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Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 B264l Baronett, Stan. Lógica : uma introdução voltada para as ciências / Stan Baronett ; tradução Anatólio Laschuk. – Porto Alegre : Bookman, 2009. 568 p. : il. ; 25 cm. ISBN 978-85-7780-537-2 1. Lógica. I. Título. CDU 164 Lógica e Verdade visão geral Vivemos na Era da Informação. As estações de televisão a cabo dão notícias locais e mundiais 24 horas por dia. A Internet fornece acesso a milhões de livros, artigos e milhares de jornais de todo o mundo. Os Web sites pes- soais, os Web logs (blogs) e os chat rooms apresentam comentários instantâneos a respeito dos eventos em todo o planeta. Frequentemente, descobrimos que, juntamen- te com a informação, diversas afirmações são apresenta- das. Por exemplo, suponha que leiamos o seguinte: Alguns estúdios cinematográficos e diretores independen- tes de cinema estão lançando seus filmes em DVD, em vez de colocá-los nos cinemas. Em breve, você será capaz de assistir à estreia de um filme em sua casa, pagando uma fração do que custaria caso você fosse a um cinema, com- prasse ou alugasse o filme. De fato, as vendas de ingressos nos cinemas americanos vêm caindo de forma contínua durante os últimos dez anos. Portanto, é de se esperar que os cinemas irão se tornar obsoletos. Esse trecho contém uma inferência. Uma inferência, ou argumento, é um encadeamento de proposições (sentenças que são ou verdadeiras, ou falsas). As primeiras três proposições do trecho são premissas; contêm informações com o objetivo de dar boas razões para se aceitar a conclusão, ou seja, a afirmação de que os cinemas irão se tornar obsoletos. Nesse trecho há duas coisas a considerar: a informação dada é verdadeira? Se a infor- 1.1 CONTEÚDO DE VERDADE E COMPONENTE LÓGICO 1.2 LÓGICA E RELAÇÕES 1.3 ERROS DE CONTEÚDO DE VERDADE, ERROS DE COMPONENTE LÓGICO E A ANÁLISE DE INFERÊNCIAS 1.4 RACIOCÍNIO, JULGAMENTO E ANÁLISE DEDUTIVA 1.5 INFERÊNCIAS DEDUTIVAS E INDUTIVAS 1.6 INCERTEZA E ANÁLISE INDUTIVA 11capítulo 30 Lógica mação for verdadeira, ela oferecerá boas razões para que a conclusão seja aceita? Essas questões oferecem um vislumbre do papel da lógica, que é o estudo do raciocínio. A análise lógica revela a extensão da correção do raciocínio encontrado nas inferências. A lógica fornece as habilidades necessárias para se identificar as inferências dos outros, colocando uma pessoa em uma posição que permite a análise coerente e precisa dessas inferências. O aprendizado das habilidades lógicas irá capacitá-lo a sub- meter as suas próprias inferências a essa mesma análise, de modo que possa antecipar objeções e críticas. Este livro introduz as ferramentas da análise lógica e apresenta aplicações práticas da lógica. 1.1 CONTEÚDO DE VERDADE E COMPONENTE LÓGICO O nosso interesse inicial no estudo da lógica está em dois modos impor- tantes de avaliarmos a informação que recebemos durante a nossa inte- ração consciente com o mundo. Primeiro, o conteúdo de verdade – A informação é verdadeira ou falsa? Segundo, o componente lógico – Se a informação for verdadeira, então que poderá se concluir dela? Por exemplo, se alguém entrar em um quarto e aparentar estar encharcado, podere- mos concluir que está chovendo lá fora. Esse pensamento muito natural e quase instantâneo é na realidade o resultado de dois processos. O pri- meiro é a avaliação da informação visual – a pessoa “aparenta estar mo- lhada”. O segundo processo, embora complexo, ocorre tão rapidamente que pode escapar à atenção. A sua complexidade está no notável processo de se levar uma peça de informação para além de seus limites. A partir de “uma pessoa molhada”, concluímos que “está chovendo”. De uma peça de informação, desenvolvemos, ou inferimos, uma consequência. Damo- nos conta da complexidade apenas quando nos tornamos conscientes do processo. Então, somos confrontados com o processo seguinte de calcular e justificar a nossa inferência. Se fizermos para alguém um comentário de que está chovendo lá fora, essa pessoa poderá nos pedir para explicar por que pensamos isso. Só então ficaremos conscientes da necessidade de analisar e justificar a nossa conclusão. Apontar para a pessoa mo- lhada pode ajudar a justificar a nossa conclusão, mas uma análise mais profunda levanta a possibilidade de que possamos estar enganados, ou seja, de que não esteja chovendo. Há certamente outras razões para uma pessoa estar molhada – ela pode ter sido atingida por balões com água, pode ter se borrifado com água devido ao calor, pode ter passado entre os esguichos de água de um gramado, ou o umedecimento deve-se a suor excessivo etc. De fato, à medida que as explicações para o umedecimento começam a se empilhar, podemos ir ficando menos confiantes de que realmente esteja chovendo. Esse exemplo mostra que devemos conside- rar a nossa interação com o mundo de duas maneiras diferentes: (1) A informação que recebemos é exata, correta ou verdadeira? (2) Se for ver- dadeira, então o que poderemos inferir dela; que conclusões resultarão? Inferência: Um conjunto de pro- posições, nas quais as premissas são apresentadas como fundamentação da conclusão. Proposição: Um enunciado que é ou verdadeiro, ou falso. Premissa: Uma proposição (ou conjunto de propo- sições) que é dada como fundamen- tação para uma conclusão. Conclusão: A parte final de uma infe- rência; a proposição que se pretende obter a partir das premissas. Conteúdo de ver- dade: A verdade ou falsidade efetiva de uma proposição e os métodos de sua determinação. Componente lógi- co: A relação lógica entre as premissas e uma conclusão. C A P Í T U L O 1 • Lógica e Verdade 31 1.2 LÓGICA E RELAÇÕES A determinação do conteúdo de verdade e do componente lógico de uma inferência constituem um processo complexo, de modo que erros podem facilmente ser cometidos. Há duas fontes potenciais de erros – conteúdo de verdade incorreto e componente lógico incorreto. Embora improvável, é possível contudo que, no nosso exemplo anterior, estivés- semos errados em relação à pessoa estar realmente molhada (lembre-se, dissemos que a pessoa “aparentava” estar encharcada). Se for assim, esse seria um caso de conteúdo de verdade incorreto. Por outro lado, a nossa inferência poderia estar errada, pois poderia não estar chovendo. Se for assim, esse seria um caso de componente lógico incorreto. (É possível que estejamos errados nos dois casos – conteúdo de verdade incorreto e componente lógico incorreto.) A primeira fonte de erro, conteúdo de verdade incorreto, é a mais familiar. Muito da nossa educação formal é dedicada ao conteúdo de verdade das informações. Entretanto, a se- gunda fonte de erro, componente lógico incorreto, é mais difícil de ser reconhecida porque diz respeito à relação entre as proposições e não às proposições em si. Para isso ser completamente entendido, é necessário olhar os exemplos que elucidarão as distinções que estamos fazendo. Suponha que você receba duas peças de informação: 1. Vincent van Gogh nasceu em alguma data durante os anos 1800. 2. Marie Curie nasceu em alguma data durante os anos 1800. Primeiro, podemos investigar a verdade das proposições. Observe que a verdade ou falsidade de cada proposição é independente da outra – isto é, ambas podem ser verdadeiras, ambas podem ser falsas ou uma pode ser verdadeira e a outra, falsa. Facilmente poderíamos encontrar evidências a respeito da verdade ou falsidade de cada proposição (con- sultando uma enciclopédia, um livro de história da ciência, pesquisando na Internet etc.). O resultado dessa linha de análise seria conhecermos o conteúdo de verdade; teríamos determinado a verdade ou a falsidade real de cada proposição. Entretanto, antes de investigar o conteúdo de verdade, poderíamos examinar as duas proposições como premissas em potencial. O nosso foco seria então o que poderia ser inferido a partir delas – O que se concluirádelas se forem verdadeiras? Essa linha de análise leva-nos à área do componente lógico, cujo foco é a relação entre o par de duas proposições acima e uma nova proposição, a conclusão, que poderemos obter do par. Uma possível conclusão é a seguinte: 3. Van Gogh nasceu antes de Marie Curie. A nossa atenção agora está focada em perguntas diferentes, tais como “E se as duas primeiras proposições forem verdadeiras?”, “Como a verdade ou falsidade das duas primeiras proposições relacionam-se com a verdade ou falsidade da terceira proposição?”, “As duas primeiras proposições fundamentam a terceira?” e “As duas primeiras proposições 32 Lógica fornecem boas razões para se aceitar a terceira?”. Essas considerações são radicalmente diferentes das nossas preocupações com o conteúdo de ver- dade das duas primeiras proposições. Como agora estamos concentrados na relação entre as três proposições, a nossa análise tem uma forma com- pletamente diferente. Uma analogia poderá ajudá-lo a compreender esse ponto. Quando falamos a respeito da relação entre duas pessoas, podere- mos pensar se ela é “boa”, “forte”, “de apoio mútuo”, “estremecida”, “muito fraca” etc. Isso é similar ao que estamos fazendo agora. Isso poderá ser visto mais claramente se mostrarmos as proposições de modo diferente. Exemplo 1.1 1. Vincent van Gogh nasceu em alguma data durante os anos 1800. 2. Marie Curie nasceu em alguma data durante os anos 1800. 