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DEFINIÇÃO Apresentação do modelo de fatores específicos de comércio internacional, das questões distributivas associadas ao comércio internacional e das relações entre essas questões e a economia política do comércio internacional. PROPÓSITO Debater as implicações distributivas de diferentes estruturas econômicas e comerciais. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar o modelo de fatores específicos MÓDULO 2 Definir o emprego do modelo de fatores específicos na explicação das questões distributivas e de economia política do comércio internacional INTRODUÇÃO Neste tema, apontaremos as consequências distributivas do comércio internacional e analisaremos atentamente as teorias da economia política. Esse estudo é extremamente importante, já que alguns líderes ao redor do mundo adotam medidas econômicas que podem estimular ou frear este tipo de comércio em seus países. Fonte: MNBB Studio / Shutterstock PARA APROFUNDARMOS NOSSA DISCUSSÃO, ADICIONAREMOS NOVOS FATORES ÀS TEORIAS CLÁSSICAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL, COMO OS CUSTOS DE MOBILIDADE E A ESPECIFICIDADE DE ATIVOS. APRESENTAREMOS, NO PRIMEIRO MÓDULO, O MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS. JÁ NO MÓDULO SEGUINTE, TRAREMOS AS APLICAÇÕES DESSE MODELO, ENTENDENDO SUAS PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS. Com isso, traçaremos o panorama no qual o comércio internacional afeta a redistribuição de renda, identificando os atores, a depender da realidade de cada país, mais beneficiados e afetados nesse processo. MÓDULO 1 Identificar o modelo de fatores específicos APRESENTAÇÃO DO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Neste vídeo, analisaremos uma abordagem sobre as consequências distributivas do comércio internacional e o modelo de fatores específicos. OS DETALHES DO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Para ilustrarmos a abordagem do modelo de fatores específicos, imaginemos que estejam disponíveis para fabricação três fatores de produção em todo o mundo: capital, trabalho e terra. Os bens produzidos nessa economia são os tecidos e os alimentos. A produção de tecidos requer trabalho e capital; já a de alimentos, trabalho e terra. Nesse sentido, o trabalho é o fator de produção móvel entre setores, enquanto a terra e o capital constituem fatores específicos. Afinal, ambos só podem ser empregados na produção de bens individuais. ESSAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO PODEM SER TRADUZIDAS EM TERMOS DE FUNÇÕES DE PRODUÇÃO: APONTA A QUANTIDADE PRODUZIDA DE TECIDOS A PARTIR DA QUANTIDADE TANTO DE TRABALHO EMPREGADA NESTE SETOR QUANTO DE CAPITAL . JÁ INDICA A DE ALIMENTOS A PARTIR DA QUANTIDADE DE TRABALHO UTILIZADA TANTO NESTE SETOR QUANTO NO DE TERRAS . , POR SUA VEZ, SE TRATA DA MÃO DE OBRA TOTAL DISPONÍVEL. QT (LT ) (K) QA (LA) (S) L O conjunto de equações a seguir descreve a produção dos dois bens na nossa economia: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A principal questão que nosso modelo precisa responder é a seguinte: como a estrutura de produção da economia muda quando a mão de obra se desloca de um setor para outro? Para isso, precisamos relembrar algumas das propriedades básicas das funções de produção. Primeiramente, sabemos que as funções de produção são crescentes nos fatores de produção: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em segundo lugar, podemos ver que a produtividade marginal dos insumos é decrescente: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em terceiro, vemos que a produtividade marginal cruzada é positiva: QT = QT (K, LT ) QA = QA(S, LA) L = LT + LA > 0, > 0, > 0, > 0. ∂QT ∂K ∂QT ∂LT ∂QA ∂S ∂QA ∂LA < 0, < 0, < 0, < 0. ∂2QT ∂K2 ∂2QT ∂LT 2 ∂2QA ∂S2 ∂2QA ∂LA 2 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Visualmente, a produção de tecidos e de alimentos pode ser representada por estes gráficos: Fonte: O autor Ambos nos permitem ver que o aumento na quantidade do insumo (mão de obra) gera um incremento na produção de tecidos. Contudo, quanto maior for o nível inicial de mão de obra, menor será a capacidade de novos aumentos dela para que o nível total de produção do bem possa ser elevado. PODENDO SER VISTO TANTO PELA PRODUTIVIDADE MARGINAL DECRESCENTE QUANTO PELA CONCAVIDADE DA FUNÇÃO DE PRODUÇÃO, ESSE FENÔMENO RECEBE O NOME DE RENDIMENTOS DECRESCENTES DE ESCALA. Para entendermos como os aumentos na produção de um bem podem afetar a capacidade dela em outro, teremos de construir uma fronteira de possibilidades de produção. Com isso, será necessário atribuir formas funcionais específicas para cada uma das funções de produção e das restrições da nossa economia. > 0, > 0. ∂2QT ∂K∂LT ∂2QA ∂S∂LA Digamos que a economia tenha somente 10 trabalhadores a serem divididos entre os dois setores. Desse modo, a restrição geral de trabalho passa a ser representada pela equação a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Supondo que a função de produção de ambos seja do tipo Cobb-Douglas, com coeficientes de produção igual a 0,50, obtemos as seguintes equações: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A fronteira de possibilidades de produção é uma equação que relaciona a quantidade produzida com a produzida , levando em consideração a restrição de recursos disponível na economia. Como sabemos que , podemos substituir na função de produção , obtendo esta equação: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Pela equação de produção de alimentos, sabemos que e, portanto, . Substituindo essa identidade na equação anterior, obtemos a seguinte equação: 10 = LT + LA QT = K0,5L 0,5 T QA = S 0,5L 0,5 A QT QA LT = 10 − LA LT QT QT = K0,5(10 − LA) 0,5 Q2 A = SLA LA = Q2 A S Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Esta, portanto, é a equação da fronteira de possibilidades de produção de tecido e alimentos da nossa economia. Para e , a fronteira está representada neste gráfico: Fonte: O autor Fonte: Travel mania / Shutterstock A fronteira de possibilidades de produção neste modelo é côncava. Com um único fator de produção, o custo de oportunidade da produção de um bem em termos de outro era constante, QT = K0,5(10 − ) 0,5Q2 A S K = 4 S = 2 sendo a FPP, portanto, uma linha reta. Agora, porém, ele cresce conforme sua produção aumenta. O crescimento do custo de oportunidade de produção deriva dos rendimentos decrescentes à escala. Afinal, para aumentar a produção de um bem em uma unidade, é preciso elevar o seu fator de produção (no caso, trabalho) numa quantidade igual ao inverso da sua produtividade marginal. Como a produtividade marginal do trabalho é decrescente, o inverso da produtividade deve ser crescente. Nesse sentido, é necessário cada vez mais trabalho para aumentar a quantidade produzida do bem em uma unidade. Precisar de mais trabalho para aumentar a produção de um setor prejudica a do outro - em particular, as produtividades marginais do trabalho das formas funcionais especificadas no nosso exemplo. Elas estão representadas nas equações a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Após algumas manipulações, a razão entre essas produtividades marginais pode ser expressa segundo a equação descrita: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal = L −0,5 T ∂QT ∂LT = 0, 5√2(L−0,5 A )∂QA ∂LA = ∂QT ∂LT ∂QA ∂LA QA (10− ) 0,5 Q 2 A 2 Vale destacar que esse valor é exatamente o oposto da inclinação da nossa fronteira de possibilidades de produção indicada a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Feita a discussão sobre a estrutura produtiva da economia e a fronteira de possibilidades de produção, resta saber como preços, salários e alocação de mão de obra são determinados por este modelo. ATENÇÃO A primeira suposição importantepara determiná-los é a de que os mercados são todos competitivos. Nesse sentido, o salário pago pelas economias se trata de uma função do produto marginal do trabalho de cada setor e do preço de cada produto produzido. Como a mão de obra pode se