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1 Em provas de concursos, os candidatos que não têm o hábito de ler ou que não compreendem um texto, não têm êxito nas outras matérias também. É bastante comum encontrar aqueles que não sabem ler os enunciados e não compreendem o que está sendo pedido que se faça. A compreensão e a interpretação dos textos devem ser a base dos estudos, tendo em vista que o desempenho da leitura interfere na aprendizagem de todas as outras matérias, além de promover a socialização e a cidadania do candidato-leitor. O bom leitor sabe selecionar o que deve ler e que efetivamente pode contribuir para sua compreensão sobre a complexidade do mundo atual. Interpretar é criar sentido, pois toda interpretação provoca a criação de “outro texto”. Cada leitor é um sujeito singular, que utiliza diferentes estratégias (sua experiência prévia, suas crenças, seus conflitos, suas expectativas e suas relações com o mundo) para dar sentido ao que lê, sem, no entanto, eliminar o sentido original do texto. Cabe, porém, ressaltar que é quase impossível determinar o grau de fidelidade de um leitor em relação ao texto original. O ato de interpretar possibilita a construção de novos conhecimentos a partir daqueles que existem previamente na memória do leitor. Esses conhecimentos são ativados e confrontados com as informações do texto, permitindo-lhe atribuir coerência àquilo que está lendo. Procedimentos para uma leitura eficaz: 1. Leia todo o texto, com atenção, procurando entender o seu sentido geral. 2. Identifique as ideias o texto (cada parágrafo contém uma ideia central e outras secundárias), estabelecendo as relações entre as partes. 3. Procure compreender todos os vocábulos e expressões. Muitas vezes, o próprio texto já fornece o significado da palavra. Mas, na medida do possível, use o dicionário sempre que estiver lendo, pois com isso aumentará os seus conhecimentos e ampliará o seu vocabulário. Lembre-se de que é bastante frequente a cobrança do significado (tanto literal quanto contextual) das palavras nessas provas. 4. Leia atentamente as instruções para a resolução das questões – analise com cuidado o que cada enunciado pede. Muitas vezes, o erro é proveniente do descuido (da pressa) na hora de ler as questões (principalmente se quando se subestima as informações dos comandos). Comandos para compreensão de textos Esses comandos baseiam-se em verbos que indicam ações visuais, ou seja, orientam o candidato às ideias explícitas. Por exemplo: Percebe-se que... Constata-se que... Observa-se que... O texto informa que... O narrador do texto diz que... Segundo o texto, é correto (incorreto) dizer que... Comandos para interpretação de textos Esses comandos baseiam-se verbos que indicam inferências, ou seja, orientam o candidato às ideias implícitas. Por exemplo: Depreende-se do texto que... Subentende-se das ideias e informações do texto que... A partir das ideias do texto, infere-se que... O texto permite deduzir que... Pode-se concluir do texto que... A intenção do narrador é... Comandos para medir conhecimentos gerais Esses comandos visam testar o conhecimento do candidato a respeito do assunto abordado no texto. Enfocando o assunto (tema, tese) abordado no texto... Considerando a amplitude do tema abordado no texto... Tendo o texto como referência inicial... Comandos para medir conhecimentos linguísticos Esses comandos visam testar o conhecimento gramatical do candidato e podem abordar assuntos de morfologia, de sintaxe, de semântica, de estilística, de coesão ou de coerência. Considerando as estruturas linguísticas do texto, ... Assinale a alternativa que apresenta erro gramatical. Aponte a construção que foge aos preceitos da norma culta. Com relação aos aspectos gramaticais do texto, ... Aponte a opção que preserva a manutenção do registro da norma culta da língua portuguesa. COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS PRINCIPAIS TÓPICOS DE ESTUDOS COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS COERÊNCIA E COESÃO SEMÂNTICA NÍVEIS DE LINGUAGEM VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS FORMA E CONTEÚDOS OS TEXTOS FUNÇÕES DA LINGUAGEM FIGURAS DE LINGUAGEM VÍCIOS DE LINGUAGEM TIPOLOGIA TEXTUAL GÊNEROS TEXTUAIS INTERTEXTUALIDADE EQUIVALÊNCIA E TRANSFORMAÇÃO DE ESTRUTURAS PROCESSOS DE COESÃO TEXTUAL TIPOS DE PARALELISMO 01 02 02 03 04 05 05 05 08 09 15 17 17 18 20 2 Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 2 Erros frequentes na leitura de textos 1. Extrapolação – consiste em acrescentar informações ausentes no texto original ou mesmo aplicá- lo em outros contextos. 2. Redução – ocorre quando o leitor diminui as informações ou a intensidade do texto. 3. Inversão – acontece quando o leitor perde passagens do desenvolvimento do texto ou altera a orientação de seu sentido (fato que pode levá-lo a conclusões opostas às expressas pelo autor). Coerência e coesão textuais são dois conceitos importantes para uma melhor compreensão do texto e para a melhor escrita de trabalhos de redação de qualquer área. A coerência diz respeito à ordenação das ideias e dos argumentos, ou seja, aborda a relação lógica entre ideias, situações ou acontecimentos, apoiando-se, por vezes, em mecanismos formais, de natureza gramatical ou lexical, e no conhecimento compartilhado entre os usuários da língua. Pode-se dizer que o conceito de coerência está ligado ao conteúdo, no sentido constituído pelo leitor. A coerência depende da coesão. Um texto com problemas de coesão terá, provavelmente, problemas de coerência. A coesão trata basicamente das articulações gramaticais existentes entre as palavras, as orações e frases para garantir uma boa sequenciação de eventos, ou seja, é a correta ligação entre os elementos de um texto, que ocorre no interior das frases, entre as próprias frases e entre os vários parágrafos. Pode-se dizer que um texto é coeso quando elementos coesivos (conjunções, preposições, advérbios e pronomes) são empregados corretamente. A semântica é o estudo da significação das palavras e das mudanças de sentido ocasionadas pelo contexto. O sentido original é a sua própria significação etimológica, mas este também sofre constantes alterações no decorrer do tempo, devido à sua expansão ou generalização. Por exemplo, carrasco era o nome do algoz Belchior Nunes Carrasco e generalizou-se para todos os algozes. Anfitrião era personagem de uma comédia de Plauto e se expandiu a todos aqueles que à sua casa reúnem convidados e amigos. A palavra (signo linguístico) é uma combinação de conceito (idéia) e palavra (escrita ou falada), que são: Significante: é o elemento concreto, material, perceptível: os sons (fonemas) ou as letras. Significado: é o elemento inteligível (o conceito) ou a imagem mental. As palavras possuem significados que podem ser: Literal (denotativo, real): é o sentido convencional, que não permite mais de uma interpretação, igual para todos os falantes da língua.Aparece na linguagem científica, informativa ou técnica. Contextual (conotativo, figurado): é o sentido diferente do convencional e que raramente se encontra no dicionário. Só é possível descobri-lo quando se observa o contexto em que aparecem. É apropriado à linguagem artística ou literária, cujas palavras mais sugerem do que informam. Campo lexical é o emprego de famílias de palavras – ou de palavras cognatas (aquelas que descendem de um mesmo radical, de uma mesma raiz). Cognação quer dizer parentesco. Por exemplo, do latim Stella derivam estrela, estelar, estrelar, estrelado. Veja também: Campo lexical de terra: aterrar, terremoto, desenterrar, aterrissar, desterro, terraplanagem, térreo, terrestre, território, terráqueo, terracota, etc. Campo lexical de luz: aluno, iluminar, luminosidade, ilustre, ilustrado, iluminado, etc. Campo semântico é o emprego de palavras que pertencem ao mesmo universo de significação, formando “famílias ideológicas”. Tais palavras se associam por meio de uma espécie de imantação semântica, ou seja, embora não sejam sinônimas, remetem um às outras em determinado contexto. Elas se dividem em: Hiperônimos: palavras que possuem um sentido mais genérico. Exemplos: Economia, Direito, futebol, componentes automotivos, disciplinas escolares, pássaros, etc. Hipônimos: palavras que possuem caráter mais específico. Observe os exemplos: Hipônimos de Economia: deflação, déficit, superávit, juros, câmbio, balança, etc. Hipônimos de Direito: mandado, arrolamento, alçada, ementa, agravo, etc. Hipônimos de Futebol: gol, pênalti, escanteio, etc. OBS: A relação entre hipônimos e hiperônimos não é absoluta, pois um mesmo termo pode exercer as duas funções, dependendo do contexto: Vertebrado é um