3. Van Gogh nasceu antes de Marie Curie. Essa forma de mostrar a informação indica que o objetivo é as duas pri- meiras proposições serem premissas, ao passo que a proposição abaixo da linha é a conclusão de uma inferência. Queremos analisar a relação lógica {R} entre as premissas e a conclusão. Especificamente, queremos ver se as premissas, quando ambas são verdadeiras, garantem alguma coi- sa a respeito da conclusão. Se aceitarmos que a informação da primeira premissa é verdadeira, então seremos informados de que van Gogh nas- ceu em alguma data entre os anos 1800 e 1899. Se aceitarmos que a in- formação da segunda premissa é verdadeira, então seremos informados de que Marie Curie também nasceu em alguma data entre os anos 1800 e 1899. Neste ponto, é importante fazer uma separação entre o conteúdo de verdade da conclusão e a análise lógica que determina se é possível ou não obtê-la das premissas, ou seja, uma questão de relação. Isso é crucial porque nem sempre estamos em condições de determinar o conteúdo de verdade das proposições. Contudo, podemos desenhar uma linha de tempo para representar os anos 1800. 18991800 Como não determinamos o conteúdo de verdade dessas premissas, é pelo menos logicamente possível situar as datas de nascimento de van Gogh e Curie sobre essa linha de modo tal que a conclusão seja verdadeira. van Gogh Curie 18991800 Relação lógica: A conexão lógica entre premissas e conclusões. C A P Í T U L O 1 • Lógica e Verdade 33 Também é logicamente possível situar as datas de nascimento de Van Gogh e Curie sobre essa linha de modo que a conclusão seja falsa. Curie van Gogh 18991800 Entretanto, a análise do Exemplo 1.1 revelou que, embora a informação das premissas seja verdadeira, é logicamente possível que a conclusão seja tanto verdadeira como falsa. Esse exemplo mostra que podemos de- terminar a relação lógica entre as proposições sem conhecermos a verda- de ou falsidade real das proposições envolvidas. Agora, vamos examinar um par ligeiramente diferente de propo- sições. 1. Marie Curie nasceu em alguma data durante os anos 1800. 2. Nelson Mandela nasceu em alguma data durante os anos 1900. Agora estamos interessados na relação que existe entre esse par de pro- posições e uma nova proposição, uma que podemos derivar como uma consequência desse par. Uma candidata seria esta proposição: 3. Marie Curie nasceu antes de Nelson Mandela. Isso nos dá um novo exemplo de análise lógica. Exemplo 1.2 1. Marie Curie nasceu em alguma data durante os anos 1800. 2. Nelson Mandela nasceu em alguma data durante os anos 1900. 3. Marie Curie nasceu antes de Nelson Mandela. Como antes, para fins de análise lógica, começaremos admitindo que as premissas são verdadeiras. Se assim for, a informação dada é: Premissa 1 – Marie Curie nasceu em alguma data entre 1800 e 1899, e Premissa 2 – Nelson Mandela nasceu em alguma data entre 1900 e 1999. No- vamente podemos desenhar uma linha de tempo para nos ajudar na análise. 1900 Curie Mandela 19991800 34 Lógica A data de nascimento de Marie Curie pode ser colocada em qualquer lugar entre 1800 e 1899. A data de nascimento de Nelson Mandela pode ser colocada em qualquer lugar entre 1900 e 1999. Agora, se as informa- ções das premissas forem verdadeiras, então a relação {R} entre essas três proposições será tal que a conclusão do Exemplo 1.2 também deverá ser verdadeira. Lembre-se de que essa é apenas uma análise lógica – não es- tamos afirmando que qualquer uma das proposições seja realmente ver- dadeira. Mais exatamente, estamos considerando apenas o componente lógico contido na inferência (e se as premissas forem verdadeiras?). A nossa análise revelou algo completamente diferente do Exemplo 1.1. Es- pecificamente, o Exemplo 1.2 mostra que em uma inferência é possível existir uma relação em que as premissas, se verdadeiras, garantem que a conclusão seja verdadeira. Assim, a análise lógica é completamente dife- rente da análise de conteúdo de verdade, que considera apenas qual é o caso (se as proposições são verdadeiras ou falsas). Um exemplo final será considerado aqui. Exemplo 1.3 1. Marie Curie nasceu em alguma data durante os anos 1800. 2. Nelson Mandela nasceu em alguma data durante os anos 1900. 3. Nelson Mandela nasceu antes de Marie Curie. Como antes, para fins de análise lógica, começaremos aceitando que as premissas são verdadeiras. Se for assim, a informação dada é a mesma de antes: Premissa 1 – Marie Curie nasceu em alguma data entre 1800 e 1899. Premissa 2 – Nelson Mandela nasceu em alguma data entre 1900 e 1999. Se as premissas forem aceitas como verdadeiras, então a relação {R} entre essas três proposições será tal que a conclusão deve ser falsa. No que diz respeito à questão da relação, a discussão até aqui revelou que os resultados podem ser diferentes. No Exemplo 1.1, a relação era tal que, mesmo se as premissas fossem ambas verdadeiras, a conclusão pode- ria ser tanto verdadeira ou falsa. No Exemplo 1.3, a relação era tal que, se as premissas fossem ambas verdadeiras, então a conclusão tinha que ser falsa. Mais importante ainda, no Exemplo 1.2 a relação era tal que, se as premis- sas fossem ambas verdadeiras, era garantida a verdade da conclusão. O domínio da análise lógica requer a separação efetiva dos dois ti- pos de avaliação de informação que examinamos. Como as nossas men- tes naturalmente processam a informação segundo os dois modos que discutimos, frequentemente fica confuso quando pela primeira vez ten- tamos conscientemente manter separados os dois modos. Primeiro, a in- formação que estou recebendo é exata, correta ou verdadeira? Segundo, se for verdadeira, então o que eu posso inferir dela – isto é, que conclu- sões podem ser tiradas? De fato, para a maioria das pessoas, o primeiro C A P Í T U L O 1 • Lógica e Verdade 35 tipo de avaliação (o conteúdo de verdade) tem prioridade. Se você não estiver consciente da diferença entre conteúdo de verdade e componente lógico, então surgirá uma confusão. Podemos ilustrar isso realizando um pequeno experimento em que você lê uma frase, compreende o seu sig- nificado, mas não a julga como verdadeira ou falsa. Tente compreender o significado da frase sem decidir a respeito de sua veracidade ou falsidade real. A frase irá se referir ao livro que você está lendo agora. Aqui está a frase: O livro que você está lendo agora pesa 1000 quilogramas. Ao terminar de ler a frase, a maioria das pessoas, se não todas, imediata- mente sabe que é falsa. A “decisão”de que a frase era falsa ocorre tão ra- pidamente que as pessoas não conseguem evitá-la. Isso mostra que uma parte da nossa mente está constantemente analisando a informação em relação à sua verdade ou falsidade. Isso é importante para a nossa discus- são precisamente porque devemos reconhecer que as nossas mentes estão constantemente trabalhando em dois níveis diferentes, e devemos apren- der a manter separados esses níveis. Para avaliarmos a relação (o compo- nente lógico) que existe entre as proposições, devemos desconsiderar o conteúdo de verdade. Temporariamente, devemos ignorar os resultados de verdade ou falsidade reais – não porque não sejam importantes, mas simplesmente porque estamos fazendo algo inteiramente diferente. É possível ter um entendimento claro de como as duas funções dife- rem examinando como nós processamos outros tipos de informação. Os sentidos da visão e do olfato são duas funções distintas. Não esperamos que nossos olhos detectem a fragrância de uma flor, ou que nossos narizes nos digam qual é a cor da flor. Na verdade, quando as pessoas estão cheirando algo, algumas vezes elas fecham os olhos para dar a mais alta prioridade ao sentido de olfato. Bem frequentemente, fechamos os olhos quando quere- mos nos concentrar para ouvir alguma coisa. De forma semelhante, quan- do estamos concentrados no componente lógico, devemos aprender a tem- porariamente “fechar” a nossa capacidade de ver o conteúdo de verdade. CONJUNTO DE EXERCÍCIOS 1.2 ��� Para analisar as relações das inferências seguintes, (1) imagine que todas as pre- missas são verdadeiras, (2) determine se a conclusão de cada inferência é então (a) verdadeira, (b) falsa ou (c) tanto verdadeira como falsa, e (3) explique os seus resultados. (Uma resposta completa para o primeiro exercício em cada con- junto é dada para que você tenha um modelo a ser seguido. Soluções e explicações para os exercícios com asteriscos estão no final do livro.) 1. O livro A tem mais de 200 páginas. O livro B tem mais de 500 páginas. O livro B tem mais páginas do que o livro A. caraujo Retângulo Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Catalogação na publicação: Renata de Souza Borges CRB-10/1922 B264l Baronett, Stan. Lógica : uma introdução voltada para as ciências / Stan Baronett ; tradução Anatólio Laschuk. – Porto Alegre : Bookman, 2009. 568 p. : il. ; 25 cm. ISBN 978-85-7780-537-2 1. Lógica. I. Título. CDU 164 visão geral Uma parte importante da análise lógica de inferências envolve a elucidação das possíveis condições sob as quais as proposições individuais que constituem a inferência podem ser verdadeiras ou falsas. Para demonstrar que uma inferência é válida ou inválida, você deve compreen- der os requisitos lógicos das proposições individuais en- volvidas e ser capaz de analisar a relação lógica entre as premissas e a conclusão da inferência. O fundamento da nossa discussão neste capítulo é a lógica das proposições categóricas. 