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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO Alunos/as: Guilherme Coelho Januária Vargas Ferraz Juscelino Nascimento Soraya Brescia Nagem CLOSTRIDIUM BOTULINUM & CLOSTRIDIUM PERFRINGENS Professora: Isis Tande de Silva BELO HORIZONTE - MG 2021 CLOSTRIDIUM BOTULINUM ASPECTOS GERAIS Clostridium botulinum é uma bactéria anaeróbia, gram-positiva e que possui formato de bastonete (bacilo) responsável por originar o botulismo - intoxicação alimentar grave, de evolução aguda. A doença é causada após a ingestão de alimentos contaminados por este microrganismo patógeno, sejam embutidos ou enlatados, de origem vegetal ou animal, que foram esterilizados de forma errônea ou conservados em substratos com pH básico ou próximo do neutro (maior que 4,6). Ou seja, alimentos que se encontram em ambientes desprovidos de oxigênio, com pH entre 4,6 e 8,9 são favoráveis para a proliferação botulínica. Em 5% a 10% dos casos, a doença pode ser fatal. O microrganismo C. botulinum localiza-se no solo, sedimentos aquáticos e intestinos de animais herbívoros e peixes. Apesar de ser encontrado no solo, o nível de contaminação nas plantações é baixo. Em condições anaeróbicas, suas células vegetativas produzem esporos ovais ou esféricos, que distendem a parede celular. “A germinação dos esporos também exige anaerobiose estrita e pH superior a 4,6 para que haja produção de toxinas.” (GERMANO E GERMANO, 2015, p. 355). São oito tipos de Clostridium botulinum que se classificam em: A, B, Cα, Cβ, D, E, F e G, a diferença entre elas é devido às características antigênicas das toxinas: • A, B, E e F - provocam botulismo nos seres humanos. • A, B, Cα, Cβ, D e E - provocam a patologia nos animais. • G - não há registros da doença nos animais, mas em pesquisas laboratoriais foi fatal em camundongos. Vale ressaltar que as células de quaisquer tipos de C. botulinum são termolábeis, ou seja, destruídas na temperatura de cocção culinária e de pasteurização. A morte destas bactérias é causada, geralmente, em 80ºC (no período de 10 a 30 minutos) e em 100ºC (por três minutos). Porém, em campanhas de Saúde Pública, o recomendado é 100ºC no tempo de 10 minutos. RESERVATÓRIOS Os principais reservatórios deste agente patológico são os animais mamíferos, aves e peixes, em que o solo e as águas, principalmente as estagnadas, estão inclusos na cadeia de transmissão. A intoxicação alimentar ocorre por meio do contato do animal (matéria prima da carne) com o solo ou água contaminada (inclusive para higienização ou preparo) e também pelas fezes dos mesmos. EPIDEMIOLOGIA A propagação da doença, pode ser verificada por meio das seguintes localidades do planeta: • Hemisfério Norte - em comparação às demais áreas geográficas, a frequência da patologia é maior neste hemisfério, mas há baixa incidência devido ao aprimoramento tecnológico da indústria de alimentos. • Brasil - na maioria das vezes, a incidência é rara no país e a veracidade acerca das informações disponíveis, são colocadas em dúvida. Em território brasileiro, as maiores ocorrências surgiram devido à conserva caseira de peixe e patê de galinha industrializado. No ano de 1997 a 1999, houve três casos de surto no país referente ao palmito importado da Bolívia. E, ainda, segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde e do Centro de Vigilância Epidemiológica, da Secretaria de Estado da Saúde, entre 1999 a 2005 foram registrados 11 casos no Brasil, sendo 8 deles no estado de São Paulo. • Argentina - foi feita análise de 240 amostras de solo na província de Entre Rios, onde constataram a presença de C. botulinum em 35 delas, correspondendo a 17%. • Estados Unidos - autoridades de Saúde do país evidenciaram que são registrados, anualmente, 100 casos de botulismo, sendo 25% de origem alimentar, 75% em crianças e 5% em feridas contaminadas. • África do Sul - evidências da doença em alimentos tóxicos, carne podre de bovinos e suínos, vegetação podre dos pântanos alcalinos e animais invertebrados. • Japão - evidências da doença em produtos marinhos e pescados, sendo também vistos casos semelhantes em países como Alasca, Suécia, Dinamarca, antiga URSS, Egito e Irã, por exemplo. ALIMENTOS ENVOLVIDOS Em