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Julia S Crescencio P5 TUBERCULOSE Agente: Mycobacterium tuberculosis (bacilo de Koch) Transmissão: aerossóis Riscos: pobreza, doenças debilitantes (*AIDS), imunossupressores Localização: segmentos apicais e posteriores dos lobos superiores e segmentos apicais dos lobos inferiores (bactéria aeróbica) A infecção pelo M. tuberculosis deve ser diferenciada da doença ativa. Em pessoas saudáveis, a tuberculose primária é assintomática, apesar de poder causar febre e derrame pleural. Geralmente, a única evidência da infecção é um nódulo pequeno e fibrocalcificado no local. Organismos viáveis podem permanecer latentes, se as defesas forem diminuídas e houver reativação, ou se houver uma nova infecção, surge a tuberculose secundária, transmissível e arriscada. Fisiopatologia Componentes na parede do bacilo: lipídios (ativa monócitos e macrófagos, que se transformam em células epitelióides e células gigantes multinucleadas); proteínas (conferem sensibilização ao bacilo e contribuem para a formação de células epitelióides e células gigantes); carboidratos (responsáveis pela reação neutrofílica). Reação exsudativa: Macrófagos e neutrófilos atraídos pela fração de carboidrato da bactéria são a primeira linha de defesa. Eles entram nos macrófagos alveolares pela fagocitose mediada por receptores, incluindo a lectina ligada à manose e o CR3. O M. tuberculosis inibe a maturação do fagossomo e bloqueia a formação do fagolisossoma (por meio da inibição da acidificação e de aumento de Ca++ no citoplasma), permitindo que a bactéria se multiplica de forma descontrolada dentro do macrófago. Em alguns indivíduos, geralmente imunossuprimidos, a liberação de substâncias pelos neutrófilos (subst. oxidantes, elastases), origina um foco de alveolite aguda com necrose de alvéolos, exsudação de fibrina, neutrófilos degenerados e grande número de bacilos viáveis. Reação produtiva: células apresentadoras de antígeno liberam IL-12, que estimula linfócitos Th1, os quais induzem resposta cutânea à tuberculina e liberam citocinas (*IFN-y) para ativar macrófagos. Os macrófagos ativados liberam mais citocinas e quimiocinas e se transformam em células epitelióides e células gigantes multinucleadas. Isso resulta na destruição do bacilo e formação de granuloma (com células gigantes e necrose caseosa no centro, rodeadas por células epitelioides e com linfocitos, macrofagos e poucos plasmocitos na periferia). Tuberculose produtiva. Granuloma com células gigantes e escassa necrose caseosa central Reação produtivo-caseosa: macrófagos, células epitelióides e linfócitos T destroem os bacilos nos granulomas (↑ bacilos e hipersensibilidade, ↑ extensão da necrose caseosa). Macrófagos com bacilos viáveis no citoplasma podem sofrer apoptose, deixando os bacilos retidos nos corpos apoptóticos. A apoptose é um mecanismo que isola o microrganismo e impede sua proliferação, já a necrose (por linfócitos T citotóxicos), facilita a disseminação do agente. Tuberculose produtivo-caseosa. Granuloma com células gigantes e necrose caseosa central. Reação de cicatrização: com a morte dos bacilos ou com o controle da multiplicação, o granuloma segue o curso natural de reparação, que é sua colagenização, entrando em processo de cicatrização, hialinização e calcificação. Julia S Crescencio P5 Tuberculose. Coloração de Ziehl-Neelsen mostra numerosos bacilos álcool-ácido resistentes. Resumindo a fisiopatologia Entrada nos macrófagos ➝ bloqueio do fagolisossoma ➝ replicação nos macrófagos➝ APCs liberam IL-12➝ resposta Th1 após 3 semanas➝ produção de IFN-y➝ ativação dos macrófagos ➝ se diferenciam em histiocitos epitelioides ➝ agregam-se para formar células gigantes e granulomas ➝ destruição dos bacilos ➝ necrose caseosa Tuberculose primária Primo-infecção mais comum em crianças. A reação inflamatória inicial e os granulomas recebem o nome de nódulo de Ghon. A partir desse foco primário, os bacilos alcançam os vasos linfáticos e os linfonodos hilares, onde promovem a mesma reação (linfadenite granulomatosa). O conjunto do nódulo de Ghon + linfadenite é chamado de complexo primário ou complexo de Ghon (ou complexo de Ranke na imagem). O complexo primário pode ser curado, o que ocorre na maioria dos casos, com a destruição ou controle da multiplicação dos microrganismos e pelo processo reparativo de cicatrização e calcificação. Isso deixa uma pequena