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ARTIGOS Damos o nome de Artigo às palavras o e um (e suas flexões) que se antepõem a um substantivo determinando- o de modo preciso (o e suas flexões) ou de modo vago (um e suas flexões), indicando-lhe o gênero e o número. O atleta veio de uma cidade pequena. Os atletas vieram de umas cidades pequenas. A expedição percorreu um lugar inóspito. As expedições percorreram uns lugares inóspitos. O artigo é uma palavra gramatical, isto é, isoladamente não possui significado. Sempre está ligado a um substantivo do qual depende e com qual concorda em gênero e número, formando um grupo nominal cujo núcleo será o substantivo. Veja: O atleta As expedições Um lugar inóspito Uns lugares inóspitos Com isso, permite-se também a distinção de substantivos homônimos, tais como: o cabeça a cabeça o guarda a guarda o caixa a caixa o guia a guia o capital a capital o lente a lente o cisma a cisma o língua a língua o corneta a corneta o moral a moral o cura a cura o voga a voga CLASSIFICAÇÃO DOS ARTIGOS Os artigos são classificados em: a) Artigo Definido: determina o substantivo de modo preciso, particularizando-o. Pode ser singular (o, a) ou plural (os, as). O menino resolveu a questão. Os meninos resolveram as questões. b) Artigo Indefinido: determina o substantivo de modo vago, impreciso, generalizando-o. Pode ser singular (um, uma) ou plural (uns, umas). Um homem viajou para uma cidade distante. Uns homens viajaram para umas cidades distantes. PROPRIEDADES DO ARTIGO 1. A anteposição do artigo pode substantivar qualquer palavra. Veja: Vamos deixar de lado os entretantos e vamos . direto aos finalmentes. (entretanto: conjunção substantivada, exercendo a função de complemento de “deixar"); (finalmente: advérbio substantivado, exercendo a função de complemento de “vamos”). Veja: Como resposta recebeu um não. (não: advérbio substantivado, exercendo a função sintática de “recebeu"). Veja: Na vida jornalística, o porquê dos fatos nunca pode ser desprezado. (porquê: conjunção substantivada, exercendo a função sintática de núcleo do sujeito). 2. O artigo evidência o gênero e o número do substantivo que estiver determinando: Veja: Fiquei com um dó danado do menino. (dó: substantivo masculino singular). Veja: No almoço, comeu uma omelete. (omelete: substantivo feminino singular). Veja: Convidaram a colega para jantar. (colega: substantivo feminino singular). Veja: Os colegas de Pedro chegaram atrasados. (colegas: substantivo masculino plural). Veja: O lápis estava diante dele. (lápis: substantivo masculino singular). Veja: Os lápis estavam diante dele. (lápis: substantivo masculino plural). FORMAS DOS ARTIGOS Forma Simples: a) No português antigo havia as formas lo (la, los, las) e el do artigo definido. É usado atualmente, apenas o artigo el, em alguns topônimos como: São João del-Rei, e outros antigos, como São José del-Rei (hoje Tiradentes) e Sergipe del-Rei. Dos Azevedos, família antiga na província de Sergipe d’El-Rei, viviam na Estância três irmãs, Felicidade, Turíbia, Umbelina e um irmão padre. (G. Amado, HMI, 4.) Forma Composta 1. Artigo definido: a forma composta do artigo definido é a junção entre os artigos definidos com as preposições (a, de, em e por). Veja na tabela abaixo. Observação: Crase. O artigo definido feminino quando vem precedido da preposição a, funde-se com ela, e tal fusão (= crase) é representada na escrita por um acento grave sobre a vogal (à). Será aprofundado mais a frente. Apenas guarde esta informação ! a. Quando a preposição antecede o artigo definido que faz parte do título de obras (livros, revistas, jornais, contos, poemas, etc.), não há uma prática uniforme. Na língua escrita, porém, deve-se neste caso: ▪︎ evitar a contração, pelo modelo: Camões é o autor de Os Lusíadas. A notícia saiu em O Globo. ▪︎ a indicação pelo apóstrofo, suspendendo a vogal da preposição, não é aceita na linguagem brasileira. Veja exemplos abaixo. Camões é o autor d’Os Lusíadas. A notícia saiu n’0 Globo. (Aceita apenas em Portugal). c. Quando a preposição que antecede o artigo está relacionada com o verbo, e não com o substantivo que o artigo introduz, é arbitrário o uso do artigo na sua forma separada ou contraída. A circunstância de as / das vindimas juntarem a família prestava-se a uma reunião anual na Junceda. (M. Torga, V, 159.) — Estou-me esforçando, Sr. Juiz, por conservar o jeito especial de o / do garoto falar. (A. M. Machado, HR, 27.) 