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A verossimilhança em São Bernardo de Graciliano Ramos e sua contribuição para a educação do imaginário de alunos do Ensino Médio

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE PAULISTA 
 
MARCOS VINÍCIUS DE LIMA PALMA 
 
 
 
 
 
 
 
A VEROSSIMILHANÇA EM SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS E SUA 
CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO DO IMAGINÁRIO EM ALUNOS DO ENSINO 
MÉDIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
 
MARCOS VINÍCIUS DE LIMA PALMA 
 
 
 
 
 
A VEROSSIMILHANÇA EM SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS E SUA 
CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO DO IMAGINÁRIO EM ALUNOS DO ENSINO 
MÉDIO 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
para obtenção do título de Licenciatura 
em Letras Língua Portuguesa 
apresentado à Universidade Paulista – 
UNIP. 
 
 
Orientador: Prof. Me. Bruno César dos Santos 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2021 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
Palma, Marcos Vinícius de Lima. 
....A verossimilhança em São Bernardo de Graciliano Ramos e sua 
contribuição para a educação do imaginário de alunos do Ensino 
Médio / Marcos Vinícius de Lima Palma. - 2021. 
....29 f. 
 
....Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) apresentado ao 
curso de Letras Português da Universidade Paulista, São Paulo, 
2021. 
 
....Orientador: Prof. Me. Bruno César dos Santos. 
 
....1. Graciliano Ramos. 2. São Bernardo. 3. Verossimilhança. 4. 
Imaginário. 5. Ensino Médio. I. Santos, Me. Bruno César dos 
(orientador). II. Título. 
 
 
 
 
 
 
 
MARCOS VINÍCIUS DE LIMA PALMA 
 
 
 
 
 
 
 
A VEROSSIMILHANÇA EM SÃO BERNARDO DE GRACILIANO RAMOS E SUA 
CONTRIBUIÇÃO PARA A EDUCAÇÃO DO IMAGINÁRIO EM ALUNOS DO ENSINO 
MÉDIO 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
para obtenção do título de Licenciatura 
em Letras Língua Portuguesa 
apresentado à Universidade Paulista – 
UNIP. 
 
 
 
Aprovado em: 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_________________________/__/___ 
 
_________________________/__/___ 
 
 _________________________/__/___ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico primeiramente a Deus, pois 
sem Ele eu nada sou. A minha amada 
esposa Natália e a minha mãe Rose que 
me incentivaram nessa jornada. 
 
 
 
Agradeço a Deus, a quem devo 
minha vida. 
A minha esposa, que tanto me 
incentivou e me apoiou com amor e 
compreensão nessa jornada. 
A minha mãe, que sempre esteve 
ao meu lado nos momentos mais difíceis 
da minha vida. 
Ao meu orientador, professor Bruno 
César pela paciência e dedicação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
―O homem que se contenta em 
ser apenas ele mesmo e, portanto, ser 
menos, vive numa prisão.‖ 
C. S. Lewis 
 
 
RESUMO 
 
Esta pesquisa objetivou analisar de que modo a verossimilhança no romance 
São Bernardo de Graciliano Ramos pode contribuir para a educação do imaginário 
de alunos do Ensino Médio. Dado que o ensino de literatura no Ensino Médio é 
apenas focado em preparar o aluno para o Exame Nacional do Ensino Médio 
(ENEM) e vestibulares, bem como, trazer uma reflexão sobre esse ensino com o 
intuito de buscar uma abordagem voltada para o enriquecimento do imaginário do 
aluno. Para tanto, foi utilizado como método de trabalho a pesquisa bibliográfica, 
através de leituras e fichamentos em diversos meios oficiais, como livros, artigos 
científicos e outros trabalhos importantes sobre o tema, procurou-se aprofundar 
sobre verossimilhança e imaginário. A partir da análise de dados foi possível 
compreender o papel da verossimilhança na narrativa literária em função da 
educação do imaginário. Analisou-se também como a verossimilhança se apresenta 
no romance São Bernardo. Sendo assim, por meio de toda pesquisa realizada e das 
reflexões a partir dela, foi possível confirmar que a representação do minimamente 
possível no texto de São Bernardo pode contribuir para a educação do imaginário de 
aluno do Ensino Médio. Contudo, observou-se a necessidade de que literatura seja 
trabalhada em sala de aula com foco no partilhamento da experiência de leitura do 
professor, lembrando que o livro conta uma história e o ser humano por natureza 
adora ouvir uma boa história. 
 
Palavras-chave: Graciliano Ramos, São Bernardo, verossimilhança, educação do 
imaginário, Literatura Brasileira, ENEM, Ensino Médio, imaginário. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This research aimed to analyze how the verisimilitude in the novel São 
Bernardo by Graciliano Ramos can contribute to the education of the imaginary of 
high school students. Since the teaching of literature in high school is only focused 
on preparing the student for the Brazilian National High School Exam (ENEM) and 
entrance exams, as well as bringing a reflection on this teaching in order to seek an 
approach aimed at enriching the student's imaginary. Therefore, bibliographic 
research was used as a working method, through readings and listings in various 
official media, such as books, scientific articles and other important works on the 
subject, seeking to deepen the knowledge about verisimilitude and imaginary. From 
the data analysis it was possible to understand the role of verisimilitude in literary 
narrative in terms of the education of the imaginary. It was also analyzed how 
verisimilitude presents itself in the novel São Bernardo. Therefore, through all the 
research carried out and the reflections from it, it was possible to confirm that the 
representation of the least possible in the text of São Bernardo can contribute to the 
education of the imaginary of high school students. However, there was a need for 
literature to be worked on in the classroom with a focus on sharing the teacher's 
reading experience, remembering that the book tells a story and human beings by 
nature love to hear a good story. 
 
