Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NÃO PODE FALTAR NONA SEMANA AO NASCIMENTO, PLACENTA E MEMBRANAS FETAIS Renata Morais dos Santos Imprimir Fonte: Shutterstock. 0 Ve r an ot aç õe s PRATICAR PARA APRENDER Caro aluno, estamos chegando ao fim de mais uma etapa. A embriologia, como vimos, estuda cada uma das fases do desenvolvimento embrionário, desde a fecundação até o nascimento de um novo indivíduo. Nos possibilita compreender os mecanismos de formação dos tecidos, dos órgãos, as alterações do corpo humano, as possíveis interferências que podem ocasionar alguma malformação, deficiência ou alteração genética no indivíduo ainda em desenvolvimento. O novo indivíduo surge de células que se unem para a formação do zigoto, a partir de várias divisões celulares, passa por várias transformações sendo mórula, blástula, gástrula, nêurula, até ser reconhecido como feto. Durante as oito primeiras semanas do desenvolvimento embrionário são cruciais os cuidados com interferências externas que possam influenciar no processo de desenvolvimento, uma vez que os tecidos e órgãos começam a ser desenvolvidos, os sistemas ainda primitivos iniciam o seu funcionamento, como o sistema cardiovascular. É neste período que malformações, problemas congênitos e genéticos são mais frequentes. Ao final da oitava semana do desenvolvimento, o embrião já começa a apresentar características mais humanas, é quando se inicia o período fetal, que estudaremos nesta seção. Acompanharemos os principais eventos ocorridos durante o período fetal, que inclui a nona semana de desenvolvimento até o nascimento do novo indivíduo. As primeiras batidas do coração detectadas pelo ultrassom, os primeiros movimentos do feto, a formação de cabelo, unhas e cílios, assim como a formação da genitália externa e a Deseja ouvir este material? Áudio disponível no material digital. 0 Ve r an ot aç õe s possibilidade de identificar o sexo através do ultrassom. Compreender cada um dos mecanismos deste processo e as necessidades do organismo em se adaptar a cada mudança é fascinante. Daremos destaque para a placenta e as membranas fetais, que aparecem ainda no período embrionário, analisaremos as características de cada uma delas, funções e importância, uma vez que são estas membranas acessórias extraembrionárias, as quais dão todo o suporte para o feto em desenvolvimento. Além disso, estudaremos o mecanismo do parto e as eventuais complicações que o feto possa apresentar caso nasça prematuro. Para finalizar o período fetal, você irá conhecer algumas particularidades quando ocorrem gestações múltiplas e aprender a diferenciá-las. Vamos dar continuidade ao cenário criado, da clínica especializada em reprodução assistida, como uma possível situação profissional, para contextualizar a sua aprendizagem. A reprodução assistida vem crescendo no Brasil, segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e as técnicas utilizadas auxiliam no sonho de gerar uma nova vida, graças a tecnologia e muitas pesquisas. Há mais de dois anos tentando engravidar, um casal foi instruído a realizar a fertilização in vitro, com o intuito de realizar o sonho de ter um bebê. O casal, ambos bom mais de 35 anos, fez o procedimento de reprodução assistida em uma clínica especializada em reprodução humana, onde você trabalha como especialista da saúde. A transferência embrionária através da técnica da fertilização in vitro foi um sucesso e após o teste sanguíneo de F.L.S. (a mulher) ter sido positivo, ela fez o seu primeiro ultrassom estando grávida, na quinta semana de desenvolvimento. Os embriões ainda estavam muito pequenos e não foi possível identificar os sexos ou ouvir o batimento cardíaco dos gêmeos, isso mesmo, F.L.S e o seu esposo tiveram uma 0 Ve r an ot aç õe s surpresa ao descobrir que estavam esperando por dois bebês, ou seja, foi detectada uma gestação múltipla. Por se tratar de uma gestação gemelar, as consultas do pré-natal e os exames de ultrassom devem ser mais frequentes, além de todas as recomendações recebidas por F.L.S., em relação à necessidade de manter uma alimentação balanceada, fazer exercícios físicos leves e com acompanhamento para prevenção da diabetes gestacional, dentre outras. Durante uma das