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DESCRIÇÃO A Filosofia da Arte como campo de conhecimento da estética, refletindo sobre a percepção visual e a experiência estética da arte da Pré-história ao Impressionismo. PROPÓSITO Compreender o conceito e a origem do termo “estética” para conhecimento das práticas da História e Teoria da Arte no processo de seleção, valoração e percepção das artes visuais e da cultura de imagens. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer o conceito de estética e sua aplicação MÓDULO 2 Analisar a produção artística e sua relação com a estética ao longo do tempo MÓDULO 3 Relacionar a cultura imagética contemporânea das redes sociais à experiência e percepção estéticas INTRODUÇÃO Neste tema veremos como a palavra “estética” é usada frequentemente em nosso cotidiano e como a estética — conceito do âmbito da História e Teoria da Arte, particularmente da Filosofia da Arte — foi constituída e utilizada para a experiência e valoração de obras e objetos de arte. A arte também será apresentada como forma de expressão e cultura de todos os povos, sendo inerente à própria existência da humanidade as atividades e os fazeres relacionados aos processos plástico- visual como modos de comunicação e expressão. MÓDULO 1 Reconhecer o conceito de estética e sua aplicação CONCEITO DE ESTÉTICA E SUAS PRINCIPAIS CORRENTES E MODULAÇÕES Iniciaremos o tema abordando conceitos sobre estética e história. Fonte: Lygia Clark (1964)/Wikiart Figura 1: Estrutura da caixa de fósforos . Nada mais propício para iniciar um estudo sobre estética do que utilizar uma obra de arte como exemplo e ponto de partida para os questionamentos que serão feitos adiante. Para isso, selecionamos a obra Estrutura de caixas de fósforos (Figura 1), da artista brasileira Lygia Clark, produzida em 1964. Lygia Pimentel Lins, mais conhecida no mundo artístico como Lygia Clark (1920-1988), nasceu em Minas Gerais, em 1920, e iniciou seus estudos artísticos e sua produção em 1947. É responsável por um conjunto significativo de obras — pinturas e esculturas — contemporâneas e de grande representatividade da Arte Neoconcreta no Brasil. Ao lado de nomes como Amilcar de Castro (1920- 2002), Ferreira Gullar (1930-2016), Lygia Pape (1927-2004), participou da I Exposição de Arte Neoconcreta, em 1959, quando foi assinado também o Manifesto Neoconcreto. Fonte: Arquivo Nacional / Wikimedia commons / Domínio Público Lygia Clark . ARTE NEOCONCRETA Como reação ao Concretismo ortodoxo, surge, no Rio de Janeiro, o Neoconcretismo. Os artistas adeptos desse movimento artístico entendiam a arte como portadora de sensibilidade, expressividade e subjetividade, além de se posicionarem contra as atitudes cientificistas e positivistas nesse campo. Visando eliminar a tendência técnico-científica, buscou-se recuperar as possibilidades criadoras do artista e promover a incorporação efetiva do observador. javascript:void(0) A obra Estrutura de caixas de fósforos é um excelente ponto de partida para a pergunta: Isso é arte? Como utilizar a ideia de belo (beleza) que construímos/conhecemos para definir uma obra de arte? De fato, a palavra estética está intimamente associada à ideia de beleza. Cotidianamente ouvimos a expressão estética para designar também processos e procedimentos associados à saúde e ao bem- estar. Neste estudo, porém, nos interessa o conceito que foi constituído dentro da Filosofia, particularmente com o propósito de compreender os fundamentos da arte no que tange à percepção/recepção dos objetos e das produções artísticas. Do grego aisthésis , o termo é definido etimologicamente também como “sensibilidade”, “percepção” e “sensação”. Substantivo feminino, a estética é a parte da Filosofia que estuda o fenômeno artístico e os julgamentos formulados por historiadores e teóricos da arte para designar/determinar o valor das obras de arte. De acordo com o Dicionário Oxford de Arte , trata-se da: (...) ‘FILOSOFIA OU TEORIA DO GOSTO, OU DA PERCEPÇÃO DO BELO NA NATUREZA E NA ARTE’. FOI UTILIZADO PELA PRIMEIRA VEZ EM MEADOS DO SÉCULO XVIII PELO FILÓSOFO ALEMÃO ALEXANDER GOTTLIEB BAUMGARTEN (1714-1762), QUE APLICOU COM REFERÊNCIA À TEORIA DAS ARTES LIBERAIS OU À CIÊNCIA DA BELEZA PERCEPTÍVEL. HOUVE MUITAS CONTROVÉRSIAS ACERCA DA ABRANGÊNCIA E DA UTILIDADE DO TERMO, E A ENCICLOPÉDIA DE ARQUITETURA GWILT (1842) DEFINIU AINDA COMO ‘TERMO TOLO E PEDANTE’ E COM UM DOS MAIS ‘INÚTEIS ACRÉSCIMOS À NOMENCLATURA DAS ARTES’ QUE FORAM INTRODUZIDOS PELOS ALEMÃES. O SÉCULO XX NÃO CONHECEU AINDA CONCÓRDIA ACERCA DO OBJETO DA ESTÉTICA FILOSÓFICA, MAS ESTA É TIDA GERALMENTE COMO MAIS ABRANGENTE QUE A TEORIA DAS BELAS-ARTES, INCLUINDO TAMBÉM UMA TEORIA DA BELEZA NATURAL E DA BELEZA NÃO PERCEPTÍVEL (MORAL OU INTELECTUAL), NA MEDIDA EM QUE ESTAS SÃO CONSIDERADAS PASSÍVEIS DE ESTUDO FILOSÓFICO OU CIENTÍFICO (CHILVERS, 2001). Embora o conceito de estética seja oriundo do século XVIII, em virtude do esforço de Baumgarten em associar este a um ramo da Filosofia, antes disso já tínhamos esforços significativos de qualificação, valoração e juízos estéticos das obras da arte. Exemplos disso são os escritos do pintor e arquiteto Giorgio Vasari (1511-1574), considerado até os dias atuais uma das principais fontes de estudo e referência sobre o “nascimento” da História da Arte e o método de escrita assentado na tradição de biografias. Além de seus trabalhos artísticos, sua obra mais conhecida refere-se à biografia de artistas italianos que ele escreveu, sob o título Le vite , publicada pela primeira vez em 1550, consagrando a ele o “título” de primeiro historiador da arte. Fonte: muratart/Shutterstock.com Batistério de Florença - vista do teto de mosaico. Um dos edifícios mais antigos da cidade, construído entre 1059 e 1128. Fonte: PhotoItaliaStudio/Shutterstock.com Juízo Final , de Michelangelo – Visão da Capela Sistina, no Vaticano. Fonte: Museu do Prado/Wikimedia Commons/Domínio Público O Jardim das Delícias Terrenas , por Hieronymus Bosch Nas Vite , em edições em 1550 e 1568, Vasari apresenta um método que reside no entendimento de que os “desenvolvimentos da arte, como os corpos humanos, têm o nascer, o crescer, o envelhecer e o morrer” (ARGAN, 1994) que vai do pintor florentino Cimabue (1420-1302) ao pintor, da província de Arezzo, Michelangelo (1475-1564). Essa tradição de uma literatura “de vidas”, como também vimos na esfera artística, apesar de importante, não deixará de receber críticas e resultará em novas proposições teóricas e metodológicas. Mais tarde, no século XVII, a contribuição de Giovanni Pietro Bellori (1613-1696) traz à tona um novo método, outra perspectiva de estudo, agora com um programa de dimensão eclética “com uma formulação ideal que chegará até o neoclássico Winckelmann (1717-1768)”, vigorado com as “lógicas de categorias mentais” (ARGAN, 1994), em que as biografias apenas corroboram a importância do método, mas não determinam os rumos da História da Arte. É o método com “discurso” e intensas descrições das obras que ganha espaço com a proposição de Bellori, prenúncio das questões que serão enfrentadas no século XVIII no campo artístico. GIOVANNI PIETRO BELLORI Foi um biógrafo e teórico da arte italiano, também conhecido como Gian Pietro Bellori ou Giovan Pietro Bellori. Destaca-se seu trabalho como biógrafo dos artistas barrocos, sendo comparado com o de Vasari sobre os renascentistas. WINCKELMANN javascript:void(0) javascript:void(0) O autor alemão Johann Joachim Winckelmann é considerado o pai da História da Arte, saindo com sua análise das disputas entre a técnica e a razão pura de ingleses e franceses, para relacionar a produção artística ao contexto de produção. Fonte: Baumgarten/Wikimedia commons/Domínio Público Primeira página de Aesthetica , por Alexander Gottlieb Baumgarten. A partir do século XVIII, os estudos da arte ganham novas dimensões, para Argan (1994), com dois caminhos e paralelos. Há o entendimento sobre o nascimento da História daArte como disciplina autônoma, cuja compreensão deve-se à sua constituição neste século e aos estudos empreendidos pelo historiador da arte e arqueólogo alemão Winckelmann. Ainda, a ideia de um “valor sugestivo da obra artística” e uma teoria da beleza, que desencadeia o nascimento da estética, uma ciência nova liberada por Baumgarten, com a obra Aesthetica , de 1750-1758, e situa o “desenvolvimento da arte como território do belo e da forma” (ARGAN, 1994). É o início do movimento científico relativo à área da estética e Ciências da Arte, que teve início na Alemanha, em meados do século XVIII, determinado pela estética e pela História da Arte, a partir de duas correntes: Fonte: Shutterstock.com CORRENTE HISTÓRICA Representada principalmente pelas contribuições do historiador da arte e arqueólogo alemão Winckelmann. Fonte: Shutterstock.com CORRENTE TEÓRICA Conduzida pelo filósofo e crítico de arte alemão Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781). Lessing não só reaproxima sua discussão dos iluministas e de suas visões, como também aproxima o pensamento da História da Arte do racionalismo predominante entre esses autores. Considerando, portanto, esses apontamentos históricos constituintes da História e Teoria da Arte, voltamos aos propósitos específicos empreendidos por Baumgarten em sua obra e sobre o conceito de estética que nos interessa. Sem a contribuição feita por Kant isso não seria possível, mas a obra de Baumgarten, particularmente seu esforço para construir esse novo campo de conhecimento sobre as artes, considera a beleza como uma das características possíveis da manifestação sensível dos objetos. A beleza era, assim, uma das formas da verdade, sendo percebida como o modo mais marcante do conhecimento sensível, ao passo que a estética era, então, uma teoria do belo. Voltando para a obra Estrutura da caixa de fósforos , de Lygia Clark, vemos que a ausência de uma forma ou de imagens figurativas que possam