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Fernanda Veloso Lima
Flávio de Oliveira Carvalho
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Antropologia 
Cultural
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Antropologia 
Cultural
CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
Antropologia 
período
º1
Montes Claros/MG - 2013
Fernanda Veloso Lima
Flávio de Oliveira Carvalho
Antropologia 
Cultural
2013
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro
s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG)
Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214
Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes
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Prof. Fernando Lolas Stepke. – Univ. Chile.
Prof. José Geraldo de Freitas Drumond – Unimontes.
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Profª Maisa Tavares de Souza Leite. Enfermagem – Unimontes.
Profª Siomara A. Silva – Educação Física. UFOP.
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Roselma Athayde Moraes
Maria Cristina Ruas de Abreu Maia
Waneuza Soares Eulálio
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Karen Torres C. Lafetá de Almeida 
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Magda Lima de Oliveira
Sanzio Mendonça Henriiques
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Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/
Unimontes
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Sandra ramos de Oliveira
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Andréa Lafetá de Melo Franco
Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes
rogério Othon teixeira Alves
Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes
Angela Cristina Borges
Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes
Antônio Maurílio Alencar Feitosa
Chefe do Departamento de História/Unimontes
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Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes
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Ministro da Educação
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Presidente Geral da CAPES
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Diretor de Educação a Distância da CAPES
João Carlos teatini de Souza Clímaco
Governador do Estado de Minas Gerais
Antônio Augusto Junho Anastasia
Vice-Governador do Estado de Minas Gerais
Alberto Pinto Coelho Júnior
Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
nárcio rodrigues
Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes
João dos reis Canela
Vice-Reitora da Universidade Estadual de Montes Claros - 
Unimontes
Maria ivete Soares de Almeida
Pró-Reitor de Ensino/Unimontes
João Felício rodrigues neto
Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes
Jânio Marques dias
Coordenadora da UAB/Unimontes
Maria Ângela Lopes dumont Macedo
Autores
Fernanda Veloso Lima
Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Bacharel em Ciências Sociais pela 
Unimontes. Professora de Antropologia do Departamento de Política e Ciências Sociais 
– Unimontes. Professora pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre Homocultura – 
NEHOM/Unimontes.
 
Flávio de Oliveira Carvalho
Mestre em Desenvolvimento Social pela Unimontes. Bacharel em Ciências Sociais pela 
Unimontes. Analista Educacional da Superintendência Regional de Educação de Unaí – 
SRE Unaí-MG.
Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
A antropologia como ciência: surgimento, teoria, método e a especificidade do campo 
antropológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11
1.2 Antropologia na história: os primeiros contatos com a alteridade . . . . . . . . . . . . . . . . .12
1.3 Um novo contexto histórico: surgimento da antropologia como ciência, 
conceituação, objeto de estudo e especificidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15
1.4 A construção do conceito antropológico de cultura, o etnocentrismo e o relativismo 
cultural. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
A antropologia e a análise das sociedades primitivas – organização social, sistemas de 
parentesco, economia, poder e expansão colonial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .27
2.2 Conceituando as sociedades primitivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .28
2.3 Considerações sobre os sistemas de parentesco. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31
2.4 As trocas econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.5 Expansão colonial e as consequências para os povos não ocidentais . . . . . . . . . . . . .37
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
A Antropologia e o estudo das sociedades complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41
3.2 Os métodos e técnicas da Antropologia e sua utilização nos estudos das sociedades 
complexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42
3.3 A antropologia urbana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3.4 A Antropologia no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Resumo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57
Referências básicas, complementares e suplementares . . . . .59
Atividades de aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .61
9
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
Apresentação
Caro(a) acadêmico(a), 
A disciplina Antropologia Cultural é parte integrante da estrutura curricular do primeiro mó-
dulo do Curso Ciências da Religião da Universidade Aberta do Brasil – UAB – da Universidade 
Estadual de Montes Claros – Unimontes.
Na disciplina, discutiremos um conjunto de questões sobre algumas perspectivas do pensa-
mento na Antropologia. Para tanto, este curso está direcionado para uma exposição introdutória 
e crítica dos conceitos basilares da perspectiva antropológica. Preferentemente, organiza-se em 
uma reflexão acerca de alguns conceitos e métodos que caracterizaram e caracterizam a espe-
cificidade da Antropologia como uma ciência no quadro das Ciências Sociais e/ou das Ciências 
Humanas.
Nessa direção, almeja-se atingir os objetivos que se seguem:
•	 oportunizar reflexões críticas acerca de conceitos fundamentais da teoria antropológica;
•	 habituar o(a) acadêmico(a) com os conceitos basilares da Antropologia, para que consigam 
compreender, de maneira crítica, as diferenças sociais e culturais que compõem a humani-
dade e, também, entender as diversidades étnicas e culturais da humanidade;
•	 principiar o(a) acadêmico(a) na problemática capital da Antropologia como ciência do ou-
tro, ou ainda, ciência da alteridade;
•	 conduzir o(a) acadêmico(a) à compreensão das especificidades da Antropologia Cultural 
como uma ciência social e/ou humana;
•	 discutir as análises antropológicas sobre as sociedades primitivas: organização social, siste-
mas de parentesco, economia e poder;
•	 explicitar as relações construídas a partir do contato dos europeus com as sociedades primi-
tivas no contexto da expansão colonial;
•	 apreender, introdutoriamente, a trajetória da antropologia nas sociedades capitalistas e, em 
especial, no Brasil, abordando questões como raça, heterogeneidade cultural e populações 
indígenas.
Diante disso, o presente caderno foi dividido em três unidades, nas quais abordaremos os 
temas descritos anteriormente, para fins de cumprimento dos objetivos propostos para esta dis-
ciplina. Ou seja: 
Unidade 1: A Antropologia como Ciência: surgimento, teoria, método e a especificidade do 
campo antropológico.
Unidade 2: A Antropologia e a análise das sociedades primitivas: organização social, siste-
mas de parentesco, economia, poder e a expansão colonial.
Unidade 3: A Antropologia e o estudo das sociedades complexas.
E então, pronto(a) para começarmos nossos estudos? Lembre-se que a leitura deste caderno 
é de suma importância para o seu aprendizado. Além disso, sua participação nas ferramentas in-
terativas da sala de aula virtual proporcionará o contato contínuo com o professor e o tutor para 
o esclarecimento de dúvidas, indicações de outras leituras e acompanhamento das atividades 
propostas. Portanto, organize o seu tempo e bons estudos! 
Os autores.
11
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
UnidAde 1
A antropologia como ciência: 
surgimento, teoria, método 
e a especificidade do campo 
antropológico
Fernanda Veloso Lima
Flávio de Oliveira Carvalho
1.1 Introdução
Esta primeira parte da disciplina Antropologia Cultural tem por intuito principiar o(a) 
acadêmico(a) do Curso de Ciências da Religião no entendimento das problemáticas fundamen-
tais da Antropologia. É, pois, uma Unidade centrada na análise de conceitos e abordagens antro-
pológicos. Almejamos que os(as) acadêmicos(as), ao se confrontarem com o esqueleto conceitual 
desta disciplina, consigam refletir sobre as singularidades da Antropologia como uma Ciência pe-
rante outras Ciências da Humanidade, compreendendo, portanto, a Antropologia como um saber 
erigido sobre um alicerce histórico, formado por indivíduos que colaboraram em cada contexto 
distinto, para sua fundação. Assim sendo, a formatação da Antropologia, como disciplina, se emol-
dura em um contexto no qual alguns pensadores intentavam analisar as diferenças percebidas 
sob uma forma sistematizada, proporcionando uma representação e compreensão mais elabora-
das sobre as diferenças, especialmente em sociedades com características particulares. Portanto, 
constatamos que perceber as diferenças e concebê-las como um exercício da alteridade consiste 
em uma primeira forma, um rascunho de um pensamento antropológico. 
 Nesse sentido, verificaremos como se cunharam as primeiras reflexões sistematizadas so-
bre o confrontamento com a diversidade, inclusive verificando as especificidades das primeiras 
descrições sobre o “Outro”, o diferente, por soldados, comerciantes, viajantes, cronistas, e missio-
nários, refletindo, assim, sobre qual eram seus discursos sobre outras populações, outros povos. 
Poderemos ponderar, então, como, a partir da perspectiva de pensadores, uma discussão mais 
metódica a respeito da diversidade cultural inaugurou o movimento de instituição da Antropolo-
gia como Ciência. Por fim, examinaremos, nesta Unidade, as representações do conceito de cul-
tura embasadas no referencial antropológico, bem como discutiremos as conceituações de etno-
centrismo e relativismo cultural, basilares para uma compreensão da Antropologia como ciência 
que transita entre a unidade e a diversidade, procurando compreender a humanidade em sua 
totalidade. Não obstante, estudaremos esta unidade a partir dos temas relacionados em subuni-
dades, que se apresentam da seguinte forma:
1.1 Introdução;
1.2 Antropologia na História: os primeiros contatos com a alteridade;
1.3 Um novo contexto histórico: surgimento da antropologia como ciência, conceituação, 
objeto de estudo e especificidade;
1.3.1 Antropologia e método: a imersão na cultura do outro;
1.4 A construção do conceito antropológico de cultura, o etnocentrismo e o relativismo cul-
tural;
1.4.1 Etnocentrismo;
1.4.2 Relativismo Cultural.
Agora que você já conhece a estrutura desta Unidade, leia com atenção, uma, duas, ou 
quantas vezes forem necessárias para assimilação do conteúdo. 
GLOSSáriO
Antropologia: antro-
pos, homem; logos, 
estudo (LAPLANTINE, 
2000).
12
UAB/Unimontes - 1º Período
1.2 Antropologia na história: 
os primeiros contatos com a 
alteridade
O homem encarou a diversidade cultural desde os primórdios de sua história. Isso porque 
acreditamos que embora o homem sempre tenha pensado e refletido sobre si mesmo e sobre os 
diversos povos com os quais tivesse contato, esses pensamentos sempre foram guiados por seu 
próprio modo de interpretar o mundo, ou seja, 
seus valores, crenças, etc. Isso ocorreu pelo 
menos até o fim do século XVIII, quando uma 
nova realidade, a sociedade industrial, suscitou 
no homem a necessidade de colocar-se como 
objeto da ciência, como já fazia com a nature-
za (FOUCAULT, 2000). Assim, o pensamento do 
homem sobre si mesmo deixa paulatinamente 
o campo das especulações para tornar-se cada 
vez mais metódico, segundo os preceitos da 
ciência da época. Contudo, por hora, nos ate-
remos às formas como os homens se classifica-
ram ao longo da história.
Segundo Laplantine (2000) e DaMatta 
(1987), o hábito, entre os homens, de se ob-
servarem e levantarem reflexões uns sobre os 
outros é tão antigo quanto a própria humani-
dade. E são dessas relações, desses confronta-
mentos, que aparecem as primeiras reflexões 
acerca das diferenças. Nessa direção, a história da humanidade é marcada por vários períodos 
de encontros entre o “nós” e os “outros”, os iguais e os diferentes. Diante disso, de acordo com La-
plantine (2000, p.13), “o homem nunca parou de interrogar-se sobre si mesmo. Em todas as socie-
dades existiram homensque observavam homens”. O referido autor acrescenta, ainda, que para 
Lévi-Strauss, essa percepção sobre o “outro” consiste em modelos elaborados “em casa”, ou seja, 
categorias criadas pelo próprio observador. Resumindo, na percepção de Laplantine (2000, p.13), 
a ideia do homem sobre o homem e “sua sociedade e a elaboração de um saber são, portanto, 
tão antigos quanto a humanidade, e se deram 
tanto na Ásia como na África, na América, na 
Oceania ou na Europa”.
Todavia, convém lembrar que essa enor-
me diversidade da humanidade infrequen-
temente sobressaiu aos olhos dos homens 
como um fato, pelo contrário, figuram, na 
maioria das vezes, como uma monstruosidade 
que carecia de justificação. Assim, por exem-
plo, eram designados como sendo bárbaros, 
pelos gregos antigos, tudo e todos aqueles 
que não participavam da helenidade. Essa ati-
tude, que consiste em “expulsar” da cultura, 
da condição de humanidade todos aqueles 
que não participam de nosso modo de pen-
sar, sentir e agir, configura-se, para Laplantine 
(2000), em um comportamento dos mais co-
muns entre as sociedades humanas, inclusive 
as ditas primitivas.
 Nesse sentido, conseguimos fazer uma 
ideia de quais foram as impressões europeias 
▲
Figura 1: Invasões ao 
Império Romano.
Fonte: Wikipédia. 
Disponível em: <http://
pt.wikipedia.org/. Acesso 
em 29 jul. 2013.
Figura 2: Representação 
de “bárbaros” 
saqueando Roma. Obra 
de Heinrich Leutemann, 
455 DC.
Fonte: Wikipédia. Disponí-
vel em:<http://pt.wikipedia.
org/wiki/Ficheiro:Heinrich_
Leutemann>. Acesso em 29 
jul. 2013.
►
PArA SABer MAiS
Para aprofundar a 
discussão sobre o 
surgimento do Homem 
como objeto de estudo 
da ciência, leia o artigo 
“As ciências humanas 
na arqueologia de Mi-
chel Foucault”. O artigo 
pode ser encontrado 
no endereço eletrônico: 
http://www.unicamp.
br/~aulas/pdf3/05.pdf. 
13
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
sobre os povos da América, esse Novo Mundo em vias de “descobrimento”. É claro que não de-
vemos esquecer que, nesse contexto, século XVI, a Europa, além de viver um intenso movimento 
humanista, já contava com várias nações em condições de enviar navios para exploração de ou-
tras terras. Também já contava com um comércio bastante avançado com o Oriente. Logo, não 
é de se estranhar que, do século XVI até o século XVII, vários escritos tenham sido elaborados 
acerca das mais variadas culturas, em distintos espaços sociais, especialmente se pensarmos a in-
tensificação da expansão mercantil, bem como movimentos culturais como o Renascimento. En-
tretanto, cabe ressaltar que esse contato, essas primeiras impressões dos europeus sobre os não 
europeus ainda continuavam seguindo a lógica do estranhamento não sistematizado, isto é, o 
diferente como uma aberração. Nessa direção, não é de se estranhar que as populações do Novo 
Mundo fossem sempre colocadas na condição de bestializados. Não obstante, os depoimentos a 
respeito desses novos “seres”, sempre se valiam de metáforas zoológicas, evidenciando sucessões 
de faltas, como exemplos os seguintes discursos sobre os povos do Novo Mundo: não acreditam 
em Deus, não têm alma, não possuem escrita, são imorais, comem como animais, não possuem 
arte, enfim, não tem passado nem futuro (LAPLANTINE, 2000). É óbvio que devemos mencionar 
que todos esses relatos foram escritos por soldados, mercadores, colonos, viajantes, entre outros, 
provindos da Europa que, por um motivo ou outro, travaram contato com essa nova realidade.
GLOSSáriO 
Helenidade: relativo 
ao período Helênico ou 
Helenismo; do grego 
hellenizein, falar grego, 
viver com os gregos. 
Caracterizou-se pelo 
ideal de Alexandre, 
cujo propósito foi levar 
e difundir a cultura Gre-
ga, sobretudo, aos terri-
tórios conquistados 
(JAPIASSÚ; MARCON-
DES, 2001).
▲
Figura 3: Contato entre 
índios e europeus.
Fonte: Canal do educador. 
Disponível em: <http://
educador.brasilescola.
com/estrategias-ensino/. 
Acesso em 29 jul. 2013.
14
UAB/Unimontes - 1º Período
BOX 1
Os Lusíadas
[...] A gente se alvoroça e, de alegria,
Não sabe mais que olhar a causa dela.
- «Que gente será esta?» (em si diziam)
«Que costumes, que Lei, que Rei teriam?»
[...] Comendo alegremente, perguntavam,
Pela Arábica língua, donde vinham,
Quem eram, de que terra, que buscavam,
Ou que partes do mar corrido tinham?
Os fortes Lusitanos lhe tornavam
As discretas repostas que convinham:
- «Os Portugueses somos do Ocidente,
Imos buscando as terras do Oriente.
[...]- «Somos (um dos das Ilhas lhe tornou)
Estrangeiros na terra, Lei e nação;
Que os próprios são aqueles que criou
A Natura, sem Lei e sem Razão.
Nós temos a Lei certa que ensinou
O claro descendente de Abraão,
Que agora tem do mundo o senhorio;
A mãe Hebreia teve e o pai, Gentio.
Fonte: CAMÕES, Luís Vaz de. Os Lusíadas de Luís Camões. Direção Literária Dr. Álvaro Júlio da Costa Pimpão. 
Disponível em <http://web.rccn.net/camoes/camoes/index.html . Acesso em 12 mai. 2013. 
Apenas no século XVIII, na Europa, esse 
discurso, que qualifica o outro como não hu-
mano, começa a enfraquecer. Em grande 
parte, isso se deve aos relatos dos missioná-
rios jesuítas que conviviam com os nativos na 
América. Assim sendo, as ideias sobre os selva-
gens maus, sem moral, sem humanidade, pau-
latinamente vão sendo substituídas por outras 
que concebem a existência de uma natureza 
moral pura nesses povos. A questão, então, se-
ria de apenas direcioná-los rumo à civilização. 
De qualquer forma, o que podemos notar é 
que esse discurso aproxima um pouco mais os 
indígenas da condição de humanos, ainda que 
considerados atrasados.
▲
Figura 4: A 
catequização dos 
índios.
Fonte: História Digital. Dis-
ponível em:<http://www.
historiadigital.org/histo-
ria-do-brasil/brasil-pre-co-
lonial/povos-indigenas/
questao-enem-2008-
-catequizacao-indigena-
-na-america/>. Acesso em 
29 jul. 2013.
diCA
O Darwinismo consti-
tui-se em um princípio 
pelos quais as espécies 
sofrem uma seleção 
natural, ou seja, os 
indivíduos mais adap-
tados à determinada 
condição ecológica 
eliminam aqueles des-
providos dessa mesma 
condição. A origem 
do termo se deu a 
partir da publicação 
da obra “A Origem das 
Espécies”, de Charles 
Darwin. Posteriormen-
te, o evolucionismo se 
apropria desse discurso 
para pensar o próprio 
desenvolvimento da 
humanidade.
Figura 5: Livro de Charles Darwin, “A Origem 
das Espécies”, de 1859. A imagem refere-se à 
publicação de 2009.
Fonte: Linuxmall. Disponível em <http://www.linux-
mall.com.br/produto/livro-a-origem-das-esp-eacute-
-cies.html. Acesso em 12 mai. 2013.
▼
15
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
Nesse sentido, percebemos a instauração 
de uma conjuntura embasada em interpreta-
ções com maior grau de sistematização, mas 
ainda distantes de desenvolver um método 
científico. Contudo, nesse contexto de revolu-
ções, tanto políticas quanto industriais, assim 
como a crescente valorização da Ciência Na-
tural, quando especialmente química e biolo-
gia ganham corpo em uma Europa encantada 
com o Darwinismo e perturbada com as rá-
pidas transformações, surge uma recorrente 
questão entre os indivíduos: por que não vol-
tar à ciência para o conhecimento do homem, 
na sua totalidade, colocando-o como objeto 
de um conhecimento metódico? Tudo com-
provava a necessidade de novos métodos e 
teorias, bem como a necessidade de planeja-
mento para o crescimento industrial e urbano, 
a expansão para outros espaços. 
Tais necessidades proporcionaram o 
alargamento de horizontes, dados os con-
tatos entre diferentes povos e nações, além 
de trazer à baila mais questionamentos para 
o homem sobre si mesmo. Enfim, nessa con-
juntura, agregaram-se diversos elementos 
que contribuíram parao surgimento e conso-
lidação das Ciências Humanas. Diante disso, 
como esse processo se deu com a Antropo-
logia? É justamente isso que estudaremos a 
seguir.
1.3 Um novo contexto histórico: 
surgimento da antropologia como 
ciência, conceituação, objeto de 
estudo e especificidade.
Estudamos na subunidade anterior que 
observar, pensar e refletir sobre a própria con-
dição de existência permeia a vida dos seres 
humanos desde tempos remotos. Além disso, 
ainda que uma experiência em menor grau que 
o proporcionado pela expansão colonial euro-
peia, os homens sempre travaram encontros 
com a alteridade. Esses encontros, dos quais 
temos vários exemplares no decorrer da histó-
ria, como exemplo, cristãos e pagãos; gregos e 
bárbaros; e por fim europeus/ocidentais e não 
europeus /não ocidentais, perfizeram as primei-
ras e rudimentares impressões que balizaram as 
atitudes de estranhamento, recusa, indagações, 
assombro ou mesmo, com menor frequência, 
o encantamento pelo exótico. À vista disso, 
ainda que compreendamos que as reflexões 
do homem sobre o homem sejam tão antigas 
quanto a própria humanidade, e que possamos 
conjecturar, como nos demonstra Maybury-
-Lewis (2002), que a Antropologia deriva de um 
arrebatamento da curiosidade acerca de outros 
povos, intercalada com uma reflexão a respeito 
do próprio eu, de um anseio por compreender 
a diversidade da cultura humana, concordamos 
com Laplantine que afirma:
[...] o projeto de fundar uma ciência do homem – uma Antropologia – é, ao 
contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que come-
ça a se constituir um saber científico (ou pretensamente científico) que toma 
o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza; apenas nessa 
época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio 
homem os métodos até então utilizados na área física ou da biologia. (LAPLAN-
TINE, 2000, p.13).
Ainda, além disso, como nos mostra Da-
Matta (2000), seria infecundo buscar as ori-
gens da história da Antropologia, na antigui-
dade, esquadrinhando trabalhos como o de 
Heródoto ou de outros gregos. Nesse mesmo 
sentido, Copans (1971) e Mercier (1974) argu-
mentam que foi somente a partir do século 
XIX que realmente se erigiu um empenho na 
direção de formatar um discurso antropológi-
co que atendesse a certos métodos, para que 
pudesse ascender à condição reconhecida 
de ciência. Assim sendo, o comportamento 
humano, agora, a partir de um nascente eixo 
teórico-metodológico, passava à condição de 
fenômeno observável e analisável. Aprofun-
dando a perspectiva que trata da Antropolo-
gia como Ciência, Copans (1971, p. 35) pondera 
que “a história da Antropologia é também a 
PArA SABer MAiS
Para enriquecer os es-
tudos sobre a História 
da Antropologia, con-
fira o artigo “A Antro-
pologia como ciência” 
escrito por José Lisboa 
Moreira de Oliveira.
O artigo pode ser en-
contrado no endereço 
eletrônico: http://www.
ucb.br/sites/000/14/
PDF/Aantropologiaco-
mociencia.pdf. 
16
UAB/Unimontes - 1º Período
história das relações entre as sociedades euro-
peias e as sociedades não e europeias”.
Sendo assim, você consegue perceber 
que, no instante inaugural da Antropologia, 
os estudos voltaram-se para a narrativa his-
tórica do encontro desses dois povos? Não 
obstante, sob o prisma de Da Matta (2000, 
p. 87), a constituição da Antropologia, como 
a conhecemos hoje, “[...] é especular sobre o 
modo pelo qual os homens perceberam suas 
diferenças ao longo de um dado período de 
tempo”. Especialmente, como vimos na subu-
nidade 1.2, se pensarmos as relações que fo-
ram travadas no espaço social compreendido 
como sendo o “Novo Mundo”. 
Completando esse raciocínio, Laplan-
tine (2000), considera que, no século XVI, os 
europeus descortinam e exploram novos am-
bientes, além de proferir um discurso trucu-
lento sobre suas populações. O século XVIII 
vem, por sua vez, iluminado sob as ideias 
dos filósofos e das viagens filosóficas, mas 
é somente no século XIX que a Antropolo-
gia se constitui realmente como disciplina e 
passa a analisar as sociedades primitivas em 
suas mais diversas facetas (econômica, bio-
lógica, linguística, política, dentre outras). 
Agora você pode concluir que, no seu início, 
a Antropologia intenta construir um saber 
examinando as sociedades não europeias, ou 
melhor, não ocidentais. Dito de outra forma, 
inauguralmente o “outro”, o distinto, é aque-
le que não é ocidental, é o “selvagem”, o “pri-
mitivo”, aquele que está muito mais próximo 
da natureza que da cultura. Nesse sentido, as 
sociedades consideradas simples, pela sua or-
ganização social, tornaram-se objeto privile-
giado dessa Ciência nascente, a Antropologia.
Isso nos conduz, portanto, a um primei-
ro elemento que caracteriza a especificidade 
do fazer antropológico, a saber, a singulari-
dade de um objeto de estudo que lhe é pró-
prio. Sendo assim, podemos dizer que a An-
tropologia, constituindo-se basicamente em 
espaços ocidentais (Estados Unidos e Europa 
mais precisamente), encontra no outro (o não 
ocidental) seus principais questionamentos. 
É então nessa esfera dicotômica, nós/outros, 
na compreensão dessas diferenças, às vezes 
radicais, que está assentada a preocupação 
recorrente da Ciência antropológica. Como 
pondera Sanchis (1999), é a procura por uma 
argumentação metódica a respeito da dife-
rença que vai delinear inicialmente uma ati-
tude, depois uma observação sistemática e, 
por fim, uma nova Ciência, a Antropologia.
Com tais características, caro (a) acadêmi-
co (a), você pode concluir que a Antropologia 
objetiva estudar o homem, mais especifica-
mente as ações sociais do homem como ser 
integrante de uma determinada coletividade, 
e que ela, a Antropologia, diferencia-se das 
outras ciências que também estudam o ho-
mem uma vez que os questionamentos cen-
trais que ela procura solucionar dizem respeito 
às diferenças culturais. Por esse motivo, consi-
deramos que a Antropologia é a ciência da di-
versidade cultural e social. Nesse sentido, po-
demos dizer que o que ocupa a Antropologia 
é o empreendimento de tentar compreender 
e interpretar a multiplicidade das culturas hu-
manas. Sintetizando, a Antropologia pleiteia 
ser uma Ciência da humanidade e da cultura, 
especialmente a Antropologia Cultural, que 
intenta desvelar a diversidade e complexidade 
da cultura humana. É claro que, como nos de-
monstra Laplantine (2000), passaram-se algu-
mas dezenas de anos antes que a antropologia 
conquistasse um refinamento instrumental de 
investigação para oportunizar a coleta de da-
dos no campo das observações e informações.
Contudo, logo após ter consolidado seus 
particulares métodos de pesquisa e obser-
vação, no começo do século XX, os antropó-
logos constatam que o objeto empírico que 
eles tinham atribuído à sua ciência (as socie-
dades ditas primitivas, rudimentares) estava 
em vias de desaparecimento, visto que o pró-
prio universo dessas populações não é pre-
servado pela evolução social. Nesse tocante, 
surge uma crise de identidade, especialmen-
te questionando se a morte do seu objeto 
de interpelação (o “selvagem”) representaria 
também o fim do projeto daqueles que se 
propuseram a estudá-los dentro de determi-
nadas regras que atendessem a critérios cien-
tíficos. O próprio Laplantine (2000) nos indica 
▲
Figura 6: Canibalismo 
Tupinambá. 
Representação do mau 
selvagem.
Fonte: Brasil: Terra de 
Santa Cruz. Disponível 
em:<http://brasilterrade-
santacruz.com.br/wp-con-
tent/uploads/2011/07/
CanibalismoTupinamba.
jpg>. Acesso em 29 jul. 
2013.
PArA SABer MAiS
A antropóloga Mirela 
Berger, em seu esque-
ma “Breve histórico da 
Antropologia: cronistas 
e viajantes”, apresenta 
a percepção dos missio-
nários e viajantes sobre 
os povos primitivos.Portanto, para conhe-
cer um pouco mais 
sobre o tema acesse 
o artigo completo 
disponível em: http://
www.mirelaberger.com.
br/mirela/download/
breve_historico.
GLOSSáriO
epistemológica: 
relativo à epistemolo-
gia; estuda a origem, a 
estrutura, os métodos 
e a condição de certeza 
do conhecimento cien-
tífico em suas diversas 
áreas (AIRES, 2003).
17
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
três reflexões para essa problemática, apon-
tando, inclusive, uma que considera mais fru-
tífera e que também redireciona o paradigma 
que confere especificidade à construção do 
conhecimento antropológico. Dessa maneira, 
se por um lado o antropólogo pode aceitar, 
por assim dizer, seu aniquilamento, e dedicar-
-se a outros campos de outras ciências huma-
nas, por outro ele pode se voltar para um ob-
jeto de estudo diferente, a saber, o camponês 
– este selvagem interno – que se transforma-
ria em objeto ideal, visto que também não é 
contemplado por outros ramos das ciências 
da humanidade. 
Nesse ponto, desabrocha a terceira ver-
tente que, aos olhos de Laplantine (2000), re-
solve a questão do aniquilamento na medida 
em que traz à baila a discussão sobre a mu-
dança do objeto de estudo da Antropologia. 
Em outras palavras, a especificidade da An-
tropologia não está mais atrelada ao objeto 
de estudo que ela assumiu (o não ocidental, 
ou o camponês ainda ignorado por outras 
ciências sociais/humanas), mas a uma certa 
prática epistemológica. Portanto, a Antropo-
logia evidencia sua singularidade não mais 
pelo objeto a que dedica suas atenções, mas 
sim pela forma que interpela, analisa e inter-
preta as possibilidades de ordenamento des-
se objeto.
Então, você compreendeu que é a partir 
dessa relação com o outro (externo ou inter-
no), que a Antropologia, pouco a pouco, se 
consolida como Ciência? Consequentemente, 
essa relação proporcionou o advento de uma 
reflexão metódica sobre um modo de vida, a 
princípio visto como excêntrico, e desenca-
deou a organização de um pensamento rela-
tivista. Por conseguinte, o outro deixa de ser 
esquisito, esquizofrênico, e passa a ser visto 
como diferente, mas possuidor de uma razão 
própria que lhe confere capacidade para in-
terpretar a si mesmo e a sua realidade social. 
Dado o exposto, acredi-
tamos que se torna muito 
mais clara a necessidade 
de sistematizar e assimilar 
a percepção do outro so-
bre o mundo da vida.
Assim, o antropólo-
go precisa mergulhar e 
submergir na cultura, na 
comunidade e no gru-
po social que procura 
interpretar. Ademais, a 
formatação dessa visão 
“de dentro”, segundo o 
conhecimento antropoló-
gico, é o que transforma 
em possibilidade a apre-
ensão do ponto de vista 
do outro. Em outras pa-
lavras, usando um termo 
próprio do meio antro-
pológico, trata-se de um 
procedimento que cria a 
possibilidade de evidenciar o “ponto de vista 
do nativo”.
Não obstante, de acordo com Sanchis 
(1999), outro elemento que contribui para ca-
racterizar essa especificidade da Antropologia 
é a probabilidade de, através dessa relação 
com o outro, com o exótico, o pesquisador co-
meçar a indagar seus próprios valores a respei-
to de comportamentos, visão de mundo, entre 
outros. Porquanto, enxergar o outro como um 
espelho nos dá a possibilidade de questio-
nar nossos próprios valores, normas, regras, 
crenças, enfim, confere-nos a capacidade de 
principiar a estranhar o que nos é familiar. Em 
consonância com esse pensamento, Laplanti-
ne (2000) pondera que, restritos a uma única 
cultura, ficamos não apenas inconscientes so-
bre a dos outros, mas também incapazes de 
perceber a nossa. Observe esse argumento, 
nas palavras de Laplantine:
A experiência da alteridade (e a elaboração dessa experiência) leva-nos a ver 
aquilo que nem teríamos conseguido imaginar, dada a nossa dificuldade em 
fixar atenção no que é habitual, familiar, cotidiano, e que consideramos ‘evi-
dente’. Aos poucos notamos que o menor de nossos comportamentos (ges-
tos, mímicas, posturas, reações afetivas) não tem realmente nada de ‘natural’. 
Começamos então, a nos surpreender com aquilo que diz respeito a nós mes-
mos, a nos espiar. O conhecimento antropológico de nossa cultura passa ine-
vitavelmente pelo conhecimento de outras culturas, e devemos especialmen-
te reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a 
única. (LAPLANTINE, 2000, p.20).
Nesse sentido, torna-se oportuno, já que 
a Antropologia se propõe a estudar o homem 
em sua totalidade, acompanharmos o racio-
cínio de DaMatta (2000) quando ele propõe 
que, para determinar o lugar da antropologia 
cultural, é preciso não esquecer dos outros 
ramos da Antropologia.
Desse modo, torna-se mister individu-
alizar cada uma dessas ramificações e evi-
denciar sobre qual ou quais facetas dessa 
totalidade do homem elas projetam suas 
luzes. Além disso, Laplantine (2000) adver-
▲
Figura 7: Aprender 
Antropologia. François 
Laplantine
Fonte: Biblioteca da Uni-
versidade de São Paulo. 
Disponível para download 
em: <http://disciplinas.
stoa.usp.br/pluginfile.
php/80913/mod_resour-
ce/content/3/Apren-
der%20Antropologia%20
%28Fran%C3%A7ois%20
Laplantine%29.pdf. Acesso 
em 29 jul. 2013.
PArA SABer MAiS
Márcio Goldman, em 
seu artigo intitulado “O 
fim da Antropologia”, 
discorre sobre a ques-
tão do aniquilamento 
da Antropologia como 
ciência que estuda os 
povos primitivos. Sen-
do assim, sugerimos 
a leitura desse traba-
lho que se encontra 
disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/nec/
n89/12.pdf>. 
18
UAB/Unimontes - 1º Período
te que nenhum pesquisador conseguiria ser 
um experto em todos os desdobramentos 
da Antropologia, porém nem por isso deve-
mos abster-nos de 
conhecê-los. Por 
conseguinte, apro-
veitando-nos das ob-
servações constru-
ídas por esses dois 
últimos pensadores 
citados, podemos 
distinguir alguns dos 
principais campos 
da Antropologia, dis-
cutindo panorami-
camente seus enfo-
ques, características 
e procedimentos bá-
sicos. Então temos: a 
Antropologia Biológica, a Arqueologia, a Et-
nografia, a Antropologia Linguística, o Folclo-
re e, por fim, a de nosso maior interesse, visto 
que consiste na discussão aqui empreendida, 
a Antropologia Cultural ou Social ou mesmo 
Etnologia. Do ponto de vista de Lévi-Strauss 
(1967, p.396), a Etnografia, Etnologia e Antro-
pologia não são três disciplinas diferentes 
ou três percepções diferentes de um mesmo 
estudo, mas três fases ou três “momentos de 
uma mesma pesquisa, e a preferência por 
este ou aqueles desses termos exprime so-
mente uma atenção predominante voltada 
para um tipo de pesquisa que não poderia 
nunca ser exclusivo dos dois outros”.
Dessa maneira, estudiosos como DaMat-
ta (2000), Laplantine (2000) e Lévi-Strauss 
(1967) explicam que os ramos da Antropolo-
gia Cultural mantém interfaces com a Antro-
pologia Social e Etnologia e, embora Marconi 
e Presotto (2006) conceituem separadamente 
a Etnografia, a Etnologia e o Folclore ainda 
assim advertem que tais divisões pertencem 
ao mesmo ramo da Antropologia Cultural. 
A despeito de Marconi e Presotto (2006), 
as autoras explicitam seus pressupostos a 
partir da impossibilidade de entender um 
ramo da Antropologia sem o outro, a saber, 
o Cultural, o Social e a Etnologia. Como con-
sequência desses argumentos e, conforme 
já esclarecemos, trataremos a Antropologia 
Cultural como sinônimo da Antropologia So-
cial e da Etnologia, em outras palavras, no 
presente caderno você estudará sobre a An-
tropologia Cultural, Social ou Etnologia. Ago-
ra que você está inteirado(a) das argumenta-
ções de Lévi-Strauss (1967), DaMatta (2000), 
Laplantine (2000), Marconi e Presotto (2006) 
acerca da Antropologia Cultural, Social ou Et-
nologia, vamos conhecer um pouco mais so-
bre os desdobramentosdessa Ciência?
A Antropologia Biológica, que no pas-
sado foi designada pela nomenclatura de 
Antropologia Física, caracteriza-se pelo estu-
do dos traços biológicos do homem levando 
em consideração tempo e lugar. Se valendo 
de métodos comuns ao campo da biologia, 
sua preocupação central é as interfaces en-
tre nosso patrimônio genético e os diversos 
meios que nos circundam. Ou seja, como a(s) 
cultura(s) e esse patrimônio genético se in-
fluenciam? Em suma, o interesse desse ramo 
da Antropologia é pela genética das popula-
ções, bem como por suas culturas, do mesmo 
modo que procura, ainda, desvelar questões 
que dizem respeito ao inato e ao adquirido 
(LAPLANTINE, 2000). Mas, também, há o es-
tudo das sociedades de primatas superiores 
como babuínos e gorilas que envolvem espe-
culações sobre a evolução biológica do ho-
mem no geral.
PArA SABer MAiS
Sugerimos a leitura 
do artigo “Etnografia 
e pesquisa qualitativa: 
apontamentos sobre 
um caminho metodo-
lógico de investiga-
ção” para aprofundar 
os estudos sobre a 
percepção do outro 
acerca do mundo da 
vida. O trabalho está 
disponível em:<http://
www.unisc.br/portal/
upload/com_arquivo/
etnografia_e_pesqui-
sa_qualitativa_aponta-
mentos_sobre_um_ca-
minho_metodologico_
de_investigacao.pdf>. 
▲
Figura 8: O Antropólogo 
Roberto DaMatta.
Fonte: FM 90,5. Disponível 
em:<http://www.905fm.
com.br/estado/915-
-roberto-damatta-sera-pa-
lestrante-do-secop-2013-
-em-vitoria>. Acesso em 
29 jul. 2013.
PArA SABer MAiS
Confira o vídeo “Ossa-
das de mais de 6 mil 
anos encontradas em 
Buritizeiro no norte-
-mineiro” para que você 
tenha uma ideia de 
como os arqueólogos 
fazem as suas esca-
vações. O vídeo está 
disponível em: 
<http://www.youtube.
com/watch?v=Z1MC
WCsq1nE>
Figura 9: Ossada 
encontrada no sítio 
arqueológico em 
Buritizeiro, norte de 
Minas Gerais. 
Fonte: Circuito Turístico 
Guimarães Rosa. Disponível 
em: <http://circuitoguima-
raesrosa.com.br>. Acesso 
em 10 mai. 2013.
►
19
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
A Arqueologia, por outro lado, é uma di-
visão da Antropologia Cultural, que pesquisa 
o homem por meio de vestígios materiais que 
as culturas deixaram para trás, ao longo do 
tempo. Muitas vezes, esses vestígios são en-
contrados enterrados no solo, ou na forma de 
pinturas em paredes (pinturas rupestres), ou 
ossadas, em suma, qualquer traço de atividade 
humana. Seu intuito é restaurar sociedades já 
desaparecidas, especulando sobre suas técni-
cas, arte, religião, organização social, entre ou-
tros. Em DaMatta vamos encontrar os seguin-
tes argumentos:
De fato o arqueólogo está interessado em pedaços de cerâmica, cemitérios mi-
lenares, cacos de pedra e restos de animais, enquanto tais resíduos permitem 
deduzir modos concretos de relações sociais ali existentes. A Arqueologia, as-
sim, é uma Antropologia Social, só que debruçada em cima do estudo de um 
sistema de ação social já desaparecido. (DA MATTA, 2000, p.29)
Dessa maneira, observamos que a Ar-
queologia divide-se, ainda, em: a) Arqueolo-
gia Clássica, que “tenta reconstruir as antigas 
civilizações letradas”, como exemplo, Egito, 
Grécia, Mesopotâmia, entre outras; b) Antro-
pologia Arqueológica, cujos estudos se con-
centram nos “primórdios da cultura, relativa 
às populações extintas”, a saber, “culturas do 
Paleolítico, Mesolítico e Neolítico” (MARCONI; 
PRESOTTO, 2006, p.05).
Como descrito por Marconi e Presotto 
(2006, p.05), a etnografia (éthos, povo; gra-
phein, escrever) “é um dos ramos da ciência da 
cultura que se preocupa com a descrição das 
sociedades humanas”. Porém, para o presen-
te momento, caro(a) acadêmico(a) ficaremos 
apenas com esse conceito, pois na subunida-
de 1.3.1 estudaremos mais detidamente sobre 
esse método e seus principais autores. Contu-
do, cabe ressaltar que essa é uma divisão da 
Antropologia Cultural que possibilitou o cará-
ter relativista da Antropologia, bem como sua 
elevação à Ciência. Marconi e Presotto (2006, 
p.05) conceituam que a Etnologia (éthos, 
povo; logos, estudo) “é outro ramo da ciência 
da cultura, cujos pesquisadores utilizam os 
dados coletados e oferecidos pelos etnógra-
fos”. Como exemplo, em “Sistemas Políticos da 
Alta Birmânia: um estudo da estrutura social 
Kachin” de Edmund Ronald Leach, publicado 
em 1964, vamos encontrar o esclarecimento 
de que o livro versa sobre a população kchin 
e chan do nordeste da Birmânia, cujo objetivo 
é “fornecer uma contribuição à teoria antropo-
lógica”. A obra, segundo o autor, não foi cogi-
tada como uma descrição etnográfica, pois 
“[...] a maioria dos fatos a que me refiro foram 
publicados anteriormente. Não se deve, pois, 
procurar qualquer originalidade nos fatos de 
que trato, mas na interpretação desses mes-
mos fatos” (LEACH, 1996, p. 65).
Entre os ramos da Antropologia Cultural, 
a Antropologia linguística estuda especifica-
diCA
Roberto Augusto 
DaMatta é graduado e 
licenciado em Histó-
ria pela Universidade 
Federal Fluminense 
(1959 e 1962). Curso 
de Especialização em 
Antropologia Social do 
Museu Nacional (1960); 
M.A e Ph.D em, respec-
tivamente, 1969 e 1971, 
pelo Peabody Museum 
da Universidade de 
Harvard. Foi Chefe 
do Departamento de 
Antropologia do Museu 
Nacional e Coordena-
dor do seu Programa 
de Pós-Graduação em 
Antropologia Social (de 
1972 a 1976). É Profes-
sor Emérito da Univer-
sidade de Notre Dame, 
USA, onde ocupou a 
Cátedra Rev. Edmund 
Joyce, c.s.c., de Antro-
pologia de 1987 a 2004. 
Atualmente é Professor 
Titular da Pontifícia 
Universidade Católica 
do Rio de Janeiro. Reali-
zou pesquisas Etnolo-
gicas entre os índios 
Gaviões e Apinayé. Foi 
pioneiro nos estudos 
de rituais e festivais em 
sociedades industriais, 
tendo investigado o 
Brasil como sociedade 
e sistema cultural por 
meio do carnaval, do 
futebol, da música, da 
comida, da cidadania, 
da mulher, da morte, 
do jogo do bicho e das 
categorias de tempo e 
espaço.
◄ Figura 10: Processo de 
Hominização.
Fonte: Curte a História. 
Disponível em: <http://
curteahistoria7.blogspot.
com.br/2010/09/processo-
-de-hominizacao.html>. 
Acesso em 10 mai. 2013.
◄ Figura 11: “Tribespeaple 
of the Kachin”. 
População da tribo 
Kachin, Brimânia. 
Leach, 1940-1949.
Fonte: Fields of study: Sir 
Edmund Leach, the social 
anthropologist Disponível 
em: <http://www.kings.
cam.ac.uk/ archive-cen-
tre/archive-month/febru-
ary-2013.html. Acesso em 
09 mai. 2013.
20
UAB/Unimontes - 1º Período
mente a linguagem como exteriorização de 
valores, pensamentos, sentimentos, pois, so-
mente através do estudo da língua é que con-
seguimos compreender como os indivíduos 
pensam o que vivem; elaboram suas interpre-
tações; como categorizam o que sentem, isto 
é, através desse desdobramento da Antropo-
logia alcançamos suas categorias psicoafetivas 
e psicocognitivas (LAPLANTINE, 2000). Além 
disso, a linguagem constitui-se em um meio 
de comunicação e, também, em um “instru-
mento do pensamento”, portanto, uma “gran-
de diversidade de línguas acompanha a gran-
de diversidade de culturas, cada uma delas 
com suas formas e estruturas básicas defini-
das” (MARCONI; PRESOTTO, 2006, p.06).
O Folclore, por sua vez, consiste em um 
dos campos de investigação da Antropologia 
Cultural, que observa a cultura “espontânea 
dos grupos rurais ou urbanizados”. Trata-se, 
portanto, de uma “ciência socioantropológica, 
uma vez que se dedica ao estudo de determi-
nados aspectos da cultura humana”. Dedica-
-se, também, aos “fatos da cultura material e 
espiritual que, originados espontaneamente, 
permanecem no seio do povo, tendo deter-
minada função”. Em outras palavras, analisa 
os “fenômenos em sua dimensão espacial e 
temporal”, com métodos e técnicas de pesqui-sa científica que lhes são próprios. Contudo, 
apesar de sua autonomia, são campos da An-
tropologia, porque trabalham com interesses 
comuns à essa Ciência; a saber, o homem e a 
cultura (MARCONI; PRESOTTO, 2006, p. 07).
Resumindo, a Antropologia Cultural pre-
tende compreender o homem como elemento 
de um dado sistema de valores, normas, cren-
ças, etc. Entende a sociedade humana como 
sendo um agregado de ações e comportamen-
tos organizados conforme um esquema de re-
gras que ela mesma criou. Desse modo, o cam-
po da Antropologia Cultural diz respeito a tudo 
que compõe uma coletividade: suas crenças, 
relações de parentesco, modos de produção 
econômica, regras jurídicas, arte, conhecimen-
to, entre outros. Sendo assim, a Antropologia 
Cultural, que dá nome à nossa disciplina, é, 
portanto, o ramo no qual mais nos deteremos, 
especialmente porque é sobre ela que continu-
aremos discorrendo ao longo de nosso curso. 
Assim sendo, todas as vezes que já utilizamos 
ou venhamos a utilizar o termo genérico Antro-
pologia é à Antropologia Cultural que estamos 
nos referindo. E, como já mencionamos, um 
traço distintivo da Antropologia é o seu méto-
do e metodologia, ou seja, o arcabouço teórico 
utilizado pelo pesquisador, bem como as suas 
condutas para auferir evidências empíricas. 
Agora, você está curioso sobre as caracterís-
ticas particulares do método antropológico e 
como ele se constituiu, já que repetidas vezes 
citamos sobre isso. Então, vamos estudá-los?
1.3.1 Antropologia e método: a imersão na cultura do outro
Como discutimos anteriormente, na 
subunidade 1.2, a maior parte do material 
produzido sobre o Novo Mundo, ou mesmo 
sobre o oriente, adveio das percepções de co-
lonos, soldados, viajantes, dentre outros. Isso 
ainda foi válido até o final do século XIX, so-
bretudo, porque quase nenhum antropólogo 
havia travado contato físico com as popula-
ções primitivas sobre as quais escrevia. Como 
demonstra DaMatta (1987), durante todo esse 
período, o etnólogo consumou sua prática 
e experiência no seu aconchegante gabine-
te ou numa confortável poltrona em uma 
biblioteca qualquer da Europa. O problema 
disso é que como os dados recolhidos eram 
superficiais e breves, dada a pouca perma-
nência dos coletores nas aldeias e/ou comu-
nidades, o trabalho etnográfico resumia-se a 
uma seleção e listagem de costumes exóti-
cos. Quer dizer, havia uma enorme quantida-
de de informações, todavia a complexidade 
de significados que envolvem o cotidiano da 
vida social não eram desvelados. O conheci-
mento produzido então, acabava por flutuar 
descolado do contexto investigado. 
Somente no final do século XIX é que al-
guns antropólogos, como Spencer e Gillen, 
que investigaram os aborígines australianos, 
começaram a se preocupar com essa experiên-
cia de sair do conforto do gabinete e inserir-se 
na cultura do outro. Isso se deu pois compre-
enderam que somente assim, com um trabalho 
de campo sistematizado, seria possível produ-
zir interpretações sobre as ações sociais dos na-
tivos, perfazendo-as como sendo um sistema 
integrado e dotado de lógica própria. 
DaMatta (1987) por exemplo, defende 
essa postura dizendo ser essencial buscar o 
sentido a partir do ponto de vista do outro. As-
sim sendo, é imprescindível esse contado di-
reto, pois possibilita que o conhecimento pro-
duzido seja sempre intermediado pelo próprio 
nativo. Dessa forma, o antropólogo polonês se 
inseriu na cultura do nativo de maneira dura-
doura, aprendendo sua língua e afastando-se 
do contato com o homem branco. Tal inicia-
tiva trouxe uma enorme contribuição para 
a Antropologia, uma vez que o pesquisador 
PArA SABer MAiS
Assista ao filme “Dança 
com Lobos” do diretor 
Kevin Costner. A obra 
conta a história do 
tenente John Dunbar 
(Kevin Costner) que, 
após ser condecorado 
por bravura na Guerra 
de Secessão, é enviado 
para um forte isola-
do na fronteira com 
as terras selvagens 
Sioux. Além do choque 
de culturas, o filme 
aborda, também, a 
expansão colonial dos 
Estados Unidos para o 
oeste e como se deu 
a ocupação das terras 
indígenas pelo homem 
branco.
Fonte: Disponível 
em: <http://www.
cinedublados.com.
br/2013/06/
download-danca-com-
-lobos-dublado.html. 
21
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
realmente pôs em prática a pesquisa de cam-
po, porquanto, os métodos de investigação 
sobre o outro foram alterados, fortalecendo 
a premissa de que a Antropologia é uma Ci-
ência. Em outras palavras, Malinowski (1976) 
prenunciou um empreendimento etnográfico 
em consonância com os preceitos científicos 
de uma forma mais radical. Quer dizer, deixan-
do seu mundo para trás e indo viver entre os 
nativos, participando de seu cotidiano e reco-
lhendo ele mesmo os dados acerca da cultura 
estudada, a saber, comportamentos, valores, 
normas, mitos, cosmologias, etc.. Por isso, esse 
antropólogo inaugura e é o precursor de uma 
nova percepção sobre o trabalho de campo. 
Sendo assim, foi também quem cunhou o 
termo “observação participante” como sendo 
um sinônimo da pesquisa de campo, eviden-
ciando ainda mais a antinomia existente entre 
o pesquisador que consuma este tipo de estu-
do e o antropólogo de gabinete. Desse modo, 
o entendimento da pesquisa de campo como 
observação participante trouxe à lume uma 
transformação interessante ao campo da an-
tropologia, pois fazendo esse tipo de pesqui-
sa, elimina-se a questão do coletor de dados 
e o pesquisador que os analisará serem indiví-
duos diferentes, o que possibilita, então, que a 
cultura pesquisada seja interpretada de forma 
contextualizada. Outro importante pensador 
da Antropologia que também defende o tra-
balho de campo é Evans-Prichard (1999). Se-
gundo esse pesquisador a etnografia consiste 
em uma pesquisa minuciosa de uma única po-
pulação ou mesmo de um conjunto de povos 
correlacionados. Também defende que um es-
tudo etnográfico deve durar pelo menos dois 
anos, pois nesse período o pesquisador pode 
aprender a língua nativa, aumentando a sua 
interação com o grupo. É o trabalho de campo 
que possibilita ao antropólogo se tornar um 
etnógrafo.
Um importante elemento que integra a 
prática do antropólogo que faz a observação 
participante é o diário ou caderno de campo, 
uma vez que é nesse instrumento que o pes-
quisador rascunha todas as suas impressões 
para depois então sistematiza-las. Ribeiro 
(1996), por exemplo, comenta a enorme im-
portância de seu caderno de campo quando 
esteve entre os índios Urubus-Kaapor, entre 
1949 e 1951. Eram anotações diárias sobre 
tudo que os índios faziam ou diziam, mate-
rial que depois é sistematizado e interpreta-
do. Igualmente, Brandão (2007) pondera que 
tudo, qualquer situação, mesmo as mais insig-
nificantes devem ser anotadas; a observação 
precisa ser sempre seguida pelas anotações 
e essas notas devem ser descritivas. É impor-
tante ressaltar que essa especificidade do 
método antropológico possibilita operações 
mentais para as quais o pesquisador deve es-
tar preparado teoricamente. Em primeiro lu-
gar a observação participante, haja visto que 
transforma o antropólogo em um sujeito ativo 
e participante na cultura estudada; permite-
-lhe, virtualmente, tornar-se um nativo. Assim 
sendo, como nos mostra Malinowski (1976), 
mais importante do que experimentar modos 
de vida diferentes é captar as visões de mundo 
do outro com respeito e verdadeira compre-
ensão. Dessa maneira, torna-se imprescindível 
controlar nossos preconceitos, pois somente 
assim conseguiremos compreender as per-
cepções do outro, bem como nossos próprios 
pontos de vista, re-elaborando nossa própria 
experiência cultural fora dela. Para o último 
autor citado é, então, essa capacidade de “tor-
nar-se o nativo” que irá definir a profundidade 
da interpretação realizada.O antropólogo precisa, também, apren-
der a ver o que lhe é comum com olhos de 
estranheza, pois somente dessa forma é possí-
vel reconhecer práticas cotidianas e familiares 
como sendo construções sociais e culturais 
específicas. Esse procedimento, definido na 
antropologia como o ato de “estranhar o fa-
miliar”, permite que o antropólogo identifique 
o que é esquisito em sua própria cultura. Des-
se modo, para DaMatta (1987), o pesquisador 
deve fazer um esforço para transmudar o exó-
tico em familiar e o familiar em exótico, trans-
formando sua relação com o outro e consigo 
mesmo. Segundo Velho (2004), fazer etnogra-
fia depreende desse estranhamento do que é 
familiar, de uma busca por um certo grau de 
imparcialidade e neutralidade, uma vez que 
somente dessa maneira logra-se comparar, in-
telectualmente, as diversas interpretações re-
lativas às realidades existentes.
Vimos, portanto, que fazer etnografia 
pressupõe um preparo por parte do pesquisa-
PArA SABer MAiS
Leia a definição de 
cultura apresentada no 
“Dicionário de Con-
ceitos Históricos” que 
pode ser acessado no 
endereço eletrônico: 
http://www.igtf.rs.gov.
br/wp-content/uplo-
ads/2012/03/concei-
to_CULTURA.pdf>. 
▲
Figura 12: Malinowski e os Trobriand (Nova 
Guiné) durante trabalho de campo em 1918 (foto: 
Wikimedia Commons).
Fonte: Antropologia, notícias do campo e do gabi-
nete. Disponível em: <http//://agreste.blogspot.com.
br/2011/02/antropologia-e-ciencia.html. Acesso em 29 
abr. 2013.
22
UAB/Unimontes - 1º Período
dor, uma disposição para questionar certezas 
até então cristalizadas por sua cultura. Imergir 
na cultura do outro requer uma entrega física, 
dado o deslocamento, e também uma íntegra 
intelectual, tendo em vista os esforços que 
devem ser empreendidos para uma interpre-
tação que se tencione minimamente neutra 
e imparcial. Nesse sentido, Malinowski (1976), 
deixa três diretrizes metodológicas importan-
tes que todo pesquisador deve observar antes 
de arremessar-se ao trabalho de campo. São 
elas: a) o pesquisador deve ter objetivos ge-
nuinamente científicos e deve conhecer bem 
as teorias antropológicas; b) assegurar boas 
condições de pesquisa: viver entre os nativos e 
aprender a língua deles; c) aplicar métodos es-
peciais de coleta (informantes), manipulação e 
registro de evidências (diário de campo). 
 
BOX 2
Os Argonautas do Pacífico Ocidental
[...] consistem, sobretudo, em isolar-se da companhia de outros homens brancos e em 
permanecer em contato tão estreito quanto possível com os nativos, o que, na realidade, só 
pode ser alcançado pela residência efetiva em suas aldeias. [...] Há uma grande diferença entre 
uma estada esporádica em companhia dos nativos e estabelecer um contato verdadeiro com 
os mesmos. O que quer dizer isto? Do ponto de vista do etnógrafo, significa que sua vida na 
aldeia, que a princípio era uma aventura estranha, às vezes desagradável e às vezes intensa-
mente interessante, logo adquire um curso natural, em perfeita harmonia com os seus arredo-
res. [...] Logo depois que me instalei em Omarakana comecei, de certa forma, a tomar parte na 
vida da aldeia, a buscar quais acontecimentos importantes e festivos, a adquirir um interesse 
pessoal no diz-que-diz e no desenrolar das ocorrências da pequena aldeia; o acordar cada ma-
nhã para um dia que se apresentava mais ou menos como se apresenta para o nativo. Saía do 
meu mosquiteiro para encontrar ao meu redor a vida da aldeia principiando a desdobrar-se, 
ou os indivíduos já bem adiantados nas suas tarefas diárias, de acordo com a hora e também 
com a estação, pois eles se levantam e começam as suas labutas cedo ou tarde, segundo o 
trabalho exige. Durante o meu passeio matinal pela aldeia, podia observar os íntimos deta-
lhes da vida familiar, a higiene, a cozinha, as refeições; podia ver os preparativos para o dia de 
trabalho, as pessoas saindo para atender aos seus interesses, ou grupos de homens e mulhe-
res ocupados em algumas tarefas manufatureiras. Disputas, piadas, cenas familiares, eventos 
usualmente triviais, às vezes dramáticos, mas sempre, significativos, formavam a atmosfera da 
minha vida diária, assim como da deles.
Fonte: MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1980, p. 43 (Os 
Pensadores).
1.4 A construção do conceito 
antropológico de cultura, o 
etnocentrismo e o relativismo 
cultural
Estudamos nas subunidades 1.2 e 1.3 que 
Antropologia é a Ciência que se ocupa da di-
versidade da cultura humana, especialmente 
questionando sobre o inato e o adquirido, ou 
seja, o que é da natureza do homem e o que é 
adquirido, construído pelo meio sociocultural. 
Nesse sentido, foi exatamente a ampliação dos 
conhecimentos acerca dos diversos modelos 
culturais da humanidade que possibilitou às 
Ciências Sociais algumas retificações sobre o 
que consideramos como sendo natural. Assim 
sendo, desde os tipos de comida aceitáveis 
para cada sociedade, quem consideram como 
parente, as vestimentas ou tarefas de homens 
e mulheres, até suas formas de expressar a dor 
ou o que os indivíduos classificam como sen-
do sagrado, passa a interessar à Antropologia 
nessa constante busca por compreender a 
AtiVidAde
Leia o texto a seguir e 
depois comente e es-
creva sobre a diferença 
entre o trabalho de 
campo e os relatos de 
missionários, soldados 
e viajantes. Vá até o 
fórum de discussão e 
deixe seu comentário.
23
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
natureza humana e sua enorme diversidade 
cultural. Ao travar contato com essa gama de 
diferentes comportamentos, começamos a 
questionar hábitos que antes considerávamos 
naturais e a percebê-los como construções de 
uma cultura específica, a nossa.
Então um dos conceitos mais básicos da 
teoria antropológica diz respeito ao concei-
to de cultura. É claro que antes devemos es-
clarecer que a concepção de cultura adotada 
pela Antropologia não tem o mesmo sentido 
que a utilizada pelas pessoas comuns em seu 
cotidiano, no qual cultura está relacionada a 
apresentações artísticas, grau de conhecimen-
to, erudição acumulada, dentre outros, pois 
isso nos dirige à perspectiva de que algumas 
pessoas seriam detentoras de cultura e outras 
não. A grosso modo, podemos dizer que em 
Antropologia a cultura está relacionada a for-
mas de agir, pensar e sentir. Desse modo, é 
algo que se aplica a todas as pessoas e socie-
dades, sendo impensável, para a perspectiva 
antropológica, dizer que existem indivíduos 
sem cultura.
O primeiro autor a formular o conceito de 
cultura foi Edward Tylor, em 1971, quando pu-
blicou o livro Primitive Culture. Em sua obra, o 
autor sintetiza o termo germânico Kultur (liga-
do à espiritualidade de uma sociedade) e o ter-
mo francês civilization (que define realizações 
materiais) com o intuito de compreender as re-
lações estabelecidas em uma dada sociedade 
a partir da expressão Culture (LARAIA, 2005).
A principal contribuição do desenvolvi-
mento de um conceito de cultura, à luz dos 
ensinamentos de Tylor, foi evidenciar o cará-
ter de aprendizado da cultura em detrimento 
às ideias de natureza humana, de inato. As-
sim, Tylor (1958, p. 01) define que cultura “[...] é 
este todo complexo que inclui conhecimento, 
crença, arte, leis, moral, costumes, e quaisquer 
outras capacidades e hábitos adquiridos pelo 
homem enquanto membro da sociedade”. 
Cultura, então, passa a ser vista como tudo 
que aprendemos como elementos de uma 
certa coletividade, mediante processos de so-
cialização. Cabe ressaltar, contudo, que a defi-
nição de Tylor (1958), partiu de uma premissa 
evolucionista, portanto continua no interior de 
uma perspectiva altamente hierarquizada, não 
pluralista e não relativista, visto que o autor 
enxergava todas as culturas como estágios de 
evolução de uma únicacultura.
A situação da cultura entre as várias so-
ciedades da humanidade, na medida em que 
possa ser investigada segundo princípios ge-
rais, é um tema adequado para o estudo de 
leis do pensamento e da ação humana. De 
um lado, a uniformidade que tão amplamente 
permeia a civilização pode ser atribuída, em 
grande medida, à ação uniforme de causas 
uniformes; de outro, seus vários graus podem 
ser vistos como estágios de desenvolvimento 
ou evolução [...] (LARAIA, 2005). Assim, pode-
mos dizer que, desde o século XIX, a Antropo-
logia construiu e se apropriou do conceito de 
cultura. Também percebemos que desde sua 
constituição até os dias atuais um vigoroso 
deslocamento conceitual perpassa a comu-
nidade antropológica, que ainda se descobre 
interpretando e procurando um melhor en-
tendimento sobre esse conceito. À vista disso, 
como nos demonstra Laraia (2005), continuam 
existindo agudas discordâncias entre as mais 
variadas conceituações de cultura. Kroeber e 
Kluckon, dois antropólogos, compilaram nada 
mais nada menos que impressionantes 164 
definições distintas de cultura.
Todavia, para nossos propósitos, nos cen-
traremos em pensar a cultura como sendo 
um sistema organizado, afugentando assim a 
perspectiva da cultura como um amontoado 
de leis, valores, crenças, moral, sem nenhuma 
ligação entre si. Isso quer dizer: refletir o “todo 
complexo” de Tylor enxergando-o como uma 
totalidade interligada, dotada de coerência, 
organização e lógica próprias. A partir desse 
horizonte, a cultura pode ser pensada como 
um conjunto de regras e códigos que direcio-
nam as ações coletivas das populações, bem 
como lhes fornecem significados para inter-
pretarem suas realidades. Por fim, compre-
endendo a cultura sob esse prisma, torna-se 
possível notar que toda cultura possui lógica e 
organização próprias, superando assim a con-
◄ Figura 13: Cultura: 
um conceito 
antropológico. Roque 
de Barros Laraia.
Fonte: Google Search. 
Disponível para down-
load em: < https://www.
google.com.br/search?q=
cultura+um+conceito+a
ntropol%C3%B3gico&ie>. 
Acesso em 29 jul. 2013.
24
UAB/Unimontes - 1º Período
jectura de que as culturas diferentes da nossa 
são monstruosidades bizarras e irracionais. 
Veremos agora dois conceitos que são fun-
damentais para a teoria antropológica, e que 
estão intimamente relacionados ao conceito 
de cultura, pois materializam por meio de ati-
tudes em relação às formas de pensar, sentir e 
agir do outro. Tais materializações serão, por-
tanto, pensadas a partir do conceito de Etno-
centrismo e o conceito de Relativismo Cultural.
1.4.1 Etnocentrismo
Como vimos, o homem sempre travou contatos com a alteridade ao longo de sua história. 
Vimos, também, que em grande parte das vezes o outro era visto como uma aberração. É a essa 
tendência de classificar o outro a partir de nossos próprios valores que os antropólogos chamam 
de Etnocentrismo. De uma forma mais sistematizada, de acordo com Herskovits (1963), o etno-
centrismo consiste em ser “[...] o ponto de vista segundo o qual o próprio modo de vida de al-
guém é preferível a todos os outros”. Nas palavras de Everardo Rocha:
Etnocentrismo é uma visão de mundo onde o nosso próprio grupo é tomado 
como centro de tudo, e todos os outros são pensados e sentidos através dos 
nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é existência. No pla-
no intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença, no 
plano efetivo, como sentimento de estranheza, medo, hostilidade, etc. Pergun-
tar sobre o quê é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se 
misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocio-
nais e afetivos. No etnocentrismo residem dois planos do espírito humano: sen-
timento e pensamento vão compondo um fenômeno não apenas fortemente 
arraigado na história das sociedades como também facilmente encontráveis 
no dia-a-dia das nossas vidas. (EVERARDO ROCHA,1999, p. 7).