visitas do casal à clínica, você acompanha o exame de ultrassonografia de rotina de F.L.S., já em sua décima sexta semana de gestação. Os bebês estão bem e apesar de o casal estar na expectativa em saber o sexo dos bebês, pelo ultrassom só foi possível visualizar a genitália de um dos fetos (uma menina), devido ao posicionamento dos fetos na barriga. No entanto, por se tratar de uma gestação de gêmeos monozigóticos, você poderia facilmente dizer o sexo do outro bebê? Foi possível, ainda, visualizar outras estruturas formadas, além das genitálias. Quais outras estruturas são formadas durante esta semana do desenvolvimento fetal? Você aproveitou para alertar aos pais que em casos de gestações múltiplas as chances de os bebês nascerem antes da data provável do parto, ou seja, ocorrer um parto prematuro, são maiores. Por que os bebês que nascem antes da vigésima sexta semana possuem menos chance de sobreviver? E no caso de gêmeos que compartilham a mesma placenta, qual síndrome pode ser desenvolvida? Você chegou até aqui, falta muito pouco para compreendermos todas as etapas para geração de uma nova vida. Vamos juntos, não desanime! CONCEITO-CHAVE 0 Ve r an ot aç õe s No final da oitava semana de desenvolvimento embrionário, o embrião passa a ter um aspecto humano e ao iniciar a nona semana ou o terceiro mês do desenvolvimento, ele é chamado de feto. A transição de embrião para feto ocorre de forma gradual, os tecidos e órgãos que tiveram o início da formação do período embrionário agora no período fetal são caracterizados pelo rápido crescimento. A diferença de tamanho entre a cabeça e o corpo diminui neste período, e poucas estruturas novas são formadas, com isso, os danos causados pelos teratógenos e problemas de malformações são mais difíceis neste período, no entanto, ainda são passíveis de ocorrer, incluindo a utilização de substâncias tóxicas que podem afetar a visão e o sistema nervoso do feto. Vamos conhecer os principais eventos que marcam o desenvolvimento no período fetal que compreende da nona semana até o parto. 1. PRINCIPAIS EVENTOS DA NONA SEMANA AO NASCIMENTO Durante este período não há um sistema formal que determine o estágio em que o feto se encontra no período fetal. São levadas em consideração as mudanças que ocorrem neste período e o crescimento do feto é medido através do ultrassom pelo comprimento linear entre a cabeça e a nádega (CRL) e o comprimento linear entre a cabeça e o calcanhar (CHL), sendo possível determinar o tamanho e a idade provável do feto. O início da nona semana é marcado pelo tamanho da cabeça do feto, que ainda possui cerca de metade do CRL. Os olhos ainda são bem separados, as pálpebras seguem fusionadas, a face é larga e as orelhas possuem uma implantação baixa. Durante essa semana, os membros inferiores ainda são curtos e relativamente pequenos. A décima primeira semana é marcada pelo retorno do intestino ao abdome. Entre a nona e a décima segunda semana ocorre a formação da urina, e esta é lançada no líquido amniótico. Parte do líquido é absorvido pelo feto e os produtos excretados são transferidos para a mãe através da membrana 0 Ve r an ot aç õe s placentária pela circulação materna. No final da décima segunda semana, o CRL corresponde praticamente ao dobro do tamanho. Os membros superiores alcançam o seu tamanho relativo ao nascimento, e os membros inferiores ainda em desenvolvimento não atingiram o tamanho relativo final. A genitália externa (masculina ou feminina) ainda não está completamente desenvolvida. A partir da décima quarta semana, os movimentos dos membros notados durante o final do período embrionário passam a ser coordenados e visíveis ao ultrassom e já são perceptíveisos movimentos lentos dos olhos. Ainda na décima quarta semana ocorre a padronização dos cabelos no couro cabeludo. Na décima sexta semana, o tecido ósseo inicia a sua formação, os primeiros dentes decíduos iniciam a sua formação. A face já está bem formada com lábios, boca, nariz e bochechas. O cabelo, as sobrancelhas e cílios são formados, e a genitália externa está desenvolvida e já pode ser identificado o sexo do feto através da ultrassonografia. O feto já pesa em torno de 200 g e tem cerca de 140 mm, e a cabeça em comparação