nos remeter a lembranças, locais ou temas familiares, provoca inquietações relacionadas à compreensão do que é arte. Mais que isso: como um objeto utilitário e do cotidiano pode ser transformado em arte? Por tratar-se de uma obra contemporânea, não é nesse tipo de produção artística que Baumgarten funda suas teorias, mas certamente as transformações ocorridas na área artística — da produção, da exposição, da apreciação e da experiência estética — provocaram muitos debates sobre a teoria do belo e o entendimento de arte/obra de arte, particularmente com o advento da arte moderna. Fonte: Wikiart Bicho , Lygia Clark, 1960. SAIBA MAIS Bicho, obra de 1960, é outra importante referência da escultura produzida pela artista, que trabalha extraordinariamente com a maleabilidade dos materiais, como chapas de aço, cobre, entre outros. ATENÇÃO Foi o trabalho do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804) que proporcionou a base da formação do campo da estética, centrado nas questões concernentes aos juízos de valores da arte e, sobretudo, centrado na recepção/contemplação, que embasará muitos estudos posteriores acerca da teoria da arte e da beleza. ESTÉTICA COMO NATUREZA DO BELO E EXPRESSÃO DA ARTE A ideia de belo está intimamente ligada à expressão “arte”. Esse entendimento está na base do nascimento da estética e desde o século XVIII tornou-se um dos ramos possíveis e necessários de investigação da produção artística. Uma pergunta que certamente se pode fazer é: o que levou ou justificou a necessidade de criação de uma disciplina que sustente a explicação e a vinculação do belo na arte e da arte no belo? Para isso, vamos compreender como a produção artística, sustentada por “juízos estéticos” de cada época e pela ideia de beleza, contribuiu para a constituição da narrativa histórica e artística que chegou aos dias atuais. Vamos tomar como exemplo a Antiguidade — arte egípcia, arte grega e romana — e como algumas premissas canônicas tornaram-se, posteriormente, relevantes no âmbito de investigação da estética. A ANTIGUIDADE ORIENTAL Fonte: MykReeve/Wikimedia commons/Licença CC BY-SA 3.0 Máscara funerária de Tutancâmon Comecemos pela arte egípcia, sinônimo de uma “arte para a eternidade”, termo usado pelo historiador da arte vianense Ernst Gombrich (1909-2001). De fato, esse termo é bastante apropriado, pois a “a arte existia para garantir a continuidade da vida” (GOMBRICH, 2012). Em diferentes suportes — pedras, terra, ferro etc. — era uma arte “memorial”, “religiosa” e “ritualística”, ligada às convicções sagradas. Na arte egípcia, os objetos artísticos tinham a função de estabelecer a manutenção da força vital, uma vez que os egípcios acreditavam que além do corpo visível existia uma força vital. A ANTIGUIDADE CLÁSSICA javascript:void(0) Fonte: Gliptoteca de Munique/Wikimedia commons/Domínio público Afrodite Braschi , uma das várias cópias conhecidas da Afrodite de Cnido , de Praxiteles, 345 a.C., que criou um cânone de beleza feminina. As civilizações gregas e romanas desempenharam papel de destaque. A arte grega seria mais flexível na construção plástica da obra, mas manteria os mesmos repertórios (temas/motivos). Veremos, em todos os períodos, divindades como Atenas, Zeus etc. Na arte grega, a busca pela mutabilidade estava na forma, não no tema, ou seja, “uma mutabilidade dentro de um quadro de permanência”. A preocupação dos artistas não estava apenas na representação do corpo humano em determinado espaço, mas na busca pela representação do corpo dentro de um ideal de beleza, com movimento livre do corpo humano no espaço, em que a “mimese” – mímesis ou mimésis , termo grego, usado no âmbito da Filosofia e da História da Arte, para designar a “ideia” de imitação, representação/assemelhar, entre outros –, não era apenas da particularidade ou individualidade do homem, mas do funcionamento do seu corpo humano. A arte romana, com a ascensão do Império Romano, assumiu um aspecto mais popular, “colocando os ideais clássicos de lado”. Ainda assim, será uma produção de grande relevância e extraordinariamente realista. Esses dois momentos tornaram-se cruciais para a História e a Teoria da Arte, pois a cultura greco- romana foi responsável, na arte da civilização ocidental, pelo grande paradigma do mundo clássico, que perdurou por muitos anos. Somente no final do século XIX — com os questionamentos do Neoclassicismo — e no século XX — com os movimentos de vanguarda dos “ismos”: Surrealismo, Dadaísmo, Expressionismo, Futurismo, entre outros — que se buscará romper e se opor a esse paradigma. Confira, a seguir, um comparativo entre uma obra neoclássica e outra surrealista: javascript:void(0) Fonte: Museu do Louvre/Wikimedia commons/Domínio público O Juramento dos Horácios , por Jacques-Louis David, 1784. Fonte: M.T. Abraham Foundation/Wikimedia Commons/Domínio público The Rainbow , por Salvador Dalí, 1972. Ao lado da autonomia da arte — com a constituição da História da Arte no século XVIII —, a estética fundará sua teoria baseada na ideia de beleza. Por isso, o paradigma do mundo clássico será um importante ponto de partida. E o que é ser um paradigma? É tornar-se referência, exemplo, modelo, inspiração. A cultura greco- romana — isso porque aprendemos sobre os gregos por meio das cópias feitas pelos romanos — tornou-se o ponto principal da investigação sobre as intenções artísticas e as soluções formais para a fundamentação das teorias da arte. Para exemplificar melhor, vejamos a escultura grega Laocoonte e seus filhos (Figuras 2a e 2b). Fonte: JuanMa/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0. Figura 2a: Laocoonte e seus filhos . Fonte: Imagem adaptada de JuanMa/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0. Figura 2b (detalhe): Laocoonte e seus filhos . O grupo escultórico Laocoonte foi descoberto em 1506 e representa uma terrível cena. Segundo Gombrich (2012): [...] O SACERDOTE TROIANO LAOCOONTE ADVERTIU SEUS COMPATRIOTAS PARA NÃO ACEITAREMO CAVALO DE MADEIRA ONDE SE ESCONDIAM OS SOLDADOS GREGOS. OS DEUSES, VENDO CONTRARIADOS OS SEUS PLANOS DE DESTRUIÇÃO DE TROIA, ENVIARAM DUAS GIGANTESCAS SERPENTES-DO-MAR QUE ENVOLVERAM O SACERDOTE E SEUS DOIS INFELIZES FILHOS EM SEUS ANÉIS E OS ESTRANGULARAM. A habilidade clara do escultor está presente na maneira de “narrar visualmente essa tragédia”, ou seja, nas expressões impressas nos rostos, no contorno dos corpos e na musculatura — em um instante de luta — ao mesmo tempo em que “capta” a cena da tragédia. Observe que a escultura tem capacidade de tensionar também nosso corpo, como se pudéssemos “sentir” a força da luta e do estrangulamento. Essa foi evidentemente uma marca “clássica” e também helenística da arte grega — dado o período em que foi criada, 175-150 a.C. —, em que o corpo ganha movimento, o instante da cena é capturado, as diversas influências, o trabalho da musculatura, os panejamentos e as expressões, entre outros. A escultura é poética, narra uma tragédia e marca a História da Arte com um enorme salto na produção artística. A concepção plástica da forma dá vida ao movimento, a consciência corporal e espacial prende a atenção do espectador. A busca pela definição desse lugar da arte, do propósito, da intenção plástica de quem produz e o sentimento que ela causa, foi o ponto crucial da busca pela definição da estética como disciplina e da necessidade da constituição do campo da História e Teoria da Arte e da autonomia da arte. A arte não é mais um simples ofício, ela é capaz de provocar sensações e reações. SAIBA MAIS A razão pela qual a arte grega da Antiguidade ficou conhecida como a “busca pela idealização da forma humana” foi tornar “o homem a medida de todas as coisas” (STRICKLAND, 2014), cujos preceitos sobreviveram por muitos anos. Não à toa, para os movimentos de vanguarda da arte do século XX, o fundamental seria romper com o “clássico”. “Os mestres gregos foram à escola com os egípcios, e todos nós somos discípulos dos gregos. Assim, a arte do Egito reveste-se de tremenda importância para nós” (GOMBRICH, 2012), pois os egípcios entendiam como ninguém do corpo humano, fato disso é a cultura dos sarcófagos para preservação do corpo (ou a alma/Ka) depois da morte. javascript:void(0) KA Denominado pelos egípcios como uma espécie de duplo, de alma, que existia nos homens e nos deuses e que, por isso, era preciso manter uma “residência” para ele, como, por exemplo, conservar os corpos, reproduzir imagens em esculturas ou afrescos. ARTE COMO PARTE INERENTE À CULTURA DE TODOS OS POVOS A arte pode ser considerada uma linguagem universal, independentemente das diferentes formas de compreensão por cada um de nós. Ela nos desperta sensações, questionamentos, assimilações e percepções. Assim, por exemplo, quando tratamos de educação e de como ela dialoga com o sujeito, a educação tem o papel de perceber o homem neste princípio. Sabemos que os seres humanos criaram objetos e registros visuais relativos e necessários ao seu cotidiano, como também utilizaram essa linguagem para demonstrar seus sentimentos. Por isso, construir uma “autobiografia, não por ações e palavras, mas pela arte” (RUSKIN apud SANTOS, 2012) da humanidade, é o objetivo central da História da Arte. Se você está se perguntando como diferenciar uma coisa da outra — por exemplo, um objeto comum de um registro visual, uma arquitetura civil de uma militar, e quais as razões/motivações que justificaram suas produções e a importância atribuída a elas ao longo da história —, você está no caminho correto para compreender a constituição da História da Arte como um campo de práticas e saberes. Logo, uma área dentro do pensamento humanístico destinada especialmente a “desvendar” esse fazer arte dentro das necessidades e dos desejos exclusivamente humanos. Agora, se você está se perguntando por que uma obra é considerada arte e por que algumas, por vezes “estranhas”, ganham grande notoriedade e rentabilidade no mundo da