cicatriz significando que o indivíduo entrou em contato mas não desenvolveu a doença. Em algumas pessoas, os bacilos podem permanecer latentes nesses locais sem provocar lesões. Ao sofrer queda de suas defesas, os microrganismos voltam a se multiplicar e originam a doença (tuberculose secundária). O complexo primário pode não ser curado e gerar a doença quando os bacilos persistirem nos tecidos, multiplicando-se e disseminando-se para os próprios pulmões (via aérea) ou para outros órgãos (via hematogênica). Isso se chama tuberculose primária progressiva, que se apresenta como pneumonia caseosa ou tuberculose miliar, ambas graves. ● Pneumonia caseosa: disseminação dos bacilos para os alvéolos adjacentes através dos poros de Khon ● Tuberculose miliar: penetração de bacilos nos vasos sanguíneos, que são levados a outros pontos no pulmão e a outros órgãos (fígado, baço, rins, meninges, medula óssea) Tuberculose secundária Ocorre por reativação ou reinfecção ● Apical: a secundária afeta primeiramente os ápices, podendo causar lesões fibrocaseosas ● Ácino-nodosa: a partir da lesão apical ou reativação primária pode haver disseminação via aérea dos bacilos, formando lesões peribrônquicas. Nesse caso, a inflamação compromete ácinos inteiros ● Cavernosa: quando ocorre necrose extensa, o material necrótico se liquefaz e é drenado por um brônquio e expelido, dando origem a cavitações conhecidas como cavernas tuberculosas ● Miliar: tal como na primária Tuberculose miliar. Múltiplos granulomas. Julia S Crescencio P5 Aspectos clínicos Primária: doença clinicamente significativa em 5% das pessoas. A maioria é contida mas uma minoria pode ser progressiva. Esta se assemelha a uma pneumonia bacteriana aguda, com consolidação do lóbulo, adenopatia hilar e derrame pleural. A disseminação linfo-hematogênica pode desenvolver meningite tuberculosa e tuberculose miliar. Secundária: geralmente deriva de reativação de uma infecção latente (⤵ defesa) mas pode resultar de reinfecção. Classicamente envolve o ápice dos lobos superiores de um ou ambos os pulmões. A cavitação ocorre prontamente, e a erosão das cavidades para dentro de uma via aérea é uma importante fonte de infecção porque a pessoa agora tosse escarro que contém bactérias. ● Pode ser assintomática ● Manifestações usualmente de início insidioso ● Sintomas sistêmicos relacionados com citocinas liberadas: mal-estar, anorexia, perda de peso e febre ○ A febre comumente é baixa e no final da tarde ○ Suor noturno ● Com o envolvimento pulmonar progressivo, aumenta a quantidade de escarro, primeiro mucóide e depois purulento ● Hemoptise pode ocorrer em metade dos casos ● Dor pleurítica pode resultar da extensão da infecção para as superfícies pleurais ● Extrapulmonar: salpingite, meningite, doença de Pott (dor nas costas pelo comprometimento das vértebras) Diagnóstico: cultura do escarro Morfologia Tuberculose pulmonar primária, complexo de Ghon. O foco branco-acinzentado do parênquima está sob a pleura na parte inferior do lobo superior (seta vermelha). Linfonodos hilares com caseificação são vistos do lado esquerdo (seta azul) Tubérculo característico em pequeno aumento (A) e em grande aumento (B) mostra caseificação central granular circundada por células epitelióides e células gigantes multinucleadas. Esta é a resposta usual em pessoas que tenham desenvolvido imunidade mediada por células ao organismo. Detalhe: Raros organismos (em vermelho) positivos acidorresistentes. C, Ocasionalmente, mesmo em pacientes imunocompetentes, granulomas tuberculosos podem não mostrar caseificação central; portanto, independentemente da presença ou ausência da necrosecaseosa, o uso de coloração especial para organismos acidorresistentes é indicado quando os granulomas estão presentes. D, Neste espécime de um paciente imunodeprimido, lençóis de macrófagos espumosos repletos de micobactérias podem ser vistos (coloração acidorresistente). Os locais de envolvimento são marcados por uma reação inflamatória granulomatosa que forma tubérculos caseosos ou não caseosos. Os granulomas usualmente são contidos por uma orla fibloblástrica pontuada por linfócitos. Células gigantes multinucleadas estão presentes nos granulomas. Pessoas imunocomprometidas não formam granulomas característicos e seus macrófagos contêm muitos bacilos. IMAGEM Doença infectocontagiosa crônica caracterizada pelo comprometimento da imunidade mediada por células. Acomete qualquer órgão, mas principalmente o pulmão ● Diag. diferencial: pneumonia bacteriana, histoplasmose pulmonar crônica, aspergilose pulmonar crônica ● 10% dos que tiveram contato desenvolvem a doença. 