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Indaial – 2020 Vigilância em Saúde Prof. Carla Eunice Gomes Correa 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof. Carla Eunice Gomes Correa Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: C824v Correa, Carla Eunice Gomes Vigilância em saúde. / Carla Eunice Gomes Correa. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 199 p.; il. ISBN 978-65-5663-017-5 1. Serviços de saúde. - Brasil. 2. Vigilância epidemiológica. – Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 362.11 III apreSentação Prezado acadêmico, seja bem-vindo à disciplina de Vigilância em Saúde. Atualmente, o tema vigilância em saúde é muito importante na área da saúde pública, visto que, com técnicas do sistema produtivo e hábitos de consumo da sociedade, estão ocorrendo várias alterações que interferem na saúde humana, assim, é necessário que fiquemos atentos aos fatores que levam ao adoecimento da população. Vocês, ao longo da disciplina, irão perceber que a atuação da vigilância em saúde é ampla e complexa. Ela se divide nas seguintes áreas: Epidemiológica, Sanitária, Saúde do Trabalhador e Ambiental. Na Unidade 1, vamos apresentar alguns tópicos essenciais para você compreender a atuação da vigilância em saúde, os fatores que levam a população a ficar doente e a forma como mensuramos esses impactos com a aplicabilidade dos indicadores de saúde. Na Unidade 2, vamos estudar os aspectos relacionados à Vigilância Epidemiológica responsável por monitorar e avaliar os fatores determinantes e condicionantes das doenças. Trataremos também da atuação da vigilância sanitária, cujo foco está na produção de bens e serviços, na distribuição e na prestação de serviços que podem causar impacto na saúde da população e da vigilância em saúde do trabalhador, cujo objetivo é vigiar as condições de trabalho e a saúde do trabalhador. Por fim, na Unidade 3, vamos apresentar a Vigilância em Saúde ambiental. Entenderemos a relação do meio ambiente com a saúde e acompanhar como é realizada o acompanhamento das alterações do meio ambiente e que podem favorecer o adoecimento da população. Bons estudos! IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA V VI Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VII UNIDADE 1 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA .....................................................1 TÓPICO 1 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE ................................................................................................3 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3 2 MOVIMENTO HISTÓRICO E CONCEITOS BÁSICOS DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE .......3 2.1 DESENVOLVIMENTO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO SUS ..............................................7 3 ESTRUTURAÇÃO E RESPONSABILIDADE DAS ESFERAS DE ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE .......................................................................................................................9 3.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE ...............................................................9 3.2 RESPONSABILIDADE DAS ESFERAS DE ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE .....11 3.2.1 Vigilância Epidemiológica ....................................................................................................12 3.2.2 Vigilância Sanitária ................................................................................................................13 3.2.3 Vigilância Ambiental ............................................................................................................14 3.2.4 Vigilância em Saúde do Trabalhador ...................................................................................15 4 FINANCIAMENTO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL ....................15 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................22 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................26 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................27 TÓPICO 2 - MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS .................................29 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................29 2 FUNDAMENTOS BÁSICOS DA PREVENÇÃO E PROMOÇÃO NA SAÚDE .......................29 2.1 PREVENÇÃO DA SAÚDE ............................................................................................................29 2.2 PROMOÇÃO DA SAÚDE .............................................................................................................34 3 VIGILÂNCIA, PREVENÇÃO, CONTROLE E ERRADICAÇÃO DE DOENÇAS ..................36 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................40 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................41 TÓPICO 3 - INDICADORES DE SAÚDE UTILIZADOS NA VIGILÂNCIA EM SAÚDE ......43 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................43 2 DEFINIÇÃO E CONCEITO DE INDICADORES .........................................................................43 3 METODOLOGIA PARA ORGANIZAÇÃO DE INDICADORES PARA A ÁREA DA SAÚDE E MEIO AMBIENTE ...............................................................................................................46 3.1 MODELO PRESSÃO-ESTADO-RESPOSTA (PER) .....................................................................46 3.2 MODELO PRESSÃO-ESTADO-IMPACTO-RESPOSTAS(PEIR) ..............................................47 3.3 MODELO FORÇA MOTRIZ-PRESSÃO-ESTADO-IMPACTO-RESPOSTA (DPSIR) .............48 3.4 MODELO FORÇA MOTRIZ-PRESSÃO-SITUAÇÃO-EXPOSIÇÃO-EFEITO-AÇÕES (FPSEEA)............................................................................................................................................49 4 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES EM SAÚDE – SIS .....................................................................50 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................59 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................60 UNIDADE 2 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, SANITÁRIA E SAÚDE DO TRABALHADOR .....................................................................................................................................61 TÓPICO 1 - VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA .............................................................................63 Sumário VIII 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................63 2 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA: ORGANIZAÇÃO, FINALIDADE E IMPORTÂNCIA 63 2.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA – SINAM ............................66 2.2 DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA .....................................................................69 2.3 SISTEMA DE MOTALIDADE – SIM ............................................................................................73 2.4 SISTEMA NACIONAL DOS NASCIDOS VIVOS – SINASC ................................................74 2.5 SISTEMA DE IMUNIZAÇÃO ........................................................................................................75 2.6 SISTEMA DE INFORMAÇÃO PARA A NOTIFICAÇÃO DAS PESSOAS EM TRATAMENTO DA ILTB ................................................................................................................77 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................81 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................82 TÓPICO 2 - VIGILÂNCIA SANITÁRIA E SUA EVOLUÇÃO ......................................................85 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................85 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA NO BRASIL ...............................85 3 FUNÇÕES E OBJETIVOS DA VIGILÂNCIA SANITÁRIA .......................................................89 4 VIGILÂNCIA SANITÁRIA: ARTICULAÇÕES COM O ESTADO, MERCADO E O CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS ..................................................................................................90 4.1 PROGRAMAS DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA ..........................................................................92 4.1.1 Vigilância Sanitária das Tecnologias de Alimentos ...........................................................92 4.1.2 Vigilância Sanitária das Tecnologias de Beleza, Limpeza e Higiene ...............................94 4.1.3 Vigilância Sanitária das Tecnologias de Produção Industrial e Agrícola .......................94 4.1.4 Vigilância Sanitária das Tecnologias Médicas ....................................................................95 4.1.5 Vigilância Sanitária das Tecnologias do Lazer ...................................................................96 4.1.6 Vigilância Sanitária das Tecnologias de Educação e Convivência ...................................97 4.1.7 Vigilância Sanitária Pós-Comercialização/Pós-Uso (VIGIPÓS) ......................................97 4.2 REDE SENTINELA .........................................................................................................................98 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................103 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................104 TÓPICO 3 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR ...................................................105 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................105 2 ASPECTOS CONCEITUAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR ............................................105 3 VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR .....................................................................109 3.1 FINALIDADE E OBJETIVOS DAS AÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR ..................113 3.2 CENTRO DE REFERÊNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR - CEREST ........................115 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................116 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................120 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................121 UNIDADE 3 - VIGILÂNCIA AMBIENTAL .....................................................................................123 TÓPICO 1 - INTER-RELAÇÃO DO MEIO AMBIENTE E SAÚDE .............................................125 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................125 2 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, MEIO AMBIENTE E SAÚDE ..................................125 2.1 PRINCIPAIS PROBLEMAS AMBIENTAIS E O IMPACTO NA SAÚDE ..............................129 2.1.1 Poluição do solo e erosão ....................................................................................................130 2.1.2 Poluição e escassez da água ................................................................................................131 2.1.3 Poluição do ar ........................................................................................................................134 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................138 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................139 IX TÓPICO 2 - SISTEMA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL ........................................141 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................141 2 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL .........................141 3 COMPETÊNCIAS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL ...........................................145 4 FORMAS DE ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL ..............................146 4.1 VIGILÂNCIA DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO (VIGIAGUA) ............147 4.2 VIGILÂNCIA DA SAÚDE DE POPULAÇÕES EXPOSTAS A POLUENTES ATMOSFÉRICOS (VIGIAR)..........................................................................................................148 4.3 VIGILÂNCIA EM SAÚDE DAS POPULAÇÕES EXPOSTAS A CONTAMINANTES QUÍMICOS (VIGIPEQ)..................................................................................................................150 4.4 VIGILÂNCIA EM SAÚDE DE POPULAÇÕES EXPOSTAS A SOLO CONTAMINADO (VIGISOLO).....................................................................................................................................154 4.5 VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL ASSOCIADA A FATORES FÍSICOS (VIGIFIS) .156 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................160AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................161 TÓPICO 3 - VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL EM DESASTRES NATURAIS E INDICADORES ...........................................................163 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................163 2 VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL RELACIONADA A DESASTRES (VIGIDESASTRES) ............................................................................................................................163 2.1 COMPONENTES DO VIGIDESTRE ...........................................................................................166 2.2 ATUAÇÃO E AÇÕES DESENVOLVIDAS PELO VIGIDESASTRE .......................................166 3 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DA ATUAÇÃO DA SAÚDE FRENTE AOS DESASTRES ..............................................................................................169 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................176 RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................179 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................180 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................181 X 1 UNIDADE 1 VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender o processo evolutivo da vigilância em saúde; • compreender a estruturação e financiamento das ações do Sistema de Vi- gilância e Saúde; • conhecer e compreender o processo saúde-doença; • compreender os sistemas de informações em saúde e sua relação com a vigilância em saúde. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará atividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – VIGILÂNCIA EM SAÚDE TÓPICO 2 – MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS TÓPICO 3 – INDICADORES DE SAÚDE UTILIZADOS NA VIGILÂNCIA EM SAÚDE Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 VIGILÂNCIA EM SAÚDE 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, mais precisamente após a Revolução Industrial, a sociedade vive exposta em razão do crescimento desordenado das cidades, do consumo e produção em massa, favorecida pela utilização de grandes quantidades de agrotóxicos. Tais exposições aceleram o aparecimento de novas doenças como a microcefalia, aumento do número de pessoas com câncer e até mesmo o surgimento de doenças que até então a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerada como erradicadas como por exemplo, surto de sarampo e febre amarela. Da mesma forma observamos ainda o surgimento e utilização de medicamentos milagrosos, sem autorização dos órgãos oficiais na busca da cura de doenças terminais. Situações como estas destacam a importância da vigilância em saúde para a sociedade. Assim, neste Tópico apresentaremos os fundamentos da vigilância em saúde, principais conceitos e a sua evolução no decorrer dos anos. Também estudaremos sobre o funcionamento do financiamento das ações de vigilância em saúde no âmbito do SUS e como se dá a sua estruturação nas esferas de gestão. 2 MOVIMENTO HISTÓRICO E CONCEITOS BÁSICOS DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE Os estudos sobre as epidemias e sua influência sobre a vida da sociedade é antiga. No antigo testamento já se fazia menção das doenças que assolavam as pessoas naquela época e, devido a isso elas eram mantidas em isolamento. Podemos observar na literatura, por exemplo, os escritos sobre os leprosos na Idade Média. Constata-se na literatura, por exemplo, que na Idade Média, houve registros sobre a epidemia da lepra, fato que motivou as autoridades a utilizarem o porto de comércio com o Oriente, localizado em Veneza (1834), como área de quarentena. Neste período, foi instituído pela primeira vez a notificação obrigatória desta doença e foram estabelecidas medidas de isolamento tanto para as pessoas, quanto para as embarcações e mercadorias, surgindo assim a chamada vigilância (SOLHA; GALEGUILLOS, 2014). UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 4 No final da Idade Média as epidemias fizeram com que o governo da Europa Ocidental começasse a estabelecer protocolos e instrumentos de monitoramento das doenças e aplicação de normas, principalmente para locais como, cemitérios e os mercados, com o objetivo de evitar que as doenças contagiosas se propagassem. No Século XVII, o Brasil adotou tais medidas no porto de Recife para evitar a propagação da febre amarela. A vinda da Coroa Portuguesa para o Brasil, faz com que em 1889 se estabeleça a primeira Regulamentação dos Serviços de Saúde dos Portos, normativa esta, semelhante a desenvolvida pelos países europeus, também com o objetivo de “prevenir a chegada de epidemias e possibilitar um intercâmbio seguro de mercadorias” (SOLHA; GALEGUILLOS, 2014, p. 12). Com a chegada da família real ao Brasil incorporou-se a ação de política médica com a finalidade de vigiar e controlar o aparecimento de epidemias, ou seja, uma forma de vigiar as cidades através de um controle-profilaxia. Neste período, as teorias sobre o aparecimento das doenças, eram baseadas na teoria miasmática. De acordo com a teorias miasmática, o aparecimento das doenças se dava pelo miasma, e com isso surge a crença de que odores, resíduos nocivos da atmosfera, do solo e de gases provocam eram responsáveis pelas doenças. No final do Século XIX e início do XX, surge a bacteriologia e com isso, se modifica as ações de intervenção a saúde, mais individual e dirigida ao portador da doença. E, as doenças pestilenciais (cólera, febre amarela, peste bubônica, varíola) chamadas de doenças infecciosas e as parasitárias (tuberculose, hanseníase, febre tifoide) representavam as doenças de maiores expressões e que necessitavam de maior atenção da saúde pública. Mas, foi em 1904 que se deu a primeira campanha de combate à febre amarela comandada por Oswaldo Cruz e a obrigatoriedade de vacinação contra a varíola (ALEXANDRE, 2012). Quarentena é um “sistema instituído no período da peste, e que consistia em retirar as pessoas da convivência e em observá-las até se ter certeza de que não estivessem com a doença, é referida, por exemplo, pelos historiadores contemporâneos como uma das