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09/05/2022 2 Toxicologia social • É a área da toxicologia que estuda os efeitos deletérios que resultam do uso não médico e abusivo de fármacos e drogas. • Como principais consequências, além dos prejuízos ao próprio indivíduo, podem ser citados os danos nos mais diferentes ambientes sociais: trabalho, família, escola, comunidade, entre outros. • De forma didática, as substâncias envolvidas com a toxicologia social podem ser classificadas em determinados grupos. Toxicologia social: classificação • Opioides: morfina, heroína, metadona, oxicodona, hidrocodona. • Depressores do SNC: etanol, barbitúricos, anestésicos gerais, quetamina, solventes orgânicos. • Ansiolíticos e hipnóticos: benzodiazepínicos • Estimulantes psicomotores: anfetaminas, cocaína e derivados, ecstasy, nicotina. • Agentes psicotomiméticos: LSD, mescalina, cannabis e derivados sintéticos. 09/05/2022 3 • O abuso das substâncias químicas decorre de um ciclo, que a depender das características do indivíduo e da droga, pode tornar a sua retirada muito difícil. Uso da droga Sistema de recompensa cerebral Reforço Neuroadaptação Tolerância Abstinência Dependência Uso abusivo de substâncias Sistema de recompensa cerebral • Via dopaminérgica mesocorticolímbica: é o sistema fisiológico responsável pela sensação de prazer em situações de alimentação, carinho, entre outros. • As drogas muitas vezes são capazes de aumentar a quantidade de dopamina nessas determinadas regiões do cérebro. Isso leva a uma exacerbação do sistema de recompensa e pode causar sensações como melhora do humor, euforia ou calma. • Esse é o mecanismo pelo qual as drogas criam condições para o que é chamado de potencial de reforço. 09/05/2022 4 Sistema de recompensa cerebral • O sistema de recompensa está localizado no SNC e inclui a região denominada Área Tegumental Ventral (ATV) que contém os corpos celulares de neurônios dopaminérgicos. • A partir dela partem projeções dopaminérgicas para o núcleo accumbens, córtex frontal, amigdala e outros. • Outros neurotransmissores como serotonina, acetilcolina, adrenalina, glutamato e GABA também modulam esse sistema. Fonte: https://lh3.googleusercontent.com/proxy/- BJDcPvHhWxyskoLDalc1dE5JBQGDPVwSJYUyA5NMYX_dfJf9qpZIyheh5X2H- Oai0Yi1Uby9_X6Ye9ez5pggojUQK4C1Ga-G11buTLQMek8hIQB3r4DIlQvObEv5QLP6DEeqmFi- BOlMlDANmo Potencial de reforço • O potencial de reforço é entendido como a capacidade intrínseca da substância em produzir uma autoadministração repetida no usuário. • O reforço pode ser classificado como: – Primário: capacidade intrínseca da droga que impacta na velocidade e intensidade do reforço. – Secundário: outros fatores não associados com a droga (sociedade, ambiente, personalidade). Ou – Positivo: o usuário busca para ter prazer (exemplo: nicotina). – Negativo: o usuário busca para não sentir angústia e medo (exemplo: depressores do SNC). 09/05/2022 5 Potencial de abuso • O potencial de abuso é definido como a capacidade que a droga tem de produzir dependência no usuário, e é consequência direta da sua capacidade em induzir o reforço primário. • Esse potencial de adicção também sofre influência de outros fatores: – Genéticos: uma maior expressão de enzimas metabolizadoras faz com que o efeito da droga seja reduzido, necessitando de maiores doses. – Fatores comportamentais e sociais: fase da adolescência, estilo de vida estressante, influência da comunidade, disponibilidade e custo da droga, facilidade de administração, entre outros. Farmacodependência • A farmacodependência, ou apenas dependência, é caracterizada pelo comportamento ativo do indivíduo pela busca da droga, consumo em locais inapropriados, e que são acompanhadas de respostas fisiológicas e neuroadaptação. • No abuso de drogas, o paciente faz o consumo compulsivo da substância, inclusive priorizando sobre outras necessidades básicas como alimentação e vestuário. • A dependência é considerado um fenômeno farmacológico reversível. • Vício: é um termo empregado para o abuso crônico e recidivante de drogas. Hoje é considerado pejorativo e tende a cair em desuso. 