Keywords: Graciliano Ramos, São Bernardo, verisimilitude, education of the 
imaginary, Brazilian literature, ENEM, high school, imaginary. 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO 10 
2 UMA VISÃO SOBRE VEROSSIMILHANÇA 12 
3 O IMAGINÁRIO 15 
4 ASPECTOS DE VEROSSIMILHANÇA NO ROMANCE SÃO BERNARDO 18 
5 DISCUSSÃO 22 
6 CONCLUSÃO 256 
REFERÊNCIAS 28 
10 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
A verossimilhança é um elemento da narrativa literária que pode ser 
definida como a representação da realidade da experiência partindo da imitação de 
ações e paixões humanas em seus aspectos universais. A literatura tem um papel 
fundamental para a educação, permitindo a ampliação de nossos saberes e 
experiências através das imagens que construímos em nossas mentes ao ler um 
texto literário. Ou seja, um texto verossímil nos permite viver situações e sensações 
pelo imaginário as quais, em toda uma vida longa, não seriam possíveis para um ser 
humano viver por si mesmo. 
De forma geral, esta pesquisa foi concebida na ideia de analisar de que forma 
a verossimilhança no romance São Bernardo de Graciliano Ramos pode contribuir 
para a educação do imaginário em alunos do Ensino Médio. Com isso, visamos 
propor um trabalho mais profundo da Literatura em contraponto ao ensino tradicional 
nessas séries, sendo geralmente voltado para o ENEM e vestibulares. 
Nota-se que o ensino da literatura brasileira no Ensino Médio, tanto nas 
escolas públicas como privadas, tem sido pautado apenas na preparação dos 
estudantes para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e para os vestibulares. 
Todavia, como já dissemos, a literatura, com sua representação do minimamente 
possível na narrativa, tem inúmeras funções e uma dela é enriquecer nosso 
imaginário com experiências através da leitura. Sendo São Bernardo um dos 
romances que costumam aparecer em questões do ENEM e vestibulares, este 
trabalho tem como premissa buscar outra perspectiva de trabalho da obra no Ensino 
Médio, por meio da verossimilhança como ferramenta para educação do imaginário. 
O papel da verossimilhança é retratar o minimamente possível, permitindo 
que o leitor viva experiências concretas pelo imaginário. Isso porque a medida que 
lemos criamos construções mentais baseadas em informaçõesobtidas através de 
experiências visuais prévias. Um dos passos a ser realizado para alcançar o objetivo 
geral da pesquisa é conceituar o que é verossimilhança, o que é imaginário e 
verificar a ligação entre os dois conceitos. O segundo dos objetivos específicos da 
pesquisa é analisar o romance São Bernardo, com o intuito de percebermos a 
verossimilhança literária em vários momentos da narrativa. Visivelmente nos leva 
11 
 
 
a analisar de qual modo a verossimilhança literária na obra São Bernardo de 
Graciliano Ramos pode contribuir para a construção do imaginário de alunos do 
terceiro ano do Ensino Médio. 
Levando em consideração que no Brasil, o ensino da literatura no Ensino 
Médio atualmente tem sido voltado para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) 
e para vestibulares. Devido a esse problema preocupante no ensino da literatura e 
importância da obra de Graciliano Ramos na cultura, essa pesquisa se justifica na 
compreensão de como a verossimilhança na obra São Bernardo de Graciliano 
Ramos pode ser uma ferramenta para educação do imaginário através da leitura, 
portanto, a literatura nos dá a possibilidade de vivenciar experiências que não são 
nossas. Tendo, por conseguinte, uma aproximação, incentivo e mais fácil acesso do 
estudante a esta e outras obras da literatura brasileira através da percepção de que 
ela fala sobre a realidade, tipos humanos reais e permite ao leitor adquirir muitas 
experiências maravilhosas usando a imaginação. Assim como apresentar aos 
professores uma perspectiva alternativa para o ensino literário a esses alunos. 
Este trabalho apresenta como base teórica uma pesquisa bibliográfica e, 
utilizando-se do método hipotético-dedutivo e visa aprofundar o conhecimento sobre 
o tema proposto para ser possível ampliar os entendimentos sobre métodos de 
ensino da literatura brasileira por professores do Ensino Médio. A pesquisa 
bibliográfica foi desenvolvida, em sua totalidade, através de leituras e fichamentos 
em diversos meios oficiais, como livros, artigos científicos e outros trabalhos 
importantes sobre o assunto tratado. 
12 
 