hipônimo de animal, mas é um hiperônimo de mamífero. Mamífero é um hipônimo de animal e de vertebrado, mas é um hiperônimo de roedor, de ruminante, etc. Relações semânticas entre as palavras SINONÍMIA: ocorre quando palavras podem ser substituías umas pelas outras, sem prejudicar a compreensão das ideias do texto. Por exemplo, em uma prova de concurso, a banca fez a seguinte assertiva: “pode-se substituir o vocábulo hemisférica por ”minuciosa” sem que isso altere as relações de sentido do texto.” A princípio, parece ser impossível estabelecer uma relação de sinonímia entre tais vocábulos, mas o texto trazia o seguinte conteúdo: “Eu me considero um consumidor tão educado que nunca compra nada sem antes fazer uma tomada hemisférica de preços”. Neste caso, o vocábulo minuciosa não somente substitui hemisférica como também é o mais adequado. COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS SEMÂNTICA Professor Dalvani Língua Portuguesa 1 Professor Dalvani Língua Portuguesa 1 Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 3 Veja outros exemplos: rival/adversário/ antagonista cara/rosto cloreto de sódio/sal unhas/garras aguardar/esperar pessoa/indivíduo íntegro/probo/correto/justo/honesto ANTONÍMIA: ocorre quando duas ou mais palavras se opõem quanto ao significado dentro do texto. Veja: feliz/infeliz bem/mal rico/pobre amor/ódio euforia/melancolia sagrado/profano claro/escuro PARONÍMIA: ocorre quando palavras ou expressões possuem grafia e pronúncia parecidas, com sentidos diferentes. Observe os exemplos: Ir ao encontro de = estar de acordo. Ir de encontro a = chocar-se, opor-se. Na medida em que (Loc. Causal) = tendo em vista que. À medida que (Loc. Proporcional) = à proporção que. Infração = violação da lei. Inflação = desvalorização da moeda. Cível = relativo ao direito civil. Civil = relativo ao cidadão. HOMONÍMIA: ocorre com palavras que possuem grafia ou pronúncia igual, por casa de sua origem, mas que têm sentidos distintos. As palavras homônimas podem ser: Homógrafas (heterófonas): possuem mesma grafia e pronuncia diferente, com sentidos também diferentes. Sede (ê) = vontade de beber. Sede (é) = administração de empresa / casa de fazenda. Almoço (ô) = substantivo. Almoço (ó) = verbo. Colher (ê) = verbo. Colher (é) = substantivo Homófonas (heterógrafas): possuem mesma pronúncia e grafia diferente, com sentidos também diferentes. Acender = atear fogo. Ascender = subir, elevar-se. Coser = costurar Cozer = cozinhar Cessão = doação (verbo doar). Seção = repartição / departamento, divisão. Sessão = duração de um evento. Perfeitas: Possuem mesma grafia e mesma pronúncia, com sentidos diferentes. OBS: As homônimas perfeitas são também chamadas de palavras polissêmicas, polifônicas, plurívocas ou, ainda, plurissignificativas. Real: verdadeiro / relativo à realeza / moeda brasileira Sentença: condenação / frase Mente: intelecto / verbo / sufixo FORMAS VARIANTES: palavras que, embora tenham um mesmo sentido, admitem grafia e pronúncia diferentes. Exemplos: cota/quota catorze/quatorze cociente/quociente traslado/translado aspecto/aspecto assoviar/assobiar percentual/porcentual necrópsia/necropsia céptico/cético projétil/projetil malformação/má-formação conectivos/conetivos caráter/carácter/caractere (só um plural: caracteres) aterrissar/aterrizar POLISSEMIA: consiste no fato de uma mesma palavra possuir significados diferentes, que se explicam pelo contexto. Veja exemplos: Passar uma mão de tinta no portão = uma demão; Dar uma mão = ajudar; Passar a mão no dinheiro do outro= roubar; Abrir mão de= prescindir, dispensar; Lançar mão de = utilizar; Abrir a mão = gastar; Pegar a mão errada da via = sentindo, direção. Obs.: O antônimo de polissemia é monossemia (quando uma palavra apresenta apenas um sentindo). AMBIGUIDADE ou ANFIBOLOGIA: Consiste no fato de uma frase admitir mais de uma interpretação. É um recurso linguístico muito utilizado em textos literários e publicitários. Observe os exemplos: Anúncio em bancas de revistas: “Aprenda a fazer uma galinha no ponto!”. O anuncio dá a ideia de que querem vender livros de receitas, mas, na verdade, o que será vendido é uma revista de ponto-cruz. Ou seja, aprenda a fazer uma galinha no ponto–cruz, para bordar em panos de pratos. Interpretação do sétimo mandamento, segundo Bastos Tigres: “Não furtarás – prega o Decálogo; e cada homem deixa para amanhã a observância do sétimo mandamento”. A graça vem do fato de que pelo fato de se utilizar o verbo no tempo futuro, as pessoas estão sempre prorrogando o prazo para começar a respeitar o mandamento. Não se esqueça de que a ambiguidade se transforma em um vício de linguagem quando comprometem a clareza do enunciado: Vende-se leite de cabra em pó/ Vende-se leite em pó de cabra. O deputado disse que sempre lutou contra a corrupção e a ética na política. A linguagem é qualquer conjunto de sinais que nos permite realizar atos de comunicação. Dependendo dos sinais escolhidos, teremos uma comunicação verbal, visual, auditiva, etc. Damos o nome de fala à utilização que cada membro da comunidade faz da língua, tanto na forma oral quanto na escrita. A forma oral se caracteriza por maior espontaneidade do que a forma escrita. Em decorrência do caráter individual da língua, podemos destacar algumas modalidades: NÍVEIS DE LINGUAGEMProfessor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 4 NORMA CULTA: é a modalidade de linguagem utilizada em situações formais, principalmente na escrita – mais planejada e bem elaborada. Caracteriza-se pela correção da linguagem em diversos aspectos: um cuidado maior com o vocabulário, obediência às regras estabelecidas pela gramática, organização rigorosa das orações e dos períodos etc. Confira no texto abaixo: “(...) O mais forte e apreciável motivo para um estudo dos assuntos humanos é a curiosidade. Esse é um dos traços distintivos da natureza humana. Ao que parece, nenhum ser humano é dele totalmente destituído, apesar de seu grau de intensidade variar enormemente de indivíduo para indivíduo. No campo dos assuntos humanos, a curiosidade nos leva a buscar uma óptica panorâmica, através da qual se possa chegar a uma visão da realidade, tão inteligível quanto possível para a mente humana.” TOYNBEE, Arnold. Um estudo da história. Brasília: EdUnB. 1987. p. 47. (com adaptações). LINGUAGEM COLOQUIAL: usada em situações informais ou familiares. Caracteriza-se pela espontaneidade, já que não existe uma preocupação com as normas estabelecidas (aceita o uso de gírias e de palavras dicionarizadas). Embora seja uma linguagem informal, não é necessariamente inculta, pois a desobediência a certas normas gramaticais se deve à liberdade de expressão e à sensibilidade estilística do falante. É facilmente encontrada na correspondência pessoal (MSN, e-mail etc.), na literatura, história em quadrinhos, nos jornais e revistas. Veja o exemplo: Sei lá! Acho que tudo vai ficar legal. Pra que então ficar esquentando tanto? Me parece que as coisas no fim sempre dão certo. LINGUAGEM TÉCNICA (profissional): é a modalidade utilizada por alguns profissionais (policiais, vendedores, advogados, economistas, etc.) no exercício de suas atividades. Exemplo: “Vamos direto ao assunto: interface gráfica ou não, muitas vezes, é preciso trabalhar com o prompt do DOS, sendo aborrecedor esforçar-se na redigitação de subdiretórios longos ou comando mal digitados”. Revista PC World, ago/2007. p. 98 OBS: Não se deve confundir vocabulário técnico com jargão (modalidade coloquial). LITERÁRIA (artística): é utilizada com finalidade expressiva, como a que é feita pelos artistas da palavra (poetas e romancistas, por exemplo). Observe: “O céu jogava tinas de água sobre o noturno que devolvia a São Paulo. O comboio brecou, lento, para as ruas molhadas, furou a gare suntuosa e me jogou nos óculos menineiros de um grupo negro. “Sentaram-me num automóvel de pêsames”. ANDRADE, Oswald de. Memórias Sentimentais de João Miramar. São as variações que uma língua apresenta, de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. A língua é um organismo vivo, que se modifica no tempo, a todo instante. Os tipos de variações mais cobrados em provas são: EMPRÉSTIMOS LINGUÍSTICOS: vocábulos incorporados ao nosso idioma em sua forma original ou aportuguesados. No português usado hoje no Brasil, existe influência de várias línguas: do contato com o índio, incorporamos palavras como cipó, mandioca, peroba, carioca, etc.; a partir do processo de escravidão no Brasil, incorporamos inúmeros vocábulos de línguas africanas, tais como quiabo, macumba, samba, vatapá e muitos outros. Podemos encontrar também, no português atual, palavras provenientes de línguas estrangeiras