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FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN 25. FARMACOLOGIA DA DOENÇA DE PARKINSON E DE ALZHEIMER São doenças neurodegenerativas caracterizadas pela perda progressiva e irreversível de neurônios, o tratamento tem objetivo de amenizar os sintomas. A doença de Parkinson atinge 1% da população com mais de 65 anos e o Alzheimer, 10% da população dessa faixa etária. FARMACOLOGIA NA DOENÇA DE PARKINSON: A doença de Parkinson ocorre quando há diminuição da dopamina (DA) na via nigroestriatal, onde, fisiologicamente, o aumento da DA promove uma diminuição na liberação de Ach. A dopamina nesta via é responsável pela coordenação dos movimentos e pelo equilíbrio postural. A dopamina é sintetizada Sintomas: “tétrade clássica do Parkinson” - Distúrbios motores: Tremores em respouso. - Outros sintomas característicos: rigidez muscular, bradicinesias (lentidão anormal dos movimentos) e distúrbios posturais. A dopamina é um precursor da noradrenalina, portanto, também sintetizada a partir do aminoácido tirosina. Após ser liberada na fenda sináptica, estimula receptores D (dopaminérgicos), os mais abundantes da via nigroestriatal são do D1 e D2. Seu mecanismo de finalização é através da COMT na fenda sináptica ou da MAO intracelularmente, após a receptação deste neurotransmissor pelo transportador de dopamina (DAT). A degradação da DA pela MAO produz radicais livres. A perda de neurônios dopaminérgicos é normal com o avanço da idade, porém quando esta perda totaliza 50% destes neurônios, temos a doença de Parkinson; depleção de 80-90% da dopamina nestas vias também caracterizam estados de parkinsonismo. A etiologia desta perda maciça geralmente é idiopática, há também um envolvimento de fatores genéticos e do estresse oxidativo. Fisiopatologia: acentuada redução da concentração de dopamina em varias áreas dos gânglios da base, resultante da degeneração dos neurônios. A metabolização da dopamina leva a produção de radicais livres tóxicos que aumentam esta degeneração. Consequentemente a diminuição da concentração de dopamina, ocorre o aumento da liberação de acetilcolina e ambos serão responsáveis pelos sintomas: - Bradicinesia e instabilidade postural (pela diminuição de DA); - Tremor em repouso e rigidez muscular (pelo aumento de Ach). Receptores dopaminérgicos: D1 a D5, no entando os D1 e D2 são os que estão envolvidos na região extrapiramidal. Quadro Clínico: o tremor típico ocorre durante o repouso, principalmente em membros superiores (mãos e antebraços), membros inferiores e mandíbula, é facilmente diferençável de outras formas de tremor “contar dinheiro” ou “enrolar pílulas”; escrita micrográfica; manifestações autonômicas: hipersalivação (com diminuição da deglutição automática da saliva), seborréia facial frequente (pele lustrosa); depressão psíquica e demência em idosos com longos anos de enfermidade. Diagnóstico: - POSSÍVEL: se uma das características estiver presentes → tremor, rigidez ou bradicinesia; - PROVÁVEL: se duas das características estiverem presentes → tremor, rigidez, bradicinesia ou instabilidade postural; FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN - DEFINITIVO: Se três das características citadas estiverem presentes. A análise da substância nigra (localizada no mesencéfalo) pós mortem mostra intensa degeneração. Objetivo do tratamento: reverter o tremor, rigidez e bradicinesia, responsáveis por imobilidade, fraturas e infecções a que estão sujeitos os pacientes. Não estabiliza a progressão da doença, mas reduz as suas manifestações para que os pacientes tenham maior qualidade de vida. A base do tratamento é o aumento da concentração dopaminérgica nas vias envolvidas, o que reduz a concentração colinérgica. Tratamento: - Levodopa (droga mais antiga e mais utilizada no tratamento); - Agonistas dos receptores dopaminérgicos; - Inibidores da Catecol-O-Metiltransferase (COMT); - Inibidores seletivos da MAO-B; - Antagonistas dos receptores muscarínicos. 