a um feto na décima segunda semana é relativamente pequena. No período entre a décima sétima semana e a vigésima semana, o crescimento é desacelerado, os membros inferiores alcançam o seu tamanho relativo final e a mãe já pode facilmente sentir os movimentos fetais, os pontapés. Durante este período, a pele do feto é coberta pelo verniz caseoso (material gorduroso composto por células mortas secretadas pelas glândulas sebáceas do feto). Além disso, o feto é coberto por uma penugem delicada de pelo, conhecida por lanugo, auxiliando no mantimento do verniz caseoso e auxiliando na proteção da pele muito sensível do feto. O útero fetal feminino é formado e é iniciada a formação da vagina, ou no caso dos fetos masculinos, os testículos começam a descer. Após a vigésima semana de gestação, a morte do feto é chamada de natimorto. Na vigésima primeira semana são iniciados os movimentos rápidos dos olhos e nas semanas seguintes é possível 0 Ve r an ot aç õe s detectar as piscadas. Na vigésima quarta semana as unhas já estão formadas e as células epiteliais secretoras começam a secretar nos pulmões um líquido (surfactante) que mantém alvéolos pulmonares em desenvolvimento abertos. Durante a vigésima primeira à vigésima quinta semana, o feto ganha peso, e embora já possa sobreviver caso nasça prematuro, mesmo com cuidados intensivos, o risco de o feto morrer é grande, pois ao nascer antes da vigésima sexta semana o sistema respiratório ainda está imaturo e possibilita o risco de problemas neurológicos, por este sistema ainda estar em desenvolvimento. Neste período o feto começa a desenvolver a percepção da dor. No período da vigésima sexta à vigésima nona semana, os pulmões já conseguem fazer trocas gasosas suficientes e o sistema nervoso central já amadureceu ao ponto de possibilitar o controle da temperatura corporal e guiar os movimentos respiratórios, embora nasça prematuro, necessite de cuidados especiais em incubadoras para auxiliar no controle da temperatura e respiração artificial, e o fator peso é levado em consideração para aumentar as chances de sobrevivência. Os testículos já começam a descer no saco escrotal, o cabelo está desenvolvido, as pálpebras abertas e as unhas dos pés se tornam visíveis. As últimas semanas do desenvolvimento, que englobam da trigésima a trigésima oitava semana (os dois últimos meses), o feto adquire metade do peso que terá no nascimento, aproximadamente. Durante este período, o cérebro cresce bastante, a pele já é rósea e os membros superiores e inferiores já estão semelhantes a como irão nascer. O feto já é capaz de responder a estímulos luminosos e sonoros e desenvolve um aperto firme nas mãos, uma vez que entre a trigésima sétima e trigésima oitava semana, o sistema nervoso já é considerado maduro para realizar determinadas interações. Quando se aproxima do final da gestação, o feto ganha em média 14 g de gordura por dia, chegando ao final de 38 semanas a cerca 0 Ve r an ot aç õe s de 3.000 a 3.500 g, e CRL aproximado de 36 cm, e a circunferência do abdômen já é maior do que a da cabeça. Os fetos nascidos durante a trigésima segunda semana têm grandes chances de sobrevivência sem a necessidade de incubadoras. O bebê já está formado e pronto para o parto. LEMBRE-SE Uma gestação tem duração de cerca de 280 dias, ou seja, em torno de 40 semanas após a data da última menstruação (DUM). Ou, duração de 266 dias (38 semanas), contabilizadas após a fecundação. 2. PLACENTA E MEMBRANAS FETAIS O principal local de trocas entre a mãe e o feto, tanto de nutrientes quanto de gases e outras substâncias, é a placenta. A sua formação é iniciada com a proliferação do trofoblasto, das vilosidades coriônicas e do saco coriônico no final da terceira semana de desenvolvimento. A placenta é um órgão materno fetal, responsável pelo suporte nutricional e respiratório para o desenvolvimento do feto. É composta por uma parte fetal (originada a partir do caso coriônico) e a parte materna (originada a partir do endométrio). Ela é constituída ainda pela decídua basal (componente materno da placenta) e pelo córion frondoso (componente fetal da placenta). Vamos compreender estes componentes? A decídua é o endométrio gravídico, ou seja, o endométrio de uma