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/ DEFINIÇÃO Introdução às Neurociências. Organização morfofuncional e desenvolvimento do Sistema Nervoso Central (SNC). Funcionamento neuropsicológico e integração cerebral. Imagiamento do funcionamento cerebral. PROPÓSITO Compreender os conceitos fundamentais da área de Neurociência Cognitiva, desde a organização morfofuncional do SNC até o imagiamento das funções neuropsicológicas. INTRODUÇÃO Vamos explorar os conteúdos essenciais da área de Neurociência Cognitiva, que visa conhecer os fundamentos neurocientíficos do comportamento e da cognição. Iniciaremos com uma breve introdução às Neurociências, apontando seus conceitos fundamentais. Depois, mostraremos como se organiza o Sistema Nervoso (SN), tanto em termos estruturais (organização física) quanto em termos funcionais (organização dinâmica). Para a compreensão da característica integrativa e adaptativa do SN, abordaremos pontos-chave ligados a seu desenvolvimento e funcionamento neuropsicológico, o que evidenciará a integração cerebral, que pode ser estudada / pelas chamadas técnicas de neuroimagem, que encerram o conteúdo. OBJETIVOS Reconhecer as definições básicas e as finalidades das Neurociências Definir a organização morfofuncional do Sistema Nervoso Central Descrever as etapas de desenvolvimento do Sistema Nervoso Central / Relacionar a integração cerebral com o funcionamento neuropsicológico Identificar diferentes modalidades de exames do funcionamento cerebral Reconhecer as definições básicas e as finalidades das Neurociências ORIGEM DAS NEUROCIÊNCIAS A década de 1990 ficou conhecida como década do cérebro devido ao volume de material científico produzido naquele momento sobre o assunto (THOMPSON, 2005). Entretanto, o interesse pelo conhecimento sobre o cérebro remonta à Antiguidade. Há muito tempo, o ser humano tenta descobrir como os pensamentos, as emoções e os comportamentos poderiam estar ligados à cabeça, de forma mais geral, e ao cérebro em si, de forma mais específica. Nosso propósito presente é apresentar as definições básicas e as finalidades das Neurociências, deixando o aspecto histórico da área para leitores interessados em se aprofundar posteriormente. Fonte: Shutterstock / CIÊNCIAS COMPONENTES DAS NEUROCIÊNCIAS Atualmente, é muito comum vermos o prefixo neuro inserido nas mais diversas áreas e atividades humanas: Neuroeconomia, Neuropsiquiatria, Neuropsicologia, Neuroreabilitação, Neuromarketing etc. Sempre que vemos essas palavras ou expressões, buscamos compreender que se tratam de tentativas de conhecer como determinada área ou atividade humana ocorre relacionada aos substratos neurais. Assim, por exemplo, a palavra Neuroeconomia significa que os profissionais e estudiosos do campo estão mapeando áreas cerebrais que possam orientar escolhas e comportamentos na área de Economia. Isso é feito por meio de determinados questionamentos: Fonte: Freedomz / Shutterstock. Como e por que algumas pessoas poupam mais? / Fonte: only_kim / Shutterstock. Como e por que alguns sujeitos têm perfil de compra assumindo mais riscos? Fonte: Ravil Sayfullin / Shutterstock. O que o Sistema Nervoso (SN) tem a ver com isso? Uma vez que as Neurociências estão “na moda”, é fácil perceber que o nome neuro pode ser simplesmente uma tentativa de segui-la. Por isso, é importante buscar referências científicas sobre os diferentes temas. A partir disso, podemos nos interrogar: Quais são as ciências que compõem as Neurociências? De acordo com LENT (2008), do nível micro para o macro, são elas: / Fonte: Shutterstock Biologia – que estuda o aspecto celular e o funcionamento das células; Fisiologia – que estuda o funcionamento dos diferentes sistemas; Medicina Neurologia – área da medicina que estuda as patologias do sistema nervoso. Psicologia – voltada para o estudo do funcionamento do organismo em termos perceptuais, emocionais, comportamentais e sociais. É claro que as áreas se especializaram, e as Neurociências permitem e se valem de um caráter muito abrangente, fazendo com que inúmeras áreas possam ter interseções com o funcionamento do Sistema Nervoso. NEUROPSICOLOGIA Para direcionar nosso foco às Neurociências Cognitivas (FUENTES et al., 2008), vamos escolher como orientadora de nossos conceitos a ciência da Neuropsicologia. NEUROPSICOLOGIA Braço da Psicologia que estuda o aspecto neuro. VOCÊ SABIA A premissa principal da Neuropsicologia é que todo comportamento é originado de um bom funcionamento das áreas central e periférica do Sistema Nervoso. Em outras palavras, todo comportamento tem um substrato neural (FUENTES et al., 2008). javascript:void(0) / O termo comportamento deve ser entendido de forma bem abrangente, o que inclui: Fonte: masata / Shuttersock. nossas percepções (visão, olfato, a identificação de um rosto etc.); Fonte: masata / Shuttersock. pensamentos, emoções, memórias; / Fonte: masata / Shuttersock. comportamentos no mundo externo (a fala, o caminhar etc.). Para a Neuropsicologia, só conseguimos realizar tudo isso porque há uma integridade dos módulos neurais que cuidam de cada uma dessas habilidades, e porque eles funcionam de forma organizada. Os primeiros estudos na área de Neurociência Cognitiva ocorreram a partir de indivíduos com lesões cerebrais: as funções cognitivas eram prejudicadas ou perdidas na medida em que havia um prejuízo no tecido nervoso (THOMPSON, 2005). FUNÇÕES COGNITIVAS Também chamadas genericamente de cognição ou funções neuropsicológicas. São as habilidades funcionais com substrato neural correspondente, que auxiliam o organismo na convivência com seu ambiente interno e externo. Exemplos: sensação, percepção, memória, atenção, emoção, linguagem, funções executivas etc. Fonte: FUENTES et al., 2008; LENT, 2008. EXEMPLO Diante de um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou de uma lesão por acidente, havendo lesão no tecido cerebral, o paciente pode apresentar alterações nas funções mentais e, por conseguinte, em suas atividades da vida diária. javascript:void(0) / Utilizando muitos exemplos correlatos das mesmas áreas lesionadas e funções perdidas, a Neuropsicologia consegue correlacionar áreas e funções, propiciando uma enormidade de testes para avaliação neuropsicológica, que se aproxima da psicológica. AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA Avaliação das funções cognitivas. Assim, ficou evidente que há duas organizações no Sistema Nervoso: Morfológica – ou seja, física, estrutural; Funcional – pois as estruturas têm funções específicas. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal FINALIDADES DAS NEUROCIÊNCIAS Neste vídeo, mostramos como as Neurociências aplicam-se às mais diversas finalidades de compreensão. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. AS HABILIDADES FUNCIONAIS QUE PERMITEM AO NOSSO ORGANISMO GERAR SENSAÇÕES, SENTIMENTOS, EMOÇÕES, PERCEPÇÕES E COMPORTAMENTOS / CORRESPONDEM: A) À Neuropsicologia. B) À Neuroimagem. C) Às funções neuropsicológicas. D) Ao Sistema Nervoso Central. 2. SOBRE AS FINALIDADES DAS NEUROCIÊNCIAS, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) Estão dadas, uma vez que tal ciência já se desenvolveu por completo. B) Abrangem apenas conteúdos estritamente relacionados à Biologia. C) Relacionam-se a aspectos elementares e à compreensão dos substratos neurais de comportamentos complexos. D) São destacadas do desenvolvimento tecnológico. GABARITO 1. As habilidades funcionais que permitem ao nosso organismo gerar sensações, sentimentos, emoções, percepções e comportamentos correspondem: A alternativa "C " está correta. As funções neuropsicológicas ou cognitivas são habilidades funcionais na medida em que auxiliam o sujeito a se adaptar ao ambiente externo. A memória e a linguagem são outros exemplos dessas funções. 2. Sobre as finalidades das Neurociências, é correto afirmar que: A alternativa "C " está correta. As Neurociências estão em pleno desenvolvimento e, ao acompanhar o avanço da tecnologia,excedem a biologia do sistema neural. Assim, objetivam tanto estudar aspectos celulares quanto entender como comportamentos complexos auxiliam o organismo a se adaptar a seu meio. Definir a organização morfofuncional do Sistema Nervoso Central / ORGANIZAÇÃO MORFOLÓGICA E FUNCIONAL DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL A principal função do Sistema Nervoso, em geral, e do nosso cérebro, em particular, pode ser definida em uma palavra: adaptação. O Sistema Nervoso organiza-se de forma a oferecer ao organismo possibilidades de se adaptar ao meio ambiente (interno e externo), pois, mediante nosso comportamento, promove acomodações ou modificações nesse meio ambiente. Fonte: Halfpoint / Shutterstock. Neste módulo, vamos entender a organização morfofuncional do Sistema Nervoso Central (SNC) sob duas formas: Clique nos botões abaixo para ver as informações. Macroscópica Como visto a olho nu. e Microscópica Pensando na dimensão celular do tecido nervoso. ORGANIZAÇÃO MACROSCÓPICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL O Sistema Nervoso é formado por duas partes: Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP) (BRANDÃO, 2004). javascript:void(0) javascript:void(0) / SNC Compreende o encéfalo e a medula espinhal. SNP Compreende os nervos, que, saindo do SNC, chegam aos órgãos e músculos, ou seja, até a periferia de nossos corpos. Na figura a seguir, observamos a principal divisão do SN – porções central e periférica: Fonte: Conceitos.com. Divisão do Sistema Nervoso em suas porções (SNC e SNP). O Sistema Nervoso Central compreende: CÉREBRO CEREBELO TRONCO ENCEFÁLICO / MEDULA ESPINHAL MEDULA ESPINHAL Feixes de axônios e corpos de neurônios instalados no interior dos ossos da coluna espinhal. Estes três componentes formam o encéfalo. Os três primeiros componentes formam o encéfalo. O Sistema Nervoso Periférico compreende: GÂNGLIOS NERVOS CRANIANOS NERVOS MEDULARES GÂNGLIOS Grupos de corpos celulares de neurônios, localizados fora do SNC. javascript:void(0) javascript:void(0) / Nosso maior interesse aqui é pelo Sistema Nervoso Central, mais especialmente pelo encéfalo, detalhado na figura a seguir: Fonte: Wikimedia Commons. Encéfalo e suas estruturas – visão em corte sagital medial. Legenda 1 - Cérebro 2 - Telencéfalo 3 - Diencéfalo 4 - Tronco cerebral 5 - Mesencéfalo 6 - Ponte 7 - Bulbo 8 - Cerebelo 9 - Início da medula espinhal ATENÇÃO A medula espinhal não está no encéfalo, sendo parte integrante do Sistema Nervoso Central. O principal componente do SNC é o cérebro, conforme ilustrado na figura a seguir: Fonte: Alila Medical Media / Shutterstock. Divisão macroscópica do cérebro em hemisférios e lobos. Legenda A - Visão lateral do cérebro (neste caso, hemisfério esquerdo) mostrando os lobos cerebrais: lobo frontal (em vermelho), lobo parietal (em verde), lobo temporal (em azul) e lobo occipital (em amarelo). B - Posicionamento cerebral no interior do crânio e visão superior dos dois hemisférios cerebrais. C - Visão lateral do hemisfério esquerdo com detalhe da ínsula: um dos cinco lobos cerebrais (em vermelho). / O cérebro é uma estrutura única, formada por dois hemisférios: direito e esquerdo (B). Ele também é composto por cinco lobos ou lóbulos, cujos nomes são, em sua maioria, referentes aos ossos cranianos correspondentes à localização: Lobo frontal, lobo parietal, lobo temporal, lobo occipital (A) e ínsula – não aparente a uma vista lateral ou externa, uma vez que se localiza em porções mais internas, por baixo da porção lateral do lobo temporal (C). A organização do SNC como um todo e do cérebro, em específico, em hemisférios e lobos, também respeita certa topografia das funções desempenhadas por esse órgão. Cada um dos hemisférios e lobos têm ligação com funções específicas. A tabela a seguir apresenta as principais funções desempenhadas por estruturas do SNC: Estrutura do SNC Função Medula espinhal Comunicação entre as estruturas encefálicas e as do Sistema Nervoso Periférico: nervos que chegam aos órgãos e outras estruturas periféricas, como músculos e pele. Tronco encefálico (formado por mesencéfalo, bulbo e ponte) Regulação de funções vitais. Cerebelo Coordenação de comandos motores, ativação de ações motoras combinadas e concomitantes. Cérebro Comandos superiores, multimodais, normalmente com redundância de estruturas nos dois hemisférios. Hemisfério Direito Criatividade, musicalidade, incluindo a prosódia linguística. Hemisfério Esquerdo Linguagem, especialmente o aspecto motor, Matemática. Corpo caloso Estrutura de fibras que ligam os dois hemisférios cerebrais, promovendo o processamento inter-hemisférico. Lobo frontal Funções executivas (como o planejamento, a flexibilidade e o controle inibitório), memória operacional, atenção sustentada, linguagem (produção), comportamento motor. javascript:void(0) / Lobo parietal Relações espaciais, processamento de faces, sensação/sensibilidade tátil. Lobo temporal Audição, compreensão da linguagem, memória, especialmente nas porções mediais do lobo. Lobo occipital Visão. Ínsula Dor, desprazer. Principais funções desempenhadas por estruturas do SNC. Fonte: Adaptado de: BRANDÃO, 2004; PLISKA, 2005; THOMPSON, 2005; FUENTES et al., 2008. PROSÓDIA Aspectos não verbais da linguagem. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal ATENÇÃO Afirmações que apontam que um hemisfério cerebral seria o único responsável por um tipo de função são, geralmente, generalizações errôneas. Hoje, sabemos que funções complexas, como a criatividade e a linguagem, por exemplo, são derivadas do funcionamento cerebral integrado, e não apenas resultantes da ativação em apenas uma região do encéfalo (THOMPSON, 2005). Nem mesmo os lobos cerebrais podem ser responsáveis por uma função de forma exclusiva, pelo mesmo motivo: a necessária integração para as funções complexas, que veremos mais à frente. ORGANIZAÇÃO MICROSCÓPICA DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E SINAPSES / Neste vídeo, abordaremos o significado das sinapses e sua importância no âmbito da Educação. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO SISTEMA NERVOSO, É INCORRETO AFIRMAR QUE: A) O Sistema Nervoso se divide em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP). B) O Sistema Nervoso Central é composto pelo encéfalo e pela medula espinhal. C) O encéfalo é parte do Sistema Nervoso Central e é equivalente ao cérebro. D) O tronco cerebral, parte do encéfalo, compreende três estruturas. 2. SOBRE A ESTRUTURA CELULAR DO NEURÔNIO – PRINCIPAL CÉLULA DO SNC –, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) O corpo do neurônio contém seu núcleo e a estrutura celular produz os neurotransmissores. B) Os axônios recebem as informações de outras células pelos botões terminais. C) O próprio neurônio é responsável pela produção da bainha de mielina do axônio. D) As vesículas de neurotransmissores concentram-se no corpo do neurônio. GABARITO 1. Sobre a organização do Sistema Nervoso, é incorreto afirmar que: A alternativa "C " está correta. O encéfalo é parte do Sistema Nervoso Central, mas é composto pelo cérebro, pelo cerebelo e pelo tronco cerebral. / 2. Sobre a estrutura celular do neurônio – principal célula do SNC –, é correto afirmar que: A alternativa "A " está correta. Os botões terminais são importantes para a transmissão das informações, e não por sua recepção. A bainha de mielina é composta pelas glias, e as vesículas se concentram nas porções terminais do axônio. Descrever as etapas de desenvolvimento do Sistema Nervoso Central SISTEMA NERVOSO Quando estudamos o tema de Neurociências Cognitivas, a estrutura já formada do Sistema Nervoso nos é apresentada. É importante, entretanto, compreender que sua organização morfofuncional é fruto de um rico processo de desenvolvimento que se inicia ainda nos estágios embrionários e se estende até o fim da vida. Respeitando a premissa básica de que toda função tem umsubstrato neural, esse desenvolvimento será sempre das estruturas e de suas funções. Em outras palavras, o organismo se aprimora em termos funcionais na medida em que seu Sistema Nervoso se desenvolve. Fonte: KateStudio / Shutterstock. Embrião humano com três semanas de vida. ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL / A Neuropsicologia do desenvolvimento tem como objetivo estudar a integração entre áreas do cérebro, suas funções e o comportamento, tomando como foco os estudos do desenvolvimento humano. Assim, interessa-se pelas mudanças que ocorrem durante toda a vida, já que o desenvolvimento é um processo contínuo, mas especialmente voltado para as modificações que ocorrem nos estágios pré-natais, na infância e na adolescência. Esse interesse considerável se justifica por haver, nessas épocas, um cérebro em desenvolvimento. O desenvolvimento pré-natal do que virá a ser o encéfalo é um processo que ocorre com base nas seguintes etapas (DE LANA; HERINGER, 2018): 1 INDUÇÃO Produção maciça das células que formarão o tecido nervoso. PROLIFERAÇÃO Sucessivas reproduções celulares (mitoses), o que multiplica o número de células. 2 3 MIGRAÇÃO As células vão sendo posicionadas em sua área cerebral apropriada. / DIFERENCIAÇÃO Os neurônios vão se especializando, assumindo um tipo específico, de acordo com a função que desempenharão no futuro. 4 5 SINAPTOGÊNESE Formação das primeiras sinapses (conexões entre os neurônios). MORTE CELULAR SELETIVA As células nervosas alocadas em regiões erradas ou as que falharam em formar conexões sinápticas apropriadas são mortas (processo de apoptose ou suicídio celular). 6 7 VALIDAÇÃO FUNCIONAL / Fortalecimento das sinapses em uso (estimuladas) e enfraquecimento das sinapses não utilizadas (não estimuladas). Nesses estágios, podem ser observadas as modificações das estruturas do Sistema Nervoso Central, bem como o crescimento delas. VOCÊ SABIA Ao nascer, estima-se que um bebê possa ter até 100 bilhões de neurônios, porém os métodos para realizar essa quantificação ainda são imprecisos. Apesar de toda a rápida e impressionante transformação do encéfalo durante o período pré-natal, sabemos, hoje, que o desenvolvimento cerebral humano estará completo somente no final da adolescência ou no início da vida adulta, culminando com a mielinização de toda a rede neuronal – conceito que veremos mais adiante. Se for assim, então, por que nascemos, visto que nosso cérebro ainda não está pronto? Uma das primeiras respostas a essa pergunta está relacionada à questão anatômica: o nascimento implicará na passagem do crânio pelo canal vaginal, que seria estreito demais em relação ao volume do crânio de um adulto. Fonte: Gorodenkoff / Shutterstock. Após o nascimento, o cérebro cresce muito, chegando ao quádruplo do tamanho original. Entretanto, esse crescimento não se deve a um aumento do número de neurônios, mas a três outros fatores listados a seguir (PINEL, 2005): SINAPTOGÊNESE A formação de novas sinapses (sinaptogênese) pode ocorrer de forma mais recorrente em determinadas áreas cerebrais. Isso ocorre em diferentes momentos do desenvolvimento e de modo variado em áreas distintas, respondendo por diferentes sistemas e funções. MIELINIZAÇÃO A mielinização consiste no processo de cobertura de muitos axônios de neurônios com um revestimento de mielina. / Quando um axônio recebe a bainha de mielina, passa a ser capaz de transmitir a informação com mais velocidade. AUMENTO DA RAMIFICAÇÃO DENDRÍTICA No processo de aumento da ramificação dendrítica, os neurônios lançam seus dendritos. Da mesma maneira que nos processos de indução, migração, proliferação e sinaptogênese, a ramificação dendrítica ocorre primeiro nos neurônios mais profundos, para, depois, chegar aos mais superficiais. O desenvolvimento pós-natal, entretanto, não ocorre em sentido único. Além do crescimento e enriquecimento de sistemas, existem mudanças regressivas, que incluem a eliminação e a perda de neurônios em um processo denominado morte celular programada (apoptose) (HUTTENLOCHER, 1994). Em algumas áreas do encéfalo, esse processo chega a eliminar 80% da população neuronal. Além disso, há a perda de sinapses, quando a densidade destas atinge seu nível máximo. Da mesma forma que a sinaptogênese, esse processo regressivo ocorre em diferentes momentos, em áreas distintas do cérebro. EXEMPLO Por volta dos três anos de idade, o número de sinapses no córtex primário se iguala ao do cérebro adulto, enquanto no córtex pré-frontal (CPF), tal igualdade numérica não se estabelecerá até a adolescência. CÓRTEX Palavra que se origina de “casca”. Trata-se da camada mais externa do cérebro. Esse “caminho inverso” é determinante para o desenvolvimento, visto ser essencial que alguns comportamentos desapareçam para que outros possam se desenvolver. ATENÇÃO O processo de perda de sinapses se orientará por sua estimulação ou não. Isso significa que sinapses estimuladas tendem a ser mantidas, determinando, assim, os processos de aprendizagem. O neurodesenvolvimento ocorre a partir da interação entre os neurônios e o meio ambiente (SALLES; HAASE; MALLOY- DINIZ, 2016). Além dos elementos relacionados ao ambiente interno – como neurotrofinas e moléculas de adesão celular, que influenciam na migração, na agregação e no crescimento neuronal –, outros fatores mais externos podem orientar o javascript:void(0) / neurodesenvolvimento, como as experiências individuais de determinado organismo e os estímulos ambientais. A regra geral é: Sinapses que não são utilizadas devido à falta de estímulo acabam permanecendo inativas. A propriedade de neuroplasticidade é muito mais presente nas etapas iniciais do desenvolvimento, o que torna essa fase especialmente importante. NEUROPLASTICIDADE E PROGRAMAÇÃO NEURAL DE LONGO PRAZO Todos nós produzimos o mesmo Sistema Nervoso de acordo com nossa organização filogenética. Entretanto, variações específicas na transmissão do impulso nervoso, pela atividade sináptica, definem a atividade psicológica do indivíduo. É exatamente isso que dá forma à sua personalidade e individualidade. Fonte: Giovanni Cancemi / Shutterstock. Esta capacidade plástica do Sistema Nervoso Central é chamada de neuroplasticidade e concede ao cérebro a propriedade de alteração de suas configurações morfo e fisiológica sob a influência dinâmica do ambiente (LENT, 2008, p. 614). A neuroplasticidade ocorre no nível dos neurônios (e suas projeções, como dendritos e axônio) e no nível das sinapses (LEUNER; GOULD, 2010), permitindo que o Sistema Nervoso Central esteja aberto a alterações provocadas pela interação do sujeito com seu meio (OLIVA; DIAS; REIS, 2009). Neste vídeo, assistiremos à entrevista de um especialista com explicações mais detalhadas sobre o tópico. / O conceito de programação neural de longo prazo foi elaborado a partir de novos conhecimentos sobre o papel da cromatina, do desenvolvimento e da diferenciação celular, bem como da plasticidade neural a partir do campo de epigenética, fundamentando-se as origens “desenvolvimentais” do comportamento, da saúde e da doença (SWEATT et al., 2013). Aponta-se que as primeiras experiências influenciam na arquitetura cerebral, em sua função e nas capacidades do indivíduo (VAN DEN BERGH, 2011), pois: Afetam a expressão genética e os caminhos neurais; / Formam o estilo de processamento da emoção, regulando o temperamento e o desenvolvimento social; Definem o estilo perceptual e a capacidade cognitiva, o que tem particular implicação nos aspectos cognitivos que envolvem os pacientes psiquiátricos; / Estruturam a saúde física e mental, a atividade, o desempenho, as habilidades e o comportamento na vida adulta. A plasticidade ocorre em diferentes momentos e em distintas estruturas/regiões encefálicas, gerando períodos onde determinada estrutura está mais sensível que outra. Na figura a seguir, observamos uma ilustração gráfica que aponta essas diferenças,de acordo com a maturação das regiões do Sistema Nervoso Central e com os processos de neurodesenvolvimento: Fonte: Adaptado de: GRAHAM-MCGREGOR et al., 2007. Formação de sinapses ao longo do desenvolvimento cerebral humano. Observe que, nos anos iniciais da infância, existe uma maior amplitude das curvas. Isso significa que, nestes anos, a atividade é mais intensa. A linha-seta aponta que o desenvolvimento sináptico depende da atividade (experience- dependent) das células nervosas, valorizando a interação com o ambiente. VERIFICANDO O APRENDIZADO / 1. SOBRE O NEURODESENVOLVIMENTO, É INCORRETO AFIRMAR QUE: A) A formação de novas sinapses ocorre em diferentes momentos do desenvolvimento e de modo variado em áreas cerebrais distintas. B) A mielinização consiste no processo de cobertura de muitos axônios de neurônios com um revestimento de mielina, mas não se relaciona com o neurodesenvolvimento. C) O neurodesenvolvimento ocorre a partir da interação entre os neurônios e o meio ambiente, como as experiências individuais de determinado organismo e os estímulos ambientais. D) A propriedade de neuroplasticidade é muito mais presente nas etapas iniciais do desenvolvimento, mas persiste por toda a vida. 2. NO INÍCIO DO NEURODESENVOLVIMENTO, O SISTEMA NERVOSO ESTÁ SENSÍVEL AOS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM QUE PRODUZIRÃO MODIFICAÇÕES PERMANENTES EM ALGUMAS ESTRUTURAS NEURAIS. ESSA IDEIA ESTÁ MAIS INTIMAMENTE RELACIONADA AO CONCEITO DE: A) Validação funcional. B) Programação neural de longo prazo. C) Mudanças regressivas. D) Plasticidade sináptica. GABARITO 1. Sobre o neurodesenvolvimento, é incorreto afirmar que: A alternativa "B " está correta. A mielinização é parte integrante do desenvolvimento neural inicial e responde por um aprimoramento do funcionamento do Sistema Nervoso. Algumas funções só se estabelecem de forma completa com a maturação da mielinização das regiões correspondentes no Sistema Nervoso. 2. No início do neurodesenvolvimento, o Sistema Nervoso está sensível aos processos de aprendizagem que produzirão modificações permanentes em algumas estruturas neurais. Essa ideia está mais intimamente relacionada ao conceito de: A alternativa "B " está correta. / O conceito de programação neural de longo prazo se correlaciona à ideia de que as primeiras experiências influenciam na formação da arquitetura cerebral, em sua função e nas capacidades. Relacionar a integração cerebral com o funcionamento neuropsicológico FUNCIONAMENTO NEUROPSICOLÓGICO Como temos reforçado, o funcionamento do Sistema Nervoso ocorre de forma integrada. Isso é essencial para a adequação das funções que desempenha. Neste módulo, evidenciaremos que as funções cognitivas são integrativas, porque se baseiam em um funcionamento neural também integrativo. NEUROPSICOLOGIA Neurociências Psicologia Neuropsicologia A Neuropsicologia é um ramo das Neurociências e da Psicologia. Como já apontado, ela afirma que todas as funções de um indivíduo (cognitivas, emocionais ou comportamentais, internas ou externas) são baseadas em um substrato neural e em seu correto funcionamento (FUENTES et al., 2008). Áreas especializadas agem de modo coordenado e integrado para que as funções possam ocorrer. Os objetivos da Neuropsicologia são os mais diversos, entre os quais destacamos o estudo de: / Lesões do Sistema Nervoso e seus desdobramentos; Modelos neurais de transtornos – como a depressão, os transtornos do neurodesenvolvimento, como o TDAH etc.; Os efeitos de programas de reabilitação neuropsicológica. ATENÇÃO / Quando o objetivo se refere ao estudo do funcionamento cognitivo, a Neuropsicologia se confunde com as Neurociências Cognitivas. Por isso, nosso estudo é tão importante. Em nosso podcast, falaremos sobre as principais diferenças. Esse saber encontra aplicações práticas em uma série de áreas do conhecimento. Portanto, é relevante para a atuação profissional em diversas áreas, como as de Saúde e Educação. Veja a seguir os principais conceitos neuropsicológicos: Clique nas figuras abaixo para ver as informações. Fonte: ksenvitaln / Shutterstock Funcionamento cognitivo Conjunto das funções neuropsicológicas ou cognitivas. Trata-se sempre de um conjunto individual, uma vez que as trajetórias de desenvolvimento neural também são individuais. Podemos intuir que cada indivíduo terá pontos fortes e fracos em seu desempenho cognitivo. javascript:void(0) / Fonte: ksenvitaln / Shutterstock Déficit cognitivo Funcionamento cognitivo (geral ou específico, em termos de uma ou outra função cognitiva) de um indivíduo considerado abaixo da média esperada para sua idade, seus anos de escolaridade e outras características sociodemográficas reconhecidamente associadas ao desempenho cognitivo. Fonte: ksenvitaln / Shutterstock Rebaixamento cognitivo Declínio do funcionamento cognitivo de um indivíduo comparado com seu desempenho anterior. javascript:void(0) javascript:void(0) / FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS A história da ciência da Neuropsicologia é marcada pelo estudo de pacientes lesionados no cérebro. Aqueles com lesões em determinadas áreas do Sistema Nervoso Central perdiam a capacidade de exercer algumas das suas Atividades da Vida Diária (AVDs) – indicativas de seu funcionamento cognitivo subjacente – mas preservavam outras. Os estudos mais aprofundados da área auxiliaram na construção de um entendimento de que havia, então, uma multiplicidade de funções e de sua relativa independência. VOCÊ SABIA As funções cognitivas se expressam em animais, ainda que de forma rudimentar, em escala evolutiva, demonstrando sua conservação ao longo da evolução das espécies. A tabela a seguir apresenta, de forma introdutória, as funções cognitivas, sua breve descrição, bem como exemplos e áreas cerebrais associadas: Função cognitiva Descrição Exemplos Áreas cerebrais Sensação Capacidade de decodificar o ambiente físico (externo e interno) Visão, audição, olfato, tato, paladar, propriocepção Córtices sensoriais dos lobos correspondentes Percepção Compreensão dos estímulos sensoriais de modo integrado e com sentido Percepção de faces e de objetos complexos Lobo parietal Atenção Seleção das informações relevantes no ambiente Atenção sustentada e alternada Sistema atencional supervisor, córtex pré-frontal, córtex parietal, mesencéfalo Memória e aprendizagem Armazenamento e acesso a informações Memória de curto e longo prazos, memória explícita e Córtex pré-frontal, lobo temporal (especialmente a / aprendidas implícita (emocional, condicionamento, procedimentos motores) porção medial), estruturas límbicas, núcleos da base, cerebelo Integração sensório- motora Organização do comportamento a partir das percepções Comportamento motor, habilidades visuoconstrutivas Córtex motor, lobo parietal, medula cerebral Linguagem Capacidade de compreensão e de produção de signos linguísticos para a comunicação Escrita, fala, gestos Córtices sensoriais, área de Wernicke, área de Broca, córtex pré-frontal Funções executivas Adaptação do indivíduo a seu meio, de forma organizada e regulada Planejamento monitorização, flexibilidade, iniciação, controle inibitório, memória operacional Córtex pré-frontal Motivação e emoção Regulação do comportamento e adaptação ao meio social Motivação extrínseca e intrínseca, processamento emocional (percepção, regulação e expressão das emoções) Estruturas subcorticais, sistema límbico Funções cognitivas. Fonte: Adaptado de: COSENZA; GUERRA, 2001; FUENTES et al., 2008. Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal FUNÇÕES COMPLEXAS E INTEGRAÇÃO CEREBRAL Pela tabela apresentada, fica evidenciado que o funcionamento cognitivo requer a participação de diversos componentes do Sistema Nervoso Central. Somente para fins didáticos, podemos separar as funções cognitivas. No mundo concreto, considerando o funcionamentodos indivíduos em suas Atividades da Vida Diária, as funções cognitivas atuam de forma integrada e interdependente, como ilustrado no esquema a seguir: / Fonte: A AUTORA, 2020. Integração das funções cognitivas. Sob coordenação das funções executivas, o indivíduo, ativado por uma emoção, motiva-se na direção de focar a atenção em determinado estímulo, que será processado pela sensopercepção, gerando o traço necessário para a memória e o consequente aprendizado. A ideia aqui é compreender como essa integração ocorre em nível do substrato neural subjacente. As funções cognitivas apontadas anteriormente requerem o funcionamento dos córtices do cérebro, conforme mostra a figura: Fonte: Adaptado de: THE HUMAN MEMORY. Córtex cerebral. Todos os lobos são cobertos de córtices (substância cinzenta), que contêm os corpos dos neurônios. Os prolongamentos axonais dos neurônios do córtex formam, juntos, a chamada substância branca. SUBSTÂNCIA BRANCA Filamentos, feixes e origens dos nervos que se encaminham para a medula espinhal. Fonte: THOMPSON, 2005. Alexander Luria foi um dos pesquisadores mais proeminentes da Neuropsicologia (FUENTES et al., 2008). Ele formulou a compreensão de que o córtex está organizado em unidades funcionais, que incluem: javascript:void(0) javascript:void(0) / ALEXANDER LURIA (1902-1977) Neurologista russo, considerado um dos pioneiros da Neuropsicologia atual. Ele estabeleceu uma relação entre os mecanismos cerebrais e as funções intelectuais do ser humano. Além disso, realizou várias investigações relacionadas a pacientes que sofriam lesões cerebrais e sua reintegração social. Fonte: RUIZA; FERNÁNDEZ; TAMARO, 2004. ÁREAS PRIMÁRIAS Áreas mais básicas e monomodais, como as áreas visuais primárias do córtex occipital e as áreas motoras primárias do giro pré-central do córtex frontal, que lidam apenas com uma modalidade sensorial específica: a visão e a audição, respectivamente. ÁREAS SECUNDÁRIAS Áreas associativas visuais, que nos permitem a compreensão perceptual, com mais sentido, dos estímulos visuais. ÁREAS TERCIÁRIAS Áreas de associação multimodais, que integram e processam diversas modalidades sensoriais para criar uma percepção completa do estímulo que seja, simultaneamente, visual, espacial, auditivo e mnemônico. É o caso da junção têmporo- parieto-occipital e do córtex pré-frontal. INTEGRAÇÃO DAS ÁREAS DO CÉREBRO Neste vídeo, vemos algumas das áreas mais relevantes do córtex cerebral e a descrição dos processos de integração do cérebro. / VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. SOBRE AS FUNÇÕES NEUROPSICOLÓGICAS, É CORRETO AFIRMAR QUE: A) As funções cognitivas são independentes, pois podem ser estudadas separadamente. B) As funções cognitivas são desempenhadas exclusivamente pelos córtices cerebrais. C) O desempenho do indivíduo nas atividades do dia a dia independe do seu funcionamento neuropsicológico. D) Para um funcionamento neuropsicológico adequado, é imprescindível a participação coordenada de uma gama de funções cognitivas. 2. CONSIDERE O SEGUINTE CAMINHO PERCORRIDO PELA INFORMAÇÃO NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL: I. ÓRGÃO SENSORIAL (OUVIDO) – PARA A TRANSDUÇÃO DO IMPULSO FÍSICO EM ELÉTRICO, QUE POSSA SER PROPAGADO PELOS AXÔNIOS ATÉ O CÉREBRO. II. ÁREA AUDITIVA PRIMÁRIA – APENAS A SENSAÇÃO DE UM ESTÍMULO SONORO. III. CÓRTEX AUDITIVO DE ASSOCIAÇÃO – COMPREENSÃO DE OUVIRMOS PALAVRAS. IV. ÁREA DE WERNICKE – INTEGRAÇÃO E COMPREENSÃO DA INFORMAÇÃO LINGUÍSTICA. V. ÁREA TERCIÁRIA (CÓRTEX PRÉ-FRONTAL) – PARA A CORRETA ORGANIZAÇÃO E GERAÇÃO DA RESPOSTA. VI. ÁREA MOTORA ASSOCIATIVA DA FALA – ÁREA DE BROCA. VII. ÁREA MOTORA PRIMÁRIA – PARA A PREPARAÇÃO DA RESPOSTA MOTORA DOS DEDOS, DOS PUNHOS E DAS MÃOS. É POSSÍVEL SUPOR QUE O INDIVÍDUO ESTEJA ENGAJADO EM QUAL DAS ATIVIDADES A SEGUIR? A) Transcrevendo algo que está escrito em um quadro. B) Copiando a resposta de uma informação lida. C) Ouvindo uma questão e a respondendo por escrito. D) Respondendo oralmente a uma pergunta escrita. GABARITO 1. Sobre as funções neuropsicológicas, é correto afirmar que: / A alternativa "D " está correta. Embora possam ser estudadas separadamente, as funções cognitivas ou neuropsicológicas agem de forma integrada, bem como requerem a participação integrada do Sistema Nervoso, e não só do córtex cerebral. Essas funções têm relação intrínseca com as Atividades da Vida Diária do indivíduo, promovendo sua adaptação ao meio. 2. Considere o seguinte caminho percorrido pela informação no Sistema Nervoso Central: I. Órgão sensorial (ouvido) – para a transdução do impulso físico em elétrico, que possa ser propagado pelos axônios até o cérebro. II. Área auditiva primária – apenas a sensação de um estímulo sonoro. III. Córtex auditivo de associação – compreensão de ouvirmos palavras. IV. Área de Wernicke – integração e compreensão da informação linguística. V. Área terciária (córtex pré-frontal) – para a correta organização e geração da resposta. VI. Área motora associativa da fala – área de Broca. VII. Área motora primária – para a preparação da resposta motora dos dedos, dos punhos e das mãos. É possível supor que o indivíduo esteja engajado em qual das atividades a seguir? A alternativa "C " está correta. A informação é auditiva, uma vez que está chegando às áreas sensoriais primárias auditivas. Identificar diferentes modalidades de exames do funcionamento cerebral IMAGIAMENTO DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL Desde os primeiros estudos em Neurociência Cognitiva, sempre houve uma preocupação com a utilização de metodologias e de instrumentos de alta qualidade. Embora as pesquisas neuropsicológicas se dedicassem ao estudo de indivíduos com lesão, com o advento de tecnologias seguras, pôde-se avançar na compreensão do / funcionamento normal do Sistema Nervoso, em especial do Sistema Nervoso Central e do cérebro. Fonte: ORION PRODUCTION / Shutterstock A neuroimagem surgiu como instrumento de estudo fundamental para o avanço em pesquisas na área (FUENTES et al., 2008), atendendo aos diferentes objetivos já tratados aqui. Com essa ferramenta, é possível conhecer a estrutura e a integridade dos componentes do Sistema Nervoso Central, tanto em termos morfológicos quanto, mais recentemente, em termos funcionais. Atualmente, estão à disposição dos pesquisadores das áreas de Neurociências Cognitivas dois conjuntos de ferramentas de neuroimagem: as técnicas estruturais e as técnicas funcionais. TÉCNICAS ESTRUTURAIS DE NEUROIMAGEM Neste vídeo, um especialista nos explicará os exames que compõem as técnicas estruturais de neuroimagem. TÉCNICAS FUNCIONAIS DE NEUROIMAGEM / As técnicas chamadas funcionais não se restringem apenas a mostrar as estruturas do Sistema Nervoso Central, mas nos apresentam uma possibilidade de estudar seu funcionamento. O pressuposto básico para compreender a aplicabilidade desse tipo de neuroimagiamento é o seguinte: As estruturas no Sistema Nervoso Central requeridas para determinada função ou determinado conjunto de funções apresentarão alterações em seu metabolismo. Afinal, quando ativadas, precisarão de mais aporte de oxigênio e glicose para o funcionamento das células nervosas locais. Se pudermos traçar esses compostos, bem como o uso de neurotransmissores e a ativação de receptores e transportadores celulares, poderemos ver online quais áreas atuam em determinada atividade desempenhada pelo indivíduo que está sendo mapeado. Clique nas figuras abaixo para ver as informações. Fonte: ksenvitaln / Shutterstock As técnicas mais conhecidas e difundidas são as variações da Tomografia Computadorizada, como o PET-Scan e o SPECT, que se utilizam de compostos radioativos temporários para conhecer a perfusão cerebral. javascript:void(0) javascript:void(0) / Fonte: ksenvitaln / Shutterstock De modo especial, a Ressonância Magnética Funcional (fMRI, na sigla em inglês), reconhecida no campo, mapeia a “movimentação” da hemoglobina. Fonte: ksenvitaln /Shutterstock Surgida mais recentemente, a Tomografia Óptica Difusa (DOT, na sigla em inglês) utiliza a defração da luz projetada por eletrodos através do crânio. A técnica mede a absorção óptica da hemoglobina e depende de seu espectro de absorção, variando com o estado de oxigenação. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) / PERFUSÃO CEREBRAL Rota dos compostos requeridos pelas áreas ativas naquela atividade. HEMOGLOBINA Molécula que carrega oxigênio para as células. MODALIDADES DE IMAGIAMENTO FUNCIONAL As técnicas funcionais são as mais relevantes para o estudo recente das Neurociências Cognitivas. ATENÇÃO As aplicações derivam do estudo das bases neurais do funcionamento cognitivo normal (aplicáveis às áreas de Saúde e Educação), bem como da compreensão das diferenças de processamento cognitivo em indivíduos com perfis distintos de déficits neurocomportamentais. Nesse último caso, os exames são úteis para a compreensão do funcionamento do indivíduo e podem orientar serviços de reabilitação neurocognitiva e de psicofarmacologia, bem como acompanhar os efeitos desses recursos ao longo do tempo. Para ilustrar, apesentamos a seguir um exemplo de mapa construído a partir de um exame funcional: / Adaptado de: BRANDÃO, 2004, p. 181. Exemplos de mapas de ativação de regiões cerebrais na execução em quatro diferentes tarefas ligadas à linguagem. A barra colorida lateral indica o nível de ativação da área cerebral. Observamos aqui a variação do local de maior ativação das regiões cerebrais conforme a tarefa. Nos mapas de imagiamento funcional do cérebro, as escalas coloridas informam maior e menor ativação. Nesta figura, quanto mais próximo das cores vermelha, laranja e amarela, maior será a ativação das áreas correspondentes. Como vimos, uma das técnicas mais atuais e promissoras no campo das neuroimagens funcionais para a área de Neurociência Cognitiva é a Tomografia Óptica Difusa (DOT). Na figura a seguir, apresentamos um exemplo de pesquisa que oferece uma comparação entre o exame de fMRI e a DOT: Traduzido de: EGGEBRECHT et al., 2014. Mapeamento cerebral com duas técnicas de neuroimagem cerebral funcional Legenda fMRI = Ressonância Magnética Funcional HD-DOT = Tomografia Óptica Difusa de Alta Densidade / Note que a terceira linha de cérebros contém a sobreposição: um comparativo dos resultados dos dois exames (fMRI e DOT), demonstrando sua acurácia, bem como a relativa especificidade das áreas cerebrais em funções distintas. Clique nos botôes para ver as informações. LOBO FRONTAL LOBO TEMPORAL Fonte: DandelionFly / Shutterstock. LOBO PARIETAL LOBO OCCIPTAL LOBO TEMPORAL 1. Ativação da área auditiva primária Quando o indivíduo tem seu cérebro mapeado enquanto ouve palavras. LOBO OCCIPTAL 2. Silenciamento das áreas auditivas com consequente ativação das áreas visuais primárias javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) / Na leitura encoberta (sem fala) de uma palavra, observamos este silenciamento, coerente com o fato de o indivíduo não estar ouvindo sons. LOBO PARIETAL 3. Ativação de regiões parietais e frontais Promovida pela imaginação da fala da palavra lida, sem, no entanto, pronunciá-la. LOBO FRONTAL 4. Ativação das áreas associativas frontais Na geração encoberta de verbos relacionados à palavra lida, ocorre a expressiva ativação destas áreas, uma vez que se trata de uma habilidade de alta complexidade em termos de manipulação de informação na memória de trabalho. O campo das Neurociências Cognitivas está em constante expansão, uma vez que o avanço tecnológico e metodológico propicia novas perguntas e novos objetivos de estudo do complexo funcionamento do Sistema Nervoso. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSTITUEM EXEMPLOS DE EXAMES DE NEUROIMAGEM FUNCIONAL, EXCETO: A) Imagem de tensor de difusão. B) Ressonância Magnética Funcional. C) Tomografia Óptica Difusa. D) Tomografia Computadorizada. / 2. COM EXAMES DE NEUROIMAGEM ESTRUTURAL, NÃO É POSSÍVEL VERIFICAR: A) As lesões nos diferentes tecidos do encéfalo. B) A reatividade de regiões do cérebro frente a estímulos. C) O volume de áreas e estruturas. D) Os indicativos de conectividade entre áreas. GABARITO 1. Constituem exemplos de exames de neuroimagem funcional, exceto: A alternativa "D " está correta. A Tomografia Computadorizada é uma técnica de imagiamento estrutural e não compõe os exames que podem avaliar o funcionamento do Sistema Nervoso Central. 2. Com exames de neuroimagem estrutural, não é possível verificar: A alternativa "B " está correta. A reatividade cerebral frente a estímulos é um exemplo do funcionamento cerebral, que pode ser avaliado por outras técnicas de imagiamento, como a fMRI e o PET-Scan. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS As Neurociências e todos os conhecimentos a elas relacionados são realmente complexos, porque envolvem uma gama de saberes muito ampla. Entretanto, isso não significa que se trate de um conhecimento inalcançável ou que deva ser apresentado apenas a especialistas da área. É fundamental possuir essas noções acerca de nosso Sistema Nervoso Central e, consequentemente, do funcionamento cerebral, para compreendermos um pouco mais sobre as especificidades que nos definem como espécie humana. A partir das nossas indicações, esperamos que você possa se aprofundar no mundo das Neurociências. / REFERÊNCIAS BRANDÃO, M. L. As bases biológicas do comportamento: introdução à Neurociência. São Paulo: EPU, 2004. COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: ArtMed, 2001. COWAN, W. M. The development of the brain. Scientific American, v. 241, n. 3, p. 112-133, set. 1979. DE LANA, E.; HERINGER, N. Efeitos do estresse na aprendizagem: contribuições das Neurociências cognitivas. In: ALVES, J. M. et al. Abordagens cognitivo-comportamentais no contexto escolar. Novo Hamburgo: Synopsis, 2018. EISENBERG, N. Handbook of child psychology. 6. ed. New York: Wiley, 2006. (Social, emotional and personality development, v. 3, p. 226-299). EGGEBRECHT, A. T. et al. Mapping distributed brain function and networks with diffuse optical tomography. In: Nature photonics, v. 8, n. 6, p. 448-454, 2014. FUENTES, D. et al. Neuropsicologia: teoria e prática. Porto Alegre: Artmed, 2008. GRAHAM-MCGREGOR, S. et al. Developmental potential in the first 5 years for children in developing countries. In: Lancet, v. 396, n. 9.555, p. 60-70, 2007. HOLMES, A. et al. Galanin GAL-R1 – receptor null mutant mice display increased anxiety-like behavior specific to the elevated plus-maze. In: Neuropsychopharmacology, v. 28, p. 1.031-1.044, 2003. HUTTENLOCHER, P. R. Synaptogenesis, synapse elimination and neural plasticity in human cortex. In: NELSON, C. A. (ed.). Threats to optimal development: the Minnesota symposium on child psychology. v. 27, p. 35-54. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1994. LANDEIRA-FERNANDEZ, J.; MONTARROYOS CALLEGARO, M. Pesquisas em Neurociência e suas implicações na prática psicoterápica. In: CORDIOLLI, A. V. (org.). Psicoterapias: abordagens atuais. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2007. p. 851-872. LENT, R. Neurociência da mente e do comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. LEUNER, B.; GOULD, E. Structural plasticity and hippocampal function. In: Annual Review of Clinical Psychology, v. 61, p. 111-140, 2010. / OLIVA, A. D.; DIAS, G. P.; REIS, R. Plasticidade sináptica: natureza e cultura moldando o self. In: Psicologia: reflexão e crítica, v. 22, n. 1, p. 128-135, 2009. PINEL, J. P. J. Biopsicologia. Porto Alegre: ArtMed, 2005. PLISKA, S. R. Neurociência para o clínico de saúde mental. Porto Alegre: Artmed, 2005. 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Pesquise os seguintes aplicativos usados para estimular funções cognitivas: BrainHQ; Cognifit; Lumosity; 3D Brain. No último aplicativo, sugerimos que use a tela sensível ao toque para girar e ampliar cerca de 29 estruturas interativas. Descubra como funcionam as regiões cerebrais e o que acontece quando ocorre uma lesão. Cada estrutura detalhada traz informações sobre as funções, os distúrbios e os danos cerebrais, bem como estudos de caso e links para uma pesquisa aprofundada. / CONTEUDISTA Érica de Lana Meirelles CURRÍCULO LATTES javascript:void(0); / DEFINIÇÃO A importância da linguagem e os centros de controle da linguagem no cérebro humano. Funções executivas clássicas; processamento encefálico de funções executivas; memória de trabalho; controle inibitório; flexibilidade cognitiva e redes frontais executivas. Emoções primárias, secundárias e de fundo; teorias da emoção; amígdala e medo; córtex pré-frontal e processamento emocional da tomada de decisão. PROPÓSITO Perceber que a linguagem, os comportamentos motivados, nossas emoções e as funções executivas são essenciais para respostas adequadas à vivência em sociedade como conhecemos, compreendendo, dessa forma, que identificar as bases neurais de tais processos é importante para que se entenda as diferentes respostas humanas, bem como suas adaptações. / OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os principais locais de processamento da linguagem no cérebro humano MÓDULO 2 / Reconhecer as principais funções cognitivas processadas pelo controle executivo, discernindo a relevância de tais processos na adequação de respostas ao ambiente MÓDULO 3 Identificar a importância do processamento de emoções na tomada de decisões, a influência dos estados motivacionais e os locais encefálicos relacionados aos sentimentos / INTRODUÇÃO IMAGINE A SEGUINTE SITUAÇÃO: Um professor em uma sala de aula (virtual ou não). Ele precisa explicar conceitos específicos sobre determinado assunto aos seus alunos. Para tal, ele organizou previamente um plano de aula, no qual estruturou suas ideias principais e a ordem dos assuntos que serão abordados. O professor inicia sua fala, e os alunos ouvem o discurso e fazem anotações em seus cadernos, tablets e smartphones. A comunicação se estabeleceu e foi bem-sucedida. O professor conseguiu com sucesso passar sua mensagem, que foi transmitida por meio do uso da linguagem verbal e não verbal. Além de sua fala, o professor providenciou imagens sobre o assunto em questão, que isso facilitou o entendimento da matéria. Nesse processo, tanto o professor quanto os alunos realizaram diversas atividades, na sala ou mesmo antes de chegar a ela; das mais simples (como amarrar o cadarço do tênis) às mais complexas (como elaborar esquemas, gráficos e imagens que facilitem a compreensão de determinado conteúdo). / Fonte: Shutterstock FUNÇÕES EXECUTIVAS AÇÕES E ATITUDES DIRETAMENTE ASSOCIADAS A PARTES ESPECIFICAS DO CÉREBRO Por isso, todas essas atitudes são funções executivas, que estão diretamente ligadas a partes específicas de nosso cérebro. Ao mesmo tempo, não somos capazes de compreender como aconteceria a cena hipotética que mencionamos sem imaginarmos se o professor chegou bem-humorado ou não, ou se algum aluno / sequer anotou uma frase, já que se recusava a dar atenção àquele que lhe deu nota 2,0 na prova anterior. Fonte: Shutterstock Você já se deu conta de como seriam as relações humanas se elas fossem desprovidas de emoção? TALVEZ NÃO, MAS A VERDADE É QUE AS EMOÇÕES SÃO TÃO NECESSÁRIAS COMO HABILIDADES ADAPTATIVAS QUANTO OS MECANISMOS DE TOMADA DE DECISÃO. DESSA FORMA, COMPREENDER COMO A EMOÇÃO É PROCESSADA NO CÉREBRO PODE TRAZER INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE O COMPORTAMENTO HUMANO EM DIFERENTES SITUAÇÕES. / É EXATAMENTE ISSO QUE VAMOS ESTUDAR AGORA! MÓDULO 1 IDENTIFICAR OS PRINCIPAIS LOCAIS DE PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NO CÉREBRO HUMANO POR QUE ESTUDAR A LINGUAGEM? Mas, o que é linguagem, afinal? Podemos defini-la como um sistema de comunicação com regras específicas para que um emissor envie mensagens a um receptor, de maneira que a mensagem principal seja compreendida. / Fonte: Shutterstock Os sistemas de comunicação abrangem algumas especificações. São elas: Clique nos itens a seguir. SISTEMA DE COMUNICAÇÃO PRÓPRIO AVANÇO TECNOLÓGICO EVOLUÇÃO HUMANA Embora alguns animais, incluindo primatas não humanos, possuam sistemas de comunicação próprios, a linguagem humana, sem dúvidas, é a mais complexa. Basta observarmos como a língua de determinado local sofre mudanças com o tempo: recebe novas palavras, criam-se neologismos, termos, gírias. Com o avanço da tecnologia e das realizações humanas em todas as áreas, novas palavras e novos vocabulários são criados a fim de acompanharem o desenvolvimento da sociedade. Sem contar as palavras que são absorvidas das mais diversas línguas e modificadas para se ajustarem às regras gramaticais de outra localidade. Com certeza, nossas tataravós não saberiam dizer o que é um drone ou um smartphone. Entretanto, ambos fazem parte de nossa vida no presente e sabemos seus significados e suas funções. / A linguagem, portanto, é uma adaptação fundamental na evolução dos seres humanos, e não é formada apenas de sons específicos, mas envolve ainda gestos e expressões faciais, que trazem emoção ao discurso. Durante muito tempo, o estudo da linguagem humana limitou-se a ensaios e testes com pacientes com lesões cerebrais, cujos danos restringiram aspectos da linguagem. Porém, com o avanço da tecnologia de imagens, foi possível inserir a Neurociência no processo de investigação das áreas cerebrais voltadas à linguagem, o que possibilitou uma compreensão maior do fenômeno. ALGUNS ASPECTOS DA LINGUAGEM A linguagem pode ser desmembrada em componentes mais específicos; por exemplo, a linguagem verbal inclui a vocalização de sons e a compreensão dos mesmos via sistema auditivo. Dessa maneira, dependendo do tipo de linguagem utilizada, haverá um pareamento de sistemas para a compreensão da mensagem. Quando a linguagem utilizada for escrita, o sistema visual será encarregado de receber tais estímulos. Se a linguagem utilizada for o braille, por exemplo, o sistema somestésico será o primeiro a receber as informações necessárias para que a comunicação ocorra. Linguagem verbal javascript:void(0) javascript:void(0) / Fonte: Shutterstock BRAILLE Sistema de escrita com pontos em relevo que as pessoas privadas da visão podem ler pelo tato e que lhes permite também escrever; anagliptografia. SISTEMA SOMESTÉSICO O sistema somestésico está ligado à percepção tátil. / Fonte: Shutterstock Quando comparamos a linguagem verbal falada com a linguagem escrita, por exemplo, entendemos que a primeira possui fortes bases neurais, uma vez que, nos primeiros meses de vida, os seres humanos já são capazes de iniciar processos de aprendizagem neste campo. Ao passo que a escrita ocorre em etapas posteriores da vida e depende de uma educação formal, o que nem sempre ocorre. No entanto, a linguagem deve ser considerada universal, no sentido de que todas as sociedades apresentam sistemas bem definidos de regras e se comunicam, ao menos, verbalmente. A universalidadeda linguagem nos traz a ideia de que tal fenômeno é inato ao ser humano e que, provavelmente, existam áreas específicas no cérebro para o processamento desses dados. Linguagem universal / Fonte: Shutterstock Seguem, então, alguns conceitos comuns utilizados na área de linguagem: FONEMA São unidades formadoras das palavras. São sons distintos, cuja junção resulta em palavras e frases. SINTAXE Estrutura de regras gramaticais para associação de palavras em frases. SEMÂNTICA Trata-se da compreensão do significado das palavras. PROSÓDIA São inflexões, entonações de voz, gestos e expressões faciais que acompanham a fala. ÁREAS ENCEFÁLICAS ENVOLVIDAS NA FALA / Você já se deu conta que a associação entre regiões cerebrais e a fala é uma descoberta relativamente recente? EXATAMENTE! DURANTE MUITO TEMPO, ACREDITOU-SE QUE TODOS OS PROCESSOS DE REGULAÇÃO DA FALA SE DAVAM APENAS EM NÍVEIS INFERIORES, MAIS ESPECIFICAMENTE OS MÚSCULOS DA BOCA, LÍNGUA E LARINGE. A partir de 1770, vieram os primeiros indícios de que áreas encefálicas estariam associadas a problemas na fala. Porém, em 1863, o neurologista francês Paul Broca publicou um artigo relatando vários casos de indivíduos com lesões nos lobos frontais, especificamente no hemisfério esquerdo, nos quais a linguagem estava comprometida. No ano seguinte, Broca propôs que havia dominância do hemisfério esquerdo no que diz respeito à linguagem em relação ao hemisfério direito. PAUL BROCA javascript:void(0) / Paul Broca (1824-1880) nasceu na França. Logo após concluir o curso de Medicina na Universidade de Paris (1844), tornou-se professor de Patologia Cirúrgica. Sua maior contribuição à Neurologia foi a identificação, no cérebro, do centro do uso da palavra (área de Broca). Confira, então, alguns aspectos relacionados as áreas encefálicas e a relação entre os problemas na fala. PROCEDIMENTO DE WADA O procedimento de Wada – uma técnica mais moderna desenvolvida por Juhn Wada no Instituto Neurológico de Montreal – pode comprovar tal afirmativa. Esse procedimento consiste na administração de um barbitúrico de ação rápida pela artéria carótida de apenas um dos lados do pescoço, o que faz com que apenas um hemisfério seja anestesiado. Dentre os efeitos transitórios, estão: paralisia do corpo no lado contralateral à injeção e problemas na execução de tarefas que, especificamente, são controladas pelo hemisfério anestesiado. Observe a figura: Utilizando anestésicos de ação rápida, é possível anular as funções de um único hemisfério e observar as atividades que ele regula. Dessa forma, foi possível associar a anestesia do hemisfério esquerdo e a total incapacidade de fala. Em 96% dos destros e em 70% dos canhotos, o hemisfério esquerdo é dominante para a fala. Apenas em uma parcela muito pequena da população observa-se bilateralidade da fala. javascript:void(0) / Fonte: Shutterstock Procedimento de Wada ÁREA DE BROCA A área que Broca identificou como a responsável pela articulação da fala acabou ficando conhecida como área de Broca. Complementando o estudo, o neurologista alemão Karl Wernicke mostrou que lesões no hemisfério esquerdo, fora da área de Broca, também resultam em dificuldades na fala. Tal área ficou conhecida como área de Wernicke e localiza-se próximo ao córtex auditivo e ao giro angular. Apesar de tais áreas, ainda hoje, serem implicadas em aspectos da linguagem, sabe-se que seus limites não estão totalmente esclarecidos e podem ser ainda mais abrangentes. javascript:void(0) / Fonte: Shutterstock Componentes principais do sistema de linguagem no hemisfério esquerdo JUHN WADA Juhn Wada (Japão, 1924) desenvolveu pesquisas na área de epilepsia, incluindo sua descrição do teste de Wada para domínio hemisférico cerebral da função da linguagem. Suas principais áreas de interesse são: assimetrias do cérebro humano e neurobiologia da epilepsia. Além disso, há variações entre os indivíduos, já que existem questões genéticas associadas à linguagem. Como o cérebro e suas estruturas são plásticos e mutáveis frente aos diferentes estímulos ao longo da vida, os circuitos podem sofrer variações de um indivíduo para o outro. / KARL WERNICKE Karl Wernicke (1848-1905) nasceu na região da Prússia (onde hoje é a Polônia/Alemanha). Estudou Neurologia, buscando identificar doenças nervosas de áreas específicas do cérebro. Dedicou-se a pesquisar distúrbios que implicam na funcionalidade da fala e escrita. O ESTUDO DAS AFASIAS E O MODELO DE WERNICKE-GESCHWIND Você já percebeu que parte dos estudos sobre a linguagem e sua associação com áreas encefálicas advém da análise de casos de afasias? É ISSO MESMO! A AFASIA É A PERDA PARCIAL OU COMPLETA DA FALA, RESULTANTE DE / LESÕES ENCEFÁLICAS. NA MAIORIA DAS VEZES, ISSO ACONTECE SEM QUE HAJA PERDA COGNITIVA OU DA CAPACIDADE DE MOVER OS MÚSCULOS ENVOLVIDOS NA FALA. A afasia de Broca é caracterizada pela perda da capacidade de fala, com preservação da compreensão do que é ouvido ou lido. Pessoas com essa síndrome apresentam fala difícil e telegráfica com recorrente anomia, ou seja, incapacidade de encontrar nomes. Tal anomia é seletiva, uma vez que palavras de conteúdo, como substantivos, verbos e adjetivos, são frequentemente utilizadas. Já palavras de função, como artigos, conjunções e pronomes, não são utilizadas e não fazem parte das frases. Conclui-se que a afasia de Broca está relacionada a algum tipo de dificuldade motora na articulação da fala, uma vez que a compreensão é mantida, porém a externalização das palavras, não. Fonte: Shutterstock javascript:void(0) / AFASIA DE BROCA Também conhecida como afasia motora ou não fluente, pois a pessoa tem dificuldade em falar mesmo que possa entender a linguagem falada ou lida. Caracterizada por dificuldades no discurso, incluindo uma ampla gama de sintomas. O discurso dos pacientes é frequentemente telegráfico e custoso, vindo em rompantes desiguais. Neste vídeo, você conhecerá um pouco mais sobre afasias. / Wernicke sugeriu que a área lesada na afasia de Broca poderia ser responsável pelo controle motor na articulação de sons e palavras. Tal ideia faz sentido quando percebemos que a área de Broca está localizada próximo à área do córtex motor, que controla a boca e a língua. Entretanto, em alguns pacientes com essa síndrome, observa-se a possibilidade de eles falarem palavras como bee (abelha, em inglês), mas nota-se igualmente a incapacidade de pronunciar palavras foneticamente similares como be (ser, em inglês). Conclui-se, portanto, que o problema estaria na distinção entre palavras de função e palavras de conteúdo, e não em problemas meramente motores, como muitos pesquisadores da área afirmam. Acompanhe mais alguns aspectos sobre a afasia de Wernicke. TAREFA NÃO VERBAL / Devido ao fluxo de fala incompreensível, é difícil verificar com a afasia de Wernicke se está havendo ou não compreensão do que é dito ou escrito. Dessa forma, designa-se determinada tarefa não verbal para verificar a compreensão do paciente. Por exemplo, pode-se pedir ao indivíduo que coloque determinado objeto sobre outro. O que se observa é que não há capacidade de compreensão mesmo para tarefas simples como essa. SONS DE ENTRADA / Da mesma maneira que a área de Broca fica perto de regiões motoras que controlam boca e língua, a área de Wernicke localiza-se próximo ao córtex auditivo. Tal associação pode induzir à ideia de que tal área está relacionada aos sons de entrada e seus significados. Em outras palavras: seria uma área de formação de memória entre sons e seus significados, o que gera a compreensão da palavra propriamente dita. REGULAÇÃO DA LINGUAGEM / Ainda em seu estudo com afásicos, Wernicke propôs um modelo de processamento de linguagem no encéfalo, o qual foi complementado por Norman Geschwind. Esse modelo, conhecido por Modelo de Wernicke-Geschwind, acaba sendo uma simplificação do que ocorrem em termos de regulação da linguagem na realidade.NORMAN GESCHWIND Norman Geschwind (1926-1984) nasceu nos Estados Unidos e teve como foco de interesse a Neurologia Comportamental. Curiosamente, ele ingressou em Harvard para estudar Matemática; porém, a Psicologia chamou sua atenção ao observar os soldados na Segunda Guerra Mundial (quando ele serviu ao Exército), agindo de forma irracional nos combates. javascript:void(0) / Para compreendermos esse modelo, vamos considerar duas situações distintas: repetição de palavras e a leitura em voz alta de um texto escrito. REPETIÇÃO DE PALAVRAS Nesse caso, as informações chegam ao encéfalo via sistema auditivo até o córtex auditivo. Este, por sua vez, processa as informações recebidas, as quais somente serão reconhecidas como palavras com significado quando processadas na área de Wernicke. As palavras serão finalmente pronunciadas depois que as informações chegarem à área de Broca, onde comandos neurais serão enviados às regiões motoras responsáveis pelo controle da língua e dos músculos associados à fala. Fonte: Shutterstock Repetição de palavras faladas (Modelo de Wernicke-Geschwind). LEITURA EM VOZ ALTA DE UM TEXTO ESCRITO / Já nessa situação, em que a tarefa é a leitura de um texto escrito, o processo final é similar, mas o início difere pelo fato de o sistema de entrada ser o visual, e não o auditivo. Nesse caso, as informações chegam ao córtex visual, são processadas e passam ao giro angular, onde serão novamente processadas e transformadas em sinais de saída para a área de Wernicke, como se fossem sinais falados, e não escritos. O processo final é o mesmo do caso anterior, com as informações sendo levadas à área de Broca e, então, para o córtex motor. Fonte: Shutterstock Repetição de palavras escritas (Modelo de Wernicke-Geschwind) SIMPLIFICAÇÕES DO MODELO DE WERNICKE- GESCHWIND Embora coerente, o modelo acaba simplificando demais certos aspectos. Por exemplo, as informações visuais podem chegar diretamente à área de Broca, sem passar pelo giro angular. / As informações visuais não precisam ser transformadas em informações auditivas, como sugerido. Além disso, sabe-se atualmente que os danos nas afasias de Broca e Wernicke dependem da extensão das áreas lesadas e de regiões não mencionadas no modelo, como o núcleo caudado e o tálamo (ambas áreas subcorticais). Outro aspecto importante reside no fato de que, em um acidente vascular cerebral (AVC), a borda limítrofe das lesões é variável, o que pode incluir ou não áreas de relevância à linguagem e que acabaram excluídas do modelo. Foram reportados ainda estudos que evidenciam a recuperação de áreas lesadas, ou ainda a substituição de função por áreas anteriormente não relacionadas à linguagem, o que agrava a compreensão dos quadros. Vários casos de afasia são acompanhados de disfunções da fala e da compreensão ao mesmo tempo. Dessa forma, foram propostos modelos mais complexos de análise, mas que mantêm alguns aspectos básicos do modelo de Wernicke-Geschwind. Fonte: Shutterstock AFASIA DE CONDUÇÃO / Clique nas setas para ver o conteúdo. Fonte:Shutterstock Feixe arqueado – fibras responsáveis pela conexão entre as áreas de Broca e Wernicke. Outro tipo de afasia existente é a afasia de condução, na qual ocorre desconexão entre as áreas de Broca e Wernicke. Tal perda de conectividade ocorre devido a lesões no fascículo arqueado, um conjunto de fibras que conectam ambas as áreas de linguagem. Nesse tipo de afasia, a compreensão e a fala são mantidas. Entretanto, como há perda da comunicação entre as áreas, há perda da capacidade de repetir palavras. O paciente até pode ouvir uma palavra ou frase e compreender o que foi dito, mas será incapaz de repeti-la em voz alta da forma correta. ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA Quando Paul Broca apresentou seus trabalhos sobre a prevalência do hemisfério esquerdo na formação da linguagem, a comunidade científica entendeu e aceitou que haveria dominância de tal hemisfério em relação ao direito, que teria apenas funções secundárias e coadjuvantes. Entretanto, o conceito de dominância hemisférica tornou-se ultrapassado; o que se entende atualmente é o conceito de especialização, e não dominância. / A especialização hemisférica se traduz em hemisférios distintos, cada qual especializado em um grupo de funções. Porém, ambos trabalham em conjunto, integrados por milhões de fibras denominadas comissuras cerebrais. Fonte: Shutterstock Comissuras cerebrais O conceito de especialização é correlacionado a outros dois conceitos: o de lateralidade e assimetria. Clique nos itens a seguir. LATERALIDADE ASSIMETRIA A lateralidade ocorre quando não há bilateralidade em alguma função e algum hemisfério acaba sendo responsável por determinada função majoritariamente. O conceito de assimetria é mais amplo e pode ser considerado sob a ótica de diversas modalidades: assimetrias morfológicas, funcionais e comportamentais. javascript:void(0) / ASSIMETRIAS MORFOLÓGICAS Uma observação precisa ser feita para que nenhuma informação seja considerada de forma simplista. O conceito de especialização hemisférica não pode ser traduzido como se o hemisfério esquerdo fosse inteiramente responsável pela fala e o direito, pelas emoções, por exemplo. Tais fatos incorrem em afirmações que carecem de necessária comprovação científica. Se quiser se aprofundar nesse assunto, visite o Explore+ ao final no tema. Ainda sobre esse estudo, utilizou-se pacientes cujas comissuras foram seccionadas a fim de evitar crises epilépticas fortes, é possível pesquisar as especialidades hemisféricas fornecendo estímulos que serão processados apenas por um lado do cérebro. Por meio de tais estudos, foi possível localizar as especializações e associá-las aos seus respectivos hemisférios, como também perceber o papel das comissuras na integração dos hemisférios. Por exemplo, quando falamos, veiculamos tanto informações cognitivas quanto afetivas, e isso se dá por integração entre os hemisférios. A prosódia é codificada pelo hemisfério direito, enquanto o esquerdo regula a compreensão linguística e a fala. javascript:void(0) / Fonte: Shutterstock Especialização hemisférica COMISSURAS Conjunto de fibras que têm a função de ligar um hemisfério do cérebro a outro. Acredita-se que a única generalização permitida quando se trata de especialização hemisférica é a de que o hemisfério esquerdo trata de funções mais específicas, enquanto o direito regula funções mais globais. Com o avanço das técnicas de imagem, foi possível observar em mais detalhes a ativação de partes específicas do encéfalo quando da execução de determinadas tarefas. Os resultados obtidos por ressonância magnética funcional de interferência (IRMf) e tomografia por emissão de pósitrons (TEP) mostram certa bilateralidade na execução de tarefas ligadas à linguagem, indo de encontro ao que se observa majoritariamente por meio de exames com pacientes lesionados ou em situações de anestesia hemisférica, como no teste de Wada. / Fonte: Shutterstock VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A IDEIA DE HEMISFÉRIOS DOMINANTES NÃO É MAIS ACEITA DESDE QUE SE ENTENDEU QUE OS HEMISFÉRIOS SE COMPLEMENTAM EM FUNÇÕES, NÃO NECESSARIAMENTE EXECUTANDO AS MESMAS AÇÕES, MAS ESPECIALIZANDO-SE. SOBRE A FALA E ESPECIALIZAÇÃO HEMISFÉRICA, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE: A) O hemisfério esquerdo é o único responsável pela execução da fala. B) Ambos os hemisférios estão envolvidos na construção da linguagem. C) As comissuras permitem a comunicação entre neurônios do mesmo hemisfério. D) Tanto em indivíduos destros quanto em indivíduos canhotos observa-se em igual proporção a dominância do hemisfério esquerdo. / 2. GRANDE PARTE DOS ESTUDOS QUE DERAM ORIGEM À ÁREA DE NEUROCIÊNCIA DA LINGUAGEM ADVÉM DE PACIENTES COM LESÕES ORIUNDAS DE CIRURGIAS OU LESÕES CAUSADAS POR ACIDENTES VASCULARES QUE CULMINARAM EM AFASIAS ESPECÍFICAS. ENTRETANTO, EMBORA NOS OFEREÇAM INFORMAÇÕES RELEVANTES SOBRE FUNÇÕES COMPROMETIDASA PARTIR DAS LESÕES, ALGUNS DADOS CONTRAPÕEM TAIS ESTUDOS. ASSINALE A AFIRMATIVA CORRETA SOBRE O ASSUNTO: A) As afasias podem variar em sintomas devido ao tamanho e à região das lesões que as geraram, trazendo alguns indícios de que as regiões definidas originalmente possuem limites variáveis. B) Apesar de as técnicas de imagem serem resultados mais específicos, a observação de sintomas em afásicos traz mais detalhes sobre as áreas estudadas. C) As áreas de Broca e Wernicke são específicas, respectivamente, no controle de compreensão da linguagem e controle do aspecto motor da linguagem. D) As lesões que resultam em afasias fornecem dados bastante acurados sobre a localização dos circuitos referentes à formação de linguagem, tanto em compreensão quanto em resposta motora. GABARITO 1. A ideia de hemisférios dominantes não é mais aceita desde que se entendeu que os hemisférios se complementam em funções, não necessariamente executando as mesmas ações, mas especializando-se. Sobre a fala e especialização hemisférica, é possível afirmar que: A alternativa "B " está correta. Apesar de a maioria das regiões designadas para a fala estarem localizadas no hemisfério esquerdo, o conjunto de informações resultantes da fala inclui processamento linguístico do hemisfério esquerdo, mas também processamento prosódico, o qual é resultado do hemisfério direito. / 2. Grande parte dos estudos que deram origem à área de Neurociência da Linguagem advém de pacientes com lesões oriundas de cirurgias ou lesões causadas por acidentes vasculares que culminaram em afasias específicas. Entretanto, embora nos ofereçam informações relevantes sobre funções comprometidas a partir das lesões, alguns dados contrapõem tais estudos. Assinale a afirmativa correta sobre o assunto: A alternativa "A " está correta. As lesões que ocasionam afasias são, normalmente, oriundas de AVCs, os quais podem variar em extensão e fatores associados. Dessa maneira, os dados relacionados a tais condições podem não ser exatamente específicos em termos de localização e função relacionada. Os exames de imagens podem proporcionar mais dados associados, facilitando o estudo de tais regiões no encéfalo. MÓDULO 2 RECONHECER AS PRINCIPAIS FUNÇÕES COGNITIVAS PROCESSADAS PELO CONTROLE EXECUTIVO, DISCERNINDO A RELEVÂNCIA DE TAIS PROCESSOS NA ADEQUAÇÃO DE RESPOSTAS AO AMBIENTE CONTROLE EXECUTIVO A IMPORTÂNCIA DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS Já parou para pensar sobre qual a Importância das funções executivas? / TODOS OS DIAS, EXECUTAMOS DIVERSAS ATIVIDADES E RESPONDEMOS AO AMBIENTE COM COMPORTAMENTOS NORMALMENTE ADEQUADOS ÀS SITUAÇÕES. VAMOS AO TRABALHO, À FACULDADE, DIRIGIMOS, PEGAMOS TRANSPORTES, DEPARAMO-NOS COM PESSOAS, POR VEZES DESCONHECIDAS, E LIDAMOS COM SITUAÇÕES, ORA CORRIQUEIRAS, ORA DESAFIADORAS Em paralelo, para criar respostas adequadas aos estímulos, nosso encéfalo (composto por cérebro, cerebelo, tronco encefálico), por meio de suas inúmeras e complexas conexões neurais, processa tais estímulos e adiciona ainda componentes emocionais, memórias e outros aspectos que compõem nossas reações. Em outras palavras, nossas ações externalizadas são resultado de uma série de processos executivos coordenados, ou seja, existe um comando executivo atuando a todo momento na mediação de nossas respostas frente aos estímulos recebidos constantemente. / Fonte: Shutterstock Componentes do encéfalo. POR EXEMPLO, IMAGINE-SE NA SEGUINTE SITUAÇÃO: Você está entrando em um restaurante para almoçar com seu chefe. Você nunca esteve nesse restaurante; ainda assim, você sabe exatamente o que fazer. Você decide o prato que vai pedir levando em consideração suas preferências alimentares, o custo-benefício de seu pedido e sua dieta recém-iniciada. Paralelamente, você está preocupado com as respostas que dará ao seu chefe, já que, claramente, esse almoço é um teste. Você decide rapidamente quais informações dará e de que maneira o fará utilizando a linguagem adequada à situação. Com certeza, não trará à tona o atraso do mês anterior, a não ser que seu chefe aborde o assunto. Você provavelmente não vai beber do copo dele nem dar uma garfada no risoto de camarão que ele pediu. Também não contará piadas. Por que trouxemos tal exemplo? / PORQUE, EMBORA PAREÇAM AÇÕES COMUNS, PESSOAS COM DISFUNÇÕES EXECUTIVAS, DEPENDENDO DA REGIÃO AFETADA, PODEM TER DIFICULDADES PARA ATUAR EM TAL SITUAÇÃO. ATENÇÃO Na verdade, o domínio executivo permite que consigamos planejar, flexibilizar quando necessário e autorregular nossos processos mentais e comportamentais. O CASO PIONEIRO O conceito de função executiva veio da percepção de que indivíduos com sérios problemas comportamentais e de personalidade podem apresentar resultados normais (ou até superiores em desempenho) em testes cognitivos padronizados. É o caso de Phineas Gage, o indivíduo cujo acidente com uma barra de ferro modificou sua vida e as pesquisas sobre o funcionamento do cérebro (na verdade, encéfalo). / Fonte: Wikipédia Simulação dos danos de conectividade e crânio de Phineas Gage Em 1848, Gage, que trabalhava na construção de uma estrada de ferro nos Estados Unidos no auge de seus 25 anos de idade, teve a cabeça atravessada de baixo para cima por uma barra de ferro de 1m de comprimento e 30mm de diâmetro. Incrivelmente, foi levado com vida ao hospital, onde detectou-se a perda de parte do lobo frontal esquerdo. Gage perdeu a visão e ficou com o rosto paralisado no lado onde a barra o atingiu. Embora suas funções cognitivas estivessem aparentemente intactas, Gage foi incapaz de retornar ao trabalho devido a mudanças drásticas em seu comportamento. Dentre elas, apresentava-se mais agressivo e menos respeitoso com quem interagisse, principalmente se fosse contrariado. Passou parte de sua vida posterior ao acidente exibindo-se em circos com sua barra de ferro. Faleceu junto à família de mal epiléptico. O caso relatado nos mostra a importância da função executiva ou do controle executivo. Phineas apresentou resultados adequados em testes padronizados de funções cognitivas como memória, capacidade de realizar cálculos, além de testes relacionados à linguagem. Entretanto, sua convivência em sociedade e a execução de seu trabalho foram afetados de forma drástica por mudanças nas funções executivas. Um dos axiomas da Neuropsicologia diz que o funcionamento executivo adequado gera autonomia ao indivíduo em relação ao meio ambiente. Confira alguns aspectos importantes desse javascript:void(0) / tema: Clique nos itens a seguir. AUTONOMIA PERDIDA X LESÕES AUTONOMIA PERDIDA X MEIO AMBIENTE Nesse caso, quando a autonomia é perdida por lesões específicas em áreas relacionadas ao controle executivo, perde-se parte da capacidade adaptativa ao ambiente. A perda de autonomia em relação ao ambiente está relacionada ao fato de que os estímulos externos, em situações onde a função executiva não está preservada, acabam por se tornar prevalentes em relação às vontades e aos planejamentos do indivíduo. AXIOMAS Axioma, originário da Lógica, corresponde a uma sentença inicial ou fundamento de alguma teoria sobre a qual se desenvolvem novos conceitos. Para compreender essa relação entre autônima perdida e o meio ambiente é necessário analisar um dos principais testes de função executiva: Você conhece o teste de Stroop ou teste de interferência cor-palavra? Neste teste, é pedido ao indivíduo que diga em voz alta, o mais rápido que conseguir, o nome das cores de uma sequência dada (figura 10). No primeiro caso, o estímulo é a imagem de círculos de cores diferentes. Na segunda etapa, ocorre o teste de interferência propriamente dito. O estímulo, agora, consiste na mesma sequência de cores. Porém, em vez de círculos coloridos, aparecem os nomes de cores impressos em cores incongruentes. AGORA É COM VOCÊ! FAÇA O TESTE DE STROOP! / Instrução: Você irá precisar de um marcador de tempo, um cronômetro para esse teste. ETAPA 1:
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