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ESTUDOS DICIPLINARES V

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A Identidade Cultural na Pós-Modernidade, de Stuart Hall 
UNIDADE I
Quem foi Stuart Hall? 
Vamos começar falando um pouco sobre Stuart Hall, o 
autor da obra “A Identidade Cultural na Pós-Modernidade”, 
que é o nosso objeto de estudo nesse módulo dos 
Estudos Disciplinares. 
Hall nasceu em Kingston, capital da Jamaica, em 
1932, e faleceu em Londres, em 2014, aos 82 anos. Ele 
foi teórico cultural, sociólogo e um dos pais fundadores 
da Escola de Birmingham dos Estudos Culturais, tendo 
vivido e atuado no Reino Unido de 1951 até 1997, quando 
se aposentou como professor. Hall também é 
reconhecido mundialmente no meio acadêmico por ter 
expandido o escopo dos estudos culturais por incluir 
discussões sobre raça e gênero, tendo sido casado com 
a também professora e militante feminista Catherine Hall. 
a obra 
No Brasil, a obra “A Identidade Cultural na Pós-
Modernidade” é publicada pela Editora DP&A desde 1992. 
Nela, Hall discute as identidades culturais na pós-
modernidade, apresenta concepções de indivíduos, 
introduz conceitos e processos ligados aos vários 
aspectos da identidade e de suas interações com outros 
elementos e avalia a existência de uma “crise de 
identidade”. Trata-se de um livro 
curto, dividido em seis capítulos. 
Ao longo da obra, Hall explora as 
seguintes questões: 
• Existe uma “crise de 
identidade”? 
• Em que consiste essa crise? 
• Em que direção ela está indo? 
• O que pretendemos dizer com “crise de identidade”? 
• Que acontecimentos recentes nas sociedades 
modernas precipitaram essa crise? 
• Que formas ela toma? 
• Quais são suas consequências potenciais? 
Antes de apresentar seus argumentos, Hall localiza as 
discussões sobre identidade na teoria social: 
“[...] as velhas identidades, que por tanto tempo 
estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo 
surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo 
moderno, até aqui visto como um sujeito unificado. A 
assim chamada “crise de identidade” é vista como parte 
de um processo mais amplo de mudança, que está 
deslocando as estruturas e processos centrais das 
sociedades modernas e abalando os quadros de 
referência que davam aos indivíduos uma ancoragem 
estável no mundo social” (HALL, 2006, p. 7). 
Hall também expõe seu ponto de vista sobre a questão 
antes de prosseguir: 
“[...] Este livro é escrito a partir de uma posição 
basicamente simpática à afirmação de que as identidades 
modernas estão sendo “descentradas”, isto é, deslocadas 
ou fragmentadas. Seu propósito é o de explorar esta 
afirmação, ver o que ela implica, qualificá-la e discutir quais 
podem ser suas prováveis consequências. Ao 
desenvolver o argumento, introduzo certas 
complexidades e examino alguns aspectos contraditórios 
que a noção de “descentração", em sua forma mais 
simplificada, desconsidera” (HALL, 2006, p. 8). 
Hall também explica que as formulações de sua obra são 
provisórias e abertas a contestações: 
“[...] A opinião dentro da comunidade sociológica 
está ainda profundamente dividida quanto a esses 
assuntos. As tendências são demasiadamente recentes e 
ambíguas. O próprio conceito com o qual estamos 
lidando, “identidade”, é demasiadamente complexo, muito 
pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na 
ciência social contemporânea para ser definitivamente 
posto à prova” (HALL, 2006, p. 8) 
Capítulo 1 – A identidade em questão 
No Capítulo 1, Hall trata de três concepções de identidade: 
• Sujeito 
iluminista; 
• Sujeito 
sociológico; 
• Sujeito pós-
moderno. 
Hall descreve o sujeito iluminista da seguinte forma: 
“O sujeito do Iluminismo estava baseado numa 
concepção da pessoa humana como um indivíduo 
totalmente centrado, unificado, dotado das capacidades 
de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” 
consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira 
vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, 
ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – 
contínuo ou ‘idêntico’ a ele – ao longo da existência do 
indivíduo” (HALL, 2006, p. 10). 
No caso do sujeito iluminista, o centro essencial 
do eu era a identidade de uma pessoa. Essa era uma 
concepção muito individualista do sujeito e de sua 
identidade, um sujeito que era usualmente descrito como 
masculino. 
 