modernas, principalmente do inglês. Veja alguns exemplos: do italiano (maestro, pizza, tchau, espaguete); do francês (abajur, toalete, champanhe); do inglês (recorde, sanduíche, futebol, bife, gol, clube, e muitos outros mais). NEOLOGISMOS: São palavras novas, que vão sendo logo absorvidas pelos falantes no seu processo diário de comunicação. Umas, surgem para expressar conceitos igualmente novos; outras, para substituir aquelas que deixam e ser utilizada. Os neologismos podem ser criados a partir da própria língua do país (cegonheiro, por exemplo), ou a partir de palavras estrangeiras (deletar, escanear, etc.). RECRIAÇÕES SEMÂNTICAS: Existem, também, aquelas palavras que adquirem novos sentidos ao longo do tempo. Por exemplo: cegonha (carreta que transporta automóvel, desde as montadoras até as concessionárias), laranja (testa de ferro, pessoa que empresta o nome para a realização de negócios ilícitos). GÍRIAS: São palavras características da linguagem de um grupo social (os jovens), que, por sua expressividade, acabam sendo incorporadas á linguagem coloquial de outras camadas sociais. São exemplos de gírias: véi (velho), mano, bro (brother), Maneiro! Radical! OBS: como as gírias também evoluem (elas surgem e desaparecem com o passar do tempo) pode ser que os exemplos dados já tenham caído em desuso! JARGÕES: São os vocábulos característicos da linguagem utilizada por alguns grupos profissionais (médicos, policiais, vendedores, professores, etc.) e que, por sua expressividade, acabam sendo incorporadas à linguagem de outras camadas sociais. Exemplos: positivo, bico fino, X9 (policiais); caroço (vendedores) e outros. REGIONALISMOS: São as variações originadas das diferenças de região ou de território. Veja o exemplo de uma variedade regional, também conhecida como “fala caipira”, própria do interior de alguns estados brasileiros: “Cheguei na bera do porto onde as onda se espaia. As garça dá meia vorta, senta na bera da praia. “E o cuitelinho não gosta que o botão de rosa caia.” (Milton Nascimento) VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 5 Existem duas maneiras de se classificar os textos, quanto ao conteúdo e à forma: POESIA é um gênero textual que se caracteriza pela escrita em versos (o verso é ordenador rítmico e melódico do poema), que pode apresentar rima e métrica e uma elaboração muito particular da linguagem. A poesia em geral reflete o momento, o impacto dos fatos sobre o homem e a criação de imagens que reflitam esse impacto. Leia: Eu canto porque o instante existe E a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste Sou poeta. (...) Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: - mais nada. Cecília Meireles - Motivo PROSA é um discurso que reproduz a maneira natural de falar, sem métrica nem rima. As linhas ocupam quase toda a extensão horizontal da página, demarcada, fisicamente, pelo parágrafo – pequeno afastamento em relação à margem esquerda da folha. O parágrafo é o ordenador lógico da prosa. O modo como a linguagem se organiza está diretamente ligado à função que se deseja dar a ela, isto é, à intenção do autor. Para os seis componentes da comunicação, seis são as suas funções: Emissor: aquele que transmite a mensagem. Receptor: aquele com quem o emissor se comunica. Mensagem: aquilo que se transmiteao receptor. Referente: assunto da mensagem. Código: convenção social que permite ao receptor compreender a mensagem. Canal: meio físico que conduz a mensagem ao receptor. EMOTIVA (EXPRESSIVA) Está centrada na expressão dos sentimentos, emoções e opiniões do emissor. Reforça o aspecto subjetivo, pessoal da mensagem. É comum nesse tipo de função a presença de interjeições, reticências, pontos de exclamação e, ainda, de verbos na 1° pessoa. O narrador apresenta opiniões com as quais outras pessoas podem ou não concordar. Textos líricos são exemplos dessa função, já que expressam o estado de alma do emissor. CONATIVA (APELATIVA) Ocorre quando o receptor é posto em destaque e é estimulado pela mensagem. Há um autor querendo influenciar o receptor. É comum nesse tipo de texto o emprego do modo imperativo dos verbos e de vocativos. REFERENCIAL (INFORMATIVA) Ocorre quando o referente é posto em destaque e a intenção principal do emissor é informar. Os textos cuja função é referencial possuem linguagem clara, direta e precisa, procurando traduzir a realidade de forma objetiva. Alguns textos jornalísticos, os científicos e os didáticos são o melhor exemplo disso. POÉTICA Podemos encontrá-la nos casos em que o emissor enfatiza a construção, a elaboração da mensagem por meio da escolha de palavras que realcem a sonoridade, pelo uso de expressões imprecisas (legal, hiper, é isso aí). O texto não é objetivo, traz uma fala cheia de rodeios, transmite pouca informação. A função poética ocorre tanto em prosa como em verso. METALINGUISTICA Tem como função realçar o código – quando este é utilizado como assunto ou explica a si mesmo. Por exemplo, quando um poema tece reflexões sobre a criação poética, um filme tematiza o próprio cinema ou um programa de televisão debate o papel social da televisão. FÁTICA Ocorre quando o canal é posto em destaque. A função é testar o canal de comunicação. Acontece nos cumprimentos diários, conversas de elevador, nas primeiras palavras de uma aula, etc. Importante: É possível encontrar em um texto mais de uma função da linguagem. Portanto, cabe ao leitor identificar aquela que predomina e, por conseguinte, a intenção de seu autor. São recursos estilísticos utilizados por quem fala ou escreve para dar maior expressividade, intensidade, força ou beleza à comunicação. Ocorrem com mais frequência nas obras literárias, mas, para realçar uma ideia, aparecem também em: Propagandas: “Caneta Parker: a máquina de escrever”. Gírias: “Pai, será que dá pra descolar uma grana?”. Artigos da imprensa: “Assunto novo em briga antiga”. Músicas: “O amor é um grande laço, um passo pr’ uma armadilha”. Duas ou mais figuras podem ocorrer ao mesmo tempo em uma frase ou verso. Por exemplo, a hipérbole e a comparação: “Os moços da cidade não gostavam de sua cabeça, plana como mesa.” (Ignácio de Loyola Brandão) FIGURAS DE PALAVRAS apresentam uma mudança do sentido real para o sentindo figurado da palavra. Comparação (Analogia): é uma figura que consiste em tomar equivalentes coisas diferentes, para realçar uma possível semelhança entre elas. Em uma construção, quase sempre utilizamos algumas FUNÇÕES DA LINGUAGEM FORMA E CONTEÚDO DOS TEXTOS FIGURAS DE LINGUAGEM Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 6 conjunções entre os termos comparados: assim como..., tanto..., quanto, como, tal qual, feito etc.; Exemplos: “Tal qual um dois de paus ela ficou calada”. “A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia”. Metáfora é o emprego de uma palavra ou expressão fora de seu sentido normal, por haver semelhança real ou imaginária entre os seres que ela designa. A metáfora é a mais importante das figuras de palavras: Meu pai é um leão quando joga futebol. Voltou da praia um peru assado. Eu não acho a chave de mim. Metonímia ocorre quando empregamos uma palavra em lugar de outra, com a qual aquela se achava relacionada. Os principais mecanismos de substituição se dão pelas relações de: a) continente pelo conteúdo Passe-me a manteiga. Só bebi um copo. b) marca pelo produto Comeu Mc Donalds sozinho. Limpou com Omo. c) causa pelo efeito Sócrates tomou a morte. Cigarro incomoda os vizinhos d) autor pela obra Vamos curtir Gilberto Gil. Ela adora ler Machado de Assis. e) abstrato pelo concreto Amanhã irei aos Correios. Estou com a cabeça em Roma. f) Símbolo pelo simbolizado A balança impôs-se à espada. A cruz é a salvação. g) instrumento pelo ser O violão foi a grande atração. João é um ótimo garfo A metonímia que estabelece relação entre as palavras do tipo parte pelo todo recebe denominação específica de sinédoque. Os faróis apontaram na avenida. Havia mais de cem cabeças no pasto Antonomásia (Epíteto) é a substituição de um nome próprio pela qualidade ou atributo que o distingue. Exemplos: Os brasileiros já esqueceram o Águia de Haia. (Rui Barbosa) O poeta dos escravos é o autor de célebre poema “O navio negreiro”. (Castro Alves) Sinestesia é uma variante de metáfora que consiste em atribuir, a um ser, sensações que não lhe são próprias, misturando sensações de sentidos diferentes: Isso me cheira a confusão. O sol caía com uma luz pálida e macia. Catacrese é o emprego de um tempo figurado por falta de palavra mais apropriada. Não é propriamente uma figura de estilo, pois ela só existe em razão de um esquecimento etimológico. Veja os exemplos: formigueiro humano (Formigueiro = porção de