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TEXTOS UNIVERSITÁ RIOS Cecília S. Fernandez Nilson C. Bernardes Jr. Introdução às Funções de uma Variável Complera 0 P(V) C soCIEDADE BRASILEIRA DE MATEMÁTICA 1 Numeros Complexos 1 Introdução Os números complexos surgiram no século 16, motivados pelo interesse em se calcular soluções de equações polinomiais. Por um longo tempo, eles não foram considerados como números legítimos, mas existentes apenas na imaginação humana. E interessante observar que ainda hoje chamamos o número complexo i = -I de "algarismo imaginário'". O passo decisivo no sentido de formalizaro conceito de número complexo foi a representação geométrica desses números como pontos do plano. O primeiro matemático a ter uma visão clara de tal representação e explorá-la em suas investigações foi Gauss, conforme fica claro, embora de modo implícito, em sua dissertação escrita em 1797. Todavia, Gauss expôs ao público suas idéias a esse respeito de modo explícito apenas em 1831, com o propósito de introduzir os "inteiros Gaussianos". O corpo dos números complexos C foi finalmente definido de modo rigoroso por Hamilton em 1837. A famosa fórmula de Bh�skara (século 12) -bt Vb2 - 4ac 2a para o cálculo das soluções da equação do 2 grau a2+br +c= 0 (a # 0), que na verdade já era conhecida pelos babilônios há quase 2000 anos a.c., nos mostra que uma tal equação sempre possui soluções em. Um fato notavel sobre os números com- plexos é que toda equação polinomial não constante com coeficientes reais (ou complexos) possui pelo menos uma soluç�ão em C. Este fato, conhecido como teorema fundamental da agebra, foi provado por Gauss em 1797. Apresentaremos uma demonstração deste teorema no Capítulo 5. NumerOs Commplexos Cap. 1 Na Seção 2 definimos de modo rigoroso os numeros complexos e apresentam aginário ie ex- plicamos como a definição formal de número complexo se relaciona com a represent. amos apresentamos súas propriedades aritméticas básicas. Além disso, definimos o algarismo imaginário ntação desses números na forma a +yi (x e y reais), que éa forma como normalmente trabalha com eles. lor absoluto de um número complexo. Também estabelecemos diversas propriedades deso conceitos, incluindo a desigualdade triangular. Na Seção 4 definimos o conceito de argumento e apresentamos a forma polar de um número complexo. Na Seção 3 definimos os conceitos de parte real, parte imaginária, conjugado e val.. ses Na Seção 5 consideramos o problema de extração de raizes de numeros complexos Mostramos que todo número complexo não nulo possui exatamente n raízes n-ésimas dis- tintas, para cada n E N', e exibimos uma fórmula para o cálculo dessas raízes. Nas Seções 6 e 7 introduzimos os conceitos de exponencial e de logaritmo para números complexos, e estabelecemos algumas de suas propriedades. Na Seção 8 definimos e estudamos as potências com expoentes complexos. 2 O corpo dos números complexos Definimos o corpo dos números complexos como sendo o conjunto C= {(7,y):r¬ Reye R}, com as seguintes operações de adição e multiplicação: se z = (r,y) e w = (a, b) perten- cem a C, então z+w = (s +a, y + b) e zuw = (xa- Yb, zb + Ya). (1) Os elementos de C são chamados de números complexos. Denotamos o número complexo (0,0) simplesmente por 0 e o número complexo (1,0) simplesmente por 1. Para caua z = (r,y) E C, definimos -z = (-z,-y) e + 2+yT2+?) se z #0. O númeroz também é denotado por - ou 1/z. Proposição 1. As seguintes propriedades se verificam para quaisquer z, w,t E (a) z +(w +t) = (z +w) +t (associatividade da adição). O corpo dos numeos complexos 3 alz+w = w+z(comutatividade da adicão) c)0+z = z (elemento neutro) d)z +(-z) = 0 (elenmento oposto). (e) z(wt) =(zw)t (associatividade da multiplicação). ( zw = wz (comutatividade da multiplicação). (g)lz= z (elemento unidade). (h) zz=1 se z # 0 (elemento inverso). 6) z(w +t) = zw + zt (distributividade da multiplicação em relação à adição). Demonstração. Todas as propriedades acima decorrem diretamente das definições das operações de adição e multiplicação em C. Por esta razão, provaremos apenas o item (a) e deixaremos os demais como exercício (veja EP 1). (a): Se z = (,y), w = (a,6) et = (c, d), então z+ (w+t) = (z, v) + (a+c,b+d) = (r + (a + c), y + (b+ d) = ((r +a) +c, (y +b) + d) = (r +a, y + b) + (c, d) = (z+w) +t, onde usamos a associatividade da adiçãão de números reais. Tendo definido as operações de adição e multiplicação em C, definimos as operações ae subtração e divisão da maneira usual: dados z, w E C, e = zw se w#0. z- w = z +(-w) W disso, a potenciação também é definida da maneira usual: =1, z" =z.. e = sez #0 (n2 1). n-vezes n-vezeS re So válidas para números complexos. Por exemplo, a soma e o produto de duas frações Corre da Proposição 1 que diversas propriedades das operações aritméticas de números 2/w2 de números complexos podem ser obtidas pelas fórmulas 2 21W2 + 22w1 w1W2 1 22 2122 w1w2 e W1 W2 W1 W2 Números Complexos Cap. exatamente como ocorre no caso real (veja EP 3). DestacamoS outras propriedadas exercícios ER 1 e EP 2. 4 opriedades nos Um conjunto no qual estão definidas uma operação de adiçao e uma operação de muls orpo. por que muitas vezes R é chamado corpo dos números reais ee chamado corpo doo a multi- plicação satisfazendo as propriedades mencionadas na Proposição 1 é chamado um co Por esta razão é que chamamos C de corpo dos números complexos. Isto também explina a s números racionais. A Teoria dos Corpos é um ramo da Algebra Abstrata, e assim está fora do objetivo do presente livro. Aqui, Q, ReCserão os únicos corpos que nós encontraremos O leitor certamente lembra de ter visto no ensino médio os nümeros complexos como sendo os "números" da forma +y0, onde c e y são números reais e i é um "algarismo imaginário , que satisfaz à estranha igualdade 2 = -1. Vejamos como obter tal representação dos números complexos. Pti- meiramente, denotamoso número complexo (7, 0), com r E R, simplesmente por t. Note que isto está de pleno acordo com o que já fizemos com o elemento neutro 0e o elemento unidade 1 (0 = (0,0) e l=(1,0). Em outras palavras, fazemos a seguinte convenção: (2) = (x,0) para todo z E R. Dessa forma, passamos a ver R como um subconjunto de C, ou seja, todo número real é considerado um número complexo. A princípio, a inclusão R CC pode gerar uma certa ambigüidade: dados a E Rea E R, o que entendemos por T+a e ca? A soma eo produto dos números reaisrea ou a soma e o produto dos números complexos tea? A resposta é que tanto faz, uma vez que os valores são os mesmos. De fato, (r,0) +(a,0) = (r +a,0) = r +a (r,0)(a,0) = (xa - 0 0, 0+0 a) = (xa, 0) = rca, por (1) e nossa convenção (2). Agora, note que (0,1)2 = (0,1)(0, 1) = (-1,0)= -l ou seja, o número -1 possui uma "raiz quadrada" em C! O número complexo (0,1) * denotado por i e é chamado de algarismo imaginário. Assim, temos a propriedade basia do algarismo imaginário: 2=-1. (3) Finalmente, dado um número complexo qualquer z = (:,y), temos z = (7,y) = (7,0) + (0, y) = (r,0) + (y,0)(0, 1), 5 Conjugadoe valor absoluto isto é. z = t+ Yi. (4) Logo, o par (T, y) e a expressao z+ yi representam o mesmo número complexo. A ex- pressão (4) é chamada a forma algébrica de z; essa é a forma na qual os números complexos são usualmente denotados. Sempre que tomarmos um número complexo na forma z =r + yi assumiremos impli- citamente que r e y são nümeros reais. Observamos que com a forma algébrica não precisamos nos preocupar em memorizar as definições de z +we zw dadas em (1). De fato, basta usarmos algumas das propriedades da adiçãoe da multiplicação em C já apresentadas: se z = r+yie w = a+bi são numeros complexOs, então z +W = (r + yi) + (a + bi) = r +a + yi + bi = (x + a)+(y+b) e zw = (r + yi)(a + bi) = ra + yia + rbi+ ybi = (ra - yb) + (xb + ya) i. 3 Conjugado e valor absoluto 3 Dado um número complexo z = r + yi, definimos a parte real e a parte imaginária de por Rez = r e Imz = y respectivamente. Quando Rez = 0, dizemos que z é imaginário puro. Como um número complexo z = r+yi é o par ordenado (r, y), podemos representá-lo graficamente como o ponto do plano cartesiano de abscissa r e ordenada y, ou comoo vetor que liga a origem a este ponto (Figura 1). Neste contexto, chamamos o plano cartesiano de plano complexo, o eixo dos r de eixo real e o eixo dos y de eixo imaginário. Im z = (x,y) X Re z Figura 1 Números Complexos Cap. 1 Abaixo indicamos as interpretações gráficas da adição e da subtração de números con plexos. om- Z+ w W Z - w Figura 2 Definimos o conjugado de um número complexo z = t + yi como sendo o número complexo Z -yi. Graficamente, z é o ponto do plano complexo obtido através da reflex�ão de z em relação a0 eixo real (Figura 3). Proposição 2. As seguintes propriedades se verificam para quaisquerz, w E C: (a) =z, z tw = te zu = zk. (b) z/w Z/W se w #0. (c) z + = 2 Rez ez-z= 2i Im z. (d) z E R se e somente se z = z. (e) z é inmaginário puro se e somente se z = -z. Demonstração. Provaremos apenas que z +w =z+ we deixaremos a demonstração das demais propriedades ao leitor (veja EP 6). De fato, se z = s + yie w =a+bi, então z+ = (T +a) +(y +b}i = (r + a)- (y +b)i = z+w. Através da noção de conjugado, podemos deduzir a expressão do inverso de um número complexo z = a + yi # 0 da seguinte maneira: - - y $3 Conjugadoe valor absoluto 7 O valor absoluto (ou módulo) de um número complexo z = r +yi é definido por a=r2+ Graficamente, o número real |z| nos dá o comprimento do vetor correspondente a z no plano complexo (Figura 3). Mais ainda, |z -wé a distância entre os pontos do plano que representam z e w. Z Z * Figura 3 Proposição 3. As seguintes propriedades se verificam para quaisquer z, w E C: (a) Rez |Re z| < |a| e Imz < | Imz|< |z (b)lal= z2E, |z| = |a| e lzwl = |z||ul (c) la/wl = lal/|w| se w #0. (d) la +wl |zl + |uw. (e) lz+2 ||2l-|wl|. A desigualdade (d) é conhecida como desigualdade triangular. Demonstração. Provaremos apenas as duas últimas propriedades, deixando as demais para o leitor (veja EP 9). (d): Afirmamos que z+w= |z|2 + 2 Re(z0) + |u|. (5) Com efeito, z +w = (z+ w)(z + w) = (z +w)7 +w) = z + zk + wz +w = 27 + 20+ 2W + ww = |+2 Re(zu) + w|, COnplexOS Cap. onde usamos o item (b) e a Proposição 2. Como +2 Re(z0) + |uls Il+22m|+ Ju2 = l+2||w| + Jw|" = (l2| + Ju|)2 (pelos itens (a) e (b), segue de (5) que la +u((zl + Jul). Extraindo as raízes quadradas de ambos os lados da desigualdade acima obtemos . gualdade desejada. (e): Pela desigualdade triangular, desi- z= |(2 + u) - wl z + w+|--w| = lz + w +lw, donde z+w 2 zl- |w|. Trocando os papéis de z e w na desigualdade acima, obtemos Como |- |wl| = lzl - Jwl se lz| 2 lwle ||a] - |w|| = |w - |z| se lwl 2 |z], vemos que em qualquer caso, jz -+w2 ||z|- w. Se z # 0, a Proposição 3(b) implica que (6) -= lz|2 Em particular, z Z se lz| =1. A identidade (6) mostra como z e z se con aram graficamente: z aponta na direção de z e tem valor absoluto 1/|z| (Figura 4). 1/z Figura 4 9 S4 A forma polar 4 A forma polar Consideremos um número complexo z =r +yi # 0. Seja 6o o ângulo que o eixO real positivo forma como vetor correspondente a z no sentido anti-horário (Figura 5). Figura 5 Como cos Go = r/|z| e senGo = y/|z], temos que = z|(cos do +i sen do). Assim, é sempre possível representar z na forma (7) = lal(cos 0+i sen ), onde E R. Uma tal representação é chamada uma representação polar de z. Se 0 E R satisfaz (7), dizemos que 6 é um argumento de z. Assim, 6 é um argumento de z. Entretanto, qualquer 0 da forma 6o +2kT, comke Z, também satisfaz (7). Em particular, z possui infinitos argumentos. Por outro lado, se 0 satisfaz (7) então cos = cos o e sen= sen Gg, o que implica que 6 = 6o t 2kT para algum k e Z. Assim, o conjunto arg z de todos os argumentos de z é dado por argz = {0o +2kr: ke Z}. Por exemplo, 1+i= v2 (cos+isen ) e 1+i = V2 (cos +isen são representações polares do número 1+i, note que arg(1+i) = {r/4+ 2kT : k E Z} O único argumento dez que pertence ao intervalo (-T, T| é chamado o argumento principal de z e é denotado por Arg z. Por exemplo, T T Argi = Arg(-1-i) = -e Arg(-2) = T. 4 10 A identidade a = |z|(cos Argz + isen Arg z) é chamada aforma polar de 2. Sejam representações polares de dois números complexos não nuloS e w. Vamos an representações polares para z e zw. Por (6), = la|(cos + i sen 0) e w = lw|(cos + i sen ) obter 9 z= |a|(cos(-0) + isen(-4)]. Além disso, zw = |z||uw|(cos 6+isen 6) (cos b + i sen b) = |=||w|[(cos0 cos sen & sen )) + i(cos 6 seny + sen & cos b)], donde concluímos que 20 = lz||w|[cos(6 +6)+i sen(9 + )]. (10) Esta igualdade nos dá a interpretação gráfica do produto de dois números complexos: zw tem valor absoluto |a||w| e tem &+b como um argumento (Figura 6). Definindo -A = {-a; a ¬ A} e A+B = {a + b; a E A ebEB} (A, B CC), decorre das fórmulas (9) e (10) que arg(z ") = -arg z e arg(zw) = arg z + arg w. (11) Porém, n�o é sempre verdade que Arg(z1) = - Arg z nem que Arg(zw) = *"b Arg w (veja ER 9). De (9) e (10) obtemos que rgz f z = \z"[cos(nb) + i sen(n0)) para todo nE Z. No caso em que |z| = 1, a igualdade (12) nos diz que (12) cos +i sen 6)"= cos(n6) + i sen(nt0). Esta igualdade é conhecida como a fórmula de De Moivre. (13) Extração de raízes 11 Z W W K0+ Z Figura 6 5 Extração de raízes Dados um número complexo w e um número natural n 2 1, dizemos que z E Cé uma raiz n-ésima de w se W. Se w = 0, é claro quez = 0 é aúnica soluç�ão da equaç�ão " = w. Logo, o número 0 possui uma única raiz n-ésima que é o próprio 0. Veremos a seguir que se w # 0 então existem exatamente n soluções distintas da equação z" = w. Teorema 4. Fixe n E N*. Todo nmero complexo não nulo w possui exatamente n raízes n-ésimas complexas distintas, a saber, ( Arg(w) +2kT\1. (14) Vru cos(Arg(u) + 2ET) +i sen (ATg(UtEN)|, n onde k = 0,1,... ,n-1. Demonstração. Para cada k ¬ Z, denotemos por *k o número complexo dado em (14). Escreva w = Jw](costh + isen t), onde = Argw. Nós estamos procurando todos os números complexos z = |z|(cos 6+i sen 0) para os quais é verdade que = W. Pela fórmula (12), a equação acima se transforma em la"cos(n6) +i sen(n0)] = |w|(cos y + i sen/) o que equivale a dizer que = Jwl, cos(n6) = cOs e sen(n0) = sen . mz. 12 Niúmeros Complexos Cap. 1 A primeira condição é satisfeita precisamente quando |z|= Vw|, enquanto as duas últimas sao satisfeitas quando n6 = v + 2kT com k E Z, isto é, 6 = * com k e Z. Assim, as raízes n-ésimas de w são os números z para k E Z. Fazendo k ==0,1,... , n-1 obtemos distintas raízes n-ésimas de w. Entretanto, os demais valores