mulher grávida. Ela possui três nomeações distintas, de acordo com a região e o local de implantação do concepto, são eles: decídua basal (a parte mais distante do concepto), decídua capsular (a parte que recobre o concepto) e a decídua parietal (corresponde as partes restantes da decídua). As células deciduais são formadas pelo aumento das células do 0 Ve r an ot aç õe s tecido endometrial, devido ao aumento dos níveis de progesterona no sangue da mãe. Já o córion frondoso se origina pela expansão e pelo crescimento das vilosidades-tronco, conforme ocorre a progressão da gravidez. O córion frondoso (ou córion viloso) representa a parte fetal da placenta, e do lado oposto a este polo embrionário, as vilosidades se degeneram e formam o córion liso. ASSIMILE O córion reveste a parede do saco coriônico e o tamanho deste é muito importante para auxiliar na determinação da idade gestacional de embriões, principalmente para pacientes com histórico incerto de menstruação. Através de ultrassom é possível detectar os sacos coriônicos com diâmetros entre 2-3 mm, indicando aproximadamente 18 dias da idade gestacional, após a fecundação. Conforme o feto cresce, o que ocorre? A decídua capsular se une com a decídua parietal e aos poucos obstrui a cavidade uterina. A cavidade coriônica também é obstruída, e ocorre a fusão entre o âmnio e o córion, resultando na membrana amniocoriônica. REFLITA A mulher quando inicia o trabalho de parto, em geral, tem a sua bolsa dá́gua rompida, certo? O “tampão” ou a membrana que se rompe é a membrana amniocoriônica. Quando esta membrana se rompe, o fluido amniótico é perdido por meio do colo uterino e vagina. A placenta é limitada do lado fetal pela placa coriônica e do lado materno pela decídua basal (placa decidual). Entre estas placas, o sangue materno preenche os espaços intervilosos derivados das lacunas 0 Ve r an ot aç õe s do sinciotrofoblasto, se lembra dele? São as camadas externas do trofoblasto. A placenta cresce juntamente com o feto e o útero, durante o desenvolvimento do feto. Por volta do terceiro mês, a placenta está completa e entre o quarto e o quinto mês, são formados os septos placentários (septos que crescem em direção aos espaços intervilosos), dividindo a placenta em cotilédones (espaços irregulares formados na parte fetal da placenta, delimitados pelos septos placentários). O formato da placenta é discoide, e é expelida da cavidade uterina após o parto. No final da gravidez, a placenta já ocupa cerca de 30% da superfície interna do útero, pesa cerca de 500 g, e possui em média 20 cm de diâmetro com 3 cm de espessura. A partir da terceira semana do desenvolvimento embrionário, é iniciado o desenvolvimento cardiovascular, com o surgimento do primórdio da circulação uteroplacentária. Mas e como será a circulação placentária? Na quarta semana, a placenta forma a rede vascular, a partir das vilosidades coriônicas que cobrem o saco coriônico. O endométrio tem artérias espiraladas que atravessam a placa decidual e os espaços intervilosos, banhando, com sangue oxigenado, as vilosidades coriônicas. Neste momento, por se tratar de vasosestreitos, o sangue é encontrado sob grande pressão, e à medida que esta pressão diminui, o sangue flui, atingindo a decídua, até penetrar nas veias endometriais. O sangue materno e o sangue fetal são separados pela membrana placentária, formada por tecidos das vilosidades coriônicas. Esta membrana, até o quinto mês do desenvolvimento embrionário, é composta pelo sinciciotrofoblasto, citotrofoblasto, mesoderma extraembrionário e endotélio dos vasos sanguíneos do feto. Depois, o citotrofoblasto degenera, o mesoderma extraembrionário diminui e a membrana se reduz ao sinciciotrofoblasto e ao endotélio, permitindo com maior facilidade as trocas de substâncias entre a mãe e o feto em crescimento. Através da veia do cordão umbilical, o oxigênio e os 0 Ve r an ot aç õe s nutrientes atravessam a membrana placentária, difundidos do sangue materno para o sangue fetal. Já o gás carbônico e a ureia, dentre outros resíduos do metabolismo fetal, são difundidos no sentido inverso, do feto para a mãe, porque a mãe irá realizar a troca do gás carbônico por oxigênio, nos pulmões, e a ureia será excretada