 
2 UMA VISÃO SOBRE VEROSSIMILHANÇA 
Pode-se dizer que a verossimilhança é a representação do minimamente 
possível no texto literário. Neste contexto, fica claro que o papel fundamental é a 
construção de realidades possíveis com base na realidade da experiência partindo 
da imitação de ações e paixões humanas em seus aspectos universais. O maior 
objetivo, portanto, é possibilitar através da poesia experiências que não são do leitor. 
Não é exagero afirmar que o poeta deve moldar possibilidades humanas em virtude 
da verossimilhança de acontecimentos minimamente possíveis e da necessidade 
causal entre os acontecimentos, isto é, da coerência (ARISTÓTELES, 2014). 
Pode-se afirmar que a verossimilhança é de suma importância para a 
construção do texto literário. Desse modo, para Warren e Wellek (2003), fica claro 
que a literatura, por meio da verossimilhança, representa tipos humanos em 
personagens ficcionais, esses tipos, logo, são referências a indivíduos reais da 
sociedade em que eles estão inseridos. 
Conforme explicado acima, o escritor, portanto, parte de vários casos da 
realidade, vidas que ele observa e suas próprias experiências, e a partir deles cria 
um símbolo que os representa. Desse modo, a história deve apresentar 
plausibilidade e as atitudes dos personagens devem ter coerência com os tipos 
humanos que elas simbolizam. 
No capítulo Introdução ao Verossímil, Todorov (2003) fala de dois níveis 
essenciais de verossimilhança. Primeiramente ele rejeita a concepção ―ingênua‖ de 
verossimilhança em que ela significa apenas ―consistente com a realidade‖. Oferece-
nos, então, uma definição mais complexa, tendo relação com a opinião pública e não 
com a realidade, não com a verdade da experiência, mas com o que a maioria das 
pessoas acredita ser a realidade. O autor deixa claro que cada gênero literário é 
concebido por seus próprios regimes de verossimilhança, consistentes com o que é 
normalmente considerado como verdadeiro para aquele gênero naquela época. 
Outro nível essencial de verossimilhança mencionada por Todorov é a 
inevitável, a lei absoluta sem a qual o enredo não funciona, aproximando da 
incoerência total, concordando com o que foi dito anteriormente por Aristóteles. Ou 
seja, o texto literário deve apresentar coerência com a realidade da experiência, 
13 
 
 
senão a narrativa se aproxima do não sentido. Fica claro que conforme mencionado 
pelo autor "[...] todas as palavras, todas as ações de um personagem têm de 
combinar numa verossimilhança psicológica – como se desde sempre julgássemos 
verossímil a mesma combinação de qualidades." (Todorov, 2003, p. 80). 
Desse modo, por exemplo, um personagem apresentado com transtorno de 
personalidade psicopata não pode de maneira alguma demonstrar empatia ou afeto 
verdadeira durante a narrativa, sabendo que a psicopatia se caracteriza pela 
ausência de empatia, compaixão, remorso e incapacidade de amar e de se 
relacionar com outras pessoas com laços afetivos. Conforme explicado acima a 
incoerência ao representar o tipo humano psicopata não permite que o leitor acredite 
que um personagem como esse no texto literário seja minimamente possível na 
realidade concreta. 
Os fatos de uma história não precisam ser verdadeiros, no sentido 
de corresponderem exatamente a fatos ocorridos no universo exterior ao 
texto, mas devem ser verossímeis; isto quer dizer que, mesmo sendo 
inventados, o leitor deve acreditar no que lê. Esta credibilidade advém da 
organização lógica dos fatos dentro do enredo. Cada fato da história tem 
uma motivação (causa), nunca é gratuito e sua ocorrência desencadeia 
inevitavelmente novos fatos (consequência). A nível de análise de 
narrativas, a verossimilhança é verificável na relação causal do enredo, isto, 
cada fato tem uma causa e desencadeia uma consequência. (GANCHO, 
2006, p. 12). 
A autora deixa claro na citação acima que a verossimilhança é parte 
essencial para o funcionamento da narrativa literária. Esse é o motivo pelo qual é 
importante frisar esse ponto, dado que, a ausência dela compromete o sentido, a 
lógica e a imersão do leitor no texto. Conforme citado acima a única nenhuma ação 
na narrativa acontece aleatoriamente, todo acontecimento tem uma motivação 
compatível com a personalidade dos personagens, e acarreta novos fatos em 
consequência consoante a lógica dos fatos. 
Sendo assim, a verossimilhança é a representação do minimamente possível 
segundo a realidade da experiência. Ela é uma ferramenta completamente 
necessária para a construção do texto literário. Ora, através da leitura construímos 
um mundo imaginário povoado de lugares, vivências e tipos de pessoas que 
constroem nosso caráter e nossa inteligência. Um bom livro, em que há 
verossimilhança e a realidade da experiência não é representada 
distorcidamente, nos permite aprender sobre a vida, sobre a sociedade e sobre nós 
14 
 
 
mesmos, de modo que venhamos nos afastar do que é mau e perverso e nos 
aproximar do que é bom e amável. 
15 
 
