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Aula10SndromeMetablica_20220507155657

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Professor: Raí Nabichedí da Silva 
 
SÍNDROME METABÓLICA 
 
O termo “síndrome metabólica” (SMet) foi proposto ao final da década de 1990, 
caracterizando-se como uma associação complexa de desordens metabólicas, incluindo a 
intolerância a glicose (diabete tipo 2, diminuição da tolerância à glicose ou hiperglicemia), 
resistência à insulina, obesidade central, dislipidemia e hipertensão arterial, que aumentam o 
risco para doença cardiovascular e diabete melito tipo 2. De acordo com a Sociedade 
Brasileira de Cardiologia, a SMet é um transtorno complexo representado por um conjunto 
de fatores de risco cardiovascular usualmente relacionados à deposição central de gordura e 
à resistência à insulina. 
No Brasil, os dados de prevalência de SMet são escassos, e entre os poucos 
estudos de base populacional acerca da prevalência de SMet em adultos brasileiros foram 
encontrados valores que variaram entre 56,8% em nipo-brasileiros do estado de São Paulo; 
23,7% na população de Salvador; 24,8% nos residentes do semiárido baiano; 25,4% na 
população urbana da cidade de Vitória; e 32% no Distrito Federal. A publicação, em 2009, 
de um comunicado conjunto de renomadas instituições (International Diabetes Federation, 
National Heart, Lung, and Blood Institute, American Heart Association, World Heart 
Federation, International Atherosclerosis Society e International Association of the Study of 
Obesity) orientou para um consenso na definição da SMet e seus critérios diagnósticos, 
conforme a Tabela 1, a seguir. 
 
Tabela 1. Critérios para diagnóstico clínico da Síndrome Metabólica 
Medida Categorização dos pontos de corte 
Circunferência da cintura aumentada Definições populacionais e específicas 
para cada país 
Triglicerídeos aumentados (tratamento 
medicamentoso para hipertrigliceridemia é um 
indicador alternativo) 
≥ 150 mg/dL (1,7 mmol/L) 
Valores reduzidos de HDL-c (tratamento 
medicamentoso para HDL-c baixo é um indicador 
alternativo) 
Homens: < 40 mg/dL (1 mmol/L) 
Mulheres: < 50 mg/dL (1,3 mmol/L) 
Hipertensão arterial (tratamento medicamentoso 
anti-hipertensivo em paciente com história de 
hipertensão é um indicador alternativo) 
Pressão sistólica ≥ 130 e/ou diastólica 
≥ 85 mm Hg 
Glicemia de jejum aumentada (tratamento 
medicamentoso para hiperglicemia é um indicador 
alternativo) 
≥ 100 mg/dL 
Fonte: adaptada de Alberti et al., 2009. 
 
A definição de SMet permite inferir acerca das diretrizes para seu tratamento, que 
atribui aos fatores ambientais a maior responsabilidade por sua manifestação. Qualquer 
programa de intervenção necessita de perspectivas comportamentais, atuando sobre a 
UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP 
ESCOLA DA SAÚDE – POLO CAICÓ 
GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO 
NUTRIÇÃO NO ADULTO E NO IDOSO 
 
redução da obesidade e aumento na atividade física, de acordo com avaliação médica e 
intervenção farmacológica. 
 
 
TRATAMENTO NUTRICIONAL 
 
Globalmente, o processo de urbanização foi acompanhado por mudanças de 
comportamento, principalmente com relação à dieta e à atividade física. A alimentação 
industrializada, tão comum no mundo contemporâneo, caracteriza-se pela oferta 
predominante de energia, rica em carboidratos simples e gorduras. Por sua vez, o modo de 
vida das pessoas foi se tornando cada vez mais sedentário nas últimas décadas. À parte do 
imenso e acelerado desenvolvimento tecnológico na área de saúde, a prevenção e o 
tratamento da obesidade devem incluir, necessariamente, aspectos relacionados à 
promoção de padrão alimentar saudável e modo de vida ativo. Outras propostas para 
controle da obesidade que não promovam o cuidado com o comportamento, associado à 
alimentação e à atividade física, podem ganhar popularidade, mas fracassam em termos de 
eficácia e eficiência. 
Dada a emergência da situação com a elevada prevalência das DCNT e obesidade, 
foi aprovada, em 1999, no Brasil, a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), que 
trouxe como uma de suas diretrizes a promoção de práticas alimentares e estilo de vida 
saudáveis. Em 2004, a OMS publicou a Estratégia Global para Alimentação, Atividade Física 
e Saúde, documento que aponta os modos de vida saudáveis, em especial a alimentação e 
a atividade física, como elementos fundamentais nas ações de saúde pública. 
No Brasil, a aprovação, em 2006, da Política Nacional de Promoção da Saúde 
(PNPS) institucionalizou a promoção de hábitos alimentares saudáveis e a prática de 
atividade física e/ou práticas corporais como ações prioritárias para se promover a saúde e 
reduzir os riscos para DCNT, por meio de ações sustentáveis e integradas. Paralelamente, a 
criação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), em 2008, representou um avanço 
para a integração das ações de atenção e promoção da saúde, favorecendo a formação de 
redes de suporte social. Mais recentemente, em 2011, foi lançado o Programa Academia da 
Saúde, visando à implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e profissionais 
para a orientação de práticas de atividade física e modos de vida saudáveis, cujas 
atividades estão associadas às ações do NASF. Em todos esses documentos, a promoção 
da saúde por meio da alimentação e prática de atividade física é o tema central. Tais 
medidas servem não apenas para a prevenção de obesidade, mas também para seu 
tratamento. 
Da mesma maneira que as ações de saúde pública devem ser desenvolvidas, 
individualmente, a dietoterapia ou o aconselhamento nutricional são abordagens 
fundamentais para garantir uma nova condição de saúde. As mudanças dietéticas para 
controle de quantidade e qualidade das refeições devem ser a base do tratamento da 
obesidade, mesmo quando esse tratamento incluir medicação e/ou cirurgia bariátrica. No 
caso da dietoterapia, porém, a conduta deve ser individualizada, respeitando-se a história 
clínica do doente, seu contexto social e cultural, bem como o estágio de mudança de 
comportamento em que o indivíduo se encontra. Recomenda-se que a abordagem seja 
multidisciplinar, uma vez que, além dos fatores clínicos e nutricionais, outros aspectos, como 
comportamento, estado emocional, prática de exercícios, entre outros, também devem ser 
considerados. De maneira geral, pode-se dizer que as ações em saúde pública favorecem a 
 
criação de um ambiente propício para a atenção dietética individualizada. São, portanto, 
ações complementares. 
 