através dos rins, auxiliando o desenvolvimento do feto. ASSIMILE Conforme a substância transportada entre a mãe e o feto, e vice-versa, existe um tipo de transporte. Por exemplo: água, gases, ureia e hormônios esteroides são transportados por difusão simples. A glicose, no entanto, é transportada por difusão facilitada. Já os aminoácidos, lipídios e grande parte das vitaminas são transportados por transporte ativo. A placenta em conjunto com o cordão umbilical (composto por duas artérias e uma veia) formam um verdadeiro sistema de transportes entre a mãe e o feto. Podemos, então, destacar algumas das principais funções da placenta, como a sua participação no metabolismo (síntese de glicogênio, ácidos graxos, colesterol, etc.); o transporte de nutrientes e gases (oxigênio, gás carbônico, água, aminoácidos, hormônios, vitaminas, anticorpos maternos, medicamentos, drogas, agentes infecciosos, etc.); a excreção de resíduos (por exemplo a ureia) e a síntese e secreções endócrinas (gonadotrofina coriônica humana – hCG, progesterona, estrógenos, etc.). EXEMPLIFIQUE O cordão umbilical geralmente apresenta entre 1-2 cm de diâmetro e 55 cm de comprimento. Alterações muito grandes no comprimento do cordão podem causar problemas ao feto. Cordões muito longos podem se enrolar no feto ou causar um 0 Ve r an ot aç õe s prolapso, ocasionando em uma deficiência de oxigênio para o feto. Já os cordões muito curtos, podem ocasionar a separação da placenta da parede do útero de forma prematura no momento do parto. As membranas fetais ou anexos embrionários são as estruturas que surgem durante o desenvolvimento embrionário a partir das camadas germinativas e auxiliam na separação do embrião (ou feto) do endométrio. Eles se originam do zigoto, e com exceção do saco vitelino e do alantoide, não participam da formação do embrião. Vamos compreender agora as funções de cada uma delas. Iniciaremos pelo âmnio, membrana fetal que forma o saco amniótico, cheio de líquido (líquido amniótico), que envolve o embrião (ou feto), evitando o ressecamento deste, além de conferir proteção contra choques mecânicos. Conforme aumenta o seu tamanho, ele se une à cavidade coriônica e forma a membrana amniocoriônica. O líquido amniótico é inicialmente composto pelo líquido secretado pelas células amnióticas e a maioria do líquido é proveniente do fluido tecidual materno. A passagem de água e solutos do feto para a cavidade amniótica ocorre através da pele, e também pelas vias respiratórias e gastrointestinais do feto. A partir da décima primeira semana o feto auxilia na formação do líquido amniótico pela urina expelida. A composição do líquido amniótico inclui compostos orgânicos e sais inorgânicos em proporções aproximadamente iguais, sendo metade dos compostos orgânicos formados por proteínas e a outra metade de carboidratos, enzimas, gorduras e hormônios. Para o desenvolvimento do embrião, o líquido amniótico tem a função de permitir o crescimento externo simétrico do embrião, forma uma barreira contra infeções, impede o contato entre o âmnio e o embrião, além de proteger o embrião de choques, lesões e traumatismos. Contribui ainda para o 0 Ve r an ot aç õe s desenvolvimento muscular, do pulmão fetal e auxilia no controle da temperatura do feto. Por meio de estudos das células presentes no líquido amniótico é possível detectar anomalias cromossômicas. O córion como vimos, está relacionado ao tecido uterino, e após formar as vilosidades coriônicas origina a placenta. O saco vitelino (ou vesícula umbilical) é essencial para a transferência de nutrientes durante a segunda e terceira semana de desenvolvimento, antes da circulação uteroplacentária ser estabelecida ainda na terceira semana. As células do sangue durante a terceira semana do desenvolvimento recobrem o saco vitelino e iniciam a formação do fígado até a sexta semana, quando as atividades hematopoiéticas são iniciadas. O saco vitelino é reduzido durante a quarta semana de desenvolvimento, incorporado na formação do intestino primitivo. As células germinativas primitivas do saco vitelino se diferenciam e migram para as glândulas sexuais em desenvolvimento, que iram se diferenciar em espermatogônias e ovogônias. Neste sentido, o saco vitelino