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Educação e Sexualidade 1

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Introdução
Autoria: Ravelli Henrique de Souza - Revisão técnica: Mariane Paludette Dorneles
Educação e sexualidade
UNIDADE 1 – SEXO, SEXUALIDADE E
IDENTIDADE DE GÊNERO
Para compreendermos as identidades de gênero, sexo e sexualidade é preciso
entender que a subjetividade humana está relacionada à construção e à
reconstrução de si e do outro, pois partilhamos a produção do imaginário
simbólico em diversos níveis, da forma que, do ponto de vista estrutural, somos
internamente parecidos e também partilhamos uma linguagem comum em nosso meio
de comunicação. A linguagem como composição do plano simbólico faz parte de uma
universalização comum que sentimos e compartilhamos em conjunto a ponto de não
ignorar as subjetividades, incorporando todas as dimensões do ser, do sentir e do saber.
Tendo isso em tempos ditos contemporâneos, reproduzimos as práticas medievais em
relação às subjetividades e aos corpos ordenados e hierarquizados a partir de aparências
físicas, distinguindo os sujeitos. Esse processo nega os direitos igualitários em relação às
questões de gênero, de sexo e de sexualidade. Mediante essas considerações sociais,
esta unidade tem o objetivo de esclarecer conceitos e refletir sobre as relações de sexo,
gênero e sexualidade no ambiente escolar por meio da linguagem e de suas políticas
exclusivas e inclusivas com base nos questionamentos: O que precisamos compreender
conceitualmente sobre sexo biológico? De onde surgiu a história do sexo e da
sexualidade? Quais são as manifestações da sexualidade e da heteronormatividade ao
longo da vida? Como entendemos as identidades de gênero e suas subjetividades na
sociedade contemporânea? A fim de responder a tais indagações nos tópicos a seguir,
desejo a você, estudante, bons estudos!
1.1 O que precisamos compreender
conceitualmente sobre sexo biológico?
No que se refere à definição de sexo, este se caracteriza por determinismo biológico, de modo que,
no momento do nascimento, são estabelecidos os genótipos que você poderá ver a seguir. 
No caso dos machos, os indivíduos têm o gameta (células sexuais) menor e a determinação do
genótipo ocorre no momento da união dos gametas, formando o zigoto, que, em geral,
movimentam-se e produzem espermatozoides. Já nas fêmeas, o gameta costuma ser maior e
possui incapacidade de movimentos. Assim: 
O sexo biológico é determinado no nascimento e se refere às características genotípicas e fenotípicas
do corpo. Pode-se nascer homem ou mulher e, excepcionalmente, hermafrodita, sendo o
hermafroditismo uma anomalia genética rara em que ambos os órgãos genitais, masculino e feminino,
Para fêmeas. 
Para machos. 
XX 
XY 
A palavra “hermafrodita” é um conceito antigo, utilizado para diminuir pessoas consideradas
cientificamente como intersexo; ou seja, esse termo é empregado para justificar diversificadas
condições em que 
Assim, nas lentes de Foucault (2015), a partir do final do século 17 e início do 18, caracterizados
como “Idade da Repressão” ganharam força os discursos opressores e binários, que categorizam
as subjetividades humanas em uma organização binária, limitada ao conceito de sexo biológico,
categorizado por ideais de ser macho e fêmea. 
Em outras palavras, é possível dizer que, por meio dos inúmeros discursos que constituem o
sujeito, a subjetividade é fruto de processos históricos e discursivos que naturalizam os diferentes
modos de enunciação.
#PraCegoVer: a figura mostra um par de sapatos preto diante de uma encruzilhada sobre qual
decisão tomar a respeito do gênero: homem, mulher ou intersexual.
Para melhor esclarecimento, assim como Foucault não pretendemos “[...] afirmar que o sexo não
tenha sido proibido, bloqueado, mascarado ou desconhecido desde a época clássica; nem mesmo
afirmamos que a partir daí ele o tenha sido menos do que antes” (FOUCAULT, 2015a, p. 17).