deslocar livremente entre os setores, o salário de cada um deles deve ser o mesmo. Afinal, qualquer diferencial entre os salários automaticamente direcionaria todo o contingente de trabalhadores para o setor que oferecesse melhores rendimentos. Esse movimento já seria o suficiente para fazer com que se igualasse o salário dos setores. Apesar dessa igualdade, tanto o preço das mercadorias quanto a produtividade marginal do trabalho podem diferir na produção de cada um dos dois tipos de bem. Consequentemente, são válidas as equações indicadas a seguir em que é o nível de salário; , o preço do produto; e , a produtividade marginal do trabalho no setor . = − ∂QT ∂QA QA (10− ) 0,5 Q 2 A 2 w Pi i PMTi i PMTAPA = w Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Tomando os níveis de preço como dados, a relação que tínhamos estabelecido entre o nível de trabalho em cada setor e a sua produtividade marginal do trabalho se traduz, naturalmente, em uma entre o nível de trabalho alocado em cada setor e o produto entre a produtividade marginal do trabalho e o nível de preços do bem produzido. As duas equações acima estão verificadas na equação a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Usando o nosso exemplo, a equação anterior equivale à próxima equação. Como sabemos que , ela pode ser facilmente resolvida: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Vale destacar, contudo, que o ponto de solução do nosso problema é aquele em que vale a identidade colocada a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Como discutimos há pouco, o que existe no lado esquerdo da equação anterior é a inclinação da fronteira de possibilidades de produção da nossa economia. Portanto, graficamente se sabe que o ponto de solução que determina o equilíbrio de mercado é aquele no qual a derivada da PMTT PT = w PMTAPA = PMTT PT 10 = LT + LA PT L −0,5 T = PT 0, 5√2(L −0,5 A ) − = −PMTT PMTA PA PT fronteira de possibilidades de produção indica justamente a razão de preços relativos entre os bens representados. NO NOSSO EXEMPLO, TEMOS, COM UM PREÇO RELATIVO DE 0,71, UMA PRODUÇÃO DE 2,00 UNIDADES DE ALIMENTOS E 5,66 DE TECIDOS. O PONTO DE EQUILÍBRIO ESTÁ REPRESENTADO NO GRÁFICO A SEGUIR: ELE É A INTERSECÇÃO ENTRE A RETA QUE TEM POR INCLINAÇÃO O OPOSTO DO PREÇO RELATIVO (-0,71), TANGENCIANDO, AO MESMO TEMPO, A FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO. Fonte: Travel mania / Shutterstock A solução do modelo indica que as alterações de preço proporcionais ocorridas nos dois bens não alteram o equilíbrio de mercado. Por exemplo, uma taxa de inflação (aumento de preços) que incida de forma homogênea sobre os diferentes produtos não deveria causar nenhum tipo de mudança na alocação de recursos entre os setores da atividade econômica. Evidentemente, mudanças em preços relativos terão consequência na alocação de recursos e na quantidade de trabalhadores em cada setor. No nosso caso, se ocorre um aumento do preço relativo do bem A para 1,00, as quantidades produzidas são afetadas. Se antes o equilíbrio se dava sobre a linha vermelha, agora ele ocorre sobre a verde, o que implica um aumento da quantidade produzida de alimentos e uma diminuição na de tecidos. Fonte: Travel mania / Shutterstock A produção de alimentos sai de 2,00 para 2,56, enquanto a de tecidos cai de 5,66 para 5,18. Como é esperado, os aumentos no preço relativo de alimentos tendem a deslocar recursos da economia, retirando os recursos da produção de tecidos e aumentando os disponíveis para a de alimentos. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. IDENTIFIQUE A AFIRMAÇÃO QUE RETRATA DA MELHOR FORMA AS LIMITAÇÕES DO MODELO RICARDIANO. A) As vantagens comparativas não são capazes de explicar o comércio entre os países. B) O modelo ricardiano é ideal para o entendimento das questões distributivas do comércio, enquanto o de fatores específicos se mostra o mais adequado para a compreensão do nível de comércio entre os países. C) A ausência de custos de ajustamento e fatores específicos no modelo ricardiano impede a compreensão dos efeitos do comércio sobre a remuneração dos diferentes insumos produtivos. D) Enquanto as vantagens comparativas explicam o padrão de comércio entre países, as absolutas determinam os efeitos distributivos dele em cada país. 2. UM PAÍS PRODUTOR DE QUEIJO (Q) E VINHO (V) TEM SUAS FUNÇÕES DE PRODUÇÃO INDICADAS A SEGUIR: CONSIDERANDO K=8, S=8 E A DOTAÇÃO TOTAL DE TRABALHO NA ECONOMIA IGUAL A 81, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A) A fronteira de possibilidades de produção dessa economia é dada por: . B) A fronteira de possibilidades de produção dessa economia é dada por: . C) A fronteira de possibilidades de produção desta economia é dada por: . QV = K LV 1 3 2 3 QQ = S LQ 1 3 2 3 2[10 − ]QQ 3 2 √8 2 3 4[10 − ]QQ 3 2 √8 2 3 2[8 − ]QQ 3 2 √10 2 3 D) A fronteira de possibilidades de produção desta economia é dada por: . GABARITO 1. Identifique a afirmação que retrata da melhor forma as limitações do modelo ricardiano. A alternativa "C " está correta. O modelo ricardiano não considera custos de ajustamento ou fatores específicos. Dessa forma, ele não permite a realização de uma análise do impacto do comércio sobre a distribuição de renda. 2. Um país produtor de queijo (Q) e vinho (V) tem suas funções de produção indicadas a seguir: Considerando K=8, S=8 e a dotação total de trabalho na economia igual a 81, marque a alternativa correta. A alternativa "A " está correta. Para a solução deste exercício, basta construir a fronteira de possibilidades de produção obtendo como função exclusiva e , como derivado. MÓDULO 2 4[8 − ]QQ 3 2 √10 2 3 QV = K LV 1 3 2 3 QQ = S LQ 1 3 2 3 QV QQ Definir o emprego do modelo de fatores específicos na explicação das questões distributivas e de economia política do comércio internacional COMÉRCIO INTERNACIONAL NO MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS Até agora, discutimos como se constrói um arcabouço analítico que nos permita determinar todo o lado da oferta de uma economia que esteja sob o modelo de fatores específicos. Neste módulo, debateremos de que forma se pode aplicar esse ferramental para entender como uma economia sujeita ao modelo de fatores específicos se comportaria na realidade do comércio internacional. Fonte: Travel mania / Shutterstock Para que a possibilidade de comércio internacional tenha repercussões concretas sobre a economia doméstica, é essencial que ele consiga afetar os preços relativos aos quais ela está sujeita. CONSIDEREMOS, PORTANTO, QUE OS PREÇOS RELATIVOS DA NOSSA ECONOMIA TENHAM SIDO DETERMINADOS, NA SITUAÇÃO DE AUTARQUIA, POR UM EQUILÍBRIO ENTRE AS CURVAS DE OFERTA E DEMANDA RELATIVA PARA O PAÍS DOMÉSTICO. Tais curvas podem ser representadas graficamente na figura a seguir. Percebe-se que o equilíbrio entre elas ocorre quando a quantidade relativa entre os dois bens é 13,47 e o preço relativo entre eles, 59,44. Fonte: O autor Ao incluir o mundo nas nossas análises, o gráfico anterior, como está indicado a seguir, assume outra forma: Fonte: O autor A comparação entre os dois gráficos mostra como o equilíbrio com o comércio internacional possui um nível de preço relativo bem maior e uma quantidade relativa de equilíbrio só levemente superior àquela que vigorava no mercado doméstico antes da abertura. Consequentemente, pela análise feita no final do módulo anterior, verifica-se que o aumento dos preços relativos tenderá a deslocar a produção da economia doméstica rumo a uma que seja mais concentrada nos produtos com o maior valoragregado. GANHADORES E PERDEDORES NO COMÉRCIO INTERNACIONAL Fonte: Travel mania / Shutterstock Agora resta a pergunta crucial: quem são os ganhadores e os perdedores com uma abertura comercial? Para respondermos a isso, retornaremos ao exemplo do módulo anterior sobre a produção de tecidos (T) e alimentos (A): Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Também voltaremos à identidade, expressa na equação a seguir, apontando que o salário deve ser igual nos dois setores: QT = K 0,5L 0,5 