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AULA 1 ARQUITETURA DE TI E MODELOS DE NEGÓCIOS Profª Mirieli Zanetti 2 CONVERSA INICIAL Vivemos na era da informação e esta, por sua vez, tornou-se o principal ativo das organizações, a chave para gerar vantagem competitiva, exigindo uma gestão eficiente, a qual pode ser facilitada pela utilização de recursos tecnológicos. Pode-se afirmar que a Tecnologia da Informação (TI) inovou o mundo dos negócios, dada a necessidade de que os processos empresariais sejam dotados de confiabilidade, eficiência e eficácia e a informação seja praticamente instantânea, características que somente podem ser amparadas e geradas pelas tecnologias. Esta é a importância da integração de todos os tipos de recursos internos e externos: tecnológicos, marketing, financeiros, humanos, de produção, logística e vendas. Eles podem fornecer como produto um conjunto de informações que, de forma integrada, se complementam e interagem, fornecendo apoio às tomadas de decisões gerenciais e subsídios para o desenvolvimento do planejamento estratégico da organização. Para tanto, faz-se necessário uma observação holística do negócio da organização, da missão, visão e dos valores que a regem e do ambiente de negócios. Nesta aula abordaremos a mudança de paradigma em relação à Tecnologia da Informação, que passou a ser vista pelas organizações como ativo, e não mais como despesa, por ser a principal ferramenta que proporciona a oportunidade de análises precisas e a geração de dados específicos para que os gestores e empreendedores possam planejar de forma sólida como atingir os objetivos do negócio e planejar sua expansão. Desta forma, a TI tem papel fundamental em manter os recursos tecnológicos necessários para que o objetivo do negócio seja alcançado. Porém, para que isso ocorra é necessário conhecer quais são os objetivos da organização, quais as estratégias que serão utilizadas para atingi-los e quais são os alicerces que embasam essas estratégias. Da mesma forma, é primordial desenvolver uma visão holística da organização, tomando conhecimento da sua essência, ou seja, do negócio, seus modelos, bem como o ambiente onde está inserida e quais são os elementos que a influenciam. CONTEXTUALIZANDO A fim de que possamos vislumbrar a importância da TI nas organizações como vantagem competitiva, podemos ilustrar citando como exemplo a 3 Companhia Zara, empresa espanhola de moda e vestuário, que por meio do uso hábil da informação obtida por meio de ferramentas tecnológicas, vem se consolidando como referência no ramo. Vejamos alguns destaques: Um sistema Point of Sale registra a informação de cada venda, informação que é transmitida à matriz no final de cada dia. Por meio de smartphones, os gerentes registram e enviam ao QG informações sobre os itens mais vendidos, itens em falta etc. A informação é utilizada para determinar quais linhas de produtos e cores devem continuar sendo produzidas. Os gerentes das lojas podem fazer pedidos duas vezes por semana e podem observar os novos designs antecipadamente. A produção é feita em pequenos lotes, permitindo: O fluxo contínuo de novos produtos; A decorrência de cinco semanas entre o design e a chegada do produto à loja (tempo que costuma girar entre 6 e 9 meses nas empresas concorrentes); A criação de 40.000 novos designs por ano, dos quais 10.000 são selecionados para produção. TEMA 1 – A TI COMO ESTRATÉGIA DE NEGÓCIO Até recentemente a Tecnologia da Informação era vista como uma área operacional e basicamente solucionadora de problemas. No entanto, recentemente o campo começou a assumir um papel de destaque, passando a ser considerado um fator estratégico pelas organizações, na medida em que se transformou na principal ferramenta de geração de informação, chave para a competitividade. A Tecnologia da Informação também é utilizada para melhorar o desempenho das atividades da empresa e, por consequência, apoiar, padronizar e controlar os processos empresariais, cada vez mais complexos, bem como minimizar as barreiras de comunicação ocasionadas pela falta de integração dos recursos (Laudon; Laudon, 2010). É consenso entre especialistas que a falta de integração dos recursos e, consequentemente dos processos empresariais, pode ser considerada um dos maiores desafios para os gestores de Tecnologia da Informação. Esse problema 4 pode ser causado pela falta de planejamento empresarial, ou seja, ausência de estratégias de negócios bem definidos, o que causa maiores despesas com retrabalhos, desperdícios de recursos materiais, humanos, tecnológicos e logísticos. Para evitar esse quadro as empresas estão, cada vez mais, alinhando suas estratégias de negócio com as estratégias de TI, a fim de que possam em conjunto criar uma base sólida para o crescimento sustentável do empreendimento. Consequentemente, faz-se necessário um robusto planejamento de recursos empresariais, constituindo-se numa abordagem sistêmica de tratamento da informação. A TI tem como papel fundamental manter os recursos tecnológicos necessários para que o objetivo do negócio seja alcançado. Ela busca questionar quais são os objetivos da organização, quais as estratégias que serão utilizadas para atingi-los e quais os recursos tecnológicos serão utilizados para suportá-los. TEMA 2 – ESTRATÉGIAS Um dos principais desafios da TI atualmente é apoiar e planejar a escalabilidade (crescimento futuro) da organização. É fato que as organizações que buscam soluções de TI alinhadas aos seus objetivos estratégicos alcançam um patamar diferenciado em relação àquelas que apenas a enxergam como simples solucionadora de problemas, uma vez que a utilizam como ferramenta para melhorar o desempenho dos negócios (Ross et al, 2008). Para que isso ocorra é necessário traduzir os princípios norteadores da empresa em objetivos mais detalhados por meio da elaboração de um plano, para finalmente identificar as iniciativas da TI que mais possam contribuir para alcançá-los, bem como os recursos que serão necessários. As organizações que conseguirem integrar suas estratégias de negócios com as estratégias de TI, criando uma sinergia, certamente estarão no caminho certo para obter um melhor desempenho e garantir a sua posição competitiva no mercado. Esse plano denomina-se basicamente de estratégia. 5 2.1 Definição A palavra estratégia tem origem na palavra grega strategos, que era usada para designar o general no comando de um exército. Com o passar do tempo, começou a ser associada às habilidades gerenciais ligadas à administração, à liderança, ao poder e aos métodos de gestão (Fernandes; Berton, 2012). Mas foi na década de 1970 que Peter Drucker, o pai da administração moderna, apresentou a relevância do mapeamento das futuras direções da organização com base em seus recursos. A partir de então, foi possível entender a estratégia no âmbito dos negócios como um padrão ou plano que integra as principais metas, políticas e sequência de ações de uma organização em um todo coerente. De uma forma bastante clara, podemos dizer que estratégia nada mais é do que um plano de ação desenvolvido para atingir um determinado objetivo. A estratégia deve estar diretamente relacionada com o tipo de negócio da organização e o ambiente onde ela está inserida. Também deve ser estruturada sobre a visão, a missão e os valores da organização (Laudon; Laudon, 2010). TEMA 3 – MISSÃO, VISÃO E VALORES Ter uma estratégia bem definida e concentrar esforços e recursos em prol do planejamento estratégico de nada valem se a organização não for amparada por um bom alicerce. Essa base, segundo Costa (2007), são os alicerces estratégicos da organização, as diretrizes que norteiam os negócios. Entre eles destacam-se a missão, a visão e os valores, que, juntos, estruturam a alma da organização.6 Figura 1 – Diretrizes que norteiam as organizações 3.1 Missão A missão da empresa responde à pergunta mais básica que a organização pode se fazer: Para que existimos? (Fernandes; Berton, 2012). Considerando que o objetivo de uma empresa privada é obter lucro e atender às necessidades de clientes, a missão responde às seguintes questões aos stakeholders, isto é, todos aqueles que possuem algum grau de relacionamento com a organização, incluindo o conjunto de administradores, funcionários, proprietários, fornecedores, clientes, credores e membros da comunidade (Fernandes; Berton, 2005): Figura 2 – Questões norteadoras da “missão” de uma organização 7 A missão de uma organização é a sua razão de ser, o porquê de ela existir (Fernandes; Berton, 2012). Segundo Chiavenato (2014), a missão é uma declaração concisa, com foco interno, da razão de ser da organização, do propósito básico para o qual se direcionam suas atividades e dos valores que orientam as atividades dos colaboradores. A missão também deve descrever como a organização espera competir no mercado e fornecer valor aos clientes. O autor também diz que a missão é o elemento que traduz as responsabilidades e pretensões da organização junto ao ambiente e define o negócio, delimitando o seu ambiente de atuação. Questionamentos básicos a serem realizados a fim de definir a missão da organização: Qual a razão de ser da empresa? Qual é o papel da empresa na sociedade? Qual é a natureza do negócio da empresa? Qual a demanda da sociedade que a empresa deseja atender? Por que ela existe e para que ela existe? 