arte, você caminha para entender a prática artística em diferentes épocas e o sistema da arte. Fonte: Daniel Stockman/wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 2.0 O pensador , de Rodin. Pensando nisso, vamos considerar primeiro as seguintes perguntas: autor/shutterstock O QUE É A HISTÓRIA DA ARTE? autor/shutterstock O QUE A CARACTERIZA E A DEFINE COMO ÁREA DE CONHECIMENTO? autor/shutterstock QUAL A RELAÇÃO DA ARTE COM A CULTURA? De maneira objetiva, podemos responder a esses questionamentos afirmando que a História da Arte é uma “fórmula que remete tanto às obras e imagens que se sucederam na história da humanidade quanto à disciplina que elabora um conhecimento baseado na análise descritiva e interpretativa delas” (HUCHET, 2014, grifo nosso). Logo, a produção de objetos estéticos e de uso no cotidiano está presente em todas as civilizações, por tratar-se de uma atividade exclusivamente humana. É importante ainda destacar que não conhecemos a arte apenas pelo estudo formal das obras, isto é, descrição de sua composição, dos itens que a conformam em determinados espaços, ou mesmo suas soluções técnicas e materiais. O conhecimento da arte, por meio de sua história, exige, sobretudo, um “estudo aprofundado das ideias artísticas ”. Isso significa reflexão crítica própria de cada época, isto é, dos conceitos , do posicionamento das pessoas envolvidas na vida artística, na difusão, na circulação, na recepção e nos diversos juízos proferidos acerca de determinada obra ou imagem. Isso gerou o que foi chamado de “literatura artística” (HUCHET, 2014). LITERATURA ARTÍSTICA Estudos históricos e críticos que utilizamos para compreender os objetos artísticos e as construções promovidas pelo homem desde a Pré-história. ATENÇÃO Desvendar a “gramática” de um objeto artístico é imaginar como seria viver na época de sua concepção/construção: quais mãos o fizeram, por que são feitos de maneiras distintas na mesma época ou semelhantes em época diferentes, de onde veio o que, quais materiais e técnicas, quais eram as referências e motivações para sua elaboração, são parte dos questionamentos e desafios dos historiadores e estudiosos da arte. A arte representa uma parcela significativa da cultura dos povos, pois exprime suas memórias, suas identidades, seus fazeres e saberes, suas narrativas sociopolíticas e ainda se tornam, por vezes, instrumentos importantes de referência cultural e afirmação identitária. A arte (o produto, o processo, o criador) é o objeto de estudo central da História e Teoria da Arte, onde se inclui a estética com as investigações dos juízos críticos e a recepção/apreciação. javascript:void(0) Gombrich destaca que, em arte, o que existe são artistas. E que desde a utilização da terra em cavernas à pintura de tapumes, as imagens produzidas ganham significado importante para a compreensão do homem e da humanidade. Ele nos alerta ainda que gosto e beleza variam muito. Quando a arte (as obras) de diferentes períodos é interpretada à luz de conceitos como beleza e gosto, vemos que as soluções dadas (as expressões apresentadas) em muitas obras nos causam diferentes percepções, ainda que elas reservem proximidades. Veja o exemplo de uma pintura de temática “natureza-morta”. Por definição, esse tipo de pintura caracteriza-se por objetos e coisas inanimados. Desde a Idade Média, em geral como fundo de pinturas religiosas de cunho realista, se vê a representação de animais, flores e frutas. Na Figura 3, vemos Natureza-morta com frutas , de Caravaggio; e na Figura 4, Natureza-morta com vaso de gengibre I , de Piet Mondrian. Fonte: Wikiart Figura 3: Natureza-morta com frutas , Caravaggio, 1603. Fonte: Wikiart Figura 4: Natureza-morta com vaso de Gengibre I , Piet Mondrian, 1911. Fonte: Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia/Wikimedia commons/Domínio Público Violão e jornal , por Juan Gris Fonte: Museu Nacional de Arte Moderna/Wikimedia Commons/Domínio público Vista da baía ,1921 , por Juan Gris As pinturas guardam a similaridade do tema — natureza-morta —, mas, do ponto de vista da expressão, da solução da composição, são completamente distintas. Representativas de seus movimentos artísticos — Caravaggio (1571-1610), no Barroco, com uso intenso da cor para o efeito claro-escuro e Mondrian (1872-1944) e Jean Gris (1829 - 1872), no Cubismo, com o abstracionismo e as formas geométricas —, essas obras nos provocam reflexões sobre a motivação do tema, a forma da composição e o papel das coisas e dos objetos inanimados para a compreensão do real ou do imaginário. A comparação pela temática aponta as especificidades de cada obra, com soluções plástico-visuais inerentes à arte e aos artistas de seu tempo. Uma dentro de uma tradição do clássico e outra moderna, em que a expressão de cada período está posta na solução da composição que cada artista apresenta. Uma com clara definição dos objetos e uso do claro-escuro como marca do Barroco, e outra com a abstração geométrica que nos faz reconhecer alguns elementos, mas também provoca uma mistura de sensações visuais pela definição/indefinição dos objetos, com síntese das informações, marca da arte moderna. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A PARTIR DOS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS SOBRE O CONCEITO DE ESTÉTICA, JULGUE CADA AFIRMATIVA A SEGUIR COMO VERDADEIRA (V) OU FALSA (F), E EM SEGUIDA ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: DO GREGO AISTHÉSIS , A PALAVRA “ESTÉTICA” É DEFINIDA ETIMOLOGICAMENTE TAMBÉM COMO “SENSIBILIDADE”, “PERCEPÇÃO” E “SENSAÇÃO”. FOI UTILIZADO PELA PRIMEIRA VEZ EM MEADOS DO SÉCULO XVIII PELO FILÓSOFO ALEMÃO ALEXANDER GOTTLIEB BAUMGARTEN (1714-1762). É PARTE DA FILOSOFIA QUE ESTUDA O FENÔMENO ARTÍSTICO E OS JULGAMENTOS FORMULADOS PARA DESIGNAR/DETERMINAR O VALOR DAS OBRAS DE ARTE. NO ESTUDO DAS ARTES, RESTRINGE-SE AOS ASPECTOS MATERIAIS E PERCEPTÍVEIS DAS OBRAS A PARTIR DA HARMONIA DAS FORMAS, E O EQUILÍBRIO DA PALETA DE CORES. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) V-V-V-F B) V-V-F-V C) F-V-F-V D) V-F-F-V E) F-V- F- F 2. CESPE (SEDUC/AL) 2018 – ADAPTADO. A PARTIR DOS CONHECIMENTOS ADQUIRIDOS SOBRE O CONCEITO DE ESTÉTICA COMO A NATUREZA DO BELO E EXPRESSÃO DA ARTE, JULGUE CADA AFIRMATIVA A SEGUIR COMO VERDADEIRA (V) OU FALSA (F), E EM SEGUIDA ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A EDUCAÇÃO ESTÉTICA COMPREENDE OS MODOS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA QUE POSSUAM CARACTERÍSTICAS HARMONIOSAS E DE EQUILÍBRIO. ESTÉTICA REFERE-SE À PERCEPÇÃO SENSORIAL, NA QUAL A CONSCIÊNCIA, A INTELIGÊNCIA E O JULGAMENTO DAS PESSOAS ESTÃO BASEADOS. FILOSOFIA DO BELO NA ARTE COMPREENDE O ESTUDO DAS OBRAS DE ARTE E O CONHECIMENTO DOS ASPECTOS DA REALIDADE SENSORIAL CLASSIFICÁVEL EM TERMOS DE BELO OU FEIO, BOM OU RUIM. A UM OBJETO OU FENÔMENO QUE INSTIGA A SENSAÇÃO DE PRAZER DAMOS OS NOMES DE BELO, BONITO E BELEZA. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) F-V-V-F B) V-V-F-V C) F-V-V-V D) F-F-F-V E) F-F-V-F GABARITO 1. A partir dos conhecimentos adquiridos sobre o conceito de estética, julgue cada afirmativa a seguir como verdadeira (V) ou falsa (F), e em seguida assinale a alternativa correta: Do grego aisthésis , a palavra “estética” é definida etimologicamente também como “sensibilidade”, “percepção” e “sensação”. Foi utilizado pela primeira vez em meados do século XVIII pelo filósofo alemão Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762). É parte da Filosofia que estuda o fenômeno artístico e os julgamentos formulados para designar/determinar o valor das obras de arte. No estudo das artes, restringe-se aos aspectos materiais e perceptíveis das obras a partir da harmonia das formas, e o equilíbrio da paleta de cores. Assinale a alternativa correta: A alternativa "A " está correta. Conforme Chilvers (2001), o objeto da estética é mais abrangente, contemplando a beleza “não perceptível”, entendida em seu trabalho como a beleza moral e intelectual. Por conseguinte, no estudo das artes, a estética considera não só as questões formais das obras, como também os contextos socioculturais. 2. CESPE (SEDUC/AL) 2018 – Adaptado. A partir dos conhecimentos adquiridos sobre o conceito de estética como a natureza do belo e expressão da arte, julgue cada afirmativa a seguir como verdadeira (V) ou falsa (F), e em seguida assinale a alternativa correta: A educação estética compreende os modos de expressão artística que possuam características harmoniosas e de equilíbrio. Estética refere-se à percepção sensorial, na qual a consciência, a inteligência e o julgamento das pessoas estão baseados. Filosofia do belo na arte compreende o estudo das obras de arte e o conhecimento dos aspectos da realidade sensorial classificável em termos de belo ou feio, bom ou ruim. A um objeto ou fenômeno que instiga a sensação de prazer damos os nomes de belo, bonito e beleza. Assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. A educação estética compreende todos os modos de expressão artística e constitui uma abordagem integral da realidade, em que coexistem diferentes manifestações culturais. MÓDULO 2 Analisar a produção artística e sua relação com a estética ao longo do tempo ESTÉTICA E CRIAÇÃO ARTÍSTICA O entendimento da construção teórico-conceitual e metodológica da estética no âmbito das artes visuais passa também pela compreensão da formação da arte desde a Pré-história até o Romantismo. Neste módulo veremos pequenas sínteses históricas e artísticas sobre a produção de imagens, esculturas, pinturas e desenhos, como instrumentos importantes para a consolidação do campo de estudo da estética, especialmente por tratar-se de objetos de estudo inerentes a essa área. É importante notar que é um exercício de visualidade estética e não efetivamente o local para o conhecimento dessas manifestações artísticas. Então, temos um trinômio pelo qual precisamos que você navegue: Identidade – Poder – Valor. Esteja