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Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo A síndrome de Sturge-Weber, também denominada angiomatose encéfalo-trigeminal, é uma doença neurocutânea congênita rara, não hereditária, caracterizada por angiomatoses que envolvem face e cérebro. Possui manifestações cutâneas, neurológicas e oftalmológicas como consequência de malformações capilares faciais, angioma leptomeníngeo e anormalidades na vasculatura ocular. . A alteração facial, conhecida como nevo flâmeo (mancha vinho do porto), é geralmente unilateral e acompanha o trajeto do nervo trigêmeo, preferencialmente o ramo oftálmico, embora possa afetar também os outros ramos desse nervo. Este distúrbio pode causar convulsões, fraqueza, deficiência intelectual e elevação da pressão em um olho (glaucoma) e pode aumentar risco de acidente vascular cerebral. Sua etiologia é desconhecida, porém a hipótese mais aceita atualmente propõe que mutações somáticas no ectoderma fetal resultariam na malformação vascular congênita, que constitui a base de sua patogênese. Acredita-se que a SSW seja decorrente de um defeito de desenvolvimento nos primeiros meses de gestação, representado pela persistência de um plexo vascular ao redor da porção cefálica do tubo neural. Esse plexo desenvolve-se na sexta semana de vida intra-uterina, mas, normalmente, sofre regressão durante a nona semana. A associação entre angiomatose cerebral e nevo facial, característica da síndrome, é atribuída ao desenvolvimento da pele da face a partir do ectoderma que cobre esse plexo. Embora muitos casos sejam esporádicos, familiares de primeiro grau atingidos sugerem herança autossômica recessiva em algumas famílias. Outros casos preconizam padrão autossômico dominante, sendo que o locus do gene não foi mapeado. Tal como ocorre em outros distúrbios neurocutâneos, há penetrância incompleta, com acentuada variabilidade de manifestações clínicas. A SSW é classificada, de acordo com Roach (1992), em três tipos. Tipo I: apresenta angiomas facial e leptomeníngeo e glaucoma, sendo considerado a forma clássica da síndrome. O angioma intracraniano pode ser confirmado por exame histológico ou por achados radiográficos típicos. Convulsões epilépticas ou alterações encefalográficas permitem um diagnóstico presuntivo na criança portadora do nevo típico; Tipo II: exibe angioma facial e glaucoma, sem evidência de doença intracraniana; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Tipo III: é considerado uma condição rara, cararacteriza-se por angioma leptomeníngeo isolado e ausência de glaucoma. Embora não esteja presente em todos os casos e não seja patognomônico da síndrome, o diagnóstico se baseia fundamentalmente na presença do nevo flamíneo na face, sendo que, segundo alguns autores, a associação entre convulsão e o nevo, independentemente de déficit neurológico, é suficiente para o diagnóstico clínico da síndrome, embora outros defendam a idéia de que é necessário além destes dois achados, estar presente também pelo menos mais uma das seguintes manifestações: hemiparesia e hemiatrofia contralaterais, retardo mental e achados de glaucoma ou buftalmia. Entretanto, levando em consideração as outras manifestações sistêmicas existentes, há necessidade da utilização de outros métodos diagnósticos. Em relação aos distúrbios cerebrais, por exemplo, a Tomografia Computadorizada documenta as calcificações intracranianas e a atrofia cerebral unilateral; enquanto que as malformações vasculares cerebrais são mais facilmente visualizadas através da Ressonância Magnética. Os poucos casos de síndrome sem nevo flâmeo foram diagnosticados por Ressonância Magnética, Tomografia Computadorizada e angiografia. O exame de RM é melhor caracterizador da angiomatose leptomeníngea, assim como a atrofia do parênquima cerebral e anormalidades venosas parenquimais. Enquanto a técnica de TC representa melhor meio diagnóstico em relação a RM na detecção das calcificações corticais, uma vez que estudos demonstram que as radiografias