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Fernanda Veloso Lima Flávio de Oliveira Carvalho CIÊNCIAS DA RELIGIÃO Antropologia Cultural CIÊNCIAS DA RELIGIÃO Antropologia Cultural CIÊNCIAS DA RELIGIÃO Antropologia período º1 Montes Claros/MG - 2013 Fernanda Veloso Lima Flávio de Oliveira Carvalho Antropologia Cultural 2013 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Humberto Velloso Reis EDITORA UNIMONTES Conselho Editorial Prof. Silvio Guimarães – Medicina. Unimontes. Prof. Hercílio Mertelli – Odontologia. Unimontes. Prof. Humberto Guido – Filosofia. UFU. Profª Maria Geralda Almeida. UFG Prof. Luis Jobim – UERJ. Prof. Manuel Sarmento – Minho – Portugal. Prof. Fernando Verdú Pascoal. Valencia – Espanha. Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile. Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes. Profª Rita de Cássia Silva Dionísio. Letras – Unimontes. Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes. Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP. REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Karen Torres C. Lafetá de Almeida Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Fernando Guilherme Veloso Queiroz Magda Lima de Oliveira Sanzio Mendonça Henriiques Sônia Maria Oliveira Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Antônio Wagner Veloso rocha Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Sandra ramos de Oliveira Chefe do Departamento de Educação/Unimontes Andréa Lafetá de Melo Franco Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes rogério Othon teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Angela Cristina Borges Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Antônio Maurílio Alencar Feitosa Chefe do Departamento de História/Unimontes donizette Lima do nascimento Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes isabel Cristina Barbosa de Brito Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nárcio rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos reis Canela Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Maria ivete Soares de Almeida Pró-Reitor de Ensino/Unimontes João Felício rodrigues neto Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Jânio Marques dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes dumont Macedo Autores Fernanda Veloso Lima Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Bacharel em Ciências Sociais pela Unimontes. Professora de Antropologia do Departamento de Política e Ciências Sociais – Unimontes. Professora pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Homocultura – NEHOM/Unimontes. Flávio de Oliveira Carvalho Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Bacharel em Ciências Sociais pela Unimontes. Analista Educacional da Superintendência Regional de Educação de Unaí – SRE Unaí-MG. Sumário Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 A antropologia como ciência: surgimento, teoria, método e a especificidade do campo antropológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Antropologia na história: os primeiros contatos com a alteridade . . . . . . . . . . . . . . . . .12 1.3 Um novo contexto histórico: surgimento da antropologia como ciência, conceituação, objeto de estudo e especificidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 1.4 A construção do conceito antropológico de cultura, o etnocentrismo e o relativismo cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 A antropologia e a análise das sociedades primitivas – organização social, sistemas de parentesco, economia, poder e expansão colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27 2.2 Conceituando as sociedades primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28 2.3 Considerações sobre os sistemas de parentesco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 2.4 As trocas econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34 2.5 Expansão colonial e as consequências para os povos não ocidentais . . . . . . . . . . . . .37 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 A Antropologia e o estudo das sociedades complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 3.2 Os métodos e técnicas da Antropologia e sua utilização nos estudos das sociedades complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 3.3 A antropologia urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 3.4 A Antropologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .59 Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61 9 Ciências da Religião - Antropologia Cultural Apresentação Caro(a) acadêmico(a), A disciplina Antropologia Cultural é parte integrante da estrutura curricular do primeiro mó- dulo do Curso Ciências da Religião da Universidade Aberta do Brasil – UAB – da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes. Na disciplina, discutiremos um conjunto de questões sobre algumas perspectivas do pensa- mento na Antropologia. Para tanto, este curso está direcionado para uma exposição introdutória e crítica dos conceitos basilares da perspectiva antropológica. Preferentemente, organiza-se em uma reflexão acerca de alguns conceitos e métodos que caracterizaram e caracterizam a espe- cificidade da Antropologia como uma ciência no quadro das Ciências Sociais e/ou das Ciências Humanas. Nessa direção, almeja-se atingir os objetivos que se seguem: • oportunizar reflexões críticas acerca de conceitos fundamentais da teoria antropológica; • habituar o(a) acadêmico(a) com os conceitos basilares da Antropologia, para que consigam compreender, de maneira crítica, as diferenças sociais e culturais que compõem a humani- dade e, também, entender as diversidades étnicas e culturais da humanidade; • principiar o(a) acadêmico(a) na problemática capital da Antropologia como ciência do ou- tro, ou ainda, ciência da alteridade; • conduzir o(a) acadêmico(a) à compreensão das especificidades da Antropologia Cultural como uma ciência social e/ou humana; • discutir as análises antropológicas sobre as sociedades primitivas: organização social, siste- mas de parentesco, economia e poder; • explicitar as relações construídas a partir do contato dos europeus com as sociedades primi- tivas no contexto da expansão colonial; • apreender, introdutoriamente, a trajetória da antropologia nas sociedades capitalistas e, em especial, no Brasil, abordando questões como raça, heterogeneidade cultural e populações indígenas. Diante disso, o presente caderno foi dividido em três unidades, nas quais abordaremos os temas descritos anteriormente, para fins de cumprimento dos objetivos propostos para esta dis- ciplina. Ou seja: Unidade 1: A Antropologia como Ciência: surgimento, teoria, método e a especificidade do campo antropológico. Unidade 2: A Antropologia e a análise das sociedades primitivas: organização social, siste- mas de parentesco, economia, poder e a expansão colonial. Unidade 3: A Antropologia e o estudo das sociedades complexas. E então, pronto(a) para começarmos nossos estudos? Lembre-se que a leitura deste caderno é de suma importância para o seu aprendizado. Além disso, sua participação nas ferramentas in- terativas da sala de aula virtual proporcionará o contato contínuo com o professor e o tutor para o esclarecimento de dúvidas, indicações de outras leituras e acompanhamento das atividades propostas. Portanto, organize o seu tempo e bons estudos! Os autores. 11 Ciências da Religião - Antropologia Cultural UnidAde 1 A antropologia como ciência: surgimento, teoria, método e a especificidade do campo antropológico Fernanda Veloso Lima Flávio de Oliveira Carvalho 1.1 Introdução Esta primeira parte da disciplina Antropologia Cultural tem por intuito principiar o(a) acadêmico(a) do Curso de Ciências da Religião no entendimento das problemáticas fundamen- tais da Antropologia. É, pois, uma Unidade centrada na análise de conceitos e abordagens antro- pológicos. Almejamos que os(as) acadêmicos(as), ao se confrontarem com o esqueleto conceitual desta disciplina, consigam refletir sobre as singularidades da Antropologia como uma Ciência pe- rante outras Ciências da Humanidade, compreendendo, portanto, a Antropologia como um saber erigido sobre um alicerce histórico, formado por indivíduos que colaboraram em cada contexto distinto, para sua fundação. Assim sendo, a formatação da Antropologia, como disciplina, se emol- dura em um contexto no qual alguns pensadores intentavam analisar as diferenças percebidas sob uma forma sistematizada, proporcionando uma representação e compreensão mais elabora- das sobre as diferenças, especialmente em sociedades com características particulares. Portanto, constatamos que perceber as diferenças e concebê-las como um exercício da alteridade consiste em uma primeira forma, um rascunho de um pensamento antropológico. Nesse sentido, verificaremos como se cunharam as primeiras reflexões sistematizadas so- bre o confrontamento com a diversidade, inclusive verificando as especificidades das primeiras descrições sobre o “Outro”, o diferente, por soldados, comerciantes, viajantes, cronistas, e missio- nários, refletindo, assim, sobre qual eram seus discursos sobre outras populações, outros povos. Poderemos ponderar, então, como, a partir da perspectiva de pensadores, uma discussão mais metódica a respeito da diversidade cultural inaugurou o movimento de instituição da Antropolo- gia como Ciência. Por fim, examinaremos, nesta Unidade, as representações do conceito de cul- tura embasadas no referencial antropológico, bem como discutiremos as conceituações de etno- centrismo e relativismo cultural, basilares para uma compreensão da Antropologia como ciência que transita entre a unidade e a diversidade, procurando compreender a humanidade em sua totalidade. Não obstante, estudaremos esta unidade a partir dos temas relacionados em subuni- dades, que se apresentam da seguinte forma: 1.1 Introdução; 1.2 Antropologia na História: os primeiros contatos com a alteridade; 1.3 Um novo contexto histórico: surgimento da antropologia como ciência, conceituação, objeto de estudo e especificidade; 1.3.1 Antropologia e método: a imersão na cultura do outro; 1.4 A construção do conceito antropológico de cultura, o etnocentrismo e o relativismo cul- tural; 1.4.1 Etnocentrismo; 1.4.2 Relativismo Cultural. Agora que você já conhece a estrutura desta Unidade, leia com atenção, uma, duas, ou quantas vezes forem necessárias para assimilação do conteúdo. GLOSSáriO Antropologia: antro- pos, homem; logos, estudo (LAPLANTINE, 2000). 12 UAB/Unimontes - 1º Período 1.2 Antropologia na história: os primeiros contatos com a alteridade O homem encarou a diversidade cultural desde os primórdios de sua história. Isso porque acreditamos que embora o homem sempre tenha pensado e refletido sobre si mesmo e sobre os diversos povos com os quais tivesse contato, esses pensamentos sempre foram guiados por seu próprio modo de interpretar o mundo, ou seja, seus valores, crenças, etc. Isso ocorreu pelo menos até o fim do século XVIII, quando uma nova realidade, a sociedade industrial, suscitou no homem a necessidade de colocar-se como objeto da ciência, como já fazia com a nature- za (FOUCAULT, 2000). Assim, o pensamento do homem sobre si mesmo deixa paulatinamente o campo das especulações para tornar-se cada vez mais metódico, segundo os preceitos da ciência da época. Contudo, por hora, nos ate- remos às formas como os homens se classifica- ram ao longo da história. Segundo Laplantine (2000) e DaMatta (1987), o hábito, entre os homens, de se ob- servarem e levantarem reflexões uns sobre os outros é tão antigo quanto a própria humani- dade. E são dessas relações, desses confronta- mentos, que aparecem as primeiras reflexões acerca das diferenças. Nessa direção, a história da humanidade é marcada por vários períodos de encontros entre o “nós” e os “outros”, os iguais e os diferentes. Diante disso, de acordo com La- plantine (2000, p.13), “o homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as socie- dades existiram homensque observavam homens”. O referido autor acrescenta, ainda, que para Lévi-Strauss, essa percepção sobre o “outro” consiste em modelos elaborados “em casa”, ou seja, categorias criadas pelo próprio observador. Resumindo, na percepção de Laplantine (2000, p.13), a ideia do homem sobre o homem e “sua sociedade e a elaboração de um saber são, portanto, tão antigos quanto a humanidade, e se deram tanto na Ásia como na África, na América, na Oceania ou na Europa”. Todavia, convém lembrar que essa enor- me diversidade da humanidade infrequen- temente sobressaiu aos olhos dos homens como um fato, pelo contrário, figuram, na maioria das vezes, como uma monstruosidade que carecia de justificação. Assim, por exem- plo, eram designados como sendo bárbaros, pelos gregos antigos, tudo e todos aqueles que não participavam da helenidade. Essa ati- tude, que consiste em “expulsar” da cultura, da condição de humanidade todos aqueles que não participam de nosso modo de pen- sar, sentir e agir, configura-se, para Laplantine (2000), em um comportamento dos mais co- muns entre as sociedades humanas, inclusive as ditas primitivas. Nesse sentido, conseguimos fazer uma ideia de quais foram as impressões europeias ▲ Figura 1: Invasões ao Império Romano. Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http:// pt.wikipedia.org/. Acesso em 29 jul. 2013. Figura 2: Representação de “bárbaros” saqueando Roma. Obra de Heinrich Leutemann, 455 DC. Fonte: Wikipédia. Disponí- vel em:<http://pt.wikipedia. org/wiki/Ficheiro:Heinrich_ Leutemann>. Acesso em 29 jul. 2013. ► PArA SABer MAiS Para aprofundar a discussão sobre o surgimento do Homem como objeto de estudo da ciência, leia o artigo “As ciências humanas na arqueologia de Mi- chel Foucault”. O artigo pode ser encontrado no endereço eletrônico: http://www.unicamp. br/~aulas/pdf3/05.pdf. 13 Ciências da Religião - Antropologia Cultural sobre os povos da América, esse Novo Mundo em vias de “descobrimento”. É claro que não de- vemos esquecer que, nesse contexto, século XVI, a Europa, além de viver um intenso movimento humanista, já contava com várias nações em condições de enviar navios para exploração de ou- tras terras. Também já contava com um comércio bastante avançado com o Oriente. Logo, não é de se estranhar que, do século XVI até o século XVII, vários escritos tenham sido elaborados acerca das mais variadas culturas, em distintos espaços sociais, especialmente se pensarmos a in- tensificação da expansão mercantil, bem como movimentos culturais como o Renascimento. En- tretanto, cabe ressaltar que esse contato, essas primeiras impressões dos europeus sobre os não europeus ainda continuavam seguindo a lógica do estranhamento não sistematizado, isto é, o diferente como uma aberração. Nessa direção, não é de se estranhar que as populações do Novo Mundo fossem sempre colocadas na condição de bestializados. Não obstante, os depoimentos a respeito desses novos “seres”, sempre se valiam de metáforas zoológicas, evidenciando sucessões de faltas, como exemplos os seguintes discursos sobre os povos do Novo Mundo: não acreditam em Deus, não têm alma, não possuem escrita, são imorais, comem como animais, não possuem arte, enfim, não tem passado nem futuro (LAPLANTINE, 2000). É óbvio que devemos mencionar que todos esses relatos foram escritos por soldados, mercadores, colonos, viajantes, entre outros, provindos da Europa que, por um motivo ou outro, travaram contato com essa nova realidade. GLOSSáriO Helenidade: relativo ao período Helênico ou Helenismo; do grego hellenizein, falar grego, viver com os gregos. Caracterizou-se pelo ideal de Alexandre, cujo propósito foi levar e difundir a cultura Gre- ga, sobretudo, aos terri- tórios conquistados (JAPIASSÚ; MARCON- DES, 2001). ▲ Figura 3: Contato entre índios e europeus. Fonte: Canal do educador. Disponível em: <http:// educador.brasilescola. com/estrategias-ensino/. Acesso em 29 jul. 2013. 14 UAB/Unimontes - 1º Período BOX 1 Os Lusíadas [...] A gente se alvoroça e, de alegria, Não sabe mais que olhar a causa dela. - «Que gente será esta?» (em si diziam) «Que costumes, que Lei, que Rei teriam?» [...] Comendo alegremente, perguntavam, Pela Arábica língua, donde vinham, Quem eram, de que terra, que buscavam, Ou que partes do mar corrido tinham? Os fortes Lusitanos lhe tornavam As discretas repostas que convinham: - «Os Portugueses somos do Ocidente, Imos buscando as terras do Oriente. [...]