 
 
 
Hall descreve o sujeito sociológico da seguinte forma: 
“A noção de sujeito sociológico refletia a 
crescente complexidade do mundo moderno e a 
consciência de que este núcleo interior do sujeito não 
era autônomo e autossuficiente, mas era formado na 
relação com ‘outras pessoas importantes para ele’, que 
mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos 
– a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. [...] De 
acordo com essa visão [Mead, Cooley etc.], que se tornou 
a concepção sociológica clássica da questão, a identidade 
é formada na ‘interação’ entre o eu e a sociedade” 
(HALL, 2006, p. 11). 
No caso do sujeito pós-moderno, existe um 
núcleo ou essência interior que é o “eu real”, mas este é 
formado e modificado num diálogo contínuo com os 
mundos culturais ‘exteriores’ e as identidades que esses 
mundos oferecem. Nessa 
concepção, a identidade 
preenche o espaço entre 
o “interior” e o "exterior” 
– entre o mundo pessoal 
e o mundo público. 
 
Hall fala ainda da importância da identidade para ligar o 
sujeito à estrutura: 
“O fato de que projetamos a ‘nós próprios’ 
nessas identidades culturais, ao mesmo tempo que 
internalizamos seus significados e valores, tornando-os 
‘parte de nós’, contribui para alinhar nossos sentimentos 
subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos no 
mundo social e cultural. A identidade, então, costura (ou, 
para usar uma metáfora médica, ‘sutura’) o sujeito à 
estrutura. Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos 
culturais que eles habitam, tornando ambos 
reciprocamente mais unificados e predizíveis” (HALL, 
2006, p. 11) 
 
 
 
Hall argumenta que as duas primeiras concepções de 
identidade sofreram mudanças: 
“O sujeito, previamente vivido como tendo uma 
identidade unificada e estável, está se tornando 
fragmentado; composto não de uma única, mas de várias 
identidades, algumas vezes contraditórias ou não 
resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que 
compunham as paisagens sociais ‘lá fora’ e que 
asseguravam nossa conformidade subjetiva com as 
‘necessidades’ objetivas da cultura, estão entrando em 
colapso, como resultado de mudanças estruturais e 
institucionais” (HALL, 2006, p. 12). 
Até mesmo o processo de identificação, através do qual 
nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-
se mais provisório, variável e problemático. Esse 
processo produz o sujeito pós-moderno, que não tem 
uma 
identidade 
fixa, essencial 
ou 
permanente. 
 
 
Nesse caso, a identidade torna-se uma 
“celebração móvel”, formada e transformada 
continuamente em relação às formas pelas quais somos 
representados ou interpelados nos sistemas culturais que 
nos rodeiam. A concepção de identidade aqui é definida 
historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume 
identidades diferentes em diferentes momentos, 
identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” 
coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, 
empurrando em diferentes direções, de tal modo que 
nossas identificações estão sendo continuamente 
deslocadas. Assim, se sentimos que temos uma 
identidade unificada desde o nascimento até a morte é 
apenas porque construímos uma história sobre nós 
mesmos ou uma “narrativa do eu”. 
A identidade plenamente unificada, completa, segura e 
coerente não existe. Em seu lugar, na medida em que 
os sistemas de significação e representação cultural se 
multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade 
de identidades possíveis, com cada uma das quais 
poderíamos nos identificar – ao menos temporariamente. 
 