5% desses desenvolve a primária e 5% a secundária Julia S Crescencio P5 Foco de Ghon -> conduta expectante (não necessita de tratamento) Complexo de ranke (foco pulmonar + foco linfonodal). Pode calcificar ● Diag. diferencial: metástase de tumores ósseos também podem se calcificar, mas se apresentam em forma múltipla. Complexo de ranke - opacidade Complexo de ranke calcificado Tuberculose primária ● Crianças ● Irritabilidade, inapetência, febre, tosse, dispneia -> clínica inespecífica, com características de uma gripe comum ● Em imunossuprimidos pode haver febre alta, toxemia e prostração acentuada ● Sinal de trevo na TC: 3 ou mais lóbulos preenchidos confluem Sinal do trevo Julia S Crescencio P5 Raio X ● Principal exame ● Em 15% não há alterações TC ● Complementa nos casos de grande suspeita com radiografia normal Achados ● Opacidades parenquimatosas - complexo de Ranke ● Linfonodomegalias: principal manifestação. Além do tamanho, também analisar se há calcificação e como está a gordura ao redor ● Atelectasia ● Doença miliar difusa (melhor visto na TC) ● Derrame pleural - manifestação tardia Opacidades reticulonodulares e calcificação peri-hilar Cavidade com paredes espessadas (gás dentro) ● CAVITY (cancer, abscessos, vasculites, inflamação/infecção/idiopáticos, trauma/tuberculose, young) Árvore em brotamento: ocupação dos alvéolos indicando disseminação endobrônquica Linfonodomegalias. Mediastino aumentado ● Diag. diferencial: crianças que não tiveram regressão do timo ainda. Nesses casos, não há irregularidades. Julia S Crescencio P5 Linfonodos aumentados e hipodensos na TC: significa necrose caseosa Atelectasia: perda volumétrica do pulmão - elevação da cúpula, estruturas da linha média são puxadas para o lado acometido Padrão miliar ● Disseminação por todo o parênquima forma micronódulos simétricos ● Pode estar presente na primária e na secundária Tuberculose secundária Na disseminação broncogênica, o conteúdo necrótico liquefeito é liberado nas vias respiratórias, resultando em lesões satélites dentro dos pulmões (cavitações). Na disseminação hematogênica pode haver comprometimento dos vasos sanguíneos e formação de pseudoaneurismas de Rasmussen, causando hemoptise. Além disso, pode haver estenoses de vias aéreas, pneumotórax e empiema. Clínica: inapetência, febre vespertina, sudorese, perda de peso, tosse, escarros sanguíneos e dor torácica. Achados ● Opacidades heterogêneas comprometendo mais de um lobo ● Cavidade e disseminação broncogênica ● Ausência de linfonodomegalias mediastinais ● Envolvimento pleural pode ocorrer em até 25% dos casos Julia S Crescencio P5 Seta -> redução da transparência; Reconstrução na TC mostra consolidação no local com sinal de árvore em brotamento (círculo) Perda da arquitetura; pode ser apenas uma sequela depois do tratamento, com áreas de fibrose e perda do padrão normal Forma pneumônica: opacidades que comprometem a quase totalidade de um lobo pulmonar, podendo ser confundida com pneumonias bacterianas Tuberculoma: opacidade de aspecto nodular, arredondadas ou ovaladas, com limites precisos e bordas nítidas. Com maior frequência nos lobos superiores e geralmente são lesões únicas. ● Diag. diferencial para nódulo pulmonar solitário: câncer, pneumonia fúngica Padrão clássico com cavitação com paredes espessadas (seta); TC com áreas de consolidação e um pouco de vidro fosco Julia S Crescencio P5 TC de alta resolução (TCAR) ● Estudo do parênquima de 1/1mm ● Nódulos centrolobulares e padrão de árvore em brotamento (opacidades nodulares ramificadas) ● Nódulos do espaço aéreo ou acinares ● Áreas de consolidação lobar ou opacidades em vidro fosco ● Cavidades Complicações ● Mais comuns: colonização fúngica (‘’bola fúngica’’) e bronquiectasias ● Complicações vasculares mais comuns da secundária: arterite e trombose de artérias brônquicas e pulmonares, pseudoaneurisma Bola fúngica (*) cavidade hiperdensa, móvel Bronquiectasia (círculo): brônquio (hipo) mais calibroso do que os vasos (hiper) Obs.: o abscesso é diferente da bola fúngica porque tem nível dentro Formas crônicas fibrosantes: a fibrose deforma o conteúdo torácico - ‘’tísica fibrosa’’
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