Também como Silva (2017), consideramos que o sexo deve ser entendido como uma categoria
social, econômica e política de poder, sendo necessário reescrever sua história a partir de
elementos culturais fundamentais que não sejam pautados na pastoral cristã. Desse modo, é
preciso entender as sexualidades a partir da vontade de ser e saber, para não nos determos a tabus
violentadores que deslegitimam a sexualidade como uma ciência construída social e culturalmente
(SOUZA; OLIVEIRA; CALSA, 2020). 
estão presentes. (TAQUETTE, 2015, p. 52) 
[...] uma pessoa nasce com uma anatomia reprodutiva ou sexual que não parece caber as definições
típicas de fêmea ou de macho. Por exemplo, uma pessoa pode ter nascido parecendo ser do sexo
feminino do lado de fora, mas tendo principalmente anatomia masculina típica no interior. Ou uma
pessoa pode nascer com órgãos genitais que parecem estar entre os tipos habituais do sexo masculino
e feminino - por exemplo, uma menina pode nascer com um clitóris notoriamente grande, ou sem uma
abertura vaginal, ou um menino pode nascer com um pênis, principalmente  pequeno, ou com um
escroto que é dividido de forma que se formou mais como lábios. Ou uma pessoa pode nascer com
genética do mosaico, de modo que algumas de suas células têm cromossomos XX e algumas têm XY
(SOUZA; ARAÚJO, 2017, p. 2) 
Figura 1 - Representação dos sexos, masculino, feminino e intersexo
Fonte: Mantinov, Shutterstock, 2020.
1.2 A história do sexo e da sexualidade:
interesse e influências da pastoral cristã
Pelas proposições de Foucault (2015), tem-se os impactos da instituição pastoral a partir do século
18, com forte repressão sobre o sexo e a sexualidade de homens e mulheres por meio da
institucionalização do mecanismo da confissão. Como uma das estratégias de poder, a confissão
contribuiu para a definição de indivíduos e de grupos como corpos abjetos e marginalizados, que
lutam e resistem nas várias esferas sociais, incluindo a instituição escolar. Para se confessar, é
preciso uma segunda pessoa e tal ato supõe um segredo ligado à sua familiaridade e abjeção,
enquanto sua verdade é garantida pelo vínculo entre aquele que fala, aquilo que se fala e aquele que
escuta e absolve. Curiosamente, a confissão produz a “verdade” em relação ao discurso sobre o
sexo até mesmo, ainda, na contemporaneidade.
A confissão segundo Foucault (2015), a partir de sua obrigatoriedade pastoral, enraizou-se de
maneira que as pessoas são manipuladas a não perceberem o efeito coercitivo de seu poder
contínuo, visto que, ao reduzir o silêncio, a verdade se tornou revelação como uma espécie de
liberação dos pecados produzida pelas relações de poder, quando nem a dita liberdade é livre por
natureza e o sexo tornou-se privilégio da confissão. A atribuição da censura pelo propósito da
confissão é ilusória, pois é preciso inverter a representação de poder constituída por essa
instituição de poder disciplinar para acreditarmos que a liberdade sexual e o processo de
autorreflexão nos permite entender processos humanos, culturais e sociais relacionados ao que
somos, ao que não somos, ao que fazemos e ao que devemos esquecer.
#PraCegoVer: a figura mostra a silhueta de dois homens de terno, de mãos dadas, caminhando
em direção a uma igreja, simbolizando o conceito de casamento homoafetivo.
Butler (2017), ao tratar da “ilegitimidade” dos corpos, denominou pessoas: 
Figura 2 - Imagem de duas pessoas do mesmo sexo, de mãos dadas, em frente a uma igreja, representando o
casamento no campo do simbólico
Fonte: Gwoeii, Shutterstock, 2020.
homossexuais;
bissexuais;
transexuais;
travestis;
não binárias.
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Tal classificação considera essas pessoas como “corpos abjetos” perante o pensamento estrutural
biológico e normatizador da sociedade moderna. São corpos deslegitimados, que “deixam de
contar como corpos”, porque não fazem parte do “esperado para o seu sexo”, considerados
marginais pelo pensamento doutrinador da pastoral cristã.
Nesse sentido, as estratégias de resistência desses indivíduos envolvem, necessariamente, o saber.