Ainda no 
Capítulo 1, Hall 
discute também 
as mudanças na 
própria 
modernidade, 
não se 
restringindo às 
mudanças nosujeito. Nas sociedades tradicionais, existia 
um centro, um princípio articulador ou organizador 
único. Nas sociedades modernas, a globalização 
descentralizou essas referências, criando novas e 
misturando outras. Assim, a globalização, na 
modernidade, afeta a forma como as identidades se 
criam, se modificam, se hibridizam etc. Em resumo, as 
transformações resultantes da modernidade tardia 
libertaram o indivíduo de seus apoios estáveis nas 
tradições e nas estruturas, de modo que as identidades 
também se sujeitam a transformações. 
É apenas no final do Capítulo 1 que Hall vai informar o 
leitor acerca da forma como dividiu sua obra: 
“Em primeiro lugar, vou examinar, de uma forma 
um pouco mais profunda, como o conceito de identidade 
mudou: do conceito ligado ao sujeito do Iluminismo para 
o conceito sociológico e, depois, para o do sujeito ‘pós-
moderno’. Em seguida, o livro explorará aquele aspecto 
da identidade cultural moderna que é formado através do 
pertencimento a uma cultura nacional e como os 
processos de mudança – uma mudança que efetua um 
deslocamento – compreendidos no conceito de 
“globalização” estão afetando isso” (HALL, 2006, p. 21). 
Capítulo 2 – Nascimento e morte do sujeito 
pós-moderno 
 Capítulo 2, Hall introduz o conceito de 
descentração do sujeito, trata da morte do sujeito 
cartesiano e indica cinco obras e autores que 
contribuíram, no período da modernidade tardia (a 
segunda metade do século XX), para a descentração do 
sujeito cartesiano. O primeiro descentramento 
importante foi possibilitado pelos escritos de Marx. Os 
escritos de Marx pertencem ao século XIX, e não ao 
século XX, mas a sua redescoberta e reinterpretação na 
década 1960 foi à luz da sua afirmação de que os 
“homens fazem a história, mas apenas sob as condições 
que lhes são dadas”. Os novos intérpretes da obra de 
Marx afirmaram que os indivíduos não poderiam ser os 
agentes da história, uma vez que eles podiam agir apenas 
com base em condições históricas criadas por outros e 
sob as quais eles nasciam. 
1. Assim, o 
marxismo 
deslocava 
qualquer noção 
de agência 
individual. 
 
 
 
2. O segundo 
descentramento no 
pensamento ocidental 
do século XX vem da 
descoberta do 
inconsciente por 
Sigmund Freud. 
 
 
 
 
 
A teoria freudiana de 
que nossas identidades, 
nossa sexualidade e a 
estrutura de nossos 
desejos são formadas 
com base em 
processos psíquicos e 
simbólicos do 
inconsciente, que 
funciona de acordo 
com uma “lógica” 
muito diferente da lógica racional, arrasa com o 
conceito do sujeito racional provido de uma identidade 
fixa e unificada – o “penso, logo existo”, do sujeito de 
Descartes. 
3. O terceiro descentramento foi possibilitado pelo 
trabalho do linguista estrutural, Ferdinand de 
Saussure. Saussure argumentava que nós não somos 
os autores das afirmações que fazemos ou dos 
significados que expressamos na língua. Nós 
podemos utilizar a língua para produzir significados 
apenas nos posicionando no interior das regras da 
língua e dos sistemas de significado de nossa cultura. 
A língua é um sistema social e não um sistema 
individual. Ela nos precede. Assim, falar uma língua 
significa apenas expressar nossos pensamentos mais 
interiores e originais e ativar a imensa gama de 
significados que já estão embutidos nela. Outro 
linguista moderno, Jacques Derrida, vai dizer que 
existem sempre significados suplementares sobre os 
quais não temos controle, que surgirão e 
subverterão nossas tentativas de criar mundos fixos 
e estáveis. 
 
4. O quarto descentramento principal da identidade do 
sujeito ocorre no trabalho do filósofo e historiador 
francês Michel Foucault. Foucault produziu uma 
espécie de “genealogia do sujeito moderno” e 
destacou um novo tipo de poder – “poder disciplinar” 
–, que se desdobra ao longo do século XIX, 
chegando ao seu desenvolvimento máximo no início 
do presente século. O poder disciplinar está 
preocupado, em primeiro lugar, com a regulação, a 
vigilância e o governo da espécie humana ou de 
populações inteiras e, em segundo lugar, do indivíduo 
e do corpo. Seus locais são aquelas novas instituições 
que se desenvolveram ao longo do século XIX e que 
“policiam” e disciplinam as populações modernas – 
oficinas, quartéis, escolas, prisões, hospitais, clinicas e 
assim por diante. 
 