2. Artigo Indefinido: a forma composta do artigo indefinido é a junção entre os artigos definidos com as preposições (em e de). Veja na tabela abaixo. a. As preposições em e de, antepostas ao artigo indefinido que integra o título de obras, separam-se dele na escrita: Sofríamos do que, em Um Olhar sobre a Vida, qualifiquei de “insônia internacional”. (Genolino Amado, RP, 21.) Ou no caso da outra Maria, a de Um Capitão de Voluntários, criatura esta “mais quente e mais fria do que ninguém”. (A. Meyer, SE, 45.) b. Também não é aconselhável, mas é usual, a contração do artigo indefinido com a preposição que se relaciona com o verbo, e não com o substantivo que o artigo introduz. A obra atrasou-se em virtude de uns operários se terem acidentado. EMPREGO DO ARTIGO DEFINIDO ▪︎ COM OS SUBSTANTIVOS COMUNS Na língua de nossos dias, o artigo definido é, em geral, um mero designativo, anteposto a um substantivo qualquer. Assim: O aparelho de chá, o faqueiro, os cristais e os tapetes tinham ficado com ele. (L. Fagundes Telles, ABV, 13.) Sumiu-se a rapariga. (C. de Oliveira, AC, 123.) Este seu valor costuma ser enfatizado, quando o substantivo vem anteposto de um artigo definido, dando assim um caráter único ou universal ao elemento. Neste caso, o artigo definido é chamado de artigo de notoriedade. Tive, há alguns meses, um momento crítico, ou talvez, por certos lados, o momento crítico, da minha vida. (A. de Quental, C, 357.) Não era uma loja qualquer: era a Loja. (C. dos Anjos, MS, 350.) EMPREGOS PARTICULARES DO ARTIGO DEFINIDO Entre os empregos particulares do artigo definido devem ser mencionados os seguintes: Emprego como demonstrativo 1. O artigo definido provém do pronome demonstrativo latino ille-, illa, illud (= aquele, aquela, aquilo). Este valor demonstrativo foi-se perdendo pouco a pouco, mas ainda subsiste, embora enfraquecido. Observe. Permaneceu a [= esta, ou aquela] semana inteira em casa. Partimos no [= neste] momento para São Paulo. Levarei produtos da [— desta] região. 2 . É também usual o valor demonstrativo do artigo que faz entender que o substantivo é algo que o locutor ou o ouvinte já saibam da informação. Sirva de exemplo esta frase: Pedro foi um ativista desde a Faculdade. [Isto é: aquela Faculdade que os interlocutores sabem qual seja.] Emprego do artigo Este emprego do artigo definido é frequente antes de substantivos que designam: ▪︎ partes do corpo: Passeia mão pelo queixo. (L. Fagundes Telles, ABV, 15.) Ela repeliu-o então e firmou-se nos cotovelos, enfurnando a cara nas mãos. (U. Tavares Rodrigues, TO, 71.) ▪︎ peças de vestuário ou objetos de uso pessoal: Abel Matias, calado, veste as calças e a camisa. (O. Mendes, P, 130.) Ao anoitecer vestiu o impermeável, enfiou o chapéu e saiu. (É. Veríssimo, LS, 138.) ▪︎ faculdades do espírito: Chegou a tomar balanço para as habituais meditações. (A. Abelaira, D, 19.) Nunca mais pude separar a lembrança dela em mim. (D. Nilson, TA, 10) O velho embalava o pensamento. (Autran Dourado, TA, 42.) ▪︎ relações de parentesco: Nunca mais pude separar a lembrança da prima da sensação cromática das escalas musicais. (P. Nava, BO, 365.) — Já não chamou pela mãe!... (M.Torga, V, 186.) Observação: Porém, não se emprega o artigo quando estes nomes formam com as preposições de ou a uma locução adverbial. Pus-me de joelhos. Emagrece a olhos vistos. Emprego do artigo antes dos possessivos Em português, o emprego ou a omissão do artigo definido antes de possessivos é arbitrário, apenas o sentido muda ao empregar ou não o artigo. Comparem-se, por exemplo, as frases seguintes: Este cinto é meu. Este cinto é o meu. -Com a primeira, pretende-se acentuar a simples ideia de posse. Equivale a dizer-se: “Este cinto pertence-me, é de minha propriedade”. -Com a segunda, porém, faz-se convergir a atenção para o objeto possuído, que se evidencia como distinto de outros da mesma espécie, não pertencentes à pessoa em causa. O seu sentido será: “Este é o meu cinto, o que possuo”. Antes de pronome adjetivo possessivo 1. Quando trazem claros os seus substantivos, os possessivos podem usar-se: ▪︎ com artigo ou sem ele: Meu amor é só teu. O meu amor é só teu. A presença do artigo antes de pronome adjetivo possessivo ocorre com menos frequência no Brasil. — A minha irmã e o meu cunhado costumam receber os seus amigos mais íntimos. (A. Abelaira, D, 107.) Meu avô materno foi verdadeiramente minha primeira amizade, companheiro de brinquedo da minha primeira infância. (G. Amado, HMI, 4.) 2 . O artigo é sistematicamente omitido quando o possessivo: ▪︎ é parte integrante de uma fórmula de tratamento ou de expressões como Nosso Pai (referente ao Santíssimo), Nosso Senhor, Nossa Senhora: Sua Excelência Reverendíssima escusou-se de recebê-los pessoalmente. (B. Santareno, TPM, 37.) Nosso Senhor tinha o olhar em pranto. Chorava Nossa Senhora. (A. de Guimaraens, OC, 121.) ▪︎ faz parte de um vocativo: — Morrer, meu Amo, só uma vez! (A. Nobre, S, 106.) — É neto, meu padrinho? (J. Lins do Rego, MVA, 251.) ▪︎ pertence a certas expressões feitas: -em minha opinião... -em meu poder... -por minha vontade... -por meu mal... ▪︎ vem precedido de um demonstrativo: — Não aguento mais esse teu silêncio antipático. (U. Tavares Rodrigues, TO, 162.) — Isto, aliás, seria benefício a este seu criado. (C. dos Anjos, M, 173.) Observação: -Se o possessivo estiver posposto ao substantivo, este virá normalmente precedido de artigo: Quanto mistério nos olhos teus... (V. de Morais, PCP, 334.) -Pode, no entanto, dispensá-lo, quando nos referimos a algo de modo impreciso ou vago: Tenho estado à espera de notícias tuas, mas vejo que não chegam nunca. (A. Nobre, Cl, 117.) Emprego Genérico a. O uso do artigo definido junto a um substantivo no singular, serve para exprimir a totalidade específica de um gênero, de uma categoria, de um grupo, de