T QA = S 0,5L 0,5 A 10 = LT + LA PT PMTT = PAPMTA Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Considerando o preço do tecido como 2 e o do alimento como 4, a solução dessa identidade está graficamente representada a seguir. O equilíbrio ocorre com uma quantidade de trabalho no setor de tecidos de 3,33 e com um salário de 1,095. Suponhamos que o preço do tecido suba de 2 para 4. Neste caso, a solução do equilíbrio deixa de ser o encontro da linha azul com a vermelha para ser o das linhas vermelha e verde. NO NOVO EQUILÍBRIO, A QUANTIDADE DE TRABALHO ALOCADA PARA A PRODUÇÃO DE TECIDOS PASSA PARA 6,66. ALÉM DISSO, O SALÁRIO AUMENTA DE 1,095 PARA 1,549. PORTANTO, DE UM EQUILÍBRIO PARA OUTRO, OS SALÁRIOS FORAM ELEVADOS EM 41,5%. ATENÇÃO Vale destacar, contudo, que essa elevação de salários é nominal. Para o cálculo dos ganhos reais, precisamos comparar a evolução nominal deles com a dos preços da economia. Na comparação com o preço dos alimentos, os trabalhadores estão em uma melhor situação, pois o seu poder de compra de alimentos aumentou 41,5%. No entanto, quando comparamos os ganhos salariais com a evolução dos preços dos tecidos, encontramos uma situação diferente: como os preços de tecido dobraram, os trabalhadores tiveram uma perda real de 29% no poder de compra desse bem. ESSE CONJUNTO DE EFEITOS INDICA QUE O IMPACTO DA ALTERAÇÃO DE PREÇOS SOBRE O BEM-ESTAR DOS TRABALHADORES É AMBÍGUO, DEPENDENDO, DESSE MODO, DE SUA CESTA DE CONSUMO. SE ELA TIVER MAIS TECIDOS QUE ALIMENTOS, É PROVÁVEL QUE A MUDANÇA DE PREÇOS RELATIVOS OS DEIXE MAIS POBRES, JÁ QUE ELES TERÃO UMA CAPACIDADE MENOR DE ADQUIRIR OS BENS QUE COMPÕEM A SUA CESTA. No entanto, se ela contar com mais alimentos que tecidos, eles certamente estarão em condições melhores após o choque. A remuneração dos demais fatores (capital e terra ou r e b) também segue a produtividade marginal. Podemos escrevê-las na forma de equações: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal No nosso exemplo, são válidas as equações a seguir: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Logo, percebe-se que a redução na produtividade marginal do trabalho no setor — que teve um aumento de preço relativo causado pelo incremento da quantidade de trabalho deslocada para ele — aumenta o produto marginal dos fatores específicos. Como resultado, o fator específico que teve seu preço elevado tem um ganho mais que proporcional em relação ao aumento do preço do bem final. Como conclusão, vemos que não somente o valor do produto marginal aumenta, mas também o da produtividade marginal. Esse aumento nominal também se traduz em uma elevação em termos reais independentemente da base de comparação utilizada. Se compararmos com o preço do bem que teve seu preço inalterado, ele será claramente um aumento real da mesma magnitude. Caso façamos isso com o que teve seu preço elevado, o aumento real será a medida exata do aumento do produto marginal do fator específico. Da mesma forma, o aumento na produtividade marginal do trabalho no setor que manteve seu preço constante – causado pela diminuição da quantidade de trabalho alocada nele – diminui o produto marginal dos fatores específicos. r = PT e b = PA ∂QT ∂K ∂QA ∂S = e = ∂QT ∂K 0,25 PMTT ∂QA ∂S 0,25 PMTA Fonte: Jamesteohart / Shutterstock Consequentemente, o fator específico do bem cujo preço ficou estável tem uma perda nominal de valor, pois o seu produto marginal diminuiu. Essa perda se traduz em perda real mesmo quando é feita a comparação entre o rendimento deste fator e o do bem que tal fator produz. Afinal, o preço do bem final ficou inalterado, enquanto o rendimento nominal do fator de produção caiu. Se a base de comparação for a do produto que teve seu preço final majorado, a perda em termos reais ficará ainda mais intensa. Genericamente, podemos usar a expressão empregada por Krugman e demais autores (2015): “o comércio beneficia o fator específico para o setor de exportação de cada país, mas prejudica o fator específico para os setores que concorrem com a importação, com efeitos ambíguos sobre os fatores móveis.”