3.1 PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS Uma proposição categórica expressa uma relação específica en- tre classes de objetos. Uma classe é definida como um grupo de objetos que têm algumas características comuns reconhecíveis. As classes também podem ser referidas como categorias ou con- juntos. Usaremos S para a classe designada pelo termo sujeito de uma proposição categórica e P para a classe designada pelo termo predicado. Toda proposição categórica ou afirma que o termo su- jeito relaciona-se parcial ou totalmente com o termo predicado, ou nega que o termo sujeito relaciona-se parcial ou totalmente com o termo predicado. Em outras palavras, podemos expressar qualquer uma das seguintes possibilidades em relação a S e P: 3.1 PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS 3.2 SILOGISMOS CATEGÓRICOS 33capítulo 122 Lógica Todos S são P Nenhum S é P Alguns S são P Alguns S não são P A primeira proposição categórica, “Todos S são P”, é denominada proposição universal afirmativa, porque declara que todos os membros do termo sujeito são membros do termo predicado. Essas declarações são ou verdadeiras ou falsas, mas isso só pode ser decidido quando os S e os P são substituídos por termos reais da classe, por exemplo, “Todas as árvores são decíduas”*. Podemos ver nesse exemplo a asserção de que toda árvo- re (a classe designada pelo termo sujeito) é decídua (a classe designada pelo termo predicado). Como sabemos que há, no mínimo, uma classe de árvores que não é decídua (pinheiros etc.), o conteúdo de verdade dessa instância particular de uma proposição universal afirmativa é falsa. * N. de T.: Em biologia, o termo decíduo indica a queda de folhas. No caso, todas as árvores perdem as folhas. Proposição ca- tegórica: Uma proposição que usa conjuntos, cate- gorias, ou grupos de objetos (reais ou imaginários) para substituir as variáveis em uma das quatro formas específicas seguin- tes – “Todos S são P”, “Nenhum S é P”, “Alguns S são P” e “Alguns S não são P”. Classe: Um gru- po, conjunto ou coleção de objetos que têm uma ca- racterística comum atribuída a cada membro. Termo sujeito: A classe designada pelo primeiro termo de uma proposição categórica. Termo predicado: A classe designada pelo segundo ter- mo de uma propo- sição categórica. Proposição uni- versal afirmativa: A forma de propo- sição “Todos S são P”, a qual declara que todos os mem- bros do termo sujei- to são membros do termo predicado. BIOGRAFIA ARISTÓTELES Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) é frequentemen- te considerado como o criador do estudo da ló- gica. As suas ideias dominaram o pensamento ocidental por dois mil anos e os seus escritos in- fluenciaram todos os aspectos da cultura euro- peia: metafísica, ética, política, estética e episte- mologia. Tão dominante eram as ideias de Aristóteles que todo o pensamento subsequente, científico e lógico, tinha que estar de acordo com o seu trabalho. O sistema de lógica de Aristóteles baseia-se nas relações entre ter- mos. As proposições categóricas, como “Todos os homens são mortais”, contêm um termo sujeito (“homens”) e um termo predicado (“mor- tais”). Isso é um exemplo de uma proposição universal afirmativa. Ela faz a asserção de que a classe inteira dos homens está incluída na classe dos seres mortais. Aristóteles queria que a lógica e a ciência se com- plementassem mutuamente, de modo que não surpreende que a sua lógica foi desenvolvida, em grande parte, para solidificar o raciocínio científico. A ciência de Aristóteles baseava-se na ideia de classificação. O conhecimento científico é obtido por meio da capacidade de classi- ficar um grupo de objetos como subclasse de uma classe que já é bem compreendida. Essa disposição científica significava que Aristóteles en- tendia que ao menos algumas proposições universais assumem que a classe de objetos que está sendo referida têm membros que realmente existem. Para analisar algumas inferências, isso requer que o conteúdo de verdade de certas proposições seja investigado. Entretanto, as ideias lógicas modernas têm enfatizado a separação entre conteúdo de verda- de e componente lógico das inferências. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 123 Se substituirmos os termos sujeito e predicado por “árvore” e “de- cídua” nas três proposições categóricas restantes, obteremos os seguintes resultados: “Nenhuma árvore é decídua”, “Algumas árvores são decídu- as” e “Algumas árvores não são decíduas”. A primeira dessas, “Nenhuma árvore é decídua”, é denominada proposição universal negativa porque declara que nenhum membro do termo sujeito é membro do termo pre- dicado. Essa proposição afirma que não existe nem ao menos um mem- bro de S que seja membro de P. Entretanto, como algumas árvores são decíduas, o conteúdo de verdade dessa proposição é falso. O próximo exemplo, “Algumas árvores são decíduas”, é denomina- do proposiçãoparticular afirmativa porque declara que alguns membros do termo sujeito são membros do termo predicado. Em outras palavras, essa proposição declara que ao menos um membro de S é membro de P.* O nosso conhecimento anterior sobre árvores diz-nos que essa pro- posição é verdadeira. O exemplo seguinte, “Algumas árvores não são decíduas”, é de- nominado proposição particular negativa porque declara que alguns membros do termo sujeito não são membros do termo predicado. Em outras palavras, essa proposição declara que, no mínimo, um membro de S não é membro de P.** O nosso conhecimento anterior sobre árvores diz-nos que essa proposição também é verdadeira. Quando uma proposição categórica refere-se a objetos, tais como “pinheiros”, parece ser natural a referência ao conteúdo de verdade da proposição. Entretanto, considere esta proposição: “Todos os unicórnios são criaturas de um chifre”. Como interpretaremos o conteúdo de ver- dade dessa proposição? De um lado, poderíamos dizer que a proposição é verdadeira por definição (o termo “unicórnio” é definido como sen- do “uma criatura de um chifre”). Por outro lado, poderíamos dizer que a proposição é falsa porque não existe nenhum unicórnio. Isso levanta uma questão importante em relação à interpretação de proposições ca- tegóricas universais. Diz-se que uma proposição tem importação exis- tencial quando ela declara a existência de objetos. A partir disso, deve-se assumir que toda proposição universal tem importação existencial? Se a resposta for “sim”, então a proposição “Todos os unicórnios são criaturas de um chifre” será falsa, já que não existe nenhum unicórnio. Se a respos- ta for “não”, então a proposição “Todos os unicórnios são criaturas de um chifre” será verdadeira por definição, mesmo que não haja unicórnios. Assim, é claramente óbvio que algumas proposições categóricas universais têm importação existencial (“Todas as árvores são decídu- as”), ao passo que outras não (“Todos os unicórnios são criaturas de um chifre”). Entretanto, se tivermos que decidir em cada instância se uma proposição categórica universal individual tem importação existencial, * N. de T.: Caso particularizado como “Algum S é P”. ** N. de T.: “Algum S não é P.” Proposição univer- sal negativa: A for- ma de proposição “Nenhum S é P”, a qual declara que nenhum dos mem- bros do termo sujei- to são membros do termo predicado. Proposição parti- cular afirmativa: A forma de pro- posição “Alguns S são P”, a qual declara que alguns (pelo menos um) dos membros do termo sujeito são membros do termo predicado. Proposição par- ticular negativa: A forma de pro- posição “Alguns S não são P”, a qual declara que alguns (pelo menos um) dos membros do termo sujeito não são membros do termo predicado. Importação exis- tencial: Em uma proposição, a asser- ção da existência de objetos de algum tipo. 124 Lógica então estaremos fazendo análise do conteúdo de verdade ao invés de análise lógica. Assim, uma proposição que tem a estrutura “Todos S são P” é entendida como afirmando que “Se alguma coisa for um S, então também será um P”. Uma proposição que tem a estrutura “Nenhum S é P” é entendida como afirmando que “Se alguma coisa for um S, então não será um P”. Essa interpretação coloca de lado a questão do conteúdo de verdade relacionado com a existência dos objetos referidos pela pro- posição. Como a frase “Se alguma coisa for um S,” não implica a existên- cia de membros da classe S, essa interpretação pode ser usada para fazer diagrama do requisito lógico da proposição. Os diagramas das proposi- ções categóricas serão discutidos após a próxima seção. Referência Rápida 3.1 • As quatro proposições categóricas Todos S são P Universal afirmativa Nenhum S é P Universal negativa Alguns S são P Particular afirmativa Alguns S não são P Particular negativa Os quatro tipos de proposições categóricas incluem duas proposi- ções universais e duas proposições particu- lares. Traduzindo sentenças ordinárias em proposições categóricas No Capítulo 2, vimos que as informações faltantes exigiram que nós reconstruíssemos as inferências com base em nossa compreensão do contexto no qual as informações foram apresentadas. De modo similar, muitas sentenças da linguagem ordinária não espelham a estrutura dos quatro tipos de proposições categóricas. Esses casos requerem que nós façamos a reconstrução e a tradução das sentenças nas estruturas que estivemos usando. As traduções são úteis porque elucidam o significado e revelam os requisitos lógicos das proposições. A linguagem ordinária contém um número ilimitado de sentenças possíveis, de modo que exploraremos apenas umas poucas das ocorrências mais comuns. Por exemplo, a sentença comum “Todos os tubarões caçam” pode ser facilmente traduzida pela proposição categórica universal afir- mativa “Todos os tubarões são caçadores”. A sentença comum “Nenhum tubarão caça” é traduzida pela proposição categórica universal negativa “Nenhum tubarão é caçador”. De modo similar, a sentença “Algumas pes- soas jogam boliche” pode ser traduzida pela proposição categórica parti- cular afirmativa “Algumas pessoas são jogadoras de boliche”, e “Algumas pessoas não jogam boliche” pode ser traduzida pela proposição categórica particular negativa “Algumas pessoas não são jogadoras de boliche”. A tradução de algumas sentenças da linguagem ordinária requer uma interpretação da referência que normalmente é feita às classes men- C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 125 cionadas. Por exemplo, a sentença “Um golfinho é um mamífero” é me- lhor traduzida como sendo a proposição universal afirmativa “Todos os golfinhos são mamíferos”, já que normalmente estamos nos referimos à classe inteira de golfinhos ao classificá-los como mamíferos. Pela mesma razão, traduziríamos a sentença “Um golfinho não é um peixe” como sendo a proposição universal negativa “Nenhum golfinho é peixe”. Por outro lado, a sentença “Um golfinho vive no aquário local” seria tradu- zida pela proposição particular afirmativa “Alguns golfinhos vivem no aquário local”, já que certamente a sentença não está se referindo a todos os golfinhos. (O uso de “alguns” é apropriado nesta tradução porque seu uso em proposições categóricas significa “no mínimo um”.) A sentença “Todo computador é uma máquina complexa” refere- se a todos os computadores, de modo que é traduzida pela proposição universal afirmativa “Todos os computadores são máquinas complexas”. BIOGRAFIA JOHN VENN Embora muitas pessoas tenham expandido as ideias da álgebra booleana, talvez a mais útil dessas expansões é a que começou a ser usada por John Venn (1834–1923), ao criar o que veio a se tornar conhecido como diagramas de Venn. Esses diagramas distinguem-se dos cír- culos de Euler por alguns poucos e importan- tes modos de uso. Se quisermos analisar silo- gismos categóricos usando o sistema de Venn, sempre começaremos desenhando três círcu- los sobrepostos de mesmo tamanho. Cada cír- culo é, então, designado conforme qual dos três termos do silogismo está sendo representado pelo círculo: o termo sujeito da conclusão, o termo predicado da conclusão, ou o termo médio, que é o termo que ocorre apenas nas premissas. Quando usado em análise lógica, as dife- rentes áreas recebem então anotações para mostrar todas as asserções possíveis, de inclusão e exclusão de classe, das três proposições categó- ricas que constituem o silogismo categórico. O sombreamento de uma área indica que a classe é vazia e é usado nas proposições categóricas universais. A presença de um “X” indica que a classe não está vazia e ele é usado nas proposições categóricas particulares. Essas anotações são usadas com ambas as proposições afirmativas e negativas. A uniformidade dos diagramas de Venn oferece um método per- feitamente mecânico para determinar a validade ou invalidade de qual- quer silogismo categórico. Além disso, os diagramas de Venn são usa- dos frequentementeem análise matemática para representar a união e interseção de conjuntos. 126 Lógica A mesma tradução é válida para a sentença “Qualquer computador é uma máquina complexa”. Entretanto, a sentença “Nem todo computa- dor é caro” deve ser traduzida pela proposição particular negativa “Al- guns computadores não são caros”, porque é improvável que a sentença esteja declarando que nenhum computador é caro. Por outro lado, a sentença “Todo computador não é caro” deve ser traduzida pela pro- posição universal negativa “Nenhum computador é caro”, porque ela se refere à classe inteira dos computadores. Referência Rápida 3.2 • Traduzindo sentenças ordinárias em proposições categóricas Sentença ordinária Tradução Todos os tubarões caçam. Todos os tubarões são caçadores. Nenhum tubarão caça. Nenhum tubarão é caçador. Algumas pessoas jogam boliche. Algumas pessoas são jogadoras de boliche. Algumas pessoas não jogam boliche. Algumas pessoas não são jogadoras de boliche. Um golfinho é um mamífero. Todos os golfinhos são mamíferos. Um golfinho não é um peixe. Nenhum golfinho é peixe. Um golfinho vive no aquário local. Alguns golfinhos vivem no aquário local. Qualquer computador é uma máquina complexa. Todos os computadores são máquinas complexas. Nem todo computador é caro. Alguns computadores não são caros. Qualquer computador não é caro. Nenhum computador é caro. Uma sentença ordinária pode ser traduzida por uma das quatro pro- posições categóricas depois de ser recons- truída. Construindo diagramas de proposições categóricas: os diagramas de Venn Quando fazemos diagramas para as proposições categóricas, usamos os diagramas de Venn. Um diagrama de Venn consiste em círculos sobrepos- tos que designam classes, juntamente com anotações específicas associadas aos círculos. Como uma proposição categórica contém duas classes, dese- nharemos dois círculos que se intersecionam e então faremos anotações nos desenhos dependendo do que é dito na proposição. A estrutura básica do diagrama de Venn de uma proposição categórica está mostrada abaixo. 1 S P 2 3 4 Diagrama de Venn: Um diagra- ma que usa círculos sobrepostos para representar propo- sições categóricas e para ilustrar a vali- dade ou invalidade de uma inferência categórica. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 127 A Área 1 designa aqueles membros de S que não são membros de P. A Área 2 designa aqueles membros de S que são membros de P. A Área 3 designa aqueles membros de P que não são membros de S. Finalmente, na Área 4 não há nenhum membro nem de S nem de P. Todos S são P Os nossos diagramas precisam incluir os requisitos lógi- cos expressos pelas proposições categóricas. Na proposição “Todos S são P ”, a palavra “Todos” liga-se diretamente a S e não a P. A proposição está expressando alguma coisa definitiva sobre S (que todo membro dessa classe é membro de P), mas deixa em aberto a questão da extensão do domínio P. Tendo isso em mente, podemos produzir o diagrama de Venn dessa pro- posição. 1 S P 2 3 4 Todos S são P Como a Área 1 designa aqueles membros de S que não são membros de P, o diagrama deve mostrar que essa área está vazia, que ela não contém nenhum membro de S. Para mostrar que uma área está vazia, ela é som- breada. Portanto, o diagrama ilustra aquilo que a proposição expressa: se qualquer objeto for um membro de S, então ele será um membro de P. Esse diagrama pode ser usado para ilustrar os requisitos lógicos de qualquer proposição categórica universal afirmativa. O diagrama de Venn anterior fornece o mecanismo necessário para fazer análises simples de inferências. Para demonstrar a validade ou invalidade, precisamos apenas consultar os diagramas da proposição envolvida em uma inferência. Por exemplo, Todos S são P Todos P são S Se assumirmos que a premissa é verdadeira, poderemos usar o diagrama de Venn para representá-la. Então, o diagrama revelará se a premissa fun- damenta logicamente ou não a conclusão. O diagrama completo revelará se a conclusão deve ser verdadeira (caso em que teremos demonstrado que a inferência é válida) ou revelará a possibilidade de uma conclusão falsa (caso em que teremos demonstrado que a inferência é inválida). 128 Lógica Esse método visual de análise capacita-nos a ver a lógica das inferências. Assim, na inferência anterior, podemos fazer a seguinte pergunta: é pos- sível que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa? Usando o diagra- ma anterior da premissa “Todos S são P ”, teremos a resposta. Premissa: Todos S são P = Verdadeira Conclusão: Todos P são S = Falsa Essa figura é tudo de que precisamos para demonstrar que a inferência é inválida. Tudo que tivemos que mostrar foi a possibilidade de termos uma premissa verdadeira e uma conclusão falsa, e isso foi feito. Nenhum S é P O nosso diagrama dessa proposição precisa incluir os requisitos lógicos expressos pela proposição. A asserção é que nenhum membro da classe S é membro da classe P. Isso está expresso no seguinte diagrama de Venn: 1 S P 2 3 4 Nenhum S é P Como a Área 2 designa aqueles membros de S que são membros de P, o diagrama deve mostrar que essa área está vazia, de modo que ela está sombreada. Esse diagrama pode ser usado para ilustrar os requisitos ló- gicos de qualquer proposição categórica universal negativa. Novamente, uma inferência simples pode ser construída e analisa- da usando-se essa estrutura de proposição. Nenhum S é P Nenhum P é S É possível que a premissa seja verdadeira e a conclusão falsa? Acontece que isso não é possível. O diagrama mostra a única maneira da premissa ser verdadeira. Premissa: Nenhum S é P = Verdadeira Conclusão: Nenhum P é S = Verdadeira Como o diagrama ilustra, se tornarmos verdadeira a premissa, então automaticamente também tornaremos verdadeira a conclusão. Como é impossível tornar verdadeira a premissa dessa inferência e falsa a con- clusão ao mesmo tempo, demonstramos que essa inferência é válida. Alguns S são P Nós estipularemos que “alguns” significa no mínimo um, de modo que a proposição diz que no mínimo um membro de S é C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 129 membro de P. Diferentemente das proposições universais, as proposi- ções categóricas particulares sempre são entendidas como tendo impor- tação existencial. Portanto, a proposição “Alguns S são P” está na verda- de dizendo que existe no mínimo um S e que ele é um P. Se for dito que existe no mínimo um membro em uma classe de objetos, então um X será colocado dentro do círculo. 1 S P 2 3 4 Alguns S são P X Como a Área 2 designa aqueles membros de S que são membros de P, o diagrama deve mostrar que essa área tem no mínimo um membro. Esse diagrama pode ser usado para ilustrar os requisitos lógicos de qualquer proposição categórica particular afirmativa. Agora, usando essa estrutura de proposição, poderemos analisar uma inferência simples em relação à validade. Alguns S são P Alguns P são S O diagrama mostra a única maneira da premissa ser verdadeira. Premissa: Alguns S são P = Verdadeira Conclusão: Alguns P são S = Verdadeira Como o diagrama ilustra, se tornarmos verdadeira a premissa, então automaticamente também tornaremos verdadeira a conclusão. Como, nessa inferência, é impossível ao mesmo tempo tornar a premissa verda- deira e a conclusão falsa, demonstramos que essa inferência é válida. Alguns S não são P Essa estrutura de proposição está fazendo uma de- claração a respeito da classe de S – que existe no mínimo um membro de S e que ele não é membro de P. Como vimos antes, se for dito que existe no mínimo um membro em uma classe de objetos, então um X será colocado dentro do círculo. 1 S P 2 3 4 Alguns S não são P X 130 Lógica Como a Área 1 designa aqueles membros de S que não são membros de P, o diagrama deve mostrar que essa área tem no mínimo um membro. Esse diagrama pode ser usado para ilustrar os requisitos lógicos de qual- quer proposição categóricaparticular negativa. Agora, usando essa estrutura de proposição, poderemos analisar uma inferência simples em relação à validade. Alguns S não são P Alguns P não são S O diagrama mostra a única maneira da premissa ser verdadeira. Premissa: Alguns S não são P = Verdadeira Conclusão: Alguns P não são S = Falsa Para que a conclusão fosse verdadeira, deveria haver um X na Área 3 do círculo P. Entretanto, a informação da premissa não nos permite colocar um X nessa área. Como já mostramos claramente que é possível haver uma premissa verdadeira e uma conclusão falsa, então demonstramos que a inferência é inválida. Vamos trabalhar passo a passo em uma inferência simples, mas interessante. Todos S são P Alguns S são P Como antes, uma proposição universal afirmativa pode usar o diagrama de Venn para representar a informação da premissa. S P Premissa: Todos S são P = Verdadeira Conclusão: Alguns S são P = Falsa A inferência é inválida. Isso ilustra a importância de se compreender a importação existencial. As proposições universais são interpretadas como não fazendo nenhu- ma declaração existencial. É por isso que o diagrama de “Todos S são P ” e “Nenhum S é P ” usam apenas o sombreamento de áreas. Os dia- gramas dessas proposições não contêm nenhum X para indicar que um objeto existe verdadeiramente em uma área dada. Entretanto, proposi- ções particulares são sempre entendidas como declarando existência (é por isso que se usa um X para ilustrar que no mínimo um dos objetos C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 131 existe realmente). Assim, de fato é verdade que “Todos os unicórnios são criaturas de um chifre” (por definição), e é falso que “Alguns unicórnios são criaturas de um chifre”, porque isso afirma que existe no mínimo um unicórnio. No diagrama anterior, para a conclusão ser verdadeira, deveria haver um X na área onde S e P se sobrepõem, mas não há ne- nhum X porque uma premissa universal não nos permite colocar um X em lugar algum, somente uma proposição particular permite isso. Ao declarar que essa inferência é inválida, estamos apenas expressando a possibilidade de uma premissa ser verdadeira e a conclusão ser falsa, o que é revelado pelo diagrama de Venn. A Referência Rápida 3.3 mostra os diagramas de Venn das propo- sições categóricas. Referência Rápida 3.3 • Os diagramas de Venn são usados para ilustrar os quatro tipos de proposições categóricas Todos S são P Nenhum S é P Alguns S são P Alguns S não são P S P S P S P S P X X Os diagramas de Venn são usados para ilustrar os quatro tipos de pro- posições categóricas. CONJUNTO DE EXERCÍCIOS 3.1 Exercícios 1–20 Traduza as seguintes sentenças para estruturas de proposições categóricas, estipulando o que S e P representarão em cada caso. A seguir, dese- nhe diagramas de Venn para representar a lógica de cada proposição. 1. Alguns bonecos de neve são elementos decorativos permanentes de gra- mados. Resposta: S = “bonecos de neve”, P = “elementos decorativos permanentes de gramados” S P X 2. Nenhuma sanguessuga é advogado. 3. Alguns apresentadores de notícias da televisão são bons atores. 4. Todas as rosquinhas fazem parte da culinária sem gordura. 5. Todas as pessoas paranormais são impostoras. 132 Lógica *6. Algumas crianças não estão seguindo os passos de seus pais. 7. Atualmente, nenhum vulcão é uma estrutura geológica ativa. 8. Todos os patos são criaturas tolas. 9. Todos os professores são coitados miseráveis. 10. Alguns poemas são obras de literatura belamente escritas. *11. Alguns vírus não são letais para o homem. 12. Nenhum laureado com o prêmio Nobel é campeão olímpico. 13. Todas as criaturas marítimas são bivalvares. 14. Algumas estrelas do rock são bons pais. 15. Todos os condimentos são grátis. *16. Alguns vegetais exóticos não são comestíveis. 17. Algumas pesquisas científicas são fraudulentas. 18. Nenhum comercial de televisão merece a nossa atenção. *19. Todos os instrumentos bem afinados são calmantes para o ouvido. 20. Alguns disquetes são defeituosos. Exercícios 21–35 Traduza as seguintes sentenças ordinárias em proposições ca- tegóricas. 21. Uma maçã está no refrigerador. Resposta: Algumas maçãs estão no refrigerador. Embora a sentença esteja se referindo a uma maçã em particular, o uso de “al- gumas” é apropriado nessa tradução porque foi estipulado que significa “no mínimo uma”. 22. Qualquer médico é bem-educado. 23. Nenhum inseto canta. 24. Uma flor é uma planta. 25. Todas as pessoas felizes dançam. *26. Alguns ursos hibernam. 27. Alguns carros não poluem. 28. Uma manga (fruta) não é um vegetal. 29. Nem todo cão é amigável. 30. Todo funcionário de escritório está sob pressão para produzir. *31. Um tsunami é perigoso. 32. Algumas pessoas não atravessam distraidamente as ruas. 33. Não é verdade que todos os exames finais de cálculo são fáceis. 34. Toda ópera é fácil de entender. 35. Nem todo romance é uma sátira. Exercícios 36–67 Desenhe diagramas de Venn para demonstrar se cada inferên- cia é válida ou inválida. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 133 36. Todos S são P Todos P são S Resposta: S P Todos S são P Premissa: Todos S são P = Verdadeira Conclusão: Todos P são S = Falsa A inferência é inválida. 37. Todos S são P Todos S são P 38. Todos S são P Nenhum S é P 39. Todos S são P Nenhum P é S 40. Todos S são P Alguns S são P *41. Todos S são P Alguns P são S 42. Todos S são P Alguns S não são P 43. Todos S são P Alguns P não são S 44. Nenhum S é P Todos S são P 45. Nenhum S é P Todos P são S *46. Nenhum S é P Nenhum P é S 47. Nenhum S é P Nenhum S é P 48. Nenhum S é P Alguns S são P 49. Nenhum S é P Alguns P são S 50. Nenhum S é P Alguns S não são P 134 Lógica *51. Nenhum S é P Alguns P não são S 52. Alguns S são P Todos S são P 53. Alguns S são P Todos P são S 54. Alguns S são P Nenhum S é P 55. Alguns S são P Nenhum P é S *56. Alguns S são P Alguns P são S 57. Alguns S são P Alguns S são P 58. Alguns S são P Alguns S não são P 59. Alguns S são P Alguns P não são S 60. Alguns S não são P Todos S são P *61. Alguns S não são P Todos P são S 62. Alguns S não são P Nenhum S é P 63. Alguns S não são P Nenhum P é S 64. Alguns S não são P Alguns S são P 65. Alguns S não são P Alguns P são S *66. Alguns S não são P Alguns S não são P 67. Alguns S não são P Alguns P não são S 3.2 SILOGISMOS CATEGÓRICOS Nesta seção, a discussão das proposições categóricas será ampliada para incluir a análise dos silogismos categóricos. Um silogismo é uma infe- rência que tem exatamente duas premissas e uma conclusão. Um silogis- mo categórico é uma inferência construída inteiramente de proposições Silogismo: Qual- quer inferência que tem exatamente duas premissas e uma conclusão. Silogismo cate- górico: Uma infe- rência construída inteiramente de proposições cate- góricas. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 135 categóricas. Se assumirmos que as premissas de uma inferência são ver- dadeiras, então poderemos usar um diagrama de Venn para represen- tar uma premissa e, em seguida, acrescentar uma segunda premissa ao nosso desenho. O diagrama completo revelará se a conclusão deverá ser verdadeira, caso em que teremos demonstrado que a inferência é válida, ou revelará a possibilidade de uma conclusão falsa, caso em que teremos demonstrado que a inferência é inválida. Esse método visual de análise usando diagramas de Venn capacita-nos a ver a lógica das inferências. O uso de figuras para revelar a validade ou a invalidade é útil por- que nos dá algo para ver. Para ilustrar com mais detalhes as questões lógicas que estamos indagando, será útil mostrar o quanto o conteúdo de verdade de uma inferência pode ser confuso e desorientador quando estamos fazendo uma análise de inferência lógica. Por exemplo, conside- re a inferênciado Exemplo 3.1A. Exemplo 3.1A Conteúdo de Verdade Todos os quadrados são triângulos = Falso (F) Todos os triângulos são retângulos = Falso (F) Todos os quadrados são retângulos = Verdade (V) Os conteúdos de verdade dessas proposições estão sendo mostrados para ajudar a ilustrar como essa informação não nos ajuda a decidir se a inferência é válida ou inválida, porque a questão lógica é algo completa- mente diferente. A análise lógica começa vendo que todo silogismo cate- górico contém exatamente três termos, cada um dos quais é usado duas vezes. Os dois termos da conclusão são referidos como sendo os termos sujeito (S) e predicado (P) da inferência. O termo que ocorre apenas nas premissas é denominado termo médio (M). Com isso, podemos mostrar a estrutura da inferência fazendo S = “quadrados”, P = “retângulos” e M = “triângulos”. Exemplo 3.1B Estrutura Todos S são M Todos M são P Todos S são P Como os silogismos categóricos têm três termos, teremos que acrescen- tar um círculo ao nosso diagrama de Venn básico. O diagrama seguinte é o modelo para a análise lógica dos silogismos categóricos. 