1) LEVODOPA A Levodopa é um precursor para síntese de dopamina rapidamente absorvido por via oral. Atravessa a barreira hematoencefálica por transportadores de aminoácidos e é convertida em dopamina pela enzima L-Dopamina- Descarboxilase (LDD). Apresenta resposta terapêutica inicial ótima, aliviando também as alterações de humor e a apatia. É importante saber que ao ser administrada isoladamente, 99% da levodopa é convertida perifericamente, no intestino, pois a mucosa intestinal é rica em LDD, chegando apenas 1% no sistema nervoso central. Esta pequena quantidade de dopamina gerada da conversão da droga que chegou ao SNC não é suficiente, por isso a administração é feita em associação com inibidores da LDD periférica: CARBIDOPA ou BENSERAZIDA, assim, 70% da droga chega ao SNC, sendo apenas 30% convertida na periferia. O tratamento prolongado pode levar a discinesia tardia (movimentos involuntários anormais), fenômeno liga- desliga ou on-off: “O tratamento com levodopa pode produzir efeitos dramáticos em todos os sinais e sintomas da DP. Nos estágios iniciais da doença, a intensidade da melhora do tremor, da rigidez e da bradicinesia pode ser praticamente total. Na DP em estágio inicial, a duração dos efeitos benéficos da levodopa pode ser maior que o tempo da permanência do fármaco no plasma, sugerindo que o sistema dopaminérgico nigroestriatal conserve alguma capacidade de armazenar e liberar dopamina. A limitação principal do uso prolongado da levodopa é que, com o tempo, essa capacidade ‘amortecedora’ aparente se perde e o estado motor do paciente pode flutuar de modo drástico a cada dose de levodopa, condição conhecida como complicações motoras da levodopa. Um problema comum é a ocorrência do fenômeno de ‘esgotamento’, cada dose de levodopa melhora efetivamente a mobilidade por algum tempo (talvez 1-2h), mas a rigidez e a acinesia reaparecem rapidamente ao final do intervalo entre as doses. O aumento da dose e da frequência da administração pode atenuar essa situação, mas isso geralmente é limitado pela ocorrência de discinesias, ou movimentos involuntários anormais e excessivos. As discinesias são observadas mais comumente quando a concentração plasmática da levodopa está alta, embora em alguns casos as discinesias ou a distonia possam ser desencadeadas com níveis crescentes ou decrescentes. Esses movimentos podem ser tão desconfortáveis e incapacitantes quanto a rigidez e a acinesia da DP. Nos estágios mais avançados da doença, os pacientes oscilam rapidamente entre o estado ‘desligado’ (sem qualquer efeito benéfico dos fármacos) e ‘ligado’ (com efeitos benéficos, mas com discinesias incapacitantes), condição conhecida como fenômeno liga/desliga.” (As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman, 12ª edição, pág. 516) Administração: - Liberação rápida: pequenas doses divididas, 1 hora longe das refeições. - Liberação lenta: manutenção da concentração de dopamina no SNC. Efeitos colaterais da Levodopa: - Cardiovasculares: hipotensão, taquicardia(arritmia); - Náuseas e vômitos; - Distúrbios psiquiátricos (↑ da DA nas vias mesolínbicas e mesocorticais); - Perda de apetite. FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN INIBIDORES DA LDD (L-dopamina-descarboxilase) - CARBIDOPA - BENSERAZIDA Ação: Inibindo a enzima LDD, haverá um acumulo de levodopa, pois esta não será transformada em dopamina nos tecidos periféricos. Vantagens: - Doses de Levodopa podem ser reduzidas em até 75%; - Náuseas e vômitos são reduzidos; - Efeitos cardíacos reduzidos; - A eficácia é maior do que a Levodopa isolada. *Os efeitos gastrointestinais e cardíacos são reduzidos pois há menor conversão periférica, portanto, menos dopamina, que causaria estes efeitos! 2) AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS - BROMOCRIPTINA (Parlodel®)– Agonista D1 e D2 - PERGOLIDA (Celance®) – Agonista D1 e D2 - ROPIRINOL – Agonista seletivo D2 - PRAMIPEXOL – Agonista seletivo D2 Mecanismo de ação: ligam-se ao receptores dopaminérgicos, estimulando-os. São eficazes em pacientes que desenvolvem o fenômeno liga/desliga, porém, os distúrbios psiquiátricos nos usuários são mais intensos. Efeitos Colaterais: - BROMOCRIPTINA / PERGOLIDA: Ação em D₂: náuseas e vômitos, hipotensão postural (cautela com anti hipertensivo), alucinações. - ROPIRINOL / PRAMIPEXOL: os agonistas dopaminérgicos não ergolínicos são bem tolerados, com menores efeitos colaterais; podem causar sonolência irresistível. Estão sendo usados com frequência crescente no tratamento inicial da DP, em vez de coadjuvantes da levodopa, devido: → Os agonistas dopaminérgicos administrados por via oral têm uma meia vida que varia de 6 a 96 horas dependendo da droga e, por terem uma meia vida mais longa que a levodopa, produzem uma estimulação mais fisiológica dos receptores dopaminérgicos do que esta; → Menor tendência de induzir o fenômeno liga/desliga; → Diferente da Levodopa, os agonistas dopaminérgicos não contribuem para o estresse oxidativo e degeneração dos neurônios nigroestriatais, pois não são metabolizados pela MAO. COMPARAÇÂO DE TRATAMENTOS LEVODOPA AGONISTA DOPAMINÉRGICO VANTAGENS Reduz mais os sintomas clínicos da doença; Maior meia vida plasmática (efeito estável da DA); Provoca menos distúrbios psiquiátricos; Não é metabolizado para MAO, não contribuindo para o estresse oxidativo. INDICAÇÕES Para idosos (mais susceptíveis aos efeitos cognitivos). Para jovens. 