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38º Ano do Ensino Fundamental 4. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias Contextualização N os próximos capítulos, estudaremos a Revolução Francesa (1789) e os processos de independência política das 13 colônias norte-americanas (1776), do Haiti (1804) e do Brasil (1822). Vamos perceber que a Revolução Francesa e a Independência das 13 colônias influenciaram e incentivaram o continente americano, a lutar por liberdade e pela autonomia política frente ao domínio colonial europeu. Esses acontecimentos deram origem à política atual, caracterizada por ideias e noções de soberania popular, sufrágio universal, cidadania e direitos individuais, como liberdade de ir e vir, de crença religiosa e direito à justiça. Nesse contexto, as lutas políticas por direitos sociais se intensificaram a partir do final do século XVIII. Até então, a política estava restrita a parcelas pequenas da população, tanto na Europa, quanto no continente americano, e as ideias revolucionárias em torno da noção de direitos individuais e políticos da maioria da população eram inéditas. Os revolucionários franceses, com o lema liberdade, igualdade e fraternidade, questionaram os privilégios da nobreza e do clero, dois grupos sociais que mantinham o poder político e econômico às custas dos grupos sociais mais pobres. Esse tipo de regime, chamado de Antigo Regime, era um tipo de organização da sociedade que mantinha grande parte dos povos na pobreza e impossibilitados da participação política. Foi justamente esse tipo de sociedade que as ideias revolucionárias questionaram, levando a ações radicais de luta política revolucionária. Na França, a abolição das injustiças e dos privilégios da nobreza e do clero ocorreu de maneira violenta por meio de uma revolução armada e nas 13 colônias norte-americanas também. Diante da pressão inglesa e objetivando aumentar o controle fiscal por meio da cobrança de novos impostos, os colonos norte-americanos reagiram defendendo seus direitos de liberdade administrativa e econômica. A repressão por parte da Inglaterra fez com que a Independência das 13 colônias fosse conquistada pela sucessão de conflitos armados conhecidos como Guerra da Independência (1776-1783). No Haiti, os ideais da Revolução Francesa e o êxito da Independência das 13 colônias conquistaram a maior parte de população haitiana formada por escravos que trabalhavam nas lavouras de cana-de-açúcar. A luta pela independência haitiana significou uma revolução radical, pois, com a conquista da independência política, aboliu-se a escravidão. Esse fato amedrontou os grandes proprietários de terras em todo o continente americano, pois, quando os EUA e o Brasil proclamaram suas História Fig.4.1 - Soldados durante a Guerra Civil Norte-Americana História 4 Volume 2 independências, a escravidão foi mantida, contradizendo os ideais de liberdade e fraternidade apregoados e defendidos no final do século XVIII. Essa manutenção custou caro aos norte- americanos, pois, no século XIX, a abolição da escravidão no país gerou uma guerra civil de proporções enormes, conhecida como Guerra de Secessão (1861-1865). Fig.4.2 - Proclamação da abolição da escravidão nas colônias francesas O sul escravista se confrontou com o norte industrializado, procurando manter o regime de escravidão que sustentava a estrutura econômica da grande propriedade de terra: plantations, como na América Latina. As plantations eram formadas por grandes fazendas que produziam um único produto (monocultura) e utilizavam mão de obra escrava. Nos EUA, os principais produtos eram o algodão e o tabaco, enquanto, no Brasil, era a cana de açúcar. Diferentemente da experiência norte-americana com a abolição da escravidão, pois o norte impôs sua vontade política, derrotando o sul e modernizando rapidamente os EUA, no Brasil, a escravidão demorou a ser abolida, causando inúmeras consequências tanto para a economia quanto para a sociedade brasileira. Além disso, enquanto no Haiti o processo de independência levou ao final da escravidão, nas outras regiões do continente americano, a escravidão conviveria com a luta por direitos políticos e sociais, de parte de uma parcela pequena dos grupos sociais, mantendo os grupos populares de fora da modernização política. Porém, isso não significa que o avanço foi pequeno no que diz respeito à conquista de direitos políticos e sociais, pelo contrário, as revoluções que estudaremos a seguir garantiram as primeiras grandes experiências democráticas do mundo ocidental e abriram um novo período na história política mundial. Dessa forma, a Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias Norte-Americanas modificaram profundamente a vida da civilização ocidental. Hoje, o mundo, do ponto de vista político, social e econômico, é fruto desses acontecimentos que marcaram o final do século XVIII. Atualmente, grande parte dos países vive em regimes políticos democráticos, que garantem um conjunto de direitos individuais pautados em valores como liberdade e igualdade. Esses valores nem sempre existiram, pois foram construídos lentamente com muitas lutas e trabalho ao longo da história. Muitos direitos dos quais usufruímos hoje são resultado dessas lutas que exigiram sacrifícios e empenho das gerações passadas. Todas essas conquistas chegaram até nós como uma herança que deve ser mantida. Para conseguirmos isso, é necessário conhecermos como e por que essas gerações lutaram por sociedades mais justas e fraternas. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias são exemplos desse esforço em prol da democracia, dos direitos individuais e do respeito à dignidade humana. É assim também com a compreensão da independência do Haiti e da luta dos escravos por liberdade e dignidade humana, pois as desigualdades que hoje existem, de maneira muito intensa nos países da América Latina, têm relação direta com a ocorrência da escravidão nessa região do continente americano. A independência do Haiti despertou a esperança daqueles que acreditavam na injustiça da escravidão e, principalmente, dos abolicionistas que iriam surgir no século XIX e lutar em todo o continente americano pela abolição da escravidão. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 58º Ano do Ensino Fundamental Portanto, conhecer esses acontecimentos históricos nos ajuda a entender nosso papel como seres humanos políticos e responsáveis pelo social. Este é organizado e governado pela política, que, muitas vezes, deixa de ser a dimensão do público para ser apropriada por interesses privados, tornando-se uma atividade a serviço de poucos que se beneficiam dela. Essas práticas prejudicam o coletivo que é a finalidade primeira e última da política. Exercícios de aprofundamento Fig.4.3 - Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão 1 A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, redigida e aprovada em 1789 durante a Revolução Francesa, tornou-se um dos documentos políticos mais importantes da nossa época. Inúmeras constituições e leis, que garantem ao ser humano universal direitos como liberdade, segurança, propriedade privada e resistência à opressão, têm por base a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Considerando esses direitos citados, escreva sobre a atualidade dos direitos garantidos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e como cada brasileiro pode colocá-los em prática. 2 (FUVEST-Adaptado) A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, votada pela Assembleia Nacional Constituinte francesa, em 26 de agosto de 1789, objetivava a) romper com a Declaração de Independência dos Estados Unidos, por esta não ter negado a escravidão. b) recuperar os ideais cristãos de liberdade e igualdade surgidos na época medieval e esquecidos na moderna. c) estimular todos os povos a se revoltarem contra seus governos para acabar com a desigualdade social. d) assinalar os princípios que, inspirados no Iluminismo, iriamfundar as bases dos regimes democráticos contemporâneos. e) pôr em prática o princípio: a todos, segundo suas necessidades, a cada um, de acordo com sua capacidade. História 6 Volume 2 Revolução nas ideias As ações revolucionárias em prol de transformações sociais, políticas e econômicas, a partir da França e dos EUA, não nasceram espontaneamente da indignação dos grupos sociais explorados economicamente. Os grandes acontecimentos políticos do final do século XVIII foram gerados no nível das mentalidades também, ou seja, os europeus e os americanos lentamente tomaram consciência das estruturas sociais injustas na quais eles viviam. O baixo nível cultural da maioria absoluta dos grupos sociais dificultava o entendimento da realidade social desigual. Esse déficit ocorria devido ao fato de esses grupos não saberem nem ler nem escrever, o que dificultava o acesso a um conhecimento mais crítico da realidade social. Portanto, a divulgação e a expansão das ideias revolucionárias, por um grupo de pensadores ligados à nobreza, permitiu a ampliação da consciência sobre a necessidade de mudanças no Antigo Regime. Esse grupo de intelectuais era formado por filósofos que se dedicavam ao estudo da política e das suas consequências mais sérias para o bem-estar de todos os grupos sociais. Nesse contexto, a noção de igualdade surgiu no pensamento social e político desses pensadores. Começou a ocorrer a percepção de que as sociedades europeias estavam organizadas sobre ideias