não é funcional em relação ao armazenamento de vitelo no caso do desenvolvimento humano, mas desempenha um grande papel como pudemos ver. Por fim, o alantoide, assim como o saco vitelino, não é funcional para os embriões humanos, mas são importantes na formação do sangue em sua parede durante a terceira e quinta semana do desenvolvimento. A partir dos seus vasos sanguíneos são formadas as artérias e a veia umbilical. Com o crescimento da bexiga, o alantoide involui e forma um tubo espesso, o úraco, que após o nascimento se torna o cordão fibroso (ligamento umbilical mediano), que abrange o ápice da bexiga urinária até o umbigo. Figura 4.6 | Desenvolvimento da placenta e membranas fetais 0 Ve r an ot aç õe s Nota: A, Secção coronal do útero mostrando a protuberância da decídua capsular e o saco coriônico expandindo em 4 semanas. B, Ilustração ampliada do local de implantação. Os vilos coriônicos foram expostos por um corte de abertura na decídua capsular. C a F, Secções sagitais de útero gravídico da 5ª à 22ª semana (gestação) mostrando as alterações das relações das membranas fetais com a decídua. Em F, o âmnio e o cório estão fusionados entre si e com a decídua parietal, obliterando a cavidade uterina. Fonte: Moore et al. (2016, p. 72). É importante saber que após o parto, as membranas fetais (anexos embrionários), assim como a placenta e o cordão umbilical, são expulsos do corpo. A seguir iremos conhecer alguns eventos que envolvem o parto. 0 Ve r an ot aç õe s 3. PARTO O parto é o momento do nascimento. Neste momento, o feto, a placenta e os anexos embrionários (ou membranas fetais) são expelidos do corpo materno. O trabalho de parto (sequência de contrações uterinas) resulta na dilatação do colo uterino para a saída do feto, resultante da ação secretada pelo hormônio liberador de corticotropina pelo hipotálamo do feto. Este hormônio estimula a produção do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) pela hipófise, que provocará outra reação, a secreção de cortisol pelo córtex suprarrenal. Há um aumento de estrógeno, já que o cortisol está relacionado à síntese de estrógenos, e estes por sua vez liberam a ocitocina, estimulando as contrações peristálticas do músculo liso do útero. Os estrógenos aumentam a contração do miométrio e estimulam a liberação de mais ocitocina e prostaglandinas. Durante o trabalho de parto, as contrações inicialmente são espaçadas e aos poucos forçam o âmnio e o córion liso para dentro do colo do útero, fazendo com que este seja dilatado progressivamente. A membrana amniocoriônica érompida e o líquido amniótico é expelido pela vagina. Neste momento, as contrações uterinas já são mais fortes e com a ajuda da contração dos músculos abdominais o feto é expulso com as demais membranas fetais. Assim que o feto sai do corpo da mãe, ele passa a ser chamado de recém- nascido. A placenta é separada da parede uterina logo que o feto nasce, durante este período para que seja controlado o sangramento excessivo, as contrações do útero comprimem as artérias, o que dura em torno de 15 minutos. Caso a placenta fique aderida ou não seja expelida após cerca de 60 minutos, pode haver hemorragia pós-parto. 4. MÚLTIPLAS GESTAÇÕES 0 Ve r an ot aç õe s As gestações múltiplas são aquelas em que a mulher fica grávida de dois ou mais conceptos de uma única vez, estão associadas a um risco maior de morbidade e mortalidade fetal comparadas às gestações únicas. As anomalias cromossômicas são maiores e conforme o número de fetos aumenta, o risco se torna progressivo. Riscos de parto prematuro, hipertensão ou diabetes gestacional, anemia e crescimento fetal reduzidos são alguns dos riscos para a mãe e os fetos. A incidência de múltiplas gestações aumenta com o uso de técnicas de reprodução assistida, como a fertilização in vitro. E como os gêmeos são formados? Os gêmeos podem se originar de dois zigotos diferentes (gêmeos dizigóticos – DZ, bivitelinos ou dicoriônicos) ou eles se originam de um único zigoto (gêmeos monozigóticos – MZ, univitelinos ou monocoriônicos). Nestes casos, a placenta e as membranas fetais estão relacionadas com a origem dos gêmeos. As gestações de gêmeos dizigóticos ocorrem em maior número. Antes do início da clivagem, os gêmