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Curso Avaliação Neuropsicológica

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Prévia do material em texto

AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
2.1 HISTÓRICO DA NEUROPSICOLOGIA 
2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE 
2.3 OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
MÓDULO II 
3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS 
3.1 BASES ANATÔMICO-FUNCIONAIS DAS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS 
3.2 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
3.3 ATENÇÃO 
3.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS 
3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM 
3.6 PERCEPÇÃO E FUNÇÕES VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVAS 
 
 
MÓDULO III 
4 BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS 
4.1 TESTES PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO GLOBAL 
4.1.1 Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUPSILIN) 
4.1.2 Miniexame do Estado Mental (MEEM) 
4.1.3 Clinical Dementia Rating (CDR) 
4.2 TESTES DE INTELIGÊNCIA 
4.2.1 Escala de Inteligência Wechsler para Adultos (WAIS-III) 
4.2.1.1 Escala de Inteligência Wechsler Abreviada (WASI) 
4.2.2 Escala de Inteligência Wechsler para Crianças Quarta Edição (WISC-IV) 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
4.2.3 Teste de Inteligência Geral – Não Verbal (TIG-NV) 
4.3 TESTES DE MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
4.3.1 Teste de Aprendizagem Auditivo Verbal de Rey (RAVLT) 
4.3.2 Teste de Memória da Lista de Palavras do CERAD 
4.3.3 Teste de Memória de Figuras 
4.3.4 Teste Comportamental de Memória de Rivermead (TCMR) 
4.4 TESTES DE ATENÇÃO 
4.4.1 Teste de Atenção por Cancelamento 
4.4.2 D-2 Teste de Atenção Concentrada 
4.4.3 Teste de Trilhas 
4.5 TESTES DO FUNCIONAMENTO EXECUTIVO 
4.5.1 Teste do Desenho do Relógio (TDR) 
4.5.2 Teste de Classificação de Cartas de Wisconsin (WCST) 
4.5.3 Torre de Hanói, Torre de Londres e Torre de Toronto 
4.6 TESTES DE RACIOCÍNIO E LINGUAGEM 
4.6.1 Testes de Fluência Verbal 
4.6.2 Teste de Nomeação de Boston (versão reduzida) 
4.6.3 Teste de Provérbios 
4.6.4 Testes de Leitura e Escrita 
4.7 TESTES DE PERCEPÇÃO E DO FUNCIONAMENTO VISUOCONSTRUTIVO 
4.7.1 Teste de Praxia Construtiva da bateria CERAD 
4.7.2 Figuras Complexas de Rey 
4.7.3 Teste Gestáltico Viso-Motor de Bender – Sistema de Pontuação Gradual (B-SPG) 
4.7.4 Subteste Cubos do WAIS 
4.7.5 Subteste Quebra-Cabeça do WISC 
5 AVALIAÇÃO DO HUMOR, COMPORTAMENTO E FUNCIONAMENTO 
ADAPTATIVO 
5.1 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE DEPRESSÃO 
5.1.1 Inventário de Depressão de Beck (BDI) 
5.1.2 International Neuropsychyatric Interview (MINI) 
5.1.3 Escala de Depressão Geriátrica (EDG) 
5.2 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE ANSIEDADE 
5.2.1 Inventário de Ansiedade de Beck (BAI) 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
5.2.2 Escala de Ansiedade de Hamilton 
5.2.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HAD) 
5.3 ESCALAS E INVENTÁRIOS DE AVALIAÇÃO FUNCIONAL 
5.3.1 Índice de Katz para Atividades Básicas da Vida Diária 
5.3.2 Functional Activities Questionnaire (FAQ) 
5.3.3 Inventário de Atividades Avançadas de Vida Diária 
5.3.4 Informat Questionnaire of Cognitive Decline of the Elderly (IQCODE) 
 
 
MODULO IV 
6 DESORDENS COGNITIVAS 
6.1 DISTÚRBIOS DA MEMÓRIA 
6.1.1 Amnésia 
6.1.2 Síndrome de Korsakoff 
6.1.3 Comprometimento ou cognitivo leve (CCL) 
6.1.4 Síndrome demencial 
6.2 DISTÚRBIOS ATENCIONAIS 
 
 
6.3 DISFUNÇÃO EXECUTIVA 
6.3.1 Síndromes disexecutivas 
6.3.2 Demências frontotemporais (DFTs) 
6.4 DISTÚRBIOS DA LINGUAGEM 
6.4.1 Afasias 
6.5 DESORDENS VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVA 
7 INTRODUÇÃO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
7.1 OBJETIVO DA REABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
7.2 ORIENTAÇÕES À FAMÍLIA DO PACIENTE E O ENCAMINHAMENTO PARA 
REABILITAÇÃO 
8 CONCLUSÃO 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
 
 
MÓDULO I 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A neuropsicologia é o campo de estudo das relações entre o cérebro, a 
cognição e o comportamento. Trata-se de um campo científico que engloba diversas 
áreas da neurociência como a neuroanatomia, a neurofisiologia, a neuroquímica e 
neurofarmacologia dentre outras. No âmbito da atuação profissional do psicólogo, a 
neuropsicologia exige um vasto campo de conhecimento, pois engloba conceitos e 
técnicas da psicometria, da psicologia clínica, da psicologia experimental, da 
psicopatologia e da psicologia cognitiva. Na prática clínica, este profissional é 
procurado, principalmente, para avaliar e/ou reabilitar alterações cognitivas e 
comportamentais resultantes de lesões cerebrais. 
A avaliação neuropsicológica é conduzida por meio da aplicação de testes 
psicométricos que procuram descrever a habilidade cognitiva do indivíduo avaliado e 
compará-la com padrões pré-estabelecidos de normalidade. De forma geral, o 
propósito da avaliação neuropsicológica é estabelecer a relação entre atividades 
comportamentais e o funcionamento cerebral. Nesta avaliação são testadas funções 
cognitivas, tais como: memória, atenção, linguagem, funções executivas, raciocínio, 
habilidades motoras e visuoespaciais, bem como as alterações emocionais e de 
comportamento. Contudo, para que o neuropsicólogo possa alcançar o objetivo da 
avaliação neuropsicológica não basta aplicar e pontuar os testes; é preciso conhecer 
as regiões cerebrais envolvidas nos aspectos comportamentais e nas funções 
cognitivas e também ter noções de neuropatologia para não incorrer em suspeitas 
diagnósticas incorretas e sugestões de tratamentos desnecessários. 
No Brasil, é recente o reconhecimento da neuropsicologia como área de 
atuação profissional, mas a demanda pela sua atuação, seja para avaliação ou 
reabilitação, vem se mostrando crescente. Uma das principais causas deste 
crescimento é o envelhecimento populacional que vem ocorrendo no Brasil nas 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
últimas décadas, o que gera aumento da incidência de patologias neurológicas 
relacionadas ao aumento da idade. Por isto, nesta apostila será enfatizada a 
avaliação de adultos e idosos com descrição das principais desordens que levam à 
busca pela avaliação neuropsicológica nestas faixas etárias. A apresentação dos 
objetivos e instrumentos de avaliação neuropsicológica é feita de forma a discriminar 
o uso dos mesmos entre as diferentes fases do desenvolvimento. 
O Módulo I apresenta uma breve descrição de como as funções mentais 
foram explicadas ao longo do histórico da neuropsicologia, abordando suas 
principais descobertas. Além disto, discute-se a prática clínica da neuropsicologia e 
os vários objetivos da avaliação neuropsicológica na atualidade. O Módulo II traz 
uma revisão geral sobre o sistema nervoso e a conceituação das principais funções 
neuropsicológicas, como a memória, a atenção, as funções executivas, a linguagem, 
a percepção e as funções visuoconstrutivas. O Módulo III aborda alguns dos testes 
mais empregados em avaliação neuropsicológica. Os testes existentes não se 
resumem aos apresentados aqui. A escolha dos testes descritos foi pautada na 
facilidade de aplicação, priorizando-se aqueles que possuem normatização para uso 
na população brasileira e, portanto, comercializados e divulgados para aquisição e 
uso clínico dos profissionais da área. Finalmente, o Módulo IV apresenta uma 
descrição das principais desordenscognitivas e uma introdução dos objetivos da 
reabilitação neuropsicológica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
 
 
2 PRINCÍPIOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
2.1 HISTÓRICO DA NEUROPSICOLOGIA 
 
 
A neuropsicologia, enquanto uma área do conhecimento, surgiu a partir do 
interesse em compreender a localização anatômica das funções mentais e suas 
primeiras evidências enquanto ciência são oriundas de estudos conduzidos com 
indivíduos acometidos por danos cerebrais. Contudo, desde a Antiguidade, busca-se 
identificar que parte do corpo humano seria a sede de controle da mente, das 
emoções e do comportamento. Há evidências de que técnicas de trepanação (Figura 
1) eram praticadas desde a pré-história e umas das hipóteses, dentre as várias 
existentes, para explicar esta prática é a de que, na Antiguidade, acreditava-se que 
ao fazer orifícios no crânio criava-se uma saída para os maus espíritos e assim era 
possível curar transtornos mentais e dores de cabeça (RODRIGUES; CIASCA, 
2010). O papiro egípcio chamado de Papiros de Edwin Smith (1600 a.C.) é 
considerado o documento mais antigo com relatos da localização das funções 
mentais, nele constam a descrição de 48 indivíduos com lesões cerebrais (HAMDAN 
et al., 2011). 
O coração também já foi tido como o centro da mente ou da alma humana. 
Essa ideia ficou conhecida como hipótese cardíaca. Ainda hoje, ouvimos 
popularmente expressões coerentes com esta ideia, como, por exemplo, quando 
 z m “ z q m ”. 
No período grego clássico, muitos filósofos buscaram explicar a relação 
corpo e alma. Platão (428-348 a.C.) explicava que o corpo era a instância material, 
perene e mutável do homem enquanto a alma era a imaterial, a eterna, imutável. 
Aristóteles (384-322 a.C.) explicava a atividade mental dividindo-a em diversas 
capacidades (pensar, julgar, imaginar, etc.), mas todas tinham o coração como sede 
anatômica (HAMDAN et al., 2011). 
 
