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Análise do Discurso 4

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4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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Introdução
Autoria: Rosiani Teresinha Soares Machado - Revisão Técnica: Raquel Rossini
Martins Cardoso
Análise do discurso
UNIDADE 4 - ENUNCIAÇÃO E PRÁTICA
DE ENSINO DA AD
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz9… 2/21
Quando conversamos com alguém, instaura-se
uma comunicação que é composta por
elementos discursivos que não são percebidos
no momento da fala, mas que estão ali, dando
sentido ao que se quer dizer. Porém, quais
situações dão conta dessa atividade social e
interacional? Como o outro reage a uma
persuasão para que seja convencido sobre
determinado assunto? O que a enunciação e o enunciado têm em comum com o texto
e seu sentido?
Nesta unidade, você terá condições de reconhecer a instância da enunciação e
avaliar suas implicações na produção de sentido. Para tanto, verá o que é enunciação
e o que é enunciado, de acordo com as diferentes teorias que os definem. Os
aspectos dialógicos do enunciado e o argumento na enunciação também serão
assunto desta unidade.
Além disso, pretendemos lhe mostrar como uma análise discursiva pode ser
construída, a fim de que você possa usar em sua prática profissional em sala de aula
com seus futuros estudantes.
Bons estudos!
4.1
Enunciação
Nas conversas do dia a dia, em reuniões de trabalho, no consultório médico, em uma entrevista
de emprego, em todas essas situações usamos a língua para conduzir uma interação
discursiva. Uma das questões que abrange essa interação é a enunciação, capaz de integrar
enunciador e enunciatário em uma atividade social.
Conceituar enunciação não é uma tarefa fácil, já que depende da abordagem teórica que a
definirá. Diferentes teóricos trataram do tema, impondo, desse modo, distintas definições.
Vamos iniciar com esses conceitos para, depois, ver como a enunciação se estabelece como
atividade social.
4.1.1 Conceito e caracterização
Iniciamos este tópico com uma história que poderá ilustrar como ocorre a enunciação em
situação discursiva.
Em uma festa de final de ano, Lia conversa com sua colega Clara sobre assuntos diversos,
tendo como pauta o ano que está terminando. Lia relata que conseguiu atingir quase todos os
objetivos que tinha traçado no início do ano e que, por isso, se considerava satisfeita. Clara, por
sua vez, escutava atentamente, enquanto pensava: “Não planejei nada. Não criei objetivos
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz9… 3/21
quando o ano começou. Não tracei metas. Na verdade, não pensei em nada disso”. Foi
interrompida em seus pensamentos com a pergunta de Lia: “E você, Clara, conseguiu atingir
seus propósitos? Acredito que sim, pois sua promoção foi comemorada por todos!”
Abrimos este tópico com essa história que pode ser considerada comum: uma conversa
amigável entre duas pessoas, supostamente colegas de trabalho, em uma festa de final de ano,
supostamente do lugar onde trabalham. Supostamente, porque não temos todas as
informações no pequeno trecho apresentado, pois o que nos interessa é mostrar a você que
entre as duas personagens ocorre um ato interativo, uma ação que subentende reciprocidade,
ou seja, as duas personagens na narrativa travam um diálogo, uma conversa entre si.
Analisando a interação entre as duas, podemos definir que estão dizendo, cada uma a seu
tempo, algo, estão produzindo um texto e, sendo assim, podemos determinar que há situações
discursivas ocorrendo ali. 
Você já viu o que é o discurso e como ele se constitui. Agora, você vai compreender o que é
enunciação e como ela é caracterizada.
Vamos começar por dois conceitos. O primeiro deles foi retirado do Glossário Ceale (Centro de
Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG), que diz o seguinte:
“enunciação refere-se à atividade social e interacional por meio da qual a língua é colocada em
funcionamento por um enunciador (aquele que fala ou escreve), tendo em vista um enunciatário
(aquele para quem se fala ou se escreve)”. Diz, ainda, que “o produto da enunciação é
chamado enunciado” (ASSIS, [s.d.]). 
Podemos inferir, então, que enunciação é o dizer e o enunciado, o dito.
O Glossário CEALE foi pensado para atender as
necessidades de educadores e apresenta termos de
Alfabetização, Leitura e Escrita. A apresentação do site
informa que “foi concebido para ser um apoio aos
processos de ensino e aprendizagem da alfabetização,
leitura e escrita” (FRADE; VAL; BREGUNCI; [s.d.],
[s.p.]). Navegue pelo site e descubra a infinidade de
termos disponíveis. Certamente será de grande auxílio
em sua trajetória como estudante e como profissional. 
Acesse
(http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossario
ceale/)
Você quer ler?
Há enunciação.
Há enunciado.
Se há discurso 
Se há
enunciação 
http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz9… 4/21
O segundo conceito vem de Araújo (2004, p. 230), que define enunciação como sendo “a
formulação de alguém especificamente, em que as funções de autor, materialidade institucional
etc. não modificam sua possível utilização”. Para enunciado, a autora refere que “é a unidade
do discurso, é o produto da enunciação” (ARAÚJO, 2004, p. 230).
Nessa concepção, enunciação é a formulação de alguém e enunciado, seu produto.