 
3 O IMAGINÁRIO 
Podemos conceituar o imaginário como sendo a capacidade de produzir 
imagens e associações que não são perceptíveis diretamente. Então, é preciso 
assumir que o imaginário apoia-se em experiências anteriormente percebidas. 
Certamente, podemos constatar que o papel do imaginário é, baseando-se na 
realidade da experiência, criar realidades hipotéticas num mundo interior do 
indivíduo que permita a prevenção de acontecimentos futuros e a partir disso se 
nortear para entendê-las. Segundo Laplatine e Trindade (2017), ―a determinação 
deste futuro virtual é acometida por uma imaginação transgressora do presente 
dirigida à consecução de um possível não realizável no presente, mas que pode vir a 
ser real no futuro‖. 
Como bem nos assegura Laplatine e Trindade(2017), pode-se dizer que o 
imaginário é uma ferramenta essencial para o ser humano entender o meio onde 
está inserido e a si mesmo como atuante na sociedade. Neste contexto, fica claro 
que através do imaginário podemos antecipar situações possíveis da realidade e nos 
orientarmos para lidar com o futuro possível. 
Conforme explicado acima é interessante, aliás, afirmar que o imaginário não 
é a negação do real, ou seja, não leva a loucura ou à ilusão, pois a ilusão é 
a confusão e distorção da coerência interna do imaginário, mesmo fundamentada 
no real passado ou futuro. Uma pessoa que vive na ilusão projeta seu mundo ilusório 
imaginário, com base no real já vivido ou futuro possível, e substitui sua realidade 
concreta negando o que é tangível e preciso. Isto é, se o imaginário deveria ser uma 
ferramenta para compreender realidades possíveis, a ilusão é a distorção da função 
original do imaginário, pois substitui a realidade concreta pelo imaginário ilusório. 
De acordo com Barros (2008), a função do imaginário é permitir ao homem 
entender o mundo e a si mesmo. O autor deixa claro e, seria um erro, porém, não 
atribuir ao imaginário a organização das experiências humanas através da 
simbolização, assim reveste-se de particular importância lembrar que o imaginário 
não é simplesmente uma criação do indivíduo, muito menos só uma criação social, 
mas tem sua origem nas camadas biológicas e históricas do ser, permitindo ao 
mesmo tempo personalidade, porém dentro de um contexto sociocultural. 
16 
 
 
O foco central do livro de Laplatine e Trindade conceitua de maneira mais 
geral o que é o imaginário e seu papel em diversas áreas como religião, ideologia e 
literatura. Todavia, fica claro que conforme mencionado pelo autor no livro 
organizado por João de Deus Vieira Barros o objetivo é ampliar a discussão 
apontando a função e importância do imaginário na educação. "Como processo 
criador, o imaginário reconstrói ou transforma o real" (LAPLATINE e TRINDADE, 
2017, p. 8). 
O imaginário, conforme explicado acima, nos permite criar realidades e 
mundos possíveis a partir de experiências prévias. A literatura, o cinema e as artes 
proporcionam uma bagagem de imagens que expandem o entendimento do mundo 
alimentando o imaginário. Ao assistir a um filme, por exemplo, o espectador pode 
viajar pode diversos lugares do planeta e culturas, que em vida ele jamais poderia 
conhecê-las por si mesmo. Pode-se até por meio do cinema e literatura, conhecer 
outros mundos e culturas que existem apenas na imaginação do autor em obras do 
gênero de ficção-científica. 
Também é importante notar que, de acordo com Wunenburger (2007, p. 44): 
Os enunciados e quadros de um imaginário veem-se substituídos e 
modificados pelas referências coletivas (dogmas religiosos, credos políticos, 
crenças coletivas sobre história, ideologia sociais etc.) que atuam 
conferindo-lhes uma credibilidade e uma autenticidade suplementares. O 
imaginário de um indivíduo é, por exemplo, inseparável dos grandes 
símbolos e mitos políticos que modelam as suas representações sociais 
etc.[...]. 
O autor deixa claro que o imaginário se refere às experiências prévias do 
coletivo de modo hipertextual, isto é, cada imagem, gerada pelas concepções 
históricas, religiosas e ideológicas, leva a outra imagem se complementando. Em 
outras palavras, podemos dizer que os símbolos e mitos que povoam a mente do 
coletivo de um país ou uma região são inseparáveis do seu povo e constroem a 
identidade individual e modelam a atuação no meio social de todos. 
Portanto, o imaginário é o nosso mundo interior de imagens formadas por 
símbolos, referências e mitos que povoam a mente das pessoas. Essas imagens 
podem ser adquiridas através de experiências vividas ou da cultura, arte e literatura. 
O imaginário de um povo ou de um indivíduo pode capacitar-nos a prever situações 
futuras, como dramas humanos, crises políticas e até avanços científicos. 
17 
 
 
Nesse contexto, podemos traçar um paralelo entre o imaginário e a 
verossimilhança literária, pois pela literatura adquirimos bagagem imagética, 
podendo viver situações que na realidade de uma vida longa não poderíamos vivê-
las todas. Sendo assim, é importante que o texto literário procure retratar mundos 
virtuais minimamente possíveis e dramas humanos minimamente possíveis, 
concedendo-nos ferramentas para entender o meio e a nós mesmos através de 
experiências que adquirimos ao ler um bom livro. 
18 
 
