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Gestão da sustentabilidade do negócio Marcos Gross Scharf Sumário 1. INTRODUÇÃO E ANÁLISE DAS CINCO FORÇAS DE MICHAEL PORTER ............. 3 1.1 Conceitos básicos ......................................................................................... 3 1.2 Entrantes potenciais (1) ................................................................................ 4 1.3 Rivalidade entre as empresas existentes (2) ................................................ 5 1.4 Os substitutos (3) .......................................................................................... 6 1.5 Compradores (4) ........................................................................................... 7 1.6 Fornecedores (5) .......................................................................................... 8 2. SUSTENTABILIDADE, STAKEHOLDERS, OPINIÃO PÚBLICA, LEGISLAÇÃO E TENDÊNCIAS ............................................................................................................................ 9 2.1 Conceitos básicos ......................................................................................... 9 2.2 Stakeholders (partes interessadas) ............................................................ 10 2.3 Opinião Pública, questões públicas e tendências ....................................... 13 2.4 Leis ambientais ........................................................................................... 16 3. RESPONSABILIDADE SOCIAL ...................................................................................... 18 3.1 Conceitos básicos ....................................................................................... 18 3.2 Histórico ...................................................................................................... 21 3.3 Normas de responsabilidade social ............................................................ 23 3.4 Estudos de caso: ........................................................................................ 24 4. REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 26 4.1 Referências das ilustrações ........................................................................ 27 1. INTRODUÇÃO E ANÁLISE DAS CINCO FORÇAS DE MICHAEL PORTER 1.1 Conceitos básicos Michael Porter (1997), professor norte-americano de Administração e Economia, da Harvard Business School, formulou uma análise estrutural que relaciona as indústrias ao meio ambiente onde elas competem. Os resultados financeiros (rentabilidade) e o retorno do capital investido (prazo) dependem da articulação e combinação de cinco forças, que são denominadas “forças competitivas”. Para cada unidade industrial, o gestor deve identificar a dinâmica dessas forças em profundidade a fim de elaborar uma estratégia que posicione suas forças e neutralize os pontos fracos da companhia diante das ameaças e oportunidades que se apresentam. Michael Porter (Beta Finance, 2010). As cinco forças propostas1 pelo autor demonstram que a concorrência na indústria não está somente limitada aos jogadores definidos (aqueles que disputam os lucros e fatias do mercado), mas também participantes que podem determinar a intensidade da concorrência e as margens de rentabilidade do negócio. A representação gráfica abaixo indica o modelo proposto por Porter e colabora para ampliar a percepção do executivo no desenvolvimento de ações estratégias: 1 O modelo foi proposto na obra de Michael Porter, “Competitive Strategy”, lançado nos Estados Unidos em 1980. 1.2 Entrantes potenciais (1) Toda vez que novos concorrentes ingressam em determinado mercado os preços tendem a cair ou ter seus valores inflacionados. Alguns fatores, no entanto, podem “barrar a entrada” de novos entrantes, como encontrar empresas – já estabelecidas – que desenvolvem economia em escala, reduzindo os custos unitários do produto e alargando as margens de lucro. A compra de suprimentos ou insumos em grandes quantidades possibilita negociações vantajosas com redes de fornecedores, reduzindo os custos finais em toda a cadeia produtiva. Empresas que possuem diferentes unidades de negócio, mas compartilham os mesmos componentes industriais reduzem custos conjuntos e podem conquistam ganhos exponenciais. Caso a empresa entrante não consiga integrar sua linha de produção e realizar compras que atendam simultaneamente diversas unidades/células industriais, terá grandes dificuldades de competir com empresas já estabelecidas nesse cenário. Porter (1997, p. 29) assinala como as “desvantagens de custo independentes de escala” repelem o ingresso de novas organizações no mercado e aponta diversos fatores críticos desfavoráveis aos entrantes: – Tecnologias patenteadas (proteção contra a reprodução e cópia); – Acesso às matérias-primas e localização favorável; – Subsídios oficiais: governo oferece recursos às empresas que facilitam a competitividade no mercado global; – Curva de aprendizagem e experiência: os custos unitários declinam à medida que a empresa acumula experiência; – Empresas com grandes recursos em caixa; Entrantes Potenciais (1) Substitutos (3) Rivalidade entre as empresas existentes (2) Fornecedores (5) Compradores (4) – Crescimento lento da indústria, que dificulta a absorção de novos players2. A necessidade de investir grandes recursos financeiros (capital inicial) em pesquisa-desenvolvimento de produtos mais a busca por diferenciação do produto/marca/produto junto aos consumidores, com ações específicas de propaganda e marketing também são instrumentos que dificultam a entrada de novos concorrentes, pois o esforço publicitário para posicionar, conquistar, fidelizar e se relacionar com sucesso com os clientes em potencial requer grandes investimentos para os ingressantes no mercado entrarem em condição normal no jogo empresarial. Empresas também devem calcular os “custos para mudança”, que podem incluir treinamento para lidar com o entrante, tempo para normalizar procedimentos e relacionamentos, desconforto psíquico com situações inéditas etc. Também devem ser observadas dificuldades na distribuição dos produtos. Analisar as dificuldades de introduzir, persuadir, negociar e se relacionar com compradores para a cessão de espaços nos canais comerciais já ocupados pelas empresas. 1.3 Rivalidade entre as empresas existentes (2) As organizações disputam posições no mercado e desenvolvem táticas de diferenciação dos produtos e suas especificidades, preços (valor percebido), distribuição (canais de acesso) e ações promocionais (publicidade e propaganda). Há uma tensão entre as empresas, que são mutuamente dependentes entre padrões constantes de ação e reação que pautam e ditam o ritmo do mercado. É comum as empresas utilizarem reduções de preços para afetarem concorrentes: essa situação tem efeito de curto prazo, pois a receita fica comprometida e ameaça a rentabilidade de todas as organizações em perspectiva. Investimentos em propaganda são benéficos porque causam a percepção da diferenciação e aumenta a demanda pelos produtos, o que estimula o crescimento de mercado e a disputa por novas fatias. Porter (1997, p. 35-39) considera que a rivalidade é consequência da interação de vários fatores estruturais como: – Concorrentes numerosos: pelo excesso de players, algumas empresas podem tentar desenvolver estratégias diferenciadas sem serem notadas; – Poucos concorrentes (sem oligopólio): lutam entre si e buscam retaliações às ações dos oponentes; quando há uma empresa de grande porte, na condição de líder, esta pode ser referênciaem posicionamento de preço para as demais; 2 Denominação utilizada na Teoria dos Jogos para descrever o comportamento de empresas (jogadores) em determinados cenários/situações econômicas, cujas variáveis devem ser analisadas para tomadas de decisão. – Custos fixos altos: criam pressões para que todas as empresas vendam suas mercadorias no mercado em grande escala, reduzindo estoques, mas reduzindo margens de lucro; – Ausência de diferenciação: é baseada somente no preço e tipo de serviço; não consegue se distinguir de outras marcas e deixa o produto/empresa vulnerável; – Estratégias diferentes e interesses diferentes: há dificuldade para discriminar e discernir as “regras do jogo” e compreender os planos e táticas empreendidos pelas empresas concorrentes, que muitas vezes visam à consolidação da marca globalmente e não ganhar fatias de mercado; – Barreiras de saída: custos trabalhistas e sociais (caso a empresa queira dispensar trabalhadores e gerar desemprego) e unidades articuladas: mesmo sendo deficitárias, algumas unidades de negócios estão interligadas a outras estruturas cujos custos de reestruturação seriam muito altos. O resultado dessas ações gera táticas extremas que reduzem a rentabilidade dos players; – Mudanças nas condições de rivalidade: durante o cvp3 (ciclo de vida do produto), especificamente na fase da maturidade, o crescimento declina, a rivalidade se intensifica e por conta das inovações tecnológicas, as empresas aumentam seus custos fixos para agregar valor na cadeia produtiva. A rivalidade histórica entre a Coca Cola e a Pepsi nos Estados Unidos ficou conhecida como a “Guerra dos refrigerantes” (Pendleton Panther, 2010). 1.4 Os substitutos (3) Os produtos substitutos podem limitar os lucros das empresas já existentes. Eles representam novas tecnologias ou combinação de produtos que têm o poder de suplantar a oferta de produtos existentes e torná-los obsoletos. Nesse caso, a empresa deve investir fortemente em tecnologia, design diferenciado ou criar um novo produto, diferente do anterior, que contribua para a empresa reposicionar-se no mercado. A tabela abaixo mostra alguns exemplos de produtos históricos substitutos: 3 O Ciclo de vida de um produto (CVP) compreende as seguintes etapas: introdução, crescimento, maturidade e declínio. Produto original Substituto Carroça Automóvel Máquina de escrever Computador Coador de pano Coador de papel Guardanapo de pano Guardanapo descartável DOS Windows Videocassete DVD CD MP3 Fio de cobre Fibra ótica Transistor/tubo Chip Filme fotográfico Fotografia digital Telégrafo Telefone/fax/scanner Máquina de escrever da empresa Olivetti. Na década de 1990, esses equipamentos foram substituídos por computadores (Iamas, 2010). 1.5 Compradores (4) Há competição entre os compradores, que forçam a redução do preço e a disputa entre os concorrentes. Porter (1997, p. 41) discrimina situações nas quais os compradores adquirem grande poder de barganha frente às empresas: – Quando uma grande parcela das compras é adquirida por um único comprador; – Quando os produtos são padronizados (massificados) e não são diferenciados; – Quando houver muitos custos de mudança de um produto para outro, o comprador terá resistências; – Quando o produto ofertado não for de qualidade exigida pelo comprador e este for sensível ao preço; – Quando for negociar com um comprador informado sobre os valores do mercado e dados sobre custos e demanda. 1.6 Fornecedores (5) Os fornecedores podem pressionar as empresas em uma negociação, ameaçando elevar preços ou reduzir a qualidade das mercadorias oferecidas. Impossibilitadas de repassar os custos para seus clientes finais, as empresas se veem obrigadas a reduzir drasticamente suas margens de lucro. Segundo Porter (1997, p. 43), quando os fabricantes da indústria química aumentam os preços de seus insumos, isto pode afetar diretamente a rentabilidade dos produtos à base de aerossol. No entanto, a intensa concorrência resultante desse processo impede a majoração de preços. Quando os produtores agrícolas resolvem aumentar o preço do tomate, isto impacta no valor cobrado pelas pizzarias, já que o legume é elemento fundamental na pizza de mussarela. Cada item que forma a cadeia de produção pode desequilibrar o preço final de uma mercadoria segundo o exemplo abaixo: Quando pensamos em fornecedores, podemos incluir também os recursos humanos necessários à execução de um serviço. Nessa composição de valor, deve ser analisada a qualificação do profissional, sua experiência e a questão da sindicalização da categoria que é participante. Certas categorias exigem pagamentos de dissídios maiores e outros benefícios específicos. Em períodos de expansão econômica ou de surgimento de novos segmentos tecnológicos, as empresas demandam uma grande quantidade de especialistas muitas vezes escassos no mercado. Nesse caso, o poder de barganha estará do lado dos fornecedores. Quando a economia estiver em recessão e o mercado plenamente abastecido de especialistas, o poder de negociação estará com os empresários. De acordo com o autor, as condições que dão poder aos fornecedores podem ser resumidas da seguinte maneira: Fornecedores de tomate Fornecedores de massa Fornecedores de queijo Preço final da pizza – O mercado é dominado por poucas empresas fornecedoras e está concentrado: os compradores têm pouca capacidade de negociação em preços, qualidade e condições; – Os fornecedores vendem para muitas empresas e a fração de cada empresa atendida é ínfima. – O produto dos fornecedores é um insumo/componente/recurso/elemento estratégico para o negócio do comprador; – O fornecedor provê um produto singular e imprescindível ao comprador. Para Porter (1997, p. 45), uma vez diagnosticadas as forças que atuam em determinado mercado, a empresa pode verificar seus pontos fortes e fracos em relação à indústria e definir as diretrizes estratégicas que tomará para conquistar ou manter sua posição no mercado. Para o autor, o conhecimento das forças atuantes possibilita o posicionamento da organização: sua capacidade de defender, atacar e resistir às investidas dos concorrentes. 2. SUSTENTABILIDADE, STAKEHOLDERS, OPINIÃO PÚBLICA, LEGISLAÇÃO E TENDÊNCIAS 2.1 Conceitos básicos Podemos compreender sustentabilidade como um conceito relacionado à preservação da biodiversidade4 e do ecossistema5 planetário mediante ações que busquem o equilíbrio entre as práticas das comunidades humanas e o meio ambiente. O impacto da produção humana no meio ambiente por meio da extração mineral/vegetal, agricultura em larga escala, industrialização de papel e celulose e liberação de resíduos químicos no solo/atmosfera são fatores que contribuem para ameaçar as atuais e futuras gerações. O desenvolvimento das práticas empresariais sustentáveis propõe a exploração não predatória dos recursos disponíveis, com mais eficiência, garantindo o provimento de recursos da sociedade e, simultaneamente, visando ao equilíbrio social, econômico, ecológico e empresarial. É foco dos estudos sustentáveis analisar o impacto da explosão do consumo nas grandes metrópoles, o desperdício de recursos naturais, a obsessão pela riqueza (que conduz a produção de bens desnecessários aos indivíduos) e o crescimento econômico desenfreado que sacrifica a ecologia planetária. Penna (1999, p. 154-157), citando o Programa para o Estudo de Mudanças e Desenvolvimento Sustentável (desenvolvido pela Universidade de Tufts-EUA), aponta sete prioridades para reverter a degradação sociale 4 Para o dicionário Houaiss é o conjunto de todas as espécies de seres vivos existentes na biosfera. 5 Para o Houaiss trata-se de um sistema que inclui os seres vivos e o ambiente, com suas características físico-químicas e as inter-relações entre ambos. ambiental da vida contemporânea e promover os pilares da sustentabilidade nas áreas sociais, ambientais, educacionais e na saúde pública: – Recuperação do ensino primário e secundário, promovendo maior qualidade na formação de crianças e jovens (um país não pode prover o desenvolvimento sustentável se não investir na formação das mentalidades de seus cidadãos); – Estimular a ciência e a tecnologia para reverter a degradação do planeta e desenvolver novas fontes de energia e estruturas produtivas que preservem o meio ambiente; – Recuperar a infraestrutura da nação para gerar desenvolvimento com sistemas de saneamento ambiental (incluindo a não poluição de nascentes dos rios), energias alternativas, educação ambiental, transporte público, projetos de habitação ecológicos, preservação de áreas verdes; – Providenciar sistema de saúde eficiente, principalmente para os mais pobres; – Diminuir o desnível de renda; – Combater a criminalidade. 2.2 Stakeholders (partes interessadas) No contexto da sustentabilidade do terceiro milênio, a ideia de defender somente os interesses dos acionistas (shareholders), acima de qualquer interesse social, ecológico e econômico, está superada. Segundo Daft (apud Lourenço e Schröder, 2002, p. 91), “a responsabilidade social de uma empresa deve também considerar todas as relações e práticas existentes entre as chamadas partes interessadas ligadas à organização (stakeholders) e o ambiente ao qual a empresa pertence”. A gestão sustentável, então, pode ser definida como uma política que passa a considerar tanto os públicos internos (colaboradores e acionistas), como externos (fornecedores, comunidade do entorno, sociedade, meio ambiente). Das relações entre os públicos internos e externos nascem sinergias que geram valor para todas as partes envolvidas e garante benefícios sistêmicos e globais de longo prazo para a sociedade. Refletindo sobre o paradigma da sustentabilidade, Lourenço e Schröder (2002, p. 93) descrevem as características e especificidades das “partes envolvidas” no novo modelo de gestão: ACIONISTAS Além da busca pela lucratividade, os acionistas devem respeitar os marcos e restrições legais da sociedade e prestar contas – com transparência – sobre como estão sendo utilizados os recursos da empresa, principalmente no que concerne a sustentabilidade e o respeito ao meio ambiente. A divulgação de informações e a adoção de políticas de responsabilidade social e ambiental reverterão em prol da própria empresa, como posicionamento positivo frente à opinião pública. COLABORADORES A preocupação da organização com seus colaboradores também reverte em aumento da produtividade, comprometimento, motivação e crescimento sustentável. Além do cumprimento das leis trabalhistas, os acionistas devem investir no desenvolvimento dos colaboradores, no provimento da qualidade no trabalho, salubridade, relacionamento positivo entre gerentes e subordinados, com respeito à individualidade e à diversidade religiosa, cultural e sexual de cada profissional. Nas políticas de desligamento, deve-se levar em conta a recolocação do profissional a fim de não causar danos sociais, econômicos e psicológicos nas famílias e indivíduos. Ao promover um ambiente profissional mais salutar, o acionista contará com um maior envolvimento e participação nos processos operacionais e produtivos, que resultarão em ganho de eficiência e eficácia. O colaborador é parte integrante da sustentabilidade social (HR Wayne, 2010). FORNECEDORES A escolha dos fornecedores deve se embasar não somente nos aspectos competitivos, como preço, logística e qualidade do produto, mas também a partir da política de responsabilidade social e ambiental da empresa. É preciso observar o código de conduto do fornecedor em relação a suas práticas sociais (respeito aos colaboradores, princípios trabalhistas dentro da CLT) e ações ambientais (uso de materiais biodegradáveis, reciclagem de materiais, uso de elementos não poluentes, madeira certificada etc.). Deve-se levar em conta também o respeito e o incentivo às microempresas6 e toda a cadeia de benefícios gerada por elas, seja na geração de empregos e renda. CLIENTES O foco está na ética e em responder rapidamente às reclamações dos consumidores, fornecendo informações que auxiliem as demandas dos clientes de maneira transparente. Essas informações devem ser claras a respeito das características e especificidades dos produtos/serviços, prazos de pagamento, prazos de entrega de mercadorias, assistência 6 Segundo o Sebrae, mais de 90% das empresas no Brasil se enquadram na categoria de pequeno porte ou microempresas no Brasil. técnica, garantias, manuais legíveis, rotulagem correta, com direito a atendimento eficiente e que dê atenção às necessidades dos consumidores. Deve-se atentar às propagandas enganosas e àquelas que não firam os padrões morais e culturais de determinada coletividade; COMUNIDADE Empresas preocupadas com a sustentabilidade devem investir em projetos realizados no seu entorno, isto é, nas comunidades onde estão inseridas, realizando benefícios nas localidades através da preservação dos recursos naturais (árvores, rios, praças, coleta seletiva do lixo) e promovendo investimentos sociais: construção e manutenção de creches, ações educativas com escolas da região, educação ambiental aos moradores e contratação de profissionais que habitem próximos às empresas para evitar congestionamentos e preservar o meio ambiente com uso de transporte poluente (automóvel ou ônibus). Os investimentos nas comunidades podem ser representados por uma máxima da consciência ambiental que diz que “devemos pensar globalmente, mas agir localmente7”; GOVERNO E SOCIEDADE O papel das empresas é relacionar-se com o governo de maneira ética, cumprindo a lei e visando a melhoria das condições sociais e econômicas da população. As parcerias entre governo e organizações devem visar o progresso, o crescimento e o bem-estar da sociedade, desenvolvendo a cidadania, o respeito aos direitos individuais e a oferta de oportunidades a todos os cidadãos. É responsabilidade das empresas zelarem pelo fim da política das “propinas públicas”, e cabe às empresas a vigilância permanente dos governos para a publicação dos orçamentos estatais e a alocação de verbas dos impostos arrecadados por empresas e cidadãos (políticas públicas transparentes); CONCORRENTES As empresas devem evitar práticas monopolistas, oligopolistas, dumping e formar cartéis, trustes em favor a livre concorrência. Quando as organizações criam situações de desequilíbrio comercial, há queda na qualidade dos produtos e aumento de preços que penalizam os consumidores e a sociedade. A disseminação de calúnias e injúrias sobre os concorrentes também é prática antiética e está em desacordo com as práticas socialmente responsáveis e sustentáveis. 2.2.1 Resumo das contribuições e demandas básicas dos stakeholders (partes interessadas): Stakeholders Contribuições Demandas básicas Acionistas Capital. Lucros e dividendos, preservação do patrimônio. 7 A autoria da frase é atribuída ao biólogo escocês, Sir Patrick Geddes (1854 - 1932). A expressão foi usada pela primeira vez na obra "Cities in Evolution" (Cidades em Evolução), publicada em 1915. Empregados Mão-de–obra,criatividade, ideias. Segurança e saúde no trabalho, realização pessoal, condições de trabalho. Fornecedores Mercadorias, negociação leal. Respeito aos contratos. Clientes Dinheiro, fidelidade. Segurança dos produtos, boa qualidade dos produtos, preço acessível, propaganda honesta. Comunidade/Sociedade Infraestrutura. Respeito ao interesse comunitário; contribuição à melhoria da qualidade de vida na comunidade; conservação dos recursos naturais, preservação ambiental, respeito aos direitos das minorias. Governo Suporte institucional, jurídico e político. Obediência às leis; pagamento de tributos. Concorrentes Competição, referencial de mercado. Lealdade na concorrência. 2.3 Opinião Pública, questões públicas e tendências Para Torquato (2002, p. 77-78), as opiniões dos indivíduos nascem das suas ideias, valores, estereótipos e crenças individuais que se aglomeram em pequenos grupos de indivíduos, expandindo-se verticalmente (geralmente das classes mais abastadas aos segmentos populares) e horizontalmente (nos espaços geográficos/virtuais: bairros, cidades, redes de comunicação). As opiniões dos grupos são amplificadas pelos meios de comunicação (TV, rádio, internet, jornais, cinema, redes sociais, revistas etc.) e podem se multiplicar com grande intensidade e abrangência, impactando cidades, estados, países e todo o planeta. A opinião pública é um fenômeno dinâmico e está sujeita ao perfil sociocultural e etário de cada indivíduo, pois envolve percepções sobre renda, modismos, sexo, tradições, princípios éticos, regionalismo, classe social, categoria profissional, tribo social e normas e padrões hegemônicos ou alternativos. Agrega uma comunidade de públicos distintos que exerce opinião e projeta valor sobre as notícias/acontecimentos do mundo, mas comunga dos mesmos interesses/opiniões sobre determinadas questões. Para Neves (2000, p. 31), as questões públicas8, isto é, os temas que interessam e mobilizam a opinião pública, afetam cada vez mais as empresas e devem ser objeto de preocupação dos gestores em seus planejamentos estratégicos. Elas impactam os negócios das organizações e afetam sua imagem diante dos consumidores potenciais. As questões públicas são debatidas pela sociedade e podem virar leis, regulamentações que alteram efetivamente o planejamento organizacional em suas políticas de preços, orçamentos, recursos humanos e expansão de unidades fabris. Quando as organizações tomam decisões empresariais, visando exclusivamente os resultados mercadológicos e competitivos, e desconsideram a importância dos stakeholders, esse fato pode abalar a percepção da opinião pública. As preocupações com a sobrevivência do planeta colocaram a questão da sustentabilidade no centro dos debates públicos. A poluição da atmosfera nas grandes cidades por monóxido de carbono, a devastação dos recursos florestais e o consumo excessivo da população deixaram de ser apenas temas da pauta jornalística para ser incorporados à agenda de cada cidadão planetário. As reportagens dos noticiários, a mobilização de ativistas ecológicos e os efeitos visíveis do aquecimento global estão exigindo dos gestores a adoção de posturas empresariais mais proativas em defesa do meio ambiente. As empresas que querem gozar de boa reputação com a opinião pública devem implantar e monitorar seu balanço ambiental9, no qual estão registrados os ativos ambientais (aplicações utilizadas para a preservação e recuperação do meio ambiente natural) e passivos ambientais (danos causados aos recursos naturais e penalidades impostas pela legislação ambiental). No balanço ambiental estão incluídos também os bens da empresa, que protegem e recuperam o meio ambiente natural, o maquinário e infraestrutura que possibilitam a redução da contaminação ambiental e as pesquisas desenvolvidas em prol da sustentabilidade. Acidente no Golfo do México. A sobrevivência do planeta hoje é pauta central da opinião pública e mídia (Treehugger, 2010). 8 As questões públicas também são conhecidas internacionalmente como “public issues”. 9 Trata-se de um documento demonstrativo que registra o ativo e passivo ambiental das organizações em determinado período. Ele revela à opinião pública as contas da gestão ambiental e as informações da maneira como a empresa manejou e minimizou os recursos naturais. Empresas petrolíferas como a British Petroleum, por conta do gravíssimo vazamento de petróleo ocorrido no Golfo do México (EUA), no ano de 2010, tiveram sérios danos de imagem e reputação na opinião pública. Suas ações tiveram cotações reduzidas aos menores patamares das últimas duas décadas: o valor da empresa na Bolsa reduziu-se à metade desde o acidente na plataforma Deepwater Horizon. Para agravar a situação, o presidente norte-americano Barack Obama veio a público denunciar a agressão da empresa britânica, informando os custos ambientais do vazamento e as indenizações necessárias para suprir os habitantes do litoral norte-americano e trabalhadores que perderam seus empregos por conta da catástrofe. Como indicador da tendência em prol do meio ambiente, empresas como a Nestlé, a maior empresa alimentícia do mundo, comunicou a intenção de parar de comprar matéria-prima que tenha provocado o desmatamento das florestas tropicais e excluir da lista de fornecedores os que gerenciam fazendas ligadas ao desmatamento. Segundo o Greenpeace (2010), “a expansão das plantações de dendê – usado pela indústria alimentícia, cosmética e como biocombustível – é um dos principais vetores de destruição dessas importantes florestas tropicais, lar de espécies ameaçadas como o orangotango”. O frigorífico brasileiro Marfrig se comprometeu com o Ministério Público a não adquirir animais para abate criados em fazendas embargadas pelo Ibama e Secretaria Estadual de Meio Ambiente. A empresa também não estabelece parcerias com fornecedores que estejam na lista de organizações que exploram o trabalho escravo ou desenvolvem negócios em áreas indígenas e de conservação ambiental. A Tetra Pak, maior fabricante de embalagens do mundo, que conta com duas fábricas e 1.200 funcionários no Brasil, comunicou, em 2010, que metade da produção brasileira da empresa terá o selo FSC10 e cinco bilhões de embalagens ecologicamente corretas serão ofertadas ao mercado. Além da Tetra Pak, empresas como Coca-Cola, Unilever, Pão de Açúcar, Carrefour, Walmart e Pepsico já aderiram à certificação em embalagens de lácteos, sucos e outros produtos. Como indicador dessas tendências, o instituto Ethos (Lourenço e Schröder, 2002, p. 115) pesquisou as atitudes mais desvalorizadas pelos consumidores desde no início da década: Propaganda enganosa 49% Causou danos físicos ou morais aos trabalhadores 43% Colaborou com políticos corruptos 42% 10 Segundo WWF (2010, online), é a certificação florestal que garante que a madeira utilizada em determinado produto é oriunda de um processo produtivo manejado de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável, com o cumprimento de todas as leis vigentes e as normas de sustentabilidade. Vendeu produtos nocivos à saúde dos consumidores 32% Coloca mulheres, crianças e idosos em situações constrangedoras em suas propagandas 32% Uso de mão-de-obra infantil 28% Polui o ambiente 27% Sonega impostos 22% Provoca fechamento de pequenos empresários regionais/locais 13% Suborno a agentes públicos 11% 2.4 Leis ambientais Segundo o site Planeta Orgânico (2010), há no Brasil dezessete leis ambientais em vigor. Discriminamos abaixo o resumo e as principais informações sobre elas:1 - Lei da Ação Civil Pública - nº 7.347, de 24/07/1985. Trata da ação civil pública de responsabilidades por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e ao patrimônio artístico, turístico ou paisagístico. 2 - Lei dos Agrotóxicos - nº 7.802, de 10/07/1989. Regulamenta o uso de agrotóxicos: da pesquisa, fabricação, comercialização, aplicação, controle, fiscalização e destino das embalagens. 3 - Lei da Área de Proteção Ambiental - nº 6.902, de 27/04/1981. Cria as áreas representativas dos ecossistemas brasileiros, sendo que 90% destes devem permanecer intocados e 10% podem sofrer alterações para fins científicos. 4 - Lei das Atividades Nucleares - nº 6.453, de 17/10/1977. Dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares e a responsabilidade criminal por atos relacionados com as atividades nucleares. 5 - Lei de Crimes Ambientais - nº 9.605, de 12/02/1998. Reordena a legislação ambiental brasileira no que se refere às infrações e punições. A pessoa jurídica, autora ou coautora da infração ambiental, pode ser penalizada com a liquidação da sua empresa, caso tenha facilitado crimes ambientais. 6 – Lei da Engenharia Genética – nº 8.974, de 05/01/1995. Estabelece normas para aplicação da engenharia genética: cultivo, manipulação, transporte de organismos modificados, comercialização, consumo e liberação no meio ambiente. 7 – Lei da Exploração Mineral – número 7.805, de 18/07/1989. Regulamenta as atividades garimpeiras. Os trabalhos de pesquisa ou lavra que causarem danos ao meio ambiente são passíveis de suspensão. A caça a animais silvestres é crime ambiental (PALO Jr., 2008). 8 – Lei da Fauna Silvestre – nº 5.197, de 03/01/1967. A lei classifica como crime o uso, perseguição, apanha de animais silvestres, caça profissional, comércio de espécies da fauna silvestre e produtos derivados de sua caça, além de proibir a introdução de espécie exótica (importada) e a caça amadorística sem autorização do Ibama. Criminaliza também a exportação de peles e couros de anfíbios e répteis em bruto. 9 – Lei das Florestas – nº 4.771, de 15/09/1965. Determina a proteção de florestas nativas e define as áreas de preservação permanente. 10 – Lei do Gerenciamento Costeiro – nº 7.661, de 16/05/1988. Define o que é zona costeira como espaço geográfico da interação do ar, do mar e da terra, incluindo os recursos naturais e abrangendo uma faixa marítima e outra terrestre. 11 – Lei da criação do Ibama – nº 7.735, de 22/02/1989. Criou o Ibama, que incorporou a Secretaria Especial do Meio Ambiente e as agências federais na área de pesca, desenvolvimento florestal e borracha. 12 – Lei do Parcelamento do Solo Urbano – nº 6.766, de 19/12/1979. Estabelece as regras para loteamentos urbanos, proibidos em áreas de preservação ecológica, onde a poluição representa perigo à saúde, e em terrenos alagadiços. 13 – Lei Patrimônio Cultural - Decreto-Lei nº 25, de 30/11/1937. Organiza a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional, incluindo nestel os bens de valor etnográfico, arqueológico, os monumentos naturais, sítios e paisagens a partir de uma intervenção humana. 14 – Lei da Política Agrícola – nº 8.171, de 17/01/1991. Coloca a proteção do meio ambiente entre seus objetivos e como um de seus instrumentos. Define que o poder público deve disciplinar e fiscalizar o uso racional do solo, da água, da fauna e da flora. 15 – Lei da Política Nacional do Meio Ambiente – nº 6.938, de 17/01/1981. Define que o poluidor é obrigado a pagar indenização por danos ambientais que causar, independentemente da culpa. O Ministério Público pode propor ações de responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, impondo ao poluidor a obrigação de recuperar e/ou indenizar por prejuízos causados. 16 – Lei de Recursos Hídricos – nº 9.433, de 08/01/1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Define a água como recurso natural limitado e dotado de valor econômico. 17 – Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição – nº 6.803, de 02/07/1980. Atribui aos estados e municípios o poder de estabelecer limites e padrões ambientais para a instalação e licenciamento das indústrias, exigindo o Estudo de Impacto Ambiental. 3. RESPONSABILIDADE SOCIAL 3.1 Conceitos básicos Para Lourenço e Schröder (2002, p. 80), a responsabilidade social envolve a prestação de contas a alguém: pessoas ou empresas devem justificar suas ações para outros membros da comunidade ou sociedade. Essa prestação não se resume somente às informações financeiras das organizações, mas também às suas políticas ambientais e de recursos humanos, pois as empresas estão inseridas em um contexto social do qual participam várias partes interessadas em determinado negócio. Daft define responsabilidade social como “a obrigação da administração tomar decisões e ações que irão contribuir para o bem-estar e os interesses da sociedade e da organização”. Quando buscam auferir lucros, as empresas criam empregos, pagam salários e impostos, promovem indiretamente a distribuição de renda, colaboram com fornecedores e treinam os recursos humanos; porém, pensando somente na sua lucratividade podem causar danos ao meio ambiente, usar e manipular empregados, demitir em massa e manter relações suspeitas com o poder quando corrompem funcionários públicos. Oded Grajew, o idealizador do Instituto Ethos, afirma que responsabilidade social é “a atitude ética da empresa em todas as suas atividades. Diz respeito às interações da empresa com funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, governo, concorrentes, meio ambiente e comunidade. Os preceitos da responsabilidade social podem balizar todas as atividades políticas e empresariais”. Doutrina da Responsabilidade Social (stakeholders) As empresas usam os recursos da sociedade e é justo que assumam responsabilidades em relação a esta. Doutrina do interesse do acionista (shareholders) A empresa tem obrigações unicamente com seus acionistas e não cabe a ela resolver problemas sociais. Segundo o site do Ethos (2010), “responsabilidade social empresarial é uma forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”. Com a incapacidade do Estado em gerir todos os problemas da sociedade, os empresários perceberam a necessidade de um maior envolvimento para encontrar soluções das demandas sociais contemporâneas. Diante dos desafios sociais, culturais e ambientais, as empresas perceberam ser fundamental “sair do isolamento” dos seus interesses particulares para se engajar nos problemas que compõem a agenda dos temas públicos: ecologia, inclusão, educação, empregabilidade, cidadania, diversidade cultural, tolerância etc. O projeto central da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) é o de prover recursos oriundos das instituições privados para o desenvolvimento do bem comum, contribuindo para atender às carências da sociedade e promover o desenvolvimento sustentável. Não é possível discutirmos conceitos de responsabilidade social se não debatermos a respeito dos conceitos básicos da ética. Maximiano (2002, p. 216- 217) afirma que “ética é a disciplina que trata da definição e avaliação do comportamento de pessoas e organizações”. A palavra ética advém do grego (ethos) e está relacionada ao sistema moral de uma determinada sociedade. Os códigos de ética integram o sistema de valores de pessoas,grupos, organizações vigentes na sociedade como um todo ou grupos específicos. Sobre os limites da ética, o autor faz alguns questionamentos: – É justo os executivos ganharem o equivalente a dezenas de salários dos trabalhadores operacionais? – Pode-se aceitar a influência das empresas nas decisões governamentais, como das construtoras, na preparação do orçamento das obras da União? – É correto empresas e interesses privados participarem da escolha de governantes e dirigentes, por meio de financiamento de campanhas políticas? O que esses patrocinadores pedem, em troca de seu apoio, aos candidatos que ajudaram a eleger? – Quais são as obrigações da empresa no que tange à necessidade de informar sobre os riscos de seus produtos para o consumidor (álcool, tabaco, alimentos com altas taxas de colesterol)? – Como se devem pautar as relações dos funcionários com os usuários, especialmente funcionários públicos, em suas relações com os contribuintes? Trabalhos sociais para a erradicação da miséria (Goarup, 2010). – Quais são as obrigações da empresa com relação ao impacto da operação e desativação de fábricas sobre a comunidade, os fornecedores e distribuidores? – Quais são as obrigações da empresa com seus funcionários? – Que tipos de compromissos a empresa pode exigir de seus funcionários? – Qual o impacto sobre a força de trabalho das decisões sobre redução de produção ou desativação de operações? – Que participação os funcionários devem ter nas decisões que afetam a empresa? Maximiano (2002, p. 424-425) apresenta as características dos três estágios de desenvolvimento moral: Estágio Características Pré-convencional Não há regras, “os outros que se danem”. “Cada um por si”. Convencional Obediência às regras por conveniência ou por temor de punição. “Multas de trânsito”, “ofertar empréstimos a bons pagadores”. Pós-convencional As regras são seguidas por convicção e não por obrigação. “Minha liberdade termina onde começa a liberdade do vizinho”. 3.2 Histórico Andrew Carnegie, fundador da U.S. Steel Corporation, publicou, em 1899, a obra “O evangelho da riqueza”, na qual estabeleceu os primeiros preceitos da responsabilidade social. Esses princípios eram baseados em ações de caridade e custódia, nas quais os membros mais abastados da sociedade teriam a obrigação de auxiliar os indivíduos excluídos, segundo os valores bíblicos. Em 1919, nos EUA, Henry Ford contratou um grupo de acionistas para reverter parte dos lucros para o aumento de salários e a constituição de um fundo de reserva. Em 1929, durante a República de Weimar, na Alemanha, pessoas jurídicas começam a desenvolver trabalhos filantrópicos. Nos Estados Unidos, durante as décadas de 1970 e 1980, os assuntos “ética” e “responsabilidade social” ganharam destaque na agenda pública por conta dos escândalos políticos de Richard Nixon e o famoso Watergate11. Diversas conferências, seminários e grupos interdisciplinares de estudo, formados por professores, filósofos, teólogos e empresários, foram organizados para discutir o tema. Na Europa, Alemanha e França impulsionaram programas sociais e tomaram a iniciativa de implementar o conceito de balanços sociais12 em seus programas de gestão. 11 O comitê político do presidente Richard Nixon foi acusado de espionar a oposição por meio de aparelhos de escuta. O escândalo, que veio à tona através de investigações dos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, culminou na renúncia do presidente em 1974. 12 É o conjunto de informações que demonstram as atividades desenvolvidas por uma organização privada em prol da sociedade/comunidade, a fim de divulgar aos stakeholders sua gestão de responsabilidade social. Trabalho infantil, miséria e escravidão. A responsabilidade social deve ser observada por toda a sociedade e principalmente pelos empresários (ZORIAH, 2010). No início da década de 1990, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) cria o Conselho de Prioridades Econômicas com o intuito de estudar medidas contra o trabalho infantil. Em 1999, o secretário geral da ONU, Kofi Annan, lançou o projeto “Compacto Global”, solicitando que os líderes do universo dos negócios seguissem os dez mandamentos da gestão responsável e sustentável: Princípios de Direitos Humanos 1. Respeitar e proteger os direitos humanos. 2. Impedir violações de direitos humanos. Políticas socialmente responsáveis devem garantir os direitos dos trabalhadores (Chinadigitaltimes, 2010). Princípios de Direitos do Trabalho 3. Apoiar a liberdade de associação no trabalho. 4. Abolir o trabalho forçado. 5. Abolir o trabalho infantil. 6. Eliminar a discriminação no ambiente de trabalho. Princípios de Proteção Ambiental 7. Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais. 8. Promover a responsabilidade ambiental. 9. Encorajar tecnologias que não agridem ao meio ambiente. Princípio contra a Corrupção 10. Lutar contra toda forma de corrupção. No Brasil, o tema responsabilidade social nasceu na década de 1960, com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE). Em 1984, a empresa Nitrofértil13 desenvolve o primeiro balanço social nacional. Na década de 1990, nasce o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas, fundado por um dos maiores ativistas sociais da história brasileira: Herbert de Souza, o Betinho, que lança, em 1993, a “Campanha Nacional de Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, com o apoio de grupos empresariais. Em 1992, o Banespa14 publica um relatório divulgando suas ações sociais e, no ano de 1995, é criado o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) voltado para o desenvolvimento de ações de responsabilidade empresarial, filantropia e cidadania. Em 1995, a Fundação Itaú Social e Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF cria o “Prêmio Itaú-Unicef”, com o intuito de estimular o trabalho de organizações sem fins lucrativos15 que contribuem, em articulação com a escola pública e outras políticas, para a educação integral de crianças e adolescentes brasileiros. Em 1997, o Ibase e o jornal Gazeta Mercantil lançam o “selo do Balanço Social” para as empresas que divulgassem suas ações sociais. Em 1998, Oded Grajew funda o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade social, para estabelecer uma ponte entre os empresários e as causas sociais. 3.3 Normas de responsabilidade social SA8000 (Social Accountability 8000) É uma norma internacional de avaliação da responsabilidade social que existe para empresas fornecedoras e vendedoras. A SA8000 é a primeira certificação internacional da responsabilidade social que visa a garantir direitos básicos dos trabalhadores envolvidos em processos produtivos. Nas auditorias são analisados aspectos como trabalho infantil e forçado, questões de saúde e segurança, liberdade e capacidade de associação de trabalhadores, discriminação, práticas disciplinares, horário de trabalho, salubridade do profissional e gestão. AA1000 Norma internacional de gestão da responsabilidade corporativa, com foco na contabilidade, auditoria e relato social e ético. Os padrões voltam-se para as metas de desempenho organizacional e comunicação com as partes interessadas (stakeholders). A AA1000 audita questões sociais e éticas na gestão estratégica e nas operações da organização. Entre suas metas estão: – Alinhar seus sistemas e atividades com seus valores; 13 A empresa foi absorvida pela Petrobras na década de 1990. 14 A empresa foi privatizada e adquirida pelo grupo espanhol Santander. 15 Também chamadas de organizações do Terceiro Setor.O primeiro setor representa as instituições públicas (o Estado) e o segundo setor é representado pela iniciativa privada. – Aprender sobre os impactos de seus sistemas e atividades, incluindo as percepções de partes interessadas sobre esses impactos; – Servir como parte de uma estrutura para controle interno para possibilitar à organização identificar, avaliar e melhor gerenciar os riscos que surgem de seus impactos sobre as relações com as partes interessadas; – Atender ao legítimo interesse das partes interessadas em informações a respeito do impacto social e ético das atividades da organização e seus processos de tomada de decisão; – Construir vantagem competitiva através da projeção de uma postura definida sobre questões sociais e éticas. 3.4 Estudos de caso16 a) “Família em ação” (Empresa Brunauer) Descrição: com o objetivo de quantificar colaboradores e filhos matriculados em escolas para o ano de 2008, a empresa Brunauer promoveu a distribuição de kits escolares desde que fosse apresentado o comprovante de matrícula dos alunos. O evento, com a entrega dos kits, buscou a integração entre a empresa e as famílias e apresentou: − formas alternativas de renda através do artesanato; − alertar os homens quanto às doenças de próstata e promover atividades de recreação e oficinas de pintura para os filhos dos colaboradores. b) “Práticas Anticorrupção e Propina” (Companhia de Gás de São Paulo) Descrição: a Comgás mantém contato estreito e permanente com o poder público, tanto federal e estadual quanto municipal (nos municípios da sua área de concessão). A prática que vem sendo aplicada desde a privatização da companhia, em 1999, é a de criar uma network (rede) composta apenas de pessoas ligadas diretamente à administração. Muitas pessoas procuram a área institucional da Comgás para falar “em nome de alguém ou alguma instituição”, mas se a pessoa que ligou não fizer parte da network estabelecida, a conversa não prossegue. Dessa forma, a empresa evita o surgimento de situações prejudiciais à sua imagem. c) “Mundo Verde Eco-Social” – Loja de Produtos Solidários Descrição: a loja promove o consumo consciente e a redução das desigualdades sociais por meio da cooperação entre os setores econômicos (primeiro, segundo e terceiro), através do desenvolvimento das relações comerciais entre eles e do desenvolvimento de um comércio mais justo. Inaugurada em dezembro de 2003, a loja possui layout arquitetônico que destaca 16 Para conhecer diversos estudos de caso na área de responsabilidade social, recomendamos acessar o site do Instituto Ethos (www.ethos.org.br), no link “Banco de práticas”. as cores da bandeira brasileira, como símbolo da valorização da brasilidade. Comercializa artigos ecologicamente corretos do artesanato brasileiro ou produtos cujo processo de fabricação é orientado pelas técnicas da reciclagem e do reaproveitamento de recursos, provenientes de instituições e cooperativas do terceiro setor. Artesãos autodidatas, ecologicamente corretos, anteriormente excluídos do mercado, podem fornecer artigos para a empresa. d) “Treinamento dos eletricistas terceirizados” – Grupo REDE Descrição: a Cemat (Centrais Elétricas Matogrossenses) trabalha sempre em parceria com as empresas terceirizadas, visando a capacitação de seus profissionais, a diminuição do número de acidentes por imperícia e a melhoria do padrão de atendimento ao cliente. A empresa estabeleceu um sistema de treinamento direcionado aos eletricistas terceirizados. Esse sistema permite a integração desses profissionais em seus programas de treinamento e desenvolvimento, monitorando o cumprimento dos requisitos estabelecidos. A empresa, além de ceder o centro de treinamento, os monitores e o material didático, participa ativamente do treinamento dos eletricistas, trabalhando tanto a parte técnica quanto temas relacionados à segurança do trabalho, além da promoção de palestras, cursos e apresentações teatrais. Todas as empresas prestadoras de serviços à Rede Cemat são constantemente fiscalizadas. Ressalta-se o uso correto dos equipamentos de segurança individual e coletivo. e) "Projeto Criança" – Algar Descrição: O Projeto Criança, desenvolvido pela CTBC Telecom, é um conjunto de ações estruturadas e sistematizadas com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de crianças e adolescentes de famílias de baixa renda, estimulando a cidadania e ajudando-os a aperfeiçoar a capacidade e a consciência necessárias para definirem seu futuro. O programa, implantado em doze cidades de quatro estados brasileiros (Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo), auxilia na melhoria da educação em escolas públicas em comunidades de baixa renda com ações de incentivo à leitura e à expressão, educação ambiental, consciência cidadã, envolvimento da comunidade e uso da tecnologia como instrumento de transformação. Faz parte do programa desenvolver oficinas de desenho animado, educação ambiental e corporal, informática educativa, iniciação musical e artística, redação, teatro, além das oficinas pedagógica, de brinquedos e comunitária. 4. REFERÊNCIAS ADCEMG. Disponível em: <http://www.adcemg.org.br/>. Acesso em: 17 jun. 2010, 11h11. ATITUDES SUSTENTÁVEIS. Disponível em: <http://www.atitudessustentaveis.com.br/>. Acesso em: 14 jun. 2010, 11h14. CRESCER.ORG. Disponível em: <http://www.crescer.org/glossario/doc/1.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2010, 11h18. GIFE. Disponível em:<http://site.gife.org.br/>. Acesso em: 17 jun. 2010, 11h13. INSTITUTO ETHOS. Disponível em: <http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/Default.aspx>. Acesso em: 14 jun. 2010, 12h23. ITAÚ SOCIAL. Disponível em: <http://ww2.itau.com.br/itausocial/unicef2009/o_que_e.html>. Acesso em: 17 jun. 2010, 11h15. LOURENÇO, Alex G.; SCHRÖDER, Deborah. Vale investir em responsabilidade social empresarial? Stakeholders, ganhos e perdas. In: Responsabilidade social das empresas: a contribuição das universidades. v. 2. São Paulo: Peirópolis, 2002, p. 77-119. MAXIMIANO, Antonio César Amaru. Teoria geral da administração: da revolução urbana à digital. São Paulo: Atlas, 2002. NEVES, Roberto de C. Comunicação empresarial integrada: como gerenciar: imagem, questões públicas, comunicação simbólica, crises empresariais. Rio de Janeiro: Mauad, 2000. PENNA, Carlos G. O estado do planeta: sociedade de consumo e degradação ambiental. Rio de Janeiro: Record, 1999. PLANETA ORGÂNICO. Disponível em: <http://www.planetaorganico.com.br/>. Acesso em: 14 jun. 2010, 12h05. PORTER, Michael. Estratégia competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência. Rio de Janeiro: Campus, 1997. TORQUATO, Gaudêncio. Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Pioneira, 2002. WWF BRASIL. Disponível em: <http://www.wwf.org.br/>. Acesso em: 14 jun. 2010, 12h29. 4.1 Referências das ilustrações BETA FINANCE. Michael Porter. Disponível em: <http://beta.finance- on.net/pics/cache_MN/MN02_porter_michael_glq.1204014915.jpg>. Acesso em: 11 jun. 2010, 10h22. CHINADIGITALTIMES. Políticas socialmente responsáveis devem garantir os direitos dos trabalhadores. Disponível em: <http://chinadigitaltimes.net/wp- content/uploads/2008/04/sweatshop.jpg>. Acesso em: 14 jun. 2010, 18h54. GOARUP. Trabalhos sociais para a erradicação da miséria. Disponível em: <http://www.goarup.com.au/images/sidebar/social-responsibility-danie.jpg>. Acesso em: 14 jun. 2010, 11h42. HR Wayne. O colaborador é parte integrante da sustentabilidade social. Disponível em: <http://www.hr.wayne.edu/esc/images/employees.jpg>. Acesso em: 14 jun. 2010, 9h40. IAMAS. Máquinas de escrever. Disponível em: <http://www.iamas.ac.jp/isp/721px-Olivetti-Valentine.jpg>.Acesso em: 11 jun. 2010, 11h55. PALO Jr., Haroldo. Onça Pintada. Disponível em: <http://haroldopalojr.files.wordpress.com/2008/05/onca-pintada-9036.jpg>. Acesso em: 17 jun. 2010, 10h38. PENDLETON PANTHER. Guerra dos refrigerantes. Disponível em: <http://pendletonpanther.files.wordpress.com/2009/02/coke-vs-pepsi.jpg>. Acesso em: 11 jun. 2010, 10h41. TREEHUGGER. Acidente no Golfo do México. Disponível em: <http://www.treehugger.com/burning-oil-rig-explosion-fire-photo11.jpg>. Acesso em: 17 jun. 2010, 10h32. ZORIAH. Trabalho infantil, miséria e escravidão. Disponível em: <http://www.zoriah.net/.a/6a00e55188bf7a88340115701984de970b-800wi>. Acesso em: 17 jun. 2010, 11h00.
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