136 Lógica S P M Nesse diagrama de Venn, S representa o termo sujeito da conclusão, P, o termo predicado da conclusão, e M, o termo médio, o qual é encontrado apenas nas premissas. Como o interesse lógico é a validade, precisamos ver o que acontece quando tornamos verdadeiras ambas as premissas. Agora, podemos completar o diagrama de Venn com as anotações apro- priadas. Começamos desenhando a informação dada na primeira pre- missa como se ela fosse verdadeira. Ela diz que qualquer área do círculo S fora de M está vazia, de modo que sombreamos a área correspondente. S P M O próximo passo é marcar o diagrama desenhando a informação da segunda premissa. Ela diz que qualquer área do círculo M fora de P está vazia, de modo que, novamente, sombreamos as área correspondente. S P M O diagrama está completo quando contém as informações dadas nas duas premissas. Para decidir se a inferência é válida ou inválida, verifi- camos se a conclusão deve ser verdadeira. No nosso exemplo, a conclusão declara que a classe S está completamente contida na classe P. No diagra- ma de Venn, isso pode ser verificado, de modo que a inferência é válida. Vamos analisar uma inferência similar à do Exemplo 3.1A. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 137 Exemplo 3.2A Conteúdo de Verdade Todos os quadrados são triângulos = Falso (F) Todos os retângulos são triângulos = Falso (F) Todos os quadrados são retângulos = Verdade (V) O conteúdo de verdade dessa inferência corresponde ao da infe- rência do Exemplo 3.1A; isto é, ambas tem premissas falsas e uma con- clusão verdadeira. Se a validade dependesse disso, poderíamos concluir que, como a primeira inferência foi válida, então esta também deve ser válida. Podemos mostrar a estrutura da inferência fazendo S = “quadra- dos”, P = “retângulos” e M = “triângulos”. Exemplo 3.2B Estrutura Todos S são M Todos P são M Todos S são P Novamente, começamos desenhando a informação dada na primeira pre- missa como se ela fosse verdadeira. Ela diz que qualquer área do círculo S fora de M está vazia, de modo que sombreamos a área correspondente. S P M O próximo passo é marcar o diagrama desenhando a informação da segunda premissa. Ela diz que qualquer área do círculo P fora de M está vazia, de modo que, novamente, sombreamos a área correspondente. S P M 138 Lógica O diagrama estará completo quando contiver as informações dadas nas duas premissas. Para decidir se a inferência é válida ou inválida, verifi- camos se a conclusão é verdadeira. A conclusão diz que a classe S está completamente contida na classe P, mas o diagrama de Venn mostra claramente que a conclusão é falsa. Portanto, demonstramos que essa inferência é inválida. Depois de mostrarmos que uma inferência é inválida, saberemos que é logicamente possível substituir cada símbolo por alguma coisa e obter premissas verdadeiras e uma conclusão falsa. Considere as seguin- tes substituições dos símbolos do Exemplo 3.2B – Estrutura: S = “ho- mens”, P = “mulheres” e M = “seres humanos”. Exemplo 3.3 Conteúdo de Verdade Todos os homens são seres humanos = Verdade (V) Todas as mulheres são seres humanos = Verdade (V) Todos os homens são mulheres = Falso (F) Esse exemplo ilustra que, como as inferências inválidas permitem que haja premissas verdadeiras e uma conclusão falsa, elas não podem garantir que a verdade será preservada do começo ao fim em uma inferência. Para mostrar que nós não estamos enganando o leitor, podemos substituir os símbolos pelas mesmas palavras no Exemplo 3.1B – Es- trutura (que mostrou ser uma inferência válida). Novamente, S = “ho- mens”, P = “mulheres” e M = “seres humanos”. Exemplo 3.4 Conteúdo de Verdade Todos os homens são seres humanos = Verdade (V) Todos os seres humanos são mulheres = Falso (F) Todos os homens são mulheres = Falso (F) Lembre-se do que a validade garante – se as premissas forem verdadeiras, então a conclusão não poderá ser falsa. Para conseguir mais prática, vamos analisar uma outra inferência. Exemplo 3.5A Todas as pessoas que dirigem carros compactos são pessoas de egos bem-ajustados. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 139 Nenhuma pessoa que deseje ser muito rica é uma pessoa de ego bem-ajustado. Nenhuma pessoa que dirige carros compactos é uma pessoa que deseja ser muito rica. Se fizermos S = “pessoas que dirigem carros compactos”, P = “pessoas que desejam ser muito ricas” e M = “pessoas de egos bem-ajustados”, obteremos a seguinte estrutura de inferência: Exemplo 3.5B Estrutura Todos S são M Nenhum P é M Nenhum S é P Podemos começar a nossa análise tornando verdadeiras ambas as pre- missas, como se mostra a seguir: S P M Premissa 1: Todos S são M = Verdadeira Premissa 2: Nenhum P é M = Verdadeira O diagrama de Venn completo confirma que, se as premissas forem ver- dadeiras, então a conclusão, “Nenhum S é P ”, será verdadeira. Portanto, demonstramos que a inferência é válida. Iremos trabalhar agora passo a passo na análise de mais duas infe- rências para nos familiarizarmos com o uso das proposições “Alguns S são P ” e “Alguns S não são P ”. Desta vez, começaremos com a estrutura da inferência. Exemplo 3.6 Todos S são M Alguns M são P Alguns S são P 140 Lógica Iremos tratar uma premissa de cada vez porque a análise dessa inferên- cia revelará a necessidade de uma nova técnica para fazer o diagrama das proposições categóricas particulares. Começaremos desenhando a informação da primeira premissa como se ela fosse verdadeira. S P M O próximo passo é marcar o diagrama desenhando a informação da segunda premissa. Essa é uma proposição particular, a qual declara que existe ao menos um M que é um P. Assim, devemos colocar um X em algum lugar das áreas onde M e P se sobrepõem. Vamos considerar três possibilidades, que são denominadas (a), (b) e (c). (a) S P M X (b) S P M X Nas ilustrações (a) e (b), o X representa um objeto que é M e P, como requerido pela proposição “Alguns M são P ”. Entretanto, em (a), o X está expressando um objeto que também é um S, ao passo que em (b) o X está indicando que o objeto não é um S. Embora ambos os diagramas C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 141 representem possibilidades lógicas desde que a segunda premissa seja verdadeira, os objetos referidos pelos Xs nos dois diagramas não são os mesmos. De fato, ambas os diagramas “dizem demais”. A informação da segunda premissa não nos permite escolher uma das possibilidades em detrimento da outra. Resolveremos esse problema fazendo o diagrama da segunda premissa como se mostra na ilustração (c). (c) S P M X A razão da colocação do X em (c) é que não pode haver mais de um X para representar o que está sendo expresso por qualquer uma das pro- posições em particular. Assim, em (c), o X está colocado na linha que separaas duas áreas nas quais o objeto poderia existir. Essa localização do X informa-nos que ele pode estar localizado na área mostrada ou em (a), ou em (b). Entretanto, ele não pode estar em ambas ao mesmo tempo. A ilustração final (c) mostra a seguinte possibilidade: Premissa 1: Todos S são M = Verdadeira Premissa 2: Alguns M são P = Verdadeira Conclusão: Alguns S são P = Falsa Como é possível o X referido na premissa 2 existir apenas na área mos- trada em (b), a análise lógica revela que é possível haver premissas ver- dadeiras e uma conclusão falsa. Portanto, a inferência é inválida. O Exemplo 3.7 apresenta a última análise de inferência desta seção. Exemplo 3.7 Alguns P não são M Todos S são M Alguns S não são P Iremos tratar uma premissa de cada vez porque a análise dessa infe- rência revelará uma nova estratégia para fazer o diagrama das proposi- ções categóricas particulares. Começaremos desenhando a informação dada na primeira premissa, “Alguns P não são M”, como se ela fosse verdadeira. 142 Lógica S P M X O próximo passo é marcar o diagrama desenhando a informação dada na segunda premissa, “Todos S são M ”. S P M X Como agora uma das áreas possíveis para a colocação do X foi elimina- da, o X deve ser deslocado para a única possibilidade que restou. S P M X Para evitar que tenhamos de alterar a localização do X no diagrama, poderíamos ter começado a análise desenhando a segunda premissa. Assim, sempre que uma inferência tiver uma pre- missa particular e uma universal, a estratégia a ser empregada é sempre fazer primeiro o diagra- ma da premissa universal. Frequentemente, isso eliminará a necessidade de se alterar a localização do X dentro do diagrama de Venn. Agora, a análise final da inferência pode ser completada. Estratégia Em uma inferência que contém uma premissa universal e uma premis- sa particular, sempre faça primei- ro o diagrama da premissa universal. C A P Í T U L O 3 • Proposições Categóricas e Inferências 143 S P M X Premissa 1: Alguns P não são M = Verdadeira Premissa 2: Todos S são M = Verdadeira Conclusão: Alguns S não são P = Falsa O diagrama de Venn completo demonstra que a inferência é inválida, porque ela revela a possibilidade de premissas verdadeiras e uma con- clusão falsa. CONJUNTO DE EXERCÍCIOS 3.2 ��� Exercícios 1–20 (1) Substitua os símbolos para descobrir a estrutura lógica das inferências categóricas e, então, (2) demonstre que as inferências são ou válidas ou inválidas. Use o seu conhecimento de proposições categóricas e diagramas de Venn para ajudar a desenvolver as suas demonstrações. 1. Todos os personagens de desenhos em quadrinhos são criações fictícias. Algumas criações fictícias são objetos possíveis. Alguns personagens de desenhos em quadrinhos são objetos possíveis. Resposta: Inválida Sejam S = “personagens de desenhos em quadrinhos”, P = “objetos possíveis” e M = “criações fictícias”. A estrutura da inferência é: Todos S são M Alguns M são P Alguns S são P S P M X 2. Nenhuma estrela de cinema é ganhadora do prêmio Pulitzer. Nenhum ganhador do prêmio Pulitzer é analfabeto. Nenhuma estrela de cinema é analfabeta. Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 1/11 Origens da razão e suas bases �isiológicas INICIAR Introdução Segundo Chaui (2000), a razão é tão antiga quanto a �iloso�ia e não há maneira de estudar sua origem sem estudar a origem da �iloso�ia, que surgiu na Grécia, pois ambos os conhecimentos estão entrelaçados. Dessa forma, nesta aula vamos 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 2/11 estudar os primeiros �ilósofos da humanidade, abordando, posteriormente, suas teorias sobre a razão. Ao �inal desta aula, você será capaz de: conhecer as origens da razão; compreender as bases �isiológicas da razão; identi�icar as diferenças entre razão e emoção. As origens da razão De acordo com Aranha e Martins (1993, p. 66) “os primeiros �ilósofos viveram por volta do século IV a.C., e mais tarde foram classi�icados como pré-socráticos (a divisão da �iloso�ia grega se centraliza na �igura de Sócrates) e agrupados em diversas escolas”. Cada uma dessas escolas de origem �ilosó�ica, surgidas entre os séculos IV a.C. e o inıćio do cristianismo, é referenciada aos pensadores da época: a escola jônica era composta pelos �ilósofos Tales, Anaximandro, Anaxıḿenes, Heráclito e Empédocles; a escola itálica era composta por Pitágoras; a escola eleática era composta por Xenófanes, Parmênides e Zenão e a escola atomista era formada por Leucipo e Demócrito (ARANHA E MARTINS, 1993). O ateniense Sócrates (470 – 399 a.C.), primeiro dos três grandes �ilósofos gregos (os outros dois foram Platão e Aristóteles), conduziu a transição do pensamento re�lexivo sobre a origem do universo para preocupações como a existência humana. E� dele a frase “Conhece-te a ti mesmo”. SAIBA MAIS 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 3/11 O perıódo de passagem do pensamento mıt́ico para o pensamento racional foi chamado de “milagre grego” e ocorreu lentamente, sendo que as caracterıśticas dessa época não desapareceram por completo. As novidades ou avanços do homem, como a escrita, a moeda e as leis surgidas no perıódo arcaico (séculos VII e VI a.C., que é o perıódo próprio de surgimento da �iloso�ia), ajudaram, de certa forma, a transformar a visão mıt́ica ou a visão do mito (ARANHA e MARTINS, 1993). Podemos entender o conceito de mito da seguinte forma: “é uma intuição compreensiva da realidade, é uma forma espontânea de o homem situar-se no mundo. E as raıźes do mito não se acham nas explicações exclusivamente racionais, mas na realidade vivida, portanto pré-re�lexiva, das emoções e da afetividade” (ARANHA e MARTINS, 1993, p. 55). Figura 1 – Grécia, o berço da �iloso�ia antiga Fonte: ivan bastien/Shutterstock.com SAIBA MAIS 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 4/11 A partir dessa compreensão, podemos entender que o homem deu um salto progressivo e lento do mito da emoção até a razão e que seus avanços e descobertas contribuıŕam, de certa forma, para que a humanidade chegasse ao pensamento racional, ou à razão propriamente dita. As descobertas que garantiram a transformação do mito para o racionalismo foram: a escrita; a moeda; as leis; a cidade-estado (polis). No próximo tópico, faremos um estudo a respeito das bases �isiológicas da razão e suas implicações para a �iloso�ia moderna. O “milagre grego” foi o perıódo em que importantes fatores contribuıŕam para o surgimento da �iloso�ia (e de um pensamento mais racional), deixando o pensamento mıt́ico de lado. Além disso, é o perıódo de maior concentração de correntes �ilosó�icas, com os mais importantes �ilósofos da época, como Sócrates, Aristóteles e Platão. No livro “As origens Gregas da Filoso�ia” (2011), o autor Marcos Sandrini aborda toda a história do nascimento da �iloso�ia. SAIBA MAIS As bases �isiológicas da razão 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 5/11 De acordo com Chaui (2000, p. 137) “a palavra ser, em português, traduz a palavra latina ‘esse’ e a expressão grega ta onta. A palavra latina ‘esse’ é o in�initivo de um verbo, o verbo ser. A expressão grega ta onta quer dizer: as coisas existentes, os entes, os seres”. A partir dessa compreensão, observa-se, segundoChaui (2000), que os primeiros �ilósofos não se preocupavam com a capacidade e a possibilidade de conhecimento, ou seja, não indagavam se poderiam ou não conhecer o “ser”, mas alguns deles mostravam essa preocupação: Heráclito de E� feso (535 - 475 a.C.), Parmênides de Eléia (530 – 460 a.C.) e Demócrito de Abdera (460 – 370 a.C.). Heráclito considerava a natureza como um “�luxo perpétuo”, em constante mudança. Parmênides se colocava contrário a Heráclito e a�irmava que só podemos pensar sobre aquilo que permanece idêntico, ou seja: para ele, “conhecer” era alcançar o imutável. Demócrito, por sua vez, desenvolveu uma teoria chamada de “atomismo”, a�irmando que a realidade é constituıd́a de átomos. Para iniciarmos os estudos deste tópico, vamos entender um pouco a respeito do conhecimento. Na Grécia antiga, os primeiros �ilósofos preocupavam-se com algumas perguntas: por que as coisas existem? O que é o mundo? Qual a origem da natureza? Esses questionamentos, ainda sem respostas naquela época, levavam a uma grande pergunta: o que é o ser? 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 6/11 De acordo com Chaui (2000), os �ilósofos gregos estabeleceram alguns princıṕios gerais de como alcançar o conhecimento verdadeiro, chamados de bases �isiológicas da razão: sensação, percepção, memória e categorização. Sensação: “é o que nos dá as qualidades exteriores e interiores, isto é, as qualidades dos objetos e os efeitos internos dessas qualidades sobre nós” (CHAUI, 2000, p. 151). Por exemplo, podemos ouvir, sentir, tocar, cheirar odores e sabores, etc. Podemos sentir o quente e o frio, o doce e o amargo, ou o liso e o rugoso. Percepção: “é uma relação do sujeito com o mundo exterior e não com uma reação fıśico �isiológica de um sujeito fıśico �isiológico a um conjunto de estıḿulos externos” (CHAUI, 2000, p. 154). Podemos dizer que a percepção é uma maneira do ser humano conhecer o mundo que está a sua volta. Figura 2 – Heráclito de E� feso Fonte: Everett - Art/Shutterstock.com 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 7/11 De acordo com o dicionário de �iloso�ia (JAPIASSU e MARCONDES, 2001) a palavra percepção tem o seguinte signi�icado: Memória: “é uma evocação do passado. E� a capacidade humana para reter e guardar o tempo que se foi, salvando-o da perda total. A lembrança conserva aquilo que se foi e não retornará jamais” (CHAUI, 2000, p. 158). Categorização: é um processo mental, onde separamos as coisas em categorias, sendo uma forma de organização do nosso cérebro capaz de reunir, julgar, comparar e classi�icar eventos e objetos. A seguir, veremos como a razão e a emoção se relacionam. Quadro 1 – Signi�icado da palavra percepção Fonte: JAPIASSU E MARCONDES, 2001, p. 149. EXEMPLO O processo de estudo de um estudante, onde se divide as disciplinas em um quadro de horário de�inido durante um perıódo semana, é um processo de categorização. Dessa forma, o rendimento do estudo aumenta devido à associação que o cérebro faz com determinados horários. Razão e emoção 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 8/11 Ainda de acordo com Chaui (2000), alguns emotivistas, como Alfred Jules Ayer (1910-1989), salientam a utilidade dos sentimentos e das emoções para a nossa sobrevivência e para a nossa relação com os outros, cabendo à ética orientar a utilização da emoção para evitar a violência e garantir as relações justas entre os seres humanos. Até aqui, já vimos os conceitos e de�inições de razão, que possui como base o pensamento racional ou racionalismo, uma corrente �ilosó�ica muito estudada pelo �ilósofo, fıśico e matemático francês René Descartes (1596 – 1650), que traz um confronto com a emoção, que é um sentimento movido por impulsos, raiva e paixão. A emoção nasce a partir de indecisões e fatos do coração, que impedem o correto raciocıńio e julgamento dos prós e contras. Segundo Chaui (2000 p. 453), “nossos sentimentos são causas das normas e dos valores éticos”. O livro “O Erro de Descartes”, de Antônio Damásio, aborda o tema emoção profundamente. Para o autor, as emoções são indispensáveis para o pensamento racional. Acesse: Clique aqui (https://books.google.com.br/books/about/O_erro_de_Descartes. html? id=8JtFZ5TB3EEC&redir_esc=y). SAIBA MAIS O emotivismo é uma perspectiva com relação aos juıźos morais de cada pessoa e que a�irma que estes juıźos dependem das emoções do indivıd́uo. SAIBA MAIS https://books.google.com.br/books/about/O_erro_de_Descartes.html?id=8JtFZ5TB3EEC&redir_esc=y 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 9/11 De fato, podemos entender que a emoção não pode viver isoladamente, tal como Descartes a�irmava. Em alguns casos, ela é uma mola propulsora para que possamos estudar profundamente a razão das coisas e dos acontecimentos e nos permite, também, através de métodos, consolidar nossos conhecimentos. Figura Figura 3 - Emoções Fonte: g-stockstudio/Shutterstock.com EXEMPLO Um comportamento emocional é aquele carregado de impulsividade, sem medir consequências em nossos atos, como as nossas reações quando estamos ao volante: nossas emoções, algumas vezes, fazem com que 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 10/11 Um comportamento emocional é aquele carregado de impulsividade, sem medir consequências em nossos atos, como as nossas reações quando estamos ao volante: nossas emoções, algumas vezes, fazem com que esqueçamos de nossos valores éticos. esqueçamos de nossos valores éticos. Fechamento Assim, �inalizamos o conteúdo a respeito dos procedimentos racionais. Compreendendo seus principais componentes e situações. Nesta aula, você