 
4 ASPECTOS DE VEROSSIMILHANÇA NO ROMANCE SÃO BERNARDO 
O romance São Bernardo foi publicado em 1934 e é o segundo romance 
escrito por Graciliano Ramos. O romance nos conta em primeira pessoa as 
memórias de Paulo Honório, dono da propriedade de São Bernardo. O modo como 
nos é contada a história nos traz mais perto do protagonista e de acreditar que a 
história poderia ter acontecido, pois, o narrador utiliza a variante linguística bem 
próxima da regional de Alagoas. Além disso, sentimos a angústia de Paulo Honório 
ao nos contar seus arrependimentos na vida, principalmente na questão sobre o fim 
trágico de sua esposa Madalena. Ele revela ser constantemente atormentado: "Na 
torre da igreja uma coruja piou. Estremeci, pensei em Madalena." (RAMOS, 2009, p. 
5). 
Apesar de sentirmos o remorso de Paulo Honório, também podemos perceber 
traços narcisistas em sua personalidade durante a história. Paulo Honório trata as 
pessoas, mesmo as mais instruídas e de moral mais elevada que ele com bastante 
desprezo, beirando a desumanização. Com uma pontada de cinismo, Paulo Honório 
parece estar conversando com o leitor, e, na maioria das vezes, não se percebe 
culpa em seus dizeres. Isso até os últimos capítulos onde parece estar arrependido 
com o rumo que seu casamento com Madalena tomou. 
Podemos perceber um exemplo dos traços narcisistas em Paulo Honório 
neste momento em que fala do seu desprezo por João Nogueira enquanto o bajula 
com interesses em suas habilidades: 
Eu tratava-o por doutor: não poderia tratá-lo com familiaridade. Julgava-me 
superior a ele, embora possuindo menos ciência e menos manha. Até certo 
ponto parecia-me que as habilidades dele mereciam desprezo. Mas eram 
úteis — e havia entre nós muita consideração. (Ibidem, p.20). 
Nota-se outro exemplo de narcisismo no capítulo 11, em que Paulo Honório 
confessa ao leitor: "Quanto ao Padilha, eu sentia prazer em humilhá-lo mostrando-
lhe os melhoramentos que introduzia na propriedade." (Ibid., p. 25). 
Em outros momentos da narrativa, Paulo Honório diz não ter remorso pelas 
coisas que fez para ter sucesso na vida. Muito pelo contrário, demonstra muito 
orgulho de seus feitos. 
Ninguém imaginará que, topando os obstáculos mencionados, eu haja 
procedido invariavelmente com segurança e percorrido, sem me deter, 
19 
 
 
caminhos certos. Não senhor, não procedi nem percorri. Tive abatimentos, 
desejo de recuar; contornei dificuldades: muitas curvas. Acham que andei 
mal? A verdade é que nunca soube quais foram os meus atos bons e quais 
foram os maus. Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins 
que deram lucro. E como sempre tive a intenção de possuir as terras de S. 
Bernardo, considerei legítimas as ações que me levaram a obtê-las. 
(RAMOS, 2009, p.18). 
Graciliano Ramos coloca sutilezas em seus personagens que os torna mais 
possíveis. Lemos e, mesmo que o enredo se passe nos anos 30, sentimos que cada 
personagem seria possível de se encontrar por aí. O leitor atento notará que o autor 
deixa claro que Madalena não é uma donzela indefesa e frágil nas mãos de Paulo 
Honório. Ela, apesar de demonstrar hesitação diante da proposta do bem-sucedido 
fazendeiro Paulo Honório, percebeu a vantagem ao aceitar sua proposta de 
casamento. Como podemos observar no trecho: 
"— O seu oferecimento é vantajoso para mim, seu Paulo Honório, murmurou 
Madalena. Muito vantajoso. Mas é preciso refletir.[...] A verdade é que sou pobre 
como Jó, entende?" (RAMOS, 2009, p. 36). 
Sabemos que muitos críticos literários têm a tendência de marcar os 
personagens da ficção com rótulos ideológicos, simplificando as personalidades à 
machista ou feminista, bom ou mau, progressista ou conservador. Todavia, é 
importante lembrar que o ser humano é complexo e vai muito além disso. Graciliano 
Ramos como um escritor excelente retrata essas nuances dos tipos humanos. Em 
boa parte do romance, Paulo Honório parece ser um homem totalmente frio, 
narcisista, repugnante e sem sentimentos, porém ao final vamos notando que ele 
sente culpa e arrependimento de sua maldade ter causado o fim trágico de 
Madalena: 
E pensava em Madalena. Creio na verdade que a lembrança dela sempre 
esteve em mim. O que houve foi que, na atrapalhação dos primeiros dias, 
confundiu-se com uma chusma de azucrinações diferentes umas das 
outras. Mas quando essas azucrinações se tornaram apenas um sedimento 
no meu espírito, veio à superfície. Raramente conseguia agitar-me e 
dissolvê-la: recompunha-se logo e ficava em suspensão. E os assuntos 
mais atraentes me traziam enfado e bocejos (Ibidem, p.72). 
Em outro momento, Paulo Honório demonstra compaixão por Mãe 
Margarida, negra que o criou quando os pais o abandonaram. Ele a traz para morar 
em São Bernardo como gesto de gratidão: 
Pecados! Antigamente era uma santa. E agora, miudinha, encolhidinha, com 
pouco movimento e pouco pensamento, que pecados poderia ter? Como 
20 
 
 
estava com a vista curta, falou sem levantar a cabeça, repetindo os 
conselhos que me dava quando eu era menino. Uma fraqueza apertou-me o 
coração, aproximei-me, sentei-me na esteira, junto dela. 
— Mãe Margarida, procurei a senhora muito tempo. Nunca me esqueci. Foi 
uma felicidade encontrá-la. E carecendo de alguma coisa, é dizer. Mande 
buscar o que for necessário, mãe Margarida, não se acanhe. (RAMOS, 
2009, p.23) 
Como podemos perceber, Paulo Honório é um personagem complexo. Ele foi, 
ao longo da trama, uma pessoa horrível, principalmente para Madalena, inclusive a 
levando à depressão e ao suicídio. Contudo, conseguimos sentir que o personagem 
não é totalmente mau a ponto de só poder existir nas páginas de um livro. Essa 
complexidade torna o personagem completamente possível à realidade, ou seja, 
verossímil. 
De modo algum estamos defendendo Paulo Honório; sua brutalidade e falta 
de empatia com Madalena são inegáveis. Ele não a compreende, nem quer 
compreender. Paulo Honório só enxerga o casamento com Madalena como apenas 
um acordo de negócios. Contudo, reduzir a relação matrimonial de personagens tão 
bem estruturados a rótulos ideológicos preestabelecidos é simplificar o ser humano 
como se ele fosse uma forma geométrica de duas dimensões desenhada em uma 
folha de papel. Porém, ao contrário dos críticos literários ideólogos pensam, 
podemos notar conforme citado anteriormente que "na verdade Madalena se 
interessa pela união porque tem plena consciência do que isso representa em 
termos de ascensão social." (GURGEL, 2019, p. 152) 
Outro aspecto de verossímil presente no texto de São Bernardo é a 
representação do período conturbado da década de 1930 no Brasil. Apesar de este 
não ser o assunto central do romance, a revolução de 30 e as preocupações 
políticas do período aparecem como plano de fundo e influenciam a narrativa. Está 
presente entre os personagens o medo do comunismo, o medo de que a 
propriedade privada fosse tomada pelos revolucionários. Parece uma assombração 
que permeia São Bernardo. O leitor pode sentir ao longo da narrativa que a 
revolução vem se aproximando cada vez mais da propriedade de São Bernardo. Os 
elementos sociais e econômicos da década de 30 estão retratados de forma que 
conseguimos imaginar a pobreza e as dificuldades do trabalhador rural daquela 
época; sentimos o anseio por mudança em alguns e o medo da mudança em outros. 
21 
 
 
— Para quê? A facção dominante está caindo de podre. O país naufraga, 
seu doutor. É o que lhe digo: o país naufraga. 
Passei-lhe uma garrafa e informei-me: 
— Que foi que lhe aconteceu para o senhor ter essas ideias? Desgostos? 
Cá no meu fraco entender, a gente só fala assim quando a receita não 
cobre a despesa. 
Suponho que os seus negócios vão bem. 
— Não se trata de mim. São as finanças do Estado que vão mal. As 
finanças e o resto. Mas não se iludam. Há de haver uma revolução! 
(RAMOS, 2009, p 54) 
É notável o medo de que uma revolução comunista se estabeleça, 
modificando completamente as estruturas da sociedade: 
— Era o que vocês queriam. Teremos o comunismo. 
D. Glória benzeu-se e seu Ribeiro opinou: 
— Deus nos livre. 
— Tem medo, seu Ribeiro? perguntou Madalena sorrindo. 
— Já vi muitas transformações, excelentíssima, e todas ruins. 
— Nada disso, asseverou padre Silvestre. Essas doutrinas exóticas não se 
adaptam entre nós. O comunismo é a miséria, a desorganização da 
sociedade, a fome. (Ibidem, p.54) 
Em outros momentos na obra surgem discussões entre os personagens 
acerca da revolução. Por conta da corrupção, miséria e falência da política, há um 
grande desejo por mudança no cenário político durante a narrativa, porém há 
aqueles que preferem a manutenção do status quo a uma possível ditadura do 
proletariado. 
Portanto, podemos perceber neste capítulo alguns aspectos de 
verossimilhança no texto do romance São Bernardo de Graciliano Ramos como a 
representação de tipos humanos possíveis, fugindo de estereótipos e simplificações; 
a representação da variação linguística do sertão de Alagoas; assim como as 
características socioeconômicas e políticas dos anos conturbados de 1930, nos 
quais acontecia uma revolução de políticos e tenentes visando pôr fim no sistema 
oligárquico através da luta armada. Entretanto, devo dizer que nosso objetivo neste 
capítulo não consiste me esgotar o tema ou elaborar uma análise profunda do texto, 
mas apenas demonstrar a verossimilhança em alguns pontos específicos do 
romance São Bernardo. 
22 
 
 
5 DISCUSSÃO 
Este trabalho teve como propósito compreender de que modo 
a verossimilhança no romance São Bernardo da autoria de Graciliano Ramos pode 
contribuir para a educação do imaginário de alunos do Ensino Médio. A suposição 
elaborada a partir do problema foi que a percepção pelos alunos do Ensino Médio de 
que São Bernardo fala da realidade, de tipos e dramas humanos possíveis, pode ser 
outra perspectiva de trabalho da literatura brasileira em contraponto ao ensino 
voltado apenas para o ENEM e vestibulares. 
Segundo Frye (2017), mesmo que vivêssemos uma vida longa não 
poderíamos ter todas as experiências que a imaginação humana pode proporcionar. 
Contudo, só a literatura consegue nos realizar toda a dimensão da imaginação 
humana em sua imensidão. Sendo assim, o autor deixa claro o papel da educação 
do imaginário através do estudo da literatura para enriquecer a experiência humana. 
Ficou claro neste trabalho que a verossimilhança é a representação do 
minimamente possível em uma narrativa literária. Tanto os tipos humanos como os 
dramas humanos devem ser possíveis na realidade da experiência, assim como 
deve haver coerência nas atitudes, acontecimentos, modo de falar e contexto para 
que a narrativa seja aceitável como possível. Isto é, o papel da verossimilhança em 
um texto literário é tornar a narrativa plausível ao leitor, para que dessa maneira o 
leitor viva através da imaginação situações que possam ser condizentes com a 
realidade da experiência. 
Vale destacar, por exemplo, que se uma narrativa se passa inteiramente no 
sertão, não poderia apresentar características de uma região tropical. Assim 
também, quando encontramos na história um personagem essencialmente honesto 
e gentil, ele não poderia cometer atos cruéis e injustos sem alguma explicação 
plausível ao longo da narrativa. O enredo verossímil é aquele que se aproximada 
verdade, mas não necessariamente conta a verdade. O escritor busca convencer o 
leitor a acreditar em sua história, acreditar que ela poderia ter acontecido realmente. 
Por esse motivo, conforme explicado acima, Todorov (2003) fala que tudo que 
um personagem diz e faz necessita ser coerente com as características psicológicas 
do desse personagem, como se desde muito antes o leitor já aceitasse como 
23 
 
 
possível as combinações de tais características. Haja vista, os personagens e 
situações devem convencer o leitor como depoentes num tribunal tentam convencer 
o juiz e os jurados de que suas versões são verdadeiras, mesmo não sendo. 
Ficou claro também que o imaginário é a capacidade de criar mentalmente 
imagens, concepções e relações, a partir de experiências anteriores, que não são 
percebidas diretamente. Sendo assim, o papel do Imaginário é, baseando-se na 
experiência, criar realidades e situações hipotéticas permitindo ao indivíduo prevenir 
futuros possíveis e a partir disso orientar-se em tomadas de decisões ou na lida de 
questões existenciais possíveis. 
Podemos ressaltar, por exemplo, que o enriquecimento do imaginário não é 
necessariamente formado só por experiências vivenciadas na realidade da 
experiência, ou seja, não é formado somente por situações nas quais o sujeito 
realmente participou, mas pode ser preenchido por experiências obtidas através da 
arte, do cinema e, principalmente, da literatura. 
Conforme explicado acima, Frye (2017) diz que estudar a formação do 
imaginário é de grande importância por ele nos torna mais tolerantes, dado que, 
através da imaginação, começamos a enxergar as possibilidades daquilo que os 
outros acreditam. Utilizando a literatura como ferramenta de construção do 
imaginário, nos afastamos dos fatos como eles realmente aconteceram e 
entendemos as possibilidades das crenças alheias. O distanciamento imaginativo 
produz a tolerância. 
Podemos observar algumas características que tornam a história de São 
Bernardo minimamente possível e coerente com a realidade da experiência. 
Notamos através de alguns trechos as complexidades dos personagens principais, 
que agem com coerência segundo suas combinações de características da 
personalidade. O contexto histórico dos anos 1930 e como os personagens estão 
inseridos nele são totalmente plausíveis. Assim como a maneira que a narrativa foi 
escrita em primeira pessoa como as memórias de Paulo Honório, um personagem 
de origem alagoana e portando o texto é carregado de expressões da variante 
linguística características da região. 
As mudanças que ocorrem no comportamento de Paulo Honório ao longo da 
narrativa, por exemplo, fazem parte da jornada de vida do personagem que está 
24 
 
 
contando seus arrependimentos e não arrependimentos. Não é de maneira alguma 
algo jogado na trama sem sentido, pois Paulo Honório, mesmo parecendo 
insensível, narcisista, possessivo e bruto a princípio, podemos notar sutilmente 
alguma capacidade de sentir compaixão por Mãe Margarida que o criou desde 
menino quando os pais dele o abandonaram e isso vai se desenrolando até a 
confissão de seu remorso pelo triste fim de Madalena. 
Portanto, conforme explicado acima, para Todorov (2003), a verossimilhança 
não se trata de dizer a verdade ou contar as como tudo realmente aconteceu, mas 
se trata de se aproximar do real, ou dar a impressão de que tudo que se conta 
poderia ser real e essa impressão se fortalece à medida que o narrador é mais 
habilidoso em narrar. Nota-se, então, ao ler São Bernardo, como Graciliano Ramos é 
um narrador muito habilidoso, por nos fazer acreditar desde o início do livro que as 
memórias contadas poderiam ser reais, tudo é tão crível que nos faz sentir 
compaixão, raiva, pena, tristeza e espanto a cada página. Sentimo-nos como leitores 
participantes daquela história. 
Diante de tudo que foi apresentado, podemos notar como o romance São 
Bernardo pode contribuir para a educação do imaginário de alunos do Ensino Médio. 
Sabemos que a representação do minimamente possível numa narrativa literária tem 
papel fundamental para a formação do imaginário, o qual depende de experiências 
prévias para que o indivíduo construa pela imaginação referências e associações 
que o ajude a entender a existência humana, a sociedade em que vive e o ajude a 
lidar com situações possíveis em sua própria vida. 
O enredo de São Bernardo por se tratar de temas universais da existência 
humana, como relacionamentos abusivos, depressão, ciúmes e ganância, torna-se 
romance uma excelente fonte de vivências que podem formar no imaginário de um 
adolescente a capacidade de prevenir situações semelhantes e também 
compreender o próximo que passa por tais problemas. 
Entretanto, para que o professor desperte no aluno do Ensino Médio o desejo 
de enriquecer o imaginário através da literatura, é necessário parar de impor ao 
estudante o peso da exigência da leitura e abandonar a ideia de que a leitura de um 
livro sirva somente para que o aluno se saia bem na prova ou para aprender a 
escrever melhor. O ato de ler é muito mais do que isso. 
25 
 
 
A obrigação de ler imposta pela escola destrói o amor de muitos adolescentes 
pela leitura. Até mesmo aqueles adolescentes criados em uma casa onde a leitura 
era um momento divertido com os pais e acontecia desde a mais tenra infância 
acaba por destruída pela obrigação de ler. Muitos professores e alunos têm "se 
esquecido, por exemplo, que um romance conta antes de tudo uma história" 
(PENNAC, 1993, p. 113). 
Diante disso, é possível afirmar que a verossimilhança no romance São 
Bernardo escrito por Graciliano Ramos pode contribuir para a educação do 
imaginário de alunos do Ensino Médio. Todavia, para isso é preciso que a literatura 
seja trabalhada de maneira diferente da tradicional pelos professores. É preciso 
lembrar, por exemplo, que lemos um romance para viver a história e vivemos a 
história imaginando cada situação contada pelo autor. Portanto, o professor, em vez 
de exigir a leitura, poderia partilhar sua experiência e felicidade de ler. 
26 
 
 
6 CONCLUSÃO 
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma compreensão do 
papel da verossimilhança na narrativa literária, do imaginário na formação intelectual 
do indivíduo e como a verossimilhança no romance São Bernardo de Graciliano 
Ramos se encaixa nessa função da formação do imaginário de estudantes do 
Ensino Médio. Além disso, também permitiu uma reflexão sobre os problemas do 
ensino de literatura para alunos do Ensino Médio. 
De modo geral, percebe-se que Graciliano Ramos aborda em São Bernardo 
questões universais que cercam a sociedade e o ser humano. Ao lê-lo notamos que 
uma tragédia como a de Paulo Honório e Madalena poderia acontecer de verdade 
em qualquer era da existência humana. São Bernardo deveria ser trabalhado na 
escola, mas de modo que essas características e funções que a obra pode ter para a 
educação do imaginário sejam exploradas. 
Dada à importância do tema, torna-se necessário uma mudança 
na abordagem utilizada para apresentar a literatura aos alunos do Ensino Médio. 
Para próximas pesquisas sugere-se o foco em planos didáticos que priorizem o 
compartilhamento da experiência de leitura e a vivência de histórias, em vez de a 
simples obrigação de ler porque, por exemplo, o vestibular exige que se conheça 
aquela obra, ou porque o professor acredita que aquele livro é importante. 
Nesse sentido, o gosto pela leitura não vem pela obrigação, mas pela 
felicidade de viver possibilidades além de nossa existência através das páginas de 
um livro. Quando o professor partilha sua felicidade de ler, motiva os alunos a 
procurarem por conta própria viver a mesma experiência. 
27 
 
 
REFERÊNCIAS 
ARISTÓTELES. Arte poética. São Paulo: Poeteiro Editor Digital, 2014. 43 p. 
Disponível em < https://docero.com.br/doc/e0xv0xs>. Acesso em 22nov. 2021. 
BARROS, João D. D. V (org.). Imaginário e educação. São Luis: EDUFMA, 
2008. 
FRYE, Northrop. Imaginação educada. Campinas: Vide Editorial, 2017. 
GANCHO, Cândida V. Como analisar narrativas. São Paulo: Editora Ática, 
2006. 
GURGEL, Rodrigo. Percevejos, ideólogos — e alguns escritores. 
Campinas: Vide Editorial, 2019. 
LAPLATINE, Francois; TRINDADE, Liana. O que é imaginário. Tatuapé: 
Editora Brasiliense, 2017. 
PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco, 1993. 
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. Rio de Janeiro: Editora Record, 2009. 
TODOROV, Tzevetan. Poética da prosa. 1ª. ed. São Paulo: Martins Fontes, 
2003. 
WARREN, Austin; WELLEK, René. Teoria da literatura e metodologia dos 
estudos literários. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
WUNENBURGER, Jean-Jacques. O imaginário. São Paulo: Edições Loyola, 
2007.

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