. - 1g de Hb equivale a 3% de Ht. - Os valores variam conforme os laboratórios, idade, sexo, nível do mar, mas geralmente são considerados: (1) Homens adultos:< 13,5 g/dL (2) Mulheres adultas: < 11,5 g/dL (3) 2 anos até a puberdade: valores < 11g/dL - Os recém-nascidos possuem níveis maiores de Hb, em torno de 14g/dL, para garantir sua sobrevivência e desenvolvimento no meio intrauterino, que é relativamente pobre em oxigênio. A diminuição da Hb, com o passar da idade, geralmente é acompanhada por baixa contagem de eritrócitos e do hematócrito. - Alterações no volume total do plasma e da massa total de Hb circulante é o que determina a concentração de hemoglobina. (Ex: uma diminuição do volume plasmático- desidratação- podem mascararanemia, e um aumento no volume plasmático- gravidez- pode provocar uma aparente anemia). EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 Aspectos Clínicos da Anemia - As principais adaptações à anemia irão ocorrer no sistema cardiovascular: aumento do débito cardíaco para manter a oxigenação tecidual mesmo com menos O2. - A anemia pode ser assintomática, sintomática leve, sintomática severa. Essa presença ou ausência de sinais clínicos irão ocorrer, basicamente, por 4 fatores principais: (1) Velocidade de instalação de anemia: anemia rapidamente progressiva causa mais sintomas que uma anemia de instalação lenta, porque há menos tempo para adaptação do sistema cardiovascular e da curva de dissociação de oxigênio. (2) Intensidade da anemia: anemia leve geralmente é assintomática. Até mesmo uma anemia severa (Hb em 6g/dL) podem causar sintomas discretos quando a sua instalação for gradual. (3) Idade: Idoso tolera menos a anemia do que o jovem devido a menor quantidade de oxigênio nos órgãos. (4) Curva de dissociação de O2 da hemoglobina: a anemia é acompanhada de aumento de 2,3 DPG nos eritrócitos e de desvio para direita, de modo que o oxigênio é liberado de forma imediata para os tecidos. Sinais e Sintomas - Dispneia, Fraqueza, letargia, Palpitações e Cefaleia. - Em idosos: ICC, angina de peito, claudicação intermitente e confusão mental. - Palidez de mucosa (notada geralmente quando o nível de Hb cai em 9-10 g/dL). A cor da pele NÃO é sinal confiável. - Coiloníquia (unhas em colher) na anemia ferropriva, icterícia na anemia hemolítica e megaloblástica, úlceras de perna na anemia de células falciformes e em outras anemias hemolíticas, deformidade ósseas em talassemias. Classificação da Anemia - Índices Hematimétricos: anemias Microcíticas, Normocíticas e Macrocíticas. - O tipo de anemia pode ser definido de acordo com a contagem de reticulócitos, morfologia de eritrócitos, além da presença ou ausência de alterações nos leucócitos e plaquetas. Diagnóstico geral - Hemograma, contagem de reticulócitos, esfregaço de sangue periférico. - Exame de medula óssea: exame padrão-ouro. Pode ser feita por aspiração ou biópsia com trefina (fornece um núcleo sólido de osso) e é examinado histologicamente. - Dosagem de B12, Ferro, ferritina, bilirrubina, LDH, teste do cortisol, eletroforese de Hb, entre outros, Metabolismo do ferro - O ferro é um dos elementos mais comuns na Terra, porém mesmo assim sua deficiência é a causa mais comum de anemia, e afeta cerca de 500 milhões de pessoas no mundo. - Ferro no homem 50mg/kg e na mulher 35mg/kg. - Muito disso se deve à capacidade limitada de absorção de ferro pelo trato digestivo humano e à frequente perda de ferro por hemorragias. Além disso, em países subdesenvolvidos, a ingesta de ferro parece ser insuficiente desde a infância. Distribuição e Transporte de Ferro - O corpo tem cerca de 4g de ferro, incorporado à hemoglobina nos eritrócitos e à mioglobina nos músculos. O restante tá depositado no fígado e no interior dos macrófagos do sistema mononuclear fagocitário da MO e baço. Pouco ferro é livre ligado à transferrina. - O transporte e o armazenamento de ferro são mediados por 3 proteínas: transferrina, receptor 1 de transferrina e ferritina. - A Transferrina pode carregar até 2 átomos de ferro. Ela conduz e entrega o ferro aos tecidos que tem receptores de transferrina, principalmente os eritroblastos da medula óssea, onde o ferro será incorporado na hemoglobina. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - Quando a hemácia é destruída e fagocitada pelos macrófagos do sistema reticuloendotelial, o ferro será liberado da Hb, entra no plasma e se liga novamente a transferrina. Isso é responsável por quase todo preenchimento de transferrinas disponíveis no plasma. A pequena fração restante de ferro da transferrina plasmática vem da dieta. - Além disso, alguma quantidade de ferro será armazenada nas células reticuloendoteliais na forma de Ferritina e Hemossiderina. Esse armazenamento ocorre em quantidades muito variáveis dependendo da absorção de ferro no organismo. - A diferença entre a Ferritina e a Hemossiderina é que a Ferritina é um complexo hidrossolúvel, enquanto a hemossiderina é um complexo proteico insolúvel. - O ferro, tanto na ferritina quanto na Hemossiderina, está em sua forma férrica. Sendo assim, para fazer parte da hemoglobina, ele será reduzido a sua forma ferrosa (por auxilio da enzima ceruloplasmina). - O ferro também está presente nos músculos como Mioglobina, e na maioria das células do organismo, em enzimas (citocromos, desidrogenases e catalases). - Perdas diárias de ferro (1-2mg/dia): fezes, urina, unhas, cabelo, pele, menstruação (cerca de 3-4 mg). - Absorção diária: dieta (cerca de 1-1,5 mg). - Em mulheres que menstruam, mulheres grávidas, crianças (devido ao crescimento), deve-se repor mais ferro devido essas perdas. 2-5mg/dia Regulação da Síntese de Ferritina e do Receptor 1 de Transferrina - Os níveis séricos de ferritina estão ligados ao status do ferro, de modo que se há sobrecarga de ferro há aumento da ferritina tecidual, enquanto que na deficiência de ferro a ferritina estará baixa. - Quando o ferro plasmático está aumentado e a transferrina está saturada, aumenta a quantidade de ferro transferido às células parenquimatosas do fígado, órgãos endócrinos, pâncreas e coração. Além disso, pode haver certa quantidade de ferro livre no plasma, que será um elemento tóxico a diversos órgãos. Hepcidina - É o regulador hormonal mais importante da homeostasia do ferro, produzido no fígado. Atua sobre absorção intestinal, reciclagem de ferro dos eritrócitos “envelhecidos” e a mobilização daquilo armazenado no fígado. - Afeta todos os sítios de captação e armazenamento do ferro. - Vai inibir a liberação de ferro dos macrófagos e células epiteliais intestinais por sua interação com a ferroportina, que é uma proteína de exportação de ferro transmembrana. Isso promove aceleração da destruição do enterócito por descamação e assim controle de armazenamento de ferro. - Diminui absorção de ferro no TGI, da dieta. - Em condições em que há aumento de eritroblastos primitivos na medula, há supressão da secreção de hepcidina e aumento da absorção de ferro. - Em casos de hipóxia também há supressão da secreção de hepcidina. - Em estados inflamatórios há aumento da síntese de hepcidina e diminuição de absorção de ferro. Ferro na Dieta - O ferro está presente em alimentos como: hidróxidos férricos, complexos férrico-proteicos e complexos heme- proteicos. - Tanto o conteúdo do ferro como a proporção absorvida variam muito de um alimento para o outro. Em geral, as carnes (principalmente fígado) são melhores fontes do que vegetais, ovos e laticínios. - A dieta ocidental diária média contém de 10 a 15 mg de ferro, dos quais apenas 5 - 10% são absorvidos. Essa proporção pode aumentar para 20-30% em casos de deficiência de ferro ou na gravidez. - A parte do ferro que não é absorvida é perdida nas fezes. Absorção de Ferro EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 - Parte do ferro orgânico da dieta é absorvida como heme e parte é transformada em ferro inorgânico no intestino. - A absorção ocorre no duodeno, através do grupamento heme por meio de um receptor, que depois vai ser digerido para liberar ferro. 10-20% - Já a absorção de ferro inorgânico (não-heme 1-5%) é favorecida por fatores como ácidos e agentes redutores que mantêm o ferro na luz do intestino na forma de ferro ferroso e não de ferro férrico. - A proteína DMT-1 (transportador divalente de metal 1) é envolvida na transferência do ferro da luz do intestino pelos microvilos dos enterócitos. - A ferroportina na superfície basolateral controlaa saída de ferro da célula -> plasma da circulação portal. - A quantidade de ferro absorvida é regulada de acordo com as necessidades do organismo por meio de variações nos níveis de DMT-1 e ferroportina. - A regulação do DMT-1 é regulada pelo mecanismo (ligação IRP/IRE) pelo qual aumenta o receptor de transferrina na deficiência de ferro. Já quanto a ferroportina, é regulada pela hepcidina. - O baixo nível de hepcidina na deficiência de ferro, favorece níveis altos de