de k nos dão apenas repetições das raízes z0, 21,... , Z-1. De fato, tome ke Zarbitrário. Escreva +2TI com k E Z. n k= qn +T comq E Ze0 T< . Como +2km +2(qn + r)T + 2rT +2qTm vemos que z = ZrE {z0,21, ... ,Zn1. A raiz n-ésima de w obtida fazendo k = 0 em (14) é chamada a raiz n-ésima principal de w. A notação Vw é reservada para esta raiz. Note que esta notação e coerente com a notação Vwl que indica a única raiz real positiva de lw|. Portanto0, i- via)i sen (15) Como a única raiz. n-ésima do zero é o próprio zero, convencionamos que V0 = 0. O símbolo w também é usado em lugar de w. Observe que todas as 7n raízes n-ésimas de w possuem o mesmo módulo, a saber, V/w|. Logo, elas são representadas por n pontos sobre a circunferência com centro na origem e raio Vw|. Além disso, estes pontos estão igualmente espaçados ao longo desta circun- ferência devido à relação de seus argumentos. Como exemplo, consideremos asraizes cúbicas de 8. Pelo Teorema 4, elas são os números 2kT 2kT 2 cos sen 3 para k= 0,1,2. Calculando, obtemos z0= 2, z= -1+ iv3 e z -1i3. Temos que zo. 21e 2 dividem a circunferência de centro (0,0) e raio 2 em trës partes congruentes (Figura 7). Figura 7 A exponencial 13 6 A exponencial Nosso objetivo nesta seção é definir a exponencial e de um número complexo z e derivar algumas de suas propriedades. Lembremos do Cálculo que a expansão em série de Taylor de e' para t real é 2 t3 t 1+t+t 4 T Substituindo t por iy (y E R) nesta série e computando formalmente (sem nos preocupar- mos com qualquer significado preciso de convergência), obtemos e=1 + iy- 2 + 4! -( 6 Essas duas últimas séries devem novamente nos trazer lembranças do Cálculo - elas são as expansões em série de Taylor de cos y e de seny, respectivamente. Em outras palavras, e= cos y +i seny parece uma boa interpretação para eV, Além disso, como es*t = e'e se s,t E R, é natural esperarmos que etty = e"e, Motivados por estas considerações, damos a seguinte definição: dado um número complexo z = a+yi, definimos a exponencial de z por e = e(cos y +i seny). A notaçãão exp z é freqüentemente usada em lugar de e^. Com z = iy obtemos a fórmula de Euler: e= cos y +2 sen y. Como exemplo, e=i, eltTi -e e e* = -e"i. Vemos diretamente da definição que (16) le =eez e arg(e*) = {Imz +2kT: k¬Z}. Em particular, e z4 0 para todo número complexo z. A fórmula (12) implica diretamente que (17) (e)" = e para quaisquer z E Cene Z. Em particular, (e*) =ei para todo z EC. Sez = r+yi e w = a+ bi são dois números complexos, a fórmula (10) nos mostra que ee"= [e"(cos y +i sen y)][¬"(cos b +isen b)] = et"[cos(y +b) + i sen(y + 6)]= et" 14 Nimeros Complexos Cap. 1 Em outras palavras, e+ = ee" (18) para todo z, w E C. E interessante obsevarmos que, ao contrário do que acontece no casO real, é possível termos e = et" com z # w. Por exemplo, e" = e = 1. A proposiça0 abaixo esclarece por completo esse fenômeno. Proposiçãão 5. Para quaisquer z, w e C, temos que e =e se e somente se z = w+ 2kri para algum k E Z. Demonstração. Escreva z = r+ yi e w = a +bi com I, y, a, b E R. Se e = e", isto é. e(cosy + i sen y) = e" (cosb +i sen b), então e = e" (donde r = a) e y = b + 2kT para algumk ¬ Z. Daí, z = w + 2kTi, como desejado. Reciprocamente, se z = w + 2kTi com k e Z, então e= ew+2kmi e"e2ki e"(cos 2km +i sen 2kT) = e". Na Seção 4 vimos que todo número complexo n�ão nulo z tem uma representação polar z = r(cos 6+i sen 0), onde r = lz|e 6é um argumento de z. Com a noção de exponencial esta igualdade pode ser escrita de uma forma mais económica, a saber, 2 re (19) Observemos também que as n raízes n-ésimas de um número complexo não nulo