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AS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE Núcleo de Educação a Distância – www.unigranrio.com.br Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160 - 25 de Agosto - Duque de Caxias - Rio de Janeiro (RJ) Reitor Arody Cordeiro Herdy Pró-Reitor de Administração Acadêmica Carlos de Oliveira Varella Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-graduação Emilio Antonio Francischetti Pró-Reitora Comunitária e de Extensão Sônia Regina Mendes Copyright © 2016, Unigranrio Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Unigranrio. SANTOS, Vania Martins dos. As Transformações da Sociedade. / Vania Martins dos Santos. – Rio de Janeiro: Unigranrio, 2016. 24p.; 20 x 27 cm. 1. O Ponto de Vista Sociológico e sua Aplicação na Administração. 2. Revolução Industrial: As Fábricas e os Problemas Sociais. 3. Surge a So- ciologia. 4. Surge a Administração. NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA COORDENAÇÃO GERAL Jeferson Pandolfo Departamento de Produção PRODUÇÃO E EDITORAÇÃO GRÁFICA Márcia Valéria de Almeida MATERIAL DIDÁTICO ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Vania Martins dos Santos DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Gabriela Moreno REVISÃO Carla Patrícia Araujo Processo de Cálculo e Pagamento de Salário umário As Transformações da Sociedade Objetivos ........................................................................................................................03 Síntese ...........................................................................................................................23 Trabalho Discente Efetivo - TDE ......................................................................................25 Leitura Complementar ...................................................................................................26 Recuperação/Reforço da Aprendizagem .........................................................................27 Referências Bibliográficas ...............................................................................................33 S 1. O Ponto de Vista Sociológico e sua Aplicação na Administração .................................04 1.1. Utilizando a Imaginação Sociológica para Compreender as Organizações ............... 04 2. Revolução Industrial: As Fábricas e os Problemas Sociais ............................................17 2.1. O Surgimento das Fábricas ........................................................................................ 17 2.2. Grandes Problemas Sociais ....................................................................................... 19 2.3. Revoltas Operárias, Anarquismo e Socialismo .......................................................... 19 2.4. Mecanização e Alienação nas Fábricas ..................................................................... 19 3. Surge a Sociologia .......................................................................................................17 4. Surge a Administração ................................................................................................17 As Transformações da Sociedade 3 Ao final desta unidade de aprendizagem, você será capaz de: ● Compreender o ponto de vista sociológico e sua aplicação ao contexto das organizações; ● Identificar as transformações geradas pela Revolução Industrial, no sistema de produção, na organização do trabalho e na vida em sociedade; ● Analisar os problemas sociais e os conflitos ideológicos que marcaram o surgimento da moderna sociedade industrial; ● Compreender as diferenças entre as abordagens da administração e da sociologia às mudanças trazidas pela Revolução Industrial. bjetivosO As Transformações da Sociedade 4 1. O Ponto de Vista Sociológico e sua Aplicação na Administração A sociologia é o estudo da relação do homem com seus diversos contextos sociais, sejam estes peque- nos grupos, como a família e o círculo de amigos, ou conjuntos mais amplos como empresas, ou ainda os valores culturais partilhados por um país ou até mesmo pela sociedade global. Os contextos sociais são formados por fenômenos que, embora surjam das ações e interações hu- manas, não dependem unicamente da vontade dos indivíduos. Quando os indivíduos interagem nesses contextos sociais, sentem que sua margem de ação está de alguma maneira limitada por forças que não podem controlar. São forças sociais que refletem os padrões e as regularidades existentes na sociedade. Em boa parte das vezes, nos adequamos a estas “forças sociais”, mas em outras exercemos ações de resistência a essas forças, que podem provocar algum tipo de mudança no mundo social. Este tipo de dinâ- mica das interações humanas também é foco de interesse da sociologia. As Transformações da Sociedade 5 Deste modo, do ponto de vista sociológico, para compreender como os indivíduos se relacionam com uma organização, seja trabalhando nela ou consumindo seus produtos, é necessário entender que os indi- víduos não são seres isolados, mas sim partes de grupos, sociedades e culturas que interferem em sua visão de mundo e em seu comportamento (SANTOS, 2009). 