3.1.1 Exemplos Cirque Du Soleil: “Invocar o imaginário, estimular os sentidos e despertar a emoção das pessoas ao redor do mundo”. Google: “Organizar as informações do mundo e torná-las mundialmente acessíveis e úteis”. Nespresso: “Proporcionar o café perfeito”. Nike: “Experimentar a emoção da competição, da vitória e de vencer adversários”. Sony: “Experimentar a satisfação de progredir e aplicar a tecnologia em benefício da população”. Walt Disney: “Fazer as pessoas felizes”. 3.2 Visão A visão tem por objetivo definir aonde a empresa quer chegar, o que pretende ser e como gostaria de ser reconhecida no futuro. 8 A visão reflete expectativas e desejos de todos aqueles que fazem parte da organização: os acionistas, conselheiros, gestores etc. De acordo com Oliveira (2003), é a expectativa futura, o ponto onde se espera chegar, a longo prazo, em um sentido mais amplo. Ainda para Oliveira (2003), é a partir da visão que se delineia todo o planejamento estratégico. Quanto mais clara, coerente e sustentada pelos gestores, maior é seu poder para direcionar as ações. Para isso, é preciso manter um alinhamento muito grande entre o discurso do que se pretende fazer e o que efetivamente é feito no dia a dia organizacional. A visão de negócios associada a uma declaração de missão compõe a intenção estratégica da empresa. 3.2.1 Exemplos Nespresso: “Ser preferida e respeitada como a empresa líder de qualidade no mercado de café porcionado e tornar-se o ícone de café perfeito no mundo”. Itaú: “Ser o banco líder em performance sustentável e em satisfação dos clientes”. 3.3 Valores Segundo Oliveira (2003), os valores fortalecem as normas e crenças compartilhadas e desenvolvidas ao longo da história da organização. Funcionam como uma espécie de guia de conduta. Os valores respondem a perguntas, como que padrão de conduta nos norteia? e quais são os princípios que nos regem? Valores são considerados o coração da cultura organizacional e são responsáveis por comunicar ao mundo exterior o que se pode esperar de uma organização (Oliveira, 2003). Os valores também são definidos para resistir ao tempo, pois estão enraizados nos comportamentos e atitudes. Observe que os executivos e colaboradores representam os reais valores da empresa em seus comportamentos. As empresas acabam atraindo pessoas com valores similares aos de fato praticados pela organização, e não somente àqueles que são escritos e divulgados. A identificação dos valores pelos clientes, investidores e fornecedores produz a confiança necessária para os negócios. 9 3.3.1 Exemplos Kopenhagen: “Lideranças interativas; trabalho em equipe; proatividade; qualidade; ética e respeito”. Tigre: “CONFIANÇA – Produtos referência no mercado da construção, com qualidade insuperável e soluções completas, garantindo tranquilidade em todo tipo de obra”. Fiat: “Integridade; valorização das pessoas; parceria; agilidade e flexibilidade; entusiasmo”. 3.4 Objetivos Pode-se dizer que os objetivos de uma organização são os alvos que se deseja atingir. De acordo com Wright (2000), são fins desejados para os quais serão direcionados os esforços organizacionais. Quando a organização busca cumprir sua missão, na verdade, está caminhando na direção dos seus objetivos. Portanto, para que o objetivo possa ser atingido é necessário traçar um plano de ação, ou seja, uma estratégia, definindo quem serão os responsáveis, quais serão os prazos e quais recursos e competências serão empregados. TEMA 4 – NEGÓCIO Segundo Drucker, "a questão é que tão raramente perguntamos de forma clara e direta e tão raramente dedicamos tempo a uma reflexão sobre o assunto, que esta talvez seja a mais importante causa do fracasso das empresas". Definir o negócio significar responder a perguntas, como o que nossa organização se propõe a fazer? e qual o ramo/setor de atuação da empresa? Portanto, tomar conhecimento e ter clareza da definição do negócio é o ponto de partida para o desenvolvimento do planejamento estratégico. Conforme afirma Dornelas (2005), qualquer negócio, por mais promissor que pareça, deve ser criado de forma planejada, consistente e com crescimento adequado, contando com empreendedores dedicados e interessados em criar um negócio viável e sustentável, ou seja, que consiga se manter ao longo dos anos. 10 Um negócio precisa ser visto como um processo de satisfação do cliente e interessados, não como um processo de produção de mercadorias. Ele deve buscar atender às necessidades da sociedade e não se focar em produtos que são transitórios. Como exemplo, podemos citar a indústria petrolífera, que, anteriormente, fundamentavam seus negócios apenas na extração de petróleo, deixando de aproveitar, caminhar e se preparar para outras formas de produção de energia. O mundo muda o tempo todo e com ele, as necessidades das pessoas e consequentemente, o rumo das organizações. Ainda são muitas as organizações que norteiam seus negócios centrando a resposta apenas no produto ou serviço fornecido. Isso pode ser chamado de visão míope, pois limita a capacidade de enxergar as oportunidades e ameaças à organização. Um exemplo seria responder que chocolate é o negócio da Kopenhagen. Uma resposta baseada no benefício agregado ao cliente, com foco no mercado e no ambiente, seria a seguinte afirmação: estamos no negócio de presentes. Drucker resume o entendimento: Se queremos saber sobre um negócio, temos que começar com um propósito. E o seu propósito deve estar fora do negócio em si. Na verdade, ele deve estar na sociedade, pois uma empresa é um órgão da sociedade. Lucro não é a explicação, causa ou razão de comportamento de negócios e decisões de negócios, mas o teste de sua validade. 4.1 Definição Negócio é a essência do que a organização faz, é algo de valor que produz e entrega ao seu público alvo. Trata-se da ocupação, da atividade ou do trabalho que se realiza, com ou sem fins lucrativos. Definir o negócio é explicitar o âmbito de atuação da empresa. 4.2 Ambiente de negócios Ao se analisar a empresa como um sistema complexo, é preciso aceitar que toda a organização opera dentro de um ambiente mais amplo, que incluiindivíduos, grupos, outras organizações e forças tecnológicas e sociais maiores, todas com um impacto potencial poderoso sobre o desempenho da organização. Especificamente, o ambiente inclui mercados (clientes), fornecedores, órgãos governamentais e reguladores, condições tecnológicas, sindicatos, concorrentes, instituições financeiras e grupos de interesse especial que podem afetar e serem 11 afetados diretamente pela organização quando esta busca atingir os seus objetivos e metas de longo prazo (Laudon; Laudon, 2010). De acordo com Laudon e Laudon (2010), para ser bem-sucedida, uma organização precisa monitorar constantemente as transformações em seu ambiente, e responder a elas e antecipá-las. Um ambiente de uma empresa inclui grupos específicos com os quais ela precisa lidar diariamente, como clientes, fornecedores e concorrentes e, também grupos gerais, que incluem tendências socioeconômicas, condições políticas, inovações tecnológicas e eventos globais. Segue abaixo uma figura para ilustrar quais são os elementos que podem interferir numa organização e no seu ambiente. Figura 3 – O ambiente de negócios e seus elementos Fonte: Laudon; Laudon, 2010. TEMA 5 – MODELOS DE NEGÓCIOS Modelos de negócios são instrumentos importantes para a definição das bases de abertura e operação de um empreendimento. Seguindo esta lógica, o modelo de negócios deveria ser desenvolvido antes do plano de negócios. Na verdade, muitos autores questionam se pode ser desenvolvido um bom plano de negócios sem um bom modelo de negócios previamente estabelecido. De qualquer forma, muitas pessoas ainda confundem esses dois conceitos. 12 O plano de negócios é um documento essencialmente textual, baseado num modelo descritivo bastante formal. Pode ser bem detalhado ou não e normalmente possui entre 30 e 50 páginas, dependendo do modelo e tipo do negócio. Por sua vez, o modelo de negócios é uma ferramenta visual, que evita excesso de textos e páginas, focando em um quadro que pode ser visualizado em uma única folha de papel. É Basicamente um retrato do negócio. Devido a isso, uma ferramenta desenvolvida para projetar modelos de negócios de forma simplista se tornou a referência em modelagem de negócios. O Business Model Canvas foi desenvolvido por Alexander Osterwalder e Yves Pigneur. O termo canvas, em português, significa tela, fazendo referência à descrição de um esboço (Laudon; Laudon, 2010). De acordo com Oliveira (2003), durante muitos anos o plano de negócio foi o único documento utilizado para detalhar como uma empresa pretendia atingir suas metas e criar valor. Porém, há alguns anos, com o advento das empresas de capital aberto, a expressão modelo de negócios passou a ser usada. O modelo deixa claro como a empresa converte produto em valor. Assim, torna-se possível visualizar como tornar o fluxo de capital mais eficiente. Seguindo esta linha de raciocínio, de acordo com o Guia Prático do Empreendedor do Sebrae, um modelo de negócios é a “visão integrada dos processos e utilização de recursos, competências e parcerias, para criar e entregar valor aos seus clientes e acionistas”. Pense neste documento como um modelo a ser seguido, um panorama inicial do negócio, em que o mais importante é identificar atividades e processos essenciais à proposta de valor, estrutura de custos e receitas. Ainda segundo uma definição mais didática de Laudon e Laudon (2010), um modelo de negócios