3) INIBIDORES DA COMT - ENTACAPONA FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN A COMT periférica também metaboliza parte da Levodopa (aproximadamente 10% dos 30% que ficam na periferia), formando o 3-O-Metil-Dopa, eliminado pelos rins. Ação: o inibidor da COMT diminui a metabolização periférica da levodopa, aumentando a concentração na periferia e a quantidade que chega no SNC (que passa de 70% para 75% da quantidade ingerida). *Só é utilizada em associação com a Levodopa! - Reduz os sintomas clínicos da “exaustão”; - Duração de ação curta; - Aumenta a meia vida plasmática da Levodopa + Carbidopa. 4) INIBIDORES SELETIVOS DA MAO-B - SELEGILINA (L-deprenil®) - RASAGILINA (Azilect®) Mecanismo de ação: É um inibidor da MAO-B de ação central, uma das enzimas que degradam a DA. A eficácia pode estar relacionada a sua capacidade de retardar a decomposição da dopamina no estriado que também diminui a produção de radicais livres; produz de metabólitos ativos: anfetamina, metanfetamina, que levam a insônia e ansiedade, seus efeitos colaterais. A rasagilina não possui metabólitos ativos. São utilizados em associação com a Levodopa. 5) ANTICOLINÉRGICOS - TRIEXIFENIDIL (Artane®) - BIPERIDENO (Akineton®) Usados em terapias de apoio, pois diminuem a atividade colinérgica aumentada (tremor em repouso e rigidez muscular). Triexifenidil e Biperideno: semelhantes aos alcalóides da beladona. Efeitos Colaterais: boca seca, constipação, visão turva, retenção urinária, sonolência. 6) OUTROS TRATAMENTOS � AMANTADINA: propriedades responsáveis por suas ações na DP ainda são desconhecidas, é um coadjuvante em pacientes tratados com Levodopa. É uma droga antiviral. Inicia-se o tratamento com Levodopa (sempre associada com Carbidopa ou Benserazida) ou Agonistas de Receptores Dopaminérgicos, ambas em monoterapia. Quanto aos tratamentos com Levodopa, ao iniciar o fenômeno liga/desliga, prefere-se associar outras drogas ao invés de aumentar a dose, pode-se utilizar inibidores da COMT, inibidores da MAO-B, anticolinérgicos e até mesmo os agonistas dopaminérgicos, porém, essa última associação é a última escolha, quando as outras já não forem eficientes. FARMACOLOGIA NA DOENÇA DE ALZHEIMER: FARMACOLOGIA FERNANDO SALA MARIN A prevalência dessa doença aumenta com a idade, caracterizada por um prejuízo da memória recente com preservação da memória distante inicialmente, há um comprometimento na utilização de objetos e instrumentos comuns. Estudos dos cérebros de pessoas com Doença de Alzheimer indicam uma diminuição geral do tecido cerebral. A morte geralmente ocorre devido à complicações pela imobilidade (exemplo: pneumonia e embolia pulmonar). Fisiopatologia - ainda não totalmente esclarecida, a hipótese mais provável é a diminuição de Ach nas vias basais do prosencéfalo e vias mesopontinas, onde este neurotransmissor está relacionado ao processo de aprendizagem e memória. Há hipóteses de outros NTs envolvidos, como o excesso de GLUTAMATO também contribuindo com a evolução da doença. Tratamento: 1) INIBIDORES ENZIMA ACETILCOLINESTERASE (AchE) - DONEPEZILA - RIVASTIGMINA - GALANTAMINA - TACRINA (em desuso por ser hepatotóxico) Mecanismo de ação: os inibidores da AchE vão impedir a degradação do neurotransmissor Ach, aumentando a sua disponibilidade na fenda e possibilitando sua atuação no botão pós sináptico, aumentando a neurotransmissão colinérgica. É a base da terapia. → Donezepila – meia vida longa, 1x/dia; → Rivastigmina/Galantamina – 2x/dia Efeitos adversos: - Náuseas e vômitos; - Diarreia; - Insônia. 2) MEMANTINA É um antagonista dos receptores NMDA-glutamato, serve como tratamento de apoio (a base é a inibição da acetilcolinesterase), diminuindo a ação do NT Glutamato. Seus efeitos colaterais são: cefaleia e tontura.
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