primeiras contribuições fundamentais à prática da saúde pública” (ROSEN, 1994, p. 63). NOTA TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 5 Em 1923, é criado o Departamento Nacional de Saúde Pública, que tinha com função a higiene industrial, a saúde dos portos e o combate as endemias ru- rais. Em 1941 se inicia as campanhas sanitárias e em 1953 foi criado o Ministério da Saúde. O grande marco da vigilância veio a ocorrer em 1968, quando a 21ª As- sembleia Mundial da Saúde adotou o conceito de vigilância populacional, de- finida como a coleta sistemática e o uso de informação epidemiológica para o planejamento, implementação e avaliação do controle de doenças. A Assembleia definiu os três principais aspectos da vigilância: a coleta sistemática de dados pertinentes; a consolidação e a avaliação ordenada desses dados; e a rápida dis- seminação dos resultados àqueles que necessitam de conhecê-los para tomada de decisão (FRANCO NETTO et al., 2017, p. 3139, grifo nosso). O movimento da vigilância em saúde no Brasil, teve como marco regula- tório além da consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela instituciona- lidade da Lei 8.080/90 também a criação do Centro Nacional de Epidemiologia(CENEPI) em 1990, com a estruturação do financiamento das ações de vigilância FONTE: <https://bit.ly/2VHSvlo>. Acesso em: 6 abr. 2020. Oswaldo Gonçalves Cruz – o médico e cientista Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em São Luís do Paraitinga (SP), em 5 de agosto de 1872. Filho de Bento Gonçalves Cruz e Amália Bulhões Cruz. Sua família se transferiu para o Rio de Janeiro em 1877 e, na capital, estudou no Colégio Laure, no Colégio São Pedro de Alcântara e no Externato Dom Pedro II. Graduou-se na Faculdade de Medicina do Rio de janeiro em 1892, apresentando a tese de doutoramento A veiculação microbiana pelas águas. Antes de concluir o curso, já publicara dois artigos sobre microbiologia na revista Brasil Médico. NOTA UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 6 e controle de doenças no SUS e, mais recentemente, em 2003 a criação da Secreta- ria de Vigilância em Saúde. Entre as ações de grande relevância realizadas pelo CENEPI para o for- talecimento das ações de vigilância, prevenção e controle de doenças no SUS, destacam-se o programa de formação e capacitação de técnicos vinculados aos serviços estaduais e municipais de epidemiologia, desenvolvido mediante parce- rias estabelecidas com instituições acadêmicas; o financiamento de pesquisas; a busca e o esforço para integrar setores afins; o apoio à organização dos serviços de vigilância nos níveis estadual e municipal; a tentativa de ampliação do objeto da vigilância, implantando, pela primeira vez, o monitoramento das doenças e dos agravos não transmissíveis (BRASIL, 2006, p. 10). A Fundação Nacional de Saúde (Funasa) é uma fundação pública federal, vinculada ao Ministério da Saúde do Brasil. Surgiu com o Decreto nº 100, de 16 de abril de 1991, autorizado pelo Art. 14, da Lei nº 8.029, de 12 de Abril de 1990, como resultado da fusão de vários segmentos da área de saúde, entre os quais a Fundação Serviços de Saúde Pública (Fsesp) e a Superintendência de Campanhas de Saúde Pública (Sucam), duas entidades de notável tradição e projeção internacional, orgulho do serviço público brasileiro, que contam com uma bela folha de serviços construída em todo território nacional, além da Secretaria Nacional de Ações Básicas de Saúde (Snabs) e da Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde (Snpes). As ações da Fsesp e da Sucam consistiam no trabalho de prevenção e combate a doenças, na educação em saúde, na atenção à saúde de populações carentes, sobretudo aquelas do Norte e Nordeste, no saneamento e no combate e controle de endemias, além da pesquisa científica e tecnológica voltadas à saúde. Assim, a criação da Funasa buscou dar continuidade à algumas das ações desenvolvidas por esses órgãos, além de exercer papel relevante na efetivação da reforma sanitária promovida pelo Ministério da Saúde e ter ação decisiva na implementação e ampliação do Sistema Único de Saúde (SUS). FONTE: <http://www.funasa.gov.br/web/guest/a-funasa1>. Acesso em: 6 abr. 2020. IMPORTANT E A vigilância é tão relevante para a saúde da sociedade e no contexto de SUS que teve sua função estabelecida pela Constituição Federal (Seção III), art. 200, Parágrafo II: executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como, as de saúde do trabalhador. De acordo com o Artigo 200 da CF, a vigilância tem a incumbência de atuar frente a preservação e proteção à saúde, sendo responsável pela fiscalização e o controle de diversas situações que podem levar à exposição de riscos e adoecimento da população. http://www.funasa.gov.br/web/guest/a-funasa1 TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 7 2.1 DESENVOLVIMENTO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO SUS Com objetivo de aprimorar o processo de descentralização das ações de vigilância em saúde, em 2004, o Governo Federal publica a Portaria GM/MS nº 1.172, onde são definidas as atividades sob o título vigilância em saúde, a saber: vigilância de doenças transmissíveis, vigilância de doenças e agravos não transmissíveis e de seus fatores de risco, vigilância ambiental em saúde, e análise de situação de saúde. Já em 2007, por meio da Portaria GM/MS nº 1.956/07, a gestão federal da saúde do trabalhador é transferida da Secretaria de Atenção à Saúde para a Secretaria de Vigilância em Saúde. Os avanços não param por aí, em 2009 com o objetivo de fortalecer as ações da vigilância em saúde, o Ministério da Saúde pública a Portaria GM nº 3.253, aprovando as diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios e dá outras providências. De acordo com esta portaria, a vigilância em saúde constitui-se de ações de promoção da saúde da população, vigilância, proteção, prevenção e controle das doenças e agravos à saúde, abrangendo: vigilância epidemiológica; promoção da saúde; vigilância da situação de saúde; vigilância em saúde ambiental; vigilância da saúde do trabalhador; vigilância sanitária (BRASIL, 2009). Esta portaria em 2013, foi substituída pela Portaria 1.378, de 9 de julho de 2013 que regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento das ações de Vigilância em Saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância Sanitária. A partir desta portaria consolidou-se o Grupo de Trabalho Tripartite com a finalidade de discutir e elaborar a Política Nacional de Vigilância em Saúde. Mas qual é o conceito atualizado de Vigilância em Saúde? A palavra vigilância remete, inicialmente, a palavra vigiar. Sua origem vem do latim vigilare, que significa observar atentamente, estar atento, estar de sentinela. No contexto da saúde, a vigilância em saúde constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise e disseminação de dados sobre eventos relacionados saúde, objetivando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública para a proteção da saúde da população, a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde (BRASIL, 2013). Sua finalidade associada ao planejamento e a implementação de medidas de saúde pública para: • Proteção da saúde. • Prevenção e controle de riscos, agravos e doenças. • Promoção da saúde. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 8 Fazem parte da evolução do conceito de vigilância em saúde os seguintes marcos legais, conforme descreve Solha (2015): • 1961: Código Nacional de Saúde. • 1973 a 1977 - Leis 5991/73; 6360/76; 6368/76: Medicamentos / Lei 6437/77: Alimentos. • 1976 – Decreto 79.506 – Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária: Promover, elaborar, controlar aplicação e fiscalizar “normas e padrões de interesse sanitários” (Portos, aeroportos e fronteiras; Produtos e exercício profissional relacionados à saúde). De acordo com a Portaria 1.378, de 9 de julho de 2013, art. 4, as ações de Vigilância em Saúde abrangem toda a população brasileira e envolvem práticas e processos de trabalho voltados para: I – a vigilância da situação de saúde da população, com a produção de análises que subsidiem o planejamento, estabelecimento de prioridades e estratégias, monitoramento e avaliação das ações de saúde pública; II – a detecção oportuna e adoção de medidas adequadas para a resposta às emergências de saúde pública; III – a vigilância, prevenção e controle das doenças transmissíveis; IV – a vigilância das doenças crônicas não transmissíveis, dos acidentes e violências; V – a vigilância de populações expostas a riscos ambientais em saúde; VI – a vigilância da saúde do trabalhador; VII – vigilância sanitária dos riscos decorrentes da produção e do uso de produtos, serviços e tecnologias de interesse a saúde; e VIII – outras ações de vigilância que, de maneira rotineira e sistemática, podem ser desenvolvidas em serviços de saúde públicos e privados nos vários níveis de atenção, laboratórios, ambientes de estudo e trabalho e na própria comunidade (BRASIL,2013). Mas por que é necessário no contexto do SUS as ações de vigilância em saúde? Podemos dizer que as vigilâncias em saúde desenvolvem ações que envolvem conhecimentos e metodologias, que auxiliam as ações de gestão, identificação e diagnóstico da realidade, identificação de problemas e conflitos que envolvem a população local, estabelecimento de prioridades de atuação das equipes de vigilância, e a melhorar aplicabilidade dos recursos para alcançar resultados