descreve como a empresa produz, entrega e vende um produto ou serviço, a fim de criar valor. De acordo com Chiavenato (2014), o modelo de negócios deve ser flexível, para que possa ser atualizado e adaptado posteriormente. A ideia principal é que este documento reflita exatamente a essência da organização. Portanto, é natural que ocorram mudanças à medida que o ambiente passa por mudanças constantes e se observa um amadurecimento do negócio e uma melhor percepção dos processos que possibilitam adaptações e melhorias. Daí a importância de se monitorar os ambientes, principalmente em relação à 13 complexidade dos panoramas econômicos e à globalização. Compreender o ambiente em que se está inserido ajudará a adaptar o modelo de negócios com mais agilidade e antecipação. Portanto, o modelo de negócios é fundamental para o empreendedor identificar os recursos, competências e parcerias de que dispõe e aqueles que necessita buscar, a fim de tornar claras as atividades e processos que lhe permitirão criar propostas de valor, identificar os seus segmentos de clientes e o modo de se relacionar com eles. Diante disso, o empreendedor estará em condições de responder quatro questões essenciais: Vendo o quê? Como? Para quem? Por quanto? Tais questões podem ser observadas e compreendidas por meio da Figura abaixo: Figura 4 – Questões essenciais para o desenvolvimento do modelo de negócios Fonte: Grando, 2017. Apenas para exemplificar, seguem abaixo alguns modelos tradicionais de negócios, segundo o Sebrae: 14 Modelo de franquias, no qual um empreendedor paga uma taxa para usar em seu favor uma marca e processos comerciais já consolidados. Modelo de recarga, como o dos celulares pré-pagos e impressoras: o equipamento é somente um meio para se obter uma receita recorrente, seja em créditos de celular ou na compra de toners e cartuchos de tinta. Modelo de classificados, em que se usa um meio impresso ou digital para mostrar anúncios e o cliente paga proporcionalmente ao destaque que deseja. Modelo de assinatura, usado por jornais, revistas e pela TV. Garante-se a receita previamente ao vender informação em pacotes, dando um desconto para seu consumo repetido. FINALIZANDO Levando em consideração o cenário atual de competição globalizada, a expectativa de vida e a possibilidade de prosperar das organizações são determinadas pela sua capacidade de se adaptar a um ambiente em constante evolução. Dessa forma, prosperar requer investimentos em recursos tecnológicos, os quais tendem a ser a principal vantagem competitiva das organizações, pois fornecem muitas ferramentas que podem resolver problemas complexos e permitem planejar a expansão da organização. Assim, a Tecnologia da Informação passou a ser vista pelas organizações como ativo e não mais como despesa, por ser a principal ferramenta que proporciona a oportunidade de análises precisas e a geração de dados específicos para que os gestores e empreendedores possam planejar de forma sólida como atingir os objetivos do negócio e planejar seu futuro. Diante desse cenário, podemos afirmar que a TI tem papel fundamental em manter os recursos tecnológicos necessários para que o objetivo do negócio seja alcançado. Porém, para que isso ocorra é necessário conhecer quais são os objetivos da organização, quais as estratégias que serão utilizadas para atingi-los e quais são os alicerces (missão, visão e valores) que embasam essas estratégias. Com base nestas informações, para alinhar a TI às estratégias de negócios da organização é necessário: 15 Ter um entendimento claro dos negócios que a organização pretende realizar; Conhecer as estratégias organizacionais; Alinhar os objetivos de negócio da empresa com as decisões sobre software, plataforma e infraestrutura; Ter como meta a expansão da empresa, o aperfeiçoamento dos seus processos e foco nos resultados. LEITURA OBRIGATÓRIA Sistema de Informação na era digital – o papel dos sistemas de informação no ambiente de negócios contemporâneo Leitura do primeiro capítulo do livro Sistemas de Informações Gerenciais de Laudon e Laudon (2010), disponível na Biblioteca online, compreendido entre as páginas 2 a 11. Leitura do Case intitulado O novo estágio dos Yankees olha para o futuro, na página 3 do livro Sistemas de Informações Gerenciais de Laudone Laudon (2010), disponível na Biblioteca online. Conquistando vantagem competitiva com os Sistemas de Informação Leitura do terceiro capítulo do livro Sistemas de Informações Gerenciais de Laudon e Laudon (2010), disponível na Biblioteca online, compreendido entre as páginas 69 a 77. Leitura do Case intitulado Verizon ou AT&T: qual empresa possui a melhor estratégia digital?, na página 70 do livro Sistemas de Informações Gerenciais de Laudon e Laudon (2010), disponível na Biblioteca online. Saiba mais – Intel criando padrões em TI para a transformação digital dos negócios – inovação em TI fomenta a transformação digital dos negócios O Fórum ITF365 apresentou em seu site na sessão Papo Fácil, o case da Intel Inovação em TI fomenta a transformação digital dos negócios por meio de uma entrevista realizada por Flávio Xandó, com Mario Villalta, diretor de TI da Intel nas Américas. Nesta entrevista, Villalta conta como a empresa estruturou 16 seu imenso parque tecnológico, criando padrões para que a inovação em TI fomentasse a transformação digital dos negócios. PAPOFÁCIL #070 Intel criando padrões em TI para a transformação digital dos negócios. Flávio Xandó, 2 out. 2017. Disponível em: <https://youtu.be/YKoePmP6vQs>. Acesso em: 23 jun. 2018. Para consulta e maiores informações: XANDÓ, F. PapoFácil: Intel criando padrões em TI para a transformação digital dos negócios. ITF365, set. 2017. Disponível em: <https://www.itforum365.com.br/colunas/papofacil-intel-criando-padroes-em-ti- para-transformacao-digital-dos-negocios/>. Acesso em: 23 jun. 2018. 17 REFERÊNCIAS BARNEY, J. B.; HESTERLY, W. S. Administração estratégica e vantagem competitiva: conceitos e casos. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2011. CHIAVENATO, I. Empreendedorismo: dando asas ao espírito empreendedor. São Paulo: Saraiva, 2004. _____. Gestão de pessoas. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. _____. Introdução Geral à teoria da administração. Rio de Janeiro: Editora Campus/Elsevier, 2007. BALDAN, R; VALLE, R; ROZENFELD, H. Gerenciamento de Processos de Negócio – BPM: uma referência para implantação prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. COSTA, E. A. Gestão Estratégica, da empresa que temos para a empresa que queremos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. FERNANDES, B. H. R; BERTON, L. H. Administração estratégica: da competência empreendedora à avaliação de desempenho. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. GRANDO, N. O Modelo de negócios plataforma. Blog do Nei, 27 ago. 2017. Disponível em: <https://neigrando.wordpress.com/2017/08/27/o-modelo-de- negocios-plataforma/>. Acesso em: 23 jun. 2018. HITT, M. A; HOSKISSON, R. E. Administração estratégica. 2. ed. São Paulo: Pearson, 2008. HOSKISSON, R. E.; HITT, M. A.; IRELAND, R. D.; HARRISON, J. S. Estratégia competitiva. São Paulo: Cengage Learning, 2009. LAUDON, K.; LAUDON, J. Sistemas de informação gerenciais. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico, conceitos e metodologias práticas. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003. REZENDE, D. A.; ABREU, A. F. de. Tecnologia da informação aplicada a sistemas de informação empresariais. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2013. ROSA, A. J. da; OLIVEIRA, E. G. de. Revista de Sistemas e Computação – RSC, Salvador, v. 5, n. 1, p. 15-25. Disponível em: 18 <http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rsc/article/view/3451/2634>. Acesso em: 23 jun. 2018. ROSS, J. W.; WEILL, P.; ROBERTSON, D. Arquitetura de TI como estratégia empresarial. São Paulo: M. Books do Brasil, 2008 AULA 2 ARQUITETURA DE TI E MODELOS DE NEGÓCIOS Profª Mirieli Zanetti 2 CONVERSA INICIAL Vivemos em um mundo dinâmico onde as mudanças ocorrem constantemente, exigindo que indivíduos e organizações possuam uma postura flexível e se adaptem rapidamente frente às novas alterações. Principalmente no que diz respeito às organizações, a necessidade de sobreviver e prosperar em um cenário de constantes mudanças e de competição globalizada é determinada pela sua capacidade de se adaptar ao ambiente em evolução contínua, requerendo monitoramento constante, bem como disciplina e implementação de recursos e instrumentos adequados que possibilitem uma gestão eficiente e uma evolução sustentável. Podemos afirmar que tais mudanças são advindas principalmente do ambiente externo, ou seja, do ambiente em que o negócio está inserido, influenciando nas decisões estratégicas, trazendo oportunidades e ameaças às empresas. Desta forma, como dito anteriormente, torna-se imprescindível que as empresas monitorem seus ambientes e por consequência as mudanças ocasionadas e implementem em suas rotinas instrumentos que permitam agilidade para adaptar suas estratégias, processos e sistemas às necessidades na tentativa de desenvolver respostas rápidas e precisas para manter posições privilegiadas nos mercados em que atuam ao longo do tempo. A fim de prover a agilidade, mapeamento e consequente conhecimento de todos os elementos que fazem parte da organização, favorecendo o planejamento e adaptação frente às mudanças necessárias, os especialistas