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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS –Campus I CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURIDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA JOANA MARIA DE PIERI CLIVATI Orientador: Professor MSc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Itajaí (SC), novembro de 2006. UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS –Campus I CURSO DE DIREITO – NÚCLEO DE PRÁTICA JURIDICA COORDENAÇÃO DE MONOGRAFIA OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA JOANA MARIA DE PIERI CLIVATI Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Professor MSc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Itajaí (SC), novembro de 2006. AGRADECIMENTO Agradeço sinceramente à minha orientadora, pelos conhecimentos repassados e pela dedicação fornecida durante a graduação, comprovando ser uma profissional exemplar. Venho demonstrar a minha enorme admiração. Aos meus amigos e parentes, que de alguma forma contribuíram para a realização desta pesquisa. Ao meu noivo, Leonardo, que esteve presente em toda a minha jornada acadêmica, ajudando e incentivando a alcançar esta conquista. DEDICATÓRIA Dedico esta vitória, em especial, aos meus pais, Ney e Senete, que são meu exemplo de dedicação e sabedoria, os quais estão presentes em todos os momentos de minha vida, guiando e ensinando a buscar os meus sonhos. Muito obrigada por todo esse amor, vocês são meus alicerces. À minha irmã, Natália e ao meu irmão Lucas, pessoas simplesmente especiais. Amo vocês. PÁGINA DE APROVAÇÃO A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Joana Maria de Pieri Clivati , sob o título OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS COMO INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA , foi submetida em 29 de setembro de 2006 à Banca Examinadora composta pelos seguintes Professores: MSc. Maria de Loourdes Alves Lima Zanatta e Esp. Andréa Morgado Dietrich, e aprovada com a nota 10 (dez). Itajaí (SC), novembro de 2006. Msc. Denise Schmitt Siqueira Garcia Orientador e Presidente da Banca [Professor Título Nome] Coordenação da Monografia DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. Itajaí (SC), novembro de 2006. Joana Maria de Pieri Clivati Graduando ROL DE CATEGORIAS Rol de categorias1 que a autora considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais2. Acesso à Justiça: Adequação dos anseios da população a uma justiça rápida, sem custas e sem formalismo3. Competência Como função estatal, a Jurisdição é, naturalmente, una. Mas seu exercício, na prática, exige o concurso de vários órgãos do Poder Público. A competência é justamente o critério de distribuir entre os vários órgãos judiciários as atribuições relativas ao desempenho da Jurisdição4. Conciliação Composição amigável sem que se verifique alguma concessão por quaisquer das partes a respeito do pretenso direito alegado ou extinção da obrigação civil ou comercial.5 Conciliador A Lei dos Juizados Especiais Cíveis instituiu os Conciliadores como auxiliares da Justiça. Trata-se de função permanente, mas não pessoal, pois independe de quem a esta exercendo, bastando que se faça presente. O recrutamento não ocorre por concurso público, mas por escolha do juiz. Exercem função pública 1 “Categoria é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 37) 2 “Conceito operacional (=cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos.” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 51) 3 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à Justiça. tradução: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre : Fabris. p. 71 4 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004.. p. 145 5 FIGUEIRA, Joel Dias Júnior e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentários à lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005. p. 75 honorífica e de alta relevância, mas em regra não são funcionários públicos vinculados ao Estado.6 Direito Fundamental Os direitos fundamentais não só asseguram situações de indivíduos particulares mas também servem para definir os valores e fins da estrutura política constitucional. Tem, assim, os direitos fundamentais uma finalidade individual e uma finalidade coletiva7. Juiz Leigo O Juiz Leigo é, assim, um colaborador do Magistrado, pois desempenhará suas funções sob a supervisão deste8. Juizado Especial Os Juizados Especiais não são simples rito a ser cumprido pelos juizes já existentes. São, na verdade, novos órgãos judicantes, cuja implantação depende não da lei federal que os regulamentou, mas de leis locais que efetivamente os criem9. Jurisdição Por Jurisdição (“jurisdictio” = dizer o Direito) entende-se como um poder, função e atividade, instituídos ao julgador para decidir sobre os pedidos de tutela jurisdicional, aplicando o Direito sobre as pretensões, litigiosas ou não, decorrentes de fatos/situações jurídicas pretensamente amparadas pela lei10. 6 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Leme – São Paulo: Editora de Direito, 2000. p. 152 7 Cruz, Paulo Márcio. Fundamentos de direito constitucional. Curitiba : Juruá, 2002. p. 155 8 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. Leme – São Paulo: Editora de Direito, 2000. p. 158 9 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004.. p. 311 10 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo. Florianópolis : Visual Book, 2002. p. 152 Justiça A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de pensamento11. Princípios Princípio é a concepção de começo, de início ou um mandamento nuclear de um sistema12. Procedimento O processo, outrossim, não se submete a uma única forma. Exterioriza-se de várias maneiras diferentes, conforme as particularidades da pretensão do autor e da defesa do réu. O modo próprio de desenvolver-se o processo, conforme as exigências de cada caso, é exatamente o Procedimento do feito, isto é, o seu rito.13 Transação Negócio jurídico bilateral pelo qual as partes interessadas, fazendo-se concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas.14 11 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. tradução: Almiro Pisetta e Lenita M.R Esteves. São Paulo : Martins Fontes, 1997. 12 SILVA, Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. 15 ed. São Paulo : Malheiros, 1998. p. 95 13 THEODORO, Humberto Júnior. Curso de direito processual civil. 41 ed. Rio de Janeiro : Forense. 2004. p. 42 14 FIGUEIRA, Joel Dias Júnior e outro. Juizados especiais estaduais cíveis e criminais : comentáriosà lei 9.099/1995. 4 ed. São Paulo : Revista dos Tribunais, 2005. p. 75 SUMÁRIO RESUMO........................................................................................... XI INTRODUÇÃO ................................................................................. 12 CAPÍTULO 1 ......................................... ........................................... 15 DO ACESSO À JUSTIÇA................................ ................................. 15 1.1. RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE, ESTADO E JUSTIÇA..... .........................15 1.2. ACESSO À JUSTIÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL ..... .......................28 1.2.1. Os diversos planos de entendimento do Acesso à Justiça ..................30 1.2.1.1. Acesso à Justiça numa perspectiva leiga .. .........................................30 1.2.1.2. Acesso à Justiça numa perspectiva filosóf ica....................................31 1.2.1.3. Acesso à Justiça numa perspectiva técnico -jurídica.........................32 1.2.1.4. Acesso à Justiça numa perspectiva socioló gica................................34 1.3. ENTRAVES AO ACESSO À JUSTIÇA .................. .......................................39 1.3.1. Possibilidade das partes .................... ......................................................39 1.3.1.1. Insuficiência sócio-econômica............ .................................................40 1.3.1.2. Reconhecimento e guarda de direitos...... ...........................................40 1.3.2. Lentidão da justiça......................... ...........................................................41 1.3.3. Custas judiciais............................ .............................................................44 CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 46 DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS...................... ......................... 46 2.1. BREVES CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS............... ..................................46 2.2. CONCEITO ....................................................................................................52 2.3. PRINCÍPIOS ..................................................................................................53 2.3.1. Princípio da oralidade...................... .........................................................56 2.3.2. Princípio da simplicidade ................... ......................................................58 2.3.3. Princípio da economia processual ............ ..............................................60 2.3.4. Princípio da celeridade ou efetividade ...... ..............................................62 2.4. DA CONCILIAÇÃO E DA TRANSAÇÃO ................. .....................................63 2.5 COMPETÊNCIA.............................................................................................64 CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 69 O ACESSO À JUSTIÇA NO JUIZADO ESPECIAL............. ............. 69 3.1. O PROCESSO NOS JUIZADOS ESPECIAIS ............. ..................................69 3.1.2. Das partes.................................. ................................................................73 3.1.3. Da assistência do advogado .................. ..................................................75 3.1.4. Das provas.................................. ...............................................................76 3.1.5. Dos atos processuais ........................ .......................................................77 3.2. O PROCEDIMENTO NOS JUIZADOS ESPECIAIS ......... .............................78 3.2.1. Do pedido................................... ................................................................80 3.2.2. Da citação, intimação e revelia ............. ...................................................82 3.2.3. Audiência de conciliação e julgamento ....... ...........................................84 3.2.4 Sentença ..................................... ................................................................86 3.2.5. Dos recursos ................................ .............................................................87 3.1.6. Execução .................................... ...............................................................89 3.3. O OBJETIVO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E O ACESSO À JUSTIÇA ......90 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 93 REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 95 RESUMO O presente trabalho científico tem por escopo analisar o Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível, principiando pela explanação da relação entre a Sociedade, o Estado e a Justiça abordando sobre a Justiçaprivada representada pelo Estado/Jurisdição e acrescentando as diversas vertentes sobre as dificuldades que as pessoas tem para que consigam alcançar a prestação da tutela jurisdicional de uma forma efetiva, o chamado Acesso à Justiça. Examina- se também a evolução histórica dos Juizados Especiais reunindo a legislação revogada e as legislações vigentes, bem como os Princípios norteados, transcendendo desde a explanação da taxionomia dos direitos fundamentais para o conceito de Princípios englobando aqueles elencados no artigo 2º da Lei 9.099/1995, reguladora dos Juizados Especiais, finalizando com a sua Competência territorial e material. Adentra-se, posteriormente, no tema específico do presente trabalho científico analisando os Juizados Especiais Cíveis como instrumento de Acesso à Justiça, enfocando o Procedimento e o processo adotados pela lei especial, assim como o objetivo dos Juizados Especiais para o efetivo Acesso à Justiça, demonstrando os benefícios do surgimento desse Procedimento para a população menos favorecida, seja intelectualmente ou financeiramente. Para o desenvolvimento da presente monografia foi adotado o método indutivo, entendido como aquele que parte do geral para o particular, utilizando as técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica. 12 INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto o Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível, tendo como objetivo institucional a elaboração do presente trabalho científico para obtenção do Título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI. O objetivo geral é analisar na doutrina e legislação brasileira os Juizados Especiais Cíveis como Instrumento para o Acesso à Justiça e como objetivo específico conceituar o Acesso à Justiça, identificar as principais características do Juizado Especial Cível e seus Princípios, bem como verificar o Juizado Especial Cível como Instrumento para o Acesso à Justiça. Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, tratando-se da relação entre a sociedade, estado e a justiça, bem como a sua evolução para o surgimento da Jurisdição, servindo como manifestação do Estado como órgão pacificador dos litígios, excluindo a Justiçaprivada e incorporando a Justiçapública. Ademais, conceitua-se o Acesso à Justiça e se elucida os diversos planos de seu entendimento, compostos pela perspectiva leiga, filosófica, técnico-jurídica e sociológica, bem como disciplina os diversos entraves do Acesso à Justiça, ou seja, as dificuldades sofridas pela população para que tenha acesso ao Poder Judiciário e obtenha a efetiva pretensão. No Capítulo 2, tratando-se dos Juizados Especiais Cíveis, primeiramente aborda-se breves considerações históricas, principiando pelo surgimento dos Conselhos de Conciliação e Arbitragem do Rio Grande do Sul em 1982, passando pela análise da Lei 7.244/1984 reguladora das Pequenas Causas até o surgimento da Lei 9.099/1995 que regulamentou os Juizados Especiais Cíveis, prosseguindo pelo surgimento pelo seu conceito e os Princípios norteadores disciplinados no artigo 2º da Lei Especial, finalizandocom a abordagem da Competência territorial e material admissível no Procedimento. 13 No Capítulo 3, elabora-se dos Juizados Especiais Cíveis como Instrumento de Acesso à Justiça, discorre-se sobre o processo no âmbito dos Juizados Especiais, os Procedimentos, e finalizando com o objetivo dos Juizados Especiais e o Acesso à Justiça. O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões sobre o Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível. Para a presente monografia foram levantadas as seguintes hipóteses: � Que o Acesso à Justiça pode ser conceituado de duas maneiras, como sendo um direito inerente ao homem, por sua própria natureza e o segundo conceito como sendo um direito à proteção judicial, estando previsto no artigo 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 1998. � Os Princípios que norteiam os Juizados Especiais Cíveis estão elencados no artigo 2º da Lei 9.099/1995, trazendo consigo os Princípios da oralidade, simplicidade, economia processual, celeridade e efetividade. � O Juizado Especial Cível tem como objetivo a solução dos conflitos, sendo benéfica para o Acesso à Justiça, no momento em que isentou as partes das custas iniciais do processo, bem como trouxe um marco para o direito processualístico, ao trazer os Princípios da celeridade, tornando o processo mais rápido e eficaz para o direito. Quanto à Metodologia empregada, registra-se que foi utilizado o método indutivo15. 15 “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e coleciona-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral” (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa científica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito, p. 85) 14 Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as Técnicas, do Referente16, da Categoria17, do Conceito Operacional18 e da Pesquisa Bibliográfica. 16 “É a explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. (PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 63) 17 “É a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia”. ((PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 37) 18 “É uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias que expomos”. ((PASOLD, César Luiz. Prática da pesquisa jurídica : idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 3ed. Florianópolis : OAB/SC Editora, 1999. p. 51) 15 CAPÍTULO 1 DO ACESSO À JUSTIÇA 1.1. RELAÇÃO ENTRE SOCIEDADE, ESTADO E JUSTIÇA A sociedade propriamente dita é composta pelo agrupamento de pessoas em determinado território, buscando organizar e satisfazer as necessidades comuns, harmonizando e coordenando a vida social, em busca da sobrevivência de todos através da cooperação e organização política. Dado o conceito de sociedade, encaminha-se o estudo para o seu surgimento, podendo ser dividido em três fases ideológicas doutrinárias, quais sejam: estado natural, período contratualista e interferência do estado como meio de associação da sociedade. A primeira fase histórica do estado natural, influenciada pelos filósofos Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, compreende a natural necessidade do homem em viver em sociedade, como forma normal de vida, sem que a vontade esteja explícita, mas sim a própria tendência ao convívio em sociedade19. Dalmo de Abreu Dallari20 citando os pensamentos de Santo Tomás de Aquino como sendo o principal seguidor de Aristóteles, explicita que: “o homem é, por natureza, animal social e político, vivendo em multidão, ainda mais que todos os outros animais, o que se evidencia pela natural necessidade”. Adiante o mesmo doutrinador colaciona o entendimento de Ranelletti: 19 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . 25ed. São Paulo : Saraiva. p. 07 20 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 08 16 (...) que onde quer que se observe o homem, seja qual for a época, mesmo nas mais remotas a que se possa volver, o homem sempre é encontrado em estado de convivência e combinação com os outros, por mais rude e selvagem que possa ser na sua origem. O homem singular, completamente isolado e vivendo só, próximo aos seus semelhantes mas sem nenhuma relação com eles, não se encontra na realidade da vida.21 Nessa concepção, Nicola Framarino Dei Malatesta22 diz que “desde os primórdios da convivência humana os indivíduos seriam unidos entre si, na coletividade social, por vínculos naturais e permanentes de simpatia mútua e de ajuda mútua”. Entendendo um pouco da origem da teoria naturalista, conclui-se que a tendência natural do homem é viver em sociedade, mesmo que isolado do mundo, uma vez que o psíquico pessoal humano tende a um agrupamento entre os seus semelhantes, vivendo em sociedade mesmo sem a influência direta da vontade, mas sim pela pura necessidade natural humana. Tal fato não consubstancia com a teoria contratualista que adota a tese de que os homens através de um acordo recíproco de vontades, na conjectura de um suposto contrato celebrado entre as pessoas, busca através deste pacto a paz social e a igualdade entre todos os viventes da sociedade, como pode ser verificado pelas palavras de Dalmo de Abreu Dallari23: Opondo-se aos adeptos do fundamento natural da sociedade encontram-se muitos autores, alguns dos quais exerceram e ainda exercem considerável influência prática, sustentando que a sociedade é, tão-só, o produto de um acordo de vontades, ou seja, de um contrato hipotético celebrado entre os homens, razão pela qual esses autores são classificados como contratualistas. (..) O ponto comum entre eles, porém, é a negativa do impulso associativo natural, com a afirmação de que só a vontade humana justifica a existência da sociedade, o que vem a ter influência fundamental nas 21 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 08/09 22 MALATESTA, Nicola Framarino Dei. A sociedade e o estado . São Paulo : LZN, 2003. p. 15 23 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 09/10 17 considerações obre a organização social, sobre o poder social e sobre o próprio relacionamento dos indivíduos com a sociedade. Os seguidores dessa corrente doutrinária expressam a sua ideologia na racionalidade do ser humano em dominar a sua condição de vida, saindo da desconfiança gerada pelo estado natural, buscando, então, firmar um contrato igualitário. Assim, Dallari24 identifica: “Apesar de suas paixões más, o homem é um ser racional e descobre os Princípios que deve seguir para superar o estado de natureza e estabelecer o “estado social”. Adiante acresce: Tornados conscientes dessas leis os homens celebram o contrato, que é a mútua transferência de direitos. E é por força desse ato puramente racional que se estabelece a vida em sociedade, cuja preservação, entretanto, depende da existência de um poder visível, que mantenha os homens dentro dos limites consentidos e os obrigue, por temor ao castigo, a realizar seus compromissos e à observância das leis da natureza anteriormente referidas. Esse poder visível é o Estado, um grande e robusto homem artificial, construído pelo homem natural para sua proteção e defesa25. Thomas Hobbes em Leviatã26 falimenta a teoria naturalista e desdobraa sua tese na teoria contratualista, em que os homens mesmo vivendo harmonicamente em sociedade, sofre a influência do interesse particular, o qual será causa preponderante do surgimento de conflitos entre cada um, devendo consentir a necessidade de um ente particular que dite a Justiçae pacifique o litígio existente entre os particulares, para que não sofram uma decadência societária, conforme se expressa: 24 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.11 25 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.11 26 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 128. 18 Em havendo grande multidão, se as ações de cada um dos que a compõem forem determinadas segundo o juízo individual e os apetites individuais de cada um, não poderá se esperar que ela seja capaz de dar defesa e proteção a ninguém. Seja contra o inimigo comum, seja contra as injúrias feitas uns aos outros. Divergindo em opinião quanto ao melhor uso e aplicação da força, não se ajudam mas se atrapalham uns aos outros. Devido a essa oposição mútua reduzem sua força a nada. Por isso, não apenas facilmente serão subjugados por um pequeno número que se haja posto de acordo, mas, além disso, mesmo sem haver inimigo comum, facilmente farão guerra uns aos outros, por causa de seus interesses particulares. Se fosse lícito supor uma grande multidão capaz de consentir na observância da justiça e das outras leis naturais, sem um poder comum que mantivesse a todos em respeito, igualmente o seria supor a humanidade inteira capaz disso. Não haveria, nem seria necessário, no caso, qualquer governo civil, ou qualquer Estado, pois haveria paz sem sujeição27. Aristóteles apud Hobbes28 ao defender a teoria naturalista compara a vida das pessoas às das formigas e abelhas, que consegue estabelecer a vida em sociedade sem a necessidade da interferência de um ente dominante, Hobbes29 por sua vez quebra a aplicação de qualquer comparação dos seres humanos com animais e criaturas irracionais, tecendo consideráveis argumentos que levam a confirmar a realidade da teoria contratualistas: Primeiro, porque a humanidade está constantemente envolvida numa competição pela honra e pela dignidade, o que não ocorre com essas criaturas. Devido a isso é que surgem entre os homens a inveja, o ódio, a guerra, ao passo que entre aquelas criaturas isso não acontece30. Segundo, porque entre essas criaturas não há diferença entre o bem comum e o bem individual. Por natureza elas tendem para o 27 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 128. 28 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129. 29 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129. 30 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução : Alex Marins. São Paulo : Martin Claret. p. 129. 19 bem individual e acabam por promover o bem comum. O homem só encontra felicidade na comparação com outros homens e só pode tirar prazer do que é iminente31. Terceiro, porque, como essas criaturas não dispõem – diferentemente do homem – do uso da razão, não vêem nem julgam ver qualquer erro na administração de sua existência comum, enquanto entre os homens é grande o número dos que se julgam mais sábios e mais capacitados que os outros para o exercício do poder público. Esses esforçam-se por empreender reformas e inovações, uns de uma maneira e outros de outra, acabando assim por levar o país à desordem e à guerra civil32. Quarto, porque essas criaturas, mesmo dispondo de certa capacidade de comunicação, para dar a conhecer umas às outras seus desejos e outras afecções, mesmo assim carecem daquela arte das palavras mediante a qual alguns homens são capazes de apresentar aos outros o que é bom sob a aparência do mal, e o que é mau sob a aparência do bem. De outra forma, aumentando ou diminuindo a importância visível do bem ou do mal, semeando o descontentamento entre os homens e perturbando a seu bel- prazer a paz em que os outros vivem33. Quinto, porque as criaturas irracionais são incapazes de distinguir entre injúria e dano. Conseqüentemente, basta que estejam satisfeitas para nunca se ofenderem com seus semelhantes. O homem é tanto mais implicativo quanto mais satisfeito se sente, pois é neste caso que tende mais para exibir sua sabedoria e para controlar as ações dos que governam o Estado34. Por último, porque o acordo vigente entre essas criaturas é natural, e o dos homens surge por intermédio de um pacto, isto é, artificialmente. Não é de admirar, portanto, que seja necessária alguma coisa mais, além de um pacto, para tornar constante e duradouro seu acordo. Quer dizer, um poder comum que os 31 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 32 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 33 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 34 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 20 mantenha em respeito e que dirija suas ações no sentido do benefício comum35. Disciplinando sobre o surgimento do contrato social, vale salientar as acepções do maior defensor da teoria contratualista, Jean-Jacques Rousseau36, o qual busca no contrato social uma forma de defesa para os viventes em sociedade, de maneira que mesmo formalizando um pacto social, estes continuarão livres na mesma forma do jusnaturalismo, perfectibilizando o mútuo acordo entre os associados: Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja de toda a força comum a pessoa e os bens de cada associado, e pela qual, cada um, unindo-se a todos, não obedeça portanto senão a si mesmo, e permaneça tão livre como anteriormente. Tal é o problema fundamental cuja solução é dada pelo contrato social. Adiante: Além disso, feita a alienação sem reserva, a união é tão perfeita quanto o poder ser, e nenhum associado tem mais nada a reclamar, porque, se aos articulares restassem alguns direitos, como não haveria nenhum superior comum que pudesse decidir entre eles e o público, cada qual, tornando algum ponto o seu próprio juiz, pretenderia em breve sê-lo em tudo; o estado natural subsistiria, e a associação se tornaria necessariamente tirânica ou inútil37. Embora a teoria contratualista traga enorme embasamento ideológico, o pacto ou contrato fictício criando um “estado social”, não resguarda a vida em sociedade, daí a necessidade do surgimento do Estado como instituição reguladora dos conflitos e interesses comuns, dirigindo suas ações em benefício da coletividade e da justiça. 