 
TERAPIA NUTRICIONAL PARA O INDIVÍDUO OBESO OU PORTADOR DE 
SÍNDROME METABÓLICA 
 
O Consenso Latino-americano de Obesidade e as diretrizes do tratamento da SM 
apresentam de forma clara e objetiva as bases do tratamento dietético, recomendado pelas 
sociedades científicas. Os dois documentos mostram-se complementares, uma vez que 
essas duas condições não diferem em termos do manejo nutricional e visam ao controle do 
peso, evitando o excesso de gordura corpórea. Seja qual for o grau de obesidade inicial, o 
objetivo do tratamento não será atingir o peso ideal e sim obter perda modesta e sustentada 
de gordura corpórea e atenuar os riscos associados à morbimortalidade. As metas do 
tratamento deverão ser estabelecidas em termos de qualidade de vida e saúde e, para esta 
última, não apenas o peso, mas os parâmetros metabólicos, como circunferência da cintura, 
pressão arterial e perfil bioquímico, deverão ser considerados. 
O maior desafio para os nutricionistas que atuam nesta área é a adesão ao 
tratamento e a sustentação dos resultados em longo prazo. Iniciar uma dieta é tarefa fácil, 
em comparação à manutenção dos hábitos saudáveis, à monitoração do peso e a outros 
parâmetros de saúde, por toda a vida. 
Outro aspecto fundamental é a individualização do tratamento. Não existe cardápio 
ou dieta especial que sirva para todos os indivíduos e que promova emagrecimento pré-
definido por unidade de tempo. Para que hábitos saudáveis sejam incorporados, o 
profissional deverá estudar a fundo o cotidiano do seu paciente eindividualizar as 
orientações. A conduta deverá ser dinâmica e sofrer adaptações, conforme a resposta ao 
tratamento e a aceitação da dieta. 
Para o tratamento clínico da obesidade, recomenda-se um plano de restrição 
energética moderada. Nele, o valor energético da dieta será determinado individualmente, 
de acordo com o consumo energético habitual, estimado a partir do inquérito alimentar. 
Aconselha-se reduzir, progressivamente, de 500 kcal a 1.000 kcal por dia. Neste plano, a 
energia da dieta prescrita não deve ser inferior a 1.200 kcal. Outra forma de prescrever a 
energia da dieta é fornecer 20 kcal por kg de peso corpóreo atual (20 kcal/kg), de acordo 
com as diretrizes nacionais de SM. Assim, é possível promover um balanço energético 
negativo, associado a um estilo de vida ativo, visando ao emagrecimento a uma velocidade 
estimada de 0,45 a 0,90 kg/semana. 
A Tabela 2 apresenta um resumo quanto ao conteúdo de nutrientes recomendado no 
plano de restrição energética moderada. Não se recomenda dieta hiperprotéica, assim como 
uma restrição absoluta de carboidratos para o emagrecimento. A dieta deve conter frutas e 
hortaliças, por serem boas fontes de fibras e uma das principais diretrizes da alimentação 
saudável. O controle da ingestão de sódio (até 5 g de NaCl) pode ser importante, 
particularmente para os indivíduos com SM e hipertensão, ainda que a perda de peso, por si 
só, promova melhora dos níveis pressóricos. 
 
 
Tabela 2. Recomendações dietéticas no plano de restrição energética moderada para 
tratamento da obesidade. 
Carboidratos 55 a 60% (com cerca de 20% de absorção simples) 
 
Proteínas 15 a 20% (não menos que 0,8 g/kg de peso desejável) 
Gorduras 20 a 25% (7% de gorduras saturadas, 10% de polinsaturadas e 
13% de monoinsaturadas) 
Fibras Entre 20 e 30 g/dia 
Álcool Não é aconselhável o consumo 
Colesterol Até 300 mg/dia 
Vitaminas e minerais De acordo com as necessidades nutricionais (atingido em dietas 
com 1.200 kcal ou mais) 
Cloreto de sódio Adequado à situação biológica individual 
Lipídios 1.500 mL para cada 1.000 kcal 
Esquema alimentar Recomenda-se fracionamento em 6 refeições diárias 
Fonte: Consenso Latino-americano em Obesidade, Federação Latino-americana de Sociedades de 
Obesidade. Rio de Janeiro, 1998. 
 
 
Outros planos alimentares, como dieta de baixo valor energético (entre 800 a 1.200 
kcal) ou de muito baixo valor energético (menos de 800 kcal) também são descritos no 
consenso de obesidade, mas restringem-se a situações cujo tratamento será por um curto 
período, idealmente monitorado em ambiente hospitalar, e em caso de obesidade mórbida. 
A experiência clínica tem mostrado que, embora a perda ponderal com as dietas mais 
restritas seja maior, o que pode motivar inicialmente o paciente, a sustentação do resultado 
é ainda mais difícil. Isso é reflexo, p.ex., do emagrecimento intenso e diminuição da taxa de 
metabolismo de repouso, tanto pela possível perda de massa magra como pela redução dos 
níveis de leptina. Além disso, o paciente apresenta aumento do apetite como consequência 
da redução da leptina e do aumento da grelina, que são importantes hormônios reguladores 
da fome e da saciedade. O rebote de peso é mais comum quanto mais rápido e intenso for o 
emagrecimento, caso encontrado em dietas bastante restritas em energia. 
A estratégia moderna de intervenção prevê uma atuação multidisciplinar. Aspectos 
relacionados à motivação do paciente, ao seu comportamento e à necessidade de 
associação de diferentes frentes de tratamento, como atividade física, dieta, medicação e, 
até mesmo, cirurgia de obesidade não permitem que apenas um profissional seja suficiente 
para abordar todos os aspectos clínicos e ambientais que envolvem a obesidade. Ao 
nutricionista cabe avaliar de forma ampla o contexto da alimentação e todos os fatores de 
risco presentes em cada situação. Assim, não basta receber o paciente, calcular uma dieta 
hipoenergética e entregá-la, como se fosse fácil conseguir uma boa adesão e resultado. O 
modelo de algoritmo para o tratamento da obesidade desenvolvido por Serdula, Khan e 
Dietz (2003) exemplifica a abordagem e o acompanhamento de um indivíduo com obesidade 
(Figura 1). Esse modelo pode ser descrito em seis etapas. 
 