Podemos ainda pensar em dois sentidos constituintes de uma sentença, de uma frase ou de
uma oração: o concreto e o abstrato.
A enunciação, nesse caso, é o processo mediador entre o concreto e o abstrato. O enunciado
é o resultado desse processo.
Voltemos à história do início deste tópico. Quando Lia pergunta à Clara se esta teria atingido
seus propósitos, está formulando uma sentença que requer uma resposta. No entanto, o
enunciador toma esse tempo, respondendo ele mesmo de uma forma conclusiva: “Acredito que
sim, pois sua promoção foi comemorada por todos!”. A afirmação de Lia é o que podemos inferir
como sendo uma enunciação, aquilo que foi dito, que foi concretizado na fala de Lia.
Retomando um pouco antes dessa fala, temos o pensamento de Clara ao lembrar que não
criou objetivos para o ano que já estava ao seu final, que não havia elaborado nenhum desejo,
não pensara em nenhuma meta, no entanto, conseguira uma promoção no trabalho. São várias
as inferências que podem ser deduzidas dessa situação. 
Concreto 
É da competência da produção, é o que foi dito ou
escrito.
Abstrato 
É da parte da interpretação, da compreensão.
 
Clara não planejou, mas sua competência lhe rendeu
uma promoção.
Clara não é ambiciosa e, por isso, não traça metas,
mesmo assim, foi promovida.
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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Veja que são inúmeras as possibilidades de enunciados que podem ser inferidos da enunciação
dada, por isso a importância de compreender o que é enunciação e o que é enunciado e o que
difere um do outro
O Dicionário de Linguística e Enunciação apresenta definições para enunciação dadas por
alguns teóricos, cada qual com sua visão sobre o discurso. Iniciamos com a definição de
Authier-Revuz: “campo heterogêneo do conhecimento em que se articulam língua e sujeito”
(FLORES et al., 2009, p. 100). Em seguida, traz uma nota explicativa com o seguinte texto: 
A linguista estuda a enunciação com base na heterogeneidade do conhecimento e seus
estudos contribuem para as pesquisas relacionadas à metalinguagem, ao discurso relatado, à
psicanálise, entre outras áreas. A teoria do sujeito de Lacan e o dialogismo de Bakhtin servem
de apoio às suas teorias.
Lia demonstrafelicidade por Clara ter conseguido a
promoção e acredita que isso foi fruto de um dos
objetivos traçados para o ano que finaliza.
Lia pensa que Clara teve sorte ao conseguir a
promoção, que deveria ser dada a ela, Lia, por ser
mais competente e por pensar no futuro.
A enunciação, concebida como um campo heterogêneo do conhecimento, põe em jogo o sujeito e
sua relação com a língua e com o sentido. É, então, considerada lugar de uma inevitável
heterogeneidade teórica, que leva a linguística, entendida em seu sentido restrito, a ter que recorrer
a teorias exteriores a seu campo para apoiar a descrição dos fatos enunciativos. Tais teorias
exteriores são: a teoria do sujeito de J. Lacan, o dialogismo de M. Bakhtin e a noção de interdiscurso
de M. Pêcheux. (FLORES et al., 2009, p. 101, grifo no original)
Uma das grandes figuras dos estudos do discurso,
Jacqueline Authier-Revuz é professora emérita de
Linguística Francesa na Universidade Paris III - Sorbonne
Nouvelle, onde leciona desde 1994, e professora visitante na
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Suas
linhas de pesquisa são a dimensão da heterogeneidade e
metalinguagem da enunciação: autorrepresentação,
representação de outro discurso – questões de linguagem,
discurso, escrita, subjetividade; linguagem e psicanálise. 
Você o conhece?
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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A contribuição da linguista para os estudos da enunciação é de grande valia, sobretudo porque
sua produção é referência de destaque na AD francesa. 
Além dessa definição para enunciação, há outras no mesmo dicionário, que reproduzimos no
quadro “Definição de enunciação para alguns teóricos”, junto ao teórico que a determinou.
#PraCegoVer: tabela com duas colunas e seis linhas. A primeira coluna traz os nomes de cinco
teóricos e a segunda suas definições para enunciação. A linha superior apresenta os títulos das
colunas.
 
Como podemos observar, são vários os teóricos que dão à semântica definições de acordo
com seus campos de atuação, o que leva à situação de teorias da enunciação, ou seja, as
distintas percepções teórico-metodológicas que a constituem. Aqui é importante esclarecer que
você poderá encontrar uma referência dos estudos enunciativos à semântica da enunciação,
porém, isso se dará em um nível de análise linguística, que poderá ser uma opção de
determinado teórico ou autor. Não é o caso deste estudo, em que optamos por relacionar a
enunciação ao sentido que lhe é dado dentro do discurso, já que o sentido é o centro de
qualquer estudo relacionado à enunciação.
Muito embora alguns termos sejam encontrados em mais de uma definição, trata-se de teorias
distintas entre si e constituídas de acordo com a corrente de pensamento de cada teórico. 
4.1.2 Enunciação como atividade social
Como vimos há pouco, a enunciação é concebida de acordo com campos teóricos distintos, no
entanto, neste material você encontrará o necessário para estabelecer critérios sobre seu uso
como atividade social.