5. O quinto descentramento consiste no feminismo, 
tanto como uma crítica teórica quanto como um 
movimento social. O feminismo faz parte daquele 
grupo de “novos movimentos sociais” que surgiram 
durante os anos 1960 (o grande marco da 
modernidade tardia), juntamente com as revoltas 
estudantis, os movimentos juvenis, as lutas pelos 
direitos civis, os movimentos revolucionários do 
“Terceiro Mundo”, os movimentos pela paz, entre 
outros. O feminismo descentrou o sujeito cartesiano 
e sociológico ao enfatizar a forma como somos 
formados e produzidos como sujeitos generificados, 
ao incluir a formação das identidades sexuais e de 
gênero e ao questionar a noção de que os homens 
e as mulheres eram parte da mesma identidade. 
Assim, ao apresentar as reflexões desses 
autores, Hall mapeou as mudanças conceituais através 
das quais o sujeito iluminista, visto como tendo uma 
identidade fixa e estável, foi descentrado, resultando nas 
identidades abertas, contraditórias, inacabadas, 
fragmentadas, do sujeito pós-moderno. Hall enfatiza o 
seguinte: “[...] muitas pessoas não aceitam as implicações 
conceituais e intelectuais desses desenvolvimentos do 
pensamento moderno. Entretanto, poucas negariam 
agora seus efeitos profundamente desestabilizadores 
sobre as ideias da modernidade tardia [...]” (HALL, 2006, 
p. 46)
 
UNIDADE II
Capítulo 3 – As culturas nacionais como 
comunidades imaginadas 
No capítulo 3, Hall discute o que está 
acontecendo à identidade cultural na modernidade tardia, 
mais, especificamente, como as identidades culturais 
nacionais estão sendo afetadas pelo processo de 
globalização. Hall explica que a identidade cultural a que 
se refere é a identidade nacional. No mundo moderno, as 
culturas nacionais em que nascemos se constituem em 
uma das principais fontes de identidade cultural. Ao nos 
definirmos, algumas vezes dizemos que somos 
brasileiros, ingleses ou indianos. Obviamente, ao fazer isso, 
estamos falando de forma metafórica. Essas identidades 
nacionais com as quais nos correspondemos não estão 
literalmente impressas em nossos genes, mas pensamos 
nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial. 
• As identidades nacionais não são coisas com as quais 
nascemos, são formadas e transformadas no interior 
da representação. Nós só sabemos o que significa 
ser “brasileiro” devido ao modo como a “brasilidade” 
veio a ser representada – como um conjunto de 
significados – pela cultura nacional brasileira. 
 
 
 
 
 
 
• Assim, a nação não é apenas 
uma entidade política, mas 
algo que produz sentidos, ou 
seja, um sistema de 
representação cultural; e as 
pessoas não são apenas 
cidadãs legais de uma nação, 
mas participam da ideia da 
nação tal como representada 
em sua cultura nacional. 
 
As culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre 
a nação, sentidos com os quais podemos nos identificar, 
constroem identidades. Esses sentidos estão contidos nas 
histórias que são contadas sobre a nação, memórias que 
conectam seu presente com seu passado e imagens que 
dela são construídas. Hall compartilha da ideia de que a 
identidade nacional é uma “comunidade imaginada”. Assim, 
as diferenças entre as nações residem nas diferentes 
formas como elas são imaginadas. Ainda nesse capítulo, 
Hall apresenta cinco estratégias que auxiliam na tarefa de 
se imaginar uma nação moderna, ou seja, de se contar 
a narrativa de uma cultura nacional. 
1. Em primeiro lugar: 
“[...] há a narrativa da nação, tal como é contada e 
recontada nas histórias e nas literaturas nacionais, na mídia 
e na cultura popular. Essas fornecemuma série de 
estórias, imagens, panoramas, cenários, eventos 
históricos, símbolos e rituais nacionais que simbolizam ou 
representam as experiências partilhadas, as perdas, os 
triunfos e os desastres que dão sentido à nação. Como 
membros de tal ‘comunidade imaginada’, nos vemos, no 
olho de nossa mente, como compartilhando dessa 
narrativa. Ela dá significado e importância à nossa 
monótona existência [...].” 
2. Em segundo lugar: 
 “[...] há a ênfase nas origens, na continuidade, na tradição 
e na intemporalidade. A identidade nacional é 
representada como primordial – ‘está lá, na verdadeira 
natureza das coisas’, algumas vezes adormecida, mas 
sempre pronta para ser ‘acordada’ de sua ‘longa, 
persistente e misteriosa sonolência’, para reassumir sua 
inquebrantável existência (GELLNER, 1983, p. 48). Os 
elementos essenciais do caráter nacional permanecem 
imutáveis, apesar de todas as vicissitubbbBdes da história. 
Está lá desde o nascimento, unificado e contínuo, 
‘imutável’ ao longo de todas as mudanças, eterno.” 
3. Em terceiro lugar: 
 “Uma terceira estratégia discursiva é constituída por 
aquilo que Hobsbawm e Ranger chamam de invenção da 
tradição: ‘Tradições que parecem ou alegam ser antigas 
são muitas vezes de origem bastante recente e algumas 
vezes inventadas [...]. Tradição inventada significa um 
conjunto de práticas [...], de natureza ritual ou simbólica, 
que buscam inculcar certos valores e normas de 
comportamentos através da repetição, a qual, 
automaticamente, implica continuidade com um passado 
histórico adequado’.” 
4. Em terceiro lugar: 
“Uma terceira estratégia discursiva é constituída por 
aquilo que Hobsbawm e Ranger chamam de invenção da 
tradição: ‘Tradições que parecem ou alegam ser antigas 
são muitas vezes de origem bastante recente e algumas 
vezes inventadas [...]. Tradição inventada significa um 
conjunto de práticas [...], de natureza ritual ou simbólica, 
que buscam inculcar certos valores e normas de 
comportamentos através da repetição, a qual, 
automaticamente, implica continuidade com um passado 
histórico adequado’.” 
5. Em quinto lugar: 
“A identidade nacional é também muitas vezes 
simbolicamente baseada na ideia de um povo puro, 
original. Mas, nas realidades do desenvolvimento nacional, 
é raramente esse povo primordial que persiste ou que 
exercita o poder.” 
Antes de concluir o capítulo 3, Hall discute se as 
culturas nacionais e as identidades nacionais que elas 
constroem são realmente unificadas. Para Hall, três 
elementos formam a base da unidade de uma nação – 
as memórias do passado, o desejo de viver em conjunto 
e a perpetuação da herança. Não importa quão 
diferentes sejam os membros de uma nação em termos 
de classe, gênero ou raça; uma cultura nacional sempre 
buscará unificá-los em uma identidade cultural, para 
representá-los todos como pertencendo a mesma e 
grande família nacional. Mas essa tentativa, por si só, não 
torna uma identidade nacional unificada, pois uma cultura 
nacional não é um simples ponto de lealdade, união e 
identificação simbólica; mas também uma estrutura de 
poder cultural. Para mostrar que as identidades culturais 
não são unificadas, Hall apresenta três argumentos: 
• A maioria das nações consiste em culturas separadas 
que só foram unificadas por um longo processo de 
conquista violenta, ou seja, pela supressão forçada da 
diferença cultural; 
• As nações são sempre compostas de diferentes 
classes socais e diferentes grupos étnicos e de 
gênero; 
• Em terceiro lugar, as nações ocidentais modernas 
foram também os centros de impérios ou de esferas 
neoimperiais de influência, exercendo uma 
hegemonia cultural sobre as culturas dos colonizados. 
Assim, ao invés de pensar as culturas nacionais 
como unificadas, deveríamos pensá-las como 
atravessadas por profundas divisões e diferenças 
internas que são unificadas apenas pelo exercício de 
diferentes formas de poder cultural. Uma forma de 
unificar as culturas nacionais tem sido a de 
representá-las como a expressão da cultura de “um 
único povo”. A etnia é o termo que utilizamos para 
nos referirmos às características culturais (língua, 
religião, costume, tradições etc.) que são partilhadas 
por um povo. Mas a ideia da etnia é um mito. É difícil 
encontrar qualquer nação que seja composta por 
um “único povo”, uma “única cultura” ou uma “única 
etnia”. As nações modernas são, todas, híbridos 
culturais. Em resumo: “Este breve exame solapa a 
ideia da nação como uma identidade cultural unificada. 
As identidades nacionais não subordinam todas as 
outras formas de diferença e não estão livres do 
jogo de poder, de divisões e contradições internas, 
de lealdades e de diferenças sobrepostas. Assim, 
quando vamos discutir se as identidades nacionais 
estão sendo deslocadas, devemos ter em mente a 
forma pela qual as culturas nacionais contribuem para 
‘costurar’ as diferenças numa única identidade.” 
Capítulo 4 – Globalização 
No capítulo 4, Hall explica que a globalização está 
deslocando as identidades culturais nacionais. É 
importante mencionar que existem duas tendências 
contraditórias presentes no interior da globalização – por 
um lado, a tendência à autonomia nacional; por outro 
lado, a tendência à globalização. Hall aponta, então, três 
possíveis impactos do caráter dual da globalização sobre 
as identidades culturais: 
• As identidades nacionais estão se desintegrando por 
causa do crescimento da homogeneização cultural; 
• As identidades nacionais e outras identidades locais 
ou particularistas estão sendo reforçadas pela 
resistência à globalização; 
• As identidades nacionais estão em declínio, mas 
novas identidades híbridas estão tomando seu lugar. 
A partir daí, Hall se concentra no último impacto. 
Uma das características principais da hibridização é a 
“compressão espaçotempo”, a aceleração dos processos 
globais, de forma que se sente que o mundo é menor e 
as distâncias mais curtas, que os eventos em um 
determinado lugar têm um impacto imediato sobre 
pessoas e lugares situados a uma grande distância. Os 
lugares permanecem fixos, mas o espaço pode ser 
cruzado em 
um piscar de 
olhos, por 
avião a jato, 
por celular, 
por satélite. 
 