formigas); realidade das coisas (Res = coisa); espalhar dinheiro (espalhar = separa a palha); péssima caligrafia (caligrafia= boa letra); embarcar num avião (embarcar = tomar a barca)... PERSONIFICAÇÃO (PROSOPOPEIA) é a figura que consiste em atribuir sentimentos ou qualidades humanas a seres inanimados ou abstratos. Exemplos “As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico...” (Hino Nacional) “O cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada...” (Cantiga Popular) FIGURAS DE SINTAXE caracterizam-se por apresentarem uma mudança na estrutura da oração. Elipse consiste na omissão de um termo facilmente subentendido, ou ainda, que por ser depreendido pelo contexto. Existe elipse de preposição, conjunção integrante, de verbo e de outros elementos do texto. Veja os exemplos: “Ele estava bêbado, (com) a calça rasgada e (com) a camisa na mão”. Zeugma consiste em suprimir, ocultar verbos (expressos anteriormente) para evitar sua repetição. Observe os exemplos: As quaresmeiras abriam a flor depois do carnaval, os ipês (abriam) em Junho. O rei da brincadeira-ê José O rei da confusão-ê João Um trabalhava na feira-ê José Outro (trabalhava) na construção-ê João. Pleonasmo (estilístico) é a repetição de um temo já expresso ou de uma idéia já sugerida, com o objetivo de realçá-la, torná-la mais expressiva... Pode ser: Semântico: “E rir meu riso e derrama meu pranto” (Vinicius de Moraes) “E quem sabe sonhavas meus sonhos por fim” (Cartola) Sintático: A mim, só me resta esperar. O que você pensa, isso não me interessa. Cuidado! Há o pleonasmo é vicioso, quando a repetição for considerada desnecessária ou quando a redundância não trouxer reforçoalgum à ideia: Acabamento final, Adiar para o dia seguinte, Agora já Ainda mais, Almirante da Marinha, Alocução breve, Antecipar para antes, Bonita caligrafia, Brigadeiro da Aeronáutica, Brisa matinal da manhã, Canja de galinha, Chutou com os pés, Conclusão final, Consenso geral, Continuar ainda, Conviver junto, Criar novos, Dar de graça, Decapitar a cabeça, Demente mental, Descer para baixo, Efusivos parabéns, Elo de ligação, Emulsão do óleo, Encarar de frente, Enfrentar de frente, Entrar dentro (ou para dentro), Erário público, Estrelas do céu, Exultar de alegria, Fato verídico, Faz muitos anos atrás, Fraternidade humana, Ganhar grátis (ou de graça), General do Exército, Goteira no teto, Há muitos anos atrás, Hábitat natural, Hemorragia de sangue, Hepatite Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 7 do fígado, Inaugurar novo, Introduzir dentro, Já não há mais, Labaredas de fogo, Lançar novo, Manter o mesmo, Metades iguais, Monopólio exclusivo, Novidade inédita, Panorama geral, Países do mundo, Pequenos detalhes, Prefeitura Municipal, Protagonista principal, Regra geral, Relação bilateral entre dois…, Repetir de novo, roeu com os dentes, Sair fora (ou para fora), Sentidos pêsames, Sorriso nos lábios, Sua própria autobiografia, Subir para cima, Surpresa inesperada, Vereadores da Câmara Municipal, Viúva do falecido. Silepse ocorre quando efetuamos a concordância não com os termos expressos, mas com a ideia que associamos, em nossas mentes. Divide-se em: Silepse de gênero: A criança nasceu. Era magnífico. “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” Silepse de pessoa: “Todos os sertanejos somos assim”. “Os cinco estávamos no automóvel”. Silepse de número: O pelotão chegou à praça e estavam cansados. “Coisa curiosa é gente velha. Como comem!” Polissíndeto repetição da conjunção coordenativa: “Suspira, e chora, e geme, e sofre, e sua...” (Olavo Bilac) “Mãe gentil, mas cruel, mas traiçoeira” (Alberto de Oliveira) Assíndeto ausência da conjunção coordenativa: “Suspira, chora, geme, sofre, sua...” (Olavo Bilac - adaptação) “Mãe gentil, cruel, traiçoeira” (Alberto de Oliveira - adaptação) Hipérbato consiste na inversão da ordem natural das palavras na frase. Os bons vi sempre passar No mundo graves tormentos. (Luis Vaz de Camões) Gradação consiste na sequência, que se agrava, de ações. Balbuciou, sussurrou, falou, gritou,... A menina sentou-se, os olhos encheram d’água, chorou. Anacoluto consiste na quebra da estrutura sintática da oração. A menina, para não passar a noite só, era melhor que fosse dormir na casa de uns vizinhos”. (Rachel de Queiroz) “Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura”. (Manuel Bandeira) FIGURAS DE PENSAMENTO são processos expressivos que introduzem uma ideia diferente da que a palavra habitualmente exprime. Antítese (Contraste) é a figura que salienta o confronto oposto entre si: “Toda guerra finaliza por onde devia ter começado: a Paz!” “Tristeza não tem fim, felicidade sim!” (Vinícius de Moraes) Oxímoro (Paradoxo) é a antítese levada ao extremo. Exemplos: “Tem, mas acabou!” (discurso proferido por vendedores para justificar a ausência de um produto na loja). Amor é fogo que arde sem se ver É ferida que dói e não se sente É um contentamento descontente É dor que desatina sem doer. (Luís Vaz de Camões) Hipérbole é uma afirmação exagerada ou uma deformação da verdade, visando a um efeito expressivo: Chorar rios de lágrimas, dizer um milhão de vezes, desconfiar da própria sombra, morrer de rir. Esotérico Não adianta nem me abandonar Porque mistério sempre há de pintar por aí. Pessoas até muito mais vão lhe amar, Até muito mais difíceis que eu, pra você. Que eu, que dois, que dez, que dez milhões. Todos iguais. (Gilberto Gil) Ironia é a figura pela qual dizemos o contrário do que pensamos, quase sempre com intenção sarcástica: O ministro foi sutil como uma jamanta e delicado como um hipopótamo... Poeminha à glória televisiva Não me contem! Ele era tão famoso Antes de ontem! (Millôr Fernandes) OBS: A ironia consiste em sugerir pela entonação e pelo contexto. Por isso, os sinais que mais evidenciam um pensamento irônico são: ponto de exclamação e reticências. PERÍFRASE consiste em usar expressões ou frase em lugar de uma palavra, com o objetivo de destacar uma característica que a palavra sozinha não evoca. Veja: Pretendo visitar o país do sol nascente. (O Japão) EUFEMISMO é a figura que suaviza a expressão de uma idéia desagradável, por meio da substituição do termo exato por outro menos ofensivo, menos inconveniente. Observe os exemplos: O pobre homem entregou a alma a Deus. (morreu) Quem faltar com a verdade, será punido. (mentir) FIGURAS DE SONORIDADE são processos expressivos que relacionam os sons das palavras. Aliteração consiste repetição de sons consonantais próximos. “Gil engendra em Gil rouxinol (Caetano Veloso) Assonância consiste repetição de sons vocálicos próximos. Cunhã poranga na manhã louçã. Onomatopeia consiste na tentativa de imitação de um som natural ou mecânico. Coxixo, tique-taque, zum-zum, toc-toc, miau, ... Paranomásia (Trocadilho) consiste no emprego de palavras parônimas (com sonoridade semelhante) numa mesma frase. Contudo ... ele está com tudo. Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 8 São alterações defeituosas que sofre a língua em sua pronúncia e escrita devidas à ignorância do povo ou ao descaso de alguns escritores. São devidas, em grande parte, à suposta ideia da afinidade de forma ou pensamento. Os vícios de linguagem são: barbarismo, anfibologia, cacofonia, eco, arcaísmo, vulgarismo, estrangeirismo, solecismo, obscuridade, hiato, colisão, neologismo, preciosismo, pleonasmo. BARBARISMO: É o vício de linguagem que consiste em usar uma palavra errada quanto à grafia, pronúncia, significação, flexão ou formação. Assim sendo, divide-se em: gráfico, ortoépico, prosódico, semântico, morfológico e mórfico. Gráficos: hontem, proesa, conssessiva, aza, por: ontem, proeza, concessiva e asa. Ortoépicos: interesse, carramanchão, subcistir, por: interesse, caramanchão, subsistir. Prosódicos: pegada, rúbrica, filântropo, por: pegada, rubrica, filantropo. Semânticos: Tráfico (por tráfego) indígena (como sinônimo de índio, em vez de autóctone). Morfológicos: cidadões, uma telefonema, proporam, reavi, deteu, por: cidadãos, um telefonema, propuseram, reouve, deteve. Mórficos: antidiluviano, filmeteca, monolinear, por: antediluviano, filmoteca, unlinear. OBS.: Diversos autores consideram barbarismo palavras, expressões e construções estrangeiras, mas, nesta apostila, elas serão consideradas "estrangeirismos." AMBIGUIDADE OU ANFIBOLOGIA: É o vício de línguagem que consiste em usar diversas palavras na frase de maneira a causar duplo sentidona sua interpretação. Ex.: Não se convence, enfim, o pai, o filho, amado. O chefe discutiu com o empregado e estragou seu dia. (nos dois casos, não se sabe qual dos dois é autor, ou paciente). CACOFONIA: Vício de linguagem caracterizado pelo encontro ou repetição de fonemas