efetivos. TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 9 3 ESTRUTURAÇÃO E RESPONSABILIDADE DAS ESFERAS DE ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE De acordo com a Constituição Federal de 1988, o Brasil é dividido em entes federativos (a União, os Estados e os Municípios). Nesta divisão cada uma das esferas possui autonomia relativa, uma vez que, são independentes um dos outros, porém, cooperam entre si. Para compreendermos melhor a responsabilidade de cada um dos entes vamos inicialmente estudar a estruturação do sistema de Vigilância em Saúde, vamos lá! 3.1 SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE A partir da criação do Decreto nº 4.726/2003, o Ministério da Saúde é restruturado, e se cria a Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS, que passou a ter como uma de suas competências a gestão do “Sistema Nacional de Vigilância Ambiental em Saúde – SINVAS”. O Sistema Nacional de Vigilância em Saúde foi estruturado a partir da publicação da Portaria MS nº 1172/2004 que Institui o “Sistema Nacional de Vigilância em Saúde”, cuja gestão é atribuída à Secretaria de Vigilância em Saúde e com objetivo de fazer com que o sistema de vigilância funcionasse em todas as esferas de competência desde o ministério da saúde até o nível local (município), dividiu-se a vigilância em subsistemas, com objetivos e modos de trabalho de cada uma das vigilâncias: vigilância sanitária, epidemiológica, ambiental e de saúde do trabalhador. No âmbito do Ministério da Saúde, as Vigilâncias estão divididas conforme imagem a seguir: A SVS publica regularmente análise de situação da saúde. Consulte a publicação Saúde Brasil no endereço http://portal. saude.gov.br/portal/saude/Gestor/area. cfm?id_area=1499. DICAS UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 10 FIGURA 1 – VIGILÂNCIAS DE SAÚDE FONTE: A autora A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), possui atividades especificas que só podem ser realizas por como, por exemplo, o registro de novos produtos, substâncias e medicamentos; coordenação do sistema nacional da vigilância sanitária entre outras atividades decorrentes das ações da vigilância sanitária (SOLHA, 2014). LEI Nº 9.782, DE 26 DE JANEIRO DE 1999 Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. NOTA A Secretaria de Vigilância a Saúde (SVS/MS) é composta pela vigilância epidemiológica, ambiental e de saúde do trabalhador, responsáveis por coorde- nar os programas voltados a prevenção e controle de doenças e o programa na- cional de imunização. As vigilâncias em saúde do trabalhador e a ambiental em saúde, mormen- te quando aborda os fatores não biológicos, apresentam alto potencial de geração de conflitos, o que não é mitigado pelo fato de, constitucionalmente, o poder de polícia administrativa estar colocado em outros ministérios. De todo modo, três das quatro vigilâncias são “vigilâncias do conflito real ou potencial”: a dos pro- cessos de produção-trabalho (vigilância em saúde do trabalhador); a dos proces- sos de produção-consumo (vigilância sanitária); e a da exposição a situações de risco, principalmente a vigilância ambiental, no tocante aos riscos não biológi- cos. Essas vigilâncias, de modo diverso da epidemiológica, se caracterizam pela necessidade de forte atuação intersetorial para a efetividade de suas ações (DE SETA; OLIVEIRA; PEPE, 2017, p. 3227). TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 11 Ainda de acordo com esses autores, os dois sistemas nacionais apresen- taram um desenvolvimento desigual que variaram com o passar dos anos. Eles destacam que no período de 10997 a 2006, predominou ideia de que vigilância em saúde seria igual a vigilância em saúde pública, não incluído a regulação da vigilância sanitária. Após 2007, a concepção de Vigilância em Saúde que inclui a Vigilância Sanitária, principalmente integrada à atenção básica e, posteriormente, às redes de atenção (DE SETA; OLIVEIRA; PEPE, 2017). 3.2 RESPONSABILIDADE DAS ESFERAS DE ATUAÇÃO DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE O planejamento das ações de vigilância em saúde no âmbito do SUS ocor- rem em todo o território nacional e compreende as três esferas de governo: fede- ral, estadual e municipal. A atuação da gestão da vigilância e suas responsabili- dades em cada um dos eixos temáticos são normatizadas através de portaria e resoluções cuja execução das ações é de responsabilidade dos municípios, junta- mente com os estados. De acordo com estas normas e portarias a implementação das ações de vigilância são definidas, se dão a partir do entendimento de território, ou seja, um espaço físico onde vivem, trabalham ou transitam os seres humanos que se relacionam entre si, e que são influenciados por variáveis e alterações que também podem causar danos à saúde. Neste contexto, o papel da vigilância está em identificar os riscos e implementar as ações que possam eliminá-los ou mitigá- los ao máximo, com o objetivo de garantir a qualidade de vida e a segurança da população (COSTA, 2018). “A territorialização é a base do trabalho das equipes de atenção básica para a prática da vigilância em saúde, caracterizando-se por um conjunto de ações, no âmbito indi- vidual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde” (BRASIL, 2009, p. 11). NOTA UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 12 3.2.1 Vigilância Epidemiológica A vigilância epidemiológica tem a atribuição e a responsabilidade de elaborar normas e procedimentos técnicos que dão subsídios a execução de ações de prevenção e promoção da saúde por meio da imunização e outros tipos de intervenção que possam eliminar doenças. Desta forma, uma das atribuições, se não a mais importante, da vigilância epidemiológica em realizar a notificação de doenças ou agravos junto a autoridade sanitária. Considera-se território o bairro, comunidade, fábrica, aeroporto, feira livre, entre outros. Dando continuidade aos nossos estudos vamos compreender o papel de cada uma das vigilâncias e suas responsabilidades no âmbito do SUS. Vamos iniciar nossos estudos analisando a vigilância epidemiológica. A notificação de doenças e agravos também chamada de notificação compulsória “é definida como a comunicação da sua ocorrência à autoridade sanitária, feita por profissionais de saúde ou qualquer cidadão para a realização de medidas de intervenção necessárias” (COSTA, 2018, p. 21). NOTA NOTA Desta forma, podemos dizer que a notificação compulsória é a principal fonte de dados dos sistemas de informação da vigilância epidemiológica, pois através da ficha de investigação, é que se alimenta o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Para saber mais sobre a Notificação Compulsória, acesse a Portaria nº 204, de 17 de fevereiro 2016, que define a Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional, nos termos do anexo, e dá outras providências. Acesse: https://bit.ly/3bFYhcY. DICAS TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 13 Tragédias evitáveis 1996 – 102 idosos morreram na clínica geriátrica Santa Genoveva, na cidade do Rio de Janeiro, devido à falta de higiene e a outras irregularidades. 1996 – 47 pacientes morreram e outros 120 foram contaminados no Instituto de Doenças Renais de Caruaru, devido à utilização de água imprópria para hemodiálise. NOTA Além disso, a vigilância epidemiológicatambém atua no campo das Doenças e Agravos Crônicos Não Transmissíveis (DANT), ou seja, monitora os atendimentos prestados à população no tratamento de doenças cardiovasculares, Diabetes tipo I e II, câncer, doenças respiratórias, neuropsiquiátricas entre outras, que atualmente acometem grande parte da população. 3.2.2 Vigilância Sanitária Diariamente somos cercados por produtos e serviços que de alguma forma influenciam de forma positiva ou negativa à saúde humana quando realizamos nossa higiene pessoal, estamos em nosso ambiente de trabalho ou até mesmo no momento da nossa alimentação ou buscamos os serviços de saúde para cuidar/ tratar nossa saúde. Todas essas ações estão inseridas no cotidiano da vigilância sanitária e nem sempre nos damos conta disso. Pensamos em vigilância sanitária muitas vezes, somente quando ocorre alguma intercorrência em virtude da alimentação. Porém, a vigilância sanitária tem várias atribuições que vão desde a fiscalização, a emissão dos alvarás para os estabelecimentos comerciais até a liberação de um produto para a comercialização. Assim, neste contexto, cabe à vigilância sanitária a responsabilidade e atribuição, identificar, avaliar, gerenciar e comunicar os riscos à saúde com o objetivo de evitar que haja a ocorrência de danos ou agravo a saúde. Desta forma, toda ocorrência identificada por este órgão é registrada pelo Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS). Devido as suas ações de ocuparem problemas complexos e amplos, há a necessidade de se formar uma equipe de profissional multidisciplinar para que seja possível lidar com objetos múltiplos e múltiplas intervenções, que devem ser de caráter intersetorial (COSTA, 2018). Para que você compreenda melhor a importância da vigilância sanitária, observe o texto a seguir, que descreve casos de tragédias que poderiam ter sido evitadas se as ações de vigilância sanitária já estivessem sendo desenvolvidas. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 14 1998 – 14 Mulheres ficaram grávidas, mesmo fazendo uso do anticoncepcional Microvlar. Ao se analisar o produto consumido, foi constatada a ausência do princípio ativo do remédio. O evento ficou conhecido como pílula de farinha. A intensa mobilização social com essas tragédias e a ampla cobertura pela imprensa pressionaram o governo a criar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 1990 através da Portaria Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Podemos observar neste exemplo que muitas fatalidades como esta podem ser evitadas através das ações que a vigilância sanitária acaba desenvolvendo no âmbito da saúde pública. Com certeza você já deve ter escutado história semelhantes a esta e agora já consegue entender como tais ações podem também promover a saúde. 3.2.3 Vigilância Ambiental A vigilância ambiental que por atribuição acompanhar e identificar os fatores determinantes e condicionantes do meio e que interferem na saúde humana com o objetivo de implementar ações e medidas de prevenção e controle dos fatores ambientais que possam vir a causar doenças e agravos. Neste sentido, de acordo com Costa (2018, p. 24) cabe à vigilância ambiental desenvolver programas estratégicos visando: [...] produzir e interpretar informações para o planejamento e execu- ção de ações relativas à promoção da saúde e de prevenção e controle de doenças relacionadas ao meio ambiente; estabelecer os principais parâmetros, procedimentos e ações relacionadas à vigilância ambien- tal; identificar os riscos e divulgar as informações sobre esses fatores ambientais condicionantes e determinantes de enfermidades; intervir para eliminar os principais fatores ambientais de riscos à saúde hu- mana; conhecer e estimular a interação entre saúde, meio ambiente e desenvolvimento, visando ao fortalecimento da participação da popu- lação na promoção da saúde e qualidade de vida. Assim, para garantir seus objetivos e suas atribuições, a vigilância em saúde é responsável por desenvolver ações em relação aos seguintes programas: Vigilância da qualidade da água para consumo humano (VIGIAGUA); Vigilância em saúde de populações expostas à poluição atmosférica (VIGIAR); Vigilância em saúde de populações expostas a contaminantes químicos (VIGIPEQ); Vigilância em saúde ambiental dos riscos aos desastres (VIGIDESASTRE): Vigilância em saúde ambiental associada aos fatores físicos (exposição a radiações ionizantes e não ionizantes) (VIGIFIS) os quais estudaremos com maior aprofundamento na Unidade 3 deste livro (BRASIL,2017, on-line). TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 15 3.2.4 Vigilância em Saúde do Trabalhador A vigilância em saúde do trabalhador tem por objetivo realizar intervenção na promoção da saúde e da morbimortalidade dos trabalhadores, bem como, identificar, acompanhar e monitorar as doenças e agravos que possam surgir em decorrência do trabalho. Assim, de acordo com Costa (2010), dentre os seus objetivos, destacam- se: “a caracterização do território, perfil social, econômico e ambiental dos trabalhadores; intervir nos fatores determinantes dos riscos e agravos para eliminar ou diminuí-los; avaliar o impacto das intervenções para subsidiar o planejamento do SUS e órgãos competentes nas três esferas de governo”. 4 FINANCIAMENTO DAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE NO BRASIL A Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS) é um conjunto de ações desenvolvidas o âmbito do SUS e tem por finalidade nortear as ações de saúde coletiva no sentido da prevenção e controle de doenças, desenvolvidas por todas as esferas de gestão, mediante um processo de pactuação das atividades. A Portaria nº 64, de 30 de maio de 2008, estabelece a Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS) como instrumento de planejamento para definição de um elenco norteador das ações de vigilância em saúde que serão operacionalizadas pelas três esferas de gestão e dá outras providências. De acordo com o art. 2º desta portaria, a PAVS está estruturada pelos seguintes eixos: I. notificação de doenças e agravos; II. investigação epidemiológica; III. diagnóstico laboratorial de agravos de saúde pública; IV. vigilância ambiental; V. vigilância de doenças transmitidas por vetores e antropozoonoses; VI. controle de doenças; VII. imunizações; VIII. monitoramento de agravos de relevância epidemiológica; IX. divulgação de informações epidemiológicas; X. alimentação e manutenção de sistemas de informação; XII. monitoramento das ações de vigilância em saúde; e XIII. vigilância sanitária (BRASIL, 2008, documento on-line) Podemos observar que estes eixos são abrangentes, cabendo a cada esfera o desenvolvimento de várias ações em atendimento a legislação. Mas, você deve estar se perguntando, afinal quem financia estas ações de vigilância em saúde? A Vigilância em Saúde constitui um processo contínuo e sistemático de coleta, análise e divulgação de dados sobre os eventos adversos relacionados à UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 16 saúde, com o objetivo de planejar ações que possam contribuir para a proteção da saúde da população; a prevenção e controle de riscos, agravos e doenças e a promoção da saúde (UNA-SUS/UFMA, 2016). O governo federal regularmente transfere recursos do Fundo Nacional de Saúde para os Estados e Municípios para o desenvolvimento destas ações de vigilância em saúde conforme determina os arts. 1º a 8º e 1.147 a 1.154 da Portaria de Consolidação nº 6/GM/MS, de 28 de setembro de 2017, consolidação das normas sobre o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde, regulamenta o financiamento e a transferência dos recursos federais para as ações e os serviços de saúde, na forma de blocos de financiamento (Texto adaptado de: https://www.saude.gov. br/images/pdf/2017/novembro/17/Orientacoes-sobre-os-recursos-transferidos- no-Bloco-de-Vigilancia-em-Saude.pdf). “Os recursos do bloco de Vigilância em Saúde serão repassadosmensalmente de forma regular e automática do Fundo Nacional de Saúde para os fundos de saúde dos Estados, Distrito Federal e Municípios em uma conta única e específica” (UNA-SUS/UFMA, 2016, p. 54). FIGURA 2 – RECURSOS DO BLOCO VIGILÂNCIA EM SAÚDE FONTE: UNA-SUS/UFMA (2016, p. 55) A Portaria nº 1.378 de 2013, regulamenta as responsabilidades e define diretrizes para execução e financiamento das ações de vigilância em saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativos ao Sistema Nacional de Vigilância em Saúde e Sistema Nacional de Vigilância. Sendo assim, no caso da Vigilância em Saúde, o financiamento destas ações é organizado no Bloco Financeiro de Vigilância em Saúde e são constituídos por dois componentes: (1) componente de vigilância em saúde e (2) componente da vigilância sanitária conforme observamos na figura a seguir. https://www.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/17/Orientacoes-sobre-os-recursos-transferidos-no-Bloco-de-Vigilancia-em-Saude.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/17/Orientacoes-sobre-os-recursos-transferidos-no-Bloco-de-Vigilancia-em-Saude.pdf https://www.saude.gov.br/images/pdf/2017/novembro/17/Orientacoes-sobre-os-recursos-transferidos-no-Bloco-de-Vigilancia-em-Saude.pdf TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 17 FIGURA 3 – BLOCO FINANCEIRO DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE FONTE: A autora Podemos observar na figura anterior, que o componente de vigilância em saúde é constituído por um piso fixo chamado de piso fixo de vigilância em saúde – (PFVS), um piso variável, denominado de piso variável de vigilância em saúde – (PVVS) e pela Assistência Financeira aos Agentes de Combate às Endemias (ACF). O Piso Fixo de Vigilância em Saúde (PFVS) os recursos devem ser aplicados em ações de vigilância em saúde, compreendendo a vigilância, prevenção e controle das doenças transmissíveis; vigilância e prevenção das doenças e agravos não transmissíveis e dos seus fatores de risco; vigilância de riscos ambientais em saúde; gestão de sistemas de informação de vigilância em saúde de âmbito nacional e que possibilitam análises de situação de saúde; vigilância da saúde do trabalhador e ações de promoção em saúde. De acordo com art. 16. O PFVS da Portaria nº 1.378 de 2013 compõe-se de um valor per capita estabelecido com base na estratificação das unidades federadas em função da situação epidemiológica e grau de dificuldade operacional para a execução das ações de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2013). Para o Piso Variável de Vigilância em Saúde (PVVS), estão previstos três incentivos financeiros específicos, recebidos mediante adesão pelos entes federativos, conforme determina o art. 19; I. Núcleos Hospitalares de Epidemiologia (NHE). II. Serviço de Verificação de Óbito (SVO). III. Registro de Câncer de Base Populacional (RCBP). IV. Apoio de laboratório para o monitoramento da resistência a inseticidas de populações de “Aedes aegypti” provenientes de diferentes estados do país. V. Fator de Incentivo para os Laboratórios Centrais de Saúde Pública (FINLACEN). VI. Vigilância Epidemiológica da Influenza. VII. Ações do Projeto Vida no Trânsito. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 18 VIII. Ações de Promoção da Saúde do Programa Academia da Saúde (BRASIL, 2013, s.p.). Enquadra-se também neste contexto, o incentivo destinado as ações de Vigilância, Prevenção e Controle das DST/Aids e Hepatites Virais que é composto pela unificação dos seguintes incentivos: (a) Qualificação das Ações de Vigilância e Promoção da Saúde às DST/AIDS e Hepatites Virais; (b) Casas de Apoio para Pessoas Vivendo com HIV/AIDS e (c) Fórmula infantil às crianças verticalmente expostas ao HIV (BRASIL, 2013). A Assistência Financeira aos Agentes de Combate às Endemias (AFC), é um recurso definido pela Lei nº 12.994/2014, que institui o piso salarial profissional nacional para o plano de carreira dos Agentes Comunitários de Saúde e dos Agentes de Combate às Endemias (ACE), e regulamentado pelo Decreto nº 8.474/2015, que define em seu art. 5º, o valor de 95% (noventa e cinco por cento) do piso salarial, a ser repassado pela União aos Estados e Municípios, na forma de assistência financeira complementar, até o quantitativo máximo de ACEs definido no parâmetro publicado nos arts. 416 a 424 da Portaria de Consolidação nº 06/GM/MS, de 28/09/2017. O Componente da Vigilância Sanitária refere-se aos recursos federais destinados às ações de vigilância sanitária, constituído de: I - Piso Fixo de Vigilância Sanitária - PFVisa: destinados a Estados, Dis- trito Federal e Municípios, objetivando o fortalecimento do processo de descen- tralização, a execução das ações de vigilância sanitária e para a qualificação das análises laboratoriais de interesse para a vigilância sanitária; e II - Piso Variável de Vigilância Sanitária - PVVisa: destinados a Estados, Distrito Federal e Municípios, na forma de incentivos específicos para implemen- tação de estratégias voltadas à Vigilância Sanitária. De acordo com a Portaria nº 1.378, de 9 de julho de 2013, art. 16, o PFVS compõe-se de um valor “per capita” estabelecido com base na estratificação das unidades federadas em função da situação epidemiológica e grau de dificuldade operacional para a execução das ações de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2013). Os valores para financiamento das ações de vigilância em saúde serão ajustados anualmente com base na população estimada pelo IBGE. NOTA TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 19 O parágrafo único do art. 16 desta portaria estabelece que para efeito do PFVS, as unidades federativas são agrupadas em extratos I, II, III conforme se observa no quadro a seguir: QUADRO 1 – AGRUPAMENTO DAS UNIDADES FEDERATIVAS Estrato I: Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e Municípios pertencentes à Amazônia Legal dos Estados do Maranhão (1) e Mato Grosso (1). Estrato II: Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão (2), Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso (2), Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Sergipe. Estrato III: Distrito Federal, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. FONTE: Brasil (2013, on-line) Assim, os recursos que compõe o PFVS, no âmbito da CIB, são distribuídos considerando os seguintes critérios estabelecidos no art. 17 da Portaria nº 1.378, de 9 de julho de 2013: I. As Secretarias Estaduais de Saúde perceberão valores equivalentes a, no mínimo, 10% (dez por cento) do PFVS atribuído ao Estado correspondente. II. Cada Município perceberá valores equivalentes a no mínimo 60% (sessenta por cento) do “per capita” do PFVS atribuído ao Estado correspondente. III. Cada Capital e Município que compõe sua região metropolitana perceberá valores equivalentes a no mínimo 80% (oitenta por cento) do “per capita” do PFVS atribuído ao Estado correspondente (BRASIL, 2013ª, s.p., grifo nosso). Mas no que estes valores de incentivos podem ser aplicados? Os recursos podem ser aplicados em custeio e de capital. Assim, os recursos podem ser aplicados de acordo com o descrito no quadro a seguir: QUADRO 2 – DESCRIÇÃO DA APLICAÇÃO DOS RECURSOS E INCENTIVOS DA VIGILÂNCIA EM SAÚDE RECURSOS HUMANOS Contratação de recursos humanos para desenvolver atividades na área de controle de endemias. Gratificações para recursos humanos que estejam desenvolvendo atividades na área da Vigilância em Saúde. Capacitações específicas com conteúdo da Vigilância em Saúde para todos os profissionais, inclusive os que desenvolvem atividades na rede assistencial. Participação em seminários, congressos de saúde coletiva, epide- miologia, medicina tropical e outros onde sejam apresentados e discutidos temas relacionados à Vigilância em Saúde. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 20 Diárias para deslocamento de servidores de atividades inerentes à Vigilância em Saúde, bem como para participação em eventos ligados à área. SERVIÇOS DE TERCEIROS Pagamento de provedor de internetpara viabilizar envio de ban- cos de dados à Secretaria Estadual de Saúde, além de pesquisa e troca de informações técnicas. Confecção e reprodução de material informativo educativo (fol- ders, cartazes, cartilhas, faixas, banner etc.) e técnico (manuais, guias de vigilância epidemiológica). Manutenção de veículos e equipamentos utilizados nas ações da Vigilância em Saúde. Pagamento de estadia, alimentação e locais para a realização de capacitações, eventos e atividades da Vigilância em Saúde. Pagamento de assessorias, consultorias e horas-aula em ações de interesse da Vigilância em Saúde. Aluguel de imóveis com atividades próprias da Vigilância em Saúde. MATERIAL DE CONSUMO Peças, combustíveis (óleo diesel, gasolina, álcool) e lubrificantes para manutenção de veículos. Isopor, termômetro, bobinas de gelo reciclável e outros insumos para rede de frio, conservação de imunobiológicos e amostras de laboratório. Materiais, peças e outros insumos para atividades de laboratório de saúde pública. Compra de equipamentos de proteção individual (EPI) para ati- vidades de controle de vetores (competências definidas na Porta- ria MS nº 1.172/04). Reposição de peças para equipamentos de aspersão. Lâminas, lamínulas, estiletes e papel filtro. Material de escritório. FONTE: Brasil (2013, on-line) Para você aprofundar seus conhecimentos em relação ao financiamento das ações de vigilância em saúde, acesse as portarias: PORTARIA Nº 48, DE 20 DE JANEIRO DE 2015 Habilita os entes federativos ao recebimento do incentivo financeiro de custeio para im- plantação e manutenção de ações e serviços públicos estratégicos de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2015). PORTARIA Nº 56, DE 29 DE JANEIRO DE 2015 Autoriza o repasse dos valores de recursos federais, relativos ao incentivo financeiro de cus- DICAS TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 21 teio para implantação e manutenção de ações e serviços públicos estratégicos de Vigilância em Saúde, aos Fundos Estaduais, Distrital e Municipais de Saúde (BRASIL, 2015). PORTARIA Nº 183, DE 30 DE JANEIRO DE 2014 Regulamenta o incentivo financeiro de custeio para implantação e manutenção de ações e serviços públicos estratégicos de Vigilância em Saúde, previsto no art. 18, inciso I, da Porta- ria nº 1.378/GM/MS, de 9 de julho de 2013, com a definição dos critérios de financiamento, monitoramento e avaliação (BRASIL, 2014). Em relação aos papéis referentes ao planejamento e fiscalização da execução orçamentária previstos pela Lei Federal nº 8.080/90, pela Lei Federal nº 8.142/90 e pela Resolução nº 453 de 10 de maio de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, temos como embasamento legal: • Constituição Federal do Brasil de 1988 (CF-88). • Lei Federal nº 8.080/90, caput do artigo 36 e parágrafos 1º e 2º. • Lei Federal nº 8.142/90, parágrafo 2º do artigo 1º. • Resolução nº 453/2012. • Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar nº 101/00). • Lei Federal nº 8.689/93 (Lei nº 8.689/93). • Portaria MOG nº 42/99 (Portaria nº 42/99). • Portaria Interministerial STN/SOF nº 163/2001 (Portaria nº 163/2001). • Portarias MS: Portaria nº 2.135/2013 (revoga as portarias nº 3.085/2006, nº 3.332/2006 e nº 3.176/2008), nº 2.053/2013, nº 204/2007, e nº 837/2009. Caro acadêmico, chegamos ao final do Tópico 1 da Unidade 1 deste livro. Convido você para darmos sequência aos nossos estudos compreendendo o universo das doenças e agravos, que de alguma forma podem comprometer nossa qualidade de vida do cuidado preventivo e que justificam a existência da vigilância em saúde no âmbito do SUS. Vamos lá! UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 22 Vigilância em saúde Maurício Monken Carlos Batistella Aspectos históricos A expressão ‘vigilância em saúde’ remete, inicialmente, à palavra vigiar. Sua origem – do latim vigilare – significa, de acordo com o Dicionário Aurélio, observar atentamente, estar atento a, atentar em, estar de sentinela, procurar, campear, cuidar, precaver-se, acautelar-se. No campo da saúde, a ‘vigilância’ está historicamente relacionada aos conceitos de saúde e doença presentes em cada época e lugar, às práticas de atenção aos doentes e aos mecanismos adotados para tentar impedir a disseminação das doenças. O isolamento é uma das práticas mais antigas de intervenção social relativa à saúde dos homens (Rosen, 1994; Scliar, 2002; Brasil, 2005). No final da Idade Média, o modelo médico e político de intervenção que surgia para a organização sanitária das cidades deslocava-se do isolamento para a quarentena. Três experiências iniciadas no Século XVIII, na Europa, irão constituir os elementos centrais das atuais práticas da ‘vigilância em saúde’: a medicina de estado, na Alemanha; a medicina urbana, na França; e a medicina social, na Inglaterra (Foucault, 1982). O desenvolvimento das investigações no campo das doenças infecciosas e o advento da bacteriologia, em meados do Século XIX, resultaram no aparecimento de novas e mais eficazes medidas de controle, entre elas a vacinação, iniciando uma nova prática de controle das doenças, com