Não qualquer saber, mas os saberes que atravessam as relações de poder que definem os corpos
e as sexualidades como instrumentosde libertação ou de submissão e de anulação. Ou seja, o
saber sobre si e sobre o outro pode ser posto tanto a serviço do aperfeiçoamento do homem, no
sentido de que “[...] as pessoas que ousarem saber poderão sacudir todas as tutelas”, quanto o
contrário (ROUANET, 1987, p. 227). Um saber dessa ordem provém do processo de experiência e
do conhecimento de si e do outro, pois permite perspectivas múltiplas, plurais e inclusivas.
De acordo com Foucault (2015), a repressão sexual instaurada pela pastoral cristã estabeleceu o
exercício da sexualidade por parte das mulheres como um pecado da carne que desafiava os
princípios e os dogmas religiosos. Diante das exigências morais dessas imposições, a pastoral
buscou produzir efeitos sobre o desejo feminino, colocando-o em discurso, como reconversão
espiritual, retorno a Deus, dores “bem-aventuradas”, tentação e amor. No entender do autor,
segundo Souza (2015, p. 3) a pastoral incita discursos repressivos “[...] centrados nas relações
matrimoniais, na relação conjugal monogâmica heterossexual, carregada de instruções,
indicações, prescrições, normas e diretrizes”. Por conta disso, práticas sexuais “[...] como
sadomasoquismo, poligamia, busca de prazeres fora do matrimônio, qualquer tipo de desejo ou
fantasia que fugisse à regra era estigmatizado”. 
Mais tarde, esse discurso foi absorvido e adaptado aos meios científicos que “[...] tomaram para si
esse campo como objeto de saber, definindo uma norma de desenvolvimento sexual de forma a
controlá-lo através dos discursos médicos e pedagógicos” (SOUZA, 2015, p. 3). Com essa
afirmação, o autor chama a atenção para o fato de que não somente a pastoral mas também
outras instituições sociais se tornam disciplinadoras da sexualidade humana, como nos assinala
Foucault (1996): o Estado, o hospício, a escola e a família, que se valeram dos conhecimentos
médicos e, mais adiante, dos pedagógicos. Tais discursos organizaram-se a fim de estabelecer o
disciplinamento, a catequização e a docilidade dos corpos e dos desejos humanos.
Transformações conduzidas pelas práticas do pragmatismo e do utilitarismo imposto pelo
desenvolvimento da modernidade permitiram, gradativamente, aos indivíduos vislumbrarem “[...] no
erotismo formas diversas de se transformarem e de, ao mesmo tempo, transformar os modos de
manifestação da sexualidade” (SOARES; RINCON, 2017, p. 74). Após séculos de grande influência
da pastoral cristã, a sexualidade ao longo do século 20 passa a dizer respeito à liberdade de
escolha, e a orientação sexual se torna alvo de controle de outras instituições sociais.
Logo, a confissão deixou de ser cristã e passou para a área da saúde, por exemplo, a psicologia e a
psiquiatria, para as quais sexo e sexualidade são classificados em paradigmas de normalidade e
não normalidade. Em uma perspectiva patológica, ambos necessitam de intervenções clínicas que
fazem parte de um processo sutil de hierarquização e de articulação em torno de jogos de poder
(SOUZA, 2015). Ao intitular a sexualidade como scientia sexualis, ou seja, como uma ciência,
Foucault (2015) destaca uma nova forma de prazer dos indivíduos relacionada às verdades do
prazer sobre o sexo. Dessa maneira, o sexo e a sexualidade, independentemente de proibidos ou de
objetos de sensações, passaram a ser tomados como objetos de verdade e sua confissão expande
variados campos de saberes.
Vamos, agora, falar das manifestações da sexualidade e da heteronormatividade ao longo da vida.
Acompanhe! 
Título do livro: Foucault e a Teoria Queer
Autor: Tamsin Spargo
Editora: Autêntica
Ano: 2017
A partir do capítulo 3, o qual se inicia na página 83, o livro
mostra uma  análise da história da sexualidade proposta
por Michel Foucault, que inspirou novos caminhos
destinados à sexualidade nos ambientes sociais e
educacionais.
Confira na Biblioteca Virtual da Ânima. 
Você quer ler?
1.3 As manifestações da sexualidade e da
heteronormatividade ao longo da vida
A sexualidade, nas premissas foucaultianas, corresponde às práticas discursivas que se constroem
a partir da cultura em sociedade e é um dispositivo histórico que faz parte das características
individuais dos seres humanos, manifestando-se de diferentes formas. Como consequência, os
sujeitos são constituídos por uma complexa rede discursiva que possibilita uma constante
(re)alocação entre diferentes posições e papéis.
As sexualidades são constituídas e fixadas conforme as práticas que as diferenciam entre si, sendo
rotuladas e orientadas segundo os discursos que as classificam, subjetivando os sujeitos
(FOUCAULT, 2015a). Mais do que isso, há um entrelaçamento entre poder e prazer, o que significa
dizer que há uma rede discursiva que assegura a proliferação de prazeres e sexualidades
específicas a fim de compor uma hierarquia social, classificando-as entre processos de
marginalização e/ou normalização. Nessa lógica, é possível compreender o sujeito a partir de
objetivos de legitimação e de exclusão, em que o sujeito normalizado existe porque há o sujeito
excluído, marginalizado (BUTLER, 2018). Não se trata, portanto, de uma lógica que evidencia as
diferentes sexualidades com a finalidade de aceitação e de experimentação de diferentes
potencialidades, mas de um jogo de poder que legitima o próprio poder e seus discursos. 
Dessa maneira, as sexualidades são orientadas e governadas segundo uma lógica que opõe, a
todo momento, diferentes estratégias e mecanismos. Veja a seguir quais são.
Sexualidades normatizadas.
Sobre isso, Miskolci (2007), como estudioso de Foucault, propõe pensar sob a perspectiva do
binarismo, afirmando que as inúmeras materializações hegemônicas em que a sexualidade se
constitui existem e se legitimam por meio da oposição necessária às sexualidades dissidentes.
Assim, a masculinidade hegemônica, perante a lógica binária de funcionamento do dispositivo da
sexualidade, opera em cima de uma oposição constante e conflitante entre orientações sexuais,
como a heterossexualidade e as inúmeras potencialidades das sexualidades dissidentes, fundando
uma ordem sexual nomeada por heteronormatividade. 
#PraCegoVer: a figura mostra um par de tênis preto em uma estrada de asfalto, com símbolos dos
gêneros masculino, feminino, bigênero e transexual. 
A heteronormatividade tem sua fundamentação no modelo heterossexual familiar e reprodutivo
que se impõe por meio de violências simbólicas e físicas a quem rompe com as normas de gênero
(MISKOLCI, 2017). Há, portanto, um entrecruzamento que molda uma continuidade e uma
consequência entre sexo, gênero e sexualidade, de modo que um sujeito que apresenta
determinado órgão biológico deve seguir, de acordo com a heteronormatividade, uma designação
de gênero e uma orientação sexual específicas (BUTLER, 2019). Trata-se de processos de
reiteração em constante movimentação e constituição dos corpos e dos desejos, mas que, como
destaca Butler, nunca são totalmente completos. Os corpos nunca se conformam em sua
totalidade com as normas pelas quais sua materialização é imposta, gerando potencialidades e
possibilidades de rematerialização, forçando uma constante atualização e rearticulação dos
mecanismos do poder hegemônico (BUTLER, 2019).
Os corpos inconformados, cuja materialidade se encontra fora dos limites da normatividade sexual
e de gênero, representam a oposição necessária para validar a heterossexualidade como legítima e
modelo ideal de subjetivação. Esses corpos dissidentes, classificados e orientados como sujeitos
abjetos, representam uma ameaça ao funcionamento da ordem social e política vigente, sendo
relegados a espaços de exclusão e invisibilidade (MISKOLCI, 2017). O abjeto está relacionado à
moldagem de um corpo tratado como plástico, que funciona em uma grande performance visual
de consenso orquestrado e é tratado como um corpo morto, marginalizado e inexistente (TIBURI,
2017). 