 
1. Inicialmente, é preciso proceder a avaliação nutricional do paciente e a determinação 
do IMC e da circunferência de cintura e identificar os fatores de riscos 
cardiovasculares presentes. Caso os valores estejam dentro dos limites aceitáveis, 
não se recomenda iniciar um tratamento para obesidade. Outros fatores de risco, 
como sedentarismo e tabagismo, deverão ser registrados e o paciente deve ser 
orientado a fazer um monitoramento periódico do seu peso e do estilo de vida. 
2. Em indivíduos com obesidade ou excesso de peso e aumento da circunferência da 
cintura, mesmo havendo fatores de risco associados, antes de iniciar o tratamento, é 
 
preciso perguntar ao paciente se ele está preparado para perder peso e disposto a 
assumir todas as atitudes envolvidas para alcançar este objetivo. Avaliar, portanto, a 
motivação do paciente faz com que se diminua a ocorrência de fracassos e 
abandonos do tratamento. Sugere-se que o tratamento seja iniciado apenas com 
aqueles que manifestarem claramente disposição para perda de peso. Caso 
contrário, o paciente deve ser orientado quanto à necessidade de monitoramento 
periódico do peso corpóreo e os fatores de risco associados. 
3. Na terceira etapa começa o aconselhamento, quando serão estabelecidas as metas 
de perda de peso e o ritmo de emagrecimento desejável e possível. Neste momento, 
o profissional deve esclarecer que quanto maior e mais rápida for a perda ponderal, 
mais difícil será a manutenção do resultado em longo prazo. A perda de peso na 
ordem de 5 a 10% do peso inicial é suficiente para melhora dos principais 
parâmetros da SM. Metas inalcançáveis também parecem ser causas de baixa 
adesão ao tratamento. 
4. Depois de estabelecida a meta de perda de peso, inicia-se o tratamento. Este 
deverá, necessariamente, contemplar um estilo de vida saudável, em termos de 
padrão alimentar e atividade física. Quantitativamente, a dieta com restrição 
energética moderada parece ser a mais eficiente. 
5. Outros componentes do tratamento da obesidade, como medicação e cirurgia para 
perda de peso, poderão ser indicados, porém sua vigência não exclui a necessidade 
do manejo da alimentação e atividade física, pelo contrário, o sucesso do tratamento 
e manutenção dos resultados só serão possíveis se houver adequação a um estilo 
de vida saudável. 
6. A fase de acompanhamento é a mais importante e complexa. Nela, o paciente 
precisa adquirir autoconfiança e capacidade de tomar decisões adequadas em 
diferentes situações, como viagens, festas e alterações de humor. Mesmo assim, é 
preciso que o profissional acompanhe essa fase e avalie, junto com o paciente, as 
dificuldades encontradas e proponha soluções factíveis. Sem o acompanhamento, o 
rebote de peso ocorre com mais frequência e, possivelmente, o indivíduo abandona 
o tratamento, podendo recorrer às alternativas e terapias que prometem milagres e 
resultados imediatos. 
 
Neste modelo, proposto já nas primeiras consultas, é aconselhável que o profissional 
estabeleça todo o planejamento, registrando metas, intercorrências e todos os aspectos da 
evolução do tratamento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 01. Algoritmo para o tratamento da obesidade. 
Fonte: Serdula, Khan, Dietz, 2003. 
 
