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Marco conceitual e metodológico dos fatores humanos Segurança operacional na atividade aérea é a situação em que o risco de lesões de pessoas ou danos materiais se mantêm em um nível aceitável ou abaixo, por meio de um ciclo de gerenciamento de perigos e riscos. Isto significa que, neste ambiente, não existe a possibilidade de operação 100% segura ou livre de falhas humanas. Desta forma, estudar os fatores de risco envolvidos no nosso ambiente de trabalho é fundamental para prevenção de ocorrências indesejadas. Afinal, conceitualmente, o que são fatores humanos? De forma geral, fator humano é definido como uma propriedade física ou cognitiva de um indivíduo ou um comportamento sociocultural capaz de influenciar o resultado da atividade do homem em um sistema técnico em um determinado ambiente. MODELOS DE ANÁLISE DOS FATORES HUMANOS No intuito de compreender os processos que resultam em um acidente aeronáutico, a ICAO (2013) recomendou a utilização de dois modelos para análises de fatores humanos na aviação, sendo eles o Modelo SHELL e o modelo do queijo suíço. Na década de 1970, o Modelo SHELL foi desenvolvido pelo cientista Edwards (1972) e modificado pelo cientista Hawkins (1975), um acrônimo que significa: S – Software: suporte logístico ou procedimentos; H – Hardware: máquina; E – Enviroment: ambiente; L – Liveware: elemento humano; Figura 2. Modelo SHELL. Fonte: HAWKINS, 1975. (Adaptado). O desenho do Modelo SHELL posiciona o L como o elemento central do sistema, e as interfaces S; H; E são diretamente vinculadas a ele, representando que estes demais elementos devem se moldar em relação ao elemento humano. E para que se possa evitar os erros humanos, os blocos devem estar perfeitamente alinhados e encaixados entre si. A sua análise se inicia a partir do elemento central, considerando necessidades físicas, ambientais, quantidade e características de estímulos, capacidade de percepção, processamento da informação, processo decisório e ações desejadas. Em seguida, se analisa cada interface entre uma dupla de elementos, sendo elas: (L – H) Elemento humano-máquina Esta interface está relacionada com os ajustes que facilitam o processo de trabalho em conjunto entre a máquina e o homem. Como os botões ou alavancas na cabine de comando, que podem predispor a erros caso estejam localizadas inadequadamente. De acordo com a ICAO (2013), esta interface propicia muitos erros, devido à característica natural de adaptação do homem, a qual o leva a se acomodar com as deficiências do equipamento, o que se constitui como um perigo em potencial. (L – S) Elemento humano-software Esta interface envolve o ser humano e sua relação com os aspectos não físicos do sistema, como procedimentos ou manuais mal escritos, situações problemáticas, informações dúbias, mapas de interpretação confusa ou simbologia pouco clara. (H – E) Elemento humano-ambiente Esta interface representa a adaptação e a tolerância do ser humano no ambiente aeronáutico, desde medidas com relação a trajes, sistema de pressurização ou ar condicionado, como também referente ao conceito de ambiente de trabalho considerando seus aspectos organizacionais. (L – L) Elemento humano-humano Esta interface avalia as relações interpessoais na equipe de trabalho, considerando aspectos como comunicação, liderança, cooperação, personalidade e culturas de grupos de trabalho. Outro modelo importante é conhecido como modelo do queijo suíço, uma teoria sobre a origem do erro humano proposta por James Reason (2003), descrevendo os quatro níveis da falha humana, onde cada um influencia o seguinte. Através de uma retrospectiva a partir da ocorrência de um acidente, o primeiro nível descrito por Reason, considerado como uma falha ativa, identifica os atos inseguros dos operadores que tiveram relação com o acidente, enquanto os outros três são considerados falhas latentes, que fazem parte da sequência causal de acontecimentos. Assim, o acidente é causado por múltiplos fatores contribuintes que se alinham através de uma cadeia de eventos, permitindo uma “trajetória oportuna”. Figura 3. Modelo do queijo suíço. Fonte: REASON, 2003. CONTEXTUALIZANDO Falhas ativas ou fatos inseguros com efeito imediato são geralmente cometidos por operadores em contato direto com o sistema, sendo eles pilotos, controladores, mecânicos de manutenção etc. Falhas latentes são elementos residentes no sistema que permitem erros ativos ou inviabilizam barreiras defensivas. Estão ligadas a decisões equivocadas ou falhar cometidas por profissionais afastados da linha de frente como engenheiros, fabricantes ou gerentes das organizações. Barreiras defensivas são medidas de prevenção ou proteção inseridas no processo de trabalho para evitar as falhas ou minimizar suas consequências. O modelo gráfico escolhido por Reason apresenta o desenho de um queijo suíço, que representa o alinhamento de condições que culminam em um evento adverso ou acidente, que é denominado pelo autor como “trajetória de oportunidade”. Em outras palavras, as falhas ativas ocasionam acidentes quando alinhadas aos “buracos” nas camadas de defesa. As falhas latentes são janelas alinhadas, presentes nas defesas. E as barreiras são elementos de proteção e de bloqueio das trajetórias de oportunidades dos acidentes. Reason (2003) também ressalta que as falhas humanas representam a maior ameaça aos sistemas complexos, pois é imprevisível e impossível de realizar um controle efetivo.
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