e princípios injustos, como os privilégios políticos e econômicos que eram passados de geração para geração de forma hereditária na nobreza. Esse grupo percebeu que a desigualdade social estava relacionada com a concentração da propriedade da terra nas mãos da nobreza e da Igreja Católica (também conhecida como clero), com o controle cultural feito por parte dessa instituição religiosa e com o analfabetismo quase absoluto das sociedades europeias. Essas percepções fizeram com que esses intelectuais passassem a defender a valorização da ciência e da racionalidade filosófica em prol de um esclarecimento das massas, inclusive, da defesa de uma educação pública para toda a população. Essas ideias foram ganhando corpo e consistência, principalmente na França, onde, mais tarde, aconteceria a Revolução Francesa. A principal crítica era direcionada à estrutura política das monarquias absolutistas, que concentravam o poder nas mãos de uma nobreza proprietária de terras que vivia de maneira improdutiva, explorando a maior parte da população, formada de camponeses que viviam em um regime de servidão e pagavam uma carga elevada de impostos. Uma das ideias políticas mais importantes ficou a cargo do filósofo Montesquieu (1689-1755), que defendia a tripartição do poder político, ou seja, a repartição em três partes: Poder Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada um dos poderes exerce suas funções, evitando, assim, a concentração excessiva do poder. Dessa forma, o Legislativo deve fazer as leis e dividir o poder com o Executivo, que, por sua vez, executa as leis. O Judiciário é responsável por interpretar e julgar as leis nos tribunais. Por essa divisão, se um réu for condenado em um julgamento feito no Judiciário, o Executivo é responsável por executar a pena e prender o réu. O sistema de tripartição do poder tornou-se uma referência para os países democráticos do mundo ocidental após a Revolução Francesa, pois passou a garantir que o Executivo não concentre tanto poder político a ponto de tornar-se arbitrário e autoritário, como acontecia na França, por exemplo, antes da Revolução Francesa. Naquele período, as monarquias absolutistas centralizavam o poder nas mãos dos reis, que tinham o poder de interver na vida dos indivíduos, limitando radicalmente a liberdade deles. O símbolo do autoritarismo dos reis era a Bastilha, prisão onde os adversários dos reis eram presos, na maioria das vezes, sem direito de defesa. Com a conquista de direitos jurídicos, após a Revolução, os franceses passaram a ter o direito do habeas corpus, que garante o direito de responder a uma acusação em liberdade. Por esse direito, enquanto não for provada a culpa do indivíduo, ele deve aguardar o julgamento em liberdade. Assim, esse direito interrompeu uma tradição de arbitrariedades e autoritarismos na Europa monárquica. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 78º Ano do Ensino Fundamental Na mesma direção dos direitos relacionados com a liberdade dos indivíduos, estava a ideia de separação entre Estado e religião. Essa separação garantiria a liberdade de pensamento e de crença religiosa, pois os indivíduos não seriam mais obrigados a seguir uma religião segundo a orientação do poder político. A noção de Estado secular passou a ser defendida e significava, no século XVIII, um verdadeiro ataque ao poder das religiões católicas e protestantes que, há séculos, influenciavam a política e, principalmente, a maneira como as pessoas pensavam. O Estado secular ou laico começou, então, a não professar nenhuma religião, ou seja, o Estado deixou de ter uma religião e permitiu, a partir de então, que cada indivíduo escolhesse, por conta própria, a religião que gostaria de seguir. Essa foi uma enorme conquista em relação às liberdades defendidas por esses intelectuais, pois ter o direito de pensar livremente possibilitou que as consciências individuais desenvolvessem um senso crítico frente às autoridades religiosas e políticas, o que contribuiu para o fortalecimento das noções de democracia e soberania popular. A ideia de Estado laico se tornou referência para todas as nações que procuraram se modernizar nos campos político e jurídico e abriu caminho para a construção de sociedades democráticas pautadas nos direitos sociais, jurídicos e políticos dos cidadãos. Esse movimento de ideias se materializou na Revolução Francesa, com a proclamação dos Direitos do Homem e do Cidadão, logo após o início do movimento revolucionário. A revolução nas ideias não se restringiu à política e à justiça. O filósofo Rousseau (1712- 1778) se dedicou as causas das desigualdades entre os homens. Para ele, a origem da desigualdade entre os indivíduos estava na propriedade privada, pois, a partir do momento em que um homem cercou um pedaço de terra e gritou que era dele, a desigualdade e as guerras iniciaram a sua história entre os homens. Essa proposta de Rousseau impactou muito a sociedade francesa, cuja estrutura social era muito desigual e injusta. A propriedade das terras estava concentrada nas mãos de dois grupos sociais, a nobreza e o clero, enquanto a maioria da população era explorada e mantida na pobreza. É importante lembrarmos que a noção da propriedade da terra foi, por muito tempo, mantida como sagrada e inviolável, porque o direito de acesso à ela se dava de maneira hereditária, ou seja, passava de pai para filho e somente entre a nobreza. Desse modo, era preciso nascer nobre para usufruir das riquezas que as terras proporcionavam nas sociedades europeias anteriores à Revolução Francesa. Juntamente com essa noção privilegiada a respeito do nascimento Fig.4.4 - No Antigo Regime, o clero detinha o controle da cultura Fig.4.5 - O Terceiro Estado se levantando contra a opressão do Primeiro e o Segundo Estado História 8 Volume 2 e da preservação do status social da nobreza, a Igreja Católica também defendia a preservação dessa ordem social devido a sua aliança política com a nobreza. A Igreja Católica também era uma grande proprietária de terras devido às doações que recebia da nobreza, que, em troca da aceitação de algum de seus filhos para ser uma autoridade eclesiástica, doava terras para a Igreja, tornando-a uma das maiores proprietárias de terras da Europa. Além de deter o monopólio da cultura, a Igreja Católica também coroava e santificada os reis baseada na teoria do direito divino, segundo a qual os reis representavam os interesses de Deus na terra.Desse modo, nesse contexto fechado economicamente e mantido por tradições políticas e religiosas, as ideias de Rousseau desestabilizaram a visão de mundo e as crenças consideradas naturais pelas populações europeias, principalmente as das camadas mais excluídas e exploradas. Assim, quando essas ideias se encontraram com as condições precárias de vida dos grupos sociais populares, o caminho da revolução ficou pavimentado e preparado para a sua realização. Quando a revolução explodiu na França, os revolucionários não hesitaram em desapropriar as terras tanto dos nobres quanto da Igreja Católica. Tanto a Revolução Francesa quanto a Independência das 13 colônias foram inspiradas em ideias políticas e filosóficas inovadoras conhecidas como Iluminismo. Esse movimento cultural significou uma verdadeira revolução do pensamento social e político europeu e norte-americano, pois pensou, analisou e questionou as sociedades europeias da época. Fig.4.6 - O Antigo Regime não permitia mobilidade social, ou seja, se um indivíduo nascesse servo, a chance de ele ascender socialmente e tornar-se um nobre era praticamente nenhuma Senhor Feudal Clero Cavaleiros Camponeses Fig.4.7 - Rei Henrique VIII, monarca absolutista E o que o Iluminismo criticava? Para respondermos a essa pergunta, é importante lembrarmos que as sociedades europeias antes da Revolução Francesa estavam organizadas em um tipo de sistema que os historiadores chamam de Antigo Regime. No Antigo Regime, as relações políticas e sociais eram marcadas por uma desigualdade muito grande entre os grupos sociais, pois as sociedades da época eram basicamente agrícolas e o comércio estava em segundo plano. Dessa forma, a concentração da riqueza e o controle das atividades econômicas ficavam nas mãos da chamada nobreza, ou seja, dos proprietários das terras. Juntamente com a nobreza, a Igreja Católica também desempenhava um importante papel no Antigo Regime, pois além de grande proprietária de terras, ela detinha o controle da produção cultural, ou seja, influenciava a maneira como as pessoas agiam, sentiam e pensavam. Dessa forma, ela organizava a estrutura mental, ou seja, o paradigma da época. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 98º Ano do Ensino Fundamental O Antigo Regime era organizado em um sistema tripartite, no qual existiam três estamentos sociais chamados também de Primeiro Estado, Segundo Estado e Terceiro Estado. O clero era formado pelos sacerdotes da Igreja Católica e constituíam o Primeiro Estado. A nobreza era formada pelos grandes proprietários de terras, conhecidos também como senhores feudais, e constituía o Segundo Estado. E os servos eram camponeses que viviam e trabalhavam em um regime de servidão, dedicavam grande parte do seu trabalho para produzir bens agrícolas para a nobreza e pagar várias taxas (impostos) para ela. Os servos também pagavam dízimos regularmente para o clero, e constituíam o Terceiro Estado. Além dos servos camponeses, o Terceiro Estado era formado, na época da Revolução Francesa, pelos sans-culottes (trabalhadores pobres das cidades) e pela burguesia, um grupo social que surgiu entre os séculos XIII e XIV e que, em 1789, quando explodiu a Revolução Francesa, detinha poder econômico a ponto de reivindicar também o poder político. E foi justamente isso que a burguesia fez: liderou a Revolução Francesa e transformou a França, que antes vivia sob o Antigo Regime, em uma sociedade baseada nos ideais políticos e econômicos do Iluminismo, que podem ser resumidos pelas palavras liberdade, igualdade e fraternidade. Influenciada pelo Iluminismo, a burguesia liderou a Revolução Francesa e transformou, de maneira rápida e radical, as estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais da sociedade francesa. Essas transformações ocorreram de maneira radical e violenta, pois o Primeiro e o Segundo estados não estavam dispostos a abrir mão de seus privilégios sociais, o que agravou uma crise econômica que mantinha o Terceiro estado em condições de vida precárias. Diante desse quadro social e econômico injusto e desigual, a burguesia liderou, após a tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, uma revolução armada, que resultou em momentos de grande tensão social, como a condenação do rei Luís XVI à morte na guilhotina, a desapropriação de terras da nobreza e da Igreja Católica e a conquista de direitos políticos e sociais do Terceiro estado, que passou a participar gradativamente da política. Fig.4.8 - Revolução Francesa: a Tomada de Bastilha em Paris, 14 de julho de 1789 História 10 Volume 2 Portanto, podemos chamar de revolução o que aconteceu na França, a partir de 1789, porque a sociedade francesa se transformou de maneira violenta, profunda e radical em um curto espaço de tempo, entre 1789 e 1799. Foram dez anos de convulsão social, política e econômica que transformaram a França em uma sociedade mais livre, menos injusta e mais democrática do ponto de vista político. O que significa dizer que a França se transformou em uma sociedade mais democrática? Como vimos anteriormente, antes da revolução, os franceses viviam o Antigo Regime. Nesse tipo de organização social, o poder político estava centralizado nas mãos de poucos, isto é, nas mãos do rei e da nobreza, que controlavam as decisões políticas e econômicas com o apoio da Igreja Católica. Os historiadores chamam esse um tipo de governo de Absolutista. Nele, grande parte da população francesa não participava da política, pois não era possível escolher os representantes políticos por meio de eleições e do voto, posto que essa é uma particularidade dos regimes democráticos. A população francesa também não podia e não sabia, muitas vezes, opinar, pois grande parte dos povos europeus da época não sabiam ler nem escrever, o que dificultava o entendimento político necessário para propor melhorias para as sociedades do Antigo Regime. O que fez, então, a população francesa do Terceiro Estado se rebelar contra o poder do rei e do Primeiro e Segundo estados? Primeiramente, havia um sistema injusto de cobrança de impostos. Enquanto o Terceiro Estado pagava várias taxas e impostos, o Segundo e o Terceiro estados eram isentos. Dessa forma, com o passar do tempo, o Estado Absolutista francês entrou em uma crise financeira grave, o que fez surgir a necessidade de o Primeiro e o Segundo estados também pagarem impostos. Diante da recusa, a revolução precipitou-se e a burguesia conduziu os grupos sociais do Terceiro Estado em um processo de construção de uma nova organização social, política e econômica da sociedade francesa. Exercícios de sala 3 (VUNESP) Leia os dois artigos seguintes, extraídos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789. Artigo 1º: Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais não podem ser fundamentadas senão sobre a utilidade comum. Artigo 6º: A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou pelos seus representantes, na sua formação. Ela tem de ser a mesma para todos, quer seja protegendo, quer seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a capacidade deles, e sem outra distinção que a de suas virtudes e talentos. a) Em qual contexto histórico foi elaborada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ b) Cite duas ideias expressas na Declaração que representaram uma ruptura da prática política até então vigente. ___________________________________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 118º Ano do Ensino Fundamental 4 (FGV) HISTOIRE: une terre, des hommes. França: Magnard. A caricatura acima mostra a situação das camadas sociais na sociedade francesa de antes da Revolução de 1789. a) Que grupos e que relações sociais estão representados na caricatura? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ b) Antes do movimento revolucionário, quais eram as principais críticas do povo em relação às camadas dominantes? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ c) Que classe social liderou a Revolução e que transformações ocorreram no período mais radical do processo revolucionário? ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ História 12 Volume 2 4.1 Revolução Industrial: aspectos sociais, econômicos e culturais A tualmente, a produção em massa de qualquer produto é algo comum. Não é difícil encontrarmos o mesmo produto ou algo semelhante quando procuramos algo nas prateleiras dos mercados. Contudo, nem sempre foi assim. A produção industrial em larga escala só se tornou possível a partir da segunda metade do século XVIII com a criação industrial mecanizada, fator que aumentou consideravelmente a produção de mercadorias. Inicialmente, houve uma transição da produção artesanal para novos modos de manufatura e, depois, de um processo de manufatura para o de maquinofatura, aumentando significativamente a produção de bens para consumo. A Revolução Industrial (junto à Revolução Francesa) marcou a passagem da era Moderna para a era Contemporânea e a chegada de um novo modo de produção: o Capitalismo. Em outras palavras, a Primeira Revolução Industrial, ou a Revolução Industrial Inglesa, nada mais foi do que a consolidação do modo de produção capitalista enquanto um sistema apoiado fundamentalmente na economia industrial com o objetivo de lucrar. Para isso, a elite econômica ascendente dona dos meios de produção, a burguesia, explorava a força de trabalho assalariada dos trabalhadores chamados de proletários. Surgiu, assim, uma nova forma de organização da sociedade e novos grupos sociais, configurando novas relações entre as classes sociais. Esse modelo de produção e economia iniciou-se na Inglaterra em 1760 e, no século seguinte, se expandiu para os demais países da Europa Ocidental e para os Estados Unidos, chegando a outros países em outros continentes posteriormente. A Revolução Industrial trouxe uma série de mudanças econômicas, como o declínio do sistema colonial mercantilista e o fim da escravidão negra. Em contraposição, criou-se um enorme contingente de trabalhadores assalariados urbanos explorados econômica e socialmente. Esses trabalhadores passaram a lutar por melhores salários, direitos, condições de vida e até mesmo pelo rompimento do sistema capitalista, sendo essas pautas alguns dos principais componentes de luta política dos séculos posteriores. A criação de um novo sistema industrial também gerou uma busca por novos mercados consumidores, dando início a um novo sistema colonial e imperialista distinto do mercantilista. Tudo isso criou um abismo entre os países industrializados e ricos e os periféricos. 4.1.1 A indústria e o pioneirismo inglês Durante o século XVIII, a industrialização foi um fenômeno basicamente inglês. Somente no início do século XIX que outros países passaram a se industrializar, como aqueles da Europa Ocidental e os Estados Unidos. Esse fenômeno se deu por uma série de fatores históricos que propiciaram, à Inglaterra, acumular riquezas desde o início da era Moderna, principalmente no decorrer dos séculos XVII e XVIII. Entre as práticas mercantilistas, a Inglaterra foi a mais bem-sucedida na exploração das colônias nas Américas, África e Ásia, no tráfico negreiro e no comércio entre os países. Assim, esse país se formou como um grande império colonial com forte domínio econômico sobre os concorrentes, principalmente Portugal e Espanha, impondo uma política que a tornava beneficiária das riquezas exploradas nas colônias de outros países. Fig.4.9 - Pintura de uma cidade industrial A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 138º Ano do Ensino Fundamental Outro importante fator foi que a Inglaterra havia se tornado uma forte potência naval e comercial, superando a Holanda, que era a maior potência naval-mercantil até então. Isso se deu principalmente devido aos conflitos marinhos Anglo-Holandeses durante os séculos XVII e XVIII, dos quais a Inglaterra saiu vitoriosa; vencendo o embate contra a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos, os ingleses ganharam o monopólio do livre comércio com as Índias Orientais Holandesas, o que aumentou o seu comércio com outros países europeus e fomentou o tráfico negreiro. Além disso, a Inglaterra passou a oferecer serviços de transportes, títulos de investimento e seguro a outros países, fortalecendo ainda mais seu comércio internacional. O acúmulo de capital pelos burgueses e pelo próprio Estado inglês também se baseou no financiamento de pilhagem, no comércio marítimo (atividade de corso) e no empréstimo de dinheiro a juros, sem contar a submissão imposta aos países mais fracos e dependentes economicamente. Desse modo, devido a esses fatores, nenhum outro país em toda a Europa acumulou tanto capital quanto a Inglaterra durante os séculos XVII e XVIII. Com um forte poder econômico, a burguesia inglesa ascendeu ao poder político por meio da Revolução Puritana, marcando um levante contra a hegemonia monárquica do país. A ascensão política burguesa acabou consolidando-se com a Revolução Gloriosa (1688-1689) durante o século XVII, quando o rei protestante Guilherme de Orange assumiu o trono e aceitou a Declaração de Direitos que estabelecia as bases da monarquia parlamentar. A partir dessa declaração, o rei não poderia interferir diretamente nas leis decretadas pelo parlamento, e o parlamento estaria responsável por fiscalizar as contas do Estado. O documento também afirmava a autonomia do Judiciário e assegurava as liberdades individuais. Sob essa nova estruturação, o Parlamento inglês, cuja maioria era composta por burgueses, tornou- -se o órgão político decisivo do país. Assim, o parlamento inglês, ao se tornar o órgão político decisivo do país, consolidou a ascensão da burguesia ao poder. A partir de então, a Inglaterra passou a ser o primeiro país a ter um Estado burguês, praticamente um século antes da Revolução Francesa. Nesse cenário, a Inglaterra, livre dos limites absolutistas, pôde dirigir o Estado de acordo com a atividade que mais lhe gerava lucro: o mercado e a produção de bens materiais. A Política de Cercamentos também contribuiu para o pioneirismo inglês, pois as terras de uso comum dos camponeses foram tomadas pelo Estado e arrendadas com o intuito de estimular a produção industrial de tecidos e de outros produtos manufaturados que vinham crescendo desde o século XVI. No entanto, a partir desse processo de expropriação das terras camponesas, uma grande massade trabalhadores ficou sem trabalho. Por conta disso, esses trabalhadores tiveram que se deslocar para as cidades em busca de trabalho e melhores condições de vida em um grande êxodo rural, criando, nas cidades, um abundante excedente de trabalhadores e um consequente barateamento da mão de obra. Tudo isso deu origem ao proletariado inglês. Assim como nas cidades, o processo de produção rural também foi industrializado durante o século XVIII, e as novas técnicas agrícolas impulsionadas pelas máquinas aumentaram a produtividade e a economia rural significativamente, diminuindo os postos de trabalho e acentuando ainda mais o êxodo para as cidades. Fig.4.10 - Pintura de uma indústria de tecidos, um dos principais materiais produzidos durante a Primeira Revolução Industrial História 14 Volume 2 Devido a todos esses fatores, a Grã-Bretanha consolidou-se como a maior potência econômica mundial do período, aumentando seu mercado consumidor a partir da conquista das colônias na Índia e no Canadá e da vitória sobre a França, seu principal rival econômico e político, na Guerra dos Sete Anos (1756-1763). Outro elemento importante na manutenção do seu poder político e econômico era o fato de que, nesse período, a Grã-Bretanha possuía a maior força naval da época, podendo vender seus produtos nos mais diversos países e continentes. Assim, a burguesia inglesa, ao longo do século XVIII, acumulou capital suficiente para custear a expansão das indústrias e o desenvolvimento da tecnologia e da ciência em seu país, tornando-se a maior potência da época. Dessa forma, a burguesia iniciou a aplicação de uma política baseada no Liberalismo econômico, uma doutrina que tem como um dos seus criadores Adam Smith, economista escocês que defendia que toda a riqueza era produzida pelo trabalho e que o Estado não deveria intervir nas liberdades individuais e nas relações econômicas. Para esse autor, o mercado era autorregulado e deveria ser livre para que o progresso social e a geração de riquezas fossem alcançados. Assim, pautando-se nesses pressupostos, a burguesia europeia passou a expandir e a consolidar o novo modo de produção capitalista, assegurando a expansão do capital e o aumento de seus lucros. Sendo assim, os principais fatores que contribuíram para a Revolução Industrial ter tomado essas proporções na Inglaterra foram o acúmulo de capitais provenientes da exploração intensiva, do comércio mercantil e do sistema de trocas e exploração de matérias-primas e de produtos básicos, como o açúcar e o algodão, com as colônias; a produção e a expansão dos produtos manufaturados, alinhadas aos investimentos em ciência e tecnologia; a Política de Cercamentos e de controle burguês do Parlamento; a ascensão da classe burguesa e a consolidação do modo de produção capitalista. Transformações sociais da Revolução Industrial Junto às mudanças técnicas e econômicas, a Revolução Industrial modificou profundamente as formas de sociabilidade da sociedade europeia, impactando a vida, os costumes e a relação de vivência, além de transformar e recriar as classes sociais na Europa e nos países em que a Revolução se fez presente. Uma das consequências sociais do processo de industrialização foi o forte êxodo rural, que inflou as cidades, trazendo consigo péssimas condições de vida para a população inglesa. O crescimento urbano em cidades como Londres, Manchester, Liverpool e Bristol, que eram sedes da produção industrial da época, foi extremamente significativo; o percentual populacional das pessoas que viviam nas zonas rurais caiu de 87% em 1750 para 48% cerca de um século depois. Esse novo número populacional urbano constituiu uma nova massa de trabalhadores, o proletariado. Em contraposição ao burguês capitalista, dono das empresas, o proletário não tinha nenhuma propriedade além de sua própria força de trabalho, que é vendida para os donos dos meios de produção (industriais) em troca de um salário que garanta sua sobrevivência. A palavra “proletário” era de uso romano, e servia para descrever os cidadãos pobres cuja única utilidade era gerar filhos (prole) que, no futuro, protegeriam Roma. Assim, da mesma forma como surgiu a burguesia com os processos revolucionários, emergiu, junto a ela, o proletariado, uma classe antagônica que gera as riquezas apropriadas pelo burguês industrial. Fig.4.11 - Fotografia de jovens trabalhadores em uma mina extraindo um dos principais materiais usados na produção de energia para as máquinas durante a Primeira Revolução Industrial A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 158º Ano do Ensino Fundamental Em meio a essa intensa produção industrial e acelerado crescimento urbano, não demorou muito para aparecer problemas estruturais, principalmente relacionados ao saneamento básico. As condições de moradia do proletariado eram péssimas: cortiços insalubres de um ou dois andares enfileirados, moradias sujas, úmidas e precárias e lugares pequenos e superlotados que expunham diversas famílias a péssimas condições, incluindo doenças. Além disso, como o trabalho assalariado era uma atividade recém-criada, faltavam meios de regulamentação, relegando os trabalhadores a jornadas de 16h diárias de 6 a 7 dias por semana com intensa produtividade para que fossem gerados os lucros para os donos das indústrias (burgueses). Isto é, além de estarem em péssimas condições de vida e de trabalho, os trabalhadores recém-vindos do campo tinham salários extremamente baixos e jornadas de extrema periculosidade, onde ocorriam numerosos acidentes com as máquinas. A maioria dos proletários era de origem rural e/ou artesãos que foram expropriados de suas terras. Entretanto, por mais que essa característica fosse predominante, a classe trabalhadora era heterogênea em sua formação, pois era composta por camponeses expulsos do meio agrário, artesãos urbanos, soldados licenciados, moradores da cidade sem profissão definida, entre outros que precisavam de um trabalho para a própria subsistência. Essas modificações no mundo do trabalho não foram acompanhadas por aparatos jurídicos nesse primeiro momento da Revolução Industrial, pois as relações de trabalho estabelecidas entre trabalhadores e patrões não eram regulamentadas por um contrato que assegurasse direitos e deveres de ambas as partes. Embora a organização da produção seguisse de uma maneira acelerada, não havia uma regulamentação que desse segurança aos trabalhadores ou os orientasse, ficando a cargo do empregador definir essas normas. Desse modo, a classe trabalhadora estava disponível para que a burguesia industrial a explorasse de acordo com os seus interesses. Além de todos esses agravantes, a situação das mulheres e crianças era ainda pior do que a dos homens, pois, além de estarem expostos aos mesmos riscos e jornadas de trabalho, eles recebiam um salário menor do que os homens adultos. Cabe salientar, ainda, que o trabalho feminino era mais numeroso nas industriais têxteis, enquanto que o trabalho infantil era usado em grande escala na mineração e na manutenção de máquinas. Como não havia regulamentação alguma do trabalho de forma geral, o trabalho infantil também se enquadrava nesse mesmo contexto, existindo famílias inteiras empregadas como operários. As crianças (há registros de crianças de quatro anos de idade trabalhando) trabalhavam em regimes iguais aos dos adultos, sem possuir nenhum direito. Suas jornadas de trabalho chegavam a 16 horas diárias e o salário recebido garantia apenas a subsistência das famílias, sem direito à educação e à moradia digna. Apesar de a maioria das crianças trabalharem em minas de extração de ferro e carvão, muitas também eram empregadas em indústrias como de tecelagem e vidraçarias, pois, devido à sua estatura mais baixa, elas conseguiam realizar atividades em locais de difícil acesso. Assim, elas se tornavam responsáveis pelo conserto de máquinas quebradas, um serviço extremamente perigoso e com um grandenúmero de acidentes de trabalho. Fig.4.12 - O trabalho infantil foi extremamente explorado nas fábricas no início da era Moderna. Fig.4.13 - Pintura de um dono de fábrica defendendo sua indústria dos ludistas, cuja intenção era destruir os teares mecanizados História 16 Volume 2 Entretanto, não podemos ver o operário apenas como um produto ou uma vítima da industrialização, pois eles eram agentes históricos efetivos na luta e na resistência contra a sua própria exploração. No contexto da Revolução Industrial na Inglaterra, os operários se organizaram na busca por seus direitos, reivindicando melhorias salariais e das condições de trabalho nas fábricas. Podemos apontar, ainda, que a oposição contra a exploração provocou, durante o século XVIII e aumentando durante o século seguinte, o nascimento dos primeiros movimentos, sindicatos e associações de trabalhadores. Entre esses movimentos, podemos destacar o ludismo, que atingiu seu auge em 1811-1812. Esse movimento entendia que a situação de exploração vivida pela classe trabalhadora ocorria devido à implementação das máquinas no meio produtivo, relacionando o desemprego e o barateamento do trabalho à capacidade dessas máquinas de dinamizar a produção, tornando-a mais rápida e eficiente. Assim, os ludistas, ao considerarem a destruição das máquinas como a solução dos problemas da classe operária, passaram a invadir as indústrias e a destruir todas as ferramentas e os maquinários que encontravam. Por esse motivo, o governo inglês agiu rapidamente para dispersar o movimento, prendendo os lideres, julgando-os e condenando-os por suas ações; alguns deles foram, inclusive, condenados à pena de morte. Assim como o ludismo, outros movimentos surgiram nesse contexto social, como o cartismo. Iniciado na década de 1930, o cartismo era organizado pela Associação dos Operários e tinha esse nome devido às cartas que o movimento distribuía às autoridades com as reivindicações dos trabalhadores. Nessas cartas, havia a exigência, perante o Parlamento inglês, de mudanças nas condições de vida e de trabalho dos trabalhadores, como o fim do trabalho infantil, a criação de um salário-mínimo e folgas semanais. O trabalho nas fábricas nesse momento da Primeira Revolução Industrial, entre o final da Idade Moderna e o início da era Contemporânea, nada ofereceu aos trabalhadores no sentido de proteção trabalhista ou qualquer outro direito, pelo contrário, permitiu aos donos das indústrias, os burgueses, que explorassem ao máximo a força de trabalho dos proletários e de suas famílias, criando uma grande condição de miséria entre os trabalhadores. Além da exploração exacerbada da classe trabalhadora, do desenvolvimento industrial capitalista e do crescimento populacional urbano desenfreado, esse novo sistema também impactou o meio ambiente intensamente, poluindo o solo, o ar e a água. Com o surgimento das fábricas, pouco a pouco os rios foram contaminados com os rejeitos e esgotos das indústrias; Fig.4.14 - Fábricas e suas chaminés expelindo fumaça durante a Revolução Industrial A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 178º Ano do Ensino Fundamental o solo, da mesma maneira, foi contaminado pela poluição expelida pelas fábricas e pelos efeitos da extração de minérios no solo. Um outro agravante era a fumaça expelida pelas chaminés das fábricas, que tornava o ar das cidades cinza e impuro. Além disso, as cidades industriais eram insalubres de tal forma que contavam com a proliferação de moscas, ratos, pulgas e bactérias, sem contar as doenças e pestes que foram aumentando de maneira alarmante, atingindo principalmente os trabalhadores, que viviam em situações precárias. Exercícios de sala 5 A Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra, mas se expandiu para outros países da Europa Ocidental e para os Estados Unidos, chegando, posteriormente, a outros locais. Explique o porquê de a Revolução Industrial ter eclodido, primeiramente, na Inglaterra. ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ 6 A Revolução Industrial reorganizou a sociedade moderna e criou uma nova forma de luta de classes. Explique quais eram essas classes e suas diferenças. ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ 7 Os trabalhadores, apesar de explorados, resistiram e lutavam por melhores condições durante a Revolução Industrial. Entre os movimentos reivindicatórios houve o Cartismo e o Ludismo. Explique o que foi cada um deles. ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________________________ História 18 Volume 2 4.2 Acumulação de capital, a expropriação de terras e os meios de produção O s termos burguês e burguesia, – o primeiro é sinônimo contemporâneo de donos dos bens de produção e de capital, enquanto o segundo designa a classe social que agrupa os burgueses –, são conceitos que, indiscutivelmente, estão relacionados às sociedades capitalistas contemporâneas. A burguesia era, por excelência, a classe dominante após o período industrial. Entretanto, esse grupo social começou a se formar bem antes da chegada das revoluções do final do século XVIII e início do século XIX, conquistando os espaços políticos de poder ao longo dos processos históricos. A Revolução Industrial, antes de tudo, foi uma conquista da classe burguesa, entretanto a construção de uma sociedade industrializada não aconteceu da noite para o dia. Antes do Período Moderno, a Inglaterra era uma sociedade com uma economia deficitária, praticamente agrária e que vivia sob regime feudal de grandes senhores detentores de terras e seus vassalos dependentes. As propriedades rurais eram extensas e possuíam uma economia baseada na produção de subsistência. A estrutura social da sociedade feudal era composta pelos servos, aqueles que realizavam os trabalhos braçais como a preparação da lavoura, o plantio e a colheita, e pelos trabalhadores urbanos, os burgueses. Juntos, esses dois grupos formavam o Terceiro Estado. A sociedade feudal era composta, ainda,pelo clero, que exercia o ofício religioso, e pelos nobres, que eram responsáveis por garantir a defesa militar. Foi em meio a essa estrutura social que a burguesia surgiu e se constituiu enquanto classe social dominante. O surgimento da burguesia está intimamente ligado ao processo de acumulação de capital iniciado durante o período do Renascimento urbano e comercial, marcado pela expansão das cidades-fortalezas e pelo desenvolvimento do comércio na Europa da Baixa Idade Média. Junto ao comércio mercantil e ao acúmulo de capital burguês, iniciou-se um processo de expropriação de trabalhadores rurais na Inglaterra, culminando no êxodo rural de pessoas que se tornariam a força de trabalho nas indústrias criadas durante a Revolução Industrial, o proletariado urbano. Renascimento urbano, nascimento e ascensão da burguesia No século XII, houve transformações sociais que levaram ao Renascimento urbano e comercial. Trabalhadores insatisfeitos com a vida de vassalos no meio rural buscaram, no meio urbano, melhores condições de vida e um lugar para comercializarem os produtos que, até então, eram produzidos por eles. Nas cidades-fortalezas conhecidas como burgos, criadas primeiramente com função militar de proteção, vendedores e artesãos começaram a aumentar sua atividade de comércio, vendendo o excedente que produziam e expandindo o fluxo de mercadorias entre essas cidades e o campo. Aos poucos, os burgos se transformaram em centros comerciais, aumentando a concentração de pessoas e residentes e o fluxo de venda, produção e compra de materiais, impulsionando, assim, o trabalho artesanal, principal forma de produção de mercadorias da época. O crescimento da economia e da demanda do comércio levou os comerciantes e profissionais de diversas áreas a se organizarem, surgindo as guildas e as corporações de ofício. Essas associações tinham como objetivo a organização do trabalho nas cidades, a distribuição dos produtos e a transmissão das técnicas de cada ofício. Sua estrutura era hierárquica, formada por mestres, donos de oficinas que detinham maior conhecimento sobre a profissão, oficiais, ajudantes experientes e remunerados, e aprendizes, trabalhadores não remunerados que estavam aprendendo o ofício. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 198º Ano do Ensino Fundamental Nesse contexto, esses trabalhadores vislumbravam a ascensão social, econômica e política por meio do acúmulo financeiro em uma sociedade que até então era estamental, isto é, sem mobilidade social. Assim, diversos trabalhadores passaram a acumular um excedente de capital sobre os produtos que vendiam, substituindo, aos poucos, um sistema rural e agrário (feudal) por um sistema de venda e comércio com fins lucrativos, formando, assim, uma nova classe social, a burguesia – classe nomeada a partir dos moradores dos burgos. Parte desses trabalhadores, que além do comércio exerciam profissões como mercadores, artesãos, ferreiros e carpinteiros, passou a se dedicar exclusivamente ao comércio e, com a passagem da Idade Média para a era Moderna no século XV, muitos começaram a partilhar ideais mercantilistas que iam além do acúmulo de capitais, como a valorização do comércio, a exploração e o acúmulo de metais preciosos (metalismo), o monopólio econômico de mercados e a balança favorável, buscando mais explorar do que importar. Nesse momento, as burguesias nacionais europeias fizeram alianças com os reis para assegurar seus interesses econômicos, auxiliando na centralização política e na padronização monetária, além de outros fatores que garantiriam a expansão comercial e, principalmente, a segurança das transações, enfraquecendo a nobreza feudal, centralizando o poder real e dando origem às monarquias nacionais. Dessa forma, muitos burgueses comerciantes, em contato com as corporações de ofício, passaram a fornecer matéria-prima para a produção de bens materiais e a ter controle sobre o produto final, revendendo-os e gerando um lucro sobre a produção e a venda desse produto, expandindo o comércio e a economia de compra e venda dentro do que ficaria conhecido como Sistema Doméstico (ou putting-out system). Após conflitos dentro desse sistema produtivo, esses mercadores passaram a criar as primeiras fábricas, constituídas por galpões onde reuniam artesãos para a produção. Isso permitiu que esses mercadores controlassem o trabalho e o tempo da produção, vigiando e punindo. Foi em meio a esse contexto que o acúmulo de capital primitivo (ou acumulação primitiva) surgiu. A acumulação de bens e de capital se deu por meio da exploração mercantil das colônias europeias visando a extração de metais preciosos e a balança comercial favorável, além da exploração da força de trabalho artesanal com a revenda do produto final. Com a Revolução Industrial, a chamada acumulação primitiva passou a se chamar acumulação capitalista, delineando uma produção Fig.4.15 - Pintura de uma cidade-fortaleza (burgo) italiana durante a Idade Média Fig.4.16 - Gravura de uma típica família burguesa europeia do século XVIII História 20 Volume 2 de mercadorias alicerçada na exploração da força de trabalho com a finalidade de aumentar a produtividade e extrair maiores lucros. Em meados do século XVIII, muitos desses burgueses haviam acumulado bastante capital com o desenvolvimento do comércio no período mercantil. Com esse dinheiro e com os bens acumulados, os burgueses passaram a investir nas fábricas e na produção de novas tecnologias, pois um maquinário aperfeiçoado significa produzir mais em menor tempo. Assim, passaram a custear as indústrias e a contratar trabalhadores para exercerem funções dentro das fábricas. Muitos desses trabalhadores eram camponeses que haviam sido expulsos de suas terras. Nesse momento, surgiu o que é conhecido como burguesia industrial, ou seja, a classe social burguesa em sua fase capitalista. O final da era Moderna também é marcado pela ascensão política da burguesia em alguns países da Europa ocidental. Isso começou na Inglaterra no século XVII, com a consolidação da Revolução Gloriosa (1688-1689), que estabeleceu uma Monarquia Parlamentar com autonomia do Poder Legislativo, o poder mais decisivo do país. E a burguesia que detinha o maior domínio conseguiu autonomia diante das determinações absolutistas. Posteriormente, com a Revolução Francesa iniciada em 1789, foi decretado o fim da Monarquia Absolutista. Além disso, a consolidação dela enquanto classe ocorreu com o golpe de Napoleão Bonaparte em 1799. Nesse sentido, percebe-se que a classe burguesa ascendeu economicamente e politicamente, durante o medievo, de forma gradual. E, por meio de comércio nos burgos, passou pela Idade Moderna chegando à Idade Contemporânea como classe dominante pela soberania dos meios de produção. Expropriação de terra e os Cercamentos Mas a acumulação de capital da burguesia deu-se pela influência de outros fatores, além do comércio mercantil. Um destes foi a Lei dos Cercamentos (Enclosure Acts), iniciada no século XVI na Inglaterra, sendo editada de maneiras sucessivas pelos monarcas britânicos e pelo parlamento, ganhando força, principalmente entre 1760 e 1830. A Lei dos Cercamentos foi baseada na transformação de terras comunais de senhores e servos, para a criação de pastos e ovelhas, com o intuito da retirar a lã para a produção têxtil. Esta era uma das principais atividades e matérias-primas na Inglaterra pré-industrial. Os cercamentos, foram um processo de privatização de terras que pertenciam à nobreza e ao Estado Inglês, estas que anteriormente eram de uso coletivo. Essas terras de uso comum eram inspiradas em uma tradição europeia corrente na Idade Média. O senhor feudal era o detentor da terra e o vassalo o trabalhador, passando assim a ser um espaço privatizado após a aplicação da Lei do Cercamento. Fig.4.17 - Pintura de um Cercamento Inglês no período Moderno, transformandoterras de uso comum em propriedade privadas A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 218º Ano do Ensino Fundamental Assim, os camponeses que viviam ali extraiam seu sustento dessas terras, fosse para uso próprio ou para retirada de matérias-primas como a madeira, a caça e o plantio, para o trabalho artesanal. Nesse processo, os pequenos proprietários de terra e outros que trabalhavam de maneira arrendada para a sua subsistência foram expulsos. Dessa forma, as terras que antes eram de uso coletivo, comuns aos camponeses, passaram a ser cercadas por burgueses locais ou até por nobres, que nesse contexto tornavam-se burgueses pela posse das terras, adquirindo-as e passando a ter o controle no acesso às terras produtivas. Os campos ingleses, que anteriormente eram caraterizados como pastos abertos (open field), passaram a ser vedados e explorados como um campo fechado, tornando-se propriedade de alguém. Nesse sentido, diversos trabalhadores rurais foram expulsos de seu meio de sustento para dar origem a uma sociedade capitalista. A crescente política de expropriação de terras ocasionada pela Lei dos Cercamentos estimulou uma nova classe a investir seu capital em novas propriedades agrárias. Assim, envolveu o campo na Revolução Industrial no novo modo de produção capitalista, ou seja, além da terra ser um meio de produção, tornou-se uma mercadoria, podendo ser negociada por meio da compra e venda. Além disso, muitos dos antigos senhores de terras, que antes eram nobres, tornaram-se burgueses pela posse de terras e passaram a investir em plantações e criações, além das supracitadas, as plantações de algodão, de beterraba, de batatas etc. e a criação de ovelhas. Dentro desse contexto da industrialização, novas técnicas foram sendo usadas para aumentar a produção rural, como a utilização de adubos, seleção de sementes e espécies e a utilização de maquinários agrícolas para aumentar a produtividade. Além dos Cercamentos, esses novos proprietários rurais passaram a drenar pântanos e desmatar florestas como uma maneira de aumentar suas propriedades e plantar mais. Esse processo histórico foi denominado de Revolução Agrícola e visava o abastecimento alimentar das populações que desde então viviam nos meios urbanos. Isso, entretanto, não exterminou a fome e a miséria da população. Assim, com as Leis de Cercamento, as terras foram sendo retiradas dos camponeses paulatinamente aos longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, os quais ficaram impossibilitados de trabalhar, sendo privados, portanto, da possibilidade de produzir para sua subsistência. Com o processo de expulsão das terras, esses trabalhadores foram forçados a deslocar-se até às cidades em um grande êxodo rural, em busca de trabalho e de sustento familiar. Esse processo obrigou essas pessoas a vender sua força de trabalho, transformando-os em trabalhadores assalariados. Cabe apontar que muitos dos ex-servos não migraram para as cidades inglesas, deslocando-se para as colônias da Inglaterra na América. Exercícios propostos 8 Explique como surgiu a burguesia e em que contexto. 9 Qual a relação entre a industrialização da Inglaterra e o processo da Lei dos Cercamentos? 10 (IFBA) Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente sob a influência da Revolução Industrial britânica, sua política e ideologia foram formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa. HOBSBAWM, Eric. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. p. 83. História 22 Volume 2 A citação de Eric Hobsbawm destaca a importância das Revoluções Industrial e Francesa para a história do Ocidente, especialmente porque a) consolidaram o capitalismo e a sociedade burguesa no Ocidente. b) ambas fortaleceram o Antigo Regime europeu. c) construíram a base para a consolidação dos Estados Absolutistas na Europa. d) diminuíram as diferenças entre burgueses e proletários em todo o Ocidente da era Moderna. e) restabeleceram os laços entre as metrópoles e suas colônias na América. 11 (UEG) Leia o texto a seguir. Socialmente, os sans-culottes representam os citadinos que vivem de seu trabalho, seja como artesãos, seja como profissionais de ofício; alguns, depois de uma vida laboriosa, se tornam pequenos proprietários na cidade, e usufruem as rendas de um imóvel. PÉRONNET, Michel. Revolução Francesa em 50 Palavras-chaves. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 248. A análise do texto demonstra que os interesses sociais dos sans-culottes, importantes personagens da Revolução Francesa, se confundiam com os: a) da pequena burguesia que, apesar das conquistas econômicas, via-se pressionada pelo aumento no custo de vida. b) dos camponeses, já que ambos lutavam pela abolição dos privilégios feudais no campo e posse de terras coletivas. c) dos membros do baixo clero, uma vez que lutavam por reformas sociais, mas não eram contra a liberdade religiosa. d) da classe dos girondinos, pois apesar das diferenças de classe, ambos os grupos eram politicamente moderados. 12 (PUC-PR) A Revolução Francesa foi um dos momentos mais importantes no processo de formação do mundo contemporâneo. Foi um movimento violento que sepultou o absolutismo na cena política e o mercantilismo na economia, tendo um papel de grande destaque a burguesia, interessada em instituir um regime que atendesse aos seus interesses. Durante a revolução tomou forma um corpo legislativo denominado Assembleia Nacional, que tomou parte central na consolidação das reformas objetivadas pela revolução. Dentre as principais reformas realizadas na fase moderada da Revolução Francesa (1789- 1791), pela Assembleia Nacional, podemos citar corretamente: a) Abolição dos privilégios especiais do clero e da nobreza; Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; subordinação da Igreja ao Estado; elaboração de uma constituição para a França; reformas administrativas e judiciárias; e ajuda à economia francesa. b) Declaração Universal dos Direitos Humanos; elaboração do Edito de Nantes, que dava liberdade religiosa para os não católicos; criação do Banco da França; legalização da anexação dos territórios da margem esquerda do Reno; elaboração do Código Civil Francês. c) Criação do Código Civil Francês; criação do Banco da França; elaboração da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão; elaboração das primeiras leis trabalhistas que proibiam o trabalho infantil; concessão do direito ao voto às mulheres. d) Direito de voto para todos os homens, independente da renda; favorecimento de legislação que incentivava o capitalismo comercial; reforma do sistema educacional com a criação dos liceus clássicos e de ofícios; maior autonomia para as províncias históricas da França; criação de uma estrutura descentralizada de governo na França. e) Regulamentação das leis trabalhistas na França; extensão do direito de voto para todos os homens e mulheres maiores de 18 anos; reconhecimento do direito de minorias; criação do Código Civil; a França se tornou uma confederação descentralizada, dividida em cantões com alto grau de autonomia política; elaboração da Constituição Civil do Clero. 13 (ENEM) Em virtude da importância dos grandes volumes de matérias-primas na indústria química — eram necessárias dez a doze toneladas de ingredientes para fabricar A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 238º Ano do Ensino Fundamental uma tonelada de soda —, a indústria teve uma localização bem definida quase que desde o início. Os três centros principais eram a área de Glasgow e as margens do Mersey e do Tyne. LANDES, D. Prometeu desacorrentado: transformação tecnológica e desenvolvimento industrial na Europa ocidental, desde 1750 até a nossa época. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. A relação entre a localização das indústrias químicas e das matérias-primas nos primórdios da RevoluçãoIndustrial provocou a a) busca pela isenção de impostos. b) intensa qualificação da mão de obra. c) diminuição da distância dos mercados consumidores. d) concentração da produção em determinadas regiões do país. e) necessidade do desenvolvimento de sistemas de comunicação. 14 (ENEM) Disponível em: https://www.marciocunha.eti.br/a-industria-4-0-e-a-conectivi dade-industrial/. Acesso em: 27 abr. 2020. A forma de organização interna da indústria citada gera a seguinte consequência para a mão de obra nela inserida: a) ampliação da jornada diária. b) melhoria da qualidade do trabalho. c) instabilidade nos cargos ocupados. d) eficiência na prevenção de acidentes. e) desconhecimento das etapas produtivas. 15 (ENEM) Texto I Cidadão Tá vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar ) Foi um tempo de aflição Eram quatro condução Duas pra ir, duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olha pra cima e fico tonto Mas me vem um cidadão E me diz desconfiado “Tu tá aí admirado Ou tá querendo roubar?” Meu domingo tá perdido Vou pra casa entristecido Dá vontade de beber E pra aumentar meu tédio Eu nem posso olhar pro prédio Que eu ajudei a fazer. BARBOSA, L. In: ZÉ RAMALHO. 20 Super Sucessos. Rio de Janeiro: Sony Music, 1999. (Fragmento). Texto II O trabalhador fica mais pobre à medida que produz mais riqueza e sua produção cresce em força e extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria ainda mais barata à medida que cria mais bens. Esse fato simplesmente subentende que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, agora se lhe opõe como um ser estranho, como uma força independente do produtor. MARX, K. Manuscritos econômicos filosóficos (Primeiro manuscrito). São Paulo: Boitempo Editorial, 1999. (Fragmento). Com base nos textos, a relação entre trabalho e modo de produção capitalista é a) baseada na desvalorização do trabalho especializado e no aumento da demanda social por novos postos de emprego. b) fundada no crescimento proporcional entre o número de trabalhadores e o aumento da produção de bens e serviços. c) estruturada na distribuição equânime de renda e no declínio do capitalismo industrial e tecnocrata. d) instaurada a partir do fortalecimento da luta de classes e da criação da economia solidária. e) derivada do aumento da riqueza e da ampliação da exploração do trabalhador. História 24 Volume 2 16 (ENEM) Dominar a luz implica tanto um avanço tecnológico quanto uma certa liberação dos ritmos cíclicos da natureza, com a passagem das estações e as alternâncias de dia e noite. Com a iluminação noturna, a escuridão vai cedendo lugar à claridade, e a percepção temporal começa a se pautar pela marcação do relógio. Se a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional entre trabalho e descanso — todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente. SILVA FILHO, A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará; Secult-CE, 2001. (Adaptado) Em relação ao mundo do trabalho, a transformação apontada no texto teve como consequência a: a) melhoria da qualidade da produção industrial. b) redução da oferta de emprego nas zonas rurais. c) permissão ao trabalhador para controlar seus próprios horários. d) diminuição das exigências de esforço no trabalho com máquinas. e) ampliação do período disponível para a jornada de trabalho. 17 (ENEM) Mas era sobretudo a lã que os compradores, vindos de Flandres na Itália, procuravam por toda a parte. Para satisfazê- los, as raças foram melhoradas através do aumento progressivo das suas dimensões. Esse crescimento prosseguiu durante todo o século XIII, e as abadias da Ordem de Cister, onde eram utilizados os métodos mais racionais de criação de gado, desempenharam certamente um papel determinante nesse aperfeiçoamento. DUBY, G. Economia rural e vida no campo no ocidente medieval. Lisboa: Estampa, 1987. (Adaptado) O texto aponta para a relação entre aperfeiçoamento da atividade pastoril e avanço técnico na Europa ocidental feudal, que resultou do(a) a) crescimento do trabalho escravo. b) desenvolvimento da vida urbana. c) padronização dos impostos locais. d) uniformização do processo produtivo. e) desconcentração da estrutura fundiária. 18 (ENEM) Fala-se muito nos dias de hoje em direitos do homem. Pois bem: foi no século XVIII precisamente, que uma Assembleia Constituinte produziu e proclamou em Paris a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa Declaração se impôs como necessária para um grupo de revolucionários, por ter sido preparada por uma mudança no plano das ideias e das mentalidades: o Iluminismo. FORTES, L. S. O Iluminismo e os reis filósofos. São Paulo: Brasiliensis, 1981. (Adaptado) Correlacionando temporalidades históricas, o texto apresenta uma concepção de pensamento que tem como uma de suas bases a a) modernização da educação escolar. b) atualização da disciplina moral cristã. c) divulgação de costumes aristocráticos. d) socialização do conhecimento civil e) universalização do princípio da igualdade civil. 19 (UPE-SSA 2) A passagem do século XVIII para o século XIX inaugura o que, convencionalmente, se denomina de história contemporânea. Depois de quase quatro séculos de acumulação de capital, de comércio colonial, de sucessivas guerras hegemônicas e contra hegemônicas, da desestrutura do feudalismo, da expansão da linguagem escrita e do ensino, da lenta conquista e subjugação de outras civilizações, a Europa teve de enfrentar uma profunda transformação de seu processo histórico. SILVA, André Luiz Reis da. A nova ordem europeia no século X: os efeitos da dupla revolução na história contemporânea. Ciências & Letras, Porto Alegre, nº 47, p. 11-24, jan./jun. 2010. Disponível em: http://seer1.fapa.com.br/index.php/arquivos (Adaptado) No contexto descrito, o desenvolvimento da burguesia iniciou uma nova era, que teve como principais marcos históricos a a) Revolução Industrial e a Francesa. b) Reforma Protestante e a Contrarreforma. c) Comuna de Paris e a Primavera dos Povos. d) Guerra da Crimeia e a Guerra Civil Americana. e) Guerra dos Trinta Anos e a Guerra dos Sete Anos. A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 258º Ano do Ensino Fundamental 4.3 Manufatura e trabalho artesanal A produção de bens materiais antes da Revolução Industrial era essencialmente construída de maneira manual e artesanal, no máximo com o uso de máquinas simples para facilitar a produção. Um trabalho quase sempre era feito em pequena escala e com um processo produtivo demorado, pois era o trabalhador que ditava o tempo de produção de uma mercadoria. Com o advento da indústria capitalista e a criação de novas máquinas mais potentes e capazes de produzir em larga escala, os trabalhadores tornaram-se empregados nas fábricas, vendendo sua força de trabalho. Assim, perderam a posse sobre o que produziam e, principalmente, o lucro gerado. O impulso técnico-produtivo da Revolução Industrial se deu em uma série de invenções práticas, que dinamizaram a fabricação durante o século XVIII, estendendo-se aos séculos seguintes com um grande boom produtivo. Esse processo impactou drasticamente a sociedade e modificou não só a forma como se produzia, mas também influenciou a sociabilidade dos indivíduos, o que provocou conflitos entre as principais classes sociais desse período: a burguesia e o proletariado. Grande parte dos historiadores defendem que as mudanças foram sentidas de maneira gradual, sendo a revolução da indústria percebida, efetivamente, somente após 1830. 4.3.1 A produção artesanal O que caracteriza o trabalho artesanal é a técnica quase sempre manual, no máximo com o uso de pequenas máquinas e ferramentas, para produção de objetos feitos a partir de matéria-prima natural (couro, madeira, barro, pedras, entre outros). Os itensproduzidos eram dos mais variados tipos: tecidos, sapatos, móveis, facas e armas, sempre feitos de maneira unitária e individual. Até o início da Idade Moderna, a produção era feita de modo artesanal e as profissões eram quase sempre familiares e os saberes sobre produção eram passados de geração a geração, de pais para filhos. O ambiente que se produzia era um ambiente domiciliar ou em uma pequena oficina, onde se concentravam os artesãos e seus ajudantes, caracterizados hierarquicamente em mestres, oficiais e aprendizes. Durante o final da Baixa Idade Média, com o Renascimento Comercial e Urbano e o florescimento das cidades medievais fortificadas, dos “Burgos” surgiram as Guildas. Elas nada mais eram que associações de trabalhadores artesãos, junto a outros profissionais como ferreiros, sapateiros, alfaiates, carpinteiros, artistas, entre outros. Cada seguimento profissional reunia-se em um conjunto de trabalhadores, como maneira de regulamentar o processo de produção artesanal, regrando as atividades do trabalho, tornando a produção mais eficiente, mas mantendo a qualidade do que era produzido, estabelecendo a concorrência e preços comuns. Esses trabalhadores pagavam uma taxa regularmente para manter a funcionalidade dessas Guildas enquanto associação, em troca de assistência e proteção aos seus membros. Junto ao crescimento das cidades, as Guildas também se expandiram e se aperfeiçoaram e formaram o que seria conhecido como as Corporações de Ofício. Esse formato reunia um número maior de trabalhadores artesãos de diversas áreas, com o objetivo de regulamentar a produção artesanal, evitando a concorrência e garantindo a segurança dos trabalhadores. Fig.4.18 - Salão de uma Guilda datada do ano de 1390 na cidade de Leicester, na Inglaterra, que, primeiramente, foi usada como local sede de uma guilda e, posteriormente, tornou-se centro administrativo do município História 26 Volume 2 Por volta do século XVI, junto ao mercantilismo, começou a ser formado um novo sistema, que ficou conhecido como putting-out(também chamado de sistema doméstico). Nesse mecanismo, comerciantes, em contratos com as Corporações de Ofício, passaram a fornecer aos artesãos matéria-prima, que vinha de fora das jurisdições das corporações, e a controlar o produto final que seria comercializado por eles. Dessa maneira, a economia, que antes era local, se expandiu em uma direção pré-fabril. Na maioria das vezes, as mercadorias eram produzidas em casas para um pequeno mercado crescente, sempre realizadas por um mestre artesão com ajuda de aprendizes. Porém esse artesão, apesar de ser dono de seu trabalho, era dependente de comerciantes intermediários, que proviam a matéria-prima para o produto e, depois de pronto, encaminhava o produto ao consumidor final, lucrando em cima do produtor artesão. No entanto, essas relações nem sempre eram pacíficas. Entre as reclamações realizadas pelos artesãos, pode-se destacar que, muitas vezes, a matéria- -prima entregue era de péssima qualidade, além de ocorrer desvios em porcentagens do que era produzido, de modo que os valores combinados anteriormente, não eram pagos ou eram modificados ao final das transações. Pode-se afirmar que o sistema putting-out está intimamente ligado ao nascimento do sistema industrial, criado no início da Idade Contemporânea com a Revolução Industrial. Isso porque é em meio a esse processo que os trabalhadores passaram a perder o controle não só do produto final, mas também o da fabricação das mercadorias. No putting-out, o trabalhador artesão ainda detinha o controle de todo o processo produtivo e podia causar sanções e formas de resistência caso não fosse cumprido o combinado, elemento que se modificou com o sistema industrial. Isto é, antes, o artesão tinha controle sobre o tempo, a intensidade e os seus instrumentos de trabalho; com a produção fabril, isso foi tirado dos trabalhadores. A partir de então, os burgueses donos de indústrias passaram, por meio de fiscalização e disciplina, a ter o controle dos meios de produção e do trabalho. Ainda no Período Moderno, os conflitos provocaram a criação das primeiras fábricas pelos comerciantes, em galpões que concentravam os artesãos, ajudantes e aprendizes para exercerem os serviços. Dessa forma, por meio de observação e punição, controlavam-se os trabalhos. Esse novo sistema retirou os trabalhadores da produção artesanal e os colocou em um espaço grande, comum a outros trabalhadores do mesmo ofício, em que era um tempo específico de trabalho. Nesse contexto, o trabalho não era mais um elemento da vida doméstica que se confundia com outros processos em que o próprio trabalhador determinava o ritmo de suas tarefas. Dessa maneira, esses comerciantes restringiram o trabalho produtivo dos artesãos, dando origem ao que é conhecido como produtos manufaturados. A manufatura é uma técnica de trabalho manual em que máquinas são utilizadas. O produto, no entanto, é feito por um grande número de operários com o intuito de agilizar a produção. Cada um deles deve cumprir uma parte específica do que se é produzido, o processo é composto por diversas fases. Assim, há uma diferença clara entre a produção artesanal e a manufatura moderna. Fig.4.19 - Pintura de uma fábrica do setor têxtil, um dos principais produtos manufaturados da Revolução Industrial Inglesa A Revolução Francesa e a Independência das 13 Colônias 278º Ano do Ensino Fundamental 4.3.2 Da manufatura para a maquinofatura Com as desapropriações de terras, principalmente pelo processo de Cercamentos que vinham acontecendo no campo Inglês desde o século XVI, a população do interior foi forçada a sair do meio rural, onde executavam suas atividades agrícolas e artesanais. Nesse contexto, as cidades ainda eram pequenas e existiam poucas pessoas para executar os trabalhos nas fábricas. Para os donos dos meios de produção, portanto, esse êxodo rural (a população que vinha do campo para a cidade) foi importante, visto que era a solução para o problema da falta de força de trabalho. Com essa força, seria desencadeado o processo de produção fabril. E, com o advento de novas máquinas capazes de aumentar a produtividade, seria possível atingir patamares e lucros jamais vistos antes. Em meio a esse cenário, vários burgueses passaram a investir nas indústrias e na mecanização da produção em meados do século XVIII e a indústria têxtil, portanto, tornou-se o grande expoente desse momento. Entre os maquinários que estavam sendo desenvolvidos, podemos destacar a invenção do tecelão John Kay, que, em 1733, criou a lançadeira mecânica, deixando a fiação mais rápida, quadruplicando a produtividade. Em 1769, criou-se o tear hidráulico, entre outros elementos e invenções que impulsionaram a produção no setor têxtil inglês. Entre essas invenções, entretanto, a que trouxe as principais e mais significativas mudanças foi a máquina a vapor, criada por Thomas Newcomen em 1712 – morador de Devonshire e ferreiro. Newcomen baseou-se na bomba a vapor, criada anos antes. Essa invenção foi aperfeiçoada substancialmente por James Watt em 1777 e essas modificações possibilitaram um aumento considerável na produtividade. Antes da chegada da máquina a vapor, os principais meios de energia eram a força humana, animal, hidráulica e eólica. Com a invenção, os meios de energia utilizados eram baseados no uso de carvão para o aquecimento da água, emitindo vapor e, por meio da pressão, que movia as peças, o deslocamento desejado na máquina era obtido. Isso facilitava consideravelmente o processo produtivo. Nas décadas seguintes, essa tecnologia estendeu-se para diversos ramos produtivos. Em 1779, por exemplo, foi criado o tear a vapor por Cartwright, potencializando ainda mais a produção têxtil. Outro setor que obteve significativos progressos com essa invenção foi o de meios de locomoção. Variados modelos de locomotivas a vapor foram criados entre 1804 e 1823, além dos barcos movidos
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