têm apontado a arquitetura empresarial – AE, Enterprise Architecture – em inglês, ou arquitetura corporativa, como a abordagem mais adequada para esta finalidade, pois a sua implementação permite uma descrição detalhada dos componentes da organização que interagem para o atendimento dos seus objetivos estratégicos (Zachman, 2001). Nesta aula, abordaremos sobre a importância da Arquitetura Empresarial, como instrumento para proporcionar uma visão integrada e holística da organização e dos seus elementos como pessoas, processos, aplicações e suas relações entre si e o ambiente em que estão inseridos, a fim de prover integração e agilidade de adaptação frente às necessidades trazidas pelas mudanças constantes, na tentativa de desenvolver respostas rápidas e precisas para manter posições privilegiadas nos mercados em que atuam ao longo do tempo. E para 3 uma maior compreensão, também serão abordadas a definição, as camadas que a compõe, as competências necessárias para que a Arquitetura Empresarial seja uma realidade para as organizações, suas vantagens, bem como os desafios encontrados. CONTEXTUALIZANDO Atualmente, é comum vermos empresas que buscam prosperar e se tornar competitivas e, para isso, têm investido muitos recursos financeiros em ferramentas tecnológicas a fim de automatizar seus processos para se tornarem mais competitivas, bem como investimentos em recursos tecnológicos para agilizar as tomadas de decisão com base em informações precisas. Porém, por mais que se esforcem, não conseguem se manter competitivas; têm a percepção que seus colaboradores estão trabalhando cada vez mais e, por maior que seja o esforço empregado, estão perdendo terreno para a concorrência. Muitas contratam especialistas para ajudá-las a formular uma estratégia sólida, mas não conseguem seguir em frente. Monitoram o mercado, ouvem seus clientes, mas seus resultados continuam “mornos”... (Ross et al., 2008). Isso normalmente acontece quando, por maiores que sejam os investimentos, ainda há pouca eficácia nas soluções de TI para o negócio; ou seja, o recurso é subutilizado. Muitas empresas desenvolvem suas estratégias de negócio sem desenvolver um planejamento estratégico de recursos que irão suportá-las, criando enormes distâncias entre o planejamento estratégico com o planejamento de TI. Em muitos casos, há baixa qualidade das informações; além de redundâncias e inconsistências. Isso se deve, na maioria dos casos, à utilização de múltiplas tecnologias sem integração e planejamento, as quais foram sendo implementadas ao longo do tempo, tornando-se um fardo para a organização. Portanto, para resolver essa questão, é primordial o estabelecimento de um alicerce sólidoe um plano de TI bem estruturado, alinhado aos objetivos do negócio, que permita a execução dos processos de negócios por meio da implementação de estratégias de tecnologia previamente alinhadas ao negócio. A implementação de um alicerce, ou seja, de uma arquitetura, ajudou algumas das mais bem-sucedidas empresas do mundo, como Dell, 7-Eleven e Wal-Mart, não apenas a sobreviver, mas a prosperar, mesmo num mundo globalizado em que a concorrência, cada vez maior, não tem barreiras geográficas (Ross et al., 2008). 4 TEMA 1 – ARQUITETURA EMPRESARIAL – AE Para se manterem competitivas, as organizações têm necessitado ajustar frequentemente sua estrutura e seus processos às mudanças constantes ocasionadas pelo ambiente social, econômico e pela evolução tecnológica. Para atender às exigências desse ambiente, muitas vezes turbulento e com muitas incertezas, as organizações acabam por inserir constantemente novos elementos à sua estrutura ou reorganizam a disposição dos que já existem. Para realizar esses ajustes com eficácia, elas necessitam de instrumentos de gestão, como a Arquitetura Empresarial, alinhado aos objetivos estratégicos, a fim de possibilitar o mapeamento da estrutura existente, análise, planejamento e alterações com vistas à melhoria contínua, bem como a projeção de novas situações. Portanto, a arquitetura empresarial diz respeito à descrição detalhada dos componentes da organização que interagem para o atendimento dos seus objetivos estratégicos (Zachman, 2001). 1.1 Definição Etimologicamente, o termo arquitetura vem da junção das palavras gregas arché, que significa "primeiro" ou "principal", e tékton, que possui o significado de "construção". Definir o que seja arquitetura, segundo o arquiteto e urbanista Lúcio Costa (1940), o qual sugere que “arquitetura é antes de mais nada construção, mas, construção concebida com o propósito primordial de ordenar e organizar o espaço para determinada finalidade e visando a determinada intenção”. Portanto, pode-se entender arquitetura como o ramo da ciência que trata da organização do espaço e de seus elementos, visando atingir um determinado objetivo. 1.2 Arquitetura empresarial – AE (Enterprise Architecture, ou “arquitetura corporativa”) Se arquitetura é o conjunto de elementos que perfazem um todo, estrutura, natureza e organização; então, pode-se dizer que Arquitetura Empresarial é o alicerce de execução do negócio da empresa. Reflete o nível de integração e 5 padronização dos processos de negócio para a geração de bens e serviços aos clientes. Segundo Zachman (2001), os processos de negócio de uma organização e sua infraestrutura de TI podem ser organizados por meio da Arquitetura Empresarial. Permite detalhar os componentes da organização e como estes interagem para o atendimento dos objetivos estratégicos. As organizações que buscam soluções de TI alinhadas com seus objetivos estratégicos alcançam um patamar diferenciado em relação ao uso da TI, uma vez que utilizam a TI para melhorar o desempenho dos negócios (Ross et al., 2008). O termo arquitetura empresarial, ou arquitetura corporativa, foi utilizado pela primeira vez em 1987, em um artigo escrito por um colaborador da IBM chamado John Zachman, denominado “A Framework for Information Systems Architecture”, o qual, diante da complexidade das organizações e necessidades de adaptação frente à evolução das tendências de novos negócios (globalização, fusões e aquisições, por exemplo) e de TI (compreendem avanços em tecnologias da Internet, plataformas de hardware e servidores de aplicação, por exemplo), justificava a necessidade de uso de “construções lógicas”, ou arquitetura, para definir e controlar as interfaces e a integração de todos os componentes dos sistemas, cada vez maiores e mais complexos. Embora não tenha explorado o termo Arquitetura Empresarial em toda sua extensão, no mesmo trabalho previa a necessidade de expansão da arquitetura ao domínio das estratégias e dos negócios da organização frente ao seu maior desafio: gerenciar a complexidade das soluções de TI e o alinhamento dessas soluções aos negócios. Embora esse artigo trate das iniciativas de integração dos elementos da tecnologia com o negócio, Zachman tratou em seu artigo somente a questão da Arquitetura para sistemas de informação; mais tarde, veio a desenvolver uma ferramenta (framework) de apoio a fim de lidar com tal complexidade e permitir o mapeamento e a padronização dos processos nos sistemas (Zachman, 2001). Na literatura, existem muitas outras definições para Arquitetura Empresarial, como a definição, segundo Togaf, que afirma que a Arquitetura Empresarial consiste em identificar a estrutura dos diferentes elementos que formam uma organização e como eles se inter-relacionam e os princípios e diretrizes que regem a sua concepção e evolução ao longo do tempo” (The Open Group, 2009). 6 Torna-se claro à medida que avançamos no tema, que a Arquitetura Empresarial visa a auxiliar as organizações a obterem eficiência, mapeando seus elementos, promovendo o conhecimento, facilitando o controle e as mudanças necessárias. Conforme dito anteriormente, na Conversa Inicial desta aula, as organizações atuais são entidades complexas, devido ao fato de estarem inseridas em um ambiente de extrema competitividade global, com muitas variáveis sociais e econômicas e que se modificam a cada instante. E para atender tais exigências, as organizações acabam por inserir novos elementos à sua estrutura ou tentam reorganizar a disposição dos que já existem, transformando o mapeamento da organização numa grande e enredada “colcha de retalhos”. Diante disso e frente à necessidade de permitir uma maior integração entre os recursos e seus elementos, e realizar os ajustes necessários com eficácia, as empresas podem se valer de instrumentos de gestão, como a Arquitetura Empresarial, que possibilitem mapear a estrutura existente, verificar onde há necessidade de ajustes e integração e, além disso, desenhar novas situações. E qual a relação entre a Arquitetura Empresarial e a TI? A Arquitetura Empresarial acabou tendo um viés tecnológico devido às influências da Tecnologia da Informação (TI), que devido à sua ampla presença em praticamente todos os setores das organizações, acabou se tornando mais do que uma área de apoio, mas, sim, em uma área essencial, que necessita de integração com o negócio. A TI considera a AE como uma questão de modelagem técnica. Nesse paradigma, uma vez modelada, a organização deve se comportar de acordo com os modelos previamente estabelecidos (Ross et al., 2008). TEMA 2 – CAMADAS DA ARQUITETURA EMPRESARIAL Conforme afirma Ross et al. (2008), a chave para efetividade da arquitetura corporativa de uma empresa é a identificação de processos, dados, tecnologias e interfaces com os clientes. Portanto, segundo esta proposta, a arquitetura corporativa é composta por quatro componentes, ou camadas fundamentais: arquitetura de processos ou de negócios, arquitetura de dados ou informação, arquitetura de aplicações e arquitetura tecnológica (serviços de infraestrutura e padrões tecnológicos sobre os quais estes estão construídos), conforme pode ser observado na figura a seguir. 