1.1 Utilizando a Imaginação Sociológica para Compreender as Organizações Como afirma o sociólogo Wright Mills (1975), toda ação humana é uma ação social, pois está inserida em um conjunto de padrões sociais dados pela sociedade. Assim, a imaginação sociológica consiste em relacionar fatos vivenciados individualmente com acon- tecimentos da sociedade, que na verdade refletem questões mais amplas. Vamos tomar como exemplo, um ato simples do nosso cotidiano, conforme sugerido pelo sociólogo Anthony Giddens: Considere o simples ato de tomar uma xícara de café. O que poderíamos dizer, a partir de um ponto de vista sociológico, sobre esse exemplo de comportamento aparentemente tão desinteressante? Poderíamos assinalar que o café possui um valor simbólico como parte de nossas atividades diárias, pois é um ritual que convida à socialização. Segundo, o café é uma droga lícita; mas existem outras drogas ilícitas. Os sociólogos estão interessados no porquê da existência de tal contraste. E por último, o hábito de beber café está relacionado a uma rede econômica internacional de importação e exportação, e também a um passado histó- rico. (GIDDENS, 2005, p.24-25) Charles Wright Mills (1916-1962) foi um sociólogo norte-americano que tornou-se conhecido por seu livro A Imaginação Sociológica, publicado em 1959. Para Wright Mills, a imaginação socio- lógica significa um pensamento criativo, capaz de conectar a vida do indivíduo com a sociedade mais ampla. Utilizando esta imaginação, podemos ultrapassar uma visão limitada do comporta- mento humano, percebendo como tantas situações pessoais estão conectadas à história e às con- dições da sociedade em que vivemos. “Para compreender as modificações de muitos ambientes pessoais, temos a necessidade de olharmos além deles”. (MILLS, 1975, p.17) SAIBA MAIS+ As Transformações da Sociedade 6 Para a sociologia, devemos observar as organizações de um modo semelhante, ou seja, como parte de contextos sociais. Para começar, as organizações são em si mesmas unidades sociais que dependem do esforço cooperativo de uma coletividade de pessoas para atingir determinados objetivos. Em outras pala- vras, sem as pessoas e sem as relações sociais que as conectam, não existiriam organizações. Além disso, toda organização está inserida em uma sociedade e é influenciada pelos fatos sociais que nela ocorrem. Por isso, não podemos ver as organizações como entidades isoladas do restante da socieda- de. Podemos perceber pelo caso da empresa McDonald’s, que quando a sociedade e seus valores culturais mudam, as organizações também sofrem os efeitos dessas mudanças. Observe nos casos a seguir como os fatos da sociedadeestão ligados ao que ocorre na vida dos indiví- duos e das organizações: Na década de 1960, a General Motors teve que mudar o nome do Chevrolet Nova ao lançar o pro- duto no México, porque “no va” em espanhol significa “não anda”. Felizmente a empresa percebeu que a influência da língua, um fator cultural, determinava a avaliação que os consumidores faziam de seu produto. Muitas empresas que não prestam atenção a este fenômeno sofrem com o choque cultural que seu produto provoca nos consumidores. A mesma sorte não teve uma empresa americana, líder em vendas de bolas de golfe nos EUA, que fracassou ao lançar o mesmo produto no Japão. Ao analisar as causas que determinaram a re- jeição dos consumidores ao produto, a empresa percebeu que as bolas eram comercializadas em caixas com quatro unidades – número cuja pronúncia, na língua japonesa, é semelhante à palavra “morte”. Movimentos ou grupos organizados na sociedade também representam uma influência impor- tante a ser considerada. Na década de 1990, a Nike tirava proveito dos baixos custos da mão-de-o- bra de seus fornecedores, localizados em países pobres e distantes dos EUA. Até que a fotografia de uma criança costurando bolas em uma fábrica no Paquistão rodou o mundo, gerando um grande escândalo que forçou a empresa a modificar completamente a seleção de seus fornecedores. As Transformações da Sociedade 7 Na década de 1930, um grupo de pesquisadores liderados por Elton Mayo foi chamado por uma empresa que não entendia porque tinha baixa produtividade, quando pagava bons salários aos funcionários. Mayo descobriu que os operários formavam grupos no local de trabalho e mantinham uma regra para produzir até um determinado nível, punindo aqueles que tentavam ultrapassar esta meta. Como resultado da pressão do grupo, o nível de produção permanecia estacionado. Mayo ha- via descoberto a influência do grupo e de suas normas sociais na produtividade. FONTE: SANTOS (2009) Para que possamos compreender melhor a influência dessas forças sociais sobre a vida das organi- zações, a sociologia tem muito a contribuir. Ela é uma ciência que desenvolveu um conjunto de conheci- mentos sobre os fenômenos da sociedade, sobre como eles surgem, se desenvolvem e que consequências trazem para a vida humana e organizacional. Sendo assim, o administrador busca, com o auxílio da sociologia, entender como certos fatos sociais podem afetar o modo como as pessoas – por exemplo, empregados e clientes – se relacionam com as em- presas. Um administrador que aplica os conhecimentos da sociologia pode, por exemplo: ● Compreender melhor as interações humanas que ocorrem no ambiente de trabalho – como por exemplo a formação dos grupos e como eles afetam o desempenho dos funcionários. ● Captar as mudanças que ocorrem na sociedade e que afetam os negócios, como o surgimento de novos valores que interferem nos hábitos de consumo. NA PRÁTICA Um gestor que seja capaz de utilizar estes conhecimentos pode ter uma compreensão bem melhor so- bre a organização que administra, conseguindo entender a influência destes fenômenos sociais e tomando as decisões corretas para lidar com eles. É com este objetivo que vamos buscar os conhecimentos da sociologia e trazê-los para refletir o con- texto das organizações. As Transformações da Sociedade 8 Com a sensibilidade aguçada pela sociologia, um gestor pode compreender melhor a influência de certos fenômenos sociais sobre a organizações e tomar as decisões corretas para lidar com eles. IMPORTANTE Agora que traçamos as primeiras relações entre sociologia e administração, vamos buscar compreender justamente o con- texto social que deu origem a estas duas ciências. Por isso vamos voltar um pouco no tempo e analisar os impactos sociais da Revolução Industrial. 2. Revolução Industrial: As Fábricas e os Problemas Sociais A sociedade capitalista, urbana e industrial da qual fazermos parte hoje tem seu início a partir de um longo processo histórico que tem como um de seus eventos mais marcantes a Revolução Industrial, a partir do século XVIII. Durante o século XIX, surgem os grandes clássicos da sociologia e, logo na primeira década do século XX, os primeiros cientistas da administração. Assim, podemos dizer que a sociologia e a administração surgem como ciências a partir do contexto da Revolução Industrial. Mas veja bem, estamos dizendo que elas surgiram neste contexto como ciências. Antes desse momento, é claro, as pessoas administravam empreendimentos e também já desenvolviam reflexões sobre a vida em sociedade. Isso quer dizer que alguma forma de pensamento social e também algumas técnicas para conduzir negócios, organizações e governos já existiam e eram postos em prática pelas pessoas. As Transformações da Sociedade 9 A novidade surgida com o capitalismo industrial foi que estas formas de conhecimento tornaram-se ciências, isto é, tornaram-se conjuntos sistematizados de conhecimento, baseados em estudos, observa- ções e testes – que passaram, inclusive, a ser ensinados em universidades. Por que será que a sociologia e administração tornaram-se conhecimentos científicos necessários na sociedade capitalista industrial? 2.1. O Surgimento das Fábricas As sociedades anteriores ao capitalismo industrial eram basicamente agrárias, baseadas no trabalho artesanal. Eram as sociedades feudais em que os camponeses produziam tudo que necessitavam. Este mo- delo econômico estava baseado nos feudos como unidades produtivas. (HUBERMAN, 1976) Nesta sociedade, padeiros, carpin- teiros e tecelões, dentre outros artesãos, viviam, produziam e supriam as neces- sidades de suas comunidades por meio de um sistema no qual a produção era realizada por um mestre, em sua própria casa, ajudado por aprendizes, geralmen- te de seu núcleo familiar. No sistema feudal, todas as ferramentas e todo o conhecimento técnico pertenciam aos artesãos, que organizavam o sistema produtivo e vendiam o produto de seu trabalho. O início da era indústria trouxe consequências à sociedade. Estude mais sobre o assunto com o vídeo disponível no ambiente virtual de aprendizagem. VÍDEO Gravura da Idade Média que descreve o trabalho de fazer moedas em oficinas. As Transformações da Sociedade 10 Porém, com o crescimento das cidades e o aumento do consumo, este tipo de produção não dava mais conta da demanda, obrigando os artesãos a se associarem a um grupo emergente de comerciantes – os burgueses ou capitalistas, com grande poder financeiro, que forneciam a matéria-prima aos artesãos e vendiam os produtos produzidos por eles em outros mercados. Logo esta classe burguesa percebeu uma forma mais interessante e lucrativa de explorar o negócio. Criaram um sistema em que a produção ficava sob seu controle, retirando-a da casa do artesão e colocan- do-a na fábrica. Na fábrica, os capitalistas determinavam não só a quantidade de produtos que devia ser produzida, como também como produzi-los. A fábrica, e, claro, o produto final pertencia ao capitalista que dominava todo o processo produtivo. Os burgueses passaram então a reunir vários trabalhadores em um mesmo local de produção, para que pudessem supervisionar a execução de suas tarefas, forçando-os a trabalhar de maneira regular e sis- temática. Neste sistema, cada trabalhador executava somente uma parte de todo o processo produtivo, de acordo com certa divisão do trabalho, de modo que a mercadoria só estava acabada após passar por várias mãos. Os burgueses tornaram-se patrões dos artesãos. Aliás, não podemos mais chamá-los de artesãos, pois eles não são mais donos de nada. A fábrica pertence ao burguês que domina todo o processo produtivo. Porém, restou alguma coisa que o artesão continuou a possuir: sua força de trabalho, que foi vendida ao dono da fábrica como uma mercadoria em troca de salário. Então, o artesãopassou a fazer parte de uma nova classe social – a classe operária. No capitalismo industrial, a unidade produtiva não é mais a casa do artesão, e sim, a indústria. Os capitalistas reuniram vários trabalhadores em um mesmo local de produção – a fábrica – para que pudessem controlar a execução do processo produtivo. IMPORTANTE As fábricas também atraíram os camponeses que vieram para a cidade em busca de trabalho. Mui- tos camponeses foram expulsos das terras quando seus donos perceberam que poderiam criar ovelhas e oferecer lã para a manufatura têxtil. Para isso, fizeram o cercamento das terras para a criação de pastos que empregavam bem menos pessoas. Além disso, conforme a tecnologia avançava sobre o campo, mais camponeses ficavam sem trabalho. As Transformações da Sociedade 11 Assim, artesãos e camponeses perderam seus meios de subsistência, e as fábricas se tornaram a única possibilidade de emprego. Nas fábricas, os ex-artesão e ex-camponeses tornaram-se a nova classe operária e foram obrigados a trocar sua forma tradicional de trabalho pela disciplina da fábrica. Na ilustração a seguir, podemos ver uma comparação entre as características básicas da sociedade feudal e da sociedade capitalista industrial que se instalou em seguida. Sociedade Feudal ● Principais classes: nobreza, clero, camponeses e artesãos; ● Economia baseada em atividades agrícolas e artesanais; ● Predomínio de áreas rurais; ● Pouca mobilidade social entre classes; ● Amplo domínio da Igreja sobre a vida social. As Transformações da Sociedade 12 Sociedade Capitalista Industrial ● Novas classes sociais, como a burguesia (industriais) e o proletariado (operários); ● Economia baseada em atividades industriais e de serviços; ● Predomínio das áreas urbanas; ● Intensa mobilidade social; ● Multiplicidade de valores e visões de mundo. FONTE: Adaptado de Huberman (1976) 2.2. Grandes Problemas Sociais O aumento da produção gerado pelas novas tecnologias aplicadas à produção gerou muita riqueza para os capitalistas. Com a utilização da energia a vapor, do carvão e do ferro, bem como a invenção do telégrafo, houve um grande desenvolvimento nos transportes e nas comunicações, além de um grande salto de produtividade para a indústria, com destaque para o setor têxtil. Depois, entram em cena o aço, o petróleo, a eletricidade e o motor de combustão, marcando a ascensão de novas indústrias, como a auto- mobilística. (HENDERSON, 1979). As Transformações da Sociedade 13 Mas para os operários, as condições de vida e de trabalho nas fábricas eram péssimas, pois eram sub- metidos a longas jornadas de trabalho e a baixos salários. As leis de proteção social eram precárias, o que facilitava os altos níveis de exploração cometidos pelos industriais. Era muito comum encontrar crianças trabalhando sob as mesmas condições que adultos, realidade que, infelizmente, ainda pode ser encontra- da nos dias de hoje, como podemos ver na imagem a seguir. Criança trabalhando, em fábrica têxtil em Delhi, Índia . O fotógrafo Lewis Hine documentou cenas de trabalho infantil, em fábricas americanas, no iní- cio do século XX. Disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem. INTERATIVIDADE As Transformações da Sociedade 14 Além destes problemas sociais, havia ainda um fator agravante das condições de vida dos operários. As cidades se expandiam de modo desordenado, gerando problemas de saúde, habitação e emprego. Não havia estrutura adequada para atender a grande massa vinda do campo. Resultado: a maior parte da po- pulação não desfrutava de nenhuma qualidade de vida, a despeito de toda a riqueza gerada a partir de seu trabalho. O aumento dos casos de suicídio, alcoolismo, desemprego, epidemias, prostituição e falta de moradia chamavam a atenção na época. 2.3. Revoltas Operárias, Anarquismo e Socialismo Neste período ocorreram muitas revoltas operárias, primeiro direcionadas contra as máquinas, de- pois organizadas em associações e, posteriormente, em sindicatos. O movimento operário foi influenciado por ideologias como o anarquismo e o socialismo, como podemos ver no quadro a seguir: O anarquismo deriva do termo grego ánarkhos, que significa aproximadamente algo próximo a “sem governo”. A ideologia anarquista defende a extinção de toda forma de autoridade política e religiosa, da propriedade privada e das normas que oprimem as liberdades individuais. Proudhn e Bakunin foram im- portantes defensores do anarquismo. Esta ideologia chegou ao Brasil por meio de imigrantes europeus e influenciou movimentos operários na década de 1910. O socialismo foi influenciado principalmente por Karl Marx, que criticou duramente a exploração do trabalho no regime capitalista. O socialismo defendia a revolução dos operários contra esse sistema e a construção de uma sociedade socialista, onde os meios de produção, como as terras, máquinas e ferramen- tas não seriam mais propriedade privada, mas sim gerenciados coletivamente pelos trabalhadores. FONTE: Adptado de Hunt e Sherman (1997) Por outro lado, os industriais abraçaram a ideologia do liberalismo, que defendia a propriedade pri- vada, o empreendedorismo individual e condenava as políticas de assistência aos pobres, pois a pobreza era vista como um problema exclusivo do indivíduo. Aliás, os liberais eram contra qualquer intervenção do Estado na economia. Para eles, quanto mais livre o mercado, mais eficiente seria a economia e maiores os benefícios para todos. Como você pode ver, os campos estavam bastante opostos em termos econômicos, sociais e também ideológicos. As Transformações da Sociedade 15 2.4. Mecanização e Alienação nas Fábricas Ao contrário do modo artesanal, no qual o artesão dominava todas as etapas de elaboração de um produto, as fábricas trabalhavam com um sistema de divisão de tarefas no qual o operário ficava limitado a uma tarefa repetitiva, monótona e muito simples, junto a uma máquina que determinava o ritmo de tra- balho. A mecanização do sistema produtivo obrigou o operário a trabalhar no ritmo da máquina. Você já assistiu ao filme Tempos Modernos? No longa, Chaplin é um operário de uma linha de montagem que é levado à loucura pelo ritmo frenético de seu trabalho. Relembre a cena mais fa- mosa desta produção. Disponível no Ambiente Virtual de Aprendizagem. VÍDEO O sociólogo alemão Karl Marx (1818-1883) deu um nome a esta condição de trabalho na in- dústria: alienação. O operário alienado é aquele que se dedica a uma tarefa tão fragmentada, que perde a noção de sua ligação com o restante da produção. Aliás, o trabalho como um todo perde o sentido quando realizado nestas condições. SAIBA MAIS+ Além de aumentar a escala de produção, a mecanização do campo e da indústria trouxe uma questão social que é debatida até os dias atuais: a substituição do trabalho humano pela máquina. A combinação entre avanço tecnológico, aumento de produtividade e geração de empregos tem sido um grande desafio até para os países ricos e desenvolvidos. Como você pode perceber, estamos diante de uma sociedade que passa por profundas transforma- ções, modificando sua estrutura econômica, social e cultural e deixando um rastro de problemas sociais no caminho. Este é justamente o ponto que atrai a atenção dos sociólogos. As Transformações da Sociedade 16 O uso de robôs na indústria torna uma leva de empregados dispensáveis. Um estudo da Universidade de Oxford calculou que dentre 700 ocupações do mercado de trabalho existentes atualmente nos EUA, metade correm grande risco de serem extintas nas próximas décadas, em decorrência do desenvolvimento tecnológico. Mesmo com a defasagem tecnológica da economia brasileira, cedo ou tarde as novas tecnologias chegarão por aqui, por isso é bom pensar em como se tornar insubstituível por uma máquina. As máquinas avançam também no setor de serviços.Funções como secretário, assistente administrativo, contador e operador de telemarketing fica- rão à mercê do avanço dos robôs, dos sof twares e da internet. Segundo especialistas, o trabalho cognitivo, aquele que exige raciocínio, julgamento e criatividade, é o que menos tem chance de ser superado pelo poder das máquinas. FONTE: STEFANO (2015) SAIBA MAIS+ As Transformações da Sociedade 17 3. Surge a Sociologia O processo de industrialização foi responsável pelo aumento de riqueza, mas também por um empo- brecimento extremo dos trabalhadores. A indústria se tornou um núcleo importante de organização social, trazendo desenvolvimento e progresso tecnológico para a sociedade, mas também uma série de conflitos desconhecidos até então. Os primeiros sociólogos, chamados de clássicos surgem no século XIX e se dedicam ao estudo dos pro- blemas sociais resultantes do processo de industrialização, como podemos ver no quadro a seguir: Os Sociólogos Clássicos e as Questões Sociais Émile Durkheim, sociólogo francês, buscou analisar as causas sociais do suicídio, fenômeno que surpreendia por suas taxas elevadas. Durkheim preocupou-se principalmente com a situação de anomia (ausência de regras sociais) da sociedade industrial e como isso causava conflitos que ame- açavam a própria ordem social. Karl Marx, sociólogo alemão, preocupou-se com os conflitos de classe e previu uma revolução operária que destruiria o capitalismo e faria surgir a sociedade socialista. Max Weber foi um sociólogo alemão que estudou a influência de crenças religiosas no surgi- mento do capitalismo e analisou o fenômeno da burocracia nas organizações. FONTE: SANTOS (2009) É importante observarmos o outro lado da Revolução Industrial. De acordo com Drucker (1993), ocor- reram também muitos benefícios para a sociedade. O padrão médio de vida dos operários tornou-se me- lhor ao longo do século XX. O estilo de vida urbano trouxe a mobilidade e a diversidade que não existiam na sociedade rural. Além disso, progressos tecnológicos no campo da medicina melhoraram a qualidade de vida. Na sociedade industrial trouxe a diversificação de ocupações e de oportunidades de vida, além de novos valores que incentivam a busca de ascensão social. Assim a mobilidade social tornou-se uma carac- terística marcante da moderna sociedade capitalista. Para Drucker, a administração teve muito a ver com isso, pois com a aplicação da administração científica nas fábricas, a produtividade se elevou junto com o padrão de vida dos trabalhadores, ao menos nos países desenvolvidos. As Transformações da Sociedade 18 4. Surge a Administração E a administração, como se encaixou neste contexto histórico? Os administradores das fábricas não olhavam muito para estes problemas sociais que atraíam a atenção dos sociólogos. As preocupações dos primeiros cientistas da administração estavam voltadas para o ambiente interno das empresas, onde ocor- riam muitos problemas que prejudicavam a produção. As indústrias foram se tornando empreendimentos cada vez mais complexos. Os operários manifes- tavam inúmeras dificuldades de adaptação ao trabalho nas fábricas. Problemas como o absenteísmo, a rotatividade de empregados, a embriaguez no ambiente de trabalho e as atitudes de revolta por parte dos operários eram vistos como os principais entraves à produção. Deste modo, foi preciso desenvolver técnicas de treinamento e de incentivo para garantir a produtivi- dade, e assim a administração foi evoluindo para atender à necessidade capitalista de tornar mais produ- tivo o trabalho e gerar mais lucro para a indústria. O sucesso dos empreendimentos capitalistas passou a depender da aplicação eficiente de conhecimentos gerenciais sistematizados. (MARGLIN, 1978). Ainda no final do século XIX, surgem os pioneiros estudos sobre organização do trabalho. No começo do século XX, os primeiros teóricos científicos da administração, como Taylor e Fayol, se dedicam a buscar soluções para os problemas que afetavam as fábricas, visando garantir o retorno do