ou sílabas que produzem efeito desagradável ao ouvido. Constituem cacofonias: A colisão. Ex.: Meu Deus não seja já. O eco Ex.: Vicente mente consantemente. o hiato Ex.: Ela iria à aula hoje, se não chovesse O cacófato o Ex.: Tem uma mão machucada: A aliteração - Ex.: Pede o Papa paz ao povo. O antônimo é a "eufonia". ECO: Espécie de cacofonia que consiste na seqüência de sons vocálicos, idênticos, ou na proximidade de palavras que têm a mesma terminação. Também se chama assonância. Ex.: É possível a aprovação da transação sem concisão e sem associação. Na poesia, a "rima" é uma forma normal de eco. São expressivas as repetições vocálicas a curto intervalo que visam à musicalidade ou à imitação de sons da natureza (harmonia imitativa); "Tíbios flautins finíssimos gritavam" (Bilac). ARCAÍSMO: Palavras, expressões, construções ou maneira de dizer que deixaram de ser usadas ou passaram a ter emprego diverso. Na língua viva contemporânea: asinha (por depressa), assi (por assim) entonces (por então), vosmecê (por você), geolho (por joelho), arreio (o qual perdeu a significação antiga de enfeite), catar (perdeu a significação antiga de olhar), faria-te um favor (não se coloca mais o pronome pessoal átono depois de forma verbal do futuro do indicativo), etc. VULGARISMO: É o uso lingüístico popular em contraposição às doutrinas da linguagem culta da mesma região. O vulgarismo pode ser fonético, morfológico e sintático. Fonético: o A queda dos erres finais: anda, comê, etc. A vocalização do "L" final nas sílabas. Ex.: mel = meu , sal = saú etc. o A monotongação dos ditongos. Ex.: estoura = estóra, roubar = robar. o A intercalação de uma vogal para desfazer um grupo consonantal. Ex.: advogado = adevogado, rítmo = rítimo, psicologia = pissicologia. Morfológico e sintático: o Temos a simplificação das flexões nominais e verbais. Ex.: Os aluno, dois quilo, os homê brigou. o Também o emprego dos pronomes pessoais do caso reto em lugar do oblíquo. Ex.: vi ela, olha eu, ó gente, etc. ESTRANGEIRISMO: Todo e qualquer emprego de palavras, expressões e construções estrangeiras em nosso idioma recebe denominação de estrangeirismo. Classificam-se em: francesismo, italianismo, espanholismo, anglicismo (inglês), germanismo (alemão), eslavismo (russo, polaço, etc.), arabismo, hebraísmo, grecismo, latinismo, tupinismo (tupi-guarani), americanismo (línguas da América) etc... O estrangeirismo pode ser morfológico ou sintático. Estrangeirismos morfológicos: o Francesismo: abajur, chefe, carnê, matinê etc... o Italianismos: ravioli, pizza, cicerone, minestra, madona etc... o Espanholismos: camarilha, guitarra, quadrilha etc... o Anglicanismos: futebol, telex, bofe, ringue, sanduíche breque. o Germanismos: chope, cerveja, gás, touca etc... o Eslavismos: gravata, estepe etc... VÍCIOS DE LINGAUGEM Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 9 o Arabismos: alface, tarimba, açougue, bazar etc... o Hebraísmos: amém, sábado etc... o Grecismos: batismo, farmácia, o limpo, bispo etc... o Latinismos: index, bis, memorandum, quo vadis etc... o Tupinismos: mirim, pipoca, peteca, caipira etc... o Americanismos: canoa, chocolate, mate, mandioca etc... o Orientalismos: chá, xícara, pagode, kamikaze etc... o Africanismos: macumba, fuxicar, cochilar, samba etc... Estrangeirismos Sintáticos: o Saltar aos olhos (francesismo); o Pedro é mais velho de mim. (italianismo); o O jogo resultou admirável. (espanholismo); o Porcentagem (anglicanismo), guerra fria (anglicanismo) etc... SOLECISMOS: São os erros que atentam contra as normas de concordância, de regência ou de colocação. Solecimos de regência: o Ontem assistimos o filme (por: Ontem assistimos ao filme). o Cheguei no Brasil em 1923 (por: Cheguei ao Brasil em 1923). o Pedro visava o posto de chefe (correto: Pedro visava ao posto de chefe). Solecismo de concordância: o Haviam muitas pessoas na festa (correto: Havia muitas pessoas na festa) o O pessoal já saíram? (correto: O pessoal já saiu?). Solecismo de colocação: o Foi João quem avisou-me (correto: Foi João quem me avisou). o Me empresta o lápis (Correto: Empresta-me o lápis). OBSCURIDADE: Vício de linguagem que consiste em construir a frase de tal modo que o sentido se torne obscuro, embaraçado, ininteligível. Em um texto, as principais causas da obscuridade são: o abuso do arcaísmo e o neologismo, o provincianismo, o estrangeirismo, a elipse, a sínquise (hipérbato vicioso), o parêntese extenso, o acúmulo de orações intercaladas (ou incidentes) as circunlocuções, a extensão exagerada da frase, as palavras rebuscadas, as construções intrincadas e a má pontuação. Ex.: Foi evitada uma efusão de sangue inútil (Em vez de efusão inútil de sangue). NEOLOGISMO: Palavra, expressão ou construção recentemente criadas ou introduzidas na língua. Costumam-se classificar os neologismos em: Extrínsecos: que compreendem os estrangeirismos. Intrínsecos: (ou vernáculos), que são formados com os recursos da própria língua. Podem ser de origem culta ou popular. Os neologismos de origem culta subdividem-se em: Científicos ou técnicos: aeromoça, penicilina, telespectador, taxímetro (redução: táxi), fonemática, televisão, comunista, etc... Literários ou artísticos: olhicerúleo, sesquiorelhal, paredro (= pessoa importante, prócer), vesperal, festival, recital, concretismo, modernismo etc... OBS.: Os neologismos populares são constituídos pelos termos de gíria. "Manjar" (entender, saber do assunto), "a pampa", legal (excelente), Zico, biruta, transa, psicodélico etc... PRECIOSISMO: Expressão rebuscada. Usa-se com prejuízo da naturalidade do estilo. É o que o povo chama de "falar difícil", "estar gastando". Ex.: "O fulvo e voluptoso Rajá celeste derramará além os fugitivos esplendores da sua magnificência astral e rendilhara d‟alto e de leve as nuvens da delicadeza, arquitetural, decorativa, dos estilos manuelinos." OBS.: O preciosismo também pode ser chamado de PROLEXIDADE. PLEONASMO: Emprego inconsciente ou voluntário de palavras ou expressões involuntárias, desnecessárias, por já estar sua significação contida em outras da mesma frase. O pleonasmo, como vício de linguagem, contém uma repetição inútil e desnecessária dos elementos. o Voltou a estudar novamente. o Ele reincidiu na mesma falta de novo. o Primeiro subiu para cima, depois em seguida entrou nas nuvens. O navio naufragou e foi ao fundo. Neste caso, também se chama perissologia ou tautologia. Os tipos textuais designam uma sequência definida pela natureza linguística de sua composição e, para a sua classificação, são observados aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais e, principalmente, as relações lógicas. Por sua estrutura composicional, os textos se dividem em: 1. NARRATIVO Texto em que se discorre sobre fatos, sobrefazer relatos. Consiste na elaboração de um texto que relate episódios, acontecimentos e histórias (verdadeiras ou fictícias). São exemplos de textos narrativos: romance, novela, conto, crônica, anedota e, até, histórias em quadrinhos. A narrativa é um texto que possui uma sequência de acontecimentos: começo, meio e fim. No entanto, o escritor pode alterar essa ordem, começando a contar pelo meio ou pelo fim, dependendo do efeito que pretende alcançar. TIPOS TEXTUAIS Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 10 Elementos da Narrativa: 1. Narrador: é quem conta a história, um ser ficcional a quem o autor transfere a tarefa de narrar os fatos. Há textos narrativos quase totalmente – ou totalmente – dialogados. Nesse caso, o narrador aparece muito pouco, ou fica subentendido. Atenção: não confunda o narrador com o autor da história. Este é um escritor, com uma biografia civil, um ser humano, que pode construir vários narradores (um para cada história que desejar contar). 2. Personagens: são os seres que estão envolvidos com a história, que vivem os fatos e que são caracterizados física e psicologicamente. Qualquer tipo de ser – gente, bicho, criaturas inanimadas – pode ser personagem de uma narrativa. Classificam-se em: Principais: quando participam diretamente da trama. Secundários: quando participam de forma pouco intensa da história. Caricaturais: tem os traços de personalidade ou padrões de comportamento realçados, acentuados (às vezes beirando o ridículo). 3. Enredo: e a história em si, o conjunto encadeado dos fatos, organizado de acordo com a vontade do escritor. Todo enredo supõe um conflito. OBS: Uma narrativa pode apresentar um enredo linear – quando os fatos vão se desenrolando um depois do outro, em ordem cronológica de tempo – ou um enredo não-linear – quando a historia é interrompida por uma volta ao passado (para algo ser lembrado). E o que chamamos de flashback, muito comum em filmes. 4. Espaço: o espaço da narrativa é o local onde se desenvolve a história, o cenário. A descrição do espaço serve para criar o clima que envolve o leitor nos acontecimentos. A descrição do espaço serve, também, para caracterizar, de forma indireta, um personagem. Pode ser: Físico: é o cenário por onde circulam os personagens e onde se desenrola a trama. Mental: é o retrato de uma época, a ênfase nos costumes de determinado período da história. 5. Tempo: o tempo da narrativa é o “quando acontece” a história. Cronológico: é o tempo marcado pelo relógio, pelo calendário ou por outros índices exteriores (momentos do dia, estações do ano, fatos históricos). Psicológico: é os tempos subjetivos, variáveis de indivíduo para indivíduo. Esse tempo marca-se pelas sensações ou pensamentos do personagem. Foco narrativo (ou ponto de vista): Quando o narrador participa do enredo, é personagem atuante, diz-se que é um narrador- personagem. Isso constitui o foco narrativo ou ponto de vista da primeira pessoa. Narrador-observador é o que serve de intermediário entre o episódio e o leitor – é o foco narrativo de terceira pessoa. Ocorrem casos em que o narrador é classificado como onisciente, pelo fato de dominar o lado psíquico de seus personagens, antepondo-se às suas ações, percorrendo-lhes a mente e a alma – também sob o foco narrativo de terceira pessoa. Formas de discurso: 1. O DISCURSO DIRETO caracteriza-se pela reprodução fiel da fala do personagem. Estrutura-se normalmente com a precedência de dois-pontos e inicia- se após travessão. Via de regra, vem acompanhada por verbos de elocução (dizer, falar, responder, berrar, retrucar, indagar, etc.). Observe o exemplo: “...Botou as mãos na cabeça e a boca no mundo: - Nossa senhora, meu patrãozinho me mata!” (Fernando Sabino) O DISCURSO INDIRETO ocorre quando o narrador utiliza sua própria fala para reproduzir a fala de um personagem. O tempo verbal, no discurso indireto, será sempre passado em relação ao tempo verbal do discurso direto. Confira: “D. Evarista ficou aterrada. Foi ter com o marido, disse-lhe que estava com desejos.” (Machado de Assis) O DISCURSO INDIRETO LIVRE é uma mescla do discurso direto com o indireto. No discurso indireto livre, a fala do personagem se insere sutilmente no discurso do narrador, permitindo-lhe expor aspectos psicológicos do pensamento do personagem. Compare os dois exemplos: “Achamos o nome engraçado. Qual o padrinho que pusera o nome de Milagre naquele afilhado? E o português explicou que não, que o nome do pretinho era Sebastião. Milagre era apelido”. (Stanislaw Ponte Preta) “Sinhá Vitória falou assim, mas Fabiano franziu a testa, achando a frase extravagante. Aves matarem bois e cavalos, que lembrança! Olhou a mulher, desconfiado, julgou que ela estivesse tresvariando”. (Graciliano Ramos) Dois textos narrativos bastante comuns em provas de concursos são: 1.1 CRÔNICA – é toda narrativa que obedece à ordem do tempo (etimologicamente, a palavra vem do grego chrónos, que significa “tempo”). Modernamente, crônica é um relato sobre os acontecimentos do cotidiano escrita numa linguagem leve e normalmente de caráter jornalístico. Ela difere do conto não apenas no tamanho, mas também na linguagem. Ela busca a intimidade e o humor da linguagem. Ela busca a intimidade e o humor da anedota, numa linguagem cotidiana que encontra receptividade em todos os leitores. Ao mesmo tempo em que a crônica tem o caráter transitório de um jornal – uma vez que nasceu dentro desse veículo de comunicação de massa -, ela apresenta também um narrador (que é o próprio autor), personagens que se aproximam muito das pessoas da vida real, enredo, tempo e espaço. Na maioria dos casos, todos esses elementos são trabalhados numa linguagem poética. Muitos cronistas contemporâneos conseguem captar flashes, circunstâncias do cotidiano, de uma maneira tão lírica que fica difícil dizer que tais textos não assumem um caráter literário. Características de uma narrativa: Encadeamento de ações e fatos. As frases se organizam em uma progressão temporal (relação de anterioridade / posterioridade), tanto que não se pode alterar a sequência sem afetar basicamente o texto. Texto dinâmico, uma vez que existem muitos verbos indicando movimento, ação, e, ainda, a passagem do tempo. Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 11 Cabe ressaltar que, apesar de ser um gênero narrativo por definição, a crônica é um texto geralmente híbrido (uma mescla de modalidades), que não prescinde da reflexão e do comentário. Leia: Mas é coisa nossa Eu ainda estava em jejum quando abri o jornal. Pensei: quem sabe tomo café primeiro? A foto é tão chamativa que não dá para desviar a atenção. Todo leitor da Folha deve ter tido o mesmo choque. Mas eu confesso que resisti. Pra que, meu Deus, uma foto dessas na primeira página? Posso falar porque tenho vivido em jornal a vidatoda: jornalista tem essa inclinação para o que é negativo. Há quem diga que é um traço mórbido. Hoje todo mundo sabe, na teoria e na prática, que o corriqueiro não é notícia. Aquele exemplo clássico que já está careca de tanto ser citado. Se um cão morde um homem, nada a noticiar. Se um homem morde um cão, está aí a matéria-prima. Cumpre apurar tudo direitinho. Se homem foi vacinado contra raiva. Se o cão estava quieto no seu canto ou se partiu dele a provocação. Nome, cor e idade da vítima. Enfim, um prato cheio. Se notícia é o inusitado, o que sai da banalidade e escapa ao lixo do cotidiano, então por que essa foto na primeira página? Esse personagem será assim tão insólito? Imagino que o leitor já esqueceu a foto de ontem e o impacto que ela nos causou. Esquecer um mecanismo é um ato confortável. É essencial. É o que nos permite continuar vivendo na santa paz de nossa consciência. Que diabo, a gente tem que se defender. Eu, por exemplo, quando dei com a foto, logo pensei com meus botões: deve ser coisa de Biafra. Você se lembra de Biafra. Biafra ou Blangladesh. Lá nos cafundós, onde Judas perdeu as botas. Nada a ver comigo. E decidi fugir da legenda. Por via das dúvidas, preferia não saber onde vive, ou sobrevive, aquela coisinha de olhos fechados. Ainda bem. Se tivesse os olhos abertos, grampeava o meu olhar e adeus café da manhã. A mão direita no peito lhe dá um ar contrito. A mão esquerda segura o pé direito. Segue a firme, a perna direita cruzada sobre a esquerda. Tem até graça. Uma graça horrível, mas tem. E aquela fralda imensa. Branca, farta, não o deixa nu. Ou nua. Não está dito qual o sexo do top model que posou para o fotógrafo. Tem quatro meses, diz a legenda. Está internado na Paraíba, com suspeita de cólera. Como será o nome do serzinho tão indefeso? Aí me ocorreu que seu nome é legião. Seu sobrenome? Brasil. Por falar nisso, quando é que a gente vai tomar vergonha na cara? RESENDE, Otto Lara. Bom dia para nascer. São Paulo, Companhia das Letras, 1993. 2.1 CRÔNICA REFLEXIVA é uma modalidade de crônica bastante utilizada nas provas de concurso, por causa de sua presença marcante em jornais e revistas de grande circulação. Na crônica reflexiva, o autor apenas tece reflexões filosóficas, ou seja, produz opiniões e impressões (humorísticas ou líricas) sobre um assunto, cativando a sensibilidade do leitor numa abordagem descontraída. não há preocupação com a forma, já que o fluxo das ideias é livre. Admite tanto a linguagem culta quanto coloquialismos, repetições enfáticas e gírias. É a expressão espontânea do pensamento. Observe o texto que segue: Os olhos de Isabel Instalou-se ontem no rio, um banco de olhos. Ali será conservada na geladeira uma parte dos olhos tirado de pessoas que acabam de morrer, de acidentados e natimortos. Os cegos serão capazes de distinguir a claridade; poderão, em muitos casos, ter a vista perfeita, recebendo nos olhos a córnea da pessoa morta. Já houve muitos casos dessa operação no Brasil, como o da jovem Isabel, de 18 anos, cega desde nascença, que passou a ver bem. Não a conheço; e estimo que seja feliz e alegre em suas visões e veja sempre coisas que a façam alegre. É pelos olhos que entra em nós a maior parte das alegrias e tristezas. Os meus, ainda que bastante usados, enxergam bem, e mesmo, em certas circunstâncias, demais. São, é natural, sujeitos a muitas ilusões: de muitas já fui ao empós, e eram miragens que me levaram ao meio de um deserto onde me alimentei de gafanhotos e lágrimas, tomando sopa de vento, comendo pirão de areia, como diz a canção. A fina membrana dos olhos não guarda a lembrança das visões; mas que sabemos? A matéria viva é uma coisa sutil e sensível que ninguém entende. O jornal não diz de quem eram os olhos com que hoje vê a moça Isabel; e ela, nunca tendo visto antes, não sabe se as visões de hoje são verdade ou fantasia; talvez esteja a ver este mundo através do filtro emocional de uma criatura já morta; (...) mas tenham visto o que tiveram antes, que ora vejam tudo em suave e belo azul, a cor dos sonhos e descobrimentos das navegações dos 18 anos. Que são tontas, mas belas navegações. BRAGA, Rubem. O homem rouco. Rio: editora do autor, 1963. 