35 HOBBES, Thomas. Leviatã : ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. p. 129. 36 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos . São Paulo : Martins Claret, 2002. p.30. 37 ROUSSEAU, Jean-Jacques. O contrato social e outros escritos . São Paulo : Martins Claret, 2002. p.30. 21 Grinover38 caracteriza o surgimento do Estado desde os tempos remotos: Nas fases primitivas da civilização dos povos, inexisti um Estado suficientemente forte para superar os ímpetos individualistas dos homens e impor o direito acima da vontade dos particulares: por isso, não só inexistia um órgão estatal que, com soberania e autoridade, garantisse o cumprimento do direito, como ainda não havia sequer as leis (normas gerais e abstratas impostas peloEstado aos particulares). Assim, quem pretendesse alguma coisa que outrem o impedisse de obter haveria de, com sua própria força e na medida dela, tratar de conseguir, por si mesmo, a satisfação de uma pretensa. A própria repressão aos atos criminosos se fazia em regime de vingança privada e, quando o Estado chamou a si o jus punitionis, ele o exerceu inicialmente mediante seus próprios critérios e decisões, sem a interposição de órgãos ou pessoas imparciais independentes e desinteressadas. A esse regime chama- se autotutela (ou autodefesa) e hoje, encarando-a do ponto-de-vista da cultura do século XX, é fácil ver como era precária e aleatória, pois não garantia a justiça, mas a vitória do mais forte, mais astuto ou mais ousado sobre o mais fraco ou mais tímido. Desta forma, surgindo a necessidade de um ente particular que viesse pacificar os litígios particulares surgidos no meio da sociedade, o Estado chamou para si o poder jus punitionis, ditando inicialmente seus atos sem a interferência de leis ou regras para solução dos conflitos particulares, mas sim pelas suas próprias acepções de justiça. Dalmo de Abreu in Elementos de Teoria Geral dos Estados39, coaduna o surgimento do Estado citando Marx e Engels, sobre a teoria marxista: Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade 38 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . 20 ed. São Paulo : Malheiros, 2004. p.21 39 Dallari, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado. p.25 22 humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade ás novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não-possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado Sobre o surgimento do Estado, Robert Lowie apud Dalmo de Abreu admite que independente do surgimento pela teoria naturalista como contratualista, a sociedade sofre a influência de fatores externos que devido ao seu surgimento espontâneo dará origem ao Estado Social40. O que na versão de Montesquieu mencionado por Dallari41: Existem também leis naturais que levam o homem a escolher a vida em sociedade. Essas leis são as seguintes: a) o desejo de paz; b) o sentimento das necessidades, experimentado principalmente na procura de alimentos; c) a atração natural entre os sexos opostos, pelo encanto que inspiram um ao outro e pala necessidade recíproca; d) o desejo de viver em sociedade, resultante da consciência que os homens têm de sua condição e de seu estado. Depois que, levados por essas leis, os homens se unem em sociedade, passam a sentir-se fortes, a igualdade natural que existia entre eles desaparece e o estado de guerra começa, ou entre sociedades, ou entre indivíduos da mesma sociedade. Repercutindo o pensamento de sociedade e Estado, Paulo Bonavides42 mostra a diferença entre ambos os pensamentos, ao relacionar o conflito de interesses pacificado pelas duas vertentes. Por sociedade, entendeu ele o conjunto daqueles grupos fragmentários, daquelas “sociedades parciais”, onde do conflito de interesses reinantes só se pode recolher a vontade de todos (volonté de tous), ao passo que o estado vale como algo que se 40 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p.47 41 DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do estado . p. 13 42 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política . 10 ed. São Paulo : Malheiros, 1996. p. 60 23 exprime numa vontade geral (volonté générale), a única autêntica, captada diretamente da relação indivíduo-Estado, sem nenhuma interposição ou desvirtuamento por parte dos interesses representados nos grupos sociais interpostos. Desta forma, a tese do contrato social como explicação da origem do Estado, traz a idéia de que os homens podem organizar o estado e a sociedade de acordo com suas vontades e razões, desconsiderando a tradição e os costumes, mas adotando uma percepção lógica e própria de justiça. Norberto Bobbio43 estudando os pensamentos de Hegel, disciplinou que o primeiro momento da sociedade civil interligada ao Estado traz a harmonização e pacificação dos interesses egoístas individuais, dirimindo o conflito de interesses gerado pelo interesse privado: Por isso a sociedade civil não é apenas uma forma inferior de Estado ao qual ficaram atados os escritores políticos e os juristas do direito público precedente, que se poderia chamar de privatistas no sentido de que a sua principal preocupação é a de dirimir os conflitos de interesses que surgem nas relações entre privados através da administração da justiça e, sucessivamente, a de garantir o bem-estar dos cidadãos defendendo-os dos danos que podem provir da atitude de dar livre curso ao particularismo egoísta dos singulares. No interregno da concepção de Estado, Paulo Bonavides44 in Teoria do Estado relaciona o pensamento de Aristóteles com o surgimento do Estado: Coube aos filósofos da Antiguidade clássica, do mundo atiço, que viram no mundo um fim em si, o merecimento desse avanço. Exprimiu Aristóteles, ao considerar o estado comunidade perfeita, formada pela pluralidade de grupos comuns, comunidade que, de certo modo, logrou o fim de inteira suficiência e surgiu mercê da vida, e, mercê da vida, em seu conjunto se mantém, o vero conceito organicista que denominou o pensamento do mundo 43 BOBBIO, Norberto. Estado governo sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução : Marco Aurélio Nogueira. 11 ed. Rio de Janeiro : Paz e Terra,1987. p. 43 44 BONAVIDES, Paulo. Teoria do Estado . São Paulo : Malheiros, 1999. p. 54 24 antigo. Deu assim a formulação indestrutível do organicismo, com a idéia do Estado como ser natural e anímico, anterior ao indivíduo, em que o todo tem precedência sobre as partes. Nesta esteira, a criação do Estado foi primordial para a sociedade como um todo, tendo em vista que a sociedade primitiva, nos moldes naturalistas, não sofria as tendências de interesses e disputas sociais, vivendo harmonicamente em sociedade, pacificando seus litígios pelos usos e costumes, o que de fato contraria o surgimento do Estado pela teoria contratualista que vislumbra a necessidade da criação de leis, adotando regras para aplicar a justiça. Desta forma, o que se vê, na esfera da doutrinadora Ada Pellegrini Grinover45, é que nos tempos primitivos inexistia um Estado pacificador dos litígios particulares, sendo a força individual forma de obter a satisfação da pretensão, o que não se vê com o surgimento do Estado, o qual aplicava de forma aleatória o direito para a solução dos problemas, ato este classificado como “autotutela”, esta agora mencionada não vislumbra uma Justiçaigualitária, já que vencia aquele que era mais forte e não aquele que tinha o direito pretendido. Não só existia a “autotutela” como forma de pacificar as lides, mas a “autocomposição”, constituída da desistência de uma das partes a direito seu para a solução do conflito. Atualmente, existindo um conflito de interesses entre particulares, a submissão de dirimi-los é de Competência do Estado, como se resguarda dos pensamentos de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Carlos de Araújo e Cândido Rangel Dinamarco46: Hoje, se entre duas pessoas há um conflito, caracterizado por uma das causas de insatisfação descritas acima (resistência de outremou veto jurídico à satisfação voluntária), em princípio o direito impõe que, se se quiser pôr fim a essa situação, seja chamando o Estado- juiz, o qual virá dizer a qual a vontade do ordenamento jurídico para 45 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p. 21 46 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.20/21 25 o caso concreto (declaração) e, se for o caso, fazer com que as coisas se disponham, na realidade prática, conforme essa vontade (execução). Nem sempre foi assim, contudo. Ademais, acrescenta que o Estado trouxe definitivamente a transferência da Justiçaprivada para a Justiçapública, como se vê: Com ela completou-se o ciclo histórico da evolução da chamada justiça privada para a justiça pública: o Estado, já suficientemente fortalecido, impõe-se sobre os particulares e, prescindindo da voluntária submissão destes, impõe-lhes autoritativamente a sua solução para os conflitos de interesses. À atividade mediante a qual os juízes estatais examinam as pretensões e resolvem os conflitos dá-se o nome de jurisdição47. Como disciplina também Horácio Wanderley Rodrigues48, sobre o surgimento de leis e regras para solucionar os litígios, evitando com isso o uso da Justiçaprivada: Seja na sociedade primitiva, seja em qualquer forma de organização política intermediária que tenha existido no longo período histórico que os separa, a existência de normas, quer sejam sociais ou estatais, foi insuficiente para evitar a ocorrência de conflitos. Ou seja, nem sempre essas normas foram ou são respeitadas. Houve então a necessidade de se criar, ao lado delas, normas que definissem as formas pelas quais seriam resolvidos os conflitos e insatisfações, quando existentes; também foi necessário definir quem os resolveria. Tem-se aí a origem do direito processual e da jurisdição. A Jurisdição é trazida ao mundo jurídico para substituir as partes, evitando com que essas façam Justiça pelas próprias mãos (Justiça privada), para que seja transferido o exame dos conflitos ao Estado, órgão estatal competente para dirimir os conflitos particulares e buscar através da função jurisdicional a Justiçacomum. 47 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.20/21 48 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso a justiça no direito processual brasileiro . São Paulo : Acadêmica, 1994. p. 22 26 Schlichting49 disciplina o conceito de Jurisdição: Por jurisdição (“jurisdictio” = dizer o Direito) entende-se como um poder, função e atividades, instituídos ao julgador para decidir sobre os pedidos de tutela jurisdicional, aplicando o Direito sobre as pretensões, litigiosas ou não, decorrentes de fatos/situações jurídicas pretensamente amparadas pela lei. Na visão de Jônatas Luiz Moreira de Paula50: Dentro de uma visão técnica e partindo da premissa funcional, jurisdição é a atividade exercida pelo Estado, como forma de manifestação do poder político, pois, o Estado tem apenas um poder: o da soberania, compreendido nas diversas formas de comando sobre os movimentos sociais. A administração e a legislação, assim como a jurisdição, são formas de manifestação do exercício deste poder. E adiante Rodrigues traz que “a jurisdição, como manifestação do poder do Estado, tem no processo o instrumento de concretização desse escopo maior, a finalidade de garantir o projeto político de uma determinada sociedade”51 Ada Pellegrini Grinover52 pacifica a matéria: Pelo que já foi dito, compreende-se eu o Estado moderno exerce o seu poder para a solução de conflitos interindividuais. O poder estatal, hoje, abrange a capacidade de dirimir os conflitos que envolvem as pessoas (inclusive o próprio Estado), decidindo sobre as pretensões apresentadas e impondo as decisões. No estudo da jurisdição, será explicado que sta é uma das expressões do poder estatal, caracterizando-se este como a capacidade que o Estado tem, de decidir imperativamente e impor decisões. O que distingue a jurisdição das demais funções do Estado (legislação, 49 SCHLICHTING, Arno Melo. Teoria geral do processo . Florianópolis : Visual Books, 2001. p.152. 50 MOREIRA DE PAULA, Jônatas Luiz. Teoria geral do processo . 2 ed. São Paulo : Editora de Direito, 2001. p.85 51 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso a justiça no direito processual brasileiro . p. 26 52 GRINOVER, Ada Pellegrini Grinover. Teoria geral do processo . p.24 27 administração) é precisamente, em primeiro plano, a finalidade pacificadora com que o Estado a exerce. A busca pela equidade da Justiçaé alcançada pelo impulso processual realizado através do instrumento chamado “processo”, o qual irá transferir a satisfação do direito pretendido para o poder estatal (Estado), ou também denominado Estado-juiz, com a única finalidade de buscar a pacificação da lide e os efeitos da justiça, dizendo a cada um o direito cabível e tutelado pelos direitos materiais. Mais uma vez Ada Pellegrini Grinover53 traz in Teoria Geral do Processo a função estatal do estado, mencionando a sua função pacificadora realizada através do poder Jurisdição: E hoje, prevalecendo as idéias do Estado social, em que o Estado se reconhece a função fundamental de promover a plena realização dos valores humanos, isso deve servir, de um lado, para pôr em destaque a função jurisdicional pacificadora como fator de eliminação dos conflitos que afligem as pessoas e lhes trazem angustia; de outro, para advertir os encarregados do sistema, quanto Pa necessidade de fazer do processo um meio efetivo para a realização da justiça. Afirma-se que o objetivo-síntese do Estado contemporâneo é o bem-comum e, quando se passa ao estudo da jurisdição, é lícito dizer que a projeção particularizada do bem comum nessa área é a pacificação com justiça. Ressalta dizendo sobre a instrumentalidade do processo para a busca efetiva da justiça: Por outro lado, a instrumentalidade do processo, aqui considerada, é aquele aspecto positivo da relação que liga o sistema processual à ordem jurídico-material e ao mundo das pessoas e do Estado, com realce à necessidade de predispô-lo ao integral cumprimento de todos os seus escopos sociais, políticos e jurídico. Falar da instrumentalidade nesse sentido positivo, pois, é alertar para a necessária efetividade do processo, ou seja, para a necessidade de ter-se um sistema processual capaz de servir de eficiente caminho à “ordem jurídica justa”. Para tanto, não só é preciso ter a 53 GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. p. 25/41 28 consciência dos objetivos a atingir, como também conhecer e saber superar os óbices econômicos e jurídicos que se antepõem ao livre acesso à justiça54. Desta forma, o processo é o instrumento cabível para invocar o poder estatal (Estado) ou Estado-juiz, o qual através de seu poder Jurisdição irá pacificar o conflito resistido entre as partes, aplicando os Princípios da legalidade (devido processo legal), da imparcialidade (Estado tem o poder de agir com imparcialidade perante a solução dos litígios) e do contraditório (ambas as partes terão oportunidade de apresentar suas alegações), tudo isso englobando a busca pela obtenção da justiça. 1.2. ACESSO À JUSTIÇA COMO DIREITO FUNDAMENTAL Até então é mostrado o processo como instrumento competente para invocar a satisfação dos litígios por meio do poder estatal, ou seja, a Jurisdição exercida pelo Estado através de seu órgão jurisdicional chamado Poder Judiciário, o qual busca a aplicação da efetividade da justiça. Neste diapasão, vale especificar a nomenclatura de Justiça e o seu alcance face ao caso concreto. A maioria dos doutrinadores traz a similitude da comparada á igualdade, o que é apresentada por Recásens Siches55: “A similitude está emque a noção de justiça vem sempre ligada à de igualdade”. Roberto Aguiar56 coaduna com os mesmos ditames, ao dizer que “a justiça se torna uma virtude, a virtude de dar a cada um o que é seu segundo uma igualdade”. 54 GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria geral do processo. p. 25/41 55 RECÁSENS SICHES. Luís: Estudos da filosofia no direito. p.289 56 AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é justiça: uma abordagem dialética. 5 ed. São Paulo : Alfa- Omega, 1999. p. 38 29 Adiante expressa a necessidade da reciprocidade entre o direito de quem pleiteia para aquela obrigação exigida, visando a aplicação de uma Justiça equânime: (...) para haver justiça, é preciso que haja alteridade, isto é, a necessidade de existir um outro, uma outra pessoa, já que a justiça é uma virtude que se situa na relação entre os seres humanos. É necessário também que haja um devido de um para com outro, um devido que seja justo, e, para sê-lo, ele necessita ser igual, isto é, que haja uma reciprocidade entre o direito de quem exige e a obrigação de quem é exigida certa conduta57. Não discrepa da matéria, David Lyons58 quando afirma: O igualitarismo pode então ser visto como uma teoria da justiça distributiva a qual sustenta que cada pessoa tem a mesma base para exigir uma parte dos bens. Esse enfoque deixa questões fundamentais não respondidas, tais como quais os bens que estão propriamente sujeitos a distribuição e como decidir a base apropriada para distribuição. Estabelecer uma definição de Justiça comparada à igualdade de tratamento para ambas as partes na visão de John Rawls59 é moralmente impossível, dado o preconceito formulado pela sociedade, a qual entende que a aplicação da Justiça é mais favorável àquele que detêm de um maior patrimônio financeiro, devendo haver uma reciprocidade entre cada papel social, ou seja, entre a classe menos favorável daquela mais favorável. Ao passo que no momento que a sociedade conseguir enfrentar seus próprios preconceitos, daí sim, poderá alcançar a busca pela efetividade da Justiça comparada à igualdade de tratamento para as partes litigantes60. 57 AGUIAR, Roberto A. R. de. O que é justiça: uma abordagem dialética. p. 38 58 LYONS, David. As regras morais e a ética . São Paulo : Marins Fontes. p. 127 59 LYONS, David. As regras morais e a ética . p. 134 60 RAWLS, John. Uma teoria da justiça . p. 12 30 Caracterizada a Justiça comparada à igualdade entre os conflitantes, Ada Pellegrini Grinover coloca sua aplicação através do processo, conforme disciplina: “(..) o processo é o único meio de obter a efetivação das situações ditadas pelo direito material”61. Portanto, tem-se o processo como principal instrumento para a atuação da Justiça, a qual vem nitidamente amparada pela Constituição Federal, tal nomenclatura será utilizada em todo trabalho científico, promulgada em 1988 quando estabelecido o direito ao devido processo legal, ou também denominado direito ao Acesso à Justiça. Desta forma, pode-se concluir que o Acesso à Justiça significa a possibilidade do cidadão compreender e acionar o sistema de Justiça como um todo, já que o processo é o maior meio de controle do “Acesso à Justiça”, o qual visa garantir um princípio básico, qual seja, a isonomia. Ocorre, contudo, que tal corrente não pacifica todas as visões classificatórias do meio-social, podendo ser verificada ademais outras visões, como se pode ver das classes mais desfavorável ou pela visão dos leigos jurídicos, pela perspectiva filosófica, técnica-jurídica e sociológica. 1.2.1. Os diversos planos de entendimento do Acesso à Justiça 1.2.1.1. Acesso à Justiça numa perspectiva leiga A primeira delas tomada tanto pelos desfavoráveis monetariamente como pelos leigos juridicamente ditos, analisa no âmbito das palavras “justiça” e “direito” uma vulgarização que destoa do seu efetivo significado, obtendo com isso uma descrença para a busca pela Justiça, tais classes não crêem mais numa Justiça igualitária, uma vez que não conseguem junto alcançar o efetivo acesso ao processo, tampouco alcançar o poder judiciário. 61 GRINOVER, Ada Pellegrini et at. Teoria geral do processo. p.35 31 Tais lições vêm estampadas pelo doutrinador Paulo César Santos Bezerra62 que consubstancia: É, sem nenhuma margem de dúvida, essa visão distorcida do homem comum, do leigo, ao que se constitui o verdadeiro acesso à justiça, que causa uma desilusão histórica e social, um sentimento de frustração do litigante, ao constatar que longe está de si, um efetivo acesso à justiça, por não conseguir ultrapassar o que Capelletti chama de “obstáculos a serem transpostos”, como custas judiciais, tempo processual, recursos financeiros para os depósitos recursais, honorários advocatícios e periciais, e outros menos morais, que desenganadamente ocorrem, sem se falar na alienação a respeito do que é justo, do que sejam direitos. Nesse passo, a ilusão da justiça desboca numa desilusão aterradora dos que pretendem o direito de acesso à justiça, pois sequer conseguem um efetivo acesso formal ao processo. Tratando de uma perspectiva leiga de Acesso à Justiça, verifica-se que em torno da sociedade existe uma desilusão e um sentimento de frustração, consistente na dificuldade em ultrapassar as barreiras impostas pelo Poder Judiciário, inviabilizando a efetividade do Acesso à Justiça. 1.2.1.2. Acesso à Justiça numa perspectiva filosófi ca Já quando tratar de Acesso à Justiça numa visão filosófica, não encontra a visão da Justiça ligada ao processo formal, mas sim uma Justiça propriamente dita e não aquela obtida por meio do poder judiciário, aplicada pelos juizes dentro do Poder-Jurisdição. Bezerra63 salienta que “em sentido material a Justiça é uma parte de um todo Moral. É um dos valores do homem, além de Virtude, Liberdade, Bem, Belo, Dever, de dificílima conceituação”. 62 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito.Rio de Janeiro : Renovar, 2001. p.. 125 63 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. p. 147 32 Chaim Perelmann citado por Bezerra64 diz que não se pode convencer uma pessoa de um único significado de Justiça: (...) determinada concepção de justiça é a única boa, a única que corresponde ao ideal de justiça perseguido pelo coração dos homens, sendo todas as outras apenas embustes, representações insuficientes que fornecem a justiça uma imagem falsa e serem de uma justiça apenas aparente que abusa da palavra justiça para fazer que se admitam concepções reais e profundamente injustas. Pode-se entender que a palavra Justiça é aplicada da forma aceitada por cada um, o que pode ser justo para um pode não ser justo para outro, mas nessa linha de pensamento adotada pela visão filosófica, é entendido que a Justiça deve sobrepujar as leis e regras estabelecidas pelo Estado e que nem tudo deve ser esperado do poder-estatal, mas de fatores sociais externos65. 1.2.1.3. Acesso à Justiça numa perspectiva técnico- jurídica As classes com perspectivas técnico-jurídicas, adotadas na maioria das vezes por processualistas, estabelecem a crença pela aplicação do direito ao processo, ou seja, a aplicação do direito material ao caso concreto posto às margens do instrumento processual. Os pensamentos englobados pelos processualistas e pela linha ideológica técnico-jurídica têm colocado em destaque as leis e principalmente a Constituição Federal como busca pela ordem jurídica justa, tendo como objetivo o alcance do maior número de pessoas a obter esse direito amparado. Desta forma, Ada Pellegrini Grinover66 defensora da corrente técnico-jurídica estabelece que para a efetividadedo processo, ou seja, para a plena consecução de sua missão social de eliminar conflitos e fazer Justiça, é preciso, de um lado, tomar consciência dos escopos motivadores de todo o 64 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. p. 150 65 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 149 66 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 33 sistema (sociais, políticos, jurídicos); e, de outro, superar os óbices que a experiência mostra estar constantemente a ameaçar a boa qualidade do seu produto final, citando posteriormente quatro pontos cruciais para a sua conjectura: a) a admissão do processo (ingresso em juízo). É preciso eliminar as dificuldades econômicas que impeçam ou desanimem as pessoas de litigar ou dificultem o oferecimento de defesa adequada67. b) o modo-de-ser do processo. No desenrolar de todo processo é preciso que a ordem legal de seus atos seja observada (devido processo legal), que as partes tenham oportunidade de participar em diálogo com o juiz (contraditório), que seja adequadamente participativo na busca de elementos para sua própria instrução68. c) a justiça das decisões. O juiz deve pautar-se pelo critério de justiça, seja ao apreciar a prova, ao enquadrar os fatos em normas e categorias jurídicas ou ao interpretar os textos de direito positivo. Não deve exigir uma prova tão precisa e exaustiva dos fatos, que torne impossível a demonstração destes e impeça o exercício do direito material pela parte69. d) efetividade das decisões. Todo processo deve dar a quem tem um direito tudo aquilo e precisamente aquilo que ele tem o direito a obter70. A classe técnico-jurídica não defende tão somente a pacificação dos litígios por meio da invocação do poder-estatal, mas também ao uso das organizações sociais destinadas a Conciliação de litígios por mecanismos extrajudicial, tendo como exemplo a Casa da Cidadania, Tribunais Arbitrais, entidades sociais com fins a solução de conflitos relacionados com o direito do consumidor71. 67 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 68 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 69 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 70 GRINOVER, Ada Pellegrini e outros. Teoria geral do processo . p.34 71 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 133/134 34 1.2.1.4. Acesso à Justiça numa perspectiva sociológ ica Por último verifica-se o Acesso à Justiça numa visão sociológica, a qual depreende a visão social de acesso ao processo e à Justiça conjuntamente, como satisfaz novamente a lição de Alcalá-Zamora citado por Bezzera72: (...) já que o processo judicial não é a via única de acesso à justiça, nem mesmo a preferível, é a de que os mecanismos utilizados devem servir de meio pacificador dos conflitos, de composição das lides e, se sua missão política é a de servir de instrumento de realização do direito objetivo, sua missão política é a de servir de garantia das liberdades, sua missão social é a de contribuir para a pacífica convivência dos que vivem em determinado Estado, e para equilibrar as forças que se batem pela obtenção da justiça. Mauro Cappelletti e Bryant Garth73, in Acesso à Justiça são idealizadores dessa corrente quando relacionam: A preocupação fundamental é, cada vez mais, com a justiça social, isto é, com a busca de procedimentos que sejam conducentes à proteção dos direitos das pessoas comuns. Embora as implicações dessa mudança sejam dramáticas – por exemplo, com relação ao papel de quem julga – é bom enfatizar, desde logo, que os valores centrais do processo judiciário mais tradicional devem ser mantidos. O acesso à justiça precisa englobar ambas as formas de processo Corroboram também com a visão sociológica, Bezerra74 ao visualizar que o Acesso à Justiça é alcançado pela criação de leis voltadas para a sociedade: É essa a nossa busca, é essa a nossa tese: leis sociologicamente fundadas, com eficácia real e plena, que viabilizem aos 72 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 137 73 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. Tradução: Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre : Fabris, 1988. p. 93 74 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 137 35 aplicadores do direito, um maior leque de opções que permitam um efetivo acesso à justiça. A visão sociológica de Acesso à Justiça verifica-se pela pacificação dos conflitos e da composição das lides, buscando através de acordos uma solução rápida e tranqüila para ambas as partes, uma vez que o processo pode trazer para as partes um sentimento de perda, ocasionando uma insatisfação. 1.2.2. Acesso à Justiça como Direito Fundamental Antes de classificar o Acesso à Justiça como Direito Fundamental, vale especificar a definição de Direito Fundamental e sua aplicação no ordenamento jurídico brasileiro, o que expressado por José Afonso da Silva75 verifica- se: Direitos fundamentais do homem constitui a expressão mais adequada a este estudo, porque, além de referir-se a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia política de cada ordenamento jurídico, é reservada para designar, no nível do direito positivo, aquelas prerrogativas e instituições que ele concretiza em garantias de uma convivência digna, livre e igual de todas as pessoas. No qualificativo fundamentais acha-se a indicação de que se trata de situações jurídicas sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo sobrevive; fundamentais do homem no sentido de que a todos, por igual, devem ser, não apenas formalmente reconhecidos, mas concreta e materialmente efetivados. Direitos fundamentais do homem significa direitos fundamentais da pessoa humana ou direitos fundamentais. É com esse conteúdo que a expressão direitos fundamentais encabeça o Título II da Constituição, que se completa, como direitos fundamentais da pessoa humana, expressamente, no art. 5º. 75 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . 15 ed. São Paulo : Malheiros, 1998. p.182 36 Os direitos fundamentais nascem e se desenvolvem dentro da Constituição Federal, sendo por ela reconhecido expressamente76, e quando tratados os Princípios de Direito Fundamental, esses exigem a proteção mais ampla possível dos bens protegidos, sejam eles a liberdade geral de ação, a integridade física ou a propriedade, a restrição de um bem protegido é sempre também uma restrição de uma posição prima facie concedida por princípio de Direito Fundamental77. Baseando-se na proposta de direitos fundamentais, Paulo Márcio Cruz78 procrastina ao dizer que: (...) os direitos fundamentais não só asseguram situações de indivíduos particulares mas também servem para definir os valores e fins da estrutura política constitucional. Têm, assim, os direitos fundamentais uma finalidade individual e uma finalidade coletiva. Nesse norte é que nasce a principal garantia fundamental regulada pela Constituição Federal, o princípio da proteção judiciária, disposta no artigo 5º, inciso XXXV, a qual disciplina que: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, o que corrobora com a ampliação do direito ao acesso ao Judiciário, antes de concretizada a lesão79. Observa José Afonso da Silva80: A primeira garantia que o texto revela é a de que cabe ao Poder Judiciário o monopólio da jurisdição, pois sequer se admite mais ocontencioso administrativo que estava previsto na Constituição revogada. A segunda garantia consiste no direito de invocar a atividade jurisdicional sempre que se tenha como lesado ou simplesmente ameaçado um direito, individual ou não, pois a Constituição já não mais o qualifica de individual, no que andou bem, porquanto a interpretação sempre fora a de que o texto anterior já amparava direitos, de pessoas jurídicas ou de outras 76 KRETZ, Andrietta. Autonomia da vontade e eficácia horizontal dos dire itos fundamentais. Florianópolis : Momento Atual, 2005. p. 51 77 KRETZ, Andrietta. Autonomia da vontade e eficácia horizontal dos dire itos fundamentais. p. 76 78 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do direito constitucional. Curitiba : Juruá, 2002. p. 136 79 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . p.182 80 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo . p.432 37 instituições ou entidades não individuais, e agora hão de levar-se em conta os direitos coletivos também. Mais especificamente sobre a matéria Paulo Márcio Cruz81 ensina que a proteção judicial aos direitos e garantias fundamentais consiste na possibilidade de que os cidadãos invoquem tais direitos ante os tribunais e possam obter a proteção desses. Ademais, baseado nessa digressão é que acrescenta relacionando a acessibilidade da Justiça – que é, ao mesmo tempo, um direito e uma garantia de direitos – ganha especial relevância no caso dos direitos e garantias fundamentais82. Afora o princípio da proteção judiciária, a Constituição Federal de 1988 trouxe a tona o princípio do devido processo legal regulamentado no artigo 5º, inciso LIV83: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”, o qual vem a garantir a plenitude do Acesso à Justiça quando trabalhado conjuntamente com o primeiro princípio da proteção judiciária. O doutrinador José Afonso da Silva84 ensina que: “O princípio do devido processo legal entra agora no Direito Constitucional positivo com um enunciado que vem da Carta Magna inglesa:ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal (art. 5º, LIV). Combinado com o direito de acesso à Justiça (art. 5º XXXV) e o contraditório e a plenitude de defesa (art. 5º,LV), fecha-se o ciclo de garantias processuais. Garante-se o processo, e quando se fala em processo, e não em simples procedimentos, alude-se, sem dúvida, a formas instrumentais adequadas, a fim de que a prestação jurisdicional, quando entregue pelo Estado, dê a cada um o que é seu, segundo os imperativos da ordem jurídica. E isso envolve a 81 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos de direito constitucional. p. 155 82 CRUZ, Paulo Márcio. Fundamentos do direito constitucional. p. 155 83 Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988. 84 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional. p. 432 38 garantia do contraditório,a plenitude do direito de defesa, a isonomia processual e a bilateralidade dos atos procedimentais”. Bezerra85 ao destacar a matéria salienta: A política constitucional deixou de atuar como simples tarefa de declarar direitos, como nos séculos XVIII e XIX e passou a refletir a consciência social dominante, voltando-se para a efetivação dos direitos fundamentais. Assumiu-se, assim, o encargo não só de defini-los e declara-los, mas também, e principalmente, de garanti- los, tornando-se efetivos e realmente acessíveis a todos. O Estado Social de Direito pôs-se de braços com a tarefa nova de criar mecanismos práticos de operação dos direitos fundamentais. Norteando os Princípios fundamentais acima expostos, Alexandre César86 traz que a garantia do Acesso à Justiça é um direito humano, e um elemento essencial ao exercício integral da cidadania, já que não se limita apenas ao acesso ao Poder Judiciário. Adiante ressalta que a Constituição Federal, foi o mais proficiente instrumento pátrio da ampliação das garantias do efetivo Acesso à Justiça, além de atribuir os instrumentos da ação popular, juizados especiais, ação civil pública, bem como a Defensoria Pública, obrigação estatal e direitos do cidadão, bem como ampliou e inseriu institutos de tutela de direitos87. Não discrepa da matéria as lições elucidadas por Mauro Cappelletti88: O “acesso” não é apenas um direito social fundamental, crescentemente reconhecido; ele é, também, necessariamente, o ponto central da moderna processualística. Seu estudo pressupõe um alargamento e aprofundamento dos objetivos e métodos da moderna ciência jurídica. 85 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito . p. 136 86 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça. Cuiabá : EdUFMT, 2002. p. 23 87 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça. Cuiabá : EdUFMT, 2002. p. 23 88 CAPPELLETTI. Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 13 39 A Constituição Federal, regula em diversos de seus dispositivos legais, medidas significativas a combater a desigualdade entre as classes sociais, estabelecendo o “Acesso à Justiça” como Direito Fundamental e conferindo aos cidadãos o direito de petição aos órgãos públicos em defesa de seus direitos, promulgando à apreciação de qualquer lesão ou ameaça a direito ao Poder Judiciário, garantindo assim, a busca pelo efetivo Acesso à Justiça como meio social satisfatório. 1.3. ENTRAVES AO ACESSO À JUSTIÇA O acesso à ordem jurídica justa deve ser demonstrado de maneiras multidisciplinares, pois os problemas fogem do alcance no âmbito do Direito, sendo necessária a avaliação dos problemas, dificuldades, obstáculos e os mecanismos pelos quais se dão os entraves ao Acesso à Justiça. Oportuno ressaltar que de todos os instrumentos de controle social na busca de um Acesso à Justiça mais equânime transcendem a razoabilidade jurídica, influenciando tanto no sistema econômico, social, político e educacional do povo brasileiro, os quais são problemas estruturais históricos que interferem diretamente na efetividade da Justiça. É possível afirmar que dentre os obstáculos do Acesso à Justiça, verifica-se a classificação de Mauro Cappelletti como sendo a de maior relevância para o tema, eis que discrimina de maneira satisfatória os principais entraves, quais sejam, a possibilidade das partes no âmbito da insuficiência econômica e reconhecimento dos direitos, a lentidão da Justiça, as custas judiciais e os problemas especiais do interesse difuso. 