- «Somos (um dos das Ilhas lhe tornou) Estrangeiros na terra, Lei e nação; Que os próprios são aqueles que criou A Natura, sem Lei e sem Razão. Nós temos a Lei certa que ensinou O claro descendente de Abraão, Que agora tem do mundo o senhorio; A mãe Hebreia teve e o pai, Gentio. Fonte: CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas de Luís Camões. Direção Literária Dr. Álvaro Júlio da Costa Pimpão. Disponível em <http://web.rccn.net/camoes/camoes/index.html . Acesso em 12 mai. 2013. Apenas no século XVIII, na Europa, esse discurso, que qualifica o outro como não hu- mano, começa a enfraquecer. Em grande parte, isso se deve aos relatos dos missioná- rios jesuítas que conviviam com os nativos na América. Assim sendo, as ideias sobre os selva- gens maus, sem moral, sem humanidade, pau- latinamente vão sendo substituídas por outras que concebem a existência de uma natureza moral pura nesses povos. A questão, então, se- ria de apenas direcioná-los rumo à civilização. De qualquer forma, o que podemos notar é que esse discurso aproxima um pouco mais os indígenas da condição de humanos, ainda que considerados atrasados. ▲ Figura 4: A catequização dos índios. Fonte: História Digital. Dis- ponível em:<http://www. historiadigital.org/histo- ria-do-brasil/brasil-pre-co- lonial/povos-indigenas/ questao-enem-2008- -catequizacao-indigena- -na-america/>. Acesso em 29 jul. 2013. diCA O Darwinismo consti- tui-se em um princípio pelos quais as espécies sofrem uma seleção natural, ou seja, os indivíduos mais adap- tados à determinada condição ecológica eliminam aqueles des- providos dessa mesma condição. A origem do termo se deu a partir da publicação da obra “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. Posteriormen- te, o evolucionismo se apropria desse discurso para pensar o próprio desenvolvimento da humanidade. Figura 5: Livro de Charles Darwin, “A Origem das Espécies”, de 1859. A imagem refere-se à publicação de 2009. Fonte: Linuxmall. Disponível em <http://www.linux- mall.com.br/produto/livro-a-origem-das-esp-eacute- -cies.html. Acesso em 12 mai. 2013. ▼ 15 Ciências da Religião - Antropologia Cultural Nesse sentido, percebemos a instauração de uma conjuntura embasada em interpreta- ções com maior grau de sistematização, mas ainda distantes de desenvolver um método científico. Contudo, nesse contexto de revolu- ções, tanto políticas quanto industriais, assim como a crescente valorização da Ciência Na- tural, quando especialmente química e biolo- gia ganham corpo em uma Europa encantada com o Darwinismo e perturbada com as rá- pidas transformações, surge uma recorrente questão entre os indivíduos: por que não vol- tar à ciência para o conhecimento do homem, na sua totalidade, colocando-o como objeto de um conhecimento metódico? Tudo com- provava a necessidade de novos métodos e teorias, bem como a necessidade de planeja- mento para o crescimento industrial e urbano, a expansão para outros espaços. Tais necessidades proporcionaram o alargamento de horizontes, dados os con- tatos entre diferentes povos e nações, além de trazer à baila mais questionamentos para o homem sobre si mesmo. Enfim, nessa con- juntura, agregaram-se diversos elementos que contribuíram parao surgimento e conso- lidação das Ciências Humanas. Diante disso, como esse processo se deu com a Antropo- logia? É justamente isso que estudaremos a seguir. 1.3 Um novo contexto histórico: surgimento da antropologia como ciência, conceituação, objeto de estudo e especificidade. Estudamos na subunidade anterior que observar, pensar e refletir sobre a própria con- dição de existência permeia a vida dos seres humanos desde tempos remotos. Além disso, ainda que uma experiência em menor grau que o proporcionado pela expansão colonial euro- peia, os homens sempre travaram encontros com a alteridade. Esses encontros, dos quais temos vários exemplares no decorrer da histó- ria, como exemplo, cristãos e pagãos; gregos e bárbaros; e por fim europeus/ocidentais e não europeus /não ocidentais, perfizeram as primei- ras e rudimentares impressões que balizaram as atitudes de estranhamento, recusa, indagações, assombro ou mesmo, com menor frequência, o encantamento pelo exótico. À vista disso, ainda que compreendamos que as reflexões do homem sobre o homem sejam tão antigas quanto a própria humanidade, e que possamos conjecturar, como nos demonstra Maybury- -Lewis (2002), que a Antropologia deriva de um arrebatamento da curiosidade acerca de outros povos, intercalada com uma reflexão a respeito do próprio eu, de um anseio por compreender a diversidade da cultura humana, concordamos com Laplantine que afirma: [...] o projeto de fundar uma ciência do homem – uma Antropologia – é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que come- ça a se constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia. (LAPLAN- TINE, 2000, p.13). Ainda, além disso, como nos mostra Da- Matta (2000), seria infecundo buscar as ori- gens da história da Antropologia, na antigui- dade, esquadrinhando trabalhos como o de Heródoto ou de outros gregos. Nesse mesmo sentido, Copans (1971) e Mercier (1974) argu- mentam que foi somente a partir do século XIX que realmente se erigiu um empenho na direção de formatar um discurso antropológi- co que atendesse a certos métodos, para que pudesse ascender à condição reconhecida de ciência. Assim sendo, o comportamento humano, agora, a partir de um nascente eixo teórico-metodológico, passava à condição de fenômeno observável e analisável. Aprofun- dando a perspectiva que trata da Antropolo- gia como Ciência, Copans (1971, p. 35) pondera que “a história da Antropologia é também a PArA SABer MAiS Para enriquecer os es- tudos sobre a História da Antropologia, con- fira o artigo “A Antro- pologia como ciência” escrito por José Lisboa Moreira de Oliveira. O artigo pode ser en- contrado no endereço eletrônico: http://www. ucb.br/sites/000/14/ PDF/Aantropologiaco- mociencia.pdf. 16 UAB/Unimontes - 1º Período história das relações entre as sociedades euro- peias e as sociedades não e europeias”. Sendo assim, você consegue perceber que, no instante inaugural da Antropologia, os estudos voltaram-se para a narrativa his- tórica do encontro desses dois povos? Não obstante, sob o prisma de Da Matta (2000, p. 87), a constituição da Antropologia, como a conhecemos hoje, “[...] é especular sobre o modo pelo qual os homens perceberam suas diferenças ao longo de um dado período de tempo”. Especialmente, como vimos na subu- nidade 1.2, se pensarmos as relações que fo- ram travadas no espaço social compreendido como sendo o “Novo Mundo”. Completando esse raciocínio, Laplan- tine (2000), considera que, no século XVI, os europeus descortinam e exploram novos am- bientes, além de proferir um discurso trucu- lento sobre suas populações. O século XVIII vem, por sua vez, iluminado sob as ideias dos filósofos e das viagens filosóficas, mas é somente no século XIX que a Antropolo- gia se constitui realmente como disciplina e passa a analisar as sociedades primitivas em suas mais diversas facetas (econômica, bio- lógica, linguística, política, dentre outras). Agora você pode concluir que, no seu início, a Antropologia intenta construir um saber examinando as sociedades não europeias, ou melhor, não ocidentais. Dito de outra forma, inauguralmente o “outro”, o distinto, é aque- le que não é ocidental, é o “selvagem”, o “pri- mitivo”, aquele que está muito mais próximo da natureza que da cultura. Nesse sentido, as sociedades consideradas simples, pela sua or- ganização social, tornaram-se objeto privile- giado dessa Ciência nascente, a Antropologia. Isso nos conduz, portanto, a um primei- ro elemento que caracteriza a especificidade do fazer antropológico, a saber, a singulari- dade de um objeto de estudo que lhe é pró- prio. Sendo assim, podemos dizer que a An- tropologia, constituindo-se basicamente em espaços ocidentais (Estados Unidos e Europa mais precisamente), encontra no outro (o não ocidental) seus principais questionamentos. É então nessa esfera dicotômica, nós/outros, na compreensão dessas diferenças, às vezes radicais, que está assentada a preocupação recorrente da Ciência antropológica. Como pondera Sanchis (1999), é a procura por uma argumentação metódica a respeito da dife- rença que vai delinear inicialmente uma ati- tude, depois uma observação sistemática e, por fim, uma nova Ciência, a Antropologia. Com tais características, caro (a) acadêmi- co (a), você pode concluir que a Antropologia objetiva estudar o homem, mais especifica- mente as ações sociais do homem como ser integrante de uma determinada coletividade, e que ela, a Antropologia, diferencia-se das outras ciências que também estudam o ho- mem uma vez que os questionamentos cen- trais que ela procura solucionar dizem respeito às diferenças culturais. Por esse motivo, consi- deramos que a Antropologia é a ciência da di- versidade cultural e social. Nesse sentido, po- demos dizer que o que ocupa a Antropologia é o empreendimento de tentar compreender e interpretar a multiplicidade das culturas hu- manas. Sintetizando, a Antropologia pleiteia ser uma Ciência da humanidade e da cultura, especialmente a Antropologia Cultural, que intenta desvelar a diversidade e complexidade da cultura humana. É claro que, como nos de- monstra Laplantine (2000), passaram-se algu- mas dezenas de anos antes que a antropologia conquistasse um refinamento instrumental de investigação para oportunizar a coleta de da- dos no campo das observações e informações. Contudo, logo após ter consolidado seus particulares métodos de pesquisa e obser- vação, no começo do século XX, os antropó- logos constatam que o objeto empírico que eles tinham atribuído à sua ciência (as socie- dades ditas primitivas, rudimentares) estava em vias de desaparecimento, visto que o pró- prio universo dessas populações não é pre- servado pela evolução social. Nesse tocante, surge uma crise de identidade, especialmen- te questionando se a morte do seu objeto de interpelação (o “selvagem”) representaria também o fim do projeto daqueles que se propuseram a estudá-los dentro de determi- nadas regras que atendessem a critérios cien- tíficos. O próprio Laplantine (2000) nos indica ▲ Figura 6: Canibalismo Tupinambá. Representação do mau selvagem. Fonte: Brasil: Terra de Santa Cruz. Disponível em:<http://brasilterrade- santacruz.com.br/wp-con- tent/uploads/2011/07/ CanibalismoTupinamba. jpg>. Acesso em 29 jul. 2013. PArA SABer MAiS A antropóloga Mirela Berger, em seu esque- ma “Breve histórico da Antropologia: cronistas e viajantes”, apresenta a percepção dos missio- nários e viajantes sobre os povos primitivos.Portanto, para conhe- cer um pouco mais sobre o tema acesse o artigo completo disponível em: http:// www.mirelaberger.com. br/mirela/download/ breve_historico. GLOSSáriO epistemológica: relativo à epistemolo- gia; estuda a origem, a estrutura, os métodos e a condição de certeza do conhecimento cien- tífico em suas diversas áreas (AIRES, 2003). 