2.3 FÁBULA é uma narrativa de caráter alegórico, que trabalha o imaginário e que pretende transmitir alguma lição de fundo moral, tendo geralmente animais como personagens. Quando ela utiliza objetos inanimados, recebe o nome de apólogo. A fábula constitui uma forma simples de narrativa. Suas raízes remontam à Antiguidade greco-romana, com Esopo e Fedro. La Fontaine, poeta francês, foi quem introduziu e aprimorou as fábulas antigas, fazendo com que chegassem até nós. No Brasil, coube a monteiro Lobato recriar as fabulas de La Fontaine. E, mais recentemente, Millôr Fernandes atualizou algumas histórias clássicas e criou outras de humor e filosofia, como mostra o exemplo abaixo: A causa da chuva Não chovia há muitos e muitos meses, de modo que os animais ficaram inquietos. Uns diziam que ia chover logo, outros diziam que ainda ia demorar. Mas não chegava a uma conclusão. -Chove só quando a água cai do telhado do meu galinheiro - esclareceu a galinha. -Ora, que bobagem! – disse o sapo de dentro da lagoa. Chove quando a água da lagoa começa a borbulhar as gotinhas. -Como assim? – disse a lebre. Está visto só que só chove quando as folhas das árvores começam a deixar cair as gotas d‟água que têm dentro. Nesse momento começou a chover. - Viram? – gritou a galinha. O telhado de meu galinheiro está pingando. Isso é chuva. - Ora, não vê que a chuva é a água a lagoa borbulhando? – disse o sapo. - Mas, como assim? – tomou a lebre. Parecem cegos! Não vêem que a água cai das folhas das árvores. Moral: Todas as opiniões estão erradas. Millôr Fernandes (adaptado) 2. DESCRITIVO Texto em que é feito a caracterização de uma pessoa, um animal, um objeto ou uma situação qualquer, inseridos num certo momento estático do tempo. Diferentemente do texto narrativo, que relata as transformações de estado que vão ocorrendo Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 12 progressivamente com pessoas ou coisas, o texto descritivo põe em relevo as propriedades e aspectos desses elementos num certo estão, considerado como se estivesse parado. Nos enunciados descritivos, podem até aparecer verbos que exprimam ação, movimento, mas os movimentos são sempre simultâneos, não indicando progressão de um estado anterior para outro posterior. Se ocorrer essa progressão, inicia-se um percurso narrativo. O fundamental na descrição é que não haja progressão temporal. A descrição é um processo de caracterização que exige sensibilidade daquele que descreve, para sensibilizar também aquele que lê. Sendo assim, ela se baseia na percepção – nos cincos sentidos: visão, tato, audição, paladar e olfato. Observe o trecho a seguir: A Terra Ao sobrevir das chuvas, a terra (...) transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior. Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, repentinamente verdejantes. A vegetação recama de flores, cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a dureza das barracas, e arredonda em colinas os acervos de blocos disjungidos- de sorte que as chapadasgrandes, intermeadas de convales, se ligam em curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai a temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a secura anormal dos ares. Novos tons da paisagem: a transparência do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as variantes da forma e da cor. Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o azul carregado dos desertos, alteia-se, mais profundo, ante o expandir revivescente da terra. E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono. Depois tudo isso acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas - o espasmo assombrador da seca. A natureza compraz-se em um jogo de antíteses. CUNHA, Euclides. Os sertões - campanha de Canudos. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves. 1982. Pagina 37-38. A apresentação conjunta de traços físicos e psicológicos permite que a descrição se torne mais concreta, mais sensível e mais capaz de fazer o leitor realizar em sua imaginação o objeto descrito/ ser descrito. Mesmo assim, às vezes. E possível visualizar a descrição sob dois enfoques: 2.1 OBJETIVO – que procura descrever a realidade. De maneira direta e objetiva, sem acrescentar nenhum juízo de valor. O autor torna-se impessoal e a linguagem utilizada é denotativa. Leia a descrição abaixo e observe que, à medida que você avança no texto, a imagem do ser descrito vai- se formando em sua mente: Era um burrinho pedrês. Miúdo e resignado, vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão. Chamava-se de Sete-de-Ouros, e já fora tão bom, como outro não existiu e nem pode haver igual. Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto, que nem seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa para espiar os cantos dos dentes. Era decrépito mesmo a distância: no algodão bruto do pelo – sementinhas escuras em rama rala e encardida: nos olhos remelentos, cor de bismuto, com pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em constante semi-sono; e, na linha, fatigada e respeitável – uma horizontal perfeita, do começo da testa à raiz da cauda em pêndulo amplo, para cá, para lá, tangendo as moscas. ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1976. Observe a descrição objetiva de uma personagem feminina, de Aluísio de Azevedo: Rita havia parado no pátio. Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos queriam novas dela. Não vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca, havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano, respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador. AZEVEDO, Aluísio de. O Cortiço. São Paulo: Editora Scipione, 1995, p. 37 2.2 SUBJETIVO – que busca transmitir o estado de espírito do autor diante da coisa observada ou sua opinião sobre ela. Ele faz uma representação particular do objeto, normalmente usado à linguagem conotativa. Leia o auto-retrato da poetisa Cecília Meirelles, num determinado momento de sua vida: Eu não tinha esse rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo, Eu não tinha estas mãos sem força Tão paradas, e frias, e mortas. Eu não tinha esse coração que nem se mostra Eu não dei por essa mudança Tão simples, tão certa, tão fácil. Em que espelho ficou perdida a minha face? Observe a descrição subjetiva de uma personagem feminina, de Machado de Assis: Assomado à porta, levantou o reposteiro e deu entrada a uma mulher, que caminhou para o centro da sala. Não era uma mulher, era uma sílfide, uma visão de poeta, uma criatura divina. Era loura; tinha os olhos azuis, que buscavam o céu ou pareciam viver dele. Os cabelos, desleixadamente penteados, faziam-lhe em volta da cabeça, um como resplendor de santa; santa somente, não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os lábios era um sorriso de bem–aventurança, como raras vezes há de ter tido a terra. Um vestido ranço, de finíssima cambraia , envolvia-lhe o corpo, cujas formas, aliás, desenhava, pouco para os olhos, mas muito para a imaginação. A chinela turca. In: obra Completa. Rio de Janeiro: Editora Aguilar. 1986 p.301 (adaptado) Características de uma descrição: Encadeamento de informações. Todos os enunciados apresentam ocorrências simultâneas. Riqueza de detalhes e a presença abundante dos adjetivos. Não existe temporalidade (datas), tanto que se pode alterar a sequência, sem afetar basicamente o sentido. Uso dos cinco sentidos. Texto estático, pois faz um uso reiterado de verbos de estado (e não de ação). Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 13 3. DISSERTATIVO Texto em que se faz uma exposição de opiniões, de pontos de vista, fundamentados em argumentos e raciocínios baseados na vivência, na leitura, na conclusão a respeito da vida, dos homens e dos acontecimentos. O texto dissertativo baseia-se, sobretudo, em afirmações que transmitem um conceito relativo, pois suscitam dúvidas, hesitações. Nele, aparecem os pontos de vista diferentes e conflitantes e os graus de verdade e/ou falsidade. Em um texto dissertativo devem ser usados adequadamente os pronomes, as conjunções; observadas a concordância, a regência, a crase e as corretas relações semânticas entre as palavras. Estrutura padrão da dissertação: Introdução: é o parágrafo de abertura, responsável pela apresentação do assunto, em que é lançada a tese (tópico frasal ou idéia principal) a ser desenvolvida nos parágrafos seguintes. Desenvolvimento: é a parte fundamental da dissertação, em que se desenvolve o raciocínio ou o ponto de vista sobre o assunto, por meio de argumentos convincentes. Do desenvolvimento, depende a profundidade, a coerência e a coesão do texto. Cada argumento (idéia secundária) a ser trabalhado deverá ocupará um parágrafo. Conclusão: É a parte final o texto, em que se faz um arremate das ideias apresentadas. É mais comum, na conclusão de um texto que o autor ofereça uma sugestão para o problema levantado. Mas, às vezes, ele se limita a passar a solução do problema para o leitor, por meio de uma pergunta. O discurso na dissertação: 1° pessoa do singular – imprime extrema subjetividade no texto e é encontrada com mais frequência nos textos literários. São exemplos do uso da 1° pessoa nos textos: Eu acho, eu acredito, a meu ver, no meu entender, para mim, na minha opinião, etc. 1° pessoa do plural – também atribui certo grau de subjetividade ao texto. Autores que optam pela 1° pessoa do plural buscam maior interatividade com o leitor, no sentido de incluí-lo como participante das ideias do texto. Exemplo: Vivenciamos atualmente tempos de globalização da pobreza... (consenso) Cuidado! Existe uma 1° pessoa do plural que não inclui o leitor – é o chamadoplural de modéstia. Isso acontece quando um autor produz e assina, sozinho, um texto no qual ele expressa “Para citarmos um exemplo...”. 3° pessoa (ideológica) – imprime objetividade no texto, dano à expressão do pensamento um caráter mais universal. O uso da 3° pessoa facilita a persuasão, já que confere maior credibilidade às ideias. Ex: “A política econômica do governo Lula não promove, de fato, o bem-estar social.” 3.1 ARGUMENTATIVO – texto em que o autor quer provar a veracidade (ou falsidade) de ideias, por meio de uma argumentação lógica. Nesse tipo de texto, o autor visa a convencer/persuadir o leitor – por meio de argumentos, provas evidentes, testemunhos - de forma impessoal e objetiva, o que confere ao texto um caráter imparcial, facilitando a aceitação das ideias expostas. Observe o exemplo: CARO DATA VERMIBUS Carne dada aos vermes. Alguns gramáticos extravagantes vêem nas sílabas iniciais da expressão latina CAro DAta VErmibus a origem da palavra cadáver. A ciência, no seu esforço de salvar vidas, logrou, no entanto, a dar-lhe outra finalidade mais nobre: a de suprir a falência de órgãos de pessoas vivas, substituídos por partes que dele possam ser retiradas. Contra esse benefício para a humanidade, levantam-se barreiras à utilização de órgãos removidos de cadáveres, se não há, para isso, consentimento familiar, com a invocação de princípios que orientam a ética méica. Benjamim Bentham estabeleceu que o direito e a moral ocupam círculos concêntricos; o raio maior seria o da moral. O direito, portanto, seria o mínimo ético. Posta a premissa, o debate da retirada de órgãos de cadáveres deve, necessariamente, ferir-se no campo da Ética. Contudo, grande diferença vai entre a Ética, como é considerada no âmbito da Filosofia, e a disciplina imposta ao exercício de profissões liberais pelos seus órgãos de classe. Na Axiologia, os valores são vistos dentro de uma escala, estabelecida segundo os costumes e a cultura os povos. O sentido dessa escala é o de oferecer fundamentos para dirimir o conflito que se instale entre esses valores. O conflito é inerente à vida de relação, tanto que, na organização do estado, é prevista a instituição de um poder só para dirimi-lo: o judiciário. Nenhum país, com foros de civilização há de colocar a vida em segundo plano na escala de valores. Tudo o que se fizer para a salvação de uma vida é, por princípio, ético. A ética, aplicada no uso de partes do cadáver, para restituir a saúde de pessoas ou salvar-lhes a vida, põe-se diante o seguinte dilema: preservar o cadáver para satisfazer o desejo da família? A discussão a lei da doação presumida de órgãos é, diante da ética, absolutamente estéril. Os primeiros transplantes não dependeram de lei e ainda hoje, como antes, a ética lhes dá o necessário suporte. A retirada de órgãos de cadáveres, para transplante, é ética até contra a vontade, em Vida, o morto. O direito, ainda dentro do mínimo ético, colocaria esse ato em face do estado de necessidade, que o Código Penal considera excludente de ilicitude. O artigo 24 do Código Penal calha, no caso, como uma luva. Se a única alternativa para salvar uma vida é o transplante de órgão de cadáver, a sua retirada, para esse fim, é inteiramente abonada pelo estado de necessidade. Conduta em sentido inverso é irrelevante para a configuração de crime por omissão, se o médico podia e devia evitar a morte ou curar a doença. É inconcebível que todo o pensamento penal tenha sido formulado contra a Ética. Não há ética que se sustente contra da vida. Por sentimento da família, leve-se em maior conta o daquela ligada ao paciente que espera pelo órgão. Se é inevitável a dor de uma, pela falta do órgão, ou de outra, pela retirada, a solução, sempre conflituosa, deve ser buscada na tabela de valores. O cadáver servirá aos vermes ou ao paciente Características de uma dissertação: Encadeamento de ideias e raciocínio. Os assuntos são tratados de maneira abstrata e genérica. As relações internas e a coerência entre as frases é que lhe garantem o sentido, já que são os mecanismos de coesão (conjunções, preposições e pronomes relativos, demonstrativos) e as palavras abstratas que integram a estrutura básica do texto. Professor Dalvani Língua Portuguesa profguri@gmail.com facebook.com/guriDzimmermann www.profguri.blogspot.com.br 14 vivo. Este morrerá ou viverá penosamente. Vida ou saúde versus morte ou doença. Para que lado deveria pender a Ética? SILVA, Edelberto Luiz da. Correio Braziliense, 11/1/98 3.2 EXPOSITIVO – texto que consiste na ordenação/exposição de ideias sobre um determinado assunto. Sua característica básica é o cunho reflexivo- teórico. A dissertação-expositiva segue a mesma estrutura de uma dissertação argumentativa: introdução, desenvolvimento e conclusão. A diferença reside no fato de que na introdução, em lugar da tese, apresenta-se a idéia principal o texto. Admite essencialmente a linguagem culta – simples ou mais elaborada. Lembre-se de que linguagem culta não significa rebuscamento. Leia: A maioria dos comentários sobre crimes ou se limitam a pedir de volta o autoritarismo ou a culpar a violência do cinema e da televisão, por excitar a imaginação criminosa dos jovens. Poucos pensam que vivemos em uma sociedade que estimula, de forma sistemática, a passividade, o rancor, a impotência, a inveja e o sentimento de nulidade nas pessoas. Não podemos interferir na política, porque nos ensinaram a perder o gosto pelo bem comum; não podemos tentar mudar nossas relações afetivas, porque isso é assunto de cientistas; não podemos, enfim, imaginar modos de viver mais dignos, mais cooperativos e solidários, porque isso é coisa de obscurantista, idealista, perdedor ou ideólogo fanático, e mundo é os fazedores e dinheiro. Somos uma espécie que possui o poder da imaginação, da criatividade, da afirmação, e da agressividade. Se isso não pode aparecer, surge, no lugar, a reação cega ao que nos impede de criar, de colocar no mundo algo de nossa marca, de nosso desejo, de nossa vontade de poder. Quem sabe e pode usar – com firmeza, agressividade, criatividade e afirmatividade – a sua capacidade de doar e transformar a vida, raramente precisa matar inocentes de maneira bruta. Existem mil outras maneiras de nos sentirmos potentes, de nos sentirmos capazes de imprimir um curso à vida que não seja pela força das armas, da violência física ou da evasão pelas drogas, legais ou ilegais, pouco importa. COSTA, Jurandir Freire. In: Quatro autores em busca do Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 2000, p.43 (com adaptações). 3.4 INJUNTIVO – é um texto instrucional, que indica procedimentos a serem realizados. A intenção pode ser persuasiva ou apenas instrutiva. São exemplos de textos injuntivos as receitas, os manuais de instruções, as bulas de remédios, etc. Neles, predominam: Verbos empregados no modo imperativo; Emprego do padrão culto da língua; Linguagem clara e acessível a todo tipo de pessoas; Função referencial da linguagem. A função conativa também é bastante recorrente. Veja um exemplo de texto injuntivo (extraído da prova do Ministério da Saúde – aplicada pelo CESPE/UnB) Cuidados para evitar envenenamentos: Mantenha sempre medicamentos e produtos tóxicos fora do alcance das crianças; Não utilize medicamentos sem orientação de um médico e leia a bula antes de consumi-los; Não armazene restos