repercussões na forma de organização de serviços e ações em saúde coletiva (Brasil, 2005). Surge, então, em saúde pública, o conceito de “vigilância”, definido pela específica, mas limitada, função de observar contatos de pacientes atingidos pelas denominadas “doenças pestilenciais” (Waldman, 1998). A partir da década de 1950, o conceito de ‘vigilância’ é modificado, deixando de ser aplicado no sentido da ‘observação sistemática de contatos de doentes’, para ter significado mais amplo, o de ‘acompanhamento sistemático de eventos adversos à saúde na comunidade’, com o propósito de aprimorar as medidas de controle (Waldman, 1998). Em 1963, Alexander Langmuir, conceituou ‘vigilância em saúde’ como a “observação contínua da distribuição e tendências da incidência de doenças mediante a coleta sistemática, consolidação e avaliação de informes de morbidade e mortalidade, assim como de outros dados relevantes, e a regular disseminação dessas informações a todos os que necessitam conhecê-la” (Brasil, 2005). LEITURA COMPLEMENTAR TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 23 Esta noção de ‘vigilância’, ainda presente nos dias atuais, baseada na produção, análise e disseminação de informações em saúde, restringe-se ao assessoramento das autoridades sanitárias quanto à necessidade de medidas de controle, deixando a decisão e a operacionalização dessas medidas a cargo das próprias autoridades sanitárias (Waldman, 1998). Em 1964, Karel Raska, propõe o qualificativo ‘epidemiológica’ ao conceito de ‘vigilância’ – designação consagrada no ano seguinte com a criação da Unidade de Vigilância Epidemiológica da Divisão de Doenças Transmissíveis da Organização Mundial da Saúde (OMS). Em 1968, a 21ª Assembleia Mundial da Saúde promove ampla discussão sobre a aplicação da ‘vigilância’ no campo da saúde pública, que resulta em uma visão mais abrangente desse instrumento, com recomendação de sua utilização não só em doenças transmissíveis, mas também em outros eventos adversos à saúde (Waldman, 1998). Um dos principais fatores que propiciaram a disseminação da ‘vigilância’ como instrumento em todo o mundo foi a ‘campanha de erradicação da varíola’, nas décadas de 1960 e 1970. Neste período, no Brasil, a organização do Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (1975), se dá através da instituição do Sistema de Notificação Compulsória de Doenças. Em 1976, é criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. No caso da vigilância ambiental, começou a ser pensada e discutida, a partir da década de 1990, especialmente com o advento do Projeto de Estruturação do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde - VIGISUS (Brasil, 1998; EPSJV, 2002). O debate atual As discussões que se intensificaram a partir da década de 1990 em torno da reorganização do sistema de ‘vigilância epidemiológica’, tornando possível conceber a proposta de ação baseada na ‘vigilância da saúde’, continham pelo menos três elementosque deveriam estar integrados: 1) a ‘vigilância’ de efeitos sobre a saúde, como agravos e doenças, tarefa tradicionalmente realizada pela ‘vigilância epidemiológica’; 2) a ‘vigilância’ de perigos, como agentes químicos, físicos e biológicos que possam ocasionar doenças e agravos, tarefa tradicionalmente realizada pela ‘vigilância sanitária’; 3) a ‘vigilância’ de exposições, através do monitoramento da exposição de indivíduos ou grupos populacionais a um agente ambiental ou seus efeitos clinicamente ainda não aparentes (subclínicos ou pré- clínicos), este último se coloca como o principal desafio para a estruturação da ‘vigilância ambiental’ (Freitas & Freitas, 2005; EPSJV, 2002). No Brasil, o processo de implantação dos distritos sanitários buscava organizar os esforços para redefinir as práticas de saúde, tentando articular a epidemiologia, o planejamento e a organização dos serviços (Teixeira, 2000). Naquele momento, a preocupação incidia sobre a possibilidade de reorganizar a prestação dos serviços, buscando a integração das diferentes lógicas existentes: a atenção à demanda espontânea, os programas especiais e a oferta organizada dos serviços, com base na identificação das necessidades de saúde da população. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 24 A excessiva fragmentação observada na institucionalização das ações de ‘vigilância’ (epidemiológica, sanitária e ambiental) também é criticada no âmbito de sua construção conceitual. Três vertentes apontam diferentes concepções em torno da noção de ‘vigilância em saúde’: uma primeira, que a entende como sinônimo de ‘análise de situações de saúde’, embora amplie o objeto da ‘vigilância epidemiológica’, abarcando não só as doenças transmissíveis, não incorpora as ações voltadas ao enfrentamento dos problemas. A segunda vertente concebe a ‘vigilância em saúde’ como integração institucional entre a ‘vigilância epidemiológica’ e a ‘vigilância sanitária’, resultando em reformas administrativas e, em alguns casos, no fortalecimento das ações de ‘vigilância sanitária’ e na articulação com os centros de saúde. Por fim, a terceira noção concebe a ‘vigilância em saúde’ como uma proposta de redefinição das práticas sanitárias, organizando processos de trabalho em saúde sob a forma de operações para enfrentar problemas que requerem atenção e acompanhamento contínuos. Estas operações devem se dar em territórios delimitados, nos diferentes períodos do processo saúde-doença, requerendo a combinação de diferentes tecnologias (Teixeira, Paim & Vilasboas, 1998). Nesta última concepção são revistos os sujeitos, os objetos, meios de trabalho e as formas de organização dos processos de trabalho envolvidos. De acordo com Teixeira, Paim e Vilasboas (1998), o sistema de saúde brasileiro após a constituição de 1988 vem buscando construir modelos de atenção que respondam de forma eficaz e efetiva às reais necessidades da população brasileira, seja em sua totalidade, seja em suas especificidades locais. Os modelos hegemônicos atuais – o médico-assistencial, pautado na assistência médica e no hospital, e o modelo sanitarista, baseado em campanhas, programas e em ações de ‘vigilância epidemiológica’ e ‘sanitária’ – não conseguem mais responder à complexidade e diversidade dos problemas de saúde que circunscrevem o cidadão comum nesse início de século. A busca por modelos alternativos que, sem negar os anteriores, conjuguem as ações de promoção, proteção e recuperação da saúde a outras formas de cuidado voltadas para qualidade de vida das coletividades, incorporando atores sociais antes excluídos do processo de produção da saúde, é estratégia para superar o ciclo biologicista, antropocêntrico, medicalizante e iatrogênico em que se encontra o sistema de saúde há quase um século. A ‘vigilância em saúde’, entendida como rearticulação de saberes e de práticas sanitárias, indica um caminho fértil para a consolidação do ideário e princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Apoiada no conceito positivo do processo saúde-enfermidade, ela desloca radicalmente o olhar sobre o objeto da saúde pública – da doença para o modo de vida (as condições e estilos de vida) das pessoas. Entendida como uma ‘proposta de ação’ e uma ‘área de práticas’, a ‘vigilância em saúde’ apresenta as seguintes características: intervenção sobre problemas de saúde que requerem atenção e acompanhamento contínuos; adoção do conceito de risco; articulação entre ações promocionais, preventivas, curativas TÓPICO 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE 25 e reabilitadoras; atuação intersetorial; ação sobre o território; e intervenção sob a forma de operações (Paim & Almeida Filho, 2000). Fundamentada em diferentes disciplinas (epidemiologia, geografia crítica, planificação em saúde, ciências sociais, pedagogia, comunicação etc.), a ‘vigilância em saúde’ recorre a uma ‘associação de tecnologias’ (materiais e não materiais) para enfrentar problemas (danos e riscos), necessidades e determinantes socioambientais da saúde. Como combinação tecnológica estruturada para resolver questões postas pela realidade de saúde, a ‘vigilância em saúde’ tem sido reconhecida como um ‘modelo de atenção’ ou como um ‘modo tecnológico de intervenção em saúde’ (Paim & Almeida Filho, 2000) ou uma via para a construção e a implementação da diretriz da integralidade. O pensar sistemático sobre o conhecimento, o objeto e o trabalho em saúde dão suporte para a operacionalização do trinômio ‘informação-decisão- ação’, dimensões estratégicas para o planejamento. Esta reflexão coloca tanto para o diagnóstico quanto para a ação a importância do olhar de cada ator social sobre o seu cotidiano. Portanto, os processos de trabalho da ‘vigilância em saúde’ apontam para o desenvolvimento de ações intersetoriais, visando responder com efetividade e eficácia aos problemas e necessidades de saúde de populações e de seus contextos geradores. Para Carvalho (2005), embora a corrente da ‘vigilância em saúde’ venha contribuindo para a consolidação do SUS e aponte corretamente para a reorganiza- ção do modelo assistencial, é preciso indicar suas debilidades teóricas e práticas. A ‘vigilância em saúde’ tenderia a desconsiderar a importância do saber clínico acu- mulado ao longo da história, dando ênfase demasiada ao papel da epidemiologia e do planejamento na determinação das necessidades de saúde. O autor assinala ainda a subordinação do universo do sofrimento à lógica dos fatores e condições de risco presente na proposta da ‘vigilância em saúde’. Em nome do coletivo, esta tenderia a desconsiderar os planos do desejo e do interesse individual que confor- mam o sujeito. Por fim, à ênfase dada ao método epidemiológico na priorização dos problemas de saúde põe em questão a afirmação de que a ‘vigilância em saúde’ teria como objeto a saúde e não a doença. Outra vertente de crítica diz respeito à intersetorialidade. Para Lefévre e Lefévre (2004), ao afirmar que a saúde é responsabilidade de todos setores (habitação, emprego, renda, meio ambiente etc.), a ‘vigilância em saúde’ esvaziaria a ação específica do setor saúde em detrimento de ações políticas globais com alto grau de generalidade. FONTE: BATISTELLA, M. M. C. Vigilância em saúde. 2019. Disponível em: http://www.sites.epsjv. fiocruz.br/dicionario/verbetes/vigsau.html>. Acesso em: 2 abr. 2020. http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/vigsau.html http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/vigsau.html 26 Neste tópico, você aprendeu que: • No decorrer dos anos houve um movimento histórico sobre as ações de vigilância em saúde. • Em 2004, o Governo Federal publica a Portaria GM/MS nº 1.172, onde são definidas as atividades sob o título vigilância em saúde. • A Secretaria de Vigilância a Saúde (SVS/MS) é composta pela vigilância epidemiológica, ambiental e de saúde do trabalhador. • A vigilância epidemiológica tem a atribuição e a responsabilidade de elaborar normas e procedimentos técnicos quedão subsídios a execução de ações de prevenção e promoção da saúde por meio da imunização. • Cabe à vigilância sanitária a responsabilidade e atribuição de identificar, avaliar, gerenciar e comunicar os riscos à saúde. • A vigilância ambiental tem, por atribuição, acompanhar e identificar os fatores determinantes e condicionantes do meio e que interferem na saúde humana. • A vigilância em saúde do trabalhador tem por objetivo realizar intervenção na promoção da saúde e da morbimortalidade dos trabalhadores. • A Portaria nº 64, de 30 de maio de 2008, estabelece a Programação das Ações de Vigilância em Saúde (PAVS) como instrumento de planejamento para definição de um elenco norteador das ações de vigilância em saúde. RESUMO DO TÓPICO 1 27 1 A vigilância em saúde tem várias funções no contexto da saúde pública. En- tretanto, uma atividade é comum a toda vigilância em saúde. Analise as prepo- sições a seguir e assinale a alternativa correta: a) Fazer somente notificação dos agravos a saúde. b) Mapear área de riscos ambientais e analisar dados. c) Desenvolver atividades de investigação, identificar riscos ou agravos, imple- mentar ações. d) Levantar incidência ou analisar dados socioeconômicos. 2 Analise o conceito a seguir: “sistema instituído no período da peste, e que consistia em retirar as pessoas da convivência e em observá-las até se ter certe- za de que não estivessem com a doença, é referida, por exemplo, pelos historia- dores contemporâneos como uma das primeiras contribuições fundamentais à prática da saúde pública” (ROSEN, 1994, p. 63). Assinale a alternativa correta em relação ao conceito: a) Esse conceito refere-se o período da febre amarela. b) O conceito refere-se ao período de quarentena. c) O conceito é relacionado aos determinantes de saúde. d) O conceito é relacionado ao período da peste negra. 3 A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) possui atividades es- pecificas que só podem ser realizas por ela. Analise as preposições a seguir em relação a essas atividades: I- O registro de novos produtos, substâncias e medicamentos; II- A coordenação do sistema nacional da vigilância sanitária; III- Desenvolver o perfil epidemiológico das populações vulneráveis; IV- Proibir a fabricação, distribuição e armazenamento de produtos que pos- sam causar danos à saúde; as atividades de investigação. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente a alternativa I está correta. b) As alternativas I, II, III estão corretas. c) As alternativas I, II e IV estão corretas. d) As alternativas III e IV estão corretas. AUTOATIVIDADE 28 4 O incentivo destinado às ações de Vigilância, Prevenção e Controle das DST/ Aids e Hepatites Virais é composto pela unificação de alguns incentivos. Em relação a esses incentivos, analise as alternativas a seguir: I- Qualificação das Ações de Vigilância e Promoção da Saúde às DST/AIDS e Hepatites Virais. II- Casas de Apoio para Pessoas Vivendo com HIV/AIDS. III- Fórmula infantil às crianças verticalmente expostas ao vírus HIV/IADS. IV- Vacinas para rubéola. Assinale a alternativa CORRETA: a) Somente a alternativa I está correta. b) As alternativas I, II, IV estão corretas. c) As alternativas I, II e III estão corretas. d) As alternativas III e IV estão corretas. 29 TÓPICO 2 MEDIDAS DE CONTROLE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO A melhoria da saúde humana sempre foi um tema muito discutido, e com- plexo, visto que a sociedade gasta sua energia e esforço para compreender e in- tervir nos processos que causam adoecimento, sofrimento e dor. Entretanto, nas últimas décadas a preocupação da sociedade está voltada mais para as questões de prevenção e formas de promoção do que somente a cura das doenças. Nas novas formas de viver em sociedade trouxeram à tona uma a preocupação em se pensar ações antecipadas que possam inibir o aparecimento e progressão de doenças. O avanço tecnológico no campo da saúde associado aos resultados de pesquisa e até mesmo da medicina baseada em evidência tem gerado diversas medidas de proteção à saúde e combate às doenças, considerando os seus fatores e determinantes. Assim, nosso objetivo neste Tópico 2 é compreender qual o papel do cui- dado preventivo no contexto do processo saúde-doença e sua relação com a vigi- lância em saúde. 2 FUNDAMENTOS BÁSICOS DA PREVENÇÃO E PROMOÇÃO NA SAÚDE O processo de adoecimento sempre fez parte da relação do homem com seu meio, e traz grandes impactos na vida das populações. E, por este motivo, as medidas de prevenção e promoção da saúde ainda são desafiadoras para os sistemas de saúde. 2.1 PREVENÇÃO DA SAÚDE O processo saúde-doença é complexo, e por isso, que mesmo depois de anos de pesquisa ainda se diz que não é possível explicar a saúde ou a doença a partir de um único ponto de vista. No decorrer da evolução deste processo, vários modelos teóricos foram desenvolvidos e reforçaram a ideia de que o corpo humano é uma máquina e que a doença representa uma falha nesta máquina ou em parte dela. UNIDADE 1 | VIGILÂNCIA EM SAÚDE E EPIDEMIOLOGIA 30 Assim, nos períodos distintos da vida em sociedade a saúde e o seu con- ceito passaram por um processo evolutivo desde a chamada visão mágica, nos primórdios da civilização, ou seja, neste período a doença era vista como algo natural que simplesmente acontecia, cujas explicações variavam de acordo com a cultura e os costumes da comunidade local. Na Civilização Grega, a saúde foi explicada a partir das conclusões ad- vindas dos homens e sua relação com a natureza. Destaca-se nesse período os escritos de Hipócrates em seu tratado Ares Aguas e Lugares em que descreve a relação do homem e o seu modo de vida, apresentando a doença como um resul- tado dessas relações. Na Idade Média, as explicações para a o aparecimento das doenças foram vinculadas as más condições de higiene, principalmente pela igreja, que a relaciona- va a um castigo divino. Nos dias atuais, ainda é possível identificar populações que explicam a cura das doenças a partir de rituais religiosos ou pela crendice popular. No decorrer do Século XV, com a ruptura entre a Igreja e poder público, os estudos biológicos cresceram com maior rapidez, proporcionando o desenvol- vimento de equipamentos e pesquisas, que por sua vez, possibilitou aos cientistas europeus o conhecimento mais aprofundado do homem e seu interior. Foi a partir da Revolução Industrial (segunda metade do Século XVIII) que nasce a medicina social, responsável por discutir o processo de adoecimento a par- tir das condições de vida das pessoas. Ainda se destaca, nesta evolução histórica, a era bacteriológica, em que houve a comprovação de que algumas doenças estavam relacionadas à presença de germes, porém, não foi capaz de explicar a complexida- de do adoecimento em meados do Século XX (SOLHA, 2014; OPAS, 2010). Neste contexto, novas teorias foram sendo criadas, considerando a mul- ticausalidade (modelo multicausal) do processo de adoecimento. A mais conhe- cida e utilizada ainda nos dias atuais é a História Natural da Doença proposta pelos pesquisadores Leavell e Clark, em 1965. De acordo com esses pesquisado- res a doença apresenta duas fases: Pré-patogênese e Patogênese (COSTA, 2018). A fase pré-patogênese precede a instalação da doença no organismo. É nela que ocorre a interação entre os agentes patogênicos, o ambiente e o suscetível. Já a fase patogênese compreende o período no qual a doença já está insta- lada no organismo e surgem as primeiras alterações, sendo que os resultados des- te processo podem resultar em cura, cronificação da doença, sequelas e/ou morte. Com base nesta lógica de desenvolvimento das doenças os pesquisadores Leavell e Clark propuseram a classificação das ações preventivas em três níveis descritos por Costa (2018): Prevenção Primária: visa implementar ações para atuar no controle dos fatores pré-patogênicos, aumentando a capacidade da pessoa se manter livre de doenças. TÓPICO 2 | MEDIDAS DE
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