 
 
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 9 
 
 
FIGURA 1 - ILUSTRAÇÃO DE CRÂNIO SUBMETIDO A TREPANAÇÃO 
 
FONTE: López. et al.: Anthropological Science, 2011. 
 
 
As ideias baseadas na hipótese cardíaca enfrentaram críticas dos adeptos 
da chamada hipótese cerebral, que viam o cérebro como o responsável pela 
atividade mental. O filósofo Alcmaeon de Crotona (500 a.C.) defendia que havia no 
cérebro uma localização para cada sensação humana. Um dos mais influentes 
defensores da hipótese cerebral foi o médico grego Hipócrates (460-377 C , “ 
 m ”, m õ l 
cérebro (HAMDAN et al., 2011). 
A hipótese cardíaca foi definitivamente abandonada a partir das 
confirmações da hipótese cerebral. Entre essas confirmações encontram-se os 
achados de Galeno (130-201 a.C.), obtidos a partir da dissecação do cérebro de 
animais e cadáveres que contribuíram para a teoria ventricular. Segundo esta teoria, 
os ventrículos cerebrais eram a sede da mente e os resultados de Galeno 
descreviam com precisão estas estruturas anatômico-fisiológicas. Nesta época, os 
ventrículos causavam grande interesse entre os anatomistas porque se destacam na 
aparência gelatinosa que o cérebro não fixado apresentava. Segundo a teoria 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
ventricular, haveria três ventrículos, o primeiro associado às sensações, o segundo 
associado à razão e ao pensamento e o terceiro seria o responsável pela memória. 
A Igreja reconhecia a explicação de Galeno de que os fluidos que circulavam nos 
ventrículos seriam os espíritos e que estes determinavam os comportamentos 
(COSENZA et al., 2008). Com apoio da Igreja, que tinha forte influência sobre as 
ideias da época, a teoria ventricular perdurou até boa parte da Idade Média. 
O filósofo francês René Descartes (1596-1650), baseado nos princípios do 
dualismo cartesiano, defende, no final do século XVII, a ideia de que a mente e o 
corpo seriam entidades separadas e elas interagiam a partir de uma estrutura 
encontrada no corpo humano, a glândula pineal. Esta glândula era vista como a 
sede do espírito no corpo e por meio dela eram controlados os comportamentos 
(HAMDAN et al., 2011). 
A hipótese cerebral tornou-se a ideia predominante e o debate passou a ser 
quanto à organização e ao funcionamento do órgão de comando. Entre os 
estudiosos que defenderam a hipótese cerebral estavam os holistas e os 
localizacionistas, que apesar de concordarem sobre o cérebro como a sede do 
funcionamento mental discordavam sobre a forma como esse controle era possível. 
Para os holistas, o cérebro atuaria como um todo comandando as funções mentais e 
o comportamento; enquanto os localizacionistas acreditavam em um funcionamento 
fragmentado, de forma que cada uma de suas regiões cerebrais teria uma função 
específica (COSENZA et al., 2008). 
Entre os localizacionistas, teve grande influência a frenologia – teoria de 
Franz Joseph Gall (1757-1828), difundida por seu aluno Johann Gaspar Spurzheim 
(1776-1832). Estes estudiosos afirmavam que o cérebro estava organizado em 
aproximadamente 35 funções específicas (ver Figura 2) e acreditavam ser possível, 
por meio da análise do crânio, descrever a personalidade de uma pessoa. Esta 
técnica foi chamada de personologia anatômica. 
Segundo Consenza et al. (2008), os pressupostos básicos da frenologia 
podem ser resumidos da seguinte forma: 
1) cada região cerebral pode ser entendida m m “ó g ” q m 
determinada atividade mental ou comportamental específica; 
2) a superfície craniana poderia ser moldada a partir do desenvolvimento de 
cada região cerebral; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
3) uma região cerebral bem desenvolvida pode crescer em volume e resultar 
em um crescimento visível no crânio. 
A frenologia foi criticada pela comunidade científica porque seus 
pressupostos não foram comprovados. Um grande opositor de Gall foi Flourens 
(1794-1867), um fisiologista que estudava o cérebro de animais e percebeu que 
alguns comprometimentos em determinadas regiões cerebrais não resultavam em 
danos permanentes. Em seu estudo com pássaros observou que, independente do 
local lesionado, o animal poderia restabelecer o padrão de funcionamento, pois não 
era a região lesionada e sim a extensão da lesão que dificultava a recuperação. 
Suas conclusões o fizeram defender as ideias de que qualquer região cerebral 
poderia assumir as funções de outra área em caso de lesão e que, portanto, o 
cérebro funcionaria como um todo no qual todas as partes estariam envolvidas em 
todos os comportamentos (GAZZANIGA et al., 2006). Outro opositor das ideias 
localizacionistas e defensor das propostas de Flourens foi Karl Lashley (1890-1958), 
q í “ m ” m ferência a ideia de que seria 
a quantidade de material lesionado que determinaria os prejuízos funcionais e 
 m m í “ q l ” m ê l 
de diferentes regiões cerebrais poderem exercer a mesma função. Lashey fez 
experimentos com ratos em labirintos e mostrou que os animais conseguiam 
executar a tarefa de encontrar a saída mesmo após lesão em determinadas áreas 
cerebrais. Sua conclusão sobre estes resultados era que para aprender a se 
locomover o animal utilizava funções visuais e proprioceptivas, então a lesão em 
somente uma destas áreas era compensada com uso da área preservada. 
Mesmo diante do fracasso das ideias de Gall e de descobertas como a de 
Floures, o debate entre holistas e localizacionistas permanecia a favor do segundo 
grupo uma vez que novas e importantes descobertas foram feitas no sentido de se 
identificar áreas especializadas do cérebro. Assim, por longo período os 
neurocientistas estudaram o cérebro no intuito de descobrir novas regiões do 
cérebro responsáveis por uma função mental ou comportamentos específicos. Entre 
as principais contribuiçõespara as ideias localizacionistas estão as descobertas 
sobre as regiões cerebrais relacionadas à linguagem. Paul Broca (1824-1880) 
apresentou a descrição de pacientes acometidos por lesões nos lobos frontais do 
hemisfério cerebral esquerdo, que apresentavam comprometimento na produção da 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
fala e preservação da compreensão da linguagem. Essa síndrome foi chamada de 
afasia de Broca e a área da lesão, conhecida atualmente como a área de Broca, 
 m “ l l g g m” 
 
 
FIGURA 2 - ILUSTRAÇÃO DO MAPA FRENOLÓGICO DE GALL NA CAPA DA 
REVISTA AMERICAN PHRENOLOGICAL JOURNAL
 
FONTE: Revista American Phrenological Journal (1848), 
sob a licença da Creative Commons Attribution. 
 
 
Posteriormente, o neurologista Carl Wernicke (1848-1904) descreveu 
pacientes que também apresentavam comprometimento de suas habilidades 
linguísticas, contudo apresentavam um tipo de lesão diferente daquela descrita por 
Broca. Nos pacientes de Wernicke a lesão ocorria no córtex temporal do hemisfério 
cerebral esquerdo e a principal dificuldade era na compreensão da linguagem. Esse 
tipo de comprometimento ficou conhecido como afasia de Wernicke. Outra 
contribuição de Wernicke é a ideia de que lesões nas conexões entre estas regiões 
cerebrais também levaria ao comprometimento da linguagem. A chamada afasia de 
condução foi outro distúrbio da linguagem explicado por este estudioso. Nesta 
síndrome as lesões ocorrem no fascículo arqueado, região responsável pela 
conexão entre as áreas de Broca e de Wernicke. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
A localização cerebral das áreas de Broca e de Wernicke podem ser vistas 
na Figura 3. 
 
 
FIGURA 3 - ÁREAS CEREBRAIS ASSOCIADAS À LINGUAGEM 
 
FONTE: Imagem adaptada por James.mcd.nz (2007) de Surfacegyri.JPG de Reid Offringa e de 
Ventral-dorsal streams.svg de Selket sob licença da Creative Commons Attribution. 
 
 
Outras evidências contribuíram de forma significativa para a neuropsicologia 
como a conhecemos na atualidade, como a divulgação do caso do funcionário 
americano Phineas Gage (1823-1860) que, em decorrência de uma explosão, teve o 
cérebro perfurado por uma barra de metal (ver Figura 4). A barra atingiu o olho 
esquerdo e atravessou a parte frontal do cérebro. Apesar disto, Phineas sobreviveu, 
aparentemente, sem sequelas motoras e cognitivas, mas com alteração significativa 
em sua personalidade, comportando-se de forma oposta ao que costumava fazer 
antes do acidente. Essa sequela tão específica em uma lesão tão grave gerou 
interesse dos estudiosos em neurociências. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
 
 
FIGURA 4 - SIMULAÇÃO COMPUTADORIZADA DA ÁREA CEREBRAL 
LESIONADA NO PACIENTE PHINEAS GAGE 
 
FONTE: Imagem por Roy Baty (2004), sob licença Creative Commons Attribution. 
 
 
No início do século XX, o interesse em explicar as funções mais complexas 
foi crescente e a noção de que as diversas áreas cerebrais estavam interligas foi 
ganhando espaço. Em 1940, Walter Hess defendeu a ideia de que o número de 
estruturas cerebrais envolvidas para realização de uma atividade seria proporcional 
à sua complexidade. James Pa z l m l m m 
 m lím , l ê m uras 
cerebrais interconectadas para que fossem processados os conteúdos emocionais 
(COSENZA et al., 2008). Neste mesmo período, o médico William Scoville 
 lí “ ”, que ficou amplamente conhecido na 
literatura como uma das primeiras evidências de que os processos de memória e 
aprendizagem dependiam de diversificadas áreas cerebrais e de suas conexões. 
Trata-se de um paciente epiléptico que, após cirurgia para remover seu hipocampo e 
amígdalas, tornou-se incapaz de aprender novas informações. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
A partir de estudos de casos como este e outros conduzidos – principalmente 
durante a guerra – com indivíduos que sofreram lesões cerebrais, os processos 
mentais passaram a ser explicados como dependentes da integridade de centros 
nervosos e suas conexões e não, simplesmente, do funcionamento de áreas cerebrais 
específicas. 
Contribuíram também para os avanços sobre a compreensão do 
funcionamento cerebral os estudos histológicos de Camilo Golgi e do histologista 
Santiago Cajal. Golgi desenvolveu o famoso método de coloração por prata, técnica 
que permitiu a identificação de toda estrutura da célula nervosa (corpo celular, 
dendritos e axônios). Cajal, utilizando este método de coloração, mostrou que estava 
errada a ideia de que o cérebro era uma massa contínua e demonstrou que o tecido 
neural era composto de um emaranhado de células (RODRIGUES; CIASCA, 2010). 
Outra importante contribuição para a forma como o funcionamento cerebral é 
visto hoje foi dada pelo anatomista Korbinian Brodmann (1909). A partir de seu 
estudo com tecido corado, o córtex cerebral foi dividido em 52 regiões diferentes 
(Figura 5), conhecidas como áreas citoarquitetônicas, isto é, áreas em que se 
diferenciam pela estrutura e disposição de suas células (neurônios). Esta divisão é 
conhecida como mapa das áreas corticais do cérebro humano e é uma das mais 
reconhecidas pelos neurocientista que ainda a estudam e buscam seu 
aprimoramento. 
 
 
FIGURA 5 - ILUSTRAÇÃO DO MAPA DAS ÁREAS CORTICAIS 
SEGUNDO BRODMANN 
 
FONTE: Bernal e Perdomo, 2008. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
As tendências localizacionistas ainda prevaleceram no início do século XX 
com importantes descobertas que as validavam, como a diferenciação de funções 
entre os dois hemisférios cerebrais. Contudo, as controvérsias apresentadas, nesta 
época, sobre a localização de regiões específicas para a execução das chamadas 
“ õ ”, m m mó m , m í am as certezas 
sobre as hipóteses localizacionistas. Esse campo fértil de contradições contribuiu 
para ideias como a de Monakow, que defendia a diásquise – dano em uma das 
regiões encefálicas pode resultar em prejuízo em outras regiões – influenciasse 
muitos estudos com tendência holista (GAZZANIGA et al., 2006). 
A discussão entre localizacionistas e holistas toma novos rumos a partir das 
descobertas de Lev Vygotsky (1896-1934). Vygotsky argumentou que a organização 
cerebral ocorria a partir de uma inter-relação complexa entre suas partes e que 
desta forma se daria o funcionamento do todo. Vygotsky desenvolveu seus estudos 
mostrando que o funcionamento mental variava para os diferentes estágios do 
desenvolvimento humano e, ainda hoje, suas ideias estão entre um dos importantes 
expoentes da psicologia da aprendizagem. Influenciado por estas ideias, o psicólogo 
soviético Alexander Luria (1902-1977), a partir do estudo com pacientes acometidos 
por lesão cerebral, desenvolveu um novo conceito de função. Assim, as premissas 
localizacionistas deram lugar à proposta de funcionamento interligado das áreas 
cerebrais que predomina na neuropsicologia atual. Luria atuou junto com Vygotsky 
focalizando, inicialmente, no estudo da afasia e na relação da linguagem com outros 
processos mentais, sendo um de seus maiores interesses o desenvolvimento de 
técnicas de reabilitação. Durante o período da Segunda Guerra Mundial, Luria 
desenvolveu pesquisas no Hospital do Exército e focou na descoberta de métodos 
de reabilitação de deficiências no pacientes com lesões cerebrais. 
Luria atuou também na elaboração de baterias compl l 
 lóg , q m m l m l z m m l XX e 
ainda influenciam a forma como os testes são elaborados e utilizados na testagem 
neuropsicológica. A primeira versão dos testes de Luria deu origem a diversas 
outras baterias neuropsicológicas, como a Luria-Nebraska e o teste de Barcelona, 
que consistem em avaliações amplas dos diversos domínios cognitivos(HAMDAN et 
al., 2011). Estes testes ainda são úteis, mas dividem espaço com uma infinidade de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
testes neuropsicológicos que vêm sendo elaborados com intuito de se tornarem 
cada vez mais específicos. 
Além disto, Luria trabalhou na elaboração do conceito de neuroplasticidade, 
que pode ser entendida como a capacidade adaptativa do sistema nervoso frente às 
agressões sofridas em sua estrutura, isto é, a possibilidade do cérebro se regenerar, 
de modificar sua morfologia e reassumir suas funções. Este é um conceito central na 
área da neurociência atual, sobre o qual muitos cientistas se debruçam na busca de 
inovações. A grande contribuição de Luria para as técnicas utilizadas hoje na área 
da neuropsicologia, tanto no âmbito da avaliação quanto da reabilitação, faz com 
que ele seja considerado por alguns como o pai da neuropsicologia. 
Luria argumentava que apenas funções mais simples poderiam ser 
l l z q õ m l “ m 
 ”, , g m m m m q 
atuam em conjunto, independente se áreas envolvidas estão localizadas em partes 
diferentes ou mesmo distantes do cérebro. Baseando-se nesta proposta de Luria, é 
possível distinguir no cérebro três grandes sistemas funcionais (ver Figura 6), 
conforme descrito por Cosenza e Fuentes et al. (2008): 
 
 m g l gíl l m 
formação reticular e áreas do sistema límbico. O segundo se encarrega de 
receber, processar e armazenar as informaçõ q g m m 
 m ó l l l z 
posteriormente ao sulco central. Ele organiza-se em áreas corticais 
primárias, secundárias e terciárias. J m g l 
estratégi m m ó m l, í l 
 ó l g õ g z - , 
 m m q m , m m , 
 
 
Na abordagem neuropsicológica de Luria o funcionamento cerebral é 
explicado com a coparticipação dos dois sistemas funcionais do cérebro e os 
objetivos centrais da neuropsicologia seriam: 
1) localizar as lesões cerebrais responsáveis pelos distúrbios do 
comportamento para um diagnóstico preciso; 
2) explicar o funcionamento das atividades psicológicas superiores 
relacionadas com as partes do cérebro. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 18 
 
 
FIGURA 6 - UNIDADES FUNCIONAIS DO CÉREBRO SEGUNDO LURIA 
 
FONTE: Rodrigues e Ciasca, 2010. 
 
 
Na atualidade, a neuropsicologia superou esta necessidade de estabelecer a 
localização das funções mentais como sua prioridade. A discussão localizacionismo 
versus holismo foi superada com o surgimento das modernas técnicas de 
neuroimagem, que hoje são as principais ferramentas para fins de localização de 
regiões lesionadas. Isso não quer dizer que uma avaliação neuropsicológica não 
mantenha este objetivo, mas este propósito é prioritário, exclusivamente, em casos 
de patologias cujos sintomas manifestam-se antes, ou independente, das alterações 
cerebrais alcançarem um nível detectável pelos procedimentos de neuroimagem. 
Assim, a neuropsicologia ganhou uma nova discussão, a do funcionalismo versus o 
cognitivismo expressa por Hadman (2011) da seguinte forma: 
 
As técnicas tradicionais de avaliação neuropsicológica advêm da tradição 
funcionalista que considera que a predição do desempenho do indivíduo é o 
objetivo primário da avaliação e o construto psicológico é secundário. Por 
outro lado, os testes construídos na tradição cognitivista enfatizam 
primariamente o construto psicológico e a predição clínica como alvo 
secundário da avaliação. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 19 
 
 
2.2 A PRÁTICA CLÍNICA DA NEUROPSICOLOGIA HOJE 
 
 
O conhecimento em neuropsicologia teve grande expansão durante as 
Grandes Guerras Mundiais, em decorrência da necessidade de reabilitar soldados 
com traumatismos cranioencefálicos. A partir desta demanda, surgem os programas 
voltados para a reabilitação, não só das sequelas motoras, mas também cognitivas 
e, como visto na sessão anterior deste módulo, a atuação de Luria foi o marco inicial 
nesta área. Então, na primeira metade do século XX, a neuropsicologia começou a 
ganhar o reconhecimento de uma especialidade, diferenciando-se de outras áreas 
clínicas como a neurologia e a psiquiatria (HAMDAN et al., 2011). 
No que se refere à neuropsicologia enquanto uma área da psicologia, 
mesmo sendo reconhecido que a psicologia cognitiva e a neuropsicologia tinham 
objetos de interesse em comum, até a década de 70, estas áreas caminhavam em 
paralelo. Aos poucos, a neuropsicologia amplia seus estudos de casos clínicos e a 
construção de testes neuropsicológicos de forma a ir se estabelecendo como uma 
área de prática clínica embasada pelo arcabouço científico construído em conjunto 
com a psicologia cognitiva (ANDRADE; SANTOS, 2004). 
A profissão de neuropsicólogo ganhou o reconhecimento da American 
Psychological Associacion (APA) como área de atuação do psicólogo em 1980 e 
como especialidade da psicologia em 1996. Foram marcos importantes para este 
reconhecimento e para o auxílio da prática dos neuropsicólogos: a fundação da 
International Neuropsychological Society (INS), em 1967; e a fundação da National 
Academy of Neuropsychology (NAN), em 1975 (HAMDAN et al., 2011). 
No Brasil, somente em 2004 o Conselho Federal de Psicologia (CFP) 
estabelece a especialidade da neuropsicologia e delimita o campo de formação 
deste profissional no país. Para conceder o título de especialista, o CFP exige do 
profissional psicólogo: registro profissional no conselho de no mínimo dois 
 em concurs í l m l ó l 
 l z l z 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 20 
Atualmente, a neuropsicologia está voltada não só para os temas clássicos 
da psicologia cognitiva, como a aprendizagem; a percepção, a atenção, como 
também se utiliza da psicologia experimental e da psicometria para atuar na 
construção de testes. O neuropicólogo ganhou espaço em hospitais, fóruns, clínicas, 
consultórios privados e em atendimentos domiciliares com diferentes propósitos. 
Sua atuação é, em geral, multidisciplinar e voltada não só ao próprio paciente, mas 
também à orientação de familiares. Além disto, pode atuar no meio acadêmico 
conduzindo pesquisas e auxiliando na formação de futuros profissionais, por meio de 
aulas e supervisões. O campo para novas descobertas sobre a forma de 
funcionamento cerebral é amplo e continuamente promove inovações que obrigam 
os clínicos a reverem suas práticas. A neuropsicologia consiste, portanto, em campo 
de conhecimento científico e prático ainda em expansão, e seus desafios são ainda 
maiores em países como o Brasil, onde a delimitação profissional ocorreu tão 
recentemente. 
 
 
2.3 OBJETIVOS DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
Recentes avanços das técnicas de neuroimagem possibilitaram e 
acrescentaram evidências sobre a correlação entre as funções cognitivas e o 
funcionamento cerebral. O aprimoramento da neuroimagem permitiu uma minuciosa 
identificação das áreas cerebrais causando uma ampliação dos objetivos da 
avaliação neuropsicológica, antes focada, primordialmente, na localização de áreas 
cerebrais acometidas por lesões. Assim, a avaliação neuropsicológica, hoje, busca 
não só identificar o local de uma lesão, mas também a dimensão e o impacto 
cognitivo e comportamental do prejuízo cerebral, possibilitando que futuras 
intervenções promovam a adaptação emocional e social dos pacientes acometidos 
por este tipo de adversidade (COSENZA et al., 2008). 
Camargo et al. (2008) enumeraram diferentes objetivos para os quais uma 
avaliação neuropsicológica pode ser solicitada,a saber: 
1) auxílio diagnóstico; 
2) prognóstico; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 21 
3) orientação para o tratamento; 
4) auxílio no planejamento de reabilitação; 
5) seleção de pacientes para técnicas especiais como cirurgias de risco ou 
medicações de alto custo; 
6) perícia. 
No auxílio diagnóstico uma avaliação neuropsicológica estabelece o 
correlato neuroanatômico com o desempenho cognitivo e funcional observado a 
partir das alterações e manutenções dos mesmos. O objetivo neste caso é 
confirmar e/ou refutar as hipóteses diagnósticas que explicam os sinas e sintomas 
apresentados pelo paciente. Nesse sentido, a avaliação neuropsicológica é de 
grande relevância para o processo de diagnóstico diferencial no qual relatos 
subjetivos das alterações cognitivas não auxiliam para diferenciar entre as diversas 
possibilidades diagnósticas. Por exemplo, em casos de pacientes idosos com 
prejuízos cognitivos cujos resultados dos exames de neuroimagem e dos testes 
laboratoriais são insatisfatórios para explicar as causas dos prejuízos que 
poderiam ser decorrentes de um quadro depressivo ou de uma síndrome 
demencial em fase inicial. 
No que se refere à orientação ao tratamento, a partir dos resultados da 
avaliação neuropsicológica, é possível orientar sobre a melhor intervenção a ser 
oferecida em diferentes contextos, como no educacional, auxiliando no planejamento 
vocacional e da aprendizagem, e na saúde, fornecendo dados que facilitam na 
escolha e execução das intervenções cirúrgicas, medicamentosas e de reabilitação. 
No processo terapêutico, contribui para avaliação da eficácia de tratamento 
farmacológico e de técnicas de reabilitação direcionadas para pacientes 
acometidos por agravos neurológicos. No caso de pacientes acometidos pela 
doença de Alzheimer, por exemplo, a medicação parece eficaz somente até a fase 
intermediária da doença, de forma que reavaliação do funcionamento cognitivo do 
paciente é essencial para demonstrar de forma objetiva se a medicação auxilia no 
sentido de retardar o avanço dos prejuízos ou se, em caso de progressão para 
fase grave, o tratamento farmacológico tornou-se ineficaz (ABRISQUETA-GOMEZ 
et al., 2004). 
A avaliação neuropsicológica também pode ser aplicada e reaplicada ao 
longo do tratamento e ajudar a descrever o impacto de um agravo na condição de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
indivíduos em acompanhamento longitudinal. Além dos prejuízos, a avaliação 
neuropsicológica permite a identificação de domínios cognitivos preservados e/ou 
recuperadas. 
Um exemplo do uso da avaliação neuropsicológica como ferramenta útil no 
prognóstico é em caso de sua aplicação com pacientes epilépticos no pré-
operatório. Segundo Camargo et al. (2008), q , “ êm 
mostrando que quando a avaliação neuropsicológica dá indícios de que as 
alterações cognitivas são bilaterais, ou quando a integridade funcional do 
 m l l , l g ” 
Alguns procedimentos (cirurgias ou tratamentos com medicamentos, por 
exemplo) implicam em algum tipo de risco para o paciente e nestes casos é 
necessária uma forma objetiva de estimar os benefícios e os possíveis prejuízos 
decorrentes de tais procedimentos. Nestes casos, uma avaliação neuropsicológica 
pode auxiliar em um processo de triagem de quais pacientes seriam indicados para 
o procedimento de risco (CAMARGO et al., 2008). 
Os exames neuropsicológicos podem também ser utilizados por 
especialistas da área jurídica para auxílio na tomada de decisão e elaboração de 
documentos em questões legais, tais como: interdições; indenizações; absolvição ou 
detenção em julgamentos; admissão e afastamentos de trabalhadores. 
O planejamento de uma reabilitação neuropsicológica é indicado para os casos 
em que um agravo leva a perda da capacidade do indivíduo para manejar, parcial ou 
completa, sua própria vida e a intervenção sobre os aspectos cognitivos do paciente 
pode levar à recuperação desta capacidade ou à adaptação de como viver com sua 
nova condição. Neste caso, a intervenção é feita junto ao paciente e também à sua 
família. Contudo, um programa de reabilitação deve ser elaborado a partir da 
identificação dos prejuízos e das potencialidades do indivíduo de forma que a avaliação 
do funcionamento cognitivo e funcional preliminar a esta intervenção é obrigatória. 
Os profissionais da neuropsicologia podem atuar também no âmbito da 
pesquisa e contribuir para ampliação dos modelos que visam explicar as 
interações entre o cérebro e o comportamento. Além disso, somente por meio da 
associação entre conhecimentos prático e científico é possível a elaboração de 
materiais e instrumentos para uso clínico, como: testes adequados aos diferentes 
contextos culturais e para diferentes patologias; jogos e programas 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
computacionais para uso com crianças e em pacientes com variadas deficiências; 
e os livros e artigos científicos. 
Dentre os vários propósitos da avaliação neuropsicológica, o diagnóstico é o 
de maior demanda. Entre os acometimentos do sistema nervoso central que levam à 
demanda da avaliação neuropsicológica estão os traumatismos cranioencefálicos 
(TCE), as epilepsias, os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), as demências, as 
desordens metabólicas, as deficiências de vitaminas e as desordens toxicológicas (a 
descrição destes agravos está no Módulo IV deste curso). 
Outra demanda, em geral, para avaliação neuropsicológica infantil está 
associada ao diagnóstico de transtornos do desenvolvimento, em geral, associados 
a déficits de aprendizagem. Este tipo de demanda aparece, com frequência, quando 
a criança está em idade escolar, pois no contexto de aprendizagem são facilmente 
observadas alterações da percepção, da atenção, da memória ou mesmo de 
comportamento e motivação. Hamdan et al. (2011, p. 52) descreve da seguinte 
forma os objetivos da avaliação neuropsicológica voltada para crianças: 
 
Dentro dos objetivos específicos da avaliação neuropsicológica infantil está 
a identificação precoce de transtornos cognitivos e desordens do 
desenvolvimento e, como tal, alterações no processo de aquisição das 
habilidades. O termo precoce deve se entendido como o mais cedo possível 
na história de vida da criança, portanto, dependerá do tipo de 
comprometimento cerebral, da idade e do próprio processo de formação da 
função. [...] A avaliação neuropsicológica infantil deve ser sensível ao 
conjunto dos sinais cognitivo-comportamentais demonstrados durante o 
desenvolvimento da criança, reconhecendo-o como uma desordem do 
processamento neuropsicológico ou não. 
 
No Brasil, vem crescendo a demanda pela neuropsicologia tanto no âmbito 
da avaliação quanto da reabilitação. Na população adulta jovem, principalmente a 
masculina, este aumento é explicando pela incidência crescente de acidentes de 
trânsito que resultam em traumatismo cranioencefálico e na população mais velha, 
meia e terceira idades, a demanda vem do aumento do número de acidentes 
vasculares cerebrais e quadros demenciais que são reflexos do aumento da 
expectativa de vida observada no país. Em resposta a este cenário, instrumentos de 
avaliação neuropsicológica específicos para diagnosticar os agravos comuns nas 
faixas etárias mais velhas vêm sendo amplamente estudados e validados (nos 
Módulos III e IV estão descritos instrumentos mais utilizados e as desordens 
cognitivas mais comuns nesta população, respectivamente). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
No que se refere aos procedimentos práticos de uma avaliação 
neuropsicológica, o profissional deve seguir um roteiro que, apesar das adaptações 
necessárias para atender a faixa etária e a demanda de solicitação da avaliação, 
deve contemplar: 
 Entrevista clínica (anamnese) para investigar os seguintes aspectos: 
o Histórico clínico e do surgimento da patologia ou queixas que 
levaram a solicitaçãoda avaliação; 
o Medicações em uso; 
o Funcionamento cognitivo prévio. 
 Escolha e aplicação de testes e escalas: 
o Testes para avaliação do desempenho cognitivo global; 
o Testes para avaliação de cada domínio cognitivo; 
o Escalas e testes para avaliação humor; 
o Escalas para avaliação da capacidade funcional. 
 Escolha e aplicação de outras ferramentas diagnósticas: 
o Exames de neuroimagem (tomografia computadorizada, 
ressonância magnética, spect); 
o Observação do comportamento em ambiente real; 
o Relatos de informantes que convivam com o paciente. 
 
Para escolha dos testes a serem utilizados em uma avaliação 
neuropsicológica, o avaliador deve considerar os seguintes aspectos: 
 Objetivo da avaliação. Quando o objetivo é diagnóstico, por exemplo, o 
examinador vai selecionando os testes para confirmar e/ou descartar as 
hipóteses diagnósticas que são elaboradas ao longo das sessões de 
avaliação; 
 Testes adequados à idade e à escolaridade do indivíduo a ser avaliado; 
 Testes validados e adaptados para a cultura da população a ser 
avaliada; 
 Normas para aplicação e pontuação. O examinador, principalmente se 
inexperiente, deve preferir testes de fácil acesso e nos quais possua domínio 
para aplicação; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
 Formação do examinador. Alguns testes são de uso exclusivo dos 
profissionais de psicologia. Informações sobre teste podem ser obtidas no 
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos do Conselho Federal de 
Psicologia (SATEPSI, 2013). 
 
Além da escolha dos testes, existem condições situacionais que podem 
interferir na testagem e, portanto, precisam ser controladas. São exemplos: 
 Instruções do examinador pouco objetivas ou com incentivo 
desnecessário; 
 Luminosidade, temperatura e conforto do ambiente de testagem; 
 Interrupções e ruídos no momento da testagem; 
 Condições do examinando no momento da testagem. Efeitos de 
medicação, alterações do sono, estado emocional ansioso e mal estar físico 
podem interferir na resposta e disposição do examinando, modificando o 
desempenho em relação ao seria expresso na ausência destas condições. 
 
Finalmente, é importante destacar que diversos fatores podem influenciar no 
desenvolvimento e no aprimoramento das funções cognitivas que devem ser 
considerados como influentes no desempenho pré-mórbido e também como fontes 
de reserva cognitiva. Alguns destes fatores incluem: 
 O contexto socioeconômico, histórico e cultural; 
 As oportunidades educacionais e de trabalho; 
 Interações e atuações sociais; 
 Interesses pessoais; 
 Ambiente reforçador ou inibidor da capacidade individual. 
 
A investigação destes fatores pode ser incluída como parte do roteiro de 
avaliação neuropsicológica. Trata-se de informações que podem ser facilmente 
obtidas, por meio de entrevista semiestruturada, com o próprio paciente ou com um 
informante quando houver prejuízos que incapacitem o próprio paciente de fornecê-
las. Estas informações adicionais podem complementar o relatório de avaliação, 
principalmente, quando o objetivo é o de fornecer suporte para elaboração de um 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26 
programa de reabilitação neuropsicológica que visa à recuperação do desempenho 
cognitivo global ou específico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO I 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
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 28 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO II 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 29 
 
 
MÓDULO II 
 
 
3 FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS 
 
 
3.1 BASES ANATÔMICO-FUNCIONAIS DAS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS 
 
 
O funcionamento cognitivo pode ser avaliado por meio da mensuração de 
habilidades como a memória, a atenção, a linguagem, as habilidades 
visuoconstrutivas, as funções executivas e demais capacidades associadas à 
cognição, como a concentração, a compreensão, o raciocínio, a aprendizagem e a 
velocidade de processamento de informação. Essas habilidades correspondem a 
um sistema complexo que funciona a partir de redes de conexões das diversas 
regiões cerebrais. 
O sistema nervoso está dividido em sistema nervoso periférico e sistema 
nervoso central. O sistema nervoso central é responsável pela recepção de 
estímulos e comanda as respostas que deverão ser dadas a partir dos estímulos 
recebidos. O sistema nervoso periférico é constituído por vias que conduzem os 
estímulos ao sistema nervoso central e, ao contrário, vias que levam até os órgãos 
os comandos vindos do sistema central. 
O sistema nervoso periférico se divide em: nervos; gânglios e terminações 
nervosas. O sistema nervoso central divide-se em encéfalo e medula espinhal. O 
encéfalo, por sua vez, é formado por: telencéfalo (hemisférios cerebrais); diencéfalo 
(tálamo e hipotálamo); cerebelo; e tronco encefálico (mesencéfalo, ponte e bulbo). A 
disposição desta estrutura com suas partes e seus respectivos componentes pode 
ser vista na Figura 7. 
No diencéfalo, o tálamo é responsável pela condução dos impulsos às 
regiões apropriadas do cérebro e o hipotálamo é o principal integrador das 
atividades dos órgãos viscerais, da homeostase corporal (sistema endócrino, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
controle de temperatura, apetite, hidratação, sono, emoção e comportamento 
sexual). Além disto, é área central do sistema límbico (que será detalhado mais à 
frente, ainda neste módulo). 
 
 
FIGURA 7 - ILUSTRAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL 
 
FONTE: Centro Studi Disturbi Specifici dell'Apprendimento, 2013. 
 
 
No encéfalo são processadas as diversas funções nervosas que vão desde 
a interpretação dos estímulos e os movimentos musculares até complexos 
processos de armazenamento de informações e aspectos da personalidade. A 
região do cerebelo é a responsável pelos movimentos musculares e pelo equilíbrio 
do corpo. Por ele também passa a memória de habilidades motoras (memória de 
procedimento). O tronco encefálico corresponde à sede de funções associadas a 
atividades involuntárias e é também a sede das emoções. A medula espinhal, com 
seus pares de nervos espinhais, é por onde passam os impulsos nervosos que 
levam os comandos do encéfalo para todo o corpo. O bulbo é responsável pelo 
controle da vida vegetativa (batimentos cardíacos, respiração, pressão sanguínea, 
salivação, tosse, espirros e o ato de engolir, etc.). A ponte transmite impulsos ao 
cerebelo, além de participar de algumas atividades do bulbo. O mesencéfalo auxilia 
em funções como a visão, audição, movimentos dos olhos e movimentos do corpo. 
 
Cerebelo 
Medula 
Espinhal 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
O encéfalo é protegido pelo crânio e a medula espinal pela coluna vertebral. 
Após esta proteção óssea, existe ainda uma proteção formada por tecido conjuntivo, 
são as meninges, organizadas em três camadas: a dura-máter, a aracnoide e a pia-
máter. Entre a aracnoide e a pia-máter está o líquido cefalorraquidiano (líquor), que 
é produzido dentro dos ventrículos cerebrais e, na ausência de patologia, flui de um 
ventrículo ao outro, e então para fora do cérebro, por meio da medula espinhal. Se 
houver alguma obstrução das vias de drenagem do líquor, o fluido se acumula no 
cérebro, causando um inchaço conhecido como hidrocefalia. Em bebês, ocorre um 
alargamento da cabeça; nascrianças mais velhas e em adultos, não ocorre esse 
alargamento porque os ossos do crânio já estão unidos e impedem essa expansão 
do fluido. 
A maior parte do encéfalo é composta pelo telencéfalo, que se divide em 
dois hemisférios: o hemisfério direito (HD) e o hemisfério esquerdo (HE). Estes 
hemisférios estão unidos pelo corpo caloso, uma estrutura composta de fibras 
nervosas separadas por uma lâmina de dura-máter, a foice cerebral. 
Atualmente, sabe-se que existe uma lateralização do hemisfério cerebral, 
isto é, ocorre uma dominância de um hemisfério sobre o outro. Algumas funções são 
facilmente diferenciadas por hemisfério, como a linguagem, gnosia (capacidade de 
interpretar estímulos sensoriais) e a praxia (realização de atos motores complexos). 
Assim, no HE fica o controle de habilidades como: linguagem; raciocínio lógico; de 
padrões gerais de comportamentos; destreza manual; e demais membros do lado 
direito do corpo etc. O HD é responsável pela resposta a estímulos inesperados; 
pelo processamento de informação visuoespacial e não verbal; e pela habilidade de 
reconhecer faces. 
As superfícies dos hemisférios cerebrais estão divididas em estruturas 
chamadas de giros que são delimitadas por depressões chamadas de sulcos. Além 
disto, os hemisférios estão dispostos em grandes regiões ou lobos (ver Figura 8). 
Estes lobos são: o frontal, o parietal, o temporal, o occipital e a ínsula (localizada na 
parte interna do cérebro). Os sulcos são: sulco central (entre o lobo frontal e o 
parietal), sulco lateral ou de Sylvius (entre os lobos temporal, frontal e parietal) e 
sulco parieto-occiptal (entre o parietal e o occiptal). 
 
 
 
 
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 32 
 
 
FIGURA 8 - LOBOS CEREBRAIS 
 
FONTE: Imagem por Bridgeman Art Library V. Corel Corp, 1918, 
sob licença Creative Commons Attribution 
 
 
As funções gerais dos lobos cerebrais foram descritas por Machado (1988), 
conforme apresentado na Figura 9, e podem ser resumidas da seguinte maneira: 
a. lobo frontal – funções de planejamento de ações estão associadas área 
pré-frontal e controle de movimentos sob responsabilidade do córtex e da 
área pré-motora localizada neste lobo; 
b. lobo temporal – processamento das informações auditivas, pois nele 
situa-se a área auditiva primária; funções da linguagem na área de 
Wernicke; processamento da informação visual ocorrem em suas porções 
inferiores e ainda funções associadas a aprendizagem e memória ocorrem 
na parte mais medial deste lobo. Divide os lobos temporal e frontal, destaca-
se a fissura de Sylvius, esta área é conhecida como “zona da linguagem 
perisylviana”; 
2) lobo parietal – recebe as informações sensoriais vindas do meio externo 
(por exemplo, dor e temperatura) e interpreta estas informações; 
3) lobo occipital – associado à visão, nele estão situadas as áreas visual 
primária e visual de associação; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
4) lobo da ínsula – está envolvido no processamento de estímulos 
emocionais e respostas fisiológicas. 
 
 
FIGURA 9 - FUNÇÕES MENTAIS DOS LOBOS CEREBRAIS 
 
FONTE: Ângelo Machado: Neuroanatomia Funcional, 1988. 
 
 
O sistema límbico é formado por diferentes estruturas cerebrais (Figura 10), 
que em conjunto atuam no controle das emoções. Além disto, este sistema atua de 
forma secundária no processo de aprendizado e no auxílio ao sistema endócrino. 
Entre as principais funções do sistema límbico, de acordo com suas 
estruturas, estão (MARTIN, 1998): 
1) hipotálamo – atua na regulação do sono, na libido, controle do apetite e 
na manutenção da temperatura do corpo. Esta estrutura, juntamente com a 
hipófise, auxilia nas funções do sistema endócrino; 
2) corpos mamilares – associa-se ao hipotálamo para regular os reflexos 
alimentares, como a deglutição; 
3) tálamo – as percepções táteis, visuais, auditivas e gustativas são 
processadas nesta estrutura, por onde também passam as sensações de 
dor, temperatura e a pressão do ambiente; 
 
 
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 34 
4) giro cingulado – é a região de processamento de odores e também de 
alguns estímulos visuais; 
5) amígdala – é a região que percebe o perigo e, portanto, associadas as 
sensações de medo e ansiedade. As amígdalas também estão associadas 
ao processamento das memórias emocionais; 
6) hipocampo – é a estrutura responsável pela memória recente. 
 
 
FIGURA 10 - ESTRUTURAS PRINCIPAIS DO SISTEMA LÍMBICO 
 
 
FONTE: John H Martin: Neuroanatomia. Texto e Atlas, 1998. 
 
 
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 35 
O sistema nervoso é constituído pela substância branca e a substância 
cinzenta (ver Figura 11). A substância branca é encontrada, principalmente, na parte 
interna da região cerebral e nela estão localizados os axônios. A substância cinzenta 
corresponde à camada mais externa do cérebro e nela estão os corpos celulares 
dos neurônios. 
Os neurônios são as células do tecido nervoso responsáveis por 
transmissão de impulsos elétricos. São compostos de três partes (corpo celular, 
dendritos e axônios), cada uma com uma função específica. A estrutura do neurônio 
(Figura 12) é composta por: corpo celular, onde ocorre a síntese proteica; dendritos, 
que são ramificações cuja principal função é receber estímulos; e axônios, que são 
prolongamentos que se originam, em geral, do corpo celular e por meio deles são 
transmitidos os impulsos (LEVADA, 1996). A porção terminal do axônio sofre várias 
ramificações formando milhares de terminais onde ficam armazenados os 
neurotransmissores. Ao redor do axônio são encontradas as “bainhas de mielina”, 
responsáveis por acelerar o transporte de impulsos elétricos. 
 
 
FIGURA 11 - VISTA LATERAL DO CÉREBRO HUMANO DISSECADO 
POSSIBILITANDO VISUALIZAÇÃO DE SUBSTÂNCIAS BRANCA E CINZENTA 
 
FONTE: John A. Beal, 2005, sob licença Creative Commons Attribution. 
 
 
 
 
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 36 
As áreas do córtex são divididas em áreas primárias, correspondem às 
regiões, sensitiva primária e motora primária, e em áreas de associação secundária 
e terciária. As áreas de associação secundária recebem informações das áreas 
primárias e as repassam para outras áreas do córtex, enquanto as áreas de 
associação terciária recebem e integram informações sensoriais que já passaram 
por processamento nas áreas secundárias (MACHADO, 1988). 
As áreas de associação primária do cérebro, segundo Seeley et al. (2006), 
podem ser vistas na Figura 13, e suas principais funções estão resumidas na Tabela 1. 
 
 
FIGURA 12 - ILUSTRAÇÃO DO NEURÔNIO E SUAS PARTES 
 
FONTE: Adaptado de Levada et al., 1996. 
 
 
FIGURA 13 - REGIÕES FUNCIONAIS DO HD DO CÓRTEX CEREBRAL
 
FONTE: Adaptado de Seeley et al, 2006, p. 210. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
 
 
TABELA 1 - ÁREAS CORTICAIS E SUAS PRINCIPAIS FUNÇÕES 
Área Cortical Função 
Córtex Motor Primário Iniciar o comportamento motor 
Córtex Somatosensorial 
Primário 
Receber informação tátil (vibração, temperatura, dor, 
etc.) 
Córtex Pré-frontal Planejamento, emoção, julgamento 
Córtex de Associação 
Motor 
Coordenar movimento complexo 
Centro da Fala (Área de 
Broca) 
Produção e articulação da fala 
Córtex Aditivo Detectar a intensidade do som 
Área de Associação 
Auditiva 
Processar informação auditiva 
Área de Associação 
Somestésica 
Processar informação multissensoriais 
Área de Associação 
Visual 
Processar as informações visuais, percepção do 
movimento 
Córtex Visual Recepção de estímulos visuais 
Área de Wernicke Compreensão da linguagem falada e escrita 
 
 
 
O declínio ou perda das habilidades cognitivas podem ocorrer em função de 
determinantes genético-biológicos, ambientais ou situacionais que impliquem em 
prejuízos neurológicos, sensoriais e/ou psicomotores que serão caracterizados de 
acordo com a região cerebral afetada. Algumas vezes, as perdas cognitivas ocorrem 
sem resultar na incapacidade do indivíduo para realizar atividadesdo dia a dia, 
como ocorre, por exemplo, com as alterações decorrentes do processo normal de 
envelhecimento cerebral onde a redução do número de células neuronais implica na 
redução do processamento de informação e declínio da memória operacional sem 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
que o indivíduo deixe de fazer qualquer atividade diária que já realizava (RAZ, 
1999). Por outro lado, na presença de quadros patológicos (tema do Módulo IV 
deste curso), as perdas cognitivas acontecem em intensidade maior, provocadas por 
alterações significativas do sistema nervoso central, e resultam em graves prejuízos 
funcionais (CANÇADO; HORTA, 2002). 
 
 
3.2 MEMÓRIA E APRENDIZAGEM 
 
 
A memória corresponde à função do sistema nervoso que permite a 
retenção das informações/percepções para utilização posteriormente. O processo de 
memorização pode ser entendido como o resultado da consolidação de um 
conhecimento ou comportamento, que podem ser resgatados quando necessários 
(IZQUIERDO, 2011). Contudo, nem toda informação precisa ser armazenada por 
longo período de tempo. A memória de curto prazo corresponde à capacidade de 
manter alguma informação consciente durante um pequeno intervalo de tempo e 
memória de longo prazo implica no armazenamento ilimitado de informações que 
são armazenadas por longo período de tempo. 
O processo de memorização ocorre a partir de três estágios (IZQUIERDO, 
2011): 
1) codificação ou percepção – consiste em receber as informações por 
meio dos órgãos sensoriais e criar padrões de assimilação das mesmas; 
2) armazenamento ou retenção – implica na manutenção das informações, 
isto é, registros que são produzidos a partir da modificação das redes 
neurais; 
3) recuperação ou evocação – corresponde à utilização do que foi 
armazenado, ou seja, é o processo de lembrar aquilo que foi registrado. 
A organização da memória se dá por diferentes subsistemas, cada um 
envolvido em um tipo diferente de informação a ser armazenada. Estes subsistemas 
estão descritos a seguir com exemplos que ajudam a entendê-los. 
A memória operacional engloba, além do armazenamento, a manipulação de 
informações. Trata-se de uma memória de curto prazo, isto é, a informação é retida 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
por um curto período de tempo, e que envolve participação consciente no processo 
de escolha e manipulação das informações a serem lembradas (BERTOLUCCI, 
2000). Um exemplo desse tipo de operação é a realização de cálculos feitos 
mentalmente (sem o uso de papel e lápis para visualizar os números). A memória 
operacional também é chamada de memória de trabalho, mas este é um termo mais 
recomendado pelos especialistas e foi empregado no português em função de uma 
tradução literal do termo em inglês working memory. 
O termo memória imediata é, em geral, utilizado para falar do 
armazenamento de informações que dura apenas alguns segundos e não implica na 
manipulação das informações como ocorre com a memória operacional. Contudo, 
algumas vezes a memória imediata aparece na literatura citada como correlato da 
memória operacional. 
O tempo de armazenamento da memória operacional é apenas o suficiente 
para que a informação seja utilizada para conclusão de uma tarefa. Depois de 
concluído o procedimento que demandava a informação armazenada, ela é 
descartada (BERTOLUCCI, 2000). O processo de repetição e atenção é o que 
garante a manutenção deste tipo de memória e pode aumentar o tempo de 
armazenamento da mesma, mas não a torna permanente. Quando a informação 
precisa ser armazenada para além do cumprimento de uma tarefa ela passa a ser 
uma memória de longo prazo. 
A memória de longo prazo é dividida em memória explícita ou declarativa e 
memória implícita ou não declarativa. A memória explícita corresponde ao 
armazenamento e à recordação de eventos, de lembranças que podem ser 
declaradas verbalmente ou com a lembrança de imagens do fato ocorrido (BUENO; 
OLIVERIA, 2004). 
A memória explícita está subdivida em memória semântica e memória 
episódica. A semântica envolve o conhecimento de fatos que não estão 
temporalmente delimitados, isto é, o indivíduo não é capaz de identificar em que 
momento adquiriu determinada informação. Trata-se da memória de conceitos, de 
conhecimentos gerais sobre o mundo adquiridos ao longo da vida. A memória 
episódica é relacionada ao tempo, e a memória dos acontecimentos da vida 
conhecida como a memória autobiográfica, embora não se restrinja aos eventos 
pessoais (BUENO; OLIVERIA, 2004). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
A memória implícita envolve o armazenamento de habilidades motoras e 
condicionadas que exigem a participação consciente para que sejam emitidas, 
isto é, não é necessário pensar nelas ou declará-las verbalmente para emissão 
do conhecimento aprendido. Fazem parte da memória implícita as memórias 
obtidas por condicionamento, como: memórias de procedimento; memórias 
associativa e não associativa; e memória de representação perceptual (BUENO; 
OLIVERIA, 2004). 
A memória de procedimento envolve toda habilidade e comportamentos 
habituais como, por exemplo, escovar os dentes e andar de bicicleta. As memórias, 
associativa e não associativa são àquelas obtidas por condicionamento clássico, 
como aprendizados obtidos a partir da exposição a estímulo associados (BUENO; 
OLIVERIA, 2004). Por exemplo, uma sirene pode ser um alerta para o qual nosso 
reflexo seria ficar atento à fonte que causou o barulho, contudo, se a sirene ocorrer, 
frequentemente, em seu ambiente e não exigir reação, sem que você se dê conta 
conseguirá ouvi-la e ignorá-la de forma automática, pois um armazenado da 
memória implícita indica que este barulho corresponde a algo a ser ignorado e não a 
um alerta que demanda resposta. A memória de representação perceptual 
corresponde àquelas memórias para as quais podemos não ter registros 
padronizados, mas permitem algum tipo de reconhecimento evocado por “pistas” 
(priming). Por exemplo, fragmentos de imagens, odores, sons, partes de um texto 
podem ser armazenados mesmo sem que sejam estabelecidas conexões completas 
sobre esta informação, ou seja, mesmo sem saber o que é ou para que serve algo é 
possível armazená-lo em nossa memória de representação perceptual. 
Os subsistemas da memória de longo prazo, bem como as diferentes 
regiões cerebrais envolvidas em cada um deles, foram resumidos no esquema de 
Helene e Xavier (2003), apresentado na Figura 14. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 41 
 
 
FIGURA 14 - TAXONOMIA DOS SISTEMAS DE MEMÓRIA DE LONGO PRAZO 
 
FONTE: Helene e Xavier: Com Ciência, 2004. 
 
 
A estratégia mais utilizada para consolidação das novas informações é a 
repetição. Outra técnica mnemônica bastante empregada em treinos de memória é a 
associação de uma informação nova com outra informação já consolidada. Um 
exemplo é o que ocorre em situações sociais, nas quais se é apresentado a alguém 
e, para lembrar-se mais facilmente do nome desta pessoa, busca-se associá-la a 
outra pessoa já bem conhecida que tenha o mesmo nome. Outro mecanismo que 
vem sendo demonstrado como capaz de aumentar a consolidação de memórias é a 
associação das emoções no momento de codificação das novas informações ou 
novos acontecimentos. 
Vem sendo descrito na literatura que um conteúdo carregado de emoções, 
sejam elas positivas ou negativas, é mais facilmente evocado que os conteúdos sem 
emoção. A explicação para memória emocional parece estar nos componentes 
neuroanatômicos envolvidos no processo de memorização. A amígdala – estrutura 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 42 
do lobo temporal medial – parece ser a responsável por modular alguns conteúdos 
da memória declarativa conferindo-lhes uma espécie de alerta, um destaque 
(BUENO; OLIVERIA, 2004). As experiências de caráter afetivo seriam processadas 
na fase de codificação via amígdala, que lhes confere uma facilitaçãona percepção. 
Assim, no momento da evocação estas lembranças emocionalmente armazenadas 
estariam mais vívidas que aquelas não processadas no sistema límbico. 
 
 
3.3 ATENÇÃO 
 
 
Sternberg e Osório (2000) definiram a atenção como “fenômeno pelo qual o 
ser humano processa ativamente uma quantidade limitada de informações de 
enorme montante de informações disponíveis através dos órgãos dos sentidos, de 
memórias armazenadas e de outros processos cognitivos”. 
A atenção pode ser entendida a partir de suas diversas funções: 
 função seletiva – permite o processamento de uma fonte de informação 
em detrimento de outras fontes das quais o indivíduo está exposto 
simultaneamente; 
 função de atenção dividida – permite o processamento simultâneo de 
mais de uma fonte de informação. Utilizada quando mais de uma tarefa tem 
que ser executada ao mesmo tempo; 
 função interruptora da atenção – possibilita um processamento alternado 
entre uma fonte e outra de estimulação; 
 função sustentadora ou concentrada da atenção – envolve focar em uma 
única fonte de informação por longo período de tempo. 
Diversas teorias foram elaboradas para explicar como funcionam processos 
atencionais e alguns efeitos foram demonstrados como interferentes, dos quais 
podemos citar: o efeito coquetel, o efeito Stroop e o efeito de pistas. 
O efeito coquetel explica o processo de atenuação no sistema atencional da 
entrada de estímulos não relevantes para que estes não interfiram no 
processamento dos estímulos relevantes, sem, contudo, bloquear completamente os 
estímulos considerados não relevantes (NABAS; XAVIER, 2004). A relevância do 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 43 
estímulo é influenciada pelo significado que os estímulos têm para quem o processa. 
Então, por exemplo, na situação onde uma pessoa focada em conversa escuta seu 
nome em uma conversa paralela, da qual não está participando, imediatamente o 
sistema atencional o filtra como informação relevante, à qual precisa responder. O 
próprio nome é sempre tido como estímulo relevante pelo sistema atencional pelo 
significado que a história de vida atribuiu a este estímulo. 
O efeito Stroop evidencia que estímulos sobrepostos influenciam no 
processo atencional resultando na redução da velocidade de processamento das 
informações e, consequente aumento do tempo de resposta. No teste de Stroop 
(1935) observa-se que ao solicitar ao respondente que diga em voz alta a cor com a 
qual uma palavra está escrita (estímulo a ser focado), o tempo de resposta é maior 
quando a palavra colorida (estímulo a ser ignorado) é o nome de uma cor diferente 
daquela que deve ser mencionada (resposta esperada), por exemplo, a palavra 
“verde” escrita na cor vermelha demanda a reposta vermelho, mas para emiti-la o 
respondente tem que inibir o estímulo verde dado pela palavra escrita. 
O efeito das pistas visuais é observado quando, diante de pistas visuais, 
ocorre uma melhora do tempo de resposta atencional que pode ser explicada pelo 
aumento do tempo de alerta diante de um estímulo visual (uma pista) (NABAS; 
XAVIER, 2004). Um exemplo dos benefícios dos efeitos das pistas para melhora no 
tempo de resposta é o uso de placa de advertência nas rodovias onde o motorista 
ao visualizar a placa (pista) fica alerta e responderá mais prontamente ao estímulo 
que virá adiante (curvas, desvios, etc.) do que responderia se não houvesse a placa 
de advertência. 
O funcionamento da atenção relaciona-se com o de outras funções 
cognitivas. Desta forma, prejuízos atencionais podem resultar na alteração de outras 
funções cognitivas e vice-versa. No caso da memória, por exemplo, a atenção é 
imprescindível no momento da seleção da informação a ser armazenada e lembrada 
posteriormente (NABAS; XAVIER, 2004). 
Prejuízos nas funções executivas também podem estar associados a 
alterações da atenção como distração, perseveração, suscetibilidade para intrusão, 
lentidão das reações aos estímulos, dificuldade da manutenção em um único foco e 
na inibição de estímulos irrelevantes (LEFEVRE; PORTO, 2006). 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 44 
Alterações da atenção relacionadas ao aumento da idade são citadas como 
a base para diversas ineficiências cognitivas entre idosos e podem resultar em 
dificuldades na realização das tarefas diárias (BERTOLUCCI, 2000). Além disto, 
alguns mecanismos gerais que mostram declínio associado à idade e podem 
interferir na atenção são: 
 a diminuição da velocidade de processamento da informação; 
 a piora na memória de trabalho; 
 os déficits sensoriais como diminuição da acuidade visual e auditiva. 
 
 
3.4 FUNÇÕES EXECUTIVAS 
 
 
As funções executivas – também conhecidas como funções de supervisão, 
funções frontais ou funções de controle e sistemas superiores – estão implicadas na 
capacidade de regulação do processamento da informação e envolvem o controle 
voluntário e consciente por parte do indivíduo, que pode escolher como quer agir 
sobre o meio em que vive (SANTOS, 2005). São muitas as habilidades que fazem 
parte do funcionamento executivo, entre elas podemos citar: iniciação, planejamento, 
produção de hipóteses e elaboração de um objetivo; resolução de problemas; 
flexibilidade cognitiva; regulação; julgamento; tomada de decisão; síntese, inibição e 
autopercepção do que é adequado segundo normas de conduta social. 
Os lobos frontais, especificamente as regiões pré-frontais, correspondem às 
estruturas cerebrais associadas às funções executivas. 
Santos (2005), em sua revisão sobre as funções executivas, apresentou um 
resumo de diferentes desordens relacionadas aos lobos frontais e seus principais 
prejuízos (ver Quadro 1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 45 
 
 
QUADRO 1 - FUNÇÕES E DESORDENS 
RELACIONADAS AOS LOBOS FRONTAIS 
Áreas cerebrais Córtex pré-central Córtex pré-motor Córtex pré-frontal 
Funções Mediação de 
movimentos; 
movimentos 
voluntários 
Integração de atos 
motores e 
sequências 
aprendidas 
Planejamento e 
análise das 
consequências de 
ações futuras 
Síndromes Motora rolândica pré-motora Frontal 
Prejuízos por 
lesões 
1) Redução da 
força e dos 
movimentos; 
2) paralisia de 
partes do corpo 
correspondente a 
parte lesionada; 
3) Redução da 
habilidade de 
contração 
muscular. 
1) Habilidades 
motoras; 
2) movimentos 
descontínuos ou 
incoordenados; 
3) Interrupção da 
integração de 
comportamentos 
motores para atos 
complexos. 
1) Afeto, humor e 
funcionamento 
cognitivo; 
2) 
Comportamento 
social; 
3) Alteração da 
personalidade e 
da conduta; 
4) Movimentos. 
FONTE: Santos, 2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 46 
 
 
3.5 RACIOCÍNIO E LINGUAGEM 
 
 
A linguagem corresponde à função cognitiva que permite a compreensão e a 
comunicação entre pessoas, é o que permite ao ser humano expressar ideias, 
necessidades, lembranças. Dentre as funções cognitivas, a linguagem foi a que mais 
despertou o interesse dos primeiros estudiosos em neurociências e a que mais 
demarcou a história da neuropsicologia, como demonstraram os relatos de afasia de 
Paul Broca e de Wernicke (descritos no Módulo I desta apostila). 
Segundo Mansur (2010), no contexto da neuropsicologia, a avaliação da 
linguagem deve ser feita a partir de seus componentes linguísticos, cognitivos e 
sociais. O componente cognitivo refere-se à habilidade de transformar em 
conhecimento as percepções obtidas do ambiente; o componente linguístico inclui 
os aspectos fonológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos da língua; o 
componente social está associado ao uso da linguagem nas interações 
comunicativas e inclui as expressões faladas e percebidas. 
A maioria dos instrumentos disponíveis para avaliação da linguagem busca 
avaliar, principalmente, habilidades linguísticas, associadas ao processamento da 
linguagem no hemisfério cerebral esquerdo (hemisfério dominante),pois prejuízos 
de linguagem são em grande parte resultantes de lesões nesta área cerebral. A 
avaliação diagnóstica é, frequentemente, solicitada para identificar o tipo de afasia. 
Então, os testes de habilidades linguísticas, orais e escritas, precisam mensurar os 
seguintes aspectos: fala espontânea; fluência; nomeação; repetição; escrita; e leitura 
para verificar a compreensão de palavras, frases e textos. Por outro lado, para 
avaliação das alterações resultantes de lesão do hemisfério direito (HD) serão 
necessárias tarefas que identifiquem dificuldades relacionadas à interpretação das 
informações gerais ou não literais de um texto. Em pacientes com lesão no HD 
pode-se observar, por exemplo, dificuldades na compreensão da moral da história. 
Para avaliação da linguagem, Pagliarin et al. (2012, p. 215) apontam a 
combinação de três classes de instrumentos, a saber: 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 47 
 
1) instrumentos não padronizados, 2) instrumentos padronizados de 
avaliação do desempenho comunicativo e 3) escalas de mensuração da 
linguagem funcional. Essas três classes de instrumentos de avaliação 
neuropsicológica da linguagem podem ser subdivididas em formais ou 
funcionais, a partir do grau de aproximação com o dia a dia da 
comunicação. Os instrumentos de avaliação formal da linguagem podem ser 
considerados mais artificiais. Isso porque avaliam a linguagem com tarefas 
distantes do dia a dia comunicativo dos pacientes. As avaliações funcionais 
da linguagem complementam as formais. São constituídas por subtestes ou 
itens que examinam a linguagem funcional, ou seja, consistem em 
avaliações orientadas para a demanda comunicativa da vida diária dos 
pacientes que sofreram lesões cerebrais. 
 
Para mensuração de alguns dos aspectos da linguagem, o avaliador conta 
com testes padronizados para uso no Brasil (descritos no Módulo III desta apostila) 
para outros aspectos são necessárias avaliações qualitativas e informais dos 
mesmos. Em alguns tipos de prejuízos de linguagem, como em comprometimento 
grave decorrente de alguma afasia, a aplicação dos testes objetivos é inviável e a 
observação das formas de comunicação empregadas pelo paciente em seu 
cotidiano, bem como o relato de informantes/cuidadores, é essencial. 
 
 
3.6 PERCEPÇÃO E FUNÇÕES VISUOESPACIAIS E CONSTRUTIVAS 
 
 
A habilidade visuoconstrutiva – reconhecida também como praxia 
construtiva – trata da capacidade de juntar/manipular estímulos físicos ou de 
realizar certos movimentos, de forma a organizá-los ou adaptá-los a determinado 
fim. A realização de um ato, mesmo que habitual, envolve diversas operações 
mentais e motoras. Os déficits dessa função são chamados dispraxias, sendo o 
grau mais elevado dessa disfunção conhecido como apraxia, comum nas fases 
avançadas das demências. 
Segundo Dassen e Fustinoni (1955), as etapas envolvidas na execução de 
um ato são: 
1) reconhecimento do objeto ou instrumento que será empregado no ato; 
2) decisão sobre o uso do objeto; 
3) evocação de cada movimento necessários para cumprir o ato; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 48 
4) execução da série de movimentos elementares que integram um ato 
(chamada fórmula cinética global do movimento). 
Alterações das habilidades visuoconstrutivas podem ocorrer sem que 
prejuízos do funcionamento visuoperceptivo estejam presentes, de forma que os 
testes neuropsicológicos devem ser empregados para distinguir entre alterações 
sensoriais, apraxias, desorientação espacial e dificuldades atencionais e/ou 
resultantes da motivação (LEFEVRE; PORTO, 2006). No caso de apraxia, por 
exemplo, ocorre uma disfunção da motricidade que não pode ser explicada por 
paralisia, fraqueza muscular ou prejuízo na compreensão sobre o que se deve fazer. 
O declínio ocorre nas habilidades de planejamento, organização e execução da 
sequência correta para concluir o ato desejado. As desordens cognitivas estão 
detalhadas por função cognitiva no Módulo IV deste curso. 
 
 
 
 
 
FIM DO MÓDULO II 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 49 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 50 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO III 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este 
Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do 
mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são 
dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 51 
 
 
MÓDULO III 
 
 
4 BATERIAS DE TESTES BÁSICOS E ESPECÍFICOS 
 
 
Testes de desempenho global em geral são utilizados para rastreio e 
impressões gerais sobre o desempenho cognitivo de um indivíduo, portanto, não 
substituem as avaliações amplas e específicas que buscam detalhar o desempenho 
de um indivíduo em cada função cognitiva, em geral, com objetivo de estabelecer 
diagnóstico. As testagens feitas somente com uso de testes breves, de rastreio, 
podem resultar em falsos negativos ou apresentar resultados limítrofes e 
inconclusivos, que tidos como verdadeiros impedem ou diminuem as chances de 
realização de diagnósticos precoces que seriam possíveis com a aplicação de uma 
avaliação neuropsicológica detalhada. 
 
 
4.1 TESTES PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO COGNITIVO GLOBAL 
 
 
4.1.1 Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUPSILIN) 
 
 
O NEUPSILIN é um instrumento utilizado para descrever o desenvolvimento 
neuropsicológico de pessoas com idade entre 12 e 90 anos. Pode ser útil para 
aplicação na clínica e no contexto hospitalar, pois é breve e de fácil aplicação. O 
instrumento é composto de 32 subtestes que avaliam as seguintes funções cognitivas: 
orientação temporal e espacial; atenção concentrada; percepção visual; habilidades 
aritméticas; linguagem oral e escrita; memória verbal (de trabalho, episódica, 
semântica, prospectiva) e visual (reconhecimento); praxias; funções executivas. Foi 
desenvolvido pelo Núcleo de Estudos em Neuropsicologia Cognitiva (NEUROCOG), 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 52 
em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e 
a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) (FONSECA et al., 2009). Uma 
versão para uso em crianças vem sendo estudada (SALLES et al., 2011). 
O instrumento deve ser utilizado para levantamento do perfil do paciente de 
forma a descrever as funções preservadas e aquelas com comprometimento, 
fornecendo uma base para a avaliação neuropsicológica mais aprofundada. 
 
 
4.1.2 Miniexame do Estado Mental (MEEM) 
 
 
O MEEM é um dos instrumentos de avaliação do funcionamento cognitivo 
global mais utilizados no contexto clínico e de pesquisa para rastreio de perda 
cognitiva em adultos e, principalmente, idosos. Trata-se de um conjunto de testes 
simples, de rápida aplicação e de baixo custo. Este instrumento avalia os seguintes 
domínios cognitivos: 
1) orientação temporal – perguntando ao respondente o dia do mês, dia da 
semana, mês, ano, hora (cinco pontos); 
2) orientação espacial – perguntando sobre o local específico, o local 
genérico, o bairro, a cidade o estado no qual ele está (cinco pontos); 
3) memória imediata e evocação – solicitando o registro e evocação tardia 
de três palavras (seis pontos); 
4) atenção e cálculo – solicitando subtrações sucessivas a partir de “100 – 
7” (cinco pontos); 
5) praxia – solicitando-se ao respondente que pegue uma folha com a mão 
direita, dobre-a ao meio e a jogue no chão; 
6) linguagem e compreensão – solicitando-se ao respondente que nomeie 
objetos que lhe são apresentando(um relógio e uma

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