 
ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL 
 
A dietoterapia será efetiva se houver acompanhamento nutricional individualizado, 
dinâmico e continuado. No tratamento da obesidade, as orientações devem abranger 
diversos campos, que vão dos conceitos até as estratégias necessárias para adoção de 
hábitos saudáveis. O Quadro 1 apresenta exemplos de habilidades e atitudes, em nível 
cognitivo, motor e afetivo, quedeverão ser desenvolvidos, junto ao paciente obeso, ao longo 
do tratamento, com o objetivo de sua aplicação rotineira. 
 
 
Quadro 1. Habilidades e atitudes que deverão ser desenvolvidas junto ao paciente obeso, 
ao longo do acompanhamento nutricional. 
 
Habilidade cognitiva Técnica dietética Comportamento 
Identificar os riscos 
associados à obesidade e 
comorbidades. 
Identificar ingredientes 
saudáveis para as 
preparações cotidianas. 
Desenvolver padrão de 
mastigação eficiente. 
Reconhecer o papel do estilo 
de vida saudável para 
controle de peso e 
comorbidades. 
Escolher técnicas e 
alimentos adequados para o 
preparo de refeições 
saudáveis. 
Fracionar a dieta, de 
preferência com seis 
refeições 
diárias. 
Conhecer os grupos de 
alimentos e suas 
propriedades nutricionais. 
Limitar o uso de sal, açúcar 
e gorduras nas preparações. 
Fazer as refeições à mesa, 
de preferência com a família. 
Entender as informações 
nutricionais contidas nos 
rótulos de alimentos. 
Planejar cardápios 
saborosos, com variedade e 
equilíbrio. 
Estar atento aos ajustes 
necessários em situações 
especiais, como festas e 
viagens. 
 
 
É necessário desenvolver um aconselhamento nutricional gradativo, que respeite o 
grau de dificuldade na mudança de comportamento, para que essas possam ser 
incorporadas aos poucos e ao longo do tratamento. Outra estratégia para melhorar a adesão 
ao tratamento é oferecer, além do plano alimentar, opções e dicas para variar os cardápios, 
por meio de listas de substituições, guias alimentares, receituários culinários e lista de 
compras. 
No Guia alimentar para a população brasileira (observação: consultar edição mais 
atual), as diretrizes incluem o consumo de alimentos saudáveis e fracionamento adequado 
das refeições, a ingestão de todos os grupos alimentares, o consumo hídrico, a prática de 
atividades físicas e a qualidade sanitária dos alimentos. Todos esses aspectos devem ser 
fortemente valorizados durante o acompanhamento nutricional do obeso. 
Do ponto de vista comportamental, para que a perda e a manutenção do peso sejam 
bem sucedidas, é fundamental que cada paciente esteja consciente sobre sua condição de 
obesidade e as formas de tratamento. Avaliar fatores psicológicos envolvidos, assim como 
os objetivos individuais e as expectativas de perda de peso, é importante para garantir os 
resultados. O tratamento comportamental baseia-se em princípios e técnicas utilizadas para 
mudar o comportamento e hábitos inadequados juntamente com a conduta nutricional e o 
 
incentivo à prática de atividades físicas. Algumas estratégias são indicadas para adequar o 
comportamento dos pacientes. São elas: 
 