Fazemos uso da comunicação e de sua construção com base nas diferentes formas de
enunciar algo, isto é, como processo de desenvolver uma compreensão daquilo que se quer
dizer e que se deseja seja entendido pelo outro. Podemos dizer que a pretensão de ser
respondido, de que suas ideias sejam aceitas, que obtenham algum tipo de resposta, faz com
Teste seus conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Tabela 1 - Definição de enunciação para alguns teóricos
Fonte: Adaptada de FLORES et al. (2009, p. 101-107).
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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que o sujeito que enuncia utilize argumentos que possam ser compreendidos pelo outro
(HILGERT, 2012). Se a compreensão falhar, não haverá êxito na proposta de enunciar e, com
isso, a enunciação ou ficará comprometida ou, ainda, deixará de existir.
Em outra abordagem, a da semiótica, temos a sintaxe discursiva e a semântica discursiva. 
Na sintaxe discursiva, o estudo da enunciação se dá pela “pela reconstrução da organização
sintática narrativa da enunciação, a partir das estratégias de persuasão empregadas no
discurso e que assinalam as relações entre enunciador e enunciatário” (DE BARROS, 2012, p.
27). Já a semântica discursiva vai tratar da importância do enunciador dada pelas
construções temáticas e figurativas do discurso, incluindo as relações intertextuais e
interdiscursivas (DE BARROS, 2012).
Organizada de modo narrativo, a enunciação instaura duas instâncias no sujeito.
A semiótica está relacionada ao significado, isto é, à sua
construção. A base do termo é de raiz grega – semeion –
que significa signo. Assim é a ciência que comporta o
estudo dos signos e que trata de estudar o processo que
relaciona signo e significado de comunicação. 
Você sabia?
Instância de
pragmático 
Tem
como
objetivo
produzir
o texto,
colocar
nele
suas
crenças
, seus
desejos
1
Instância de
destinador 
Faz do
discurso
seu alvo
(DE
BARRO
S,
2012).
2
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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Com isso, dá-se um movimento entre enunciador e enunciatário, em que o enunciador tentará
persuadir o enunciatário em suas crenças e valores, por meio de argumentos possíveis para
que o enunciatário os aceite e passe a agir de acordo com eles. O enunciatário, por sua vez,
fará uso da interpretação para aceitar ou recusar as propostas por meio da aceitação e da
recusa.
Dentro do contexto da sintaxe discursiva, a persuasão, como vimos, é fundamental para que se
efetive a comunicação. Para persuadir, De Barros (2012) afirma que o destinador usará
diferentes artifícios para tentar manipular o destinatário. Tais artifícios podem ser agrupados de
acordo com o quadro “Agrupamento dos artifícios de persuasão do destinador na sintaxe
discursiva”.
#PraCegoVer: tabela com três colunas e cinco linhas. A primeira coluna traz os tipos de
persuasão, a segunda as características e a terceira exemplos. A linha superior apresenta os
títulos das colunas.
 
Como você pôde observar, a manipulação poderá ocorrer sob diferentes aspectos. Para
qualquer um dos casos, é necessário que o destinatário compreenda o sentido manipulador do
destinador, que espera o resultado positivo. Logo, a comunicação se dará se o destinador
conseguir persuadir o destinatário. Aqui é importante esclarecer o uso das estratégias de
persuasão, que ocorrerão conforme o sujeito, a época e a sociedade em que essa comunicação
ocorre (DE BARROS, 2012).
A comunicação, desse modo, é intrínseca à enunciação, pois o ato de enunciar está ligado,
inevitavelmente, à maneira como a compreensão é produzida.
e
importâ
ncias
como
ator
social.
Tabela 2 - Agrupamento dos artifícios de persuasão do destinador na sintaxe discursiva
Fonte: Adaptada de De Barros (2012).
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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4.2 Enunciado como realidade do
discurso
Como vimos no início desta unidade, o enunciado é o produto da enunciação, sendo esta uma
visão mais resumida. Mas o que está implícito no enunciado? Como ele ocorre? Quais são os
fatores que o determinam como tal?
Para que possamos compreender o que está por trás de algo que foi dito por um sujeito em
determinado espaço e tempo, é necessário compreender o enunciado resultante da
enunciação, sendo que os conhecimentos linguísticos não serão suficientes. Cada enunciado
será determinado de um modo, sob um aspecto e de acordo com o sujeito que atua nele.
4.2.1 Materialismo do enunciado
Como vimos no tópico anterior, a enunciação apresentará diferentes abordagens de acordo
com o teórico e sua forma de conduzir sua teoria. É de se esperar, então, que o enunciado
tenha o mesmotratamento. Vejamos, na tabela “Definição de enunciado para alguns teóricos”,
quais definições de enunciado teremos para cada teórico. 
#PraCegoVer: tabela com duas colunas e quatro linhas. A primeira coluna traz o nome de três
teóricos e a segunda suas definições para enunciado. A linha superior apresenta os títulos das
colunas.