Portanto, caro(a) acadêmico(a), você é ca-
paz de concluir que o etnocentrismo é uma 
concepção que nos leva a colocar nossos valo-
res e características culturais como modelo de 
normalidade, como sendo natural. Além disso, 
o etnocentrismo é um sentimento corriqueiro 
entre todos os seres humanos, uma vez que é 
resultado da socialização de um indivíduo no 
interior de uma cultura específica. Em certo 
sentido, o etnocentrismo tem valores positivos, 
uma vez que contribui para a solidificação dos 
laços sociais que unem o grupo, pois valoriza 
suas características compartilhadas em oposi-
ção a outras coletividades. Contudo, cabe sa-
lientar que quando o etnocentrismo justifica 
ações para deteriorar ou aviltar outras culturas 
ele passa a ser uma vicissitude. Temos vários 
exemplos disso na história, a colonização eu-
ropeia na América, o apharteid na África do 
Sul, o tratamento dispensado pelos nazistas às 
pessoas não arianas, para citar apenas alguns. 
Agora que você sabe o que é etnocentrismo, 
reflita sobre alguns exemplos que não men-
cionamos. Para ajudar, pense: qual é o melhor 
time de futebol do Brasil? Pensou? Baseado em 
que você escolheu esse time? Você já defendeu 
algum time e não percebeu que por algum 
motivo particular você o fez? Se sim, o etno-
centrismo é parte integrante do ser humano e 
trata-se do primeiro encontro com o diferente; 
muitas vezes nem percebemos que estamos 
praticando. Porém, somente a forma hostil, 
desrespeitosa com a qual os indivíduos mani-
festam esse encontro é que vai gerar as violên-
cias físicas e simbólicas. Caso você não tenha 
escolhido um time por preferência, discuta 
com os colegas e tente observar quais as prá-
ticas que vocês realizam e que antes não con-
sideravam como sendo uma característica do 
etnocentrismo. A própria Antropologia nasce 
etnocêntrica e, ao perceber que essa não era a 
melhor forma de lidar com a diversidade, essa 
Ciência busca, paulatinamente, compreender 
o outro em sua dimensão de riqueza, aspecto 
esse que estudaremos a partir de agora. E en-
tão, vamos continuar as nossas reflexões? 
1.4.2 Relativismo cultural
Discutimos que a avaliação que fazemos 
de culturas distintas da nossa são elabora-
das a partir de nossa experiência, ou seja, ela 
é informada por nossa própria lógica cultural. 
Lembra da pergunta que fizemos agora a pou-
co? Qual o melhor time de futebol? Contudo, 
é a partir de uma ampliação do conhecimento 
sobre a existência de padrões de comporta-
mentos diferentes que tem feito com que os 
homens reflitam um pouco mais sobre a na-
turalização desses mesmos comportamentos. 
Isso vem contribuindo para que um novo po-
diCA
“Para os evolucionistas 
do século XIX a evo-
lução desenvolvia-se 
através de uma linha 
única; a evolução teria 
raízes em uma unidade 
psíquica através da 
qual todos os grupos 
humanos teriam o mes-
mo potencial de desen-
volvimento, embora 
alguns estivessem mais 
adiantados que outros. 
Esta abordagem unili-
near considerava que 
cada sociedade seguiria 
o seu ouso histórico 
através de três estágios: 
selvageria, barbaris-
mo e civilização. Em 
oposição a essa teoria, 
e a partir de Franz Boas, 
surgiu a ideia de que 
cada grupo humano 
desenvolve-se através 
de caminho próprio, 
que não pode ser sim-
plificado na estrutura 
tríplice dos estágios. 
Esta possibilidade de 
desenvolvimento múlti-
plo constitui o objeto 
da abordagem multili-
near”. (LARAIA, Roque 
de Barros. Cultura: um 
conceito antropológico. 
Rio de Janeiro: Zahar, 
2005., p. 59).
PArA SABer MAiS
Para ampliar os conhe-
cimentos sobre o tema 
abordado, assista ao 
filme “Mister Johnson: 
no coração da África”. 
Direção: Bruce Beres-
ford. EUA, Baseado no 
romance de Joyce Cary. 
Na trama, Johnson 
apresenta-se como 
uma pessoa negra que 
assimilaas normas da 
cultura branca e acaba 
agindo de maneira et-
nocêntrica em relação à 
sua própria cultura. 
25
Ciências da Religião - Antropologia Cultural
sicionamento a respeito das diferenças, e que 
procura reconhecer suas especificidades como 
legítimas, façam parte permanente da relação 
entre o “grupo do eu” e o “grupo do outro”. 
Assim sendo, o Relativismo Cultural pode ser 
considerado como ideologia que, ao reco-
nhecer os padrões fixados em cada socieda-
de para dirigir sua própria existência, sustenta 
que cada conjunto de costumes possui legi-
timidade e reforça a necessidade da tolerân-
cia perante organizações diferentes da nossa 
(HERSKOVITS, 1963).
Quem também tece considerações in-
teressantes sobre essa noção de relativismo 
cultural é Salhins (2004), quando pondera 
que a própria prática antropológica se torna-
ria infrutífera sem a postura relativista. Dito 
de outra forma, esse autor coloca que a com-
preensão genuína do outro perpassa por uma 
atitude de respeito e uma busca para elaborar 
um mínimo de imparcialidade e neutralidade, 
pois apenas nos despindo de nossos próprios 
valores é que conseguiremos, de certo modo, 
estar no lugar do outro. Esse ponto é essencial, 
pois, como podemos perceber, o relativismo 
para esse pensador não se constitui apenas 
em uma postura, mas em um método do fazer 
antropológico. Segundo Salhins: 
O relativismo cultural é, antes de mais nada e sobretudo, um procedimento an-
tropológico interpretativo – ou seja, metodológico. Ele não consiste no argu-
mento moral de que qualquer cultura ou costume é tão bom quanto qualquer 
outro, se não melhor. O relativismo é simples prescrição de que, para que pos-
sam tornar-se inteligíveis, as práticas e ideais de outras pessoas devem ser “res-
situadas em seus contextos históricos, e compreendidas como valores posicio-
nais no campo de suas próprias relações culturais, antes de serem submetidas a 
juízos morais e categóricos de nossa própria lavra”. A relatividade é a suspensão 
provisória dos próprios juízos de modo a situar as práticas em pauta na ordem 
cultural e histórica que as tornou possíveis. Afora isso, não se trata de forma al-
guma de uma questão de advocacia [grifos nossos]. (SALHINS, 2004, p. 59).
 
Independente de pensar o relativismo 
como uma atitude ou mesmo como método, 
podemos notar que se constitui em uma pos-
tura diferente do etnocentrismo, quase con-
trária. Essa postura configura-se na busca por 
tentar compreender que cada cultura possui 
suas singularidades e que elas são derivadas 
de elementos sócio-históricos complexos que 
influenciaram e influenciam a identidade de 
seus integrantes. Nesse sentido, torna-se im-
pensável a existência de culturas superiores e 
inferiores, pois cada uma delas tem seus cri-
térios e conceitos que estruturam valores, re-
gras, etc. Quer dizer, cada cultura sabe o por-
quê valoriza sua organização, seu modo de 
vida. Isso implica no fato de que, para compre-
endermos realmente uma cultura, precisamos 
reconhecer e respeitar a existência do outro 
como sendo diferente e não como uma varian-
te inferior do eu. Convém, ainda, acrescentar 
que isso significa enxergar que a cultura da 
qual somos fruto é apenas uma possibilidade 
de organização social, meramente mais uma 
entre várias.
Pensando nisso, estudaremos, a partir de 
agora, as sociedades que outrora foram consi-
deradas primitivas com o intuito de analisar os 
conceitos basilares da Antropologia, para que 
você consiga compreender, de maneira crítica, 
as diferenças sociais e culturais que compõem 
a humanidade e, também, entender as diversi-
dades étnicas e culturais. Além disso, objetiva-
mos localizá-lo na problemática capital da An-
tropologia como Ciência do outro, ou ainda, 
Ciência das diferenças. Aspectos esses que são 
de suma importância para a sua formação em 
Ciência da Religião. Embora você tenha consci-
ência de que essa diversidade não é primitiva 
nos moldes que o evolucionismo tratou, ainda 
assim usaremos o termo, pois a bibliografia 
consultada traz essa nomenclatura. Trata-se, 
portanto, de um mecanismo de distinção uti-
lizado pelos autores para analisar uma cultura 
que não a europeia, estadounidense e tantas 
outras sociedades capitalistas. Daí a perma-
nência do uso do termo, apesar de alguns au-
tores preferirem a seguinte grafia: “sociedades 
pré-capitalistas”.
Referências
Aires, Almeida, org. (2003) epistemologia. In:___ Dicionário Escolar de Filosofia. Lisboa: Plátano. 
Versão online: http://www.defnarede.com/a.html.
BRANDÃO, CARLOS RODRIGUES. Reflexões sobre como fazer trabalho de campo. revista socie-
dade e cultura, v. 10, n. 1, JAN./JUN. 2007, p. 11-27, 2007.
diCA
A antropóloga Rita 
Laura Segato em seus 
estudos sobre direitos 
humanos aponta que 
existe um conflito entre 
a ética a moral e a lei 
para a compreensão 
das populações ditas 
primitivas. Isso porque, 
segundo a referida 
autora, os direitos uni-
versais tomam como 
pressupostos a relação 
da dignidade da pessoa 
humana segundo 
preceitos ocidentais. 
Diante disso, povos 
que possuem costumes 
diferentes acabam 
sendo acometidos a 
interpretações etno-
cêntricas. Não obstante, 
Segato (2006) aponta 
o relativismo cultural 
como uma forma de 
mediação do conflito 
entre ética, moral e lei 
(SEGATO, 2006).
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