 auto-monitoramento: por meio de diários alimentares, o paciente deve registrar os 
alimentos consumidos e todas as atividades físicas, ocupacionais e recreativas 
realizadas. Além disso, é importante registrar o local das refeições, o grau de fome e 
o estado de humor no momento da refeição. O auto-monitoramento refere-se 
também ao registro do peso corpóreo, em intervalos regulares; 
 estabelecimento de objetivos: para que haja uma mudança no comportamento 
alimentar, é necessário estabelecer objetivos específicos, individualizados, realistas, 
desafiadores e com aumento gradual da dificuldade à medida que são cumpridos. É 
importante determinar em que período os objetivos serão cumpridos, o que será 
traduzido por metas; 
 controle de estímulos: trata-se da identificação dos fatores e das situações de risco 
que estimulam o consumo em excesso e a inatividade física. No processo de 
autocontrole, o indivíduo manipula seu próprio ambiente para produzir mudanças em 
seu comportamento, reduzindo estímulos para comportamentos indesejáveis e 
aumentando-os para práticas de alimentação e de atividade física adequadas; 
 substituição do comportamento: muitas pessoas comem excessivamente em 
resposta a um estímulo emocional, ou seja, quando estão ansiosas, tristes, alegres, 
cansadas etc. O paciente deverá identificar os horários e momentos de “perigo” e 
encontrar ações alternativas que substituam o ato de comer, como a prática de 
esportes, o estudo, a dança ou a música; 
 resolução de problemas: mais uma vez, todos os fatores que anulam o esforço para 
a perda de peso devem ser primeiramente identificados e, em seguida, deverão ser 
sugeridas soluções para resolução de cada fator. Após listar os prós e contras de 
cada solução, deve-se escolher a mais aplicável para o momento, estabelecer metas 
e período para resolução. Os resultados devem ser sempre avaliados; 
 reestruturação cognitiva: pensamentos negativos podem se tornar obstáculos para 
mudança de comportamento. Pacientes devem aprender a monitorar esses 
pensamentos que interferem em sua habilidade de alcançar seus objetivos e 
substituí-los por pensamentos mais racionais. Os principais pensamentos são os 
dicotômicos (“se eu não posso me exercitar por 30 min, eu não posso me exercitar”) 
e os compensatórios (“porque tive um dia estressante, mereço um doce”). Além 
disso, muitos pacientes possuem expectativas de peso bem diferentes do que é 
possível alcançar e, para evitar frustrações, é necessário que estejam conscientes 
sobre a velocidade de perda de peso e seu peso saudável; 
 prevenção de recaídas: podem haver lapsos durante o tratamento e, por isso, os 
pacientes precisam identificar e antecipar situações problemáticas, desenvolvendo 
estratégias para superá-las. 
 
O suporte social também possui papel fundamental nas estratégias comportamentais 
para o controle da obesidade. A participação em grupos de apoio, o envolvimento em 
alguma atividade social e a coparticipação dos familiares e amigos contribuem para uma 
melhor auto-aceitação e para a redução nas cobranças dos parentes e pessoas próximas 
durante o tratamento. 
 
De forma geral, a dietoterapia e o acompanhamento nutricional visam ao 
estabelecimento de uma rotina alimentar adequada. As estratégias comportamentais 
favorecem a adesão aos procedimentos que deverão ser entendidos e assumidos de forma 
eficiente. Contudo, poderá haver necessidade de tratamentos coadjuvantes ao estilo de 
vida, dependendo do grau de obesidade e comorbidades associadas. 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
ALBERTI, K.G.; ECKEL, R. H.; GRUNDY, S.M.; ZIMMET, P.Z.; CLEEMAN, J.I.; DONATO, 
K.A. et al. Harmonizing the metabolic syndrome: a joint interim statement of the International 
Diabetes Federation Task Force on Epidemiology and Prevention; National Heart, Lung, and 
Blood Institute; American Heart Association; World Heart Federation; International 
Atherosclerosis Society; and International Association for the Study of Obesity. Circulation, 
v. 120, n. 16, 2009. p. 1640-50. 
 
CARVALHO, K. M. B. DUTRA, E. S. Obesidade. In: CUPPARI, L (coord.). Nutrição Clínica 
no Adulto. Série guias de medicina ambulatorial e hospitalar da EPM-UNIFESP. 3. ed. 
Barueri, SP: Manole, 2014. 
 
CARVALHO, K. M. B. DUTRA, E. S; ARAÚJO, M. S. M. Obesidade e Síndrome Metabólica. 
In: CUPPARI, L. (coord.). Nutrição: nas doenças crônicas não-transmissíveis. Barueri, 
SP: Manole, 2009. 
 
SERDULA, M.K.; KHAN, L.K.; DIETZ, W.H. Weight loss counseling revisited. JAMA, v. 289. 
2003. p. 1747-50.

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