A construção política do sujeito procede vinculada a certos “[...] objetivos de legitimação e de
exclusão, essas operações políticas são efetivamente ocultas e naturalizadas por uma análisepolítica que toma as estruturas jurídicas como seu fundamento” (BUTLER, 2018, p. 19). Assim, as
possibilidades de visibilidade, quando possíveis, são investidas por representações que não são
capazes de comprometer todo um sistema que privilegia os sujeitos normalizados (DALL’ AGO;
ROCHA, 2019). Diante disso, é preciso questionar esse processo de classificação dos gêneros e
das sexualidades que os colocam em instâncias de mecanismos disciplinares efetivando ações de
violência e injúria, que podem causar a morte. 
Sexualidades marginalizadas.
Figura 3 - Representação dos simbolismos sexuais apontando em várias direções a favor da sexualidade múltipla
Fonte: Ronnie Chua, Shutterstock, 2020.
A sexualidade, na qualidade de instância subjetiva de desejo, afeto, autocompreensão e inter-
relação (MISKOLCI, 2017; BUTLER, 2018), exerce profundo papel constitutivo de um sujeito,
alçando-se à intimidade presente em todos os indivíduos. Por isso, a heteronormatividade encontra
na abjeção uma maneira eficaz de controle social ao afrontar a intimidade pessoal com as
expectativas sociais. Nesse processo conflituoso, os sujeitos são orientados a eliminarem de si
mesmos aquilo que é considerado impuro, anormal e passível de retaliação coletiva, e cedendo,
muitas das vezes, à pressão do modelo heteronormativo de existência. Trata-se da experiência da
abjeção, como explica Miskolci (2017), que deriva do julgamento negativo do desejo homoerótico,
principalmente quando sujeitos dissidentes rompem publicamente com a descrição não somente
de sexualidade, mas de gênero.
Vamos prosseguir nossos estudos discutindo como entendemos as identidades de gênero,
sexualidade, orientação sexual e suas subjetividades na sociedade contemporânea. 
Agora é com você!
Esta atividade não é pontuada.
1.4 Como entendemos as identidades de
gênero, sexualidade, orientação sexual e suas
subjetividades na sociedade contemporânea?
Na discussão plural das subjetividades, o gênero se constitui com ou sobre corpos sexuados, ou
seja, não é negada a biologia, mas enfatizada, deliberadamente, a construção social e histórica
produzida sobre as características biológicas (LOURO, 2003). As características sociais são
representadas tornando-se parte desse processo histórico, pois é no campo social que se
constroem e se reproduzem as relações desiguais entre os sujeitos. Então, o conceito de gênero
deve ser pensado de modo plural, pois são diversas as representações sobre homens e mulheres
em nosso meio social (LOURO, 2003). 
#PraCegoVer: a figura mostra uma pessoa segurando um cartaz com representação de identidade
de gênero que foge à norma binária (feminino/masculino).
O conceito de gênero como uma construção social relacionada aos movimentos sociais permite o
processo de reflexão crítica sobre as questões reprodutoras de feminilidades e masculinidades, no
sentido de ampliarmos nossas reflexões sobre os aspectos pedagógicos e educacionais em
Figura 4 - Representação de uma identidade de gênero que foge da norma binária (feminino/masculino)
Fonte: Andrii Zastrozhnov, Shutterstock, 2020.
direção à questão política, para que haja o rompimento do paradigma hegemônico de inferiorização
do gênero feminino (TEIXEIRA; MAGNABOSCO, 2010).
Há a necessidade de se propor a expansão do pensamento em relação a esses processos de
construção de masculinidades e feminilidades, uma vez que homens e mulheres possuem
variadas formas de pensamento e comportamento, e ambos podem performar masculinidades e
feminilidades (FRANÇA; CALSA, 2019).
No que diz respeito à sexualidade, “[...] faz parte da vida, está presente desde os primórdios da
existência e se manifesta de diferentes formas, dependendo da etapa de desenvolvimento em que
se encontra o indivíduo” (TAQUETTE, 2015, p. 26). A sexualidade, assim como as premissas
foucaultianas, é um dispositivo histórico, um correlato de práticas discursivas construídas
culturalmente em nossa sociedade. A sexualidade faz parte, ainda, das características dos
indivíduos, pois ela ajuda a definir suas subjetividades humanas. 
A orientação sexual, por sua vez, determina por quem o indivíduo se sente atraído para manter
relações sexuais, podendo ser alguém do sexo oposto (heterossexual), do mesmo sexo
(homossexual) ou ambos (bissexual). (TAQUETTE, 2015). Segundo Goellner (2010, p. 76), “[...]
devemos utilizar o termo “orientação sexual” para contemplar a diversidade de possibilidades de
viver a sexualidade, pois [isso] significa a orientação que cada sujeito dá ao exercício da sua
sexualidade”. A sexualidade, quando comparada ao determinismo biológico, limita o sujeito com o
olhar reducionista da supremacia que dita regras sobre corpos. 
#PraCegoVer: a figura mostra mosaico fotográfico com diversas pessoas, de diferentes etnias, em
fundo colorido, usando máscaras cirúrgicas e máscaras de pano coloridas.
Vamos aprofundar o que aprendemos até aqui. 
Na sequência, vamos entender as questões de gênero na escola. 
Figura 5 - Representação de várias pessoas, de múltiplas sexualidades, para demonstrar as diversas formas de se viver
a sexualidade, utilizando máscaras, para relembrarmos a importância de proteção da Covid-19
Fonte: Roman Samborskyi, Shutterstock, 2020.
O vídeo, a seguir, aborda de maneira lúdica as
diferenciações sobre os significados de identidade de
gênero e orientação sexual. Confira!  
Acesse (https://www.youtube.com/watch?v=-
FKnbxODW7I&t=8s&ab_channel=LorelayFox)
Você quer ver?
Agora é com você!
Esta atividade não é pontuada.
https://www.youtube.com/watch?v=-FKnbxODW7I&t=8s&ab_channel=LorelayFox
1.5 Questões de gênero na
escola
De acordo com Silva (2010), posterior e/ou até simultaneamente à família (como o caso das
crianças da educação infantil que frequentam a escola desde 0 ano de idade) podemos apontar a
escola como uma das fundamentais instituições sociais que as crianças frequentam e onde têm a
oportunidade de viver diferentes experiências. 
#PraCegoVer: a figura mostra uma fileira de dados com letras. Dois dedos giram os dados
modificando a palavra “exclusão” para “inclusão”.
Segundo Baliscei, Silva e Calsa (2018, p. 246), assim como nas escolas, “[...] famílias, igrejas,
instituições médicas, novelas, vizinhança, publicidade, revistas e internet são alguns dos meios que
competem pela construção dos gêneros”. Esses autores afirmam, ainda, que esses meios
legitimam os papéis atribuídos aos gêneros e modificam o que foi socialmente imposto pela
sociedade patriarcal e disciplinar em prol de uma compreensão plural ou transgredida para o ponto
de vista determinista. A escola como uma instituição que produz o conhecimento tem o papel de
refletir sobre essas imagens relacionadas à construção da identidade de gênero, porém nem
sempre se produz e valoriza o conhecimento culturalmente construído. Às vezes, essa instituição
desvaloriza as identidades plurais e reproduz as concepções estruturais relacionadas ao binarismo
de gênero presente na sociedade patriarcal.
Os profissionais educacionais, portanto, são fragilizados em suas percepções, sobretudo quando
práticas de disciplinamento são naturalmente nomeadas como práticas educativas e pedagógicas.
Sobre isso, há um processo de reforçamento da violência e da identidade de gênero, com a
promoção de sofrimentos físicos, mentais, sociais e sexuais com o objetivo de visibilizar e punir o
ser humano pelo simples fato de ele ser (FURLANI, 2006).
As escolas, desde a educação infantil, ao escolarizar e ao disciplinar o corpo da criança, produzem
definições e modelos de masculinidades e feminilidades a serem seguidos, e fazem com que a
prática de viver a sexualidade seja limitada, causando violência nos corpos.
Quanto a isso, valemo-nos das considerações de que, nas escolas, os estudantes “[...] são
ensinados, disciplinados, medidos, avaliados, examinados, aprovados (ou não), categorizados,
magoados, coagidos, consentidos” (LOURO, 2000, p. 11).
Figura 6 - Imagem representando o contraste entre inclusão e exclusão
Fonte: FrankHH, Shutterstock, 2020.