do crânio podem revelar calcificações giriformes em "linha de trilho" no lado afetado, destacando ainda a localização dos angiomas leptomeníngeos acima do córtex cerebral ipisilateral ao nevo flâmeo. No entanto, vale ressaltar que indícios apontam que essas calcificações giriformes são invisíveis ao exame radiográfico convencional mesmo após os dois anos de idade. As alterações oftalmológicas podem ser observadas através do exame de fundo de olho e também através da ultra-sonografia ocular que mostrou ser um importante método de complementação diagnostica, contribuindo com dados valiosos a respeito do diagnóstico e da localização dos hemangiomas de coróide. As manifestações orais são observadas em radiografias através da identificação de reabsorções ósseas horizontais e verticais com perda da lâmina dura, comprometendo os dentes do lado envolvido pela lesão e obviamente pela observação clínica de outras alterações, como a hiperplasia gengival. A Síndrome de Sturge-Weber é caracterizada por uma multiplicidade de manifestações que atingem vários órgãos e, de forma geral, caracteriza-se por nevo cutâneo vascular facial unilateral seguindo uma ou mais divisões do nervo trigêmio, angiomas leptomeningeos venosos sobrepondo o córtex unilateral, atrofias localizadas e calcificações giriformes no mesmo lado do córtex cerebral, convulsões focais ou contra-laterais, variando em sua gravidade de acordo com o caso. Formas variadas de envolvimento ocular incluindo glaucoma, coloboma, buftalmos e defeitos hemianópticos, hemiparesia ou hemiplegia do lado oposto ao afetado pelo nevo facial, graus variados de atraso no desenvolvimento mental e outros distúrbios funcionais também podem ser observadas. Ocorrem hiperplasias vasculares de coloração avermelhada que afetam com mais freqüência o lábio e a mucosa bucal, podendo também acometer em ordem decrescente de frequência a mucosa gengival superior, a língua, o palato e a mucosa gengival inferior. As lesões bucais são unilaterais, terminando abruptamente na linha média da face. As hiperplasias gengivais caracterizam-se por um aumento do componente vascular e sangramento gengival mesmo quando sujeitas ao menor trauma. A impactação alimentar e a formação de placa bacteriana podem intensificar a inflamação e a hiperplasia gengival. Outro fator agravante é a terapia dilantínica utilizada pelos pacientes no tratamento das crises convulsivas que podem exacerbar o quadro de aumento gengival. Macroglossia e hipertrofia do osso maxilar do lado atingido causando má oclusão e assimetria facial também podem ser eventualmente encontradas. Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo O tratamento da Síndrome de Sturge-Weber é variável, dependendo da natureza e intensidade das suas possíveis características clínicas. Usualmente, o nevo vinho do Porto na face pode ser melhorado pelo uso de novas técnicas de laserterapia ou através da utilização de cosméticos. O primeiro direcionamento do tratamento deve ser voltado para controle das crises convulsivas, com administração de medicação adequada. Caso as crises convulsivas tornem-se incontroláveis, procedimentos neurocirúrgicos podem ser utilizados, por exemplo, lobectomia ou hemisferectomia. Contudo a grande limitação à intervenção cirúrgica encontra-se ainda na sua elevada morbi-mortalidade. Fisioterapias para amenizar as dificuldades motoras resultantes da hemiparesia e reeducação para aumentar o nível intelectual também são recomendadas. O monitoramento anual quanto ao glaucoma é recomendado para todos os pacientes, especialmente crianças e, caso presente, merece tratamento agressivo. Os pacientes com alterações orais devem ser submetidos a exames da cavidadeoral periodicamente e fazer controle minucioso da placa bacteriana, uma vez que esta pode agravar o quadro vascular, sendo também de fundamental importância os cuidados extremos com procedimentos cirúrgicos na cavidade oral, devido a tendência destes em cursarem com intensas hemorragias.
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