09/05/2022 6 Dependência Psicológica • A dependência psicológica está relacionada com a experiência prévia de uso da droga, que remete a memórias consideradas positivas. • Essa dependência pode levar a determinadas situações como: • Fissura: necessidade psicológica de reforçar o uso da droga. • Recaída: vontade de utilizar a droga mesmo após longos períodos de abstinência. Dependência física • A dependência física causa a situação denominada síndrome de retirada ou abstinência. • Essa síndrome ocorre as situações em que o uso da droga é interrompido ou tratado com um antagonista. • A duração pode variar de dias até semanas, e a intensidade é amplamente variável. • Importante: alguns medicamentos psicotrópicos podem causar abstinência, mas sem necessariamente instalar um quadro de dependência. 09/05/2022 7 Dependência física • Fisiologia da dependência física: – Ao ser administrada, a droga causa um reajuste do equilíbrio homeostático. Ou seja, o organismo lança mecanismos para se adaptar a nova quantidade de neurotransmissores. – Quando ocorre a interrupção, o sistema precisa se adaptar novamente e retornar ao estado inicial. Porém, ocorrem os sintomas de abstinência. • Os efeitos observados no paciente geralmente são contrários aos causados pela droga. Tolerância • A tolerância é entendida como um processo que surge com o tempo, no qual a administração continuada acarreta na redução do efeito farmacológico da droga. • Ela ocorre inclusive com fármacos de uso terapêutico, a exemplo Diazepam. Mas é importante ressaltar que não necessariamente ocorre com todas as drogas de abuso. • A tolerância pode ser classificada de acordo com o mecanismo pelo qual ocorre. 09/05/2022 8 Tipos de Tolerância • Tolerância inata: é uma característica genética do próprio usuário, no qual pode apresentar uma expressão aumentada de enzimas do citocromo P450. • Tolerância farmacocinética: a droga acaba por aumentar a expressão de enzimas específicas do citocromo P450. Isso causa a redução da concentração da substância no sítio ativo. – Exemplo: barbitúricos. • Tolerância farmacodinâmica: com a exposição repetida da droga, pode ocorrer a redução do número ou dessensibilização de receptores. Tipos de Tolerância • Tolerância aprendida: também denominada tolerância comportamental, ocorre quando o usuário “aprende” a compensar os efeitos adversos das drogas. Exemplo: usuários de etanol que contornam a perda de coordenação motora. • Tolerância cruzada: uma droga gera tolerância a outra que tenha estrutura ou mecanismo de ação semelhante. 09/05/2022 9 Toxicologia dos Medicamentos Fonte: https://3.bp.blogspot.com/-6p-uf2- 6BYU/VyTHr60Zl0I/AAAAAAAAAbI/m4S81XNPxL4DJbItae0QfuZuy7q1J9YDQCLcB/ s1600/automed.png Fonte: https://1.bp.blogspot.com/-0c1eAptC-4I/UL8arZK- maI/AAAAAAAAMB4/L4l550E-KjY/s1600/tomarmedicamento.jpg Toxicologia dos Medicamentos • A toxicologia dos medicamentos é entendida como os efeitos tóxicos que resultam do uso inadequado, superdosagem e hipersensibilidade individual aos fármacos. • É um processo que afeta todas as faixa etárias e classes sociais, além de estar diretamente ligado com a automedicação, a qual depende de: – Acesso facilitado aos medicamentos; – Sistema de saúde deficiente e demorado; – Aspectos culturais, políticos e econômicos; – Marketing da indústria farmacêutica. 09/05/2022 10 Toxicologia dos Medicamentos • As intoxicações causadas por medicamentos estão relacionadas com o efeitos adversos produzidos pelos mesmos. • As circunstâncias mais comumente associadas com os casos de intoxicação são: – Ingestão acidental; – Ingestão intencional (suicídio); – Abuso; – Negligência ou erro de medicação; – Interações medicamentosas. Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/18/Illustration_Pa paver_somniferum0.jpg Fonte: https://previews.123rf.com/images/verastuchelova/verastuchelova1706/verastuchelova170600390/80714860-opium-production-latex-flows-from-immature- macadamia-poppy-seed-papaver-somniferum-.jpg Opioides e Opiáceos 09/05/2022 11 Opioides e Opiáceos • Opiáceos são compostos de origem natural derivados do suco da Papaver somniferum. Opioides é uma terminologia que inclui tanto os opiáceos como os derivados sintéticos da papoula. • Moléculas: morfina, nalorfina, levalorfam, propoxifeno, codeína, fentanil, buprenorfina, meperidina, metadona. O tramadol, embora não seja quimicamente um opiáceo, é geralmente incluído nesse grupo por seu mecanismo de ação. • Utilizações terapêuticas: dor intensa (traumatismo, oncologia), dor crônica, supressão da tosse, hipnoanalgesia, anestésico. Opioides: Mecanismo de ação Fonte: https://ai2-s2-public.s3.amazonaws.com/figures/2017-08- 08/1b4c79ab188b32122f4e003cc58b2949da02b0c3/11-Figure7-1.png Receptores opioides µ (mi) Analgesiaδ (delta) Ϗ (kappa) ϭ (sigma) Efeitos psicotomiméticos(euforia e abuso) Hiperpolarização Inibe saída das vesículas 09/05/2022 12 Opioides e Opiáceos • Toxicidade: – Ao estimular receptores opioides, essas drogas induzem sedação e depressão respiratória. – Redução da motilidade gastrointestinal e constipação intestinal, retenção urinária, miose, aumento da liberação de histamina, efeito imunossupressor. • Potencial de abuso: alto. • Tolerância: rapidamente instalada. • Diagnóstico: sinais clínicos como pupila em “cabeça de alfinete” e depressão do SNC. Alguns opioides podem ser dosados na urina. Opioides e Opiáceos • Quadro clínico: – Intoxicação leve a moderada: letargia, miose, flacidez muscular, hipotensão. – Intoxicação elevada: depressão respiratória acompanhada de coma e apneia, que inclusive pode causar a morte. – Sintomas pouco frequentes: edema pulmonar e convulsão (meperidina, tramadol e outros). • Síndrome de abstinência: – Ansiedade, piloereção, cólicas abdominais e diarreia, insônia, sensibilidade a dor aumentada. 09/05/2022 13 Opioides e Opiáceos • Tratamento: – Suporte: manutenção das vias aéreas e ventilação mecânica, tratamento do coma, hipotensão e edema pulmonar, além de reposição de volemia. – Descontaminação: possível administração de carvão ativado e/ou lavagem gástrica, sem necessidade de aumento de eliminação renal. – Específico: administração de antagonistas de opioides: naloxona (reverte a depressão respiratória e lentamente a dor, mas não elimina os efeitos psicotomiméticos). Benzodiazepínicos Fonte: https://i.ytimg.com/vi/6JQCUzaHYYc/maxresdefault.jpg 09/05/2022 14 • Os benzodiazepínicos (BZD) pertencem a uma classe farmacológica que varia quanto a potência, tempo de duração, e metabólitos ativos. • Moléculas: midazolam (ação muito curta), alprazolam e lorazepam (ação curta), diazepam, clodiazepóxico, flunazepam (ação longa). • Observação: zolpidem e zaleplona são fármacos que não tem estrutura de BZD, mas são estudados junto por sua ação semelhante. • Utilizações terapêuticas: ansiolítico, anticonvulsivante, hipnótico, abstinência alcoólica. Benzodiazepínicos Fonte: https://accesspharmacy.mhmedical.com/data/books/1568/tre_ch22_f001.png BZD: mecanismo de ação 09/05/2022 15 • Toxicidade: – Ao aumentar a ação do GABA, causam depressão generalizada do SNC. – Pode ocorrer coma ou até mesmo parada cardiorespiratória. • Potencial de abuso: médio. • Tolerância: não se instala rapidamente. • Diagnóstico: avaliação do histórico clínico de ingestão ou injeção recente de BZD. Podem ser dosados na urina e no sangue, mas sem tanta importância no atendimento de urgência. Benzodiazepínicos Flunitrazepam e gama hidroxibutirato (GHB) Uso ilícito Juntamente com o GHB, o flunitrazepam é utilizado como “Rape date drug” ou “Boa noite, Cinderela” 09/05/2022 16 • Quadro clínico: – A depressão do SNC é observada de meia a duas horas após a ingestão. – Outros sintomas: letargia e hiporeflexia, fala arrastada, diplopia, ataxia, coma e parada respiratória. • Síndrome de abstinência: – Ansiedade, agitação, hipersensibilidade à luz e sons, parestesias, cãibras, distúrbios do sono, e após doses altas, delírio e convulsões. Benzodiazepínicos • Tratamento: – Suporte: manutenção das vias aéreas e ventilação mecânica, reposição de volemia e tratamento do coma, hipotensão e hipotermia. – Descontaminação: possível administração de carvão ativado, geralmente não é necessário realizar lavagem gástrica, e não há comprovação de benefício em aumentar a eliminação renal. – Específico: administração de antagonistas: flumazenil (reverte os efeitos sedativos, mas não a depressão respiratória). Benzodiazepínicos 09/05/2022 17 Referências BRUNTON, L. L. et al. As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman. 12 ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. KLAASSEN, C. D. Fundamentos em toxicologia de Casarett e Doull. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. OLSON, K. R. Manual de toxicologia clínica. 6. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014. RANG, H. P. et al. Rang & Dale farmacologia. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. MUITO OBRIGADO POR SUA ATENÇÃO E PACIÊNCIA!!
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