capital investido. Os conhecimentos sobre como administrar começaram a ser sistematizados na forma de teorias que apresen- taram ao mundo industrial os métodos fundamentais de administração. Frederick Taylor (1856-1915) apostava que a administração científica era capaz de tornar mais produtivos os trabalhadores, mas para isso seria necessário que a fábrica fosse conduzida por ge- rentes profissionais e não por proprietários que tinham muito capital financeiro e nenhum conhe- cimento de administração. Taylor procurou mostrar que a crença dos donos da fábrica, de que os trabalhadores deveriam trabalhar mais horas ou esforçar-se mais durante a jornada para que a produção aumentasse, estava errada. O que faltava aos trabalhadores era a seleção e o treinamen- to adequados, além de métodos planejados para realizar suas tarefas – algo que poderia ser ofe- recido pelo gerente profissional. FONTE: Motta e Vasconcelos (2006) SAIBA MAIS+ As Transformações da Sociedade 19 Viemos até esse ponto na história para que você percebesse a que conjunto de mudanças sociais a administração esteve ligada em sua origem. Este contexto social foi, digamos assim, o “berço” da adminis- tração como ciência. Esperamos que você tenha percebido como a administração se colocou de modo diferente da sociolo- gia em face deste contexto. As Transformações da Sociedade 20 ínteseS Nesta unidade de aprendizagem, vimos que: ● A sociologia é o estudo da relação do homem com a sociedade.; ● Do ponto de vista sociológico, o indivíduo é analisado como parte da sociedade que interfere em seu comportamento.; ● As organizações estão inseridas na sociedade e sofrem os efeitos de suas transformações sociais; ● A Revolução Industrial originou um novo sistema produtivo, baseado produção fabril sob o controle da classe burguesa; ● Os sociólogos clássicos analisaram os problemas sociais gerados pela Revolução Industrial; ● Os primeiros cientistas da administração buscaram resolver os problemas que afetam as fábricas e de- senvolveram sistemas de gerenciamento para garantir a produtividade e o lucro capitalista. As Transformações da Sociedade 21 Faça um resumo do capítulo 3 do livro-texto Sociologia da Administração, que mostra como foi o pro- cesso de industrialização no Brasil e sua relação com o surgimento da gestão profissional no país. SANTOS, Vania Martins dos. Sociologia da Administração. Rio de Janeiro: LTC, 2009. rabalho Discente Efetivo – TDET As Transformações da Sociedade 22 eitura Complementar Para completar seus conhecimentos sobre o período da Revolução Industrial, acesse a Biblioteca Vir- tual da UNIGRANRIO e leia o capítulo 1 do livro Sociologia Geral, de Alessandro Paixão. PAIXÃO, Alessandro Ezequiel da. Sociologia Geral. (Série Fundamentos da Sociologia). Curitiba: Inter- saberes, 2012. Capítulo 1. Disponível em: http://unigranrio.bv3.digitalpages.com.br/users/publications/9788520436691/pages/-4 L As Transformações da Sociedade 23 ecuperação/Reforço da Aprendizagem Para reforçar sua aprendizagem, faça um resumo do conteúdo estudado abordando os seguintes tópicos: ● As contribuições que a sociologia pode trazer à administração; ● As principais mudanças ocorridas no trabalho a partir do surgimento das fábricas; ● Os problemas sociais surgidos com a Revolução Industrial; ● As ideologias que influenciaram os industriais e os operários; ● Os objetivos da sociologia e os objetivos da administração quando surgiram no contexto da Revolução Industrial. R As Transformações da Sociedade 24 eferências Bibliográficas DRUCKER, Peter. A sociedade pós-capitalista. São Paulo: Pioneira, 1993. GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005. HENDERSON, William. A Revolução Industrial. São Paulo: Verbo, 1979. HOBSBAWN, Eric.A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1994. HUBERMAN, Leo. História da riqueza do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1976. HUNT, E. K.; SHERMAN, H. J. História do pensamento econômico. Petrópolis: Vozes, 1997. MARGLIN, Stephen. Origens e funções do parcelamento das tarefas. Revista de Administração de Empre- sas, n.18, out./dez. 1978, pp. 7-22. MILLS, Charles Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar, 1975. MOTTA, Fernando Prestes; VASCONCELOS, Eduardo. Teoria Geral da Administração. Rio de Janeiro: Thom- son, 2006. SANTOS, Vania Martins dos. Sociologia da Administração. Rio de Janeiro: LTC, 2009. STEFANO, Fabiane. O fim de uma era. Revista Exame, Edição 1082, ano 49, n. 2, fev. 2015. R As Transformações da Sociedade 25
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