. Em uma política econômica na qual há ganhadores e perdedores, é difícil defender, de forma inequívoca, se as políticas melhoram ou pioram o bem-estar. Afinal, para isso, seria necessário estabelecer funções de utilidade agregadas tipicamente controversas. ANÁLISE DE EXCEDENTE Contudo, ainda podemos analisar o problema de mensuração dos efeitos do comércio sobre o bem-estar. Para isso, somaremos os ganhos e as perdas de excedente econômico dos diferentes grupos envolvidos no processo. O objetivo dessa soma não é comparar ganhos de um e perdas de outros, e sim verificar a existência de um espaço de trocas capaz de beneficiar todos os envolvidos simultaneamente. Em outras palavras, caso a soma de ganhos e perdas seja positiva, isso significa que existe a possibilidade de os beneficiados pela política comercial transferirem parte de seus ganhos aos prejudicados. Por meio dessa transferência, caso o excedente agregado seja positivo, será possível fazer com que aqueles que seriam prejudicados pela política não piorem (ou ganhem) e, ao mesmo tempo, que os beneficiados por ela melhorem a sua situação. EM OUTRAS PALAVRAS, A SOMA DOS EXCEDENTES INDICA SE EXISTE ALGUM TIPO DE POLÍTICA COMPENSATÓRIA QUE PODERIA SER DESENHADA A FIM DE QUE A POLÍTICA COMERCIAL CAUSASSE UMA MELHORA DE PARETO NA SOCIEDADE. PARA FAZER ESSA ANÁLISE, DEVEMOS INCLUIR UM NOVO CONCEITO EM NOSSO FERRAMENTAL ECONÔMICO: A RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA. Em uma economia fechada, tanto a quantidade produzida quanto a consumida de cada bem deveriam ser iguais, por definição, em todos os instantes do tempo. A demanda por tecidos precisa ser a mesma da produção deles , enquanto a demanda por alimentos deve ser igual à sua produção . Contudo, na economia aberta, é possível que essas quantidades sejam diferentes. Afinal, uma economia pode exportar ou importar bens. Vale ressaltar, no entanto, que o valor gasto com o consumo de bens por um país não pode superar o obtido por ele com a sua produção. Neste caso, vale a seguinte restrição orçamentária: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal Em termos de preços relativos, a equação acima pode ser reescrita na forma desta equação: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal A equação anterior nos permite inferir que a importação de tecidos da economia está limitada pelo ganho com a exportação de alimentos, controlando o preço relativo entre um bem e outro. Notemos que, na restrição orçamentária, implica . Além disso, observemos que a inclinação de , na restrição orçamentária, é . Essa inclinação, por sua vez, é a da reta tangente à fronteira de possibilidades produtivas que indica o nível de produção de cada bem da economia. (DT ) (QT ) (DA) (QA) QT PT + QAPA = DT PT + DAPA DT = QT + (QA − DA) PAPT QA = DA DT = QT DA − PA PT Voltemos à nossa fronteira de possibilidades de produção: Fonte: O autor Recapitulemos: o preço de equilíbrio da fronteira de possibilidades de produção acima é igual a 1,00. Na ausência de comércio, o consumo da nossa economia está limitado aos pontos da linha azul da fronteira de possibilidades de produção. Agora podemos dizer que a reta verde, que tangencia a fronteira,é a nossa restrição orçamentária. Com um comércio internacional, todos os pontos dessa reta são, considerando o nível de produção de bens dado pela intersecção entre a curva azul (fronteira de possibilidades de produção) e a reta verde, viáveis para consumo do nosso país. ATENÇÃO Podemos dizer, desse modo, que o comércio internacional abre a possibilidade de que o país atinja níveis de consumo que, em autarquia, seriam inviáveis. É importante observar especialmente que o aumento do consumo ocorre nos dois bens. Consequentemente, é possível, com a distribuição dos ganhos de comércio, fazer com que todos ganhem nessa economia. Porém, entre a possibilidade de todos ganharem com as transações comerciais e esses ganhos se traduzirem em uma real política compensatória, existe uma enorme distância. Neste vídeo, analisaremos uma abordagem sobre a economia política do comércio internacional. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE O MODELO DE FATORES ESPECÍFICOS, MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA. A) A abertura para o comércio internacional que altera o preço relativo dos bens tende a inequivocamente favorecer o rendimento dos fatores móveis. B) A abertura para o comércio internacional que altera o preço relativo dos bens tende a inequivocamente favorecer o rendimento dos fatores específicos dos setores exportadores. C) A abertura para o comércio internacional gera efeitos sobre a economia, ainda que ela não altere os preços relativos dos bens. D) A abertura para o comércio internacional permite ao país consumir mais do que a sua restrição orçamentária estabelece. 2. UM PAÍS PRODUTOR DE QUEIJO (Q) E VINHO (V) POSSUI AS SEGUINTES FUNÇÕES DE PRODUÇÃO: CONSIDEREMOS K=8, S=8 E A DOTAÇÃO TOTAL DE TRABALHO IGUAL A 90. ANTES DA ABERTURA COMERCIAL, OS PREÇOS DO VINHO E DO QUEIJO ERAM 3. APÓS ESSA ABERTURA, O DO VINHO PASSOU A SER 6, ENQUANTO O DO QUEIJO SE MANTEVE. MARQUE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O país reduzirá a produção de queijo de 45 para 15. B) O retorno do capital mais do que dobrou com a abertura comercial. C) O retorno da terra caiu mais de 80%. D) O país aumentará a quantidade de trabalho alocada na produção de vinho de 45 para 75. GABARITO 1. Sobre o modelo de fatores específicos, marque a alternativa correta. A alternativa "B " está correta. QV = K LV 1 3 2 3 QQ = S LQ 1 3 2 3 O comércio internacional favorece os setores exportadores. Esse efeito se deve à mudança de preços relativos, que se tornam mais favoráveis aos exportadores. 2. Um país produtor de queijo (Q) e vinho (V) possui as seguintes funções de produção: Consideremos K=8, S=8 e a dotação total de trabalho igual a 90. Antes da abertura comercial, os preços do vinho e do queijo eram 3. Após essa abertura, o do vinho passou a ser 6, enquanto o do queijo se manteve. Marque a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. No cálculo dos efeitos distributivos da política comercial, mostramos como se pode computar o retorno de cada um dos fatores de produção da economia (sempre o produto marginal multiplicado pelo preço da mercadoria). Para a solução deste exercício, basta reproduzir tal análise. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS O comércio internacional é uma prática adotada por diversos países. Apesar de suas consequências benéficas, como maior integração e ganhos produtivos, o aprofundamento dessa prática pode gerar consequências distributivas que afetem os cidadãos, as empresas e os governos em todo o mundo. Tendo isso em vista, apresentamos neste tema o modelo de fatores específicos. A princípio, iniciamos uma discussão sobre os custos de mobilidade e a especificidade dos ativos. Com QV = K LV 1 3 2 3 QQ = S LQ 1 3 2 3 isso, conseguimos perceber as consequências redistributivas e seus impactos sobre os agentes. Levando em conta as consequências do comércio internacional, pontuamos, em seguida, que ele pode ser benéfico para alguns agentes e prejudicial para outros. Essa dualidade é capaz de suscitar o surgimento de barreiras tarifárias e outras medidas protecionistas entre vários países. Com este tema, esperamos que você tenha entendido a estreita relação entre a economia política, o comércio internacional e as consequências distributivas que afetam tal relação. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS KRUGMAN, P.; OBSTFELD, M.; MELITZ, M. Economia internacional. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil , 2015. EXPLORE+ O artigo a seguir lhe ajudará a compreender os tópicos abordados neste tema: MUNDELL, R. A. International trade and factor mobility. In: American economic review. n. 47. 1957. CONTEUDISTA Lívio Ribeiro CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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