ferroportina, fazendo com que mais ferro entre no plasma. - A ferrirredutase - enzima presente na superfície apical dos enterócitos - converte ferro férrico em ferroso. E uma outra enzima - Hefestina ou Ferrioxidase - converte o ferroso em férrico para que este se ligue à transferrina. - A quantidade necessária de ferro para compensar as perdas do organismo irá variar de acordo com a idade e sexo. Ela será máxima na gravidez, na adolescência e nas mulheres que menstruam. Anemia Ferropriva - A deficiência de ferro é a causa mais comum de anemia em todos os países do mundo. Taxas elevadas nos países em desenvolvimento onde a carência alimentar e as parasitoses intestinais são prevalentes. - Porém, na deficiência de ferro só ocorre anemia quando já há depleção completa dos depósitos reticuloendoteliais de hemossiderina e ferritina. Não tenho mais ferro. Causas da deficiência de ferro/Fisiopatologia - Desequilíbrio entre o ferro corporal que produz hemoglobina e as quantidades mínimas necessárias para manter essa produção normal. - Países desenvolvidos: perda crônica de sangue (principalmente no TGI), sendo que a deficiência dietética raramente é causa única ou predominante. - Há um aumento das necessidades nos lactentes, na adolescência, na gravidez, na lactação, em mulheres que menstruam. Sendo esses os grupos de maior risco para anemia. - Na gravidez, há maior necessidade de ferro pela transferência de 300 mg de ferro para o feto e pela perda de sangue no parto. Nesses casos, quase sempre há necessidade de tratamento com ferro se a Hb cair abaixo de 10 dg/dL ou se o VCM for menor que 82 fL. - Menorragia (perda menstrual de mais de 80mL de sangue em cada ciclo). - São necessários cerca de 8 anos para um homem normal adulto desenvolver anemia ferropênica somente como resultado de dieta pobre ou defeito absortivo. Ex.: doença celíaca. - A enteropatia induzida por glúten, a gastrectomia parcial ou total (inclusive cirurgia bariátrica) e gastrite atrófica podem predispor à deficiência de ferro. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Porém, em países subdesenvolvidos pode ocorrer deficiência de ferro como resultado de dieta pobre, além das verminoses agravarem a deficiência de ferro. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Por existir mecanismos compensatórios, geralmente é assintomático. - Sintomas gerais de anemia: glossite indolor, queilose angular (fissura e ulcerações no canto da boca), unhas quebradiças - Manifestações de ferropenia: unha em colher (coiloníquia), Sd. de Plummer-Vision ou Paterson-Kelly (membrana esofagiana superior, cursando com disfagia (alimento entala) e perversão do apetite (pica). - Em crianças: irritabilidade, má função cognitiva e diminuição no desenvolvimento psicomotor, infecções. - Pica é uma clínica EXCLUSIVA da deficiência de ferro. ACHADOS LABORATORIAIS - 1ª Fase: Fase do balanço negativo de ferro: depleção sem anemia. - Diminuição de ferritina (estoque tá esgotando) 1ª a se alterar. - 2ª Fase: Eritropoese deficiente: anemia normo-normo - Ferritina zerada - Diminuição do ferro sérico (pouco, mas ainda tem) - Aumento de TIBIC (medida da [ ] de transferrina) - 3ª Fase: Anemia hipo-micro ou propriamente dita. - Eritrócitos hipocrômicos e microcíticos - Ferro sérico baixo, ferritina zerada, TIBIC alto. - RDW aumentado - Poiloquilocitose (hemácias com diferentes formatos, pois tudo que produz ela libera). Células em alvo. - VCM e o HCM estão diminuídos. Reticulócitos baixos. - Contagem de plaquetas levemente aumentada. - Ferritina sérica: Depósito de ferro nos tecidos, principalmente no reticuloendotelial. Nessa anemia a ferritina sérica está muito baixa. - Ferro Sérico: Ferro sérico cai e a capacidade ferropênica total (incapacidade total de ligação do ferro) aumenta. A ausência de reserva de ferro é exclusivo dessa anemia. - Biópsia de Medula óssea: Indicado apenas em casos complexos. Nessa anemia, há ausência de ferro depositado nos macrófagos e também nos eritroblastos em desenvolvimento. Os eritroblastos são pequenos e com falha no citoplasma. - Quando a deficiência de ferro for associada a deficiência de folato ou vitamina B12, surge aspecto dismórfico, com dupla população de eritrócitos (uma macrocítica e outra microcítica). Pode aparecer em pctes com anemia ferropriva que estão recentemente sendo tratados com ferro ou que recebeu transfusão sanguínea. Investigação da causa de deficiência de ferro - Muito importante para o tratamento, pois deve-se sempre tratar antes a doença desencadeante da anemia ferropriva, pois esta é uma consequência e não uma causa. - Em mulheres as causas mais comuns são: menorragias e/ou gestações repetidas. - Em mulheres e em homens: perda gastrintestinal de sangue. Se a perda de sangue gastrintestinal for excluída deve-se considerar perda de sangue na urina- hematúria ou hemossiderinúria. Diagnóstico diferencial - Anemia de Doença Crônica: aumenta ferritina e diminuição de TIBIC. - Talassemia: reticulocitose, RDW normal - Saturnismo - Anemia sideroblástica TRATAMENTO (1) Tratar causa de base. (2) Repor Ferro - Via oral: Sulfato Ferroso. Deve ser ingerido com o estômago vazio a intervalos de pelo menos 6 horas. Pode haver efeitos colaterais (náuseas, dor abdominal, constipação ou diarreia). Pode ser administrado com EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 sucos ácidos (laranja, abacaxi) para aumentar sua absorção. - Esse tratamento deve ser mantido durante período suficiente para corrigir a anemia e repor os depósitos de ferro (no mínimo 3-6 meses). - A falta de resposta ao ferro pode ser por várias razões e todas devem ser analisadas antes de prescrever ferro parenteral. Algumas dessas razões são: hemorragia persistente, diagnóstico errado, falta de ingestão das drágeas, má absorção (doença celíaca, gastrite atrófica) etc. - Via parenteral: Dose calculada de acordo com o grau de anemia: Hidroxisucrose férrica e Ferrodextran (infusão longa). A resposta hematológica ao ferro por parenteral NÃO é mais rápida que a resposta à dosagem adequada de ferro por via oral, mas os depósitos são refeitos com mais rapidez. - Ferro IV: (15 – Hb) x peso x 2,3. Colocar mais 1g pra repor estoque. - Em casos de anemia ferropriva refratária ao ferro (raríssimos casos), que ocorre devido mutações dos genes da DMT-1, são tratados com ferro IV e nunca com ferro oral. Anemia de Doença Crônica - Causas: Doenças inflamatórias crônicas infecciosas (tuberculose, pneumonia, endocardite bacteriana) e não infecciosa (artrite reumatoide, lúpus, sarcoidose, doença de Crohn, doença de Gaucher), e doenças malignas (carcinoma, sarcoma, linfoma). - Essa patologia ocorre devido a diminuição de liberação de ferro dos macrófagos ao plasma devido aumento dos níveis séricos de hepcidina, por diminuição da sobrevida eritrocitária e por resposta eritropoetínica inadequada à anemia. - Para essas doenças, há alguns aspectos característicos: Anemia leve e progressiva (a gravidade está relacionada com a gravidade da doença), ferro sérico e TIBC diminuídos, ferritina sérica normal ou alta, depósitos normais de ferro na medula óssea, mas ferro nos eritroblastos diminuído. - Anemia é corrigida apenas com o sucesso do tratamento da causa de base eNÃO responde ao tratamento com ferro. - Injeções de eritropoietina melhoram o quadro. Sulfato Ferroso - O tratamento ou a prevenção da anemia ferropriva é a ÚNICA indicação clínica para o uso de preparações de ferro. - Geralmente são indicados para lactentes, crianças com período rápido de crescimento, mulheres grávidas e em fase de lactação, pctes com doença renal crônica que perdem eritrócitos durante a hemodiálise e pctes com absorção inadequada de ferro após gastrectomia e má absorção generalizada. - Dose média em cerca de 200 mg/dia administrados em 3 doses iguais de 65 mg. - O tratamento deve ser mantido durante 3 a 6 meses após a correção da causa da perda desse mineral. - Indicação de ingestão do fármaco de 1 a 2 horas antes das refeições e indicação de ingerir junto com sucos cítricos e nunca com leite ou derivados. - Efeitos colaterais: náuseas, desconforto epigástrico, cólica abdominais, constipação intestinal e diarreia. Em geral esses efeitos estão relacionados com a dose, podendo ser superados com a redução da dose diária de ferro ou a ingestão dos comprimidos durantes as refeições ou imediatamente depois. - Promove evacuação de fezes enegrecidas. - Antiácidos diminuem sua absorção. - Intoxicação por ferro: sais ferrosos em grandes quantidades são tóxicos, porém os casos fatais são raros em adultos, sendo que a maioria das mortes ocorre em crianças. - Sinais e sintomas de envenamento: dor abdominal, diarreia, vômito do conteúdo gástrico marrom e sanguinolento contendo pílulas. Além de palidez, cianose, cansaço, sonolência, hiperventilação devido a acidose. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8
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