Ao longoda constituição da educação infantil,
o profissional educador enfrentou as
contradições entre o feminino e o masculino.
A maternagem acompanhou a história da
instituição educativa desde seu início, visto
Você sabia?
Portanto, o papel da escola é ampliar suas intenções e suas ações pedagógicas escolares no
sentido de deslocar-se da formação de homens e mulheres, construtos de critérios de
padronização da normalidade, em busca de direcionamentos em favor de novas formas de como
construímos nossas identidades sexuais e de gênero. 
Nesse processo de responsabilidade na formação de identidade, podemos afirmar que a escola
tem um papel fecundo, embora não seja a única responsável por esse processo formativo. 
Entretanto, quando analisamos a escola e todo o seu entorno precisamos tecer olhares críticos do
que vem se constituindo no cotidiano de formação da criança, uma vez que ela passa grande parte
do seu tempo envolvida por esse processo formativo e educacional.
Assim, concluímos esta unidade esperando que tenha sido proveitosa para você. Até mais! 
que bastava ser mulher para assumir a
educação da criança pequena. Essa ideia
provém, entre outros fatores, da construção
histórica de que as mulheres possuem
biologicamente características inatas para
executar tal tarefa. 
Analise o caso de Ricardo, um menino de dez
anos, matriculado no Ensino Fundamental I, que
enfrenta problemas sobre o despertar de sua
sexualidade no ambiente escolar e também em
sua família considerada tradicional. Os
principais problemas da professora e dos pais
do menino foram desestruturar a concepção de
sexualidade hegemônica e romper com as
barreiras do preconceito sofrido em ambos os
ambientes. Para resolver esses problemas, é
preciso abordar o assunto sobre sexualidade na
escola, tendo em vista que a família deve
participar de tal procedimento. 
Dessa maneira, para você, parte integrante do
ambiente educacional, a partir da situação
apresentada, quais concepções de sexualidade
uma escola inclusiva deve possuir? Como
educador, quais estratégias você pode utilizar
para criar uma cultura inclusiva? 
Vamos Praticar!
A partir da história da repressão sexual e do controle social do corpo em
relação à sexualidade, a sociedade disciplinar, entre os séculos 17 a 19,
Conclusão
investiu no corpo e na sexualidade como uma realidade biológica. Dessa
maneira, são os corpos dos indivíduos que constituem o Estado; logo,
somos todos corpos construídos historicamente com direitos de saber e
poder, e, principalmente, com direito ao respeito. Nesse sentido, como
educadores e familiares, devemos aceitar todo corpo como exclusivamente
normal e singular em suas diferenças.
É preciso ter um olhar atento e cuidadoso para os fatores socioculturais que
medeiam a constituição da sexualidade, uma vez que é envolvida pelas
intuições familiares, escolares e do próprio ambiente social, de forma geral,
nos quais a criança está inserida. O despertar da sexualidade é, desse
modo, um processo permanente, complexo e dinâmico realizado por todos
os sujeitos em suas singularidades, exigindo dos profissionais educacionais
e das pessoas que compõem o ambiente familiar a compreensão dos
conceitos relacionados a sexo, gênero, orientação sexual e sexualidade,
bem como o processo de ouvir e de ser ouvido, proporcionando um
ambiente inclusivo dotado de experiências humanas.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
compreender conceitualmente o sexo biológico e suas imposições na
sociedade. 
conhecer a história do sexo e da sexualidade a datar do século 17.
diferenciar os conceitos de sexo, gênero, sexualidade e orientação sexual.
identificar o papel da escola em relação às identidades de gênero plural e
ao processo de inclusão e exclusão.
ARAÚJO, K. T. Representações sociais de estudantes do ensino médio sobre a prática
do futebol por mulheres: intersecções entre gênero, corpo e sexualidade. 2015. 218 f.
Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2015. 
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. 16. ed. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
______. Corpos que pensam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO, G. L. (org.). O
corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. 
CANDAU, V. M. Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis:
Vozes, 2008. 
COLLING, A. M; TEDESCHI. L. A. (org.). Dicionário crítico de gênero. Dourados: Editora da
UFGD, 2015.
Referências
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