17 Ciências da Religião - Antropologia Cultural três reflexões para essa problemática, apon- tando, inclusive, uma que considera mais fru- tífera e que também redireciona o paradigma que confere especificidade à construção do conhecimento antropológico. Dessa maneira, se por um lado o antropólogo pode aceitar, por assim dizer, seu aniquilamento, e dedicar- -se a outros campos de outras ciências huma- nas, por outro ele pode se voltar para um ob- jeto de estudo diferente, a saber, o camponês – este selvagem interno – que se transforma- ria em objeto ideal, visto que também não é contemplado por outros ramos das ciências da humanidade. Nesse ponto, desabrocha a terceira ver- tente que, aos olhos de Laplantine (2000), re- solve a questão do aniquilamento na medida em que traz à baila a discussão sobre a mu- dança do objeto de estudo da Antropologia. Em outras palavras, a especificidade da An- tropologia não está mais atrelada ao objeto de estudo que ela assumiu (o não ocidental, ou o camponês ainda ignorado por outras ciências sociais/humanas), mas a uma certa prática epistemológica. Portanto, a Antropo- logia evidencia sua singularidade não mais pelo objeto a que dedica suas atenções, mas sim pela forma que interpela, analisa e inter- preta as possibilidades de ordenamento des- se objeto. Então, você compreendeu que é a partir dessa relação com o outro (externo ou inter- no), que a Antropologia, pouco a pouco, se consolida como Ciência? Consequentemente, essa relação proporcionou o advento de uma reflexão metódica sobre um modo de vida, a princípio visto como excêntrico, e desenca- deou a organização de um pensamento rela- tivista. Por conseguinte, o outro deixa de ser esquisito, esquizofrênico, e passa a ser visto como diferente, mas possuidor de uma razão própria que lhe confere capacidade para in- terpretar a si mesmo e a sua realidade social. Dado o exposto, acredi- tamos que se torna muito mais clara a necessidade de sistematizar e assimilar a percepção do outro so- bre o mundo da vida. Assim, o antropólo- go precisa mergulhar e submergir na cultura, na comunidade e no gru- po social que procura interpretar. Ademais, a formatação dessa visão “de dentro”, segundo o conhecimento antropoló- gico, é o que transforma em possibilidade a apre- ensão do ponto de vista do outro. Em outras pa- lavras, usando um termo próprio do meio antro- pológico, trata-se de um procedimento que cria a possibilidade de evidenciar o “ponto de vista do nativo”. Não obstante, de acordo com Sanchis (1999), outro elemento que contribui para ca- racterizar essa especificidade da Antropologia é a probabilidade de, através dessa relação com o outro, com o exótico, o pesquisador co- meçar a indagar seus próprios valores a respei- to de comportamentos, visão de mundo, entre outros. Porquanto, enxergar o outro como um espelho nos dá a possibilidade de questio- nar nossos próprios valores, normas, regras, crenças, enfim, confere-nos a capacidade de principiar a estranhar o que nos é familiar. Em consonância com esse pensamento, Laplanti- ne (2000) pondera que, restritos a uma única cultura, ficamos não apenas inconscientes so- bre a dos outros, mas também incapazes de perceber a nossa. Observe esse argumento, nas palavras de Laplantine: A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em fixar atenção no que é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evi- dente’. Aos poucos notamos que o menor de nossos comportamentos (ges- tos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’. Começamos então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mes- mos, a nos espiar. O conhecimento antropológico de nossa cultura passa ine- vitavelmente pelo conhecimento de outras culturas, e devemos especialmen- te reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. (LAPLANTINE, 2000, p.20). Nesse sentido, torna-se oportuno, já que a Antropologia se propõe a estudar o homem em sua totalidade, acompanharmos o racio- cínio de DaMatta (2000) quando ele propõe que, para determinar o lugar da antropologia cultural, é preciso não esquecer dos outros ramos da Antropologia. Desse modo, torna-se mister individu- alizar cada uma dessas ramificações e evi- denciar sobre qual ou quais facetas dessa totalidade do homem elas projetam suas luzes. Além disso, Laplantine (2000) adver- ▲ Figura 7: Aprender Antropologia. François Laplantine Fonte: Biblioteca da Uni- versidade de São Paulo. Disponível para download em: <http://disciplinas. stoa.usp.br/pluginfile. php/80913/mod_resour- ce/content/3/Apren- der%20Antropologia%20 %28Fran%C3%A7ois%20 Laplantine%29.pdf. Acesso em 29 jul. 2013. PArA SABer MAiS Márcio Goldman, em seu artigo intitulado “O fim da Antropologia”, discorre sobre a ques- tão do aniquilamento da Antropologia como ciência que estuda os povos primitivos. Sen- do assim, sugerimos a leitura desse traba- lho que se encontra disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/nec/ n89/12.pdf>. 18 UAB/Unimontes - 1º Período te que nenhum pesquisador conseguiria ser um experto em todos os desdobramentos da Antropologia, porém nem por isso deve- mos abster-nos de conhecê-los. Por conseguinte, apro- veitando-nos das ob- servações constru- ídas por esses dois últimos pensadores citados, podemos distinguir alguns dos principais campos da Antropologia, dis- cutindo panorami- camente seus enfo- ques, características e procedimentos bá- sicos. Então temos: a Antropologia Biológica, a Arqueologia, a Et- nografia, a Antropologia Linguística, o Folclo- re e, por fim, a de nosso maior interesse, visto que consiste na discussão aqui empreendida, a Antropologia Cultural ou Social ou mesmo Etnologia. Do ponto de vista de Lévi-Strauss (1967, p.396), a Etnografia, Etnologia e Antro- pologia não são três disciplinas diferentes ou três percepções diferentes de um mesmo estudo, mas três fases ou três “momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por este ou aqueles desses termos exprime so- mente uma atenção predominante voltada para um tipo de pesquisa que não poderia nunca ser exclusivo dos dois outros”. Dessa maneira, estudiosos como DaMat- ta (2000), Laplantine (2000) e Lévi-Strauss (1967) explicam que os ramos da Antropolo- gia Cultural mantém interfaces com a Antro- pologia Social e Etnologia e, embora Marconi e Presotto (2006) conceituem separadamente a Etnografia, a Etnologia e o Folclore ainda assim advertem que tais divisões pertencem ao mesmo ramo da Antropologia Cultural. A despeito de Marconi e Presotto (2006), as autoras explicitam seus pressupostos a partir da impossibilidade de entender um ramo da Antropologia sem o outro, a saber, o Cultural, o Social e a Etnologia. Como con- sequência desses argumentos e, conforme já esclarecemos, trataremos a Antropologia Cultural como sinônimo da Antropologia So- cial e da Etnologia, em outras palavras, no presente caderno você estudará sobre a An- tropologia Cultural, Social ou Etnologia. Ago- ra que você está inteirado(a) das argumenta- ções de Lévi-Strauss (1967), DaMatta (2000), Laplantine (2000), Marconi e Presotto (2006) acerca da Antropologia Cultural, Social ou Et- nologia, vamos conhecer um pouco mais so- bre os desdobramentosdessa Ciência? A Antropologia Biológica, que no pas- sado foi designada pela nomenclatura de Antropologia Física, caracteriza-se pelo estu- do dos traços biológicos do homem levando em consideração tempo e lugar. Se valendo de métodos comuns ao campo da biologia, sua preocupação central é as interfaces en- tre nosso patrimônio genético e os diversos meios que nos circundam. Ou seja, como a(s) cultura(s) e esse patrimônio genético se in- fluenciam? Em suma, o interesse desse ramo da Antropologia é pela genética das popula- ções, bem como por suas culturas, do mesmo modo que procura, ainda, desvelar questões que dizem respeito ao inato e ao adquirido (LAPLANTINE, 2000). Mas, também, há o es- tudo das sociedades de primatas superiores como babuínos e gorilas que envolvem espe- culações sobre a evolução biológica do ho- mem no geral. PArA SABer MAiS Sugerimos a leitura