uma substância: O guarani fez-se aliado do espanhol. (J. Cortesão, IHB, II, 126.) O relógio é um objeto torturante: parece algemado ao tempo. (C. Lispector, SV, 113.) -Se o substantivo é abstrato, o artigo serve para personalizá-lo: Sacrificou um pouco, sobretudo no exórdio, a articulação do seu discurso para evitar o brilho, a saliência, a ênfase. (M. Bandeira, AA, 306.) Era o deus vivo que os tinha na sua mão, o amigo-inimigo donde lhes vinha todo o bem e todo o mal, a miséria e o pão, o luto e a alegria. (Branquinho da Fonseca, MS, 173.) -Entre os abstratos incluem-se naturalmente os adjetivos substantivados: Eu trabalho com o inesperado. (C. Lispector, SV, 14.) O pior é que nos apareceram outros doentes. (E Namora, CS, 157.) Observação: Nestes casos pode-se dispensar o artigo, principalmente quando o substantivo é abstrato. Pobreza não é vileza. Cão que ladra não morde. Homem não é bicho. Preto como azeviche. Emprego em expressões de tempo l.° ) Omite-se o artigo antes de nomes de meses admitem artigo, a menos que venham acompanhados de qualificativo: Estou seguro de ir até o Rio em fins de junho ou princípios de julho. (M. de Andrade, CMB, 102.) Descobria afinal a manhã carioca, no abril de Botafogo, manhã que antes nunca me dera o ar de sua graça. (Genolino Amado, RP, 22.) Era um setembro puro. (M. Torga, NCM, 63.) 2.°) Omite-se em geral o artigo antes das datas normais do mês: O parecer é de 28 de janeiro de 1640. (J. Cortesão, IHB, II, 218.) ▪︎ Costuma-se, no entanto, usá-lo: a) antes de datas célebres (que adquirem o valor de um substantivo composto de Por ser notoriamente um dos feriados extintos, o 19 de Novembro faz lembrar hoje, aos marmanjos do começo do século, a infância perdida. (C. Drummond de Andrade, FA, 116.) 2.°) Os nomes dos dias da semana vêm precedidos de artigo, principalmente quando enunciados no plural: Queres ir comigo à Itália no domingo? (A. Abelaira, D, 45.) Aos domingos saíam cedo para a missa. (Coelho Netto, OS, 1,33.) Mas podem dispensá-lo (juntamente com a preposição a que se aglutinam), quando no início de frases. Sexta-feira fui vê-la sair. (Machado de Assis, OC, III, 593.) — Domingo à tarde. Domingo será a vez do teu moinho... (F. Namora, DT, 221.) 3.°) Não se usa o artigo nas designações das horas do dia, nem com as expressões meio-dia e meia-noite: O relógio marcava meio-dia e dez... (A. Abelaira, D, 124.) Meia-noite? Não se teria enganado? (J. Montello, SC, 25-26.) ▪︎ Porém, o artigo, quando antecede preposições, é empregado adverbialmente: Já não se almoça às 9 da manhã e não se janta às 4 da tarde. (C. Drummond de Andrade, MA, 99.) Ao meio-dia já as águas do porto eram prata fundida. (U. Tavares Rodrigues, /E, 47.) 4.°) Os nomes das quatro estações do ano são precedidos de artigo: As névoas anunciam o Inverno. (R. Brandão, P, 52.) Talvez tenha acabado o verão. (R. Braga, CC£, 293.) Será goivo no outono, assim como foi na primavera... (A. de Guimaraens, OC, 342.) ▪︎ Contudo, pode-se dispensá-lo quando antecedidos da preposição de: Que noite de inverno! Que frio, que frio! Gelou meu carvão, mas boto-o à lareira, tal qual pelo estio, faz sol de verão! (A. Nobre, S, 13.) Num meio-dia de fim de primavera, tive um sonho bizarro. (F. Pessoa, OP, 143.) Hora sagrada dum entardecer de outono, à beira-mar, cor de safira. (F. Espanca, S, 22.) 5.°) Os nomes de datas festivas são usadas com artigo: o ano-novo o Natal o carnaval a Páscoa ▪︎ Porém, é omitido o artigo quando estes nomes são acompanhados da palavra dia, noite, semana, presente, etc... O primeiro dia de carnaval. A noite de Natal. A semana de Páscoa. Um presente de ano-novo. Emprego com expressões de peso e medida Em frases que contenha unidade de medida e peso, o artigo definido é empregado. O feijão está a cento e trinta cruzeiros o quilo (= cada quilo)Este tecido custa dois mil escudos o metro (= cada metro), Com a palavra Casa 1. Dispensam o artigo a palavra casa: a) no sentido de “residência”, “lar”: Às quatro da madrugada entrou em casa. (M. Torga, CM, 32.) Voltou para casa e ficou à espera da hora insuportável. (C. Drummond de Andrade, CA, 105.) Estava em casa própria lá para Ipanema. (A. Ribeiro, M, 356.) ▪︎ Porém quando a casa é qualificada, especificada, é arbitrário o uso do artigo. A vida na casa de Sinhô era mesquinha como em casa de pobre, mas havia lá dentro a bela Pérola. (J. Lins do Rego, MVA, 306.) ▪︎ Porém, quando usada no sentido de “prédio”, “edifício” ou “estabelecimento”, é antecedida por artigo. Estou cansado, preciso de um sócio, alguém que me dirija a casa. (A. Abelaira, D, 28.) Foi um golpe esta carta; não obstante, apenas acabou a noite, corri à casa de Virgília para pedir satisfação. (Machado de Assis, OC, 1,484.) Na sua própria casa, Horácio pressentia que a mãe lhe ocultava alguma coisa. (Ferreira de Castro, OC, 1,451.) Com a palavra Palácio 1. A palavra palácio é usada quase sempre com artigo: Absorvendo-me nos exames, suspendi as idas ao Palácio. (Genolino Amado, RP: 124.) Só perto do palácio enxugou os olhos. (Alves Redol, BC, 342.) 2. Porém, costuma-se não usar o artigo quando designa a residência ou o local de despacho do chefe da Nação ou do Estado e vem desacompanhada da competente determinação ou qualificação. — Olhe, nos Governos de gente nossa, não se pode nem comer em Palácio... (A. Deodato, POBD, 55.) ▪︎ Mas, é usada sempre com artigo, quando determinada ou qualificada: – Paladino do amor, busco o palácio encantado da Ventura! (A. de Quental, SC, 42.) Benício alongou a vista na direção do Palácio Laranjeiras. (J. Montello, SC, 25.) Emprego com o Superlativo Relativo É obrigatório o emprego do artigo definido com o superlativo relativo. ▪︎ Pode preceder o substantivo: Era o aluno mais estudioso da turma. ▪︎ Pode preceder o superlativo: Era o mais estudioso aluno da turma. Ou Era aluno o mais estudioso da turma. ▪︎ Porém, não deve ser repetido antes do superlativo quando já acompanha o substantivo. Era o aluno o mais estudioso da turma. ▪︎ No entanto, é permitido a repetição do artigo antes da palavra superlativa “ainda" ou sinônima, pois neste caso pode-se subentender o substantivo depois do segundo artigo. Essa façanha os marinheiros ainda os mais audazes não ousariam cometè-la. Isto é: “ainda os [marinheiros] mais audazes”. COM OS NOMES PRÓPRIOS Sendo por definição individualizante, o nome próprio deveria dispensar o artigo. Mas, por razões diversas, há atualmente, um grande número de nomes próprios que exigem obrigatoriamente o acompanhamento do artigo definido. Entre essas razões, devem ser mencionadas: a) é precedido de artigo, em geral, com a intenção de reforçar a ideia de individualidade, nome de países, continentes e oceanos: o Brasil o Atlântico o Pacífico a França a Europa a América b ) também é considerado nome próprio, substantivos comuns acompanhados de um artigo. a Guarda o Cairo (árabe El-Kahira = a vitoriosa) o Porto o Havre (francês Le Havre = o porto) c) pela influência sintática do italiano, os nomes de famílias, empregados isoladamente, vêm precedidos de artigo: o Tasso o Ticiano a Besanzoni a Silva d) é usado artigo antes de nomes afetivos e / ou apelidos. Gomes Ribeiro era conhecido como o Fonema. (A. F. Schmidt, GB, 107.) A Carlota! A Carlotinha! Boa velhinha, como ela é meiga e devota! (A. Nobre, S, 166.) — Aqui é o Custódio. Olhe, achei melhor dizer ao Cantídio que você tinha chegado e queria vê-lo. (B. dos Anjos, M, 160.) Feitas essas considerações preliminares, veremos agora os casos particulares com os nomes próprios. Com os nomes de pessoas Os nomes próprios de pessoas (de batismo e de família) não levam artigo. Antoniêta Camões Dante Napoleão Bonifácio ▪︎ Porém, emprega-se o artigo definido: 1°) quando o nome de pessoa vem precedido de qualificativo: O romântico Alencar. O divino Dante. 2 °) quando o nome de pessoa vem acompanhado de determinativo ou qualificativo. Era o Daniel de outrora que eu tinha diante de mim. (J. Montello, DVP, 237.) Nada me importas, País! seja meu Amo o Carlos ou o Zé da malandragem... (S, 118.) 3°) quando o nome de pessoa vem enunciado no plural: a) seja para indicar indivíduos do mesmo nome: Os dois Plínios. Os três Horácios. b) seja para designar uma coletividade familiar: Os Andradas. Os Braganças. c) seja para caracterizar classes ou tipos de indivíduos que se assemelham a um vulto ou personagem célebre, caso em que o nome próprio vale por um nome comum: Eu vejo os Cipiões, vejo os Emílios. (C. M. da Costa, OP, II, 122.) Aqui, os Gladstones pulam aos cardumes e os Thiers cobrem o sol como nuvens de gafanhotos. (R. Barbosa, EDS, 484.) d) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Os Goyas do Museu do Prado. Os Lusíadas relata todas essas características. Observação: a) O artigo definido antecede as palavras senhor, senhora e senhorita quando acompanhado do nome ou título da pessoa: O senhor Fontes está adoentado. Falei com a senhora Baronesa. Não vi a senhorita Joana. -Não empregamos, porém, o artigo quando nos dirigimos à própria pessoa: — Como vai, senhor Fontes? — Adeus, senhora Baronesa. — Obrigado, senhorita Joana. 4°) Os adjetivos Santo (a) e São não vêm precedido de artigo quando acompanha um nome próprio do qual consideramos. Assim conversam, gloriosos, Santa Clara e São Francisco. — O senhor formulara um conceito heterodoxo das epístolas de São Paulo e do evangelho de São Marcos... ▪︎ Porém, emprega-se o artigo, com o nome do santo, quando quisermos designar a época em que se festeja: Já a trago debaixo de olho desde o Santo Antônio. Ainda há um ano precisamente, assistia eu ao São João mais fantástico deste mundo. Com os nomes geográficos 1°) Emprega-se normalmente o artigo definido: a) com os nomes de países, regiões, continentes, montanhas, vulcões, desertos, constelações, rios, lagos, oceanos, mares e grupos de ilhas (arquipélagos): o Brasil a França o Himalaia os Alpes o Nilo o Lemano os Estados Unidos o Mediterrâneo o Teide o Atlântico o Báltico os Açores a Guiné o Nordeste a África o Atacama o Saara o Cruzeiro do Sul o Centro-Oeste b) com os nomes dos pontos cardeais e colaterais, seja no sentido próprio ou no nome de regiões e ventos: O promontório tapava para o norte. (Branquinho da Fonseca, MS, 104.) Os nossos companheiros de viagem — gente do Sul — tasquinhavam, cantavam e beberricavam. (U. Tavares Rodrigues, JE, 21.) Também os ventos nordestinos se acharam presentes: o Nordeste e o Sudeste... (J. Cardoso, SE, 60.) Observações: a) Porém, certos nomes de países e regiões costumam rejeitar o artigo. São alguns: Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Macau, Timor, Andorra, Israel, São Salvador, Aragão, Castela, Leão... b) Alguns nomes de países, como: Espanha, França, Inglatena, Itália e poucos mais, podem construir-se sem artigo, principalmente quando não acompanhados de preposição: Viveu muito tempo em Espanha, casada. (F. Namora, CS, 93.) Aquela, que reside na esperança, foi quem me recompôs uma canção pelas estradas líricas de França. (J. Cardoso, SE, 49.) c) Quando indicam apenas direção, os nomes de pontos cardeais podem vir sem artigo: Marcha para oeste. Vento de leste. 2°) Não se usa em geral o artigo definido: a) com os nomes de cidades, delocalidades e da maioria das ilhas: Barbacena Águeda Creta Lisboa Cuba Paris Malta Campo Grande Topázio b) com os nomes de planetas e de estrelas: Marte Canópus Saturno Sírius Vénus Veja Terra Observações: a) Alguns nomes de cidades que se formaram de substantivos comuns conservam o artigo: a Guarda o Porto o Rio de Janeiro a Figueira da Foz o Rio Grande do Sul O mesmo se dá, como vimos, com o nome de certas cidades estrangeiras: o Cairo, a Haia, o Havre. b) À semelhança dos nomes de países, usam-se com artigo alguns nomes de ilhas: a Córsega a Madeira a Sardenha a Sicília. 3°) Não é uniforme o emprego do artigo definido com os nomes dos estados brasileiros e das províncias portuguesas. A maioria leva artigo. Assim: o Acre o Pará o Alentejo o Amazonas a Paraíba o Algarve a Bahia o Paraná a Beira o Ceará o Piauí o Douro o Espírito Santo a Estremadura o Maranhão o Minho o Mato Grosso do Sul o Ribatejo ▪︎ Porém, não usam com artigo: Alagoas Pernambuco Sergipe Goiás Rondônia Trás-os-Montes Mato Grosso Santa Catarina Minas Gerais São Paulo Salvador Observação: Diz-se também as Alagoas. 4°) Como nos nomes de pessoas, os nomes geográficos passam a admitir o artigo desde que acompanhados de qualificação ou de determinação: Ai canta, canta ao luar, minha guitarra, a Lisboa dos Poetas Cavaleiros! (A. Nobre, D, 68.) Gosto da Ouro Preto de Guignard. (M. Bandeira, AA, 57.) De novo, ungindo-me de Europa — o meu Paris, o Paris dos meus vinte e três anos... (M. de Sá-Carneiro, CL, 131.) Patriota, desejava sem dúvida nos fazer conscientes da grandeza de Portugal, o Portugal das descobertas. (J. Amado, MG, 113.) Com os nomes de obras literárias e artísticas Em geral, emprega-se o artigo, mesmo quando não pertença ao título: Ontem, à noite, comecei a ler a Ana Karenina. (A. Abelaira, D, 64.) A chegada de José Veríssimo ao Rio, em 1891, coincide com o lançamento do Quincas Borba, primeiro romance de Machado de Assis depois das Memórias Póstumas. (J. Montello, PMA, 216.) CASOS ESPECIAIS Antes da palavra outro 1. Emprega-se o artigo definido quando a palavra outro tem sentido determinado: Tirei do colégio os meus dois filhos: o mais velho era um demônio, o outro um anjo. (C. Castelo Branco, 0 5 ,1,290.) Não era pela outra, não, dizia ela consigo, pela centésima vez, era por ele, era pelo outro. (A. Peixoto, RC, 517.) Um era careca, o outro tinha bigode. (A. M. Machado, HR, 72.) 2. Não usa o artigo quando a palavra “outro" substitui um substantivo já citado: Na estrada, os homens apartaram-se, uns grupos para a Covilhã, outros para a Aldeia do Carvalho, como nos demais dias. (Ferreira de Castro, OC, 1,463.) Depois das palavras Ambos (as) e Todos (as) 1. Se o substantivo, determinado pelo numeral ambos, estiver claro, emprega-se o artigo definido: Eram centenares de pessoas de ambos os sexos. (C. Castelo Branco, OS, 1,573.) Vasco apoiou os cotovelos nela e segurou o rosto com ambas as mãos. (É. Veríssimo, LS, 166.) 2. A presença ou a ausência do artigo todo, depende da aceitação da palavra que ele acompanha. Diremos, por exemplo: Todo o Brasil pensa assim. Todo Portugal pensa assim. 3. Porém, há casos que precisam de ser considerados particularmente. São eles: 1°) No PLURAL, anteposto ou posposto ao substantivo, a palavra todos vem acompanhado de artigo, a menos que haja um determinativo que o exclua: Conheceu todos os salões e todos os antros. (B. Castelo Branco, OS, II, 302.) Os discípulos amavam-na, prontos a todos os obséquios. (A. Ribeiro, CRG, 100.) Mas: Todos estes costumes vão desaparecer. (R. Brandão, P, 165.) Todos esses dons do meu amigo ficarão perdidos para sempre. (A. R Schmidt, AP, 98.) 2°) Não se usa o artigo antes do numeral em união a palavra todos: Vi-os felizes, todos quatro. (Machado de Assis, OC, 1,1126.) Elas são, todas duas, minhas irmãs que eu ajudei a criar. (R. M. R de Andrade, V, 67.) ▪︎ Porém, quando o substantivo estiver claro, o artigo é de regra: Vi-os felizes, todos os quatro meninos. Todas as duas irmãs eu ajudei a criar. 3°) No SINGULAR, a palavra todo: a) virá acompanhado de artigo, quando indicar a totalidade das partes: Toda a praia é um único grito de ansiedade. (Alves Redol, PM, 306.) Esteia assistiu à (a+a) toda lição, com a paciência da curiosidade. (Machado de Assis, OC, 1,373.) b) quando exprimir a totalidade numérica, o uso do artigo é arbitrário. Falava bem como todo francês. (G. Amado, PP, 168.) — Verdade, a atribuição é lógica: todo o homem é bicho, embora nem todo o bicho seja homem. (A. Ribeiro, AFPB, 33.) Neste último caso é obrigatória a sua anteposição ao substantivo. 4°) Anteposto (após) ao artigo indefinido, todo significa “inteiro”, “completo”: Para conseguir o seu intento cobriu de ridículo toda uma geração, e lançou as bases de toda uma remodelação social. (G. Amado, TL, 29.) Pelo chão, pelos sofás, alastrava-se toda uma literatura em rumas de volumes graves. (Eça de Queirós, OF, II, 71.) 5°) Em numerosas locuções do português contemporâneo, todo (ou toda) vem seguido de artigo. São algumas: a todo o custo a todo o galope a todo o instante a todo o momento em todo o caso a toda a brida a toda a hora a toda a pressa em toda a parte por toda a parte REPETIÇÃO DO ARTIGO DEFINIDO Com substantivos 1. Quando empregado antes do primeiro substantivo de uma série, o artigo deve anteceder os substantivos seguintes, ainda que sejam todos do mesmo gênero e do mesmo número: Cantava para os anjos, para os presos, para os vivos e para os mortos. (J. Lins do Rego, MVA, 347.) Para ganhar o céu, vendeste a ira, a luxúria, a gula, a inveja, o orgulho, a preguiça e a avareza. (Olavo Bilac, T, 239.) Depois, a iniciação, a mudança de traje, o banho, o perfume, a visita de belos cavalheiros, o primeiro café, o licor, a queda e algumas lágrimas. (J. de Araújo Correia, FX, 93.) ▪︎ Porém, a alternância de sequências com ou sem o artigo, pode, em certos casos, ser empregadas normalmente. Não viram sumo bem ao derredor, mas sim o mal, a tentação, o crime, orgulho, humilhações, remorso e dor. (A. Corrêa d’01iveira, VSVA, 213.) -Veja abaixo os casos em que pode omitir ou não a repetição do artigo ▪︎ Não se repete o artigo: a) quando o segundo substantivo designa o mesmo ser ou a mesma coisa que o primeiro: Presenteou-me este livro o compadre e amigo Carlos. (valor de parentesco) A irmã-de-conde, ou meia irmã, é amigável. O estudo [do folclore] era necessitado pela existência das histórias, contos de fadas, fábulas, apólogos, superstições, provérbios, poesia e mitos recolhidos da tradição oral. (J. Ribeiro, Fl, 6.) Com Adjetivos 1. Repete-se o artigo antes de dois adjetivos unidos pelas conjunções (“e” e “ou”) quando os adjetivos acentuam qualidades opostas de um mesmo substantivo: Conhecia o novo e o velho Testamento. Você quer a boa ou a má notícia? ▪︎ Porém, não se repete o artigo se os dois adjetivos ligados pelas conjunções e, ou (e mas) se aplicam a um substantivo especificador, no qual forma um conceito único: Mas por que não lhe telefona logo à noite, por que não recomeçam a velha e quase esquecida amizade? (A. Abelaira, D, 22.) Esqueceu que já não tinha mais a sua tristonha mas bela solidão. (É. Veríssimo,LS, 148.) 3. Se os adjetivos não vêm unidos pelas conjunções (e e ou), deve-se repetir o artigo. Tal construção empresta ao enunciado uma ênfase particular: Era o próprio, o exato, o verdadeiro Escobar. (Machado de Assis, OC, 1,867.) É o povo, o verdadeiro, o nobre, o austero povo português. (A. F. Schmidt, F, 102.) 4. Se um mesmo substantivo vem qualificado por uma série de superlativos relativos, deve-se antepor o artigo a cada membro da série: Que o mais belo, o mais forte, o mais ardente destes sujeitos é precisamente o mais pálido, o mais feio. (E. da Cunha, OC, 1,659.) Vi pela primeira vez a Eleita de roçadinho, a grande Flor subtil, inigualável alma, a Maior, a mais Bela, a mais Amada, a Única! (E. de Castro, OP, 1,30.) OMISSÃO DO ARTIGO DEFINIDO O seu emprego é evitado: 1°) Quando o gênero e o número do substantivo já estão claramente determinados por outras classes de palavras (pronomes demonstrativos, numerais, etc.). Assim, diremos: Na revolução de 17, muito sofreu este padre. (J. Lins do Rego, M\A, 281.) Antes, ainda no automóvel, Ramiro achou duas novas pérolas. (A. Abelaira, D, 121.) 2°) Quando queremos indicar a noção expressa pelo substantivo, o uso é arbitrário, o que mudará é o sentido. Compare, por exemplo, estas três frases: Foi acusado do crime [se refere ao acusado (pessoa)]. Foi acusado de um crime [se refere a um crime específico]. Foi acusado de crime [se refere a um crime desconhecido]. 2. Além desses casos gerais e de outros particulares, anteriormente examinados, omite-se o artigo definido: a) antes de palavras que designam matéria de estudo, empregadas com os verbos aprender, estudar, cursar, ensinar e seus sinônimos: Aprender inglês. Estudar latim. Cursar direito. Ensinar geometria. b) antes das palavras tempo, ocasião, motivo, permissão, força, valor, ânimo (para alguma coisa), complementos dos verbos ter, dar, pedir e seus sinônimos: Não houve tempo para descanso. Não dei motivo à crítica. Pedimos permissão para sair. Não tive ânimo para viajar. EMPREGO DO ARTIGO INDEFINIDO O artigo indefinido provém do numeral latino; (unus, una, unum), que exprime a unidade. Esse valor numeral, embora enfraquecido em “um certo”, transparece ainda hoje nos diversos empregos das formas do singular (um, uma), principalmente no mais comum deles, qual seja, o de apresentar o ser ou o objeto expresso pelo substantivo de maneira imprecisa, indeterminada ou desconhecida. Desse valor fundamental decorrem certos empregos particulares do artigo indefinido, alguns dos quais devem ser conhecidos. Com Substantivos Comuns 1. O artigo indefinido — já o dissemos — serve principalmente para a apresentação de um ser ou de um objeto ainda não conhecido do ouvinte ou do leitor. Retomemos o exemplo de A. Amoroso Lima anteriormente citado: Pouco depois, atraído também pelo espetáculo, foi chegando um caboclinho magro, com uma taquara na mão. (AA, 40.) Uma vez apresentados o ser e o objeto, não há mais razão para o emprego do artigo indefinido, e o escritor ou o locutor deverá usar daí por diante o artigo definido. É o que se observa na continuação do texto em causa: Pupilas acesas vinham espiar entre as árvores, como que também atraídas pela melodia da taquara do caboclinho. (Ibid.) 2. Para se precisar a classe ou a espécie de um substantivo já determinado por artigo definido, costuma-se repeti-lo, na aposição, com o artigo indefinido: Ele sentia o cheiro do impermeável dela: um cheiro doce de fruta madura. (É. Veríssimo, LS, 140.) A chuva continuava, uma chuva mansa e igual, quase lenta, sem interesse em tombar. (M. J. de Carvalho, AV, 153.) 3. Por sua força generalizadora, o artigo indefinido pode atribuir a um substantivo no singular a representação de toda a espécie: — Aquele, digo-vos eu, aquele é um homem. (Branquinho da Fonseca, MS, 165.) Uma mulher não gosta de profissão nenhuma. Uma mulher só gosta sinceramente de duas coisas: casar e ter filhos. (I. Losa,E O ,106.) 4. A anteposição do plural uns, umas, a cardinais é a forma preferida do idioma para indicar a aproximação numérica: O sítio em que nos instalamos ficava a uns oito quilômetros de Barbacena, pela estrada que vai para Remédios. (R. M. F. de Andrade, V, 119.) Teria, quando muito, uns doze anos. (U. Tavares Rodrigues, PC, 168.) Com o mesmo sentido aparece a forma singular uma antes da fracionária meia: Decorreu uma boa meia-hora. (J. de Alencar, OC, II, 569.) Indaguei de Virgília, depois ficamos a conversar uma meia hora. (Machado de Assis, OC, 1,507.) 5. Antes dos nomes de partes do corpo ou de objetos que se consideram aos pares, usa-se o plural do artigo indefinido para designar um só par: Ao parar nos últimos degraus da escada para conversar com alguém que conhecia, dei com uns pés enormes ao nível de meus olhos. (A. M. Machado, HR, 146.) Trazia uns sapatos rasos, uns olhos verdes. (A. Abelaira, CF, 207.) Observação: O artigo indefinido aparece com acentuado valor intensivo em certas frases da linguagem coloquial caracterizadas por uma entoação particular: Ela é de uma candura!... Tens umas ideias!... A suspensão final da voz faz subentender um adjetivo denotador de qualidade ou defeito de caráter excepcional. Equivale a dizer-se: Ela é de uma candura admirável (ou comovente). Tens umas ideias estapafúrdias (ou ótimas). Ressalte-se que a força intensiva do indefinido permite que se complete a estrutura consecutiva com o aparecimento de uma oração iniciada por que. Ela é de uma candura, que comove. Entenda-se: Ela é de uma candura tal, que comove. Com os Nomes Próprios 1. Emprega-se o artigo indefinido antes de um nome de pessoa: a) para acentuar a semelhança ou a conformidade de alguém com um vulto ou um personagem célebre, caso em que o nome próprio passa a ser um nome comum: Papai era um Quixote. (C. dos Anjos, MS, 298.) — É uma Ofélia, mas, depravada... (J. de Araújo Correia, FX, 128.) b) para indicar ser o indivíduo verdadeiro símbolo de uma espécie: A fortuna, toda nossa, é que não temos um Kant. (J. Ribeiro, F, 36.) Nazaré merecia bem um Cézaime ou outro grande pintor a rondar-lhe os sítios, a pintar-lhe os tipos. (A. F. Schmidt, F, 103.) 253 c) para designar um indivíduo pertencente a determinada família: José Bonifácio era um Andrada. D. Pedro I do Brasil, que foi D. Pedro IV de Portugal, era um Bragança d) para evocar aspectos geralmente imprevistos de uma pessoa: Apesar disso tudo, um Joaquim risonho, a satisfação em pessoa. (Genolino Amado, RP, 115.) Raul Brandão, nas Memórias, evocou um Fialho torturado, através do estilo imprevisto, “escorrendo sangue, aflição, miséria”. (J. do Prado Coelho, PHL, 247.) e) para designar obras de um artista (geralmente quadros de um pintor): Também disse, é verdade, como era necessário aprender a distinguir o fado de uma sinfonia, um Picasso de um calendário. (V. Ferreira, A, 28.) 