 
O linguista Ducrot dá diferentes conceitos para enunciado à medida que avança em seus
estudos. De acordo a Teoria da Polifonia, Ducrot diz que o enunciado será a “manifestação
particular de uma frase” (FLORES et al., 2009, p. 107); conforme a fase inicial da Teoria da
Argumentação na Língua, o linguista define enunciado como sendo uma “unidade
argumentativa de sentido, composta de um segmento-argumento e um segmento-conclusão”
(FLORES et al., 2009, p. 108); com base na Teoria dos Topoi, o enunciado será a “unidade
argumentativa de sentido constituída por segmentos-argumentos, com um princípio
argumentativo intermediário, que possibilita a passagem para segmentos-conclusões”
(FLORES et al., 2009, p. 108); “unidade argumentativa de sentido formada pela
interdependência entre dois segmentos, constituindo o encadeamento argumentativo” (FLORES
et al., 2009, p. 108) é a definição de enunciado de Ducrot, baseada na Teoria dos Blocos
Semânticos.
Tabela 3 - Definição de enunciado para alguns teóricos
Fonte: Adaptada de FLORES et al. (2009, p. 108-110).
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz… 10/21
Um enunciado se materializa como tal a partir do momento em que houver uma relação de um
conjunto de signos com algo mais que faça referência a ele próprio. Foucault (1987) diz que
essa materialização é a relação entre significado e significante, entre frase e sentido, entre uma
proposição e seu referente. Uma frase como A cadeira ou um nome como Valentina são
produções que podem ocorrer em diversas situações. No entanto, como enunciados, serão
únicos. Ou seja, um nome se materializa em enunciado de acordo com o sentido proposto
dentro de uma relação enunciativa.
São esses diversos sentidos que fazem com que uma frase ou um nome possam ter um sentido
conferido, que uma proposição possa ou não ter valor de verdade. É disso que trata o
enunciado.
4.2.2 Enunciado e enunciador
O enunciado é percebido como aquilo que dá sentido ao discurso, que o fundamenta.
Analisemos a seguinte situação de enunciado:
O enfermeiro presta assistência aos doentes com o amor e a dedicação de uma profissão
nobre.
Não temos dúvidas de que se trata de uma formação linguística, elaborada com palavras
dispostas de acordo com a gramaticalidade da língua portuguesa. No entanto, seu valor de
enunciado em Foucault (1987) poderá ser percebido de diferentes formas.
A Teoria dos Topoi, desenvolvida por Ducrot, atesta que, para que
haja sentido em um enunciado, é necessária a existência de um
princípio argumentativo que faça a relação entre o segmento-
argumento e o segmento-conclusão. Por exemplo, no enunciado
composto pelo segmento-argumento “hoje está quente, mas estou
exausta”, só haverá compreensão a partir do conhecimento da
informação anterior, ou seja, do segmento-conclusão “vamos à praia”
(FLORES et al., 2009, p. 108). Nesse caso, há que se pensar no
princípio argumentativo de que o tempo quente é ideal para ir à
praia. 
Você sabia?
Pela referência que se faz entre o enfermeiro e o amor e dedicação.
Pelo sujeito que pode se reconhecer no discurso, e não somente o profissional, como,
ainda, o cuidador que assume o mesmo papel diante de um idoso ou de um deficiente físico
ao ministrar um medicamento ou realizar um curativo.
Pela associação a outros enunciados, sejam pertencentes ao mesmo discurso, aquele
voltado para a saúde, sejam de outros, como os referentes aos atos de cuidados que
contemplem diversas tarefas do bem: um missionário religioso, um médico, a maternidade
ou paternidade, entre outros.
 
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz9… 11/21
No próximo tópico, vamos discutir dialogismo e enunciação. Essa duplicidade temática tem sua
importância porque a enunciação prevê uma interação entre os sujeitos, isto é, o diálogo
existente entre eles. Assim, é importante que você identifique quais são os aspectos dialógicos
do enunciado, bem como de que forma se dá o argumento na enunciação. 
Pela materialização em outros discursos sobre o trabalho do enfermeiro igualado ao de
outras profissões.
4.3 Dialogismo e
enunciação
Neste tópico, você verá como o dialogismo se comporta na enunciação do discurso, levando
em conta que a enunciação é o produto de uma interação social, ou seja, sempre existe um
outro para ser convencido por meio de argumentos; este, por sua vez, trata de interpretar o que
está sendo dito, tanto conforme seus conhecimentos implícitos, como de acordo com as
informações exatas que lhes são dadas.
Para que você compreenda como o dialogismo atua na enunciação, veremos, neste primeiro
momento, os aspectos dialógicos do enunciado.
4.3.1 Aspectos dialógicos do enunciado
A argumentação é uma ocorrência do discurso e, como tal, refere tanto à enunciação quanto ao
dialogismo, sendo este considerado como a forma de elaboração de um enunciado. Em uma
das definições de enunciação, você viu que Greimas faz a relação do virtual com o realizado no
discurso, e é neste linguista que Fiorin (2012) vai buscar as operações referentes ao ato
enunciativo: a debreagem, a embreagem e a convocação.
A debreagem “é uma operação pela qual a instância da enunciação projeta fora dela as
categorias ligadas a sua estrutura de base (a pessoa, o tempo e o espaço) para constituir os
elementos sobre os quais se assenta o enunciado-discurso” (FIORIN, 2012, p. 52). Pode ser
dividida em debreagem enunciativa ou enunciva.