w (dadas por (14)) podem ser escritas da seguinte maneira: Vu Arg(w)+2km A para k = 0,1,.. . , m- 1. Em particular, as n raízes n-ésimas do número 1 (conhecidas como as raízes n-ésimas aa unidade) são dadas por 2ki Sk=en para k = 0,1,... ,n-1. Notemos também que as n raizes n-ésimas de w podem ser obtidas multiplicando-se a raiz n-ésima principal Vw de w pelas raízes n-ésimas da unidade. De fato, (Arku ) = C. w (k = 0,1,.. . , 7n Por exemplo, se n =2 ent�0 So=1e Si = -1. Logo, as raízes quadradas de w são Vw -w. $7 Logaritmos 15 7 Logaritmos Relembremos que um número real s é dito o logaritmo natural (ou o logaritmo na base e) de um número real positivo t (em símbolos, s = Int) quando es t. Imitando este conceito, dizemos que um número complexo uw é um logaritmo de um número complexo não nulo z se e = z. Existe uma diferença muito importante entre o caso real e o caso complexo. Enquanto no caso real todo número positivo possui um único logaritmo, veremos a seguir que todo número complexo não nulo possui uma infinidade de logaritmos. Denotamos por log 2 0 conjunto de todos os logaritmos do número complexo z # 0. Assim, para todo número complexo não nulo z, log z = {w ¬C:e" = z}. (20) Vamos agora determinar logz. Se w = In|z| + i6 com 6 E arg z, então et" = en zle20 = ze= z. Por outro lado, suponhamos w E log z. Ent�ão e" = z, o que equivale a dizer que ee = e"| = |z| e Imw = Argz + 2kT para algum k E Z, donde w = ln|z| + id com 6 E arg z. Portanto, log z = {ln |z| + i0:0 E arg z} = {ln|z| +i(Arg z +2kT) : k E Z}. (21) Fazendo k = 0 em (21) obtemos o logaritmo principal de z, que é denotado por Logz. Assim, Logz = ln |z| +i Arg z. (22) Por (21) e (22), log 2 = {Logz +2kTi : k e Z} (23) Notemos que Logr = lnz para todo número real positivo z. De agora em diante, escreve- remos Log r em vez de In a quando t for um número real positivo. Como exemplo, temos que Log(-1) = mi, Log(e*i) =2+5i, Log(1 + i) = Log V2 +i. Definindo A B {a -b:a EAebeB} e mA = {ma: a E A} para A, B cCem E Z, temos a seguinte Números Complexos Cap.1 16 Proposição 6. Dados dois números complexos n�o nulos z1 e z2, temos que: (a) log(z12z2) = log z1 + log 2. (b) log(z1/22) = log 21- log 22 (c) log(z") = mlog z1 para todo m E Z. Demonstração. Provaremos (a) e deixaremos (b) e (c) ao leitor (veja EP 19). (a): Tomemos w E log z1 + log z2. Então, w = w1 + w2 com wj E log 21 e W2 E log 22. Dai, e" =e"leD2 = z122, ou seja, w E log(z1z2). Tomemos agora w E lo8(2122). Então, por (21), w = Log |z12| + i0 com E arg(z122). Por (11), 6 = 61 +62 com 61 E argz e 62 E arg z2. Assim, w = (Log |z1|+ i01) + (Log lz2| +ib2) E log 21 + log z2. Terminamos esta seção observando que n�o é sempre verdade que Log(z122) = Log z+ Log 2, nem que Log(z1/2) = Log21 - Log 22 e nem que Log(z1) = m Log 21 (veja ER 9). 8 Potências complexas Relembremos que se t é um número real positivo e a é um número real arbitrário, é usual definirmos a potência t" pela fórmula t= ealogt Ao tentarmos imitar esta definição no contexto dos números complexos, com o objetivo de definimos a potência z ondezé um número complexo não nulo e A é um número complexo arbitrário, nós nos deparamos com o seguinte problema: z tem uma infinidade de logaritmos! Qual deles devemos usar? A resposta: todos eles. Mais precisamente, para cada w E log z, o número complexo e" é chamado a A-potência de z associada ao logaritmo e w = Log 2, entãoo número complexo eu é chamado a A-potência principal de z. Para denotarmos esta A-potência especial de z, usaremos a notação familiar z*, Assim, neste livro, z^ denotará exclusivamente a A-potência principal de z, isto é: z= eLog z (24) Como exemplo, temos que (-i) = e* Log(-i) = ei)=* - V2-iv2. 