teve a oportunidade de: Conhecer as origens da razão, bem como da �iloso�ia; Compreender as bases �isiológicas da razão; Identi�icar a diferença entre a razão e a emoção. (sections/pdf/Tema_3.pdf) Referências CHAUI, Marilena. Convite à Filoso�ia.São Paulo: Editora A� tica, 2000. JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de �iloso�ia.2. ed. rev. Rio de Janeiro:J Zahar, 2001. https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema%203%20-%20Racioc%C3%ADnio%20L%C3%B3gico/sections/pdf/Tema_3.pdf 03/05/2022 20:53 DtCom https://ava.unicarioca.edu.br/ead/pluginfile.php/275407/mod_resource/content/1/Tema 3 - Raciocínio Lógico/index.html 11/11 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando:introdução à �iloso�ia. São Paulo: Moderna, 1993. PESSANHA, José Américo Motta. Sócrates – Coleção Os Pensadores.São Paulo: Nova Cultural, 1987. COTRIM, G. Fundamentos da Filoso�ia: História e grandes temas.São Paulo: Saraiva, 2000. SANDRINI, Marcos. As origens gregas da �iloso�ia.São Paulo. Editora Vozes, 2011. DAMASIO, ANTONIO R. O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano.São Paulo: Companhia das letras, 2009. CHANTAL, Priscilla. Alzheimer, memoria e leitura.São Paulo: D´PLA� CIDO Editora, 2013. LÓGICA COMPUTACIONAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Definir lógica proposicional. > Construir sentenças declarativas. > Reconhecer a linguagem da lógica proposicional. Introdução A lógica computacional utiliza proposições para estruturar suas sentenças lógicas e, com isso, conectivos lógicos podem ser utilizados a fim de testar expressões lógicas. Para a construção de sentenças mais complexas, deve-se utilizar a lin- guagem da lógica proposicional. Neste capítulo, vamos apresentar adefinição da lógica proposicional, de que forma são construídas as sentenças declarativas e, por fim, utilizar as técnicas da linguagem da lógica proposicional para fazer testes e gerar valores lógicos em suas saídas. Conceitos fundamentais Ao trabalharmos com lógica, é necessário que tenhamos ferramentas para poder expressar pensamentos mais complexos, e por isso utilizamos as pro- posições. Mas de que se trata, de fato, uma proposição? Segundo o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2014), proposição é definida como o ato ou o efeito de propor, como uma expressão verbal do pensamento e como máxima, sentença, asserção. Já segundo Carnielli e Epstein (2006), trata-se de um conjunto de palavras e de símbolos combinados no intuito de transmitir pensamentos completos e não ambíguos, de forma que o resultado da sentença, após Lógica proposicional Sergio Eduardo Nunes interpretada, retorne resultados VERDADEIRO ou FALSO. Para compreender melhor, observe os exemplos a seguir. � Brasília é a capital do Brasil. � 10 < 4. � Uva é uma fruta. � 17 é um número ímpar. Talvez você esteja questionando a segunda proposição, que afirma que o número 10 é menor do que quatro. Porém, lembre-se de que os pensamentos das sentenças proposicionais podem gerar VERDADEIRO ou FALSO. Nesse exemplo, é gerado um valor FALSO. Para deixar ainda mais claro, vejamos exemplos de expressões que não são proposições. � Ele caiu no balcão. � Será divertido. � O time perdeu. Veja que são expressões ambíguas e que, portanto, não permitem retornar VERDADEIRO ou FALSO. Conforme defendem Carnielli e Epstein (2006), a lógica matemática e com- putacional possui três princípios, conhecidos como axiomas (termo utilizado por Aristóteles para a ciência do raciocínio lógico). Vejamos. 1. Princípio da identidade: se uma proposição é VERDADEIRA, ela será VERDADEIRA. Podemos dizer que uma coisa é o que ela é e não se confunde com qualquer outra. 2. Princípio de não contradição: uma proposição jamais poderá assumir valores VERDADEIRO e FALSO ao mesmo tempo. Em outras palavras, não é possível assumir dois estados ao mesmo tempo. 3. Princípio do terceiro excluído: a afirmação pode ser VERDADEIRA ou sua negação é VERDADEIRA. Podemos compreender que uma expressão será VERDADEIRA, e se sua negação resultar em VERDADEIRO, então essa expressão é FALSA. Outra característica da proposição é a utilização de letras para expres- sar as proposições. Segundo Silva, Finger e Melo (2017), as proposições são Lógica proposicional2 divididas em simples e complexas, e a representação por meio das letras foi convencionada conforme pode ser observado a seguir. � Proposição simples: não permite der subdividida em outras expressões. Por exemplo, “João é careca”. As proposições simples são representadas por letras latinas em caixa-baixa (minúsculas), iniciando pela letra “p”; ou seja, são utilizadas as letras p, q, r, s, t, ..., z. � Proposição complexa: são expressões formadas pela combinação de duas ou mais proposições. Por exemplo, “João é careca e Paula é gaúcha”. As proposições complexas utilizam as letras maiúsculas; ou seja, P, Q, R, S, T, ..., Z. Para melhor compreensão, observe o exemplo a seguir: p: Hoje eu vou para a faculdade. q: Se chover, então irei ao cinema. P: Hoje eu vou para a faculdade; se chover, então irei ao cinema. Nesse exemplo, foram declaradas duas proposições simples: p e q. A partir das duas proposições simples, foi formada uma proposição composta: P. Essa expressão P também é conhecida como fórmula proposicional. Você percebeu que, para as duas proposições simples serem combinadas em uma composta, foi necessário fazer uma conexão? Isso foi feito pela partícula SE, que atua, portanto, como conectivo. Conforme afirmam Silva, Finger e Melo (2017), os conectivos são palavras utilizadas para formar novas proposições a partir de outras. Conforme o dicionário Aurélio (FERREIRA, 2014), o termo conectivo é o que liga ou une, um vocábulo que estabelece conexão entre palavras ou entre partes de uma frase. Carnielli e Epstein (2006) determinam que os conectivos utilizados nas expressões da lógica matemática e computacional são os seguintes. � NÃO: utilizado para negar uma expressão proposicional. Por exemplo: “O sol é uma estrela; o sol NÃO é uma estrela”. � E: também conhecido como conjunção, é utilizado para realizar a co- nexão entre duas proposições. Por exemplo: “O número 20 é par E o número 13 é ímpar”. � OU: utilizado para expressar uma disjunção entre as proposições sim- ples. Por exemplo: “No aniversário, eu vou comer doce OU salgado”. Lógica proposicional 3 � SE... ENTÃO: expressa uma condição para que algo ocorra ou não. Por exemplo: “SE Iago é cozinheiro, ENTÃO sabe fazer macarrão”. � SE E SOMENTE SE: trata-se de uma condição que expressa uma condição única de determinada ocorrência. Por exemplo: “Portugal é na Europa SE E SOMENTE SE O Sol é uma estrela”. Para facilitar a escrita de uma proposição complexa, são utilizados sím- bolos. Para expressar os conectivos na lógica matemática e computacional, são utilizados os símbolos demonstrados no Quadro 1. Quadro 1. Símbolos utilizados para expressar os conectivos lógicos Conectivo Símbolo NÃO ~ E ^ OU v SE... ENTÃO → SE E SOMENTE SE ↔ Fonte: Adaptado de Alencar Filho (2002, p. 75). Construção de sentenças declarativas Agora que você já reconhece os tipos de proposições e os conectivos lógicos, é possível avançarmos na construção de sentenças. O intuito, nesse mo- mento, é utilizar expressões literais, letras e símbolos, de forma a construir as expressões proposicionais. Segundo Carnielli e Epstein (2006), a construção das sentenças decla- rativas, em que são utilizadas as técnicas e demais ferramentas da lógica matemática computacional, demanda atenção a algumas regras, pontuadas a seguir. � São utilizados símbolos proposicionais (letras minúsculas) para a expressão das proposições simples. � Podem ser utilizados mais de um conector lógico em uma mesma proposição complexa. Lógica proposicional4 � Os parênteses priorizam as proposições em seu interior. � Uma fórmula proposicional é composta por afirmações lógicas e co- nectivos lógicos. A compreensão do raciocínio lógico em que sejam utilizados textos (expressões) é uma forma de construir expressões lógicas. Digite, em seu motor de busca preferido, “Raciocínio lógico na compreensão de texto” para ter acesso a artigo de mesmo nome que demonstra como as sentenças são tratadas com as proposições. Para que você possa compreender como é efetuada a construção das sentenças, observe, abaixo, os exemplos com cada um dos conectivos lógicos. 1. Conectivo NÃO: a negação de uma proposição é conhecida por um ~p (deve ser lido como “não p”). Sempre que uma afirmativa for VER- DADEIRA, sua negação resultará em uma afirmação FALSA; quando uma afirmativa for FALSA, sua negação resultará em uma afirmação VERDADEIRA. Acompanhe o exemplo a seguir. p: Mateus é jogador de futebol. ~p: NÃO é verdade que Mateus é jogador de futebol. Outra forma de expressar uma negação pode ser observada a seguir. ~p: É FALSO que Mateus é jogador de futebol. 2. Conectivo E: trata-se da conjunção de duas proposições p E q, em que o resultado sempre será VERDADEIRO quando as proposições p E q forem verdadeiras; caso contrário, será FALSA. Observe os exemplos a seguir. p: A terra é redonda. q: 3 < 15. p ^ q: A terra é redonda E 3 < 15, sendo essa sentença VERDADEIRA. r: O sol é verde. s: Uruguai fica na América do Sul. r ^ s: O sol é verde E o Uruguai fica na América do Sul, sendo essa sentença FALSA. Para que você entenda melhor o conectivo E, observe a Figura 1. Lógica proposicional 5 Figura 1. Diagrama de Venn para o E lógico. 3. Conectivo OU: efetua a disjunção de duas proposições p OU q. O valor lógico gerado será VERDADEIRO quando uma das proposições forem verdadeiras. Caso uma das proposições for falsa, então o valor lógico gerado será
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