7 Figura 1 – As quatro camadas da arquitetura corporativa Fonte: Adaptado de Ross et al., 2008 Desta forma, segue abaixo uma breve explanação sobre as camadas da Arquitetura Empresarial, desde a mais alta, relacionada aos negócios da empresa, até a mais básica, referente à infraestrutura de TI (Ross et al, 2008). Arquitetura de Negócios/Processos: camada que define o mapa das atividades que compõem os processos de negócios. Trata da estratégia do negócio, de políticas, de modelos conceituais, dos processos organizacionais, sua governança e suas relações. Arquitetura de Aplicaçõesou sistemas: trata da estrutura das aplicações de TI que suportam os processos; os sistemas de informações, seus relacionamentos e suas interfaces. Arquitetura de Dados: trata da estrutura dos dados da organização; Arquitetura Tecnológica: define os padrões de tecnologias que os serviços de infraestrutura e de desenvolvimento devem seguir; padrões tecnológicos sobre os quais estes estão construídos É importante observar que cada camada da arquitetura é construída para apoiar a camada superior, portanto, o alinhamento entre essas camadas e as equipes envolvidas na sua construção é fundamental. TEMA 3 – BENEFÍCIOS DA ARQUITETURA EMPRESARIAL A utilização da Arquitetura Empresarial como alicerce da organização, viabilizando a padronização dos processos de negócio e dos recursos tecnológicos determinará como os processos serão executados. Tal padronização de processos proporciona eficiência e previsibilidade na organização. Por outro lado, a integração, outro benefício obtido por meio da AE, permite compartilhar informações e demais recursos, evitando retrabalhos, desperdícios de insumos, 8 mão de obra e tempo, além de obter maior eficiência na gestão, transparência e agilidade. Segundo Ross et al., 2008, os principais benefícios esperados na adoção de uma arquitetura corporativa podem ser elencados de forma resumida: Custos de TI: controle dos custos unitários das operações de TI e dos custos de manutenção das aplicações; Maior responsabilidade da TI: em um ambiente padronizado, os líderes de TI e de negócios passam menos tempo tomando decisões tecnológicas ou lidando com problemas tecnológicos; Melhor administração de riscos: menor risco comercial, à medida que os sistemas funcionam com consistência e confiabilidade necessárias para fornecer suporte ao negócio; Maior satisfação da Administração: a satisfação é uma medida subjetiva, mas importante para gerar compromisso da organização com as melhorias arquitetônicas e com as mudanças organizacionais que essas melhorias possibilitam; Maior tolerância a falhas e maior segurança nas tomadas de decisão; Melhores resultados de negócios estratégicos: a necessidade mais premente das organizações é capacitar metas de negócios estratégicos, como melhor excelência operacional, maior intimidade com o cliente, maior liderança em produtos, maior agilidade estratégica, por exemplo; Ajudar os gestores a analisar, planejar e executar as mudanças de maneira mais rápida e com melhor conhecimento; Obter a colaboração do departamento de TI e dos acionistas de negócios para um melhor alinhamento sobre requerimentos; Criar projetos empresariais que funcionem como exemplo para a exploração dos blocos de construção da arquitetura de TI e para atingir a transformação do negócio; Alcançar um melhor cumprimento de objetivos e resultados mais previsíveis nos projetos; Melhorar a contribuição de TI para o retorno dos negócios, promovendo integridade e agilidade; Ainda segundo Ross et al., 2008, a Arquitetura Empresarial provê: 9 Alinhamento de recursos: planejamento dos recursos alinhados às estratégias definidas; Estabelecimento de padrões; Suporte à tomada de decisões: auxílio no planejamento e controle de investimentos e mudanças; Vigilância e administração dos recursos; Permite revisão de documentação, visões estratégicas correntes e futuras, bem como planos com vistas às mudanças necessárias. TEMA 4 – DESAFIOS Um dos principais desafios envolvidos na arquitetura de TI e no dia a dia do arquiteto é alinhar os objetivos de negócio da empresa com as decisões sobre software, plataforma e infraestrutura. Ao longo dos anos, vimos as flutuações do mercado, com crises financeiras, pacotes fiscais, aquecimentos e resfriamentos econômicos, além de outros humores que tiveram impacto direto no funcionamento das empresas. Nesse mesmo período, TI tem sido um fator de sobrevivência ou inovação para diversas empresas e seu uso estratégico é tão importante quanto a própria missão da organização (Ross et al., 2008). Agora, reflita sobre a importância da escolha correta de uma arquitetura de TI, que suporte cada inovação existente em uma empresa. Uma escolha atualizada e investimentos estratégicos em tecnologia da informação podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma empresa, em qualquer situação de mercado ou ramo de atividades. Apesar das vantagens, a AE ainda não é uma realidade para a maioria das organizações. Embora seja encontrada em grandes empresas, e até mesmo faça parte de regulações do governo americano, ao determinar que as agências governamentais que não utilizem uma arquitetura empresarial em seu planejamento estratégico são proibidas de receber recursos federais, mesmo assim não é uma prática facilmente encontrada nas organizações de menor porte. Parte dessas dificuldades tem relação com a complexidade inerente do estabelecimento e implementação da própria arquitetura, pois abrange diversas áreas de conhecimento e investimentos. Outros fatores que dificultam a implementação de um alicerce sólido, como a Arquitetura Empresarial, dizem respeito às soluções desenvolvidas de forma independente e sem uma perspectiva corporativa, no longo prazo, implicando em grande esforço de 10 integração, a falta de suporte aos requisitos, dificuldade de gerência e operação e um maior custo. Em tempo, outros fatores que influenciam é a falta de processos e padrões e infraestrutura construída sem um plano, em que as diversas bases de dados não-integradas existentes nas organizações geram relatórios imprecisos, dados redundantes e desconexos, proporcionando uma ineficiência global das ferramentas de suporte à tomada de decisão. Outros desafios identificados por Khoury (2007) estão relacionados à ausência de cognição, em que os modelos necessitam estar representados em uma linguagem inteligível por todos; o da colaboração, pois a AE necessita da cooperação de todos os recursos e elementos de uma organização a fim de desenvolver e manter os modelos da arquitetura; o desafio da comunicação em que os modelos da arquitetura devem ser comunicados a todos de forma ágil, no momento em que são necessários, estando à disposição de todos os interessados. TEMA 5 – COMPETÊNCIAS DO ARQUITETO Uma arquitetura corporativa exige de um arquiteto não só conhecimentos e habilidades técnicas, mas também uma visão de negócio e um conjunto de especializações complementares, muito mais amplo do que a gestão da tecnologia da informação como um todo. O conhecimento sobre gestão de pessoas, estratégias de negócio, roadmap de produtos, conhecimento de mercado, fornecedores e tendências em tecnologia também estão envolvidos (Duarte et al., 2006). É comum observarmos em cenários corporativos de organizações que estão baseadas em Arquitetura Empresarial, que não existe apenas um arquiteto, mas, sim, um comitê ou grupo de arquitetura envolvido nos projetos, no delineamento das estratégias e nas tomadas de decisão. Isso torna o trabalho menos complexo e com menor probabilidade de falhas, pois permite a divisão de tarefas de acordo com a especialidade de cada membro da equipe. Além disso, estes profissionais denominados “arquitetos” trabalham de forma integrada com as partes interessadas para a construção de uma visão holística das estratégias da organização, processos, informações e ativos de TI, garantindo assim que a tecnologia esteja alinhada às estratégias de negócio da organização. 11 Segundo o International Association of Software Architects (IASA), o Arquiteto é um estrategista na organização, sendo responsável pela tradução entre os objetivos de negócio e a tecnologia que suportará as necessidades de negócio da empresa. Seu escopo de atuação pode ser tão maior quanto as necessidadesda empresa. Por isso, diferentes perfis de arquitetura e de arquitetos são necessários, os quais ainda dependem do ramo de atividade da organização. Arquitetos podem atuar em arquitetura de soluções, em infraestrutura, em arquitetura da informação, com segurança, serviços, gerenciamento de projetos etc. Grupos formados com arquitetos com diferentes especialidades oferecem uma visão mais completa dos cenários possíveis para a arquitetura corporativa na empresa e, quanto maior a gama de conhecimento adquirido por este profissional, melhor será seu desempenho como estrategista dentro da organização. Tais competências podem ser observadas na figura abaixo: Figura 2 – As competências de um arquiteto Fonte: Adaptado de Ross et al., 2008 FINALIZANDO No início desta aula utilizamos como exemplo aquelas empresas que buscam prosperar e se tornar competitivas e, para isso, têm investido muitos recursos financeiros em ferramentas tecnológicas a fim de estarem à frente da concorrência. Porém, por mais que se esforcem, não conseguem se manter competitivas; têm a percepção de que seus colaboradores estão trabalhando cada 12 vez mais e por maior que seja o esforço empregado estão ficando para trás. Muitas contratam especialistas para ajudá-las a formular uma estratégia sólida, mas não conseguem seguir em frente. Monitoram o mercado, ouvem seus clientes, mas seus resultados continuam “mornos”. Mas, por que isso ocorre? Foi nossa pergunta inicial. Ao longo da aula, e com base em nossa experiência pessoal, podemos verificar sem maiores dificuldades, independentemente do porte da organização, que isso ocorre quando, por maiores que sejam os investimentos, ainda há pouca eficácia nas soluções de TI para o negócio; ou seja, o recurso é subutilizado, pois muitas empresas desenvolvem suas estratégias de negócio sem desenvolver um planejamento estratégico de recursos que irão suportá-las, criando enormes distâncias entre o planejamento estratégico com o planejamento de TI. Sem falar na baixa qualidade das informações; além de redundâncias e inconsistências. Isso se deve na maioria dos casos, devido principalmente à utilização de múltiplas tecnologias sem integração e planejamento, as quais foram sendo implementadas ao longo do tempo, tornando-se um fardo para a organização, como uma grande colcha de retalhos. Da mesma forma, pudemos observar que, segundo os especialistas, para resolver essa questão é primordial o estabelecimento de um alicerce sólido e um plano de TI bem estruturado alinhado aos objetivos do negócio, que permita a execução dos processos de negócios por meio da implementação de estratégias de tecnologia previamente alinhadas ao negócio. E para esse alicerce sólido, dá- se o nome de Arquitetura Empresarial, a qual possibilita o mapeamento da estrutura existente, análises, planejamentos e alterações com vistas à melhoria contínua, integração, melhores práticas, otimização de recursos e aderência às estratégias, bem como a projeção de novas situações. Uma relação que foi muito abordada durante todo nosso estudo, e que em alguns casos é motivo de crítica entre especialistas, trata-se do relacionamento entre a Arquitetura Empresarial e a TI. Essa resposta fica clara à medida que observamos que a Arquitetura Empresarial acabou tendo um viés tecnológico devido às influências da Tecnologia da Informação (TI), e que devido à sua ampla presença em praticamente todos os setores das organizações, acabou se tornando mais do que uma área de apoio, sendo uma área essencial que necessita de integração com o negócio. 13 Portanto, podemos afirmar que a arquitetura empresarial se resume em dois conceitos básicos: a integração; e a padronização dos processos de negócios. Daí a importância da TI como principal ferramenta. Também foi abordado que a chave para efetividade da arquitetura corporativa de uma empresa é a identificação de processos, dados, tecnologias e interfaces com os clientes. E que segundo esta proposta, a arquitetura corporativa é composta por quatro componentes, ou camadas fundamentais: arquitetura de processos ou de negócios, arquitetura de dados ou informação, arquitetura de aplicações e arquitetura tecnológica (serviços de infraestrutura). Além disso, vimos que a implementação de uma gestão baseada em Arquitetura, ou seja, com uma visão holística, mapeada e integrada do negócio, podem trazer uma série de benefícios para as organizações, além de torná-las referências em suas áreas de atuação: integridade e agilidade; redução de custos com TI; melhor administração de riscos; maior segurança nas tomadas de decisão; melhores resultados de negócios estratégicos; melhor cumprimento de objetivos; alinhamento de recursos às estratégias definidas; estabelecimento de padrões; suporte aos planos com vistas às mudanças. Embora tenhamos citado muitos benefícios com a implementação da AE, ainda assim não é uma realidade para a maioria das organizações. Embora seja encontrada em grandes empresas, não é uma prática facilmente encontrada nas organizações de menor porte. Parte dessas dificuldades tem relação com a complexidade da implementação da própria arquitetura, pois abrange diversas áreas de conhecimento e investimentos. Outros fatores que dificultam a implementação de um alicerce sólido, como a Arquitetura Empresarial, dizem respeito às soluções desenvolvidas de forma independente e sem uma perspectiva corporativa, em longo prazo, implicando em grande esforço de integração, a falta de suporte aos requisitos, dificuldade de gerência e operação e um maior custo. Um outro agravante pode ser considerado a falta de recursos humanos com habilidades para desenvolver uma AE, a qual exige de um arquiteto não só conhecimentos e habilidades técnicas, mas também uma visão de negócio e um conjunto de especializações complementares, como: gestão de pessoas, estratégias de negócio, roadmap de produtos, conhecimento de mercado, fornecedores e tendências em tecnologia. Portanto, devemos refletir sobre a importância da escolha correta de uma arquitetura de TI, que suporte cada inovação existente em uma empresa. Uma 14 escolha atualizada e investimentos estratégicos em tecnologia da informação podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma organização. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica Arquitetura de TI Como estratégia empresarial – para executar sua estratégia, primeiro construa o alicerce Leitura do primeiro capítulo do livro Arquitetura de TI como estratégia empresarial, de Ross et al., 2008, disponível na biblioteca virtual. (Arquitetura de TI – Capítulo 1). Arquitetura Empresarial – Uma ferramenta para promover o alinhamento da TI como área de negócios das organizações Leitura do artigo acadêmico “Arquitetura empresarial – uma ferramenta para promover o alinhamento da TI com a área de negócios das organizações”. Publicado pela RSC – Revista de Sistemas e Computação, o qual está disponível na biblioteca virtual. Saiba mais Como usar a arquitetura corporativa para alinhar sua estratégia com sua execução. Disponível em: <http://arquiteturacorporativa.com.br/srh/a ce-simple-quiz/>. Acesso em: 23 jun. 2018. Por que utilizar a arquitetura corporativa? Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=FgQ3Mo00Oj0&list=PLGEMsEsOEG sRr-cIAOohlYUwniSvwvfaa&t=9s&index=4>. Acesso em: 23 jun. 2018. 15 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Introdução geral à teoria da administração. Rio de Janeiro: Campus; Elsevier, 2007. DRUCKER, P. F. Management Challenges for the 21st Century. New York: Harper Business, 1999. DUARTE, J. 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A TI permeia todos os pontos da cadeia de valor das empresas, suportando suas atividades, bem como os elos entre elas (Porter, 1999). Porém, apesar disso e dos investimentos financeiros realizados nessa área para transformá-la em diferencial estratégico, a grande maioria ainda não utiliza todo o potencial que os recursos de TI podem proporcionar para alavancar novos negócios e aumentar a competitividade no mercado. Portanto, o grande desafio das organizações é gerenciar adequadamente a estrutura de TI e direcionar os investimentos em TI de forma adequada, buscando atingir os melhores resultados dos serviços prestados por meio de práticas previamente estabelecidas e testadas, padrões e políticas para reger todos esses recursos tecnológicos e obter o melhor que podem oferecer, ajudando a organização no controle e na identificação de oportunidades de melhorias. Dessa forma, torna-se imprescindível a implementação de políticas de governança alinhadas com o negócio, o que permitirá controlar e gerenciar melhor os recursos de TI. Para que possamos ter uma compreensão mais abrangente desse assunto, torna-se necessário compreender: 1) quais são essas práticas padronizadas, 2) as políticas de Governança, seus princípios e fundamentos, 3) a relação entre Governança e Arquitetura, 4) as práticas e políticas específicas para a área de TI: Governança de TI, seu foco e benefícios, a relação entre as duas propostas de governança e as ferramentas utilizadas para a implantação dessas boas práticas. CONTEXTUALIZANDO Com a crescente complexidade do mundo dos negócios e seu ambiente competitivo, as empresas precisam atender cada vez mais exigências de suas partes interessadas, ou seja, seus stakeholders, que incluem desde colaboradores e investidores até governo e órgãos reguladores, o que demanda 3 das organizações boas práticas de administração para elevar o nível da gestão, da ética e da transparência dos negócios. Nesse cenário, a Tecnologia da Informação, principal diferencial de competitividade, tem feito investimentos e esforços cada vez maiores para a melhoria dos controles internos, estendendo essas boas práticas, políticas de ética e transparência à área de TI, visando proporcionar mais confiabilidade e segurança às informações corporativas por meio de uma Governança de TI (Cisa, 2017). Ainda segundo Cisa (2017), a Governança de TI pode ajudar a gestão a resolver questões cruciais, apoiando-a no processo de tomada de decisões e contribuindo para que as decisões de TI passem por uma avaliação estratégica e alinhada