Na live promovida pela Editora Contexto, o linguista e
professor José Luiz Fiorin aborda a dimensão
argumentativa que todo discurso apresenta. Delicie-se
com a fala do professor. 
Acesse (https://www.youtube.com/watch?
v=xRrwxUUZXr0&ab_channel=EditoraContexto)
Você quer ver?
https://www.youtube.com/watch?v=xRrwxUUZXr0&ab_channel=EditoraContexto
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz… 12/21
Na debreagem enunciativa, há a ocorrência dos “actantes da enunciação” (FIORIN, 2012, p.
52), além de enunciar diretamente o leitor para quem o enunciador deseja comunicar. Observe
como se dá a debreagem enunciativa no quadro “Representação da debreagem enunciativa”.
#PraCegoVer: quadro com as palavras “DEBREAGEM ENUNCIATIVA” e o sinal de chave
aberto indicando o conjunto formado por essas palavras em termos de tempo gramatical,
espaço e tempo físico.
Para melhor compreensão, observe o exemplo trazido pelo autor (FIORIN, 2012, p. 341), o
início do poema “Passagem das Horas”, de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando
Pessoa:
No poema, podemos perceber as marcas da debreagem enunciativa, como o verbo no
presente e na primeira pessoa (trago, quero), o pronome indicativo da mesma pessoa (meu), a
anterioridade ao tempo presente (estive, cheguei, vi).
Já a debreagem enunciva atuará de outra forma. Acompanhe no quadro “Representação da
debreagem enunciva”.
Quadro 1 - Representação da debreagem enunciativa
Fonte: Adaptado de FIORIN (2012, p. 52).
Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janela ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que quero.
Quadro 2 - Representação da debreagem enunciva
Fonte: Adaptado de FIORIN (2012, p. 53).
4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=yF6Yo9M2zU2o5WlQ7LE4iQ%3d%3d&l=hFeWJeNASUfyIz8JoGnhpg%3d%3d&cd=EZRz…13/21
#PraCegoVer: quadro com as palavras “DEBREAGEM ENUNCIVA” e o sinal de chave aberto
indicando o conjunto formado por essas palavras em termos de tempo gramatical, espaço e
tempo físico.
Os estudos semióticos dão a mesma proporção no que se refere às pessoas, ao tempo e ao
espaço do discurso, as denominadas categorias dêiticas. Nessa área, efeitos de aproximação
e de distanciamento são projetados nos discursos, denominando a enunciação enunciada e o
enunciado enunciado. 
Na enunciação enunciada são produzidos, na maioria das vezes, “efeitos de sentido de
aproximação da enunciação e de relação dialógica entre sujeitos, pois se apresentam como
simulacros da enunciação, e podem ser considerados como de interação plena ou perfeita” (DE
BARROS, 2012, p. 32). No enunciado enunciado, por sua vez, o efeito é contrário, ou seja, há o
distanciamento da enunciação. Um efeito, como explica a autora (DE BARROS, 2012, p. 32),
“de monologismo ou autoritarismo das verdades únicas e objetivas, em que os fatos se contam
por si mesmos”.
Se a debreagem acaba compondo uma argumentação por meio da produção de efeitos de
objetividade e de subjetividade, a embreagem terá efeito contrário, pois há a anulação das
diferenças que constroem as noções de tempo, pessoa e espaço. É o caso, por exemplo, das
pessoas que ocupam cargos públicos ou famosos que se constituem por duas identidades: a
profissional, isto é, a pessoa pública, e o particular, a identidade privada. Elas podem se referir
à pessoa pública como alguém externo a si mesmo, travando um diálogo entre os dois. 
O efeito de objetividade será construído na terceira pessoa e o de subjetividade, na primeira
pessoa. O denominado Rei do Futebol, conhecido mundialmente como Pelé, pessoa pública, é
Edson Arantes do Nascimento. Em uma entrevista, ele se dirige a si mesmo do seguinte modo:
“É difícil carregar a fama do Pelé. As tentações são muitas. O Edson é humano e adoraria levar
uma vida mais divertida, mas sabe que é o equilíbrio e a base do Pelé” (FIORIN, 2012, p. 54).
Outra situação de uso do efeito da embreagem pode ser observada nas brincadeiras de ficção
de crianças: Agora eu era o príncipe e você, a rainha. Para o termo agora, presente, usa-se o
pretérito imperfeito, eu era, dando um efeito contrário à realidade.
Por fim, a convocação diz respeito ao “chamamento em discurso, é o processo de
discursivização de qualquer grandeza semionarrativa disponível. A enunciação convoca as
possibilidades ausentes e torna-as presentes” (FIORIN, 2012, p. 56). Desse modo, encontra-se
presente o sentido figurativo no texto, atribuindo-lhe uma dimensão argumentativa.