1.3.1. Possibilidade das partes Apesar de todos os avanços proporcionados no ordenamento jurídico processual, a possibilidade das partes seja no âmbito da insuficiência 40 sócio-econômica como no reconhecimento dos direitos amparados é barreira ainda existente e que deve ser analisado no presente momento. 1.3.1.1 Insuficiência sócio-econômica Pela insuficiência sócio-econômica das partes é que se evidencia a disparidade com o princípio de igualdade entre as partes legislado pela Constituição Federal em seu artigo 5º, caput, em que “todos serão iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”, visto que as despesas que envolvem uma demanda judicial, acaba colocando o cidadão em desvantagens processuais. Entende-se dos pensamentos de Cappelletti89 que as pessoas ou organizações que possuam recursos financeiros consideráveis a serem utilizados têm vantagens óbvias ao propor ou defender uma demanda. Não obstante, salienta que a possibilidade de pagar as despesas processuais da demanda para poder litigar, bem como suportar as delongas do litígio é razão relevante no trâmite processual, sofrendo com isso, uma desigualdade de tratamento e na efetividade da aplicação da Justiça, já que aquele que possui maiores condições financeiras sofrerá grandevantagem no interregno litigioso. 1.3.1.2. Reconhecimento e guarda de direitos Um dos fatores impeditivos do Acesso à Justiça tem ordem no reconhecimento e guarda dos direitos, com efeito, amparado pela visão numa perspectiva leiga, os quais analisam a palavra “justiça” e “direito” como vulgarização que destoa o seu efetivo significado. Neste diapasão é que um cidadão só usufruirá das leis perante o poder judiciário se conhecer primeiramente os seus direitos, já que este é o destinatário final da norma jurídica. Ocorre, contudo, que o reconhecimento e guarda dos direitos é matéria abordada principalmente no que condiz a educação da população, vez 89 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p.21 41 que esta deve ser iniciada desde a pré-escola, conhecendo e educando o povo para o conhecimento das garantias e direitos fundamentais. Cappelletti90 não destoa ao afirmar que “a educação jurídica pessoal, se relaciona com as vantagens de recursos financeiros e diferenças de educação, meio e status social, é um conceito muito mais rico, e de crucial importância na determinação da acessibilidade da justiça”. Ademais, suporta a idéia de que os diversos procedimentos complicados, o formalismo, juízes e advogados, figurar tidas como opressoras, fazem com que o litigante se sinta perdido, um prisioneiro num mundo estranho.91 Destarte, Alexandre César92 afirma que: Quanto menor o poder aquisitivo do cidadão menor o seu conhecimento acerca de seus direitos e menor a sua capacidade de identificar um direito violado e passível de reparação judicial. Alem disso, é menos provável que ele conheça um advogado ou saiba como encontrar um serviço de assistência judiciária. São barreiras pessoais que necessitam ser superadas para garantir a acessibilidade da justiça. Prova desta desinformação por parte da população é que muitos deles perdem os seus direitos por ignorância jurídica ou receio psicológico por não conhecer dos procedimentos processuais e principalmente as garantias materiais existente no âmbito jurídico. 1.3.2. Lentidão da justiça A garantia fundamental amparada pela Constituição Federal, em que consiste na apreciação judicial de qualquer lesão ou ameaça de direitos, é auferida pela lentidão da Justiça como sendo uma morosidade para a solução dos litígios, consistindo em críticas dirigidas ao Poder Judiciário a delongo tempo. 90 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 22 91 CAPPELLETTI, Mauro e outro. Acesso à justiça. p. 24 92 CESAR, Alexandre. Acesso à justiça e cidadania. p. 43 42 Denota-se que o Estado como instituição jurídica legislativa cria mecanismos que coíbem a celeridade do processo judicial, impedindo com isso a busca ágil da solução dos problemas. Em discurso proferido em 15/02/2006, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim93 ao participar da solenidade de abertura da 4ª Sessão Legislativa, no plenário da Câmara dos Deputados, discorreu sobre o Poder Judiciário, afirmando que com o advento da Emenda Constitucional n.º 45, que instituiu a Reforma do Judiciário, analisa como sendo um marco para a busca de uma Justiça mais equânime. Extraído trechos consideráveis da íntegra do discurso verifica-se a abordagem: Hoje se constitui um marco na construção histórica das instituições nacionais. A morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões atuam na linha inversa do desenvolvimento nacional. Desestimula investimentos. Estimula a inadimplência. Gera impunidade. Compromete a credibilidade da democracia. Os cidadãos querem e precisam de um sistema legal e judicial que sirva à nação. Por isso, em 15 de dezembro de 2004, firmamos o pacto de estado em favor de um judiciário mais rápido e republicano. Estes foram os compromissos: a) implementar a reforma constitucional do judiciário; b) reformar o sistema recursal e de procedimentos; c) ampliar o acesso à justiça por meio das defensorias públicas; d) otimizar a atuação dos Juizados Especiais e da Justiça Itinerante; e) encontrar solução para os precatórios vencidos e não pagos; f) enfrentar, com eficácia, as violações aos direitos humanos; g) ampliar a informação da justiça (...)94 Desta forma, registrou o Eminente Ministro que a busca da informação ao cidadão dos direitos tutelados e a celeridade da Justiça é escopo marcante na implantação da Reforma do Poder Judiciário, sendo medida preventiva de uma Justiça mais equânime e célere. 93 www.stf.gov.br/imprensa/pdf/mensagemCN2006.pdf, acessado em 11/04/2006 94 www.stf.gov.br/imprensa/pdf/mensagemCN2006.pdf, acessado em 11/04/2006 43 Não obstante, em publicação da revista Mérito do Superior Tribunal de Justiça95, a qual tem o compromisso com a celeridade da Justiça, extrai-se a publicação atualizada das modificações impostas em busca desse objetivo principal, o que ressalta-se: Em 2004, o STJ desenvolveu várias ações administrativas inéditas, com o foco no combate à morosidade no Poder Judiciário. O Relatório de atividades de 2004, publicado em junho, traz as principais realizações desse primeiro ano de vigência do mandado do Presidente Edson Vidigal, em que se destacam os mutirões da Corte Especial (foram julgados 640 feitos de maio a dezembro) e o estabelecimento de 3 horários de distribuição de processos (às 10h ao meio dia e as 5h) No capítulo inicial, intitulado atividade judicante, destaca-se a criação de dois turnos de trabalho, um feito inédito no Poder Judiciário com a nomeação de novos servidores aprovados em concursos, mais os cargos criados por lei. Ponto nevrágico do Superior Tribunal de Justiça que acumulava desde o início de 2000 um estoque de 45 mil processos nos porões do Tribunal, o setor foi reestruturado. O Superior Tribunal de Justiça registrou uma marca de 11% de crescimento nos julgamentos dos processos com relação ao ano de 2003 para 2004, o que demonstra a graciosa intenção dos poderes constituintes na busca pela celeridade judiciária. Vale ressaltar que uma das mais significativas soluções para o problema da lentidão da Justiça são os mecanismos extrajudiciais criados para esse fim, quais sejam: Tribunais Arbitrais, Casa da Cidadania, Procon entre outras entidades que visam extrajudicialmente a pacificação dos litígios sem a necessidade da busca efetiva ao Poder Judiciário. 95 www.stj.gov.br/webstj/imprensa/revistamerito, acessado em 11/04/2006 44 1.3.3. Custas judiciais Nos moldes axiológicos apresentados pelo doutrinador Mauro Cappelletti, as custas judiciais são demonstradas como sendo um obstáculo para a busca efetividade da Justiça, tendo em vista que a manutenção de uma demanda até a pacificação dos litígios é altamente dispendiosa, tendo dentro da sociedade minorias que podem custear um processo em jurisdições mais elevadas, como nos Tribunais Superiores. Assim, ensina Cappelletti96: Finalmente, os autores nesses países precisam às vezes segurar o juízo no que respeita às despesas do adversário, antes de propor a ação. Por essas razões, pode-se indagar se a regra da sucumbência não erige barreiras de custo pelo menos substanciais, quanto as criadas pelo sistema americano. De qualquer forma, torna-se claro que os altos custos, na medida em que uma ou ambas as partes devam suportá-los, constituem uma importante barreira ao acesso á justiça Ao analisar a característica das custas processuais, vêm-se que a nomenclatura utilizada pelo mencionado doutrinador poderia ser reportado como sendo despesas processuais, quais sejam no entendimento de Humberto Theodoro Júnior: “Despesas são todos os demais gastos feitos pelas partes na prática dos atos processuais”, esta taxionomia engloba todas as despesas norteadas dentro da instrução processual,
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