aos objetivos do negócio. Algumas questões desafiam a gestão de TI em sua missão, como, por exemplo: Como gerar valor para o negócio? Como gerenciar os riscos do uso da tecnologia? Os custos de serviços de TI estão sob controle? Como melhorar a colaboração entre a TI e o negócio? Como surgiu esse interesse em aplicar melhores práticas e transparência? A história e os números nos mostram que as coisas nem sempre foram assim... Esse interesse surgiu com a percepção da ausência dessas políticas na gestão, depois de uma série de escândalos que abalaram algumas importantes organizações e, principalmente, colocaram em risco a economia de países como Estados Unidos e Inglaterra. Em decorrência disso, esses dois países desenvolveram legislação específica e se empenharam na criação de um conjunto de mecanismos, tanto de incentivo quanto de monitoramento, que assegurem o alinhamento dos interesses dos acionistas e dos executivos, bem como a transparência e a ética nos resultados apresentados, elevando os padrões de governança e punições. A Governança Corporativa ganhou mais ênfase com os escândalos ocorridos nos Estados Unidos em meados de 2001, envolvendo grandes companhias, como Enron e WorldCom, acusadas de fraudes contábeis e de outras irregularidades (suas falências foram declaradas). A Enron, localizada em Houston, no Texas, gigante do setor de energia e a sétima maior empresa dos Estados Unidos, empregava cerca de 21 mil pessoas, tendo sido uma das líderes mundiais em distribuição de eletricidade, gás natural e comunicações. Essa empresa pediu concordata em dezembro de 2001, após ter sido alvo de uma série de denúncias de fraudes contábeis e fiscais. No ano de 2000, seu faturamento chegou a 101 bilhões de dólares, pouco antes do escândalo financeiro que 4 ocasionou sua falência. Com uma dívida de US$ 13 bilhões, o grupo levou consigo a Arthur Andersen, responsável por sua auditoria e que ratificou os resultados fraudulentos. Já a WorldCom, empresa do setor de telecomunicações, segunda maior provedora de serviços de dados e de telefonia de longa distância nos Estados Unidos, detinha 50% de todo o tráfego de internet do país e 50% de todos os e- mails da rede mundial. Para ter uma leve noção, em 2001, era dona de um terço de todos os cabos de dados nos Estados Unidos. A WorldCom distorceu propositadamente os dados de seus relatórios ao registrar como investimentos (ativo em seu balanço patrimonial) o que era despesa (demonstrativo de resultados). Em razão desses escândalos, o governo americano implementou uma legislação que aumentou de modo considerável a responsabilidade da administração das empresas e, consequentemente, de Governança Corporativa: a Lei Sarbanes-Oxley, cujo objetivo era melhorar os controles para garantir a fidedignidade das informações constantes nos relatórios financeiros, propondo a criação de mecanismos de controle e auditoria visando tornar as grandes empresas transparentes ao investidor, mitigando os riscos do negócio e prevenindo as fraudes (Gaseta, 2012). TEMA 1 – ARQUITETURA E GOVERNANÇA CORPORATIVA As organizações buscam cada vez mais inserir tecnologia em seus processos para executar de modo eficiente e confiável suas operações centrais; para isso, são implementados os sistemas de tecnologia de informação necessários para digitalizar essas operações (Silva, 2012). Uma das áreas do conhecimento que ajuda as organizações nessa busca é a Arquitetura Empresarial ou Corporativa, que diz respeito à descrição detalhada esistemática dos componentes da organização que interagem para o atendimento dos objetivos estratégicos (Duarte, 2011). Porém, uma área do conhecimento complementar à Arquitetura Empresarial é a da Governança Corporativa, a qual dá forma à Arquitetura Empresarial e estabelece de maneira estruturada uma hierarquia, além de responsabilidades e processos, de modo a garantir que a organização seja administrada visando o interesse das partes interessadas, ou seja, dos stakeholders (Silva, 2012). 5 Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBCG, 2015), a Governança Corporativa deve ser entendida como um conjunto de planos de ação e estratégias aplicado a um negócio, utilizando, para essa finalidade, seus recursos financeiros, materiais e humanos. Também afirma que a Governança Corporativa pode ser desmembrada, com base em uma abordagem sistêmica, em sete dimensões: Governança Corporativa, Modelo de Gestão, Modelo de Negócio, Estratégia Empresarial, Arquitetura Organizacional, Gestão do Desempenho e Risco. Ainda segundo o IBGC (2015), a dimensão relacionada à Governança Corporativa cuida da forma como a organização é dirigida, monitorada e desenvolvida. Nela são estabelecidos os relacionamentos entre sócios, conselhos, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas. Por outro lado, a Arquitetura Empresarial estabelece a forma como o trabalho será dividido e organizado na empresa, além de tratar do “desenho” da organização, do mapeamento dos processos e da visão sistêmica de alocação dos recursos, a fim de fornecer uma visão ampla do negócio – um mapa que direciona a governança para uma melhor tomada de decisões, seja para o presente ou para o futuro da organização. TEMA 2 – GOVERNANÇA CORPORATIVA De acordo com o IBGC (2015), a Governança Corporativa é definida como o conjunto de relações entre a administração de uma empresa, seu conselho de administração, seus acionistas e outras partes interessadas, podendo ser definida como um sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo as práticas e os relacionamentos entre proprietários, conselho de administração, diretoria e órgãos de controle. Em síntese, é um conjunto de mecanismos capaz de assegurar que a conduta dos executivos esteja sempre alinhada ao interesse dos acionistas (IBGC, 2015). Para o Instituto, as boas práticas de Governança Corporativa convertem princípios em recomendações objetivas, alinhando interesses com a finalidade de preservar e otimizar o valor da organização, facilitando seu acesso ao capital e contribuindo para a sua longevidade. Um sistema de governança estabelece mecanismos, estruturas e incentivos que compõem o sistema de controle de gestão da empresa e direciona 6 o comportamento dos administradores para o cumprimento dos objetivos estipulados pelos acionistas/proprietários (Chiavenato, 2007). Figura 1 – Governança Corporativa Fonte: IBGC, 2015. Outra explanação bastante didática é dada por Gaseta (2012), quando afirma que Governança Corporativa é o meio pelo qual as organizações são dirigidas e monitoradas, afirmando que as decisões da organização são de responsabilidade dessa governança, proporcionando transparência nas operações financeiras e de negócios e precisão das demonstrações financeiras, como demonstrativos financeiros de Balanço Patrimonial (BP) e Demonstração de Resultados do Exercício (DRE), documentos que devem ser claros, precisos e fidedignos. Para Gaseta (2012), deve-se ter em mente que uma Governança Corporativa adequada proporciona mais credibilidade para as organizações, contribuindo para aumentar seu valor e longevidade e, principalmente, facilitar o acesso ao capital. Nesse sentido, faz parte das regras da governança que as empresas definam quem são seus tomadores de decisões e os processos por meio dos quais tais decisões são tomadas. A Governança Corporativa não vale para qualquer decisão adotada numa companhia, nem para deliberações sem grande relevância; suas práticas são válidas para decisões de valor considerável para as organizações. Na figura abaixo poderão ser observadas as principais vantagens da implementação de práticas de Governança Corporativa nas organizações. 7 Figura 2 – Sistema de Governança Corporativa Fonte: Gaseta, 2012. 2.1 Histórico A Governança Corporativa surgiu no início dos anos de 1990, momento histórico marcado por crises financeiras, quando as organizações começaram a ser geridas por terceiros e deixaram de ser geridas diretamente por seus proprietários, delegando a essa nova administração autoridade e poder para administrar o seu capital – enfim, suas organizações. Porém, muitas vezes ocorrem divergências de interesses entre proprietários e administradores, o que, em decorrência do desequilíbrio de informação, poder e autoridade, leva a um potencial conflito de interesse, na medida em que ambos tentam maximizar seus próprios benefícios (Alencastro, 2017). Além disso, a Governança Corporativa foi concebida como um mecanismo de proteção para os acionistas, no que tange aos possíveis abusos de diretorias executivas, à inércia dos conselhos de administração e às omissões das auditorias externas. A Governança Corporativa baseia-se na criação de um conjunto de mecanismos, tanto de incentivo quanto de monitoramento, que assegure o alinhamento dos interesses dos acionistas e executivos (IBCG, 2015). Com a finalidade de proteger os acionistas e proprietários, nessa mesma época, o Banco da Inglaterra criou uma comissão para elaborar o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, trabalho que resultou no Cadbury Report. Porém, segundo Gaseta (2012), a Governança Corporativa ganhou mais 8 ênfase com os escândalos ocorridos nos Estados Unidos em 2001 e 2002, quando grandes empresas – como Enron, WorldCom, entre outras muito conhecidas – foram acusadas de fraudes contábeis e de outras irregularidades, tendo sido declaradas as suas falências. Devido a esses escândalos, o governo americano implementou uma legislação que aumentou consideravelmente a responsabilidade da administração das empresas e, consequentemente, da Governança Corporativa: a Lei Sarbanes-Oxley – SOX, cujo objetivo era melhorar os controles para garantir a fidedignidade das informações constantes nos relatórios financeiros propondo a criação de mecanismos de controle e auditoria, visando tornar as grandes empresas transparentes ao investidor, mitigando os riscos do negócio e prevenindo as fraudes. A maioria das grandes empresas brasileiras adotou os padrões Sarbox, até porque são obrigatórios para quem tem ações negociadas na Bolsa de Nova York. As organizações com ações nas bolsas e suas subsidiárias têm, obrigatoriamente, de adequar-se às exigências desta Lei (Gaseta, 2012). Nesse mesmo período, com o objetivo de apoiar a investigação independente e induzir a melhoria da governança, fundou-se o European Corporate Governance Institute (ECGI). Nos anos seguintes, dezenas de países passaram a se preocupar com aspectos relacionados à governança, e diversos outros códigos foram publicados. Atualmente, o G8 (grupo dos oito países mais desenvolvidos) e organizações como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dedicam-se a promover a governança (IBGC, 2015). 