do artigo “Etnografia e pesquisa qualitativa: apontamentos sobre um caminho metodo- lógico de investiga- ção” para aprofundar os estudos sobre a percepção do outro acerca do mundo da vida. O trabalho está disponível em:<http:// www.unisc.br/portal/ upload/com_arquivo/ etnografia_e_pesqui- sa_qualitativa_aponta- mentos_sobre_um_ca- minho_metodologico_ de_investigacao.pdf>. ▲ Figura 8: O Antropólogo Roberto DaMatta. Fonte: FM 90,5. Disponível em:<http://www.905fm. com.br/estado/915- -roberto-damatta-sera-pa- lestrante-do-secop-2013- -em-vitoria>. Acesso em 29 jul. 2013. PArA SABer MAiS Confira o vídeo “Ossa- das de mais de 6 mil anos encontradas em Buritizeiro no norte- -mineiro” para que você tenha uma ideia de como os arqueólogos fazem as suas esca- vações. O vídeo está disponível em: <http://www.youtube. com/watch?v=Z1MC WCsq1nE> Figura 9: Ossada encontrada no sítio arqueológico em Buritizeiro, norte de Minas Gerais. Fonte: Circuito Turístico Guimarães Rosa. Disponível em: <http://circuitoguima- raesrosa.com.br>. Acesso em 10 mai. 2013. ► 19 Ciências da Religião - Antropologia Cultural A Arqueologia, por outro lado, é uma di- visão da Antropologia Cultural, que pesquisa o homem por meio de vestígios materiais que as culturas deixaram para trás, ao longo do tempo. Muitas vezes, esses vestígios são en- contrados enterrados no solo, ou na forma de pinturas em paredes (pinturas rupestres), ou ossadas, em suma, qualquer traço de atividade humana. Seu intuito é restaurar sociedades já desaparecidas, especulando sobre suas técni- cas, arte, religião, organização social, entre ou- tros. Em DaMatta vamos encontrar os seguin- tes argumentos: De fato o arqueólogo está interessado em pedaços de cerâmica, cemitérios mi- lenares, cacos de pedra e restos de animais, enquanto tais resíduos permitem deduzir modos concretos de relações sociais ali existentes. A Arqueologia, as- sim, é uma Antropologia Social, só que debruçada em cima do estudo de um sistema de ação social já desaparecido. (DA MATTA, 2000, p.29) Dessa maneira, observamos que a Ar- queologia divide-se, ainda, em: a) Arqueolo- gia Clássica, que “tenta reconstruir as antigas civilizações letradas”, como exemplo, Egito, Grécia, Mesopotâmia, entre outras; b) Antro- pologia Arqueológica, cujos estudos se con- centram nos “primórdios da cultura, relativa às populações extintas”, a saber, “culturas do Paleolítico, Mesolítico e Neolítico” (MARCONI; PRESOTTO, 2006, p.05). Como descrito por Marconi e Presotto (2006, p.05), a etnografia (éthos, povo; gra- phein, escrever) “é um dos ramos da ciência da cultura que se preocupa com a descrição das sociedades humanas”. Porém, para o presen- te momento, caro(a) acadêmico(a) ficaremos apenas com esse conceito, pois na subunida- de 1.3.1 estudaremos mais detidamente sobre esse método e seus principais autores. Contu- do, cabe ressaltar que essa é uma divisão da Antropologia Cultural que possibilitou o cará- ter relativista da Antropologia, bem como sua elevação à Ciência. Marconi e Presotto (2006, p.05) conceituam que a Etnologia (éthos, povo; logos, estudo) “é outro ramo da ciência da cultura, cujos pesquisadores utilizam os dados coletados e oferecidos pelos etnógra- fos”. Como exemplo, em “Sistemas Políticos da Alta Birmânia: um estudo da estrutura social Kachin” de Edmund Ronald Leach, publicado em 1964, vamos encontrar o esclarecimento de que o livro versa sobre a população kchin e chan do nordeste da Birmânia, cujo objetivo é “fornecer uma contribuição à teoria antropo- lógica”. A obra, segundo o autor, não foi cogi- tada como uma descrição etnográfica, pois “[...] a maioria dos fatos a que me refiro foram publicados anteriormente. Não se deve, pois, procurar qualquer originalidade nos fatos de que trato, mas na interpretação desses mes- mos fatos” (LEACH, 1996, p. 65). Entre os ramos da Antropologia Cultural, a Antropologia linguística estuda especifica- diCA Roberto Augusto DaMatta é graduado e licenciado em Histó- ria pela Universidade Federal Fluminense (1959 e 1962). Curso de Especialização em Antropologia Social do Museu Nacional (1960); M.A e Ph.D em, respec- tivamente, 1969 e 1971, pelo Peabody Museum da Universidade de Harvard. Foi Chefe do Departamento de Antropologia do Museu Nacional e Coordena- dor do seu Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (de 1972 a 1976). É Profes- sor Emérito da Univer- sidade de Notre Dame, USA, onde ocupou a Cátedra Rev. Edmund Joyce, c.s.c., de Antro- pologia de 1987 a 2004. Atualmente é Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Reali- zou pesquisas Etnolo- gicas entre os índios Gaviões e Apinayé. Foi pioneiro nos estudos de rituais e festivais em sociedades industriais, tendo investigado o Brasil como sociedade e sistema cultural por meio do carnaval, do futebol, da música, da comida, da cidadania, da mulher, da morte, do jogo do bicho e das categorias de tempo e espaço. ◄ Figura 10: Processo de Hominização. Fonte: Curte a História. Disponível em: <http:// curteahistoria7.blogspot. com.br/2010/09/processo- -de-hominizacao.html>. Acesso em 10 mai. 2013. ◄ Figura 11: “Tribespeaple of the Kachin”. População da tribo Kachin, Brimânia. Leach, 1940-1949. Fonte: Fields of study: Sir Edmund Leach, the social anthropologist Disponível em: <http://www.kings. cam.ac.uk/ archive-cen- tre/archive-month/febru- ary-2013.html. Acesso em 09 mai. 2013. 20 UAB/Unimontes - 1º Período mente a linguagem como exteriorização de valores, pensamentos, sentimentos, pois, so- mente através do estudo da língua é que con- seguimos compreender como os indivíduos pensam o que vivem; elaboram suas interpre- tações; como categorizam o que sentem, isto é, através desse desdobramento da Antropo- logia alcançamos suas categorias psicoafetivas e psicocognitivas (LAPLANTINE, 2000). Além disso, a linguagem constitui-se em um meio de comunicação e, também, em um “instru- mento do pensamento”, portanto, uma “gran- de diversidade de línguas acompanha a gran- de diversidade de culturas, cada uma delas com suas formas e estruturas básicas defini- das” (MARCONI; PRESOTTO, 2006, p.06). O Folclore, por sua vez, consiste em um dos campos de investigação da Antropologia Cultural, que observa a cultura “espontânea dos grupos rurais ou urbanizados”. Trata-se, portanto, de uma “ciência socioantropológica, uma vez que se dedica ao estudo de determi- nados aspectos da cultura humana”. Dedica- -se, também, aos “fatos da cultura material e espiritual que, originados espontaneamente, permanecem no seio do povo, tendo deter- minada função”. Em outras palavras, analisa os “fenômenos em sua dimensão espacial e temporal”, com métodos e técnicas de pesqui-sa científica que lhes são próprios. Contudo, apesar de sua autonomia, são campos da An- tropologia, porque trabalham com interesses comuns à essa Ciência; a saber, o homem e a cultura (MARCONI; PRESOTTO, 2006, p. 07). Resumindo, a Antropologia Cultural pre- tende compreender o homem como elemento de um dado sistema de valores, normas, cren- ças, etc. Entende a sociedade humana como sendo um agregado de ações e comportamen- tos organizados conforme um esquema de re- gras que ela mesma criou. Desse modo, o cam- po da Antropologia Cultural diz respeito a tudo que compõe uma coletividade: suas crenças, relações de parentesco, modos de produção econômica, regras jurídicas, arte, conhecimen- to, entre outros. Sendo assim, a Antropologia Cultural, que dá nome à nossa disciplina, é, portanto, o ramo no qual mais nos deteremos, especialmente porque é sobre ela que continu- aremos discorrendo ao longo de nosso curso. Assim sendo, todas as vezes que já utilizamos ou venhamos a utilizar o termo genérico Antro- pologia é à Antropologia Cultural que estamos nos referindo. E, como já mencionamos, um traço distintivo da Antropologia é o seu méto- do e metodologia, ou seja, o arcabouço teórico utilizado pelo pesquisador, bem como as suas condutas para auferir evidências empíricas. Agora, você está curioso sobre as caracterís- ticas particulares do método antropológico e como ele se constituiu, já que repetidas vezes citamos sobre isso. Então, vamos estudá-los? 1.3.1 Antropologia e método: a imersão na cultura do outro Como discutimos anteriormente, na subunidade 1.2, a maior parte do material produzido sobre o Novo Mundo, ou mesmo sobre o oriente, adveio das percepções de co- lonos, soldados, viajantes, dentre outros. Isso ainda foi válido até o final do século XIX, so- bretudo, porque quase nenhum antropólogo havia travado contato físico com as popula- ções primitivas sobre as quais escrevia. Como demonstra DaMatta (1987), durante todo esse período, o etnólogo consumou sua prática e experiência no seu aconchegante gabine- te ou numa confortável poltrona em uma biblioteca qualquer da Europa. O problema disso é que como os dados recolhidos eram superficiais e breves, dada a pouca