2 9 Exercícios resolvidos 17 Como todo logaritmo de z é da forma Log z + 2kri com kE Z, segue que as A-potências de z são os números da forma e2k7Ai (25) com k E Z. Analisaremos a seguir dois casos que merecem um comentário especial. Prl- meiramente, vejamos o que ocorre quando A é um número inteiro; digamos A = n. Com0 eA= 1 para todok e Z, segue de (25) que todas as A-potências de z se reduzem a0 número complexo z", a n-ésima potência usual dez definida na Seção 2. Com efeito, e2kTAi = 1e"Log = z", já que n Log z é um logaritmo de z" (Proposição « c). Vejamos agora o que ocorre quando A = 1/n com n ¬ N*. Segue de (25) que o conjunto das A-potências de z coincide com o conjunto das raízes n-ésimas de z apresentadas no Teorema 4, já que: 2kA= exp 2kTi Log expl(Ars(a) +2kT\ exp(Log Vl=|) exp (Arg(z) +2kT )] = Elexp |: Arg()+2kr\ Em particular, z = E. (26) Embora seja verdade que zAt" = zAz" (veja ER 10), outras "regras de exponenciação" não são válidas em geral. Por exemplo, não é sempre verdade que (zw)^ = z*u e nem que (:A)" = z" (veja EP 23). 9 Exercícios resolvidos ER 1. Sejam z e w dois números complexos não nulos. Mostre que: (a) Se zw = 1, ent�o w = z*ez = u. (b) (:l) = ze (zw)-l = :u ER 2. Sejam z = 2+3i e w = 4 -3i. Coloque os seguintes números complexos na forma algébrica: 2+Zu, n(w*) +i Re(w) e 5z/u. 18 NúmerosComplexos Cap ER 3. Mostre que se z = a + yi e w = a+ bi # 0, então ar +by ay- brc ER 4. Mostre que: (a) (2+5)(V2 - i)| = V3 |2 +5| para todo : E C. (b)(-1+i)= -8(1 +i). (c) (1 +iv3)-10 = 2-11(-1+iv3). ER 5. Descreva geometricamente o conjunto S dos números complexoS z que satisfazem à condição lz - 1|= 2|z + 1|. ER 6. Prove que as soluções da equação quadråtica az+bz +c = 0, onde a, b, c E Cea # 0, são dadas pela fórmula quadrática usual, isto é, por -b t V62 - 4ac 2a Use esta fórmula para encontrar as soluções de z+4z +5 = 0. ER 7. É erdade que Vz2= (2) para todo z EC? ER 8. Determine os valores de z tais que exp(2z- 1) = 1. ER 9. Dê exemplos mostrando que é possível termos: (a) Arg(:) # - Argz. (b) Arg(zw) # Argz + Arg w. (c) Log(zw) # Logz+ Log w. (d) Log(z/w) # Logz - Log w. (e) Log(2) #2 Log z. ER 10. Mostre que zAtt = z^zH para quaisquer z, A, 4 E Ccom z 4 0. S10 Exercícios propostos 19 10 Exercícios propostos EP 1. Conclua a demonstração da Proposição 1. EP 2. Sejam 2, w e C. Mostre que se zw =0, então z =0 ou w = 0. EP 3. Sejam z1, 22, w1, W2 ¬ C com w1 0e w2 # 0. Mostre que 3122 -21W2 t 22W1 1 22 2122 W1 W2 W1W2 W1 W2 w1w2 EP 4. Sez =1 -iew = 4i, expresse os seguintes números complexos na forma r + y (a) 3z +iwz - z0 (b) 21w+ (1 -i)z + lz21 (c) (w+z)/(w- z). (d) Im(zw2) +16i Re (zw). (e) 5i sen(Arg w) + z cos(Arg(3z) EP 5. Mostre que a identidade1+z+...+z = (1-z*)/(1-z) vale para todon EN e para todo z ¬ C com 2 # 1. EP 6. Conclua a demonstração da Proposiç�o 2. EP 7. Prove e dê o significado geométrico da identidade z +w + |z -w = 21z| +2|w| (z,w E C). EP 8. Dados dois números complexos não nulos ze w, mostre que |z -+w= |z|+|w se e somente se w = tz para algum t > 0. EP 9. Conclua a demonstração da Proposição 3. EP 10. Represente graficamente cada um dos seguintes subconjuntos do plano complexo: (a) {z eC: lz - 1| = lz - il} (b){z E C: lz - 1| = Rez). (c) EC: Im(2) > 0}. (d)z eC: Re(1/2) < 1/2). Números Complexos Cap.1 20 (e){z eC: |a - 4|>|E|} (D {z ¬ C: |Argz - Argi| < T/6}. (g){z e C: |Arg(z- i)| <m/6. EP 11. Compute: (a) As raízes quadradas de 1 - iv3. (b) As raízes cúbicas de -27. (C) As raízes de ordem 4 de -1. EP 12. Mostre que a igualdade Vzw = Vz/w não é