sempre atento a esse trinômio! A FORMAÇÃO DA ARTE: PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE A arte da Pré-história insere-se em um longo período — o mais longo e extraordinário período da história da humanidade —, cujos vestígios materiais e artísticos que hoje estudamos resistiram ao tempo, por milhares de anos, e se encontram em sítios arqueológicos ou estão expostos em museus para apreciação e estudo. Esses registros e vestígios são fundamentais para que possamos compreender a cultura, a arte e a organização “social/espacial” desse período denominado de Pré-história (entre 30.000 a.C. a 4.000 a.C.), que antecede a escrita, ocorrida por volta de 4.000 a.C. Em algumas regiões do mundo, às margens de rios como o Nilo (Egito), o Tigre, o Eufrates, por volta de 4.000 a.C., que não tinham ligação entre si, apareceu a escrita, dando início ao chamado período Histórico (civilização histórica). PERÍODO HISTÓRICO Mesmo sendo o mais longo período da história da humanidade, pouco sabemos como a produção dessas imagens começou, bem como as motivações que levaram os homens a registrar figuras e grafismos, especialmente em grutas e cavernas onde habitavam. O que temos são datações — relativamente seguras — a partir de restos materiais e pictóricos (arte rupestre, ossos, madeiras, pigmentos) realizados por meio do uso de radiocarbono. PINTURAS DE LASCAUX E A PRODUÇÃO DE ARTE DO HOMEM PRÉ-HISTÓRICO javascript:void(0) Um exemplo significativo para compreendermos a produção de arte do homem pré-histórico são as pinturas de Lascaux, no Périgord, departamento francês da Dordonha. Trata-se de um complexo de cavernas onde encontram-se bois, cavalos, cervos, felinos, entre outros animais representados nas paredes e nos tetos em torno de 17.000 a.C., também comprovados por meio do Carbono 14. A descoberta dessas cavernas ocorreu somente em 1940, porém em um momento em que essas pinturas passaram a ser de interesse de grande parte dos arqueólogos e pesquisadores da Pré-história pelo mundo todo. O local foi encontrado pelos jovens Marcel Ravidat, Jacques Marsal, Georges Agnel e Simon Coencas, sendo mais tardevisitado pelo arqueólogo francês Henri Breuil, juntamente com outros especialistas. Fonte: thipjang/Shutterstock.com Figura 10: Vista interna de Lascaux IV. A caverna possui aproximadamente 250 metros de comprimento e está “dividida/classificada” com nomes atribuídos à semelhança de uma arquitetura religiosa, feita por Breuil. Logo após a entrada e as três primeiras salas — onde de fato viviam os povos pré-históricos, em função da entrada de luz e ar —, encontra-se a “Sala dos touros” ou “Rotunda”, com 17 metros de comprimento por 7 metros de altura e 6 metros de largura, composta por pinturas com mais de 3 metros. Passando por essa sala, vemos, à esquerda, a galeria Divertículo axial e, à direita, a Passagem, que é um corredor com aproximadamente 10 metros, seguido da Nave”, outro corredor, porém com 20 metros, não decorado por ser bastante estreito, mas que leva ao Divertículo dos Felinos, um corredor também de 20 metros. No que tange às representações, vemos a presença de touros, cavalos, cervos, cabritos (Figuras 10 a 12), entre outros animais, com tamanhos superiores a 4 metros — tamanho surpreendente em relação às pinturas de Altamira, que não passam dos 2 metros, com o uso de pigmentos naturais em tonalidades de vermelho, ocre e preto. Fonte: Shutterstock.com Figuras 11: Touro da “Sala dos Touros”. Fonte: Ministério da Cultura da França Figuras 12: Cavalo chinês. Outro exemplo desse período é a primeira estatueta (Figura 13), um artefato pré-histórico que foi achado na Gruta de Pape, em Brassempouy, no sul da França, em 1984. Trata-se de uma miniatura de busto feminino, esculpida em marfim de mamute, embora seja classificada museologicamente como uma miniestátua de Vênus. Atualmente pertence ao acervo do Museu de Antiguidades Nacionais da França. Fonte: Jean-Gilles Berizzi/Wikimedia Commons/Domínio público Figura 13: Vênus de Brassempouy. Acervo do Museu de Antiguidades Nacionais da França. ANTIGUIDADE: A ARTE PARA A ETERNIDADE Sobre a Antiguidade, que pode ser entendida pela arte oriental — arte egípcia — e clássica — grega e romana , se lhe fosse perguntado como você poderia definir a arte desse período, uma boa definição seria: “a arte existia para garantir a continuidade da vida.” Isso justifica a expressão “arte para a eternidade” utilizada por Gombrich, já destacada. Podemos dizer que esses suportes materiais, tais como pedras, terra, ferro etc. eram utilizados na produção de arte egípcia como uma forma de continuidade da vida, especialmente após a morte. Trata- se, portanto, de uma arte bastante “memorial”, “religiosa” e “ritualística”, ligada às convicções sagradas daquelas sociedades e basicamente divididas em três períodos históricos: o Antigo Império, o Médio Império e o Novo Império. “Uma civilização que se estendeu por três milênios, liderada por trinta dinastias de faraós” (FAURE, 2017). Fonte: Jon Bodsworth/Wikimedia Commons/Copyrighted free use Figura 14: Escultura representando o Ka do faraó Hórus. Se anteriormente, na arte pré-histórica, vimos propósitos — ainda que em termos de conjectura, uma vez que sabemos pouco sobre as motivações das criações artísticas das sociedades pré-históricas — de transmitir uma ideia, capturar a aparência “real” de um cotidiano — como a representação e modelação de quadrúpedes em grandes dimensões —, na arte egípcia veremos que a função dos objetos artísticos estava ligada à manutenção da força vital. IMPORTANTE IMPORTANTE: Não confundir com o termo Realismo, que foi um movimento artístico e literário do século XIX, utilizado pela História da Arte para “classificar” a produção pictórica desse período, especialmente aquela dedicada a retratar a vida, o cotidiano dos interiores, as críticas sociais, entre outros temas que haviam sido pouco ou quase nada utilizados em modelos do passado. Os egípcios acreditavam que, além do corpo visível, existia uma força vital — uma espécie de duplo, de alma, que eles chamavam de Ka — que existia nos homens e nos deuses e que, por isso, era preciso manter uma “residência” para ele, como conservar corpos, reproduzir imagens em esculturas ou afrescos. javascript:void(0) Na Figura 14, vemos a representação de duas mãos fixadas em cima da cabeça do faraó Hórus, que é o símbolo da representação do Ka . Os braços, com as mãos elevadas para o alto, um ao lado do outro, é a maneira como o Ka é representado no hieróglifo egípcio e que vemos em muitas esculturas, gravuras e pinturas. Esse e tantos outros enigmas foram considerados mais tarde, pelos gregos, o grande conhecimento, ou seja, na Grécia tinha-se a crença de que quem decifrasse o enigma do Egito teria o conhecimento universal. Foi em regiões em torno da bacia do mar Mediterrâneo que as atividades comerciais se iniciaram, assim como as políticas de conquista impulsionaram o diálogo entre essas civilizações, como dos egípcios com os gregos. Podemos dizer que, se o rio Nilo não existisse, possivelmente não teríamos o Egito. Ainda nessas regiões e em tantas outras, às margens de rios como o Tigre e o Eufrates, vimos o surgimento da escrita, por volta de 4.000 a.C., dado o desenvolvimento da economia e da sociedade que ocorria no Oriente Médio. Deve-se, portanto, aos sumérios, na Mesopotâmia, o desenvolvimento da escrita silábica para representar a língua falada daqueles povos. Paralelamente temos também o surgimento da escrita por hieróglifo no Egito Antigo, como o caso do símbolo do Ka e sua relação com a vida “artística e espiritual” egípcia. Sabe-se que grande parte da história do Egito é conhecida (ou ficou amplamente conhecida) pelas construções de pirâmides. A maior e mais conhecida é a pirâmide de Quéops, ou Grande Pirâmide de Gizé (Figura 15). Fonte: kallerna/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0 Figura 15: Pirâmide de Quéops, ou Grande Pirâmide de Gizé. A pirâmide de Quéops, até o século XIX, era considerada o maior e mais alto monumento construído pelo homem, isso porque perdeu seu posto com a construção da Torre Eiffel, em Paris, entre 1887 e 1889. Na escultura do escriba sentado — pessoa que tinha conhecimento da escrita em hieróglifo e hierático — (Figura 16), outro exemplo egípcio, vemos o uso da lei da frontalidade e do complemento — embora este último seja um preceito mais usado na pintura de afrescos. A maneira como a saia do escriba está esculpida nos informa sobre a totalidade da peça, ou seja, não é preciso circulá-la para entendê-la. A proporcionalidade também se faz presente, uma vez que, embora apresente por completo cabeça e tronco, o ângulo das pernas “conduz nossa visão” a uma leitura proporcional do conjunto. É como se fosse possível “saber” o tamanho dele, mesmo com as pernas cruzadas, com apenas a parte de um dos pés. As cores também correspondem aos preceitos canônicos da arte egípcia, como o uso de branco para vestes de sacerdotes, a pele em tom de vermelho/ocre mais escuro, o preto nos olhos e no cabelo. Fonte: Ivo Jansch/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 2.0 Figura 16: Escultura de um escriba sentado. FORMAÇÃO DA ARTE NA ANTIGUIDADE OCIDENTAL Tratando agora das artes grega e romana, a base da relação ocidental, vale destacar que também são uma arte canônica, com preceitos que iriam elevá-las ao posto de “paradigma da cultura clássica” no século XVIII. A arte grega conta com preceitos que justificam/orientam a sua produção, dependendo do período e das condições sociopolíticas. Contudo, ao contrário da arte egípcia, era mais flexível na construção plástica da obra, mas mantinha os mesmos repertórios (temas/motivos), como veremos em todos os períodos: divindades como Atenas, Zeus etc. A busca pela mutabilidade estava na forma, não no tema, ou seja, “uma mutabilidade dentro de um quadro de permanência”. A produção artística da Antiguidade Grega, portanto, pode ser dividida em três períodos: Fonte: Tetraktys/Wikimedia Commons/Licença Uma kore ricamente ataviada. 1. ARCAICO(650 A.C.-450 A.C) Apresenta uma arte muito próxima à produção dos egípcios. Nesse período veremos uma produção de escultura mais monumental, isso em termos de escala (dimensão), grande parte feita em calcário para ornar os templos, construídos em pedras. Serão usuais as esculturas votivas — oferendas religiosas — femininas, conhecidas por kore (Korai no plural) (jovens vestidas, quando a “regra” é a túnica), e as masculinas, chamadas de kouros (Kouroi no plural) (jovens desnudos, quando a “regra” é a nudez). 2. CLÁSSICO (450 A.C-323 A.C) Conhecido também como “síntese grega”. Uma data importante para definição desse período na arte será a morte de Alexandre Magno e a incorporação pelo Império Romano. Veremos uma arte em um “alto estágio de mimese”, com estudo maior da musculatura, atenção especial aos mantos e panejamentos, perda definitiva do cânone da frontalidade, com movimentos e acabamentos por toda parte da escultura, para que a obra pudesse ser apreciada de todos os ângulos. Também será o início de uma arte mais retratista ou “realista” javascript:void(0) Fonte: Elgin Collection/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 4.0 Oficina de Fídias : Fragmento do friso norte do Partenon, Museu Britânico. Fonte: Adrian Pingstone/Wikimedia Commons/Domínio Público Vitória de Samotrácia , Louvre. 3. HELENÍSTICO (323 A.C-31 A.C.) Relativo ao domínio do Império Romano e à anexação da Macedônia à Grécia. Em virtude da “perda de autonomia” dos gregos, veremos uma arte mais monumental em todos os aspectos, com multiplicidade de influências e ausência de um “único” centro difusor, visto que os artistas terão contato com muitas culturas, como a da Índia, dadas as conquistas de Alexandre Magno, no século IV a.C. Veremos uma arte com características do Classicismo, mas com uso de outros recursos e estudos, como a transparência nos vestuários, os jogos de luzes e uma maior expressividade nos rostos, com representações pouco exploradas até então, como sono, velhice, sofrimento, infância e morte. FRONTALIDADE Perspectiva que prioriza a representação de diferentes partes do corpo e, também, de objetos, desde pontos de vista diferentes no conjunto, comum na arte egípcia. Cada elemento é representado a partir do ângulo que melhor o representa. Assim, o rosto se representará de perfil, mas o olho de frente, pois, em uma perspectiva linear, o nariz ficaria menos destacado, e o olho passaria desapercebido, optando por representar cada um da maneira que melhor se entende e aprecia. Fonte: Ricardo André Frantz/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0 Figura 5: Cleobis e Bitão . As esculturas Cleobis e Bitão (Figura 5), em grego Kléobi kai Bítona , dois Kouroi votivos, jovens gêmeos que se sacrificaram pela deusa Hera, encontram-se atualmente no Museu Arqueológico de Delfos, região onde foram encontradas durante as escavações arqueológicas de 1893 e 1894. Possuem identificação na base que remetem à escola arcaica, contudo é possível claramente associá-las a esse período, dado o uso da regra de composição da frontalidade, dos braços alinhados ao corpo e dos pés — “um de apoio e outro de descanso” — como será recorrente na produção escultórica desse período. A arte romana, por sua vez, é herdeira da arte grega, embora ambas guardem concepções diferentes, especialmente na representação do corpo humano — que, para os gregos, deve ser espaço dos ideais de beleza, e, para os romanos, aquilo que nos identifica com o realismo. Trata-se de arte centrada em uma “realidade retratista”, como a concepção dos deuses Lares, das obras de engenharias e militares, além da constituição das primeiras coleções de arte grega pelos romanos. Outro exemplo importante que guarda as “marcas dos empreendimentos romanos” é o Arco de Constantino (Figura 6) e todos os outros arcos feitos nesse período. Deve-se a eles a incorporação desse monumento no contexto das cidades, como em Roma, onde existem cinco: Druso, Tito, Septímio Severo, Galiano e Constantino. Eles foram construídos para representar os triunfos das batalhas e para homenagear o exército romano diante das conquistas territoriais. Fonte: Wknight94/Wikimedia Commons/Licença CC BY-SA 3.0 Figura 6: Arco de Constantino . Ao contrário dos gregos, com a ampla presença de “arquitetos”, os empreendimentos construtivos em Roma foram de responsabilidade dos engenheiros militares e construtores, dedicados à arte de edificar para conquistar territórios, melhorar a vida e adornar os espaços. SAIBA MAIS Elementos centrais para a compreensão da arquitetura romana são o arco de semicircunferência ou “arco de volta perfeita”, que os romanos aprenderam com os etruscos, e o cimento romano — um composto de areia (seixos dos rios), cal e água —, um agregado que possibilitou a colocação de pedras de mármore para resistir às construções, assim como a implantação de abóbodas para o fechamento das construções, que antes eram feitas de madeira e duravam pouco. ESTÉTICA DO RENASCIMENTO E BARROCO Fonte: Pontormo/Wikimedia Commons/Domínio público Cosme de Médici , um dos mais importantes mecenas do Renascimento. A arte do período que compreende aproximadamente 13 séculos, entre o I ao XIII d.C, considerando suas especificidades e funcionalidades que marcaram, sobretudo, a Igreja Católica e seu papel de “mecenas” nesse contexto — uma vez que a partir de 380 d.C. o Cristianismo tornou-se a religião oficial do Império —, chama-se Idade Média. As produções em que “o centro de gravidade da civilização europeia desviara-se para o que havia sido os limites do norte do mundo romano” (JANSON, 2001). Não que a estética deste período não seja importante, mas a construção de pensamento da estética ocidental passará pela necessária recuperação dos elementos estéticos da Grécia e de Roma. RENASCIMENTO No Renascimento, ao contrário do que vimos até aqui, dois componentes foram determinantes para os rumos das artes a partir de agora, a saber: Individualismo Atua como uma nova autoconsciência e autoconfiança. Humanismo Crê na importância e na busca do aprendizado em línguas e letras, como história e filosofia, ou seja, uma “era dos eruditos, dos líderes intelectuais”. Segundo Byington (2009): [...] O TERMO RENASCIMENTO SE REFERE AO RETORNO IDEAL ÀS FORMAS DA ANTIGUIDADE CLÁSSICA COMO VERDADEIRA FONTE DA BELEZA E DO SABER. O PERÍODO HISTÓRICO QUE SE ACREDITOU MERECEDOR DE TAL NOME CULTIVAVA A LEITURA DOS CLÁSSICOS GREGOS LATINOS EM BUSCA DE UMA LINGUAGEM QUE FOSSE UNIVERSAL, RECUPERANDO OS MODELOS E AS REGRAS DA ARTE ANTIGA. Não por acaso, os humanistas foram os responsáveis por essa importante transformação na área cultural, que ficou conhecida como Renascimento. Importa destacar que: [...] APESAR DA IDEIA DE RETORNO AO PASSADO, O MOVIMENTO CONHECIDO POR ESSE NOME NADA POSSUÍA DE NOSTÁLGICO. ERA, NA VERDADE, PORTADOR DE UM ACENTUADO SENTIMENTO DE SUPERIORIDADE EM RELAÇÃO AOS SÉCULOS PRECEDENTES, ACOMPANHADO DE ATITUDE DE SUBSTANCIAL OTIMISMO DIANTE DO PRESENTE DO FUTURO. (BYINGTON, 2009) Ou seja, um passado não para ser copiado/imitado, mas para servir de fonte de inspiração para a busca por novas formas, especialmente na compreensão e no estudo de como “buscá-las”. Fonte: Museu Nacional de Capodimonte/Wikimedia Commons/Domínio Público Figura 7: Retrato de Luca Pacioli e um aluno (atrás) , por Jacopo de Barbari. O retrato de Luca Pacioli (figura 7) – um frade matemático —, feito por Jacopo de Barbari — pintor italiano, que ganhou notoriedade na Alemanha, por volta de 1500 —, ilustra bem os esclarecimentos feitos por Byington, especialmente nos destaques que diz sobre a mudança cultural ocorrida nesse momento, com a promoção social das artes, especialmente dos artistas, e a “busca pelo conhecimento”, que não será apenas retratada/demonstrada amplamente na pintura, como também colocada em prática. Fonte: anonymous Portuguese (1502)/Wikimedia Commons/Domínio público Figura 8: Planisfériode Cantino , em 1502. A imagem será instrumento importante dessa nova conquista social, especialmente territorial e de demonstração de um novo momento. Como veremos, a partir do Renascimento surge a apresentação de cartas náuticas — vide a realização de grandes expedições, como o mapa do mundo feito por Cantino, em 1502 (Figura 8). Fonte: Uffizi/Wikimedia Commons/Domínio Público Figura 9: Madonna com pescoço longo, por Parmigianino Mazzola Do ponto de vista de duração desse movimento histórico e cultural, podemos utilizar como referência o final do século XIV — com o gótico tardio internacional — até meados do século XVI — início do Maneirismo, que culminaria no Barroco (Figura 9) —, período relativamente pequeno — isso se compararmos a outros. Porém, extremamente rico em termos de soluções visuais, especialmente no campo da pintura e da escultura, e de inovações técnicas e tecnológicas. ESTÉTICA DO NEOCLASSICISMO AO IMPRESSIONISMO NEOCLASSICISMO É um movimento originado na Itália, no século XVIII, e destinado a combater o “mau gosto” barroco. Visava substituir o rebuscamento e a exuberância da produção artística seiscentista pela simplicidade estilística e pela imitação da natureza. Em larga medida, o Neoclassicismo corresponde à difusão do racionalismo e da valorização de uma concepção científica do mundo, ocorrida nesse período por intermédio da difusão das ideias professadas pelo Iluminismo — corrente de pensamento marcada pela crítica aos alicerces do Antigo Regime. Assim, a produção artística do período buscava a objetividade, o que implicava, primeiro, a neutralização da individualidade do artista, que passa a recorrer a situações e emoções genéricas nas quais sua emoção se dissolva. Segundo, o equilíbrio e a simetria da obra, cuja inspiração passa a ser a própria natureza, concebida como cosmos, ou seja, como a relação harmônica de todos os