2. Como o artigo definido, o indefinido pode acompanhar os nomes geográficos, se qualificados: Mais tarde, haveria de ouvir-lhe pessoalmente a sua visão dum Egeu de deuses vivos. (L. Forjaz Trigueiros, ME, 269.) Numa Europa mecanizada, a Espanha surge-nos intemporal. (U. Tavares Rodrigues, JE, 21.) OMISSÃO DO ARTIGO INDEFINIDO Apesar de sua generalização crescente, há circunstâncias que, ainda hoje, pedem ou favorecem a omissão do artigo indefinido. Assim: 1. °) A existência de outro elemento determinativo anteposto ao nome, como, por exemplo, uma forma de identidade ou de comparação: De você não esperava semelhante gesto. Não é possível pior exemplo do que esse. 2. °) O fato de um substantivo ser empregado no singular para exprimir não a ideia de unidade, mas uma noção partitiva,ou para designar toda a espécie ou categoria a que pertence: A grande parte do público irritou a cena. Amigo fiel e prudente é melhor que parente. Observação: Não existe propriamente omissão do artigo indefinido, mas casos onde ele nunca se empregou de forma regular. Na fase primitiva das línguas românicas, o artigo indefinido era de uso restrito. Com o correr do tempo, esse determinativo foi-se introduzindo em numerosas construções e, hoje, os variados matizes do seu emprego constituem uma inestimável riqueza estilística de todas elas. Contra essa generalização e valorização progressiva do indefinido se manifestaram sempre os nossos gramáticos, que nela veem uma simples e desnecessária influência do francês, onde, em verdade, poucas são atualmente as interdições ao uso do determinativo em causa. Mas tal guerra se tem revelado inútil, e inútil precisamente porque não se trata, no caso, de um mero galicismo extirpável, e sim de uma tendência geral dos idiomas neolatinos em busca de formas mais expressivas, de maior clareza e vigor para o enunciado. Em expressões de identidade 1. Evita-se, em geral, empregar o artigo indefinido quando já existe, anteposto ao substantivo, um dos pronomes demonstrativos igual, semelhante e tal; ou um dos indefinidos certo, outro, qualquer e tanto: Certo amigo meu já usou de igual argumento. Em outra circunstância eu aprovaria semelhante atitude. Se continuares com tal inapetência e com tanta febre, podes tomar o remédio a qualquer hora. 2. Advirta-se, porém, que algumas dessas formas, quando pospostas a um substantivo, passam a ser adjetivos, caso em que se constroem normalmente com artigo indefinido: Ele disse uma coisa certa. Quero um livro igual a esse. Uma hora qualquer irei vê-lo. Tens um modo semelhante de falar. Costuma-se, no entanto, calar o artigo indefinido, quando a frase é negativa ou interrogativa: Nunca li coisa igual. Jamais se ouviu barbaridade tal! Já viste trejeitos semelhantes? Em Expressões Comparativas 1. Em princípio, as fórmulas comparativas podem admitir a exclusão do artigo indefinido. É o caso: a) dos comparativos de igualdade formados com tão ou tanto: Nunca passei por lugar tão perigoso como aquele. Trabalhava com tanto cuidado como o pai. b) dos comparativos de superioridade ou de inferioridade, principalmente quando expressos sob a forma negativa ou interrogativa: Não encontrarias melhor amigo nesta emergência. Conseguiste maior renda este mês? 2. É dispensável também o artigo indefinido em comparações do tipo: Qual furacão, revolveu tudo. Bailava como nume da floresta. Em Expressões de Quantidade Costuma-se evitar o artigo indefinido antes de expressões denotadoras de quantidade indeterminada, constituídas seja por substantivos (como: coisa, gente, infinidade, multidão, número, parte, pessoa, porção, quantia, quantidade, soma e equivalentes), seja por adjetivos (como: escasso, excessivo, suficiente e sinônimos): Havia grande número de pessoas no casamento. Reservou para si boa parte do lucro. Disponho de escasso capital para o empreendimento. Não há suficiente espaço para o móvel. Observação: A presença do numeral fracionário meio exclui normalmente a do artigo indefinido: Comprou meio quilo de pão. Tomou meia dose do remédio. Mas, como vimos, o feminino meia constrói-se com o indefinido nas designações de quantidade aproximada. E também pode admiti-lo quando forma com o substantivo uma unidade de uso corrente: Só tenho uma meia libra. No caso, basta uma meia-palavra sua. Com Substantivo Denotador de Espécies Quando um substantivo no singular é concebido sob o aspecto de categoria de espécie, e não sob o de unidade, pode-se calar o artigo indefinido. Esta omissão aparece frequentemente em provérbios: Cão ladrador nunca é bom caçador. Espada na mão de sandeu, perigo de quem lha deu. Advirta-se que, na língua de nossos dias, esta construção é mais frequente no Brasil do que em Portugal. Comparem-se estes exemplos: Criança tem amigos e inimigos. (G. Amado, HM7,8.) — Noivo não se deixa na solta. (J. Lins do Rego, MVA, 270.) Vida não tem adjetivo. (C. Lispector, SV, 18.) Outros casos de Omissão do Artigo Indefinido Além dos casos mencionados, a língua portuguesa admite a omissão do artigo indefinido em muitos outros. Como o artigo definido, ele pode faltar: a) nas enumerações: Desde aí, os campos-santos não cessaram de recolher os mortos meus: avô, tios, amigos de infância, companheiros queridos — a lista é aterradora... (A. F. Schmidt, GB, 151.) Casas, árvores, nuvens desagregavam-se numa melancólica paisagem de Outono. (F. Namora, TJ, 232.) b) nos apostos: Meu pai, homem de boa família, possuía fortuna grossa, como não ignoram. (G. Ramos, AOH, 28.) Chega, hoje, aqui o meu amigo Costa Cabral, filho do Conde de Tomar, meu antigo condiscípulo em Coimbra e no Laranjo. (A. Nobre, C/, 74.) E sempre que a clareza ou a ênfase não o exigirem. Bibliografia usada: Celso Cunha e Cintra