produtos alimentícios mal processados os esporos germinam, originam formas vegetativas e se multiplicam, tornando a fonte alimentar tóxica. A maior frequência de surtos de botulismo é em alimentos de origem animal, sobretudo os embutidos, como salsicha, salames, presuntos, chouriços e patês. Há também intoxicação advinda de produtos lácteos, queijos, enlatados e fermentados, sendo também recorrente nos peixes em conserva ou defumados e produtos vegetais enlatados como palmito, espinafre, aspargos, cogumelos, milho, vagens, figos, azeitonas e ervilhas. Ainda, há incidência em mel, porém a intoxicação ocorre apenas em crianças com menos de um ano de idade. É importante ressaltar que conservas caseiras ou artesanais possuem o maior risco de intoxicação alimentar, devido a procedimentos inadequados ou amadores durante a preparação. Já os alimentos industrializados apresentam perigo mínimo devido aos aparatos tecnológicos utilizados. Para impedir a produção da toxina nestes alimentos, determinados procedimentos podem ser utilizados como teor de umidade inferior a 30%, pH abaixo de 4,6 e concentrações de cloreto de sódio superiores a 8%. CARACTERÍSTICAS De forma geral, o C. botulinum é um bacilo gram-positivo e anaeróbio, formador de endósporos, sendo frequente no solo e águas estagnadas. Dependendo do tipo de bactéria, as características se diferem, sendo: • Tipos A e B - são de comportamentos quase idênticos, mas se diferem na característica de suas toxinas. • Tipo A - mais tóxicas, proteolíticas, independe de origem geográfica; • Tipo B - na América do Norte são proteolíticas e na Europa possuem duas cepas não-proteolíticas, apesar de serem menos tóxicas, em relação às do tipo A, são as mais difundidas. • Tipo C - as cepas Cα, afetam as aves; enquanto as Cβ, afetam os bovinos. Ambas são não-proteolíticas e tipos raros encontrados no ser humano. • Tipo D - é o tipo mais anaeróbio, sendo de difícil cultivo em laboratório. Atinge o gado, sendo mais encontrado nas forragens e mais comum na África do Sul e Austrália. Assim como o C, o tipo D também é não- proteolítico e raramente encontrado em indivíduo humano. • Tipo E - é não-proteolítico e um tipo bastante tóxico para o ser humano, sendo encontrado nos peixes em que a intoxicação ocorre, na maioria das vezes, por ingestão de peixe cru ou malcozido. • Tipo F - semelhante aos tipos A e B, sendo isolados na Dinamarca. • Tipo G - é um tipo restrito na Argentina, responsável por causar a morte súbita em adultos e crianças (porém o papel do agente destas mortes nunca foi descoberto). Ainda não foi possível neutralizá-lo com nenhuma antitoxina do C. botulinum (mono ou polivalente), desta forma, o agente foi reclassificado como C. argentinense. PESSOAS EXPOSTAS São inúmeros os alimentos capazes de causar infecção botulínica e é necessária uma ingestão ínfima desse alimento infectado para que a infecção se instale no indivíduo. Desta feita, temos que este tipo de infecção acomete um amplo espectro de pessoas, independente dos fatores idade, sexo ou estado de saúde prévio. O botulismo infantil ocorre em crianças menores de 12 meses de idade e se dá em razão da ingestão de esporos do C.botulinum, que germinam originando células vegetativas produtoras da toxina enquanto colonizam o intestino (botulismo intestinal tóxico). O mel tem sido considerado um dos grandes reservatórios alimentares destes esporos de C.botulinum e,por esta razão, é contra indicado para crianças com menos de um ano de idade, cuja microbiota intestinal ainda não é capaz de impedir a reprodução da bactéria. QUADRO CLÍNICO A intoxicação ocorre com a ingestão do alimento contaminado com a toxina botulínica. Absorção da toxina é feita pelas porções superiores do intestino delgado e atinge o sistema nervoso periférico através da circulação sanguínea. A toxina possui atividade neurotóxica que atinge os sistemas nervoso autônomo e somático, mas não causa interferências nas funções do cérebro nem da medula espinal. Pode causar paralisias parciais ou de grupamentos musculares. Período de incubação varia entre 1 a 2 dias após ingestão do alimento contaminado podendo haver manifestação dos sintomas em algumas horas ou em 6 dias. Os primeiros sintomas apresentados são