Vejamos o exemplo dado por Fiorin (2012, p. 56), de um trecho do poema “Alguns Toureiros”,
de João Cabral de Melo Neto:
Teste seus conhecimentos
(Atividade não pontuada)
Mas eu vi Manuel Rodriguez,
Manolete, o mais deserto,
o toureiro mais agudo,
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No poema, notamos o caráter figurativo quando aborda, por exemplo, os “nervos de madeira” e
“o que melhor calculava”. O toureiro foi descrito pelo poeta como alguém forte (nervos de
madeira) e como aquele que media suas ações com precisão (calculava), pois estava sempre à
mercê da morte.
A três ações enunciativas apresentadas – quer sejam, a debreagem, a embreagem e a
convocação – apresentam uma concepção argumentativa e dialógica, já que a argumentação
compete ao discurso.
4.3.2 O argumento na enunciação
Para abordar a argumentação na enunciação, é necessário compreender como se organiza a
argumentação. Trazemos a concepção do modo como Fiorin (2012) retrata, ou seja, o linguista
traça uma linha de pensamento que parte do que é o raciocínio em Aristóteles. Na visão
aristotélica, existem dois tipos de raciocínio: os necessários e os preferíveis. Os necessários
são do domínio da lógica; partem de uma premissa verdadeira para chegar a uma conclusão
válida. É o silogismo demonstrativo, como mostra o quadro “Exemplo de raciocínio necessário”.
#PraCegoVer: quadro trazendo um exemplo da lógica aristotélica que conclui que o mercúrio,
por ser um metal, é um bom condutor de eletricidade.
Para chegar à conclusão do raciocínio sobre metais condutores de eletricidade, é necessário
que haja valor de verdade, que não dependerá de crenças ou valores, mas de comprovação
científica, o que não pode ser negado. 
Os raciocínios preferíveis são do domínio da retórica, cuja premissa não é logicamente
verdadeira e, portanto, a conclusão será provável, plausível, como mostra o quadro “Exemplo
de raciocínio preferível”.
mais mineral e desperto,
o de nervos de madeira,
de punhos secos de fibra,
o de figura de lenha,
lenha seca da caatinga,
o que melhor calculava
o fluido aceiro da vida,
o que com mais precisão
roçava a morte em sua fímbria.
Quadro 3 - Exemplo de raciocínio necessário
Fonte: Adaptado de FIORIN (2012, p. 51).
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#PraCegoVer: quadro com um exemplo de raciocínio plausível que mostra que X, por ser um
banco antigo, é sólido, já que os bancos antigos são sólidos.
Não há, no raciocínio dado, informações que possam ser determinadas como cientificamente
comprovadas. Você poderá conferir essa premissa fazendo uma pequena pesquisa na internet
sobre o tempo de vida de um banco e se ele ainda existe como instituição financeira. Imagine
que esse raciocínio tenha sido veiculado em uma campanha publicitária na década de 1950, em
que os bancos eram considerados instituições sólidas, praticamente inextinguíveis. Certamente
o valor de verdade seria outro. Agora, pense que esse banco X, assim como muitos outros, já
não mais existe, abriu falência em determinada época, depois de muito tempo de
funcionamento. 
O que estamos querendo dizer é que, para que determinadas premissas sejam aceitas, é
necessário contar com determinadas convicções e padrões estabelecidos em torno do
funcionamento dos “negócios humanos” (FIORIN, 2012, p. 52). Não são critérios estabelecidos
cientificamente, como o caso de o metal ser condutor de eletricidade, mas por aqueles
estabelecidos pelas experiências vividas pelo indivíduo ou pelos critérios sociais de
determinada sociedade, além de outros que determinarão se a conclusão será verdadeira ou
falsa.
Nesses casos, um dos critérios estabelecidos é o da persuasão para comprovar a verdade que
o outro deseja. Fiorin (2012, p. 52) vai buscar no filósofo romano Cícero a visão sobre
persuasão, a qual “faz-se pelo convencimento, pela comoção e pelo encantamento”. 
A unidade sobre a qual se debruça o discurso é a retórica, e esta, por sua vez, tem por objeto
uma discursividade diferente daquela realizada pela lógica. O enunciador leva em conta, ao
produzir o enunciado, o questionamento do outro para que este possa ser persuadido.
Fiorin (2012) afirma que foi a retórica a disciplina responsável por estabelecer os estudos
iniciais do discurso no Ocidente.
Quadro 4 - Exemplo de raciocínio preferível
Fonte: Adaptado de FIORIN (2012, p. 51).
Retórica.
Do grego.
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Foi a partir do pensamento sofista que as concepções discursivas foram se desenvolvendo,
sendo que a mais importante delas, destacada por Fiorin (2012, p. 52), é a da antifonia, isto é,
“a prática sistemática da oposição entre discursos: a cada discurso corresponde um outro
discurso, produzido por um outro ponto de vista”.
O pensamento sofista está relacionado aos personagens socráticos que ministravam a
sabedoria e a habilidade. Foram eles que desenvolveram a retórica, a eloquência e a
gramática.
Rhetoriké.
A arte da retórica; arte da oratória, de convencer pelo
discurso (FERREIRA, 2009, p. 1.751).
4.4 AD e
ensinoÉ na escola que se aprende a aprender, no entanto, os discursos produzidos pelo professorado
ainda são os mesmos. As práticas de ensino, em sua maioria, ainda dão conta da
memorização, e não da interpretação das normas gramaticais, das inúmeras passagens de
textos que são utilizados como pretexto para as atividades de interpretação e de estudo da
ortografia e da gramática da língua.
