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A tuberculose é causada pela Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch (BK) ou ainda BAAR - bacilo ácido- álcool resistente (não cora nas técnicas de gram, sendo utilizada a coloração de Ziehl- Neelsen). É um bacilo aeróbio estrito não formador de esporos. A transmissão do agente ocorre de forma aérea por meio, principalmente, de gotículas (tosse, fala, espirro) e aerossóis, sendo que as formas que oferecem risco de transmissão são a tuberculose pulmonar, laríngea e a caverna pulmonar. Normalmente a tuberculose está associada a países em desenvolvimento, dessa forma tem um certa associação com a pobreza, vale lembrar que 1/3 da população mundial apresenta a infecção pelo agente, mas apenas 5-10% dos pacientes apresentam a doença. O Brasil está no 19° dos países que mais apresenta casos de tuberculose. Em 2020, o Brasil registrou 66.819 casos novos de TB, com um coeficiente de incidência de 31,6 casos por 100 mil habitantes. Em 2019, foram notificados cerca de 4,5 mil óbitos pela doença, com um coeficiente de mortalidade de 2,2 óbitos por 100 mil habitantes. Intermediária V OBJETIVOS 1-elucidar fisiopatologia e tratamento da tuberculose. 2- interpretar os resultados dos exames da Antônia e crianças e condutas a serem tomadas. 3-direitos trabalhistas e aspectos biopsicossocial relacionados ao caso. Objetivo 1+2+3 Na primoinfecção pulmonar pelo M. tuberculosis, devido à falta de imunidade celular específica, ocorre uma proliferação bacilar descontrolada. Com o passar do tempo, os bacilos se disseminam de forma linfo-hematogênica. Neste momento temos apenas infecção, pois a doença ainda não se manifestou. Após algumas semanas, a maioria dos indivíduos (90%) desenvolve imunidade celular, agora específica contra o bacilo, e consegue eliminar os microrganismos que se disseminaram, a partir disso surge um granuloma com uma área central de necrose caseosa, esse granuloma pode ser visto em exames de imagem e recebe o nome de nódulo de Gohn, que junto com o linfonodo satélite forma o complexo de Ranke. Outro ponto importante sobre a M.tuberculosis é que é um bacilo aeróbico, dessa forma podemos observar as principais alterações de raio-x no lobos superiores onde temos mais oxigênio. Apresenta um crescimento lento, caso o paciente desenvolva a doença esse quadro acaba sendo mais arrastado, além disso o paciente ainda pode apresentar o período de latência por um tempo longo. É mais comum em crianças em razão do primeiro contato, a doença pode se apresentar clinicamente de várias formas. Os exames de imagens apresenta um padrão variado, desde a consolidações parenquimatosas até um padrão miliar. As manifestações clínicas podem ser insidiosas, com o paciente apresentando-se irritadiço, com febre baixa, sudorese noturna e inapetência. Nem sempre a tosse está presente e o exame físico pode ser inexpressivo. O sequenciamento do genoma do M. tuberculosis permitiu a realização de investigações sobre o papel de genes até então desconhecidos, através da genômica funcional, a identificação de genes presentes em cepas patogênicas de M. tuberculosis, como H27Rv, permitiu a maior compreensão da patogenia da tuberculose. É o caso da proteína early secretory antigenic target-6 (ESAT-6), que apresenta atividade citolítica para pneumócitos, facilitando a invasividade do M. tuberculosis. Além da variação da cepas e achados de proteínas que explicam um pouco o processo de invasão do MT, pode ainda apontar a CFP-32 (presenta no complexo de M. tuberculosis) aumenta a secreção de IL-10 por células mononucleares. Há uma correlação positiva entre a presença de CFP-32 no escarro induzido em portadores de tuberculose e os níveis de IL- 10, mas não em relação aos níveis de IFN-γ. A tuberculose se transmite de pessoa a pessoa, sem vetores ou outros intermediários. No entanto, devido à sua permanente exposição aos potenciais insultos presentes no ar que respiramos, o aparelho respiratório desenvolveu, ao longo da evolução, mecanismos inespecíficos de contenção, como a depuração mucociliar. Esses mecanismos permitem que grande parte dos bacilos aspirados seja contida na porta de entrada. Adicionalmente, os poucos bacilos que escapam dessa barreira física de contenção enfrentam os mecanismos alveolares, sendo a fagocitose pelos macrófagos alveolares o mais importante. Conseguindo ''burlar'' essa forma de proteção os os bacilos entram em multiplicação, constituindo o cancro de inoculação ou complexo de Gohn, podendo ter uma disseminação linfática e inflamação do gânglio regional, constituindo o complexo de Ranke. Tuberculose primária 1 Tuberculose secundária 2 É a forma mais comum de apresentação em nosso meio, o sintoma predominante é a tosse por mais de 3 semanas (o que define como sintomático respiratório). A febre vespertina, a sudorese noturna e a perda de peso completam o cenário clínico. O padrão radiológico varia entre infiltrados, cavitações e derrame, mas há uma predominância de acometimento dos segmentos posteriores nos lobos superiores e os segmentos superiores dos lobos inferiores. patogenia A cooperação entre macrófagos e linfócitos T funciona como um elemento chave na defesa contra a infecção por M. tuberculosis. Os macrófagos e as células dendríticas fagocitam o M. tuberculosis e, depois de destruir e processar seus componentes, apresentam aos linfócitos seus principais antígenos no contexto de moléculas do complexo principal de histocompatibilidade tipos I e II. Essas células ainda usam, para a apresentação antigênica, importantes moléculas de superfície, chamadas moléculas coestimulatórias, como CD80 e CD86. A apresentação antigênica precipita uma cascata de eventos biológicos nos linfócitos, como a ativação, a expansão clonal e a secreção de importantes citocinas (por exemplo, IFN-γ) que, por sua vez, vão ativar outros macrófagos, permitindo que eles sejam mais eficazes na eliminação do M. tuberculosis. Entretanto, os macrófagos têm também uma função menos nobre: a de abrigar os bacilos e de permitir sua multiplicação intracelular, protegendo-os dos mecanismos externos de eliminação e levando o indivíduo ao estado de tuberculose latente ou ao de tuberculose ativa progressiva. Outra citocina fundamental tanto na proteção quanto na patogenicidade da tuberculose é o TNF-α, secretado por vários tipos celulares, principalmente por macrófagos ativados. Essa citocina é essencial na formação do granuloma, local onde as ações biológicas da tuberculose se produzem. sintomático respiratório: definição usada pelo Ministério da Saúde para indicar pacientes que devem ser avaliados para a possibilidade de tuberculose. aquele que tosse por mais de 3 semanas; a definição é importante para a atenção básica...o tempo varia conforme a população em risco. sintomatologia: é variável, mas classicamente subagudo a crônico. exame físico: variável conforme a extensão da doença. 1. 2. 3. OBS: nem sempre haverá febre, sudorese noturna, perda de peso, hemoptoicos. Avaliação feita com exame de imagem e laboratorial. Manifestações O diagnóstico do paciente com tuberculose é feito por um conjunto de fatores, sendo: clínica, diagnóstico bacteriológico e exame de imagem. Diagnóstico Diagnóstico clínico 1 Tuberculose pulmonar: Os sinais, sintomas e as manifestações radiológicas dependem do tipo de apresentação da TB. Classicamente, as principais formas de apresentação são a forma primária, a pós-primária (ou secundária) e a miliar. Os sintomas clássicos, como tosse persistente seca ou produtiva, febre vespertina, sudorese noturna e emagrecimento, podem ocorrer em qualquer das três apresentações. No casos em que a tosse é produtiva, a expectoração pode ser purulenta ou mucoide com ou sem sangue. A febre vespertina, sem calafrios não costuma ultrapassar os 38,5°C. A sudorese noturna e a anorexia sãocomuns. 1. Diagnóstico Bacteriológico 2 TB pleural: É a forma mais comum de TB extrapulmonar em pessoas não infectadas pelo HIV. É marcada por uma tríade: astenia, emagrecimento e anorexia em 70% dos pacientes, podemos observar febre com tosse seca, em 60%. O líquido pleural tem características de exsudato, predomínio de linfócitos e baixo rendimento tanto da pesquisa de BAAR (<5%) quanto da cultura (<15%). Níveis elevados de adenosina deaminase (ADA) no líquido pleural têm sido aceitos como critério diagnóstico de TB. A cultura para TB do escarro induzido é positiva em até 50% dos pacientes, mesmo sem outra alteração visível na radiografia de tórax além do derrame pleural. TB ganglionar periférica: É a forma mais frequente de TB extrapulmonar em PVHIV e em crianças. Cursa com aumento subagudo, indolor e assimétrico das cadeias ganglionares cervicais anterior e posterior, além da supraclavicular. Em PVHIV, o acometimento ganglionar tende a ser bilateral, associado com maior comprometimento do estado geral. Ao exame físico, os gânglios podem apresentar-se endurecidos ou amolecidos, aderentes entre si e aos planos profundos, podendo evoluir para flutuação e/ou fistulização espontânea, com a inflamação da pele adjacente. TB meningoencefálica: É responsável por 3% dos casos de TB em pacientes não infectados pelo HIV e por até 10% em PVHIV. A meningite basal exsudativa é a apresentação clínica mais comum e é mais frequente em crianças abaixo dos seis anos de idade. Clinicamente pode ser subaguda No exame físico podemos observar diminuição do murmúrio vesicular, sopro anfórico ou mesmo ser normal. A TB miliar refere-se a um aspecto radiológico pulmonar específico, que pode ocorrer tanto na forma primária quanto na forma secundária da TB. É uma forma grave da doença, que é mais comum em pacientes imunocomprometidos, como pessoas infectadas com HIV em fase avançada de imunossupressão, o exame e físico pode mostrar hepatomegalia (35% dos casos), alterações do sistema nervoso central (30% dos casos) e alterações cutâneas do tipo eritemato-máculo-pápulo- vesiculosas (incomum). 2. Tuberculose extrapulmonar: As apresentações extrapulmonares da TB têm seus sinais e sintomas dependentes dos órgãos ou sistemas acometidos. Sua ocorrência aumenta em pacientes coinfectados pelo HIV, especialmente entre aqueles com imunocomprometimento grave. Podemos observar as seguintes apresentações: 1. 2. 3. ou crônica (sinais e sintomas com duração superior a quatro semanas). Na forma subaguda, cursa com cefaleia holocraniana, irritabilidade, alterações de comportamento, sonolência, anorexia, vômitos e dor abdominal associados à febre, fotofobia e rigidez de nuca por tempo superior a duas semanas. Na forma crônica, o paciente evolui várias semanas com cefaleia, até que o acometimento de pares cranianos faz o médico suspeitar de meningite crônica. 4. TB pericárdica: Tem apresentação clínica subaguda e geralmente não se associa à TB pulmonar, embora possa ocorrer simultaneamente com a TB pleural. Os principais sintomas são dor torácica, tosse seca e dispneia. Muitas vezes, a dor não se manifesta como a dor pericárdica clássica. Pode haver febre, emagrecimento, astenia, tontura, edema de membros inferiores, dor no hipocôndrio direito (congestão hepática) e aumento do volume abdominal (ascite). Porém, raramente a TB pericárdica evolui com sinais clínicos de tamponamento cardíaco. 5. TB óssea: É mais comum em crianças ou em pessoas entre a quarta e quinta década de vida. Atinge mais a coluna vertebral e as articulações coxofemoral e do joelho, embora possa ocorrer em outros locais. A TB de coluna (mal de Pott) é responsável por cerca de 1% de todos os casos de TB e até 50% de todos os casos de TB óssea. Baciloscopia direta: 1. no sintomático respiratório, durante estratégia de busca ativa; em caso de suspeita clínica e/ou radiológica de TB pulmonar, independentemente do tempo de tosse; Para acompanhamento e controle de cura. A pesquisa do bacilo álcool-ácido resistente – BAAR, pelo método de Ziehl-Nielsen, é a técnica mais utilizada em nosso meio. A baciloscopia do escarro, desde que executada corretamente em todas as suas fases, permite detectar de 60% a 80% dos casos de TB pulmonar em adultos, o que é importante do ponto de vista epidemiológico, já que os casos com baciloscopia positiva são os maiores responsáveis pela manutenção da cadeia de transmissão. Em crianças, a sensibilidade da baciloscopia é bastante diminuída pela dificuldade de obtenção de uma amostra com boa qualidade. A baciloscopia é indicada nas seguintes condições: 1. 2. 3. 3. Cultura para micobactéria, identificação e teste de sensibilidade: A cultura é um método de elevada especificidade e sensibilidade no diagnóstico da TB. Nos casos pulmonares com baciloscopia negativa, a cultura do escarro pode aumentar em até 30% o diagnóstico bacteriológico da doença. Os métodos para cultura de micobactérias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura sólidos e líquidos. Os meios de cultura mais comumente utilizados são os sólidos à base de ovo, Löwenstein- Jensen e Ogawa-Kudoh. Eles têm a vantagem de serem de menor custo e de apresentarem um baixo índice de contaminação. A desvantagem do meio sólido é o tempo de detecção do crescimento bacteriano, que varia de 14 a 30 dias, podendo estender-se por até oito semanas. O meio líquido é utilizado nos métodos automatizados disponíveis no Brasil, entre eles MGIT®, no qual o tempo de resultado varia entre 5 a 12 dias, quando positivo; e 42 dias, quando negativo. 2. Teste rápido molecular para tuberculose (TRM-TB) Diagnósticos de novos casos; Diagnóstico em população de maior vulnerabilidade; Diagnóstico de TB extrapulmonar nos materiais biológicos já validados; Triagem de resistência a rifampicina; triagem de resistência à rifampicina nos casos com suspeita de falência ao tratamento de TB. O TRM-TB está indicado para diagnóstico de TB pulmonar e laríngea em adultos e adolescentes. O teste rápido molecular é usado para detecção do DNA dos bacilos do complexo M. tuberculosis e triagem de cepas resistentes à rifampicina pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) em tempo real. É feito a partir de uma amostra de escarro e o resultado sai em aproximadamente duas horas. A sensibilidade do TRM-TB em amostras de escarro de adultos é de cerca de 90% sendo superior à da baciloscopia. O teste também detecta a resistência à rifampicina, com uma sensibilidade de 95%. O TRM-TB está indicado nas seguintes situações: 1. 2. 3. 4. 5. A sensibilidade do TRM-TB para o diagnóstico em crianças (<10 anos de idade) é menor que a apresentada para adultos (66%). A evolução do conhecimento sobre o TRM-TB na TB pediátrica mostrou que a sua utilização ainda é limitada na infância.
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