2.2 Princípios da Governança Corporativa A gestão corporativa pode ser vista como uma oportunidade de melhoria na administração e no gerenciamento das organizações tendendo a seguir os princípios abaixo (Silva, 2012): Equidade: senso de justiça, tratamento igualitário aos stakeholders, sejam acionistas ou proprietários. Transparência na prestação de contas – contábeis ou de auditorias: os agentes de governança devem prestarcontas de sua atuação e responsabilizar-se pelas consequências de seus atos, bem como das informações prestadas. 9 Responsabilidade corporativa: conformidade com as regras e boas práticas do mercado. 2.3 Fundamentos de Governança Corporativa Segundo Alencastro (2017), a Governança Corporativa pode ser considerada um conjunto de boas práticas e responsabilidades a elas associadas. Tais práticas são exercidas pela alta administração e pela diretoria executiva de organizações públicas e privadas. Além disso, têm como objetivo: Promover o direcionamento estratégico, traçando as ações necessárias a fim de que as organizações possam atingir metas e objetivos estabelecidos. Garantir que os objetivos da organização sejam atingidos por meio das estratégias definidas no plano de ação das organizações. Definir indicadores – financeiros, sociais, de qualidade etc. – necessários para monitorar se os objetivos estabelecidos previamente estão sendo atingidos. Implantar e garantir mecanismos de gestão de riscos da organização, a fim de que estes sejam monitorados e gerenciados adequadamente, pois é essencial que os riscos sejam previstos, bem como a proposição de medidas de ação. Promover a responsabilidade e o melhor uso dos recursos da organização, sejam eles humanos, físicos, financeiros ou tecnológicos, devendo ser usados da melhor e mais responsável forma possível. TEMA 3 – GOVERNANÇA DE TI É de nosso conhecimento que as organizações estão investindo cada vez mais na área de Tecnologia da Informação (TI), uma vez que ela se transformou em chave para a competitividade das organizações, principalmente devido à sua ampla presença em praticamente todos os setores das organizações. Dessa forma, a TI acabou se tornando mais do que uma área de apoio: uma área essencial, que necessita de integração com o negócio. Diante do atual cenário de competitividade nos negócios, a Governança de TI ganha força num momento em que é cada vez maior a necessidade de adoção de mecanismos que permitam avaliar, de forma concreta e detalhada, se as metas traçadas pela alta administração foram alcançadas – e essa avaliação somente 10 pode ser realizada por meio das tecnologias de informação. O ambiente de uma organização se apoia na tecnologia em constante mutação, exigindo modelos mais ágeis e flexíveis de gerenciamento (Weill; Ross, 2006). Os negócios das organizações estão sempre em transformação, e a TI, igualmente, está em constante processo de mudança. Por isso, é necessário designar poderes de decisão, visando manter o alinhamento entre os negócios e a Tecnologia da Informação, bem como os investimentos adequados. Todavia, o que vemos no dia a dia das organizações, sejam grandes ou pequenas, é que essa ainda não é uma realidade. Isso ocorre porque as empresas não investem adequadamente em TI, apesar das altas cifras despendidas na maioria das vezes; portanto, muitas ainda não utilizam todo o potencial que os recursos de TI podem proporcionar para alavancar novos negócios e aumentar a competitividade no mercado. Assim, o grande desafio das organizações, sejam elas públicas ou privadas, é gerenciar adequadamente os recursos de TI e realizar investimentos adequados e sustentáveis, buscando atingir os melhores resultados, os quais podem ser obtidos por meio de uma Governança de TI bem planejada e implementada (Gaseta, 2012). 3.1 Definição de Governança de TI Segundo Weill e Ross (2006), “Governança de TI é o modelo como as decisões são tomadas e as responsabilidades direcionadas para encorajar um comportamento desejável no uso de TI”. A Governança de TI é definida como uma estrutura de relacionamento e de processos para dirigir e controlar uma organização, a fim de atingir os objetivos corporativos, adicionando valor ao negócio e equilibrando os riscos em relação ao retorno do investimento em TI e seus processos. Uma Governança de TI adequada é necessária para o conhecimento mais amplo dos objetivos do setor de TI. As novas práticas de governança possibilitam que a área de TI esteja adequada à estratégia de negócios das organizações. Basicamente, a Governança de TI é definida pela norma ISO/IEC 38500 (International Organization for Standardization e International Electrotechnical Commission) e CobiT 5 (Control Objectives for Information and Related Technologies) como o sistema pelo qual o uso atual e futuro da TI é dirigido e controlado. A Governança Corporativa de TI envolve a avaliação e a direção do 11 uso da TI para dar suporte à organização no alcance de seus objetivos estratégicos e monitorar seu uso para realizar os planos. A governança inclui a estratégia e as políticas para o uso de TI dentro de uma organização. Não se trata simplesmente de gestão de TI; segundo o próprio CobiT, a gestão pode ser definida como um conjunto de práticas e atividades que busca planejar, construir, executar e monitorar a organização de TI, como pode ser observado na figura abaixo. Figura 3 – Principais diferenças entre Governança e Gestão Fonte: Gaseta, 2012. 3.2 Foco da Governança de TI Como destacado anteriormente, o principal objetivo da Governança de TI é alinhar as estratégias de TI com as estratégias de negócios das organizações. Isso pode soar repetitivo e fácil de ser atingido. Porém, alinhar a teoria com a prática é o grande desafio para diretoria e demais executivos de todo o mundo. O desafio, nesse caso, é conseguir alinhar os interesses de expansão da organização, garantindo a continuidade das atividades desenvolvidas, bem como os investimentos necessários para a área de TI, que dará a devida assistência e fornecerá os subsídios para a manutenção e expansão idealizada nos planos de ação estrategicamente desenvolvidos pela alta administração – um verdadeiro checklist com essas estratégias de negócios e as estratégias de TI confrontando as ações futuras com as necessidades tecnológicas associadas, atendendo, assim, aos objetivos estratégicos da organização. Para isso, segundo Weill e Ross (2006), é necessário manter o foco da Governança de TI nos itens abaixo 12 descritos, os quais podem ser melhor compreendidos por meio da figura que segue a explanação: Alinhamento Estratégico: tem como objetivo manter o alinhamento entre as soluções de TI e o negócio da empresa. Entrega de Valor: a área de TI deve garantir a entrega dos serviços acordados com os benefícios esperados, visando diminuir os custos e aumentar o valor da TI; normalmente, os investimentos em TI são altos e devem garantir o seu retorno. Gerenciamento de Risco: tem como objetivo assegurar a proteção dos ativos de TI, recuperação de informações em caso de desastres e manter a continuidade da operação dos serviços de TI. Gerenciamento de Recursos: otimização e gestão adequada de recursos (aplicações, pessoas, informações, infraestrutura) essenciais para prover os subsídios de que a empresa necessita para atingir seus objetivos. Gerenciamento de Performance: acompanhamento e controle da implementação da estratégia de TI alinhada ao negócio, da utilização dos recursos, do desempenho dos processos, da entrega dos serviços e do andamento dos projetos por meio de instrumentos de medição e indicadores de desempenho. Figura 4 – Foco da Governança de TI Fonte: Gaseta, 2012. 13 3.3 Benefícios da Governança de TI As organizações têm se tornado cada vez mais dependentes da área de TI para executar o seu negócio no que tange à obtenção da informação estratégica e ao suporte às suas atividades básicas. Por isso, torna-se tão importante a devida gestão dos recursos tecnológicos, obtida por meio da Governança de TI, em relação à qual alguns benefícios sãos esperados (Weill; Ross, 2006): Fornecer uma visão holística e completa do ambiente de TI, permitindo compará-lo
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