elementos, modelo de equilíbrio que a arte deve reproduzir. Fonte: Museus Reais de Belas-Artes da Bélgica/Wikimedia Commons/Domínio Público A Morte de Marat , Jacques-Louis David, 1793. COMENTÁRIO O recurso privilegiado para se atingir a objetividade pretendida repousava na evocação mitológica através de nomes, situações e sentimentos que, pertencendo à herança artística clássica, adquirem, nas obras, um significado genérico. A originalidade, tão apreciada e valorizada para os artistas românticos, não tem valor para os neoclássicos, para os quais a conformidade com o modelo antigo constitui motivo de avaliação de mérito e juízo de valor. Portanto, a Antiguidade fornece aos neoclássicos a solução para o problema da forma. A recepção é assegurada pelo uso de temas clássicos, mitos e histórias antigas que constituíam, na época, uma linguagem universal, com ressonância assegurada por parte de um público leitor versado em educação humanística constituída por elementos da cultura greco-latina. A tônica da obra neoclássica a ser atingida é a ordem, a clareza e a lógica. São características: PREDOMÍNIO DA RAZÃO BUSCA DE OBJETIVIDADE CULTO À NATUREZA EQUILÍBRIO E SOBRIEDADE CLÁSSICOS PRESENÇA DA MITOLOGIA GRECO-LATINA ROMANTISMO Fonte: Wikimedia Commons / Domínio Público O soneto , William Mulready, 1839. Com o Romantismo, por sua vez, na segunda metade do século XVIII, ocorreu uma extraordinária transformação na vida sociocultural do Ocidente, com o surgimento da burguesia moderna e, com ela, a defesa do individualismo e da valorização da originalidade. A repercussão do Romantismo só pode ser compreendida considerando que, nesse momento, surge, um público leitor e um mercado artístico mais amplo. Além disso, a educação da mulher como leitora só se iniciaria no século XVIII. Por essa razão, o Romantismo conta com um público novo para uma arte nova, produzida por uma classe em ascensão que se assume como sentimental e exaltada, em oposição a uma aristocracia reservada e contida. A ascensão da burguesia é acompanhada de um padrão estético próprio, por meio do qual ela se opõe aos padrões da arte neoclássica e afirma sua própria linguagem artística. À razão e ao decoro, contrapõem-se a emoção e o sentimento; à submissão rigorosa das regras artísticas, opõe-se a insubordinação do gênio criador. O surgimento da burguesia como classe ascendente e a manifestação do espírito romântico constituem fenômenos inseparáveis. O primado da liberdade criativa e da expressão dos sentimentos sobre as convenções artísticas; a rejeição ao gosto clássico e a defesa do individualismo; o abandono das formas estéticas fixas e a retomada de autores relegados e gêneros em desuso; a ênfase na imaginação, no sonho e na evasão, no tempo e no espaço; a devoção à religiosidade cristã e a emergência de uma consciência histórica; essas serão as características marcantes do início do Romantismo. Acrescentam-se, ainda, a propensão à melancolia e ao pessimismo. O homem romântico sofreu a discrepância entre o sonho e a realidade, vítima do conflito entre as ilusões e a trivialidade da vida burguesa. Fonte: Museu Britânico/Wikimedia Commons/Domínio Público A escada de Jacó , William Blake, 1806. Os artistas românticos buscavam analogias na história e inspiração em fatos e personagens de outras épocas. Os românticos voltam-se ao passado, não em busca de modelos, mas por sedução pelo remoto, tentativa de fuga do presente. O passado atrai pelo exótico, por estar distante. É pela mesma razão — pelo desejo de escapar ao circunstancial —, que se manifestam no Romantismo o sonho, a loucura, a utopia, as reminiscências de infância. São características: INDIVIDUALISMO VALORIZAÇÃO DOS SENTIMENTOS RECUSA AOS MODELOS CLÁSSICOS MELANCOLIA ESCAPISMO ESPACIAL E TEMPORAL VALORIZAÇÃO DA IMAGINAÇÃO CULTO À NATUREZA NACIONALISMO REALISMO E NATURALISMO Fonte: Museu Fabre/Wikimedia Commons/Domínio Público Bonjour, Monsieur Courbet , Gustave Courbet, 1854. Na segunda metade do século XIX, com o Realismo, a burguesia consolidava plenamente seu poder político. O triunfo do progressivo domínio do homem sobre a técnica conduziu a um avanço científico inigualável. A expansão da industrialização na Europa promove o surgimento da classe operária, o proletariado, que passa a reivindicar seus próprios interesses. Sendo a Ciência considerada o único meio legítimo de conhecimento, não há, nesse momento da História da Arte, lugar para a metafísica. A realidade, segundo a mesma concepção, subordina-se às leis orgânicas válidas para todos os seres viventes. A produção artística realista prima por objetividade e exatidão, rejeitando quaisquer resquícios de subjetividade, imaginação ou evasão. Seus adeptos, à maneira dos cientistas, deveriam manter-se distantes dos resultados alcançados por suas obras, tornando-as artefatos impessoais. O que caracteriza o período é a vitória da concepção de mundo própria das Ciências Naturais e do pensamento racionalista e tecnológico sobre o idealismo e a tradição romântica. Busca-se retratar a estrutura da sociedade contemporânea e os tipos sociais que a povoam em todas as suas peculiaridades. As obras realistas descrevem a vida contemporânea das grandes cidades da Europa, o cotidiano da família burguesa, a faina dos trabalhadores do campo e da cidade, juntamente com os problemas sociais das transformações decorrentes da intensa urbanização e industrialização das principais potências europeias. Como extensão ou desdobramento da proposta estética realista, surge no mesmo período o Naturalismo, que intensifica certos atributos daquela e tende à apresentação patológica do homem. É frequente, no entanto, que os termos “Realismo” e “Naturalismo” se confundam, sendo que alguns autores fazem referência ao “Realismo-Naturalismo” como o estilo da segunda metade do século XIX. São características: BUSCA DE OBJETIVIDADE FÉ NA RAZÃO PREOCUPAÇÃO COM O SOCIAL CONCEPÇÃO NATURALISTA DO MUNDO SIMBOLISMO Floresceu, na Europa, nos anos 80 e 90 do século XIX. Seus adeptos,nas variadas expressões artísticas, rejeitavam as maneiras naturalistas e realistas de retratar o mundo, contrapondo a elas o gosto pelo mistério, o interesse pelo incompreensível e o timbre espiritualista. Na poesia, os escritores simbolistas renunciavam à forma fixa do objeto em favor do ritmo, da fugacidade do momento. Em lugar de uma estrutura ordenada e lógica, com a opção do simbolista pelo indefinido e pelo misterioso, o poema liberta-se da ordem e volta-se para a sugestão, o ritmo musical e o poder encantatório das palavras. Na pintura, igualmente, o foco recai sobre o poder evocativo das imagens. A estética simbolista caracteriza-se pela concepção mística do mundo; pelo interesse no particular e no individual, em lugar do geral que interessava aos realistas e parnasianos; pelo escapismo em que se aliena da sociedade contemporânea; pelo conhecimento ilógico e intuitivo; pela valorização da arte pela arte; pela utilização da via associativa como instrumento de realização artística. Fonte: Wikimedia Commons/Domínio Público Recompensa de São Sebastião , Eliseu Visconti, 1898. SAIBA MAIS O Simbolismo representa uma reação ao cientificismo que emergiu com a sociedade industrial da segunda metade do século XIX. A busca desse indefinível toma a expressão indireta e nebulosa. Uma vez que a expressão direta é considerada inadequada à captação da essência das coisas, proliferam as sugestões verbais, os símbolos, a metáfora, a associação de ideias, o que permite a evocação de outra realidade. Nessa via associativa fundem-se literatura, música e pintura. Ao voltar-se para a beleza ideal e ao êxtase contemplativo, o artista encerra-se dentro de uma “torre de marfim”, isolando-se da sociedade para fugir às sensações vulgares. Então, é preciso cultivar o belo. Os simbolistas ficaram caracterizados pela excentricidade, muitas vezes afetada, para acentuar sua distinção do vulgo, voltado ao que é material e imediato. Ao artista estavam reservados o espiritual, o místico e o não consciente. São características: CONCEPÇÃO MÍSTICA DO MUNDO INTERESSE PELO INDEFINIDO E PELO MISTÉRIO INTERESSE PELO PARTICULAR ALIENAÇÃO DO SOCIAL FLEXIBILIDADE FORMAL CONHECIMENTO ILÓGICO E INTUITIVO ARTE PELA ARTE IMPRESSIONISMO É um movimento pictórico que surgiu na França, entre as décadas de 1860 e 1880. Embora tenha se espraiado para outros gêneros artísticos, foi na pintura que encontrou seus maiores representantes e resultados. O novo sentimento de velocidade e mudança, trazido pelo desenvolvimento da técnica, introduz na vida um dinamismo sem precedentes. O pintor impressionista registra a experiência contemporânea a partir da observação do mundo exterior, feita de impressões pessoais e sensações visuais imediatas. Fonte: Museu Marmottan Monet/wikimedia Commons/Domínio Público Impressão, nascer do sol , Claude Monet, 1872. Nas telas, as paisagens e figuras humanas são retratadas sem contornos nítidos em benefício de pinceladas fragmentadas e justapostas. Além disso, a luminosidade natural é bastante valorizada, favorecida pela pintura ao ar livre. O pintor impressionista buscava captar as sutilezas da mudança de atmosfera; o escritor propunha-se apreender a variedade dos estados mentais com a maior fidelidade possível. No âmbito da literatura, o texto torna-se evocatório, fragmentário e hipersensível. Nasce o romance psicológico na acepção moderna, de estrutura não linear e com narrador impessoal e onisciente. A percepção do tempo ganha proeminência, como se observa na obra que marcou o surgimento desse estilo na ficção: Em busca do tempo perdido , de Marcel Proust (1871-1922). Os escritores realistas fazem o inventário do mundo exterior; os impressionistas concentram-se na apreensão das sutilezas das impressões subjetivas das personagens. O simultâneo, o fragmentário, o instável e o subjetivo assumem a maior importância. São características: VALORIZAÇÃO DA SUBJETIVIDADE APREENSÃO DO MOMENTÂNEO E DO FRAGMENTÁRIO ESTETIZAÇÃO DO REAL ATIVIDADE DE REFLEXÃO DISCURSIVA AS TRÊS IMAGENS A SEGUIR SÃO REPRESENTATIVAS DO PERÍODO ESTUDADO. Fonte: Wikimedia Commons/Domínio público O Massacre de Chios , Eugène Delacroix, 1824. Fonte: Wikimedia Commons/Domínio público Viajante sobre o mar de névoa , Caspar David Friedrich, 1818. Fonte: Musée d'Orsay/Wikimedia commons/Domínio público Angelus , Jean-François Millet, 1859. ARRISQUE-SE, DESCREVA-AS EM UMA CONSTRUÇÃO PESSOAL DE LEITURA DESSAS IMAGENS! RESPOSTA Após realizar sua construção pessoal de leitura das imagens propostas, confira o feedback abaixo: javascript:void(0) Representante do Romantismo, O Massacre de Chios (1824), de Eugène Delacroix, elenca alguns temas que, tipicamente, são utilizados na corrente e unido ao orientalismo, como: a valorização dos sentimentos, a melancolia e o nacionalismo na construção do “Turco” por meio da alteridade. Representante do Romantismo, Viajante sobre o mar de névoa (1818), de Caspar David Friedrich, possui algumas características comuns à corrente, como: o individualismo, o escapismo espacial e temporal e o culto à natureza. Representante do Realismo, a obra Angelus (1859), de Jean-François Millet, contém aspectos característicos, como: a preocupação com o social e a concepção naturalista do mundo. E é o fim? No vídeo a seguir, responderemos a essa pergunta relacionando o que foi visto até aqui com a continuidade do papel da estética. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE O TEXTO A SEGUIR PARA RESPONDER À QUESTÃO: “[...] OS PINTORES PEGARÃO NO ESTADO E NOS CARACTERES DOS HOMENS, COMO SE FOSSE UMA TÁBUA DE PINTURA [...] TORNÁ-LA-ÃO LIMPA, COISA QUE NÃO É MUITO FÁCIL [...] APERFEIÇOANDO SEU TRABALHO, OLHARÃO FREQUENTEMENTE PARA A ESSÊNCIA DA JUSTIÇA, DA BELEZA, DA TEMPERANÇA E DAS VIRTUDES CONGÊNERES, E PARA A REPRESENTAÇÃO QUE DELAS ESTÃO A FAZER NOS SERES HUMANOS, COMPONDO E MISTURANDO AS CORES, SEGUNDO AS PROFISSÕES, PARA OBTER UMA FORMA HUMANA DIVINA, BASEANDO-SE NAQUILO QUE HOMERO, QUANDO O ENCONTROU NOS HOMENS, APELIDOU DE DIVINO E SEMELHANTE AOS DEUSES ” (PLATÃO, A REPÚBLICA. TRAD. E NOTAS DE MARIA HELENA DA ROCHA PEREIRA. LISBOA: CALOUSTE GULBENKIAN, 1996). ACERCA DA ARTE CLÁSSICA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE: A) Platão e Aristóteles defendiam uma estética de confluência entre o belo e a moralidade. B) Restringia-se à “imitação” das virtudes. C) Aos artistas cabia o dever educacional de criar a imagem da virtude e dos vícios. D) Restringia-se às obras de arte que suscitavam a sensação de beleza. E) Sua estética não era definida, uma vez que esse conceito foi fundado posteriormente. 2. FAPERP (SEE/PB) 2011 – ADAPTADA. EM RELAÇÃO ÀS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA ARTE BARROCA, CONSIDERE OS ITENS A SEGUIR: A FIGURA HUMANA É REPRESENTADA TAL COMO NAS ARTES CLÁSSICAS, RESSALTANDO A BELEZA E A PERFEIÇÃO COMO IDEAL E FUGINDO DA REPRESENTAÇÃO REAL E NATURAL. ENFATIZA A PROFUNDIDADE E NÃO O PLANO. AS PERSPECTIVAS NÃO CENTRAIS SUGEREM UMA CONTINUIDADE NO ESPAÇO E NO TEMPO. UTILIZAÇÃO CONSTANTE DO CONTRASTE DE LUZ E SOMBRA. ASSINALE A ALTERNATIVA QUE CONTEMPLA SOMENTE ITENS CORRETOS. A) III, IV. B) II, somente. C) II, III, IV. D) IV, somente. E) I e II somente. GABARITO 1. Considere o texto a seguir para responder à questão: “[...] Os pintores pegarão no Estado e nos caracteres dos homens, como se fosse uma tábua de pintura [...] torná-la-ão limpa, coisa que não é muito fácil [...] aperfeiçoando seu trabalho, olharão frequentemente para a essência da justiça, da beleza, da temperança e das virtudes congêneres, e para a representação que delas estão a fazer nos seres humanos, compondo e misturando as cores, segundo as profissões, para obter uma forma humana divina, baseando-se naquilo que Homero, quando o encontrou nos homens, apelidou de divino e semelhante aos deuses ” (PLATÃO, A República. trad. e notas de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1996). Acerca da arte clássica,é possível afirmar que: A alternativa "B " está correta. O conceito de estética não era uma disciplina autônoma na Antiguidade Clássica. No pensamento platônico, o próprio conceito de belo (como percepção sensorial) não se associava aos objetos de apelo artístico, pois o belo associava-se à bondade e à lógica; já a arte, por sua vez, era entendida como um mero caminho para imitação das virtudes, como instrumentos de ilusão. 2. FAPERP (SEE/PB) 2011 – Adaptada. Em relação às principais características da arte barroca, considere os itens a seguir: A figura humana é representada tal como nas artes clássicas, ressaltando a beleza e a perfeição como ideal e fugindo da representação real e natural. Enfatiza a profundidade e não o plano. As perspectivas não centrais sugerem uma continuidade no espaço e no tempo. Utilização constante do contraste de luz e sombra. Assinale a alternativa que contempla somente itens corretos. A alternativa "C " está correta. A partir do destaque à profundidade e não ao plano; do uso das perspectivas para conferir a sensação de continuidade no espaço e no tempo; e por meio da utilização constante do contraste de luz e sombra, o Barroco caracterizou-se como linguagem artística de aproximação do divino com o lado humano, do cosmo com o mundano. MÓDULO 3 Relacionar a cultura imagética contemporânea das redes sociais à experiência e percepção estéticas EXPERIÊNCIA ESTÉTICA No vídeo a seguir, falaremos sobre a experiência estética no mundo contemporâneo, na tecnologia e afins. Desde a Pré-história — com a produção de registros (inscrições, desenhos) do cotidiano das populações que ali existiam à produção contemporânea da arte —, extrapolam-se todos os limites materiais e conceituais para apresentar aos espectadores soluções plástico-visuais com questionamentos sobre a sociedade, e as obras artísticas foram sendo contornadas pela formulação de juízos estéticos. Esse processo de valoração vai, em diferentes períodos, moldar a nossa compreensão e o nosso entendimento de arte, assim como vai estimular a circulação, a exposição e a apropriação de imagens “consagradas”. Veremos agora a formulação dessa valoração em obras de diferentes períodos e como aparece, na prática, em museus, instituições culturais e mídias sociais na atualidade. ARTE E PERCEPÇÃO ESTÉTICA: AS OBRAS ARTÍSTICAS E A FORMULAÇÃO DE JUÍZOS ESTÉTICOS Vamos concentrar nosso olhar em dois pontos da estética da arte que serão vitais para a nossa compreensão: PRIMEIRO PONTO A utilidade da arte, ou seja, por trás de toda produção artística há uma intenção, uma intencionalidade. SEGUNDO PONTO Passa pelo entendimento da recepção/relevância que muitas obras passaram a adquirir. Com isso, é importante ter em mente que: estudamos a arte que se encontra conservada até os dias atuais, seja a que está em seu próprio local de origem, ou as que foram incorporadas a coleções museológicas e/ou as que se encontram em centros urbanos. Para melhor compreensão deste tema, vamos analisar dois casos práticos: um da arte pré-histórica e outro da arte moderna. ARTE PRÉ-HISTÓRICA O primeiro caso de que vamos tratar, a Caverna de Altamira, também conhecida como “Capela Sistina” da Arte Rupestre, foi considerada a primeira caverna do mundo identificada com a presença de arte rupestre do paleolítico superior. PRIMEIRAS DESCOBERTAS E ESTUDOS A cavidade foi descoberta, em 1868, por Modesto Cubillas, um morador local, quando ele tentava libertar seu cachorro que havia ficado preso nas fendas de uma das rochas. Em 1875, Marcelino Sanz de Sautuola (1831-1888), arqueólogo espanhol que possuía grande conhecimento em Ciências Naturais e História, visitou pela primeira vez o lugar. Ele é considerado o descobridor da Caverna de Altamira, por iniciar os estudos sobre o local. Posteriormente a caverna também foi estudada por arqueólogos e historiadores de diversas nacionalidades, tais como os espanhóis Hermilio Alcalde del Río (1866-1947) e Francisco Jordá Cerdá (1914-2004), os franceses Henri Breuil (1877-1961) e André Leroi-Gourhan (1911-1986), e o alemão Hugo Obermaier (1877-1946). As imagens descobertas “revolucionaram” o modo de estudar a arte pré-histórica — até então ligada apenas aos vestígios materiais como objetos e fragmentos dos achados arqueológicos —, por tratar-se de uma extensa produção de pintura parietal (pintura na parede). Fonte: Museu Nacional e Centro de Pesquisa de Altamira/Domínio público Figuras 17: Parte da vista interna e medidas preventivas de conservação realizadas entre 1997 e 2001, em Altamira. Na Figura 17, podemos observar que “salas pictóricas” compõem essa grande produção do período paleolítico, na Espanha. Além disso, é importante destacar que a chamada “grande sala”, onde se encontra o maior número de representações, é a mais emblemática em termos artísticos, pela composição e pela representação/dimensão do que foi pintado. Essa “composição” merece destaque quanto aos animais representados e às técnicas utilizadas. Sabemos que muitas gerações viveram nessas cavernas. “A explicação mais provável para essas pinturas rupestres ainda é a de que se trata das mais antigas relíquias da crença universal no poder produzido pelas imagens” (GOMBRICH, 2012). ATENÇÃO Não se trata apenas de representações, mas sim da coisa representada — a caça, a captação do espírito e símbolo do animal —, pelas sociedades que ali viveram. Em Altamira temos bisões, cavalos e cervos que foram representados em tamanho natural — grande parte deles agrupada no centro da caverna —, ricos em pigmentos minerais em tons de ocre e vermelho (do óxido de ferro), delimitado pelo preto (do manganês). Fonte: José-Manuel Benito/Wikimedia Commons/Domínio público Figura 18: Representação gráfica da composição das pinturas da “grande sala” ou “sala dos policromos”, a partir do paradigma de Leroi-Gourhan. Fonte: Museu Nacional e Centro de Pesquisa de Altamira/Domínio público Figuras 19 e 20: Bisonte ou bisões – pintura rupestre em Altamira e Cervo – Pintura rupestre em Altamira, respectivamente. Essas representações (Figuras 18, 19 e 20), muitas gravadas por meio da abertura de sulco nessas pedras calcárias, com o depósito do pigmento preto e preenchido com pigmentos em tonalidades avermelhadas, foram pintadas por “sociedades” de coletores e caçadores, o que nos ajuda a interpretá- las. SAIBA MAIS O paradigma de Leroi-Gourhan é uma proposta analítica que entende que a maneira pela qual o homem se projeta/expressa se dá por meio de um fenômeno técnico ou de uma tecnologia, um fato social total, e por isso carrega uma historicidade. Neste sentido, Leroi-Gourhan conta que a produção humana parte de uma noção de “biologia da técnica” para “o lugar epistemológico”. As análises que seguem essa perspectiva investem em uma dupla intenção: ressituar o fenômeno técnico numa dinâmica vital, determinando o sentido e as modalidades dela; e tomar em conta as formas sociais de existência nas quais essa dinâmica realiza-se necessariamente (KARSENTI, 1998). (GARRABÉ, 2012) Grande parte de historiadores e teóricos da arte considera que essas imagens foram produzidas não apenas como modo de representação do cotidiano, mas como um rito de captação, como se a projeção da imagem nessas paredes pudesse perpetuar a ação — a da caça — ou do espírito desses animais —, a magia da arte de reconciliar “corpo e alma” nesses espaços, a partir das ações e vivências cotidianas desses povos. No desenho da Figura 18, vimos quatro grupos circulados de animais, onde o bisão está no centro da “fertilidade”. Não por acaso esse teto pintado em Altamira está praticamente no centro da caverna. Alguns estudiosos atribuem a forma dessas representações à “provável tradição de ritos de fertilidade”, quer a dos animais ou a da terra. Não por acaso, também, o historiador da arte americano Horst Waldemar Janson (1913-1982) atribui a essas obras, em seu livro História Geralda Arte (2001), o título de “a magia e o rito da arte do homem pré-histórico”. ARTE MODERNA O segundo caso prático para entendermos a arte e percepção estética são as obras de Pablo Picasso (1881-1973), pintor espanhol, produzidas nas décadas de 1940 e 1950. Nelas — Touro I, Touro XI, Touros (estudos) e Françoise Gilot com Paloma e Claude — temos importantes exemplares para compreensão do que vimos anteriormente sobre os esforços promovidos pelos artistas modernos, consequentemente com a arte moderna e a necessidade de romper/revisitar os ditos paradigmas da cultura greco-romana na arte. PABLO PICASSO Picasso é considerado um dos artistas mais versáteis e prolíficos do século XX. Em suas obras vemos composições e temas com a apropriação do Cubismo (do Abstracionismo e Expressionismo), dos estudos sobre a arte primitiva, como as máscaras africanas, e as pinturas rupestres da arte pré-histórica. javascript:void(0) Fonte: Museu de Arte Moderna/Wikiart Figura 21: Touro (parte I) , Picasso, 1945. Fonte: Museu de Arte Moderna/Wikiart Figura 22: Touro (parte XI) , Picasso, 1946. Fonte: Wikiart Figura 23: Touros (estudo), Picasso, 1946. Nas obras escolhidas, que vão de um primeiro estudo sobre o touro ao desenho final, na versão XI, vemos que o artista não parte da abstração, mas sim do desenho e da figura — ainda com ricos detalhes e clara compreensão do tema —, para a síntese/abstração da “coisa” apresentada. Essa busca pelo rompimento dos paradigmas do clássico, que chegaram tão fortes até o século XIX, levou muitos artistas a estudarem outras matrizes de referências, como a cultura africana e os povos primitivos com sua arte rupestre. O caso exemplar das obras de Picasso torna-se aqui objeto importante para a compreensão da formulação de juízos de valor, quer pela teoria ou pela prática artística, e para o entendimento das soluções plástico-visual adotadas em diferentes épocas, entre seus propósitos e a cultura de cada época. A obra Françoise Gilot com Paloma e Claude , na Figura 24, é posterior aos desenhos dos touros e nela vemos incorporados não apenas os esforços de síntese das figuras feitas por Picasso, como também a composição e o uso de cores. Fonte: Wikiart Figura 24: Françoise Gilot com Paloma e Claude , Picasso, 1951. FUNÇÕES DAS IMAGENS E AS PRINCIPAIS CORRENTES QUE LIDAM COM A QUESTÃO ESTÉTICA DA IMAGEM No campo da História e Teoria da Arte temos diversas correntes de estudos dedicadas à compreensão das imagens. Afinal, embora estejamos falando de pinturas, esculturas, desenhos — processos e técnicas —, é a imagem apresentada que gera diversos debates e variadas percepções. Uma situação simples para entender a importância e o peso simbólico de uma imagem: EXEMPLO Imagine-se rasgando uma fotografia que retrata uma pessoa ou um lugar importante para você. Essa ação nos provoca diversas sensações e nos faz pensar sobre a função daquela imagem em nossa vida/memória, inclusive sobre sua importância. As principais correntes que tratam da questão estética da imagem são: MÉTODO FORMALISTA MÉTODO SOCIOLÓGICO MÉTODO ICONOLÓGICO MÉTODO ESTRUTURALISTA MÉTODO FORMALISTA Parte da teoria da “pura visibilidade,” que procura explicar a obra a partir da compreensão de um conjunto de representações formais que caracteriza a peculiaridade da composição de um artista, bem como a ocorrência de temas em diferentes épocas, mas com soluções formais distintas. Heinrich Wölfflin (1864-1945) e Konrad Fiedler (1841-1895) são os dois representantes de peso dessa teoria. MÉTODO SOCIOLÓGICO Neste, a obra é produzida em constante contato com a sociedade em que está inserida, assim como seu artista. Por isso, esse método parte do princípio de que o artista é parte ativa dessa sociedade e que o resultado de sua produção, a arte, é produto desse contato, sendo avaliada e utilizada. Taine (1828- 1893), Hauser (1892-1978) e Antal (1887-1954) são representantes desse método e justificam uma História da Arte como uma história da sociedade. MÉTODO ICONOLÓGICO “[...] se o método formalista estuda a formação da obra de arte na consciência do artista, e o método sociológico sua gênese e a sua experiência na realidade social” (ARGAN, 1994), o iconológico considera que a atividade artística tem ligações profundas com o inconsciente individual e coletivo. Busca-se compreender os mistérios da imagem na imaginação, os motivos dos usos e da reaparição na memória. Não se trata de um método para compreender as prescrições iconográficas estabelecidas, mas para compreender a cultura das imagens, ou seja, dos significados e sentidos. MÉTODO ESTRUTURALISTA Neste método levam-se em consideração o lugar, o tempo e a cultura em que se produziu a obra/imagem. É um método que se dedica aos significantes, ao estudo do sinal (Semiologia). Subtrai o estudo da arte e das imagens das metodologias históricas, situando o problema da arte na questão da comunicação. Esses métodos iluminam a possibilidade de estudos e pesquisas em Arte e História da Arte que vão da Pré-história à contemporaneidade. Se saíssemos do terreno da produção artística — do entendimento mais tradicional e processual — para compreendermos o papel e os efeitos da produção de imagens e informações visuais nas redes e mídias sociais, o que perceberíamos? DIMENSÃO ATUAL DA IMAGEM NO DESIGN: OS PERFIS NAS REDES SOCIAIS (WHATSAPP, INSTAGRAM ETC.) Fonte: Alex RuhlShutterstock.com Os efeitos do desenvolvimento tecnológico na produção de imagens, com a criação de aparelhos específicos para o seu registro, sua reprodução e disseminação, vêm provocando, desde o século XIX, profundas alterações em nossa maneira de nos relacionar com estampas, gravuras, fotografias, retratos, ilustrações etc. Fonte: Liudmila & Nelson/Wikimedia Commons/Domínio Píblico. Câmara de daguerreótipo. Desde a invenção do daguerreótipo — aparelho fotográfico inventado em 1839 pelo físico e pintor francês Louis Daguerre (1787-1851) —, o progresso científico influenciou diretamente a produção de imagens. Ao longo dos séculos XIX e XX, o crescente aperfeiçoamento de câmeras fotográficas, assim como sua comercialização em larga escala, tornou a produção de imagens mais difusa e acessível. O desenvolvimento de câmeras digitais e o compartilhamento de posts nas redes sociais ampliaram, de maneira jamais imaginada, as possibilidades de produção, circulação e consumo de imagens dos mais variados tipos. A disseminação de câmeras embutidas em celulares e a forte popularização e apelo da internet permitiram que uma grande camada da população pudesse compartilhar conteúdo diversos, com especial destaque para as fotografias. São milhões de postagens diárias, contendo todo tipo de imagem: selfies , paisagens, eventos particulares e sociais, flagrantes da vida privada, situações públicas etc. Fonte: Shutterstock.com Tal situação provoca uma série de indagações: como armazenar esse volume de imagens, uma vez que, com as câmeras digitais e por meio das redes sociais, fotos são enviadas ou apagadas? Como separar os domínios da exposição pública das imagens de acervos pessoais, ligados à memória e à experiência de seus produtores? Como avaliar, do ponto de vista estético, imagens que são produzidas a partir de um gesto técnico — o apertar de um botão — de imagens produzidas pela habilidade manual de um artista? Como atribuir valor a um trabalho que resulte em milhares de reproduções? AUTOPINTURA OU AUTORRETRATO: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA Os desenvolvimentos da técnica digital e a expansão das redes sociais colocaram a produção de imagens diante de uma situação inteiramente nova. Mais do que recordações pessoais, dívidas entre familiares e amigos próximos, as imagens compartilhadas passaram a estabelecer canais de comunicação entre pessoas, gerando contatos, troca de experiências, afinidade de opiniões em uma escala de grandes proporções. Fotografias sobre algo que se está
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