E o que dizer do texto? Este, em grande parte, ainda não é conduzido de modo a promover a
interação entre o leitor (no caso, o estudante), o autor e o próprio texto, ou seja, seu conteúdo.
Levar o estudante a pensar ainda é tarefa difícil e, por vezes, inimaginável para a maioria dos
professores. A mudança desse quadro deve levar em conta a AD e o discurso que é produzido
na educação. 
4.4.1 Prática da AD em sala de aula
A importância da Análise do Discurso (AD) para a educação está na fundamentação dada aos
textos e sentenças que passam a ser estudadas a partir do que representam seus enunciados.
Pensa-se no que o texto quer dizer além do que está nele, procurando aquilo que não está
presente explicitamente. 
Não se trata de contexto. O contexto é extralinguístico. Por exemplo, em uma carta de
apresentação, as informações presentes, isto é, explícitas no texto são a data e o local onde foi
escrita, a quem se destina, saudação, a história de quem se apresenta, despedida e assinatura.
Já os elementos implícitos dizem respeito às informações externas ao texto. Uma carta de
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apresentação como processo seletivo a uma vaga em uma instituição de ensino superior
poderá não apresentar os dados profissionais do candidato, embora ele possa informar que
trabalha na área da tecnologia digital. Poderia, assim, ser qualquer função ligada à área.
A concepção de contexto leva em conta tudo aquilo que está subjacente ao texto, implícito.
Koch e Elias (2017, p. 59) traçam uma interessante metáfora para representar o contexto:
Essa situação é a mais dada em sala de aula, nos inúmeros trabalhos de leitura e interpretação
de texto que ainda são exaustivamente realizados. Não estamos dizendo que tais atividades
não são benéficas para o estudante, porém, serão mais efetivas se, além da leitura e da
interpretação do texto e do contexto, forem trabalhados os enunciados dentro da perspectiva da
AD.
O fato é que é na AD que alguns aspectos da linguagem acabam se revelando; tais aspectos,
de outro modo, passariam despercebidos. É o caso da leitura do texto em sala de aula (e fora
dela, também), abordagem proposta pela professora e linguista Eni Puccinelli Orlandi (1987),
em que o texto é visto como o lugar em que autor e leitor atuarão interativamente. No texto é
que se encontra seu sentido, dado no espaço discursivo existente entre autor e leitor, quer
sejam, os interlocutores desse discurso.
Sob o ponto de vista linguístico, um texto terá um início, um meio e uma finalização. É como,
por exemplo, um texto dissertativo, ou um artigo de opinião, que deverá apresentar introdução,
desenvolvimento e conclusão. Sendo assim, não poderá sofrer alterações quando chegar ao
leitor, que o tomará como um produto acabado, pronto, finalizado, contendo (ou não) todas as
informações desejadas pelo leitor.
Sob o ponto de vista discursivo, esse mesmo texto não estará nunca finalizado; estará sempre
incompleto, pronto para entrar em contato com outros textos, com outras situações diversas.
Um dos questionamentos que a linguista propõe é se haverá uma relação entre um texto bem
formado gramaticalmente e bem escrito discursivamente (ORLANDI, 1987). Por exemplo, um
texto com pontuação mal-empregada exigirá mais do leitor, promovendo a dúvida, a descrença
e a insegurança sobre aquilo que o autor quis expressar. Seria isso comprometedor para o
discurso? É nesse ponto que se encaixa a legibilidade de um texto, que “não é uma questão de
tudo ou nada, mas uma questão de graus [...] envolve outros elementos além da boa formação
de sentenças, da coesão textual, da coerência” (ORLANDI, 1987, p. 183). A legibilidade tem a
ver com a condição de leitura, com a relação do leitor com o texto e sua capacidade de interagir
com esse texto a partir de uma leitura otimizada.
É assim que o leitor poderá entrar em contato com o texto e com o discurso que o cerca, que o
constitui, que o domina. É por meio da interação com o texto e com o autor que o leitor se
constituirá, criando e recriando sua identidade e representação.
4.4.2 Produção discursiva na educação
Quando adotamos, para entender o texto, a metáfora do iceberg, que tem uma pequena superfície à
flor da água (o explícito) e uma imensa superfície adjacente, que fundamenta a interpretação (o
implícito), podemos chamar de contexto o iceberg como um todo, ou seja, tudo aquilo que, de
alguma forma, contribui para ou determina a construção do sentido. 
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O discurso presente na educação é um dos objetos de estudo de alguns pesquisadores da AD,
embora ainda sejam poucas as investigações nessa área. Daquelas existentes, tomaremos
alguns dados que podem auxiliar na compreensão do que seja o discurso na educação.
Quando pensamos em escola, temos a noção de que o professor quer ensinar e o estudante
quer aprender. Será? O que observamos nas escolas, nas salas de aula, sobretudo, é um
desinteresse cada vez maior do estudante pelo avanço do aprendizado de sua língua. Dizemos
avanço porque estamos nos referindo à língua materna, à língua que acompanha o estudante
desde seu nascimento, primeiramente ouvindo e, mais adiante, produzindo, falando.
Por parte dos professores, inúmeros são os questionamentos que lhes rodeiam em virtude da
evolução que a educação vem sofrendo, sobretudo no final do século passado para cá.
Avanços sociais e tecnológicos e pensamentos filosóficos sobre o ser social levam o professor
a questionar sua prática pedagógica: como ensinar e qual língua ensinar? Gramática pode? E
interpretação de texto, ainda tem valor? Quais leituras o estudante deve fazer?
Muito se tem discutido sobre essas questões, incluindo os métodos de formação inicial e
continuada do professorado. Projetos, programas de governo voltados para a educação,
materiais de apoio, políticas educacionais são alguns exemplos de tentativas dos órgãos
públicos e da iniciativa privada para melhorar a qualidade de ensino e conter o desinteresse do
estudante.
Na contramão, a prática do professor continua permeada por dúvidas, pautada em um ensino
que privilegia a memorização das regras de acentuação e das dez classes gramaticais, das
análises sintáticas, diferenciando objeto direto de objeto indireto, do uso dos seis pronomes em
conjugação de verbos (incluindo o vós) etc. (FLORES et al., 2008). Tal condição está muitas
vezes atrelada ao despreparo do professor que não teve uma escolarização sequer próxima do
modelo atual, que não teve contato com livros, com a leitura em sua formação individual e
acadêmica, que tem a vontade de ensinar, mas não lhe disseram como fazer isso de modo que
o estudante se interesse por suas aulas. São situações que beiram o constrangimento, que
causam desconforto a esse profissional. É assim que Flores et al. (2008, p. 181) definem esse
quadro: “É desconcertante que se tenha tanto desconforto em ensinar uma língua”.
Na escola, o estudante interage a todo momento com a leitura,
em uma relação entre sujeito, texto e autor, sempre com o
professor como mediador dessa interação. Nesse caso, é
importante pensar na situação de escolha das leituras que o
professor vai propor, que deverão estar, sempre, em acordo com
os objetivos educacionais desse professor, aos saberes do
estudante, sobretudo aqueles que ele traz para a escola, e com
os objetivos do estudante. Assim, é importante alguns
questionamentos: por queo estudante vai ler o texto? O que a
leitura agregará ao estudante? Quais conhecimentos suscitarão
da leitura? Para o professor, é necessário perceber que a leitura
proposta ao estudante poderá (deverá) provocar uma
Caso
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transformação em seu saber, seja ela qual for, por meio do
espaço que poderá ser dado ao educando para que ele mesmo
possa desenvolver sua relação com a leitura. 
Orlandi (1987) propõe a metalinguagem como uma das formas de contornar esse cenário, já
que é por meio dela que poderá existir a cientificidade do saber. O saber é construído, deixando
de existir a reprodução, a replicação de conteúdo. Assim, o professor determina o aprendizado
do estudante pela construção de seu saber por meio do conhecimento que proporciona. 
Desse modo, o discurso pedagógico poderá se transformar e dar lugar à criticidade, à abertura
de espaços aos estudantes pensantes e capazes de elaborar seus próprios discursos sobre a
escola, sobre a sociedade, sobre o mundo em que vivem e no qual atuam.
Para esta atividade, leia o seguinte texto:
“A escola atua através [...] dos regulamentos, do sentimento de
dever que preside ao Discurso Pedagógico e este veicula. Se
define como ordem legítima porque se orienta por máximas e
essas máximas aparecem como válidas para a ação, isto é, como
modelos de conduta, logo, como obrigatórias. Aparece, pois, como
algo que deve ser. Na medida em que a convenção, pela qual a
escola atua, aparece como modelo, como obrigatória, tem o
prestígio da legitimidade” (ORLANDI, 1987, p. 23).
Com base nos estudos desta unidade e do texto que você acabou
de ler, elabore um artigo de opinião sobre a legitimidade citada
pela autora, a partir da seguinte questão: o que seria essa
legitimidade e como poderia ser combatida nas escolas?
Vamos Praticar!
Enunciação e enunciado constituíram os temas desta
unidade, em que você teve oportunidade de constatar o
quanto essas duas situações discursivas apresentam
definições diversas, de acordo com os teóricos que as
estudam.
Esperamos que os temas estudados nesta unidade possam
auxiliar sua conduta como acadêmico, como pesquisador e
como futuro profissional, de modo a conceber a AD como
Conclusão
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essencial e, até mesmo, necessária na prática da sala de
aula.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender o que é enunciação e o que é enunciado;
identificar a enunciação como prática social;
verificar como se dá a materialização do enunciado;
identificar os aspectos dialógicos do enunciado;
compreender a produção discursiva na educação.
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4/4/22, 12:11 PM Análise do discurso
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LIVE com José Luiz Fiorin - Argumentação - Café Contexto. Brasil, 8 maio 2020. 1
vídeo (81 min). Publicado pelo canal Editora Contexto. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=xRrwxUUZXr0&ab_channel=EditoraContexto
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https://www.youtube.com/watch?v=xRrwxUUZXr0&ab_channel=EditoraContexto
http://syled.univ-paris3.fr/individus/jacqueline-authier/index.html

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