Em resumo: “Alguns teóricos argumentam que 
o efeito geral desses processos globais tem sido o de 
enfraquecer ou solapar formas nacionais de identidade 
cultural. Eles argumentam que existem evidências de um 
afrouxamento de fortes identificações com a cultura 
nacional, e um reforçamento de outros laços e lealdades 
culturais, ‘acima’ e ‘abaixo’ do nível do estado-nação. 
Colocadas acima do nível da cultura nacional, as 
identificações ‘globais’ começam a deslocar e, algumas 
vezes, a apagar, as identidades nacionais.” 
Capítulo 5 – O global, o local e o retorno da etnia 
No capítulo 5, Hall questiona se as identidades 
nacionais estão sendo “homogeneizadas”. Para Hall, a 
homogeneização cultural é o protesto daqueles que 
estão convencidos de que a globalização ameaça solapar 
as identidades e a “unidade” das culturas nacionais. Mas 
esse quadro seria muito simplista, exagerado e unilateral; 
existindo para ele três contra tendências principais: 
• Ao lado da tendência em direção à homogeneização 
global, há também uma fascinação com a diferença 
e com a mercantilização da etnia e da “alteridade”; 
• A globalização é desigualmente distribuída ao redor 
do globo, entre regiões e entre diferentes estratos 
da população dentro das regiões; 
• Não é possível saber o que é mais afetado pela 
homogeneização cultural, uma vez que a direção do 
fluxo é desequilibrada e que continuam a existir 
relações desiguais de poder cultural entre o Ocidente 
e “o Resto”; pode parecer que a globalização – 
embora seja, por definição, algo que afeta o globo 
inteiro – seja essencialmente um fenômeno 
ocidental. 
Ainda no capítulo 5, Hall inicia um instigante 
debate sobre o novo interesse pelo local e a nova 
articulaçãoentre o global e o local. Hall defende que a 
globalização tem um efeito deslocador das identidades 
centradas e fechadas de uma cultura nacional. Esse efeito 
altera as identidades fixas, tornando-as menos fixas, 
plurais, mais políticas e diversas. Esse movimento pode 
produzir dois efeitos: 
• A tradição, que tenta recuperar a pureza anterior e 
recobrir as unidades e as certezas que são sentidas 
como tendo sido perdidas; 
• A tradução, que aceita que as identidades estão 
sujeitas ao plano da história, da política, da 
representação e da diferença e não podem ser 
unitárias ou puras. 
Naquilo que diz respeito às identidades, existe 
uma oscilação entre tradição e tradução. Em toda parte, 
estão emergindo identidades culturais que não são fixas, 
mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes 
posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, 
de diferentes tradições culturais; e que são o produto 
desses complicados cruzamentos e misturas culturais que 
são cada vez mais comuns em um mundo globalizado. 
Pode ser tentador pensar na identidade, na era da globalização, como estando destinada a acabar em um lugar 
ou noutro: ou retornando às suas raízes ou desaparecendo pela assimilação e pela homogeneização, mas esse pode ser 
um falso dilema. 
A possibilidade da tradução é real: 
“Este conceito descreve aquelas formações de identidade que atravessam e intersectam as fronteiras naturais, 
compostas por pessoas que foram dispersadas para sempre de sua terra natal. Essas pessoas retêm fortes vínculos com 
seus lugares de origem e suas tradições, mas sem a ilusão de um retorno ao passado. Elas são obrigadas a negociar com 
as novas culturas em que vivem, sem simplesmente serem assimiladas por elas e sem perder completamente suas 
identidades.” 
Ainda sobre a tradução, os indivíduos envolvidos nela: 
“[...] são o produto das novas diásporas criadas pelas migrações pós-coloniais. Eles devem aprender a habitar, no 
mínimo, duas identidades, a falar duas linguagens culturais, a traduzir e a negociar entre elas. As culturas híbridas constituem 
um dos diversos tipos de identidade distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia. Há muitos outros 
exemplos a serem descobertos.” 
 
 
 
 
 
Capítulo 6 – Fundamentalismo, diáspora e hibridismo 
No capítulo 6, o último, Hall afirma que existem, na atualidade, fortes tentativas para se reconstruir as identidades 
purificadas, para se restaurar a coesão, o “fechamento” e a tradição; frente ao hibridismo e à diversidade. Dois exemplos 
dessas tentativas são o ressurgimento do nacionalismo na Europa Oriental e o crescimento do fundamentalismo. É curioso 
notar que, ao citar o nacionalismo na Europa Oriental, Hall afirma que ele existe em uma era em que a integração regional 
nos campos econômicos e políticos, e a dissolução da soberania nacional estão andando muito rapidamente na Europa 
Ocidental. Mas, antes de publicar sua obra, Hall não chegou a ver o nacionalismo aflorar também na Europa Ocidental e 
no resto do Ocidente. Quanto ao fundamentalismo, refere-se à crença na interpretação literal dos livros sagrados. Os 
fundamentalistas são encontrados entre religiosos diversos e pregam que os dogmas de seus livros sagrados sejam 
seguidos à risca. O fundamentalismo não é exclusividade de uma religião em especial, mas de todas quando existe um 
rigor em relação às escrituras. O fundamentalismo é, geralmente, ilustrado com exemplos do contexto islâmico por causa 
da Revolução Iraniana, de 1979. Mas hoje é possível falar em fundamentalismo evangélico, fundamentalismo católico etc. 
Hall argumenta que o ressurgimento do nacionalismo e de outras formas de particularismo no final do século XX, ao lado 
da globalização e a ela intimamente ligado, constitui uma reversão notável, uma virada bastante inesperada dos 
acontecimentos. A globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global” nem a persistência do “local”. Os 
deslocamentos ou os desvios da globalização se mostram, afinal, mais variados e mais contraditórios do que sugerem seus 
protagonistas ou seus oponentes. Embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalização pode acabar 
sendo parte de um lento e desigual, mas contínuo, descentramento do Ocidente.

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