fraqueza, fadiga, vertigem, náuseas e vômitos que podem evoluir, com o comprometimento do sistema nervoso, para: - oculares: midríase, diplopia, ptose e estrabismo - secretórios: secura da boca, constrição faríngea, ausência de sudorese - motores: progressivos: diminuição da motricidade da língua, mastigação e deglutição difíceis, enfraquecimento dos músculos respiratórios e do diafragma, paralisia do intestino, bexiga e esfíncteres. Paciente mantem-se lúcido apesar do agravamento do quadro. Pode evoluir para óbito entre 3 e 10 dias em 50% a 60% dos casos por paralisia respiratória. Havendo remissão dos sintomas, algumas paralisias podem ser persistentes por vários meses. DIAGNÓSTICO O mais adequado seria a pesquisa realizada no alimento que gerou a contaminação, o que é inviável na maioria dos casos. Os pacientes com suspeita de intoxicação devem ser submetidos à exames de sangue, fezes e vômito para pesquisa da toxina. Em tratando-se de pacientes que evoluíram a óbito, deve-se colher o conteúdo estomacal durante a biópsia para análise. TRATAMENTO O sucesso do tratamento depende do tempo gasto entre o diagnóstico e seu início. O paciente deve ser internado em local que possua unidade de terapia intensiva para monitorização cardiorrespiratória e dado início do tratamento com soroterapia específica com soro antibotulínico visando a preservação do sistema nervoso do paciente. A administração de antibióticos ainda não está suficientemente esclarecida como terapêutica no botulismo alimentar. CONTROLE Produtos alimentícios que possuam pH entre 4,6 e 8,9 com atividade de água mínima de 0,96 e que estejam armazenados em embalagens completamente livres de oxigênio são potencialmente botulinogênicos. A esterilização é um fator crucial para prevenção ao botulismo, bem como a conservação de alimentos em temperatura de refrigeração ou congelamento, salga, secagem, fermentação e acidificação. Manejos eficientes: autoclavagem de enlatados, cocção prolongada de conservas, cura de alimentos com sal, adição acidificantes e refrigeração abaixo dos 4ºC. CLOSTRIDIUM PERFRINGENS ASPECTOS GERAIS O C.perfringens é um bacilo Gram-positivo, anaeróbio, eventualmente aerotolerante e formador de esporos, pertencente à família Enterobacteriaceae. As células têm a forma de bastonetes (bacilos), formam esporos e são imóveis. De acordo com a toxina que produzem, estão definidos 5 tipos, sendo eles A, B, C, D e E. Na origem da maioria dos problemas de segurança alimentar, surge a C.perfringens tipo A e, em muito menor escala, do tipo C. A dose infectante para que o C.perfringens possa causar a infecção alimentar ser humano é de 106 bactérias/g ou a fração ingerida do alimento contaminado deve conter uma quantidade superior a 108 células vegetativas. RESERVATÓRIOS Ela pode ser encontrada no solo, na água, nos sedimentos e nas áreas passíveis de contaminação por matéria fecal humana ou animal, é um componente normal da vegetação apodrecida, no trato intestinal de seres humanos e outros vertebrados e insetos. Nos alimentos contaminados é detectado, tanto nos crus como cozidos. EPIDEMIOLOGIA A intoxicação alimentar por Clostridium perfringens resulta da ingestão de alimentos contaminados pela mesma bactéria. Uma vez no intestino delgado, a bactéria libera a toxina que geralmente causa a diarreia. A C.perfringens é um tipo de bactéria que causa vários tipos de doenças, incluindo a gastroenterite. Algumas cepas causam gastroenterite leve a moderada que melhora sem tratamento, enquanto outras cepas causam doença grave que pode lesionar o intestino delgado e, por vezes, causar morte. Carne bovina, aves, molhos e alimentos desidratados ou pré-cozidos contaminados são normalmente responsáveis por surtos de intoxicação alimentar por C.perfringens. Algumas cepas não são destruídas pelo cozimento completo da carne, ao contrário de outras. A mortalidade ocasionada pelas cepas do tipo A é muito baixa, embora tenham sido relatados alguns óbitos causados por desidratação e outras complicações dos pacientes. Para o tipo C, a doença é quase sempre fatal. Os surtos de infecção clostridiana podem ocorrer em qualquer época do ano e, geralmente, estão relacionados com refeições preparadas para grande número de comensais. ALIMENTOS ENVOLVIDOS A bactéria Clostridium perfringens pode ser encontrada em alimentos à base de carne bovina e de carne de frango, principalmente com molhos, e mantidos, após o cozimento, em temperatura ambiente ou até 50ºC. Estes têm sido os principais causadores de intoxicação alimentar por C.perfringens. Também podem ser encontradas em legumes cozidos e derivados a que se tenha seguido aquecimento lento, permitindo a germinação rápida dos esporos e a produção de toxinas. CARACTERÍSTICAS O agente é catalase negativo, proliferando no alimento contaminado em condições de anaerobiose, todavia pode sobreviver e multiplicar -se acidentalmente em presença de oxigênio. C.perfringens é uma bactéria Gram- positiva pertencente à família Bacillaceae. A multiplicação da C.perfringens ocorre entre 12º e 50°c, embora abaixo dos 20°c esse processo seja muito lento. A inativação térmica da enterotoxina em caldo de carne ocorre entre 59º e 65°C, variando o tempo de cocção entre 1,5 e 72,8 minutos. As células vegetativas resistem a um pH mínimo de 5,5 até um máximo de 9,0. PESSOAS EXPOSTAS A população, como um todo, está exposta à contaminação, os jovens e idosos são as vítimas mais frequentes da infecção. A maioria dos relatos de surtos são relacionados à alimentação coletiva em estabelecimentos institucionais (restaurantes, hospitais, escolas). QUADRO CLÍNICO Sintomas de gastroenterite, tais como diarreia líquida e cólica abdominal. Embora geralmente leve, a infecção também pode causar dor abdominal, expansão abdominal (distensão) por gases, diarreia grave, desidratação e uma redução significativa da pressão arterial (choque). Os sintomas da intoxicação alimentar causada pela bactéria costumam durar 24h. DIAGNÓSTICO Identificação de organismos em alimentos ou fezes ou da enterotoxina nas fezes. O diagnóstico de intoxicação alimentar por C.perfringen baseia-se em evidências epidemiológicas e isolamento de grandes quantidades de microrganismos provenientes dos alimentos contaminados ou de fezes de pessoas afetadas, ou pela identificação direta de enterotoxina em amostras de fezes. TRATAMENTO Líquidos e repouso, ou seja, a pessoa afetada recebe tratamento de reposição de líquidos e é aconselhada a repousar. Não são utilizados antibióticos. Nos casos de extrema gravidade onde ocorre hemorragia e necrose, preconiza-se o ato cirúrgico, com o objetivo de remover as áreas afetadas, acompanhado da administração de metronidazol, durante 10 dias. Para crianças, a dose de metronidazol deve levar em consideração a idade e o peso, também devendo ser administrada durante10 dias. CONTROLE Treinamento dos manipuladores de alimentos e educação das donas de casa; risco de preparo de alimentos em larga escala; temperaturas para reaquecimento (TºC interna de pelo menos 70ºC, preferivelmente >75); riscos de permanência do alimento em temperatura ambiente e do resfriamento lento (estocagem ideal abaixo de 4ºC ou acima de 60ºC). Necessidade de refrigeração imediata das sobras. A conservação dos alimentos, sobretudo daqueles com molhos de carne, acima de 60ºC ou abaixo de 4ºC é uma das medidas mais importantes para prevenir a multiplicação bacteriana. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS GERMANO, Pedro Manuel Leal; GERMANO, Maria Izabel Simões. Higiene e Vigilância Sanitária de Alimentos. Edição 5. Barueri - SP: Manole, 2015. CERESER, Natacha Deboni et al. Botulismo de origem alimentar. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.1, p.280-287, jan-fev, 2008. Disponível em: https://www.scielo.br/j/cr/a/NRW6vpQxtgNBWJnNXR7y9Dp/?lang=pt PARRILLI, Carolina Chizzotti. Clostridium botulinum em alimentos. 2008. 46 p. Trabalho de Conclusão de Curso em Medicina Veterinária - Faculdades Metropolitanas Unidas, São Paulo. Disponível em: https://arquivo HYPERLINK "https://arquivo.fmu.br/prodisc/medvet/ccp.pdf".fmu.br/prodisc/medvet/ccp.pdf PEREIRA, Diana Maria Fernandes. Intoxicação alimentar por Clostridium botulinum. 2014. 29 p. Monografia Estágio Curricular Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas – Universidade de Coimbra, Coimbra. Disponível em: https://estudogeral.uc.pt/bitstream/10316/89202/1/M_Diana%20Pereira.pdf
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