perma- nência dos coletores nas aldeias e/ou comu- nidades, o trabalho etnográfico resumia-se a uma seleção e listagem de costumes exóti- cos. Quer dizer, havia uma enorme quantida- de de informações, todavia a complexidade de significados que envolvem o cotidiano da vida social não eram desvelados. O conheci- mento produzido então, acabava por flutuar descolado do contexto investigado. Somente no final do século XIX é que al- guns antropólogos, como Spencer e Gillen, que investigaram os aborígines australianos, começaram a se preocupar com essa experiên- cia de sair do conforto do gabinete e inserir-se na cultura do outro. Isso se deu pois compre- enderam que somente assim, com um trabalho de campo sistematizado, seria possível produ- zir interpretações sobre as ações sociais dos na- tivos, perfazendo-as como sendo um sistema integrado e dotado de lógica própria. DaMatta (1987) por exemplo, defende essa postura dizendo ser essencial buscar o sentido a partir do ponto de vista do outro. As- sim sendo, é imprescindível esse contado di- reto, pois possibilita que o conhecimento pro- duzido seja sempre intermediado pelo próprio nativo. Dessa forma, o antropólogo polonês se inseriu na cultura do nativo de maneira dura- doura, aprendendo sua língua e afastando-se do contato com o homem branco. Tal inicia- tiva trouxe uma enorme contribuição para a Antropologia, uma vez que o pesquisador PArA SABer MAiS Assista ao filme “Dança com Lobos” do diretor Kevin Costner. A obra conta a história do tenente John Dunbar (Kevin Costner) que, após ser condecorado por bravura na Guerra de Secessão, é enviado para um forte isola- do na fronteira com as terras selvagens Sioux. Além do choque de culturas, o filme aborda, também, a expansão colonial dos Estados Unidos para o oeste e como se deu a ocupação das terras indígenas pelo homem branco. Fonte: Disponível em: <http://www. cinedublados.com. br/2013/06/ download-danca-com- -lobos-dublado.html. 21 Ciências da Religião - Antropologia Cultural realmente pôs em prática a pesquisa de cam- po, porquanto, os métodos de investigação sobre o outro foram alterados, fortalecendo a premissa de que a Antropologia é uma Ci- ência. Em outras palavras, Malinowski (1976) prenunciou um empreendimento etnográfico em consonância com os preceitos científicos de uma forma mais radical. Quer dizer, deixan- do seu mundo para trás e indo viver entre os nativos, participando de seu cotidiano e reco- lhendo ele mesmo os dados acerca da cultura estudada, a saber, comportamentos, valores, normas, mitos, cosmologias, etc.. Por isso, esse antropólogo inaugura e é o precursor de uma nova percepção sobre o trabalho de campo. Sendo assim, foi também quem cunhou o termo “observação participante” como sendo um sinônimo da pesquisa de campo, eviden- ciando ainda mais a antinomia existente entre o pesquisador que consuma este tipo de estu- do e o antropólogo de gabinete. Desse modo, o entendimento da pesquisa de campo como observação participante trouxe à lume uma transformação interessante ao campo da an- tropologia, pois fazendo esse tipo de pesqui- sa, elimina-se a questão do coletor de dados e o pesquisador que os analisará serem indiví- duos diferentes, o que possibilita, então, que a cultura pesquisada seja interpretada de forma contextualizada. Outro importante pensador da Antropologia que também defende o tra- balho de campo é Evans-Prichard (1999). Se- gundo esse pesquisador a etnografia consiste em uma pesquisa minuciosa de uma única po- pulação ou mesmo de um conjunto de povos correlacionados. Também defende que um es- tudo etnográfico deve durar pelo menos dois anos, pois nesse período o pesquisador pode aprender a língua nativa, aumentando a sua interação com o grupo. É o trabalho de campo que possibilita ao antropólogo se tornar um etnógrafo. Um importante elemento que integra a prática do antropólogo que faz a observação participante é o diário ou caderno de campo, uma vez que é nesse instrumento que o pes- quisador rascunha todas as suas impressões para depois então sistematiza-las. Ribeiro (1996), por exemplo, comenta a enorme im- portância de seu caderno de campo quando esteve entre os índios Urubus-Kaapor, entre 1949 e 1951. Eram anotações diárias sobre tudo que os índios faziam ou diziam, mate- rial que depois é sistematizado e interpreta- do. Igualmente, Brandão (2007) pondera que tudo, qualquer situação, mesmo as mais insig- nificantes devem ser anotadas; a observação precisa ser sempre seguida pelas anotações e essas notas devem ser descritivas. É impor- tante ressaltar que essa especificidade do método antropológico possibilita operações mentais para as quais o pesquisador deve es- tar preparado teoricamente. Em primeiro lu- gar a observação participante, haja visto que transforma o antropólogo em um sujeito ativo e participante na cultura estudada; permite- -lhe, virtualmente, tornar-se um nativo. Assim sendo, como nos mostra Malinowski (1976), mais importante do que experimentar modos de vida diferentes é captar as visões de mundo do outro com respeito e verdadeira compre- ensão. Dessa maneira, torna-se imprescindível controlar nossos preconceitos, pois somente assim conseguiremos compreender as per- cepções do outro, bem como nossos próprios pontos de vista, re-elaborando nossa própria experiência cultural fora dela. Para o último autor citado é, então, essa capacidade de “tor- nar-se o nativo” que irá definir a profundidade da interpretação realizada.O antropólogo precisa, também, apren- der a ver o que lhe é comum com olhos de estranheza, pois somente dessa forma é possí- vel reconhecer práticas cotidianas e familiares como sendo construções sociais e culturais específicas. Esse procedimento, definido na antropologia como o ato de “estranhar o fa- miliar”, permite que o antropólogo identifique o que é esquisito em sua própria cultura. Des- se modo, para DaMatta (1987), o pesquisador deve fazer um esforço para transmudar o exó- tico em familiar e o familiar em exótico, trans- formando sua relação com o outro e consigo mesmo. Segundo Velho (2004), fazer etnogra- fia depreende desse estranhamento do que é familiar, de uma busca por um certo grau de imparcialidade e neutralidade, uma vez que somente dessa maneira logra-se comparar, in- telectualmente, as diversas interpretações re- lativas às realidades existentes. Vimos, portanto, que fazer etnografia pressupõe um preparo por parte do pesquisa- PArA SABer MAiS Leia a definição de cultura apresentada no “Dicionário de Con- ceitos Históricos” que pode ser acessado no endereço eletrônico: http://www.igtf.rs.gov. br/wp-content/uplo- ads/2012/03/concei- to_CULTURA.pdf>. ▲ Figura 12: Malinowski e os Trobriand (Nova Guiné) durante trabalho de campo em 1918 (foto: Wikimedia Commons). Fonte: Antropologia, notícias do campo e do gabi- nete. Disponível em: <http//://agreste.blogspot.com. br/2011/02/antropologia-e-ciencia.html. Acesso em 29 abr. 2013. 22 UAB/Unimontes - 1º Período dor, uma disposição para questionar certezas até então cristalizadas por sua cultura. Imergir na cultura do outro requer uma entrega física, dado o deslocamento, e também uma íntegra intelectual, tendo em vista os esforços que devem ser empreendidos para uma interpre- tação que se tencione minimamente neutra e imparcial. Nesse sentido, Malinowski (1976), deixa três diretrizes metodológicas importan- tes que todo pesquisador deve observar antes de arremessar-se ao trabalho de campo. São elas: a) o pesquisador deve ter objetivos ge- nuinamente científicos e deve conhecer bem as teorias antropológicas; b) assegurar boas condições de pesquisa: viver entre os nativos e aprender a língua deles; c) aplicar métodos es- peciais de coleta (informantes), manipulação e registro de evidências (diário de campo). BOX 2 Os Argonautas do Pacífico Ocidental [...] consistem, sobretudo, em isolar-se da companhia de outros homens brancos e em permanecer em contato tão estreito quanto possível com os nativos, o que, na realidade, só pode ser alcançado pela residência efetiva em suas aldeias. [...] Há uma grande diferença entre uma estada esporádica em companhia dos nativos e estabelecer um contato verdadeiro com os mesmos. O que quer dizer isto? Do ponto de vista do etnógrafo, significa que sua vida na aldeia, que a princípio era uma aventura estranha, às vezes desagradável e às vezes intensa- mente interessante, logo adquire um curso natural, em perfeita harmonia com os seus arredo- res. [...] Logo depois que me instalei em Omarakana comecei, de certa forma, a tomar parte na vida da aldeia, a buscar quais acontecimentos importantes e festivos, a adquirir um interesse pessoal no diz-que-diz e no desenrolar das ocorrências da pequena aldeia; o acordar cada ma- nhã para um dia que se apresentava mais ou menos como se apresenta para o nativo. Saía do meu mosquiteiro para encontrar ao meu redor a vida da aldeia principiando a desdobrar-se, ou os indivíduos já bem adiantados nas suas tarefas diárias, de acordo com a hora e também com a estação, pois eles se levantam e começam as suas labutas cedo ou tarde, segundo o trabalho exige. Durante o meu passeio matinal pela aldeia, podia observar os íntimos deta- lhes da vida familiar, a higiene, a cozinha, as refeições; podia ver os preparativos para o dia de trabalho, as pessoas saindo para atender aos seus interesses, ou grupos de homens e mulhe- res ocupados em algumas tarefas manufatureiras. Disputas, piadas, cenas familiares, eventos usualmente triviais, às vezes dramáticos, mas sempre, significativos, formavam a atmosfera da minha vida diária, assim como da deles. Fonte: MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 43 (Os Pensadores). 1.4 A construção do conceito antropológico de cultura, o etnocentrismo e o relativismo cultural Estudamos nas subunidades 1.2 e 1.3 que Antropologia é a Ciência que se ocupa da di- versidade da cultura humana, especialmente questionando sobre o inato e o adquirido, ou seja, o que é da natureza do homem e o que é adquirido, construído pelo meio sociocultural. Nesse sentido, foi exatamente a ampliação dos conhecimentos acerca dos diversos modelos culturais da humanidade que possibilitou às Ciências Sociais algumas retificações sobre o que consideramos como sendo natural. Assim sendo, desde os tipos de comida aceitáveis para cada sociedade, quem consideram como parente, as vestimentas ou tarefas de homens e mulheres, até suas formas de expressar a dor ou o que os indivíduos classificam como sen- do sagrado, passa a interessar à Antropologia nessa constante busca por compreender a AtiVidAde Leia o texto a seguir e depois comente e es- creva sobre a diferença entre o trabalho de campo e os relatos de missionários, soldados e viajantes. Vá até o fórum de discussão e deixe seu comentário. 23 Ciências da Religião - Antropologia Cultural natureza humana e sua enorme diversidade cultural. Ao travar contato com essa gama de diferentes comportamentos, começamos a questionar hábitos que antes considerávamos naturais e a percebê-los como construções de uma cultura específica, a nossa. Então um dos conceitos mais básicos da teoria antropológica diz respeito ao concei- to de cultura. É claro que antes devemos es- clarecer que a concepção de cultura adotada pela Antropologia não tem o mesmo sentido que a utilizada pelas pessoas comuns em seu cotidiano, no qual cultura está relacionada a apresentações artísticas, grau de conhecimen- to, erudição acumulada, dentre outros, pois isso nos dirige à perspectiva de que algumas pessoas seriam detentoras de cultura e outras não. A grosso modo, podemos dizer que em Antropologia a cultura está relacionada a for- mas de agir, pensar e sentir. Desse modo, é algo que se aplica a todas as pessoas e socie- dades, sendo impensável, para a perspectiva antropológica, dizer que existem indivíduos sem cultura. O primeiro autor a formular o conceito de cultura foi Edward Tylor, em 1971, quando pu- blicou o livro Primitive Culture. Em sua obra, o autor sintetiza o termo germânico Kultur (liga- do à espiritualidade de uma sociedade) e o ter- mo francês civilization (que define realizações materiais) com o intuito de compreender as re- lações estabelecidas em uma dada sociedade a partir da expressão Culture (LARAIA, 2005). A principal contribuição do desenvolvi- mento de um conceito de cultura, à luz dos ensinamentos de Tylor, foi evidenciar o cará- ter de aprendizado da cultura em detrimento às ideias de natureza humana, de inato. As- sim, Tylor (1958, p. 01) define que cultura “[...] é este todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, leis, moral, costumes, e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”. Cultura, então, passa a ser vista como tudo que aprendemos como elementos de uma certa coletividade, mediante processos de so- cialização. Cabe ressaltar, contudo, que a defi- nição de Tylor (1958), partiu de uma premissa evolucionista, portanto continua no interior de uma perspectiva altamente hierarquizada, não pluralista e não relativista, visto que o autor enxergava todas as culturas como estágios de evolução de uma únicacultura. A situação da cultura entre as várias so- ciedades da humanidade, na medida em que possa ser investigada segundo princípios ge- rais, é um tema adequado para o estudo de leis do pensamento e da ação humana. De um lado, a uniformidade que tão amplamente permeia a civilização pode ser atribuída, em grande medida, à ação uniforme de causas uniformes; de outro, seus vários graus podem ser vistos como estágios de desenvolvimento ou evolução [...] (LARAIA, 2005). Assim, pode- mos dizer que, desde o século XIX, a Antropo- logia construiu e se apropriou do conceito de cultura. Também percebemos que desde sua constituição até os dias atuais um vigoroso deslocamento conceitual perpassa a comu- nidade antropológica, que ainda se descobre interpretando e procurando um melhor en- tendimento sobre esse conceito. À vista disso, como nos demonstra Laraia (2005), continuam existindo agudas discordâncias entre as mais variadas conceituações de cultura. Kroeber e Kluckon, dois antropólogos, compilaram nada mais nada menos que impressionantes 164 definições distintas de cultura. Todavia, para nossos propósitos, nos cen- traremos em pensar a cultura como sendo um sistema organizado, afugentando assim a perspectiva da cultura como um amontoado de leis, valores, crenças, moral, sem nenhuma ligação entre si. Isso quer dizer: refletir o “todo complexo” de Tylor enxergando-o como uma totalidade interligada, dotada de coerência, organização e lógica próprias. A partir desse horizonte, a cultura pode ser pensada como um conjunto de regras e códigos que direcio- nam as ações coletivas das populações, bem como lhes fornecem significados para inter- pretarem suas realidades. Por fim, compre- endendo a cultura sob esse prisma, torna-se possível notar que toda cultura possui lógica e organização próprias, superando assim a con- ◄ Figura 13: Cultura: um conceito antropológico. Roque de Barros Laraia. Fonte: Google Search. Disponível para down- load em: < https://www. google.com.br/search?q= cultura+um+conceito+a ntropol%C3%B3gico&ie>. Acesso em 29 jul. 2013. 24 UAB/Unimontes - 1º Período jectura de que as culturas diferentes da nossa são monstruosidades bizarras e irracionais. Veremos agora dois conceitos que são fun- damentais para a teoria antropológica, e que estão intimamente relacionados ao conceito de cultura, pois materializam por meio de ati- tudes em relação às formas de pensar, sentir e agir do outro. Tais materializações serão, por- tanto, pensadas a partir do conceito de Etno- centrismo e o conceito de Relativismo Cultural. 1.4.1 Etnocentrismo Como vimos, o homem sempre travou contatos com a alteridade ao longo de sua história. Vimos, também, que em grande parte das vezes o outro era visto como uma aberração. É a essa tendência de classificar o outro a partir de nossos próprios valores que os antropólogos chamam de Etnocentrismo. De uma forma mais sistematizada, de acordo com Herskovits (1963), o etno- centrismo consiste em ser “[...] o ponto de vista segundo o qual o próprio modo de vida de al- guém é preferível a todos os outros”. Nas palavras de Everardo Rocha: Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No pla- no intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença, no plano efetivo, como sentimento de estranheza, medo, hostilidade, etc. Pergun- tar sobre o quê é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocio- nais e afetivos. No etnocentrismo residem dois planos do espírito humano: sen- timento e pensamento vão compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontráveis no dia-a-dia das nossas vidas. (EVERARDO ROCHA,1999, p. 7). Portanto, caro(a) acadêmico(a), você é ca- paz de concluir que o etnocentrismo é uma concepção que nos leva a colocar nossos valo- res e características culturais como modelo de normalidade, como sendo natural. Além disso, o etnocentrismo é um sentimento corriqueiro entre todos os seres humanos, uma vez que é resultado da socialização de um indivíduo no interior de uma cultura específica. Em certo sentido, o etnocentrismo tem valores positivos, uma vez que contribui para a solidificação dos laços sociais que unem o grupo, pois valoriza suas características compartilhadas em oposi- ção a outras coletividades. Contudo, cabe sa- lientar que quando o etnocentrismo justifica ações para deteriorar ou aviltar outras culturas ele passa a ser uma vicissitude. Temos vários exemplos disso na história, a colonização eu- ropeia na América, o apharteid na África do Sul, o tratamento dispensado pelos nazistas às pessoas não arianas, para citar apenas alguns. Agora que você sabe o que é etnocentrismo, reflita sobre alguns exemplos que não men- cionamos. Para ajudar, pense: qual é o melhor time de futebol do Brasil? Pensou? Baseado em que você escolheu esse time? Você já defendeu algum time e não percebeu que por algum motivo particular você o fez? Se sim, o etno- centrismo é parte integrante do ser humano e trata-se do primeiro encontro com o diferente; muitas vezes nem percebemos que estamos praticando. Porém, somente a forma hostil, desrespeitosa com a qual os indivíduos mani- festam esse encontro é que vai gerar as violên- cias físicas e simbólicas. Caso você não tenha escolhido um time por preferência, discuta com os colegas e tente observar quais as prá- ticas que vocês realizam e que antes não con- sideravam como sendo uma característica do etnocentrismo. A própria Antropologia nasce etnocêntrica e, ao perceber que essa não era a melhor forma de lidar com a diversidade, essa Ciência busca, paulatinamente, compreender o outro em sua dimensão de riqueza, aspecto esse que estudaremos a partir de agora. E en- tão, vamos continuar as nossas reflexões? 1.4.2 Relativismo cultural Discutimos que a avaliação que fazemos de culturas distintas da nossa são elabora- das a partir de nossa experiência, ou seja, ela é informada por nossa própria lógica cultural. Lembra da pergunta que fizemos agora a pou- co? Qual o melhor time de futebol? Contudo, é a partir de uma ampliação do conhecimento sobre a existência de padrões de comporta- mentos diferentes que tem feito com que os homens reflitam um pouco mais sobre a na- turalização desses mesmos comportamentos. Isso vem contribuindo para que um novo po- diCA “Para os evolucionistas do século XIX a evo- lução desenvolvia-se através de uma linha única; a evolução teria raízes em uma unidade psíquica através da qual todos os grupos humanos teriam o mes- mo potencial de desen- volvimento, embora alguns estivessem mais adiantados que outros. Esta abordagem unili- near considerava que cada sociedade seguiria o seu ouso histórico através de três estágios: selvageria, barbaris- mo e civilização. Em oposição a essa teoria, e a partir de Franz Boas, surgiu a ideia de que cada grupo humano desenvolve-se através de caminho próprio, que não pode ser sim- plificado na estrutura tríplice dos estágios. Esta possibilidade de desenvolvimento múlti- plo constitui o objeto da abordagem multili- near”. (LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Zahar, 2005., p. 59). PArA SABer MAiS Para ampliar os conhe- cimentos sobre o tema abordado, assista ao filme “Mister Johnson: no coração da África”. Direção: Bruce Beres- ford. EUA, Baseado no romance de Joyce Cary. Na trama, Johnson apresenta-se como uma pessoa negra que assimilaas normas da cultura branca e acaba agindo de maneira et- nocêntrica em relação à sua própria cultura. 25 Ciências da Religião - Antropologia Cultural sicionamento a respeito das diferenças, e que procura reconhecer suas especificidades como legítimas, façam parte permanente da relação entre o “grupo do eu” e o “grupo do outro”. Assim sendo, o Relativismo Cultural pode ser considerado como ideologia que, ao reco- nhecer os padrões fixados em cada socieda- de para dirigir sua própria existência, sustenta que cada conjunto de costumes possui legi- timidade e reforça a necessidade da tolerân- cia perante organizações diferentes da nossa (HERSKOVITS, 1963). Quem também tece considerações in- teressantes sobre essa noção de relativismo cultural é Salhins (2004), quando pondera que a própria prática antropológica se torna- ria infrutífera sem a postura relativista. Dito de outra forma, esse autor coloca que a com- preensão genuína do outro perpassa por uma atitude de respeito e uma busca para elaborar um mínimo de imparcialidade e neutralidade, pois apenas nos despindo de nossos próprios valores é que conseguiremos, de certo modo, estar no lugar do outro. Esse ponto é essencial, pois, como podemos perceber, o relativismo para esse pensador não se constitui apenas em uma postura, mas em um método do fazer antropológico. Segundo Salhins: O relativismo cultural é, antes de mais nada e sobretudo, um procedimento an- tropológico interpretativo – ou seja, metodológico. Ele não consiste no argu- mento moral de que qualquer cultura ou costume é tão bom quanto qualquer outro, se não melhor. O relativismo é simples prescrição de que, para que pos- sam tornar-se inteligíveis, as práticas e ideais de outras pessoas devem ser “res- situadas em seus contextos históricos, e compreendidas como valores posicio- nais no campo de suas próprias relações culturais, antes de serem submetidas a juízos morais e categóricos de nossa própria lavra”. A relatividade é a suspensão provisória dos próprios juízos de modo a situar as práticas em pauta na ordem cultural e histórica que as tornou possíveis. Afora isso, não se trata de forma al- guma de uma questão de advocacia [grifos nossos]. (SALHINS, 2004, p. 59). Independente de pensar o relativismo como uma atitude ou mesmo como método, podemos notar que se constitui em uma pos- tura diferente do etnocentrismo, quase con- trária. Essa postura configura-se na busca por tentar compreender que cada cultura possui suas singularidades e que elas são derivadas de elementos sócio-históricos complexos que influenciaram e influenciam a identidade de seus integrantes. Nesse sentido, torna-se im- pensável a existência de culturas superiores e inferiores, pois cada uma delas tem seus cri- térios e conceitos que estruturam valores, re- gras, etc. Quer dizer, cada cultura sabe o por- quê valoriza sua organização, seu modo de vida. Isso implica no fato de que, para compre- endermos realmente uma cultura, precisamos reconhecer e respeitar a existência do outro como sendo diferente e não como uma varian- te inferior do eu. Convém, ainda, acrescentar que isso significa enxergar que a cultura da qual somos fruto é apenas uma possibilidade de organização social, meramente mais uma entre várias. Pensando nisso, estudaremos, a partir de agora, as sociedades que outrora foram consi- deradas primitivas com o intuito de analisar os conceitos basilares da Antropologia, para que você consiga compreender, de maneira crítica, as diferenças sociais e culturais que compõem a humanidade e, também, entender as diversi- dades étnicas e culturais. Além disso, objetiva- mos localizá-lo na problemática capital da An- tropologia como Ciência do outro, ou ainda, Ciência das diferenças. Aspectos esses que são de suma importância para a sua formação em Ciência da Religião. Embora você tenha consci- ência de que essa diversidade não é primitiva nos moldes que o evolucionismo tratou, ainda assim usaremos o termo, pois a bibliografia consultada traz essa nomenclatura. Trata-se, portanto, de um mecanismo de distinção uti- lizado pelos autores para analisar uma cultura que não a europeia, estadounidense e tantas outras sociedades capitalistas. Daí a perma- nência do uso do termo, apesar de alguns au- tores preferirem a seguinte grafia: “sociedades pré-capitalistas”. Referências Aires, Almeida, org. (2003) epistemologia. In:___ Dicionário Escolar de Filosofia. Lisboa: Plátano. Versão online: http://www.defnarede.com/a.html. BRANDÃO, CARLOS RODRIGUES. Reflexões sobre como fazer trabalho de campo. revista socie- dade e cultura, v. 10, n. 1, JAN./JUN. 2007, p. 11-27, 2007. diCA A antropóloga Rita Laura Segato em seus estudos sobre direitos humanos aponta que existe um conflito entre a ética a moral e a lei para a compreensão das populações ditas primitivas. Isso porque, segundo a referida autora, os direitos uni- versais tomam como pressupostos a relação da dignidade da pessoa humana segundo preceitos ocidentais. Diante disso, povos que possuem costumes diferentes acabam sendo acometidos a interpretações etno- cêntricas. Não obstante, Segato (2006) aponta o relativismo cultural como uma forma de mediação do conflito entre ética, moral e lei (SEGATO, 2006). 26 UAB/Unimontes - 1º Período CASTRO, Celso (org.). evolucionismo cultural: textos de Morgan, Tylor e Frazer. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. COPANS, J. et al. Antropologia: ciência das sociedades primitivas? Lisboa: Edições 70, 1971. DANÇA com Lobos. Direção: Kevin Costner, Estados Unidos. Warner Home Video, 1990. DVD (180 min), color. DA MATTA, Roberto. relativizando: uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: Roc- co, 1987. DAMATTA, Roberto. relativizando: uma introdução à Antropologia Social. 6 ed. Rio de Janeiro: Rocca, 2000. EVANS-PRITCHARD, E. E. Evans. Os nuer. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1999 (Série Estudos Antro- pologia). FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas: uma arqueologia das Ciências Humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2000. HERSKOVITZ, Melville. O Problema do Relativismo Cultural. In:___. 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