necessariamente verdadeira para z e w quaisquer em C. Confirme, porém, que esta fórmula é valida se z ou w for um número real não negativo. EP 13. Ache as soluções das seguintes equações: (a) z- 4iz - 4 - 2i = 0. (b) iz- (2+4i)z2 -i = 0. EP 14. Prove que v2|z| 2 |Re zl+ |Imz| para todo z EC. EP 15. Para que números complexos z 0 temos que /z/Z = z/|z|? EP 16. Sejam z e w dois números complexos não nulos. Mostre que Re(2u) = |z||w see somente se argw = arg z. EP 17. Seja c E C com |el< 1. Mostre que |z + cl < |1+cz| se e somente se |a| 1, com igualdade ocorrendo se e somente se z= 1. EP 18. Prove que e-E < le| < ell para todo zEC. EP 19. Conclua a demonstração da Proposição 6. EP 20. Verifique que Log(1-z) = Log(1 -z) + Log(1 +2) quando |z| < 1. O que podemos dizer de Logl(l Z)/(1+2)] para tais valores de z ? EP 21. Expresse os seguintes numeros complexos na forma t + yi: (a) Log(-e) +i. (b) -1)' Logs(-i). N N Apêndice Soluções dos Exercícios Resolvidos 1.1. (a) Se zw = 1, então w-l = 1w-l = zuww-l = zezl = 12 = zwz = w. (6) Como2 *z = le (zw)(zw) = zz'wwl = 1, segue de (a) que z = (2")e w (zw)-. 1.2. Temos que +Bw = (2+3i) (2 +3i) + (2 - 3i)(4- 3i) = (4 +6i + 6i +9i*) + (8 - 6i - 12i +9i ) = (-5+ 12i) +(-1 - 18i) = -6- 6i. Como w = (4 - 3i)(4- 3i) =7- 24i e w = w2 =7+ 24i, temos que Im(w) + i Re() = -24+7i. 10+15 Finalmente, 4 3 10 +15i 4+3 4 3 4+3i -5+90i 25 W 1.3. Temos que = 2 2W_+ye)(a -bi)ax +by, ay -br a2 +62 = w wW w a2+2 a2+b2 14. (a) Pelas Proposições 2 e 3 do Capítulo 1, (27 +5)(V2-i)| = |23 +5|/2-i| = V3 |27+5| = V3 |2: +5| = V3 |22 +5| (6) Pela fórmula de De Moivre, 21T (-1+1) = [V2 (cos+ sen = (V2) (cos+isen 4 5T 82 (cos+isen) = -8(1 +i) dos Apêndice: Soluções dos Exercícios Resolvidoe 194 (c) Pela fórmula de De Moivre, -10T -107 (1+iv3)10 = [2(cos+isen)]-10 = 2-1 (cos + sen 3 3 =2-10(-1/2 + iv3/2) =2-1(-1+iv3). I.5. Escreva 2 = o + yi. Pelas Proposições 2 e 3 do Capítulo 1, zES |z - 1|2 = 4|2 + 112 -2 Re(z) +1 = 41z| +8 Re(a) + 4 3(c +y") +10z +3 = 0 16 10 +++= 9 + 5/3) + == 16/9. Logo, S é o círculo de raio 4/3 centrado no ponto (-5/3,0) do plano complexo. 1.6. Usando a técnica de completar quadrados, temos que b az+bz +c= 0 2+~2 +=-+ (+ = 4a2 a 6-4ac 2a 24 tV2- 4ac 2a 2a -bt Vb2 - 4ac z= 2a -4 tV16 20-4 +2i =-2 ti. Portanto. 2 Com a 1,b= 4ec = 5, obtemos 2 =- as soluções de z + 4z +5 = 0 são os números -2 +ie -2 -i. 2 1.7. Não. Por exemplo, consideremos z =-i. Então =- +i sen 22 3 donde (=;-i Mas ==-(c+isen +i+ ( Apêndice: Soluções dos Exercicios Resolvidos 195 1.8. Pela igualdade (23) do Capítulo 1, exp(2z 1) = 1 2z -1E log 1 2z - 1 = Log 1 +2kTi para algum k ¬ Z z= 1/2+kri para algum ke Z. 1.9. (a) Tome z =-1. Então, Arg(z-l) = T# -T = - Arg z. (b), (c), (e): Tome z == w = -i. Então Arg(zw) = T # -T = Arg z + Arg we Log(zw) = Log(z*) = Ti#-Ti= 2Log z = Log z + Log w. (d) Tome z = -ie w= i. Ent�o Log(z/w) = Ti # -Ti = Logz - Log w. 1.10. A+ = etu) Log 7 = eALog z+u Log z = eLog=e Log = zz 2.1. Temos que E0)= ao +a10+..+ an ( = o+a1~0++an = ao +aZ0 + + anz = f (z0) = 0 =0, pois f(z0) = 0 e a; E R para todo 0 i<n. 2.2. Como IS() = |le"| = eez para todo z ¬C, temos que f(R) C C. Para verificarmos que CC f(R), fixamos wo ¬ Ce resolvemosa equação Wo = e~ para z em termos de wo. As soluções são z = Log |wol+i(Arg wo +2kr) para k E Z. deja zo uma dessas soluções. Então, z0 E R(pois wo= e")e wo = f(z0). Agora, se z E S então f(z) = e = eRe e lmz = eke *e30 E L. Logo, f(S) C L. or outro lado, dado wo E L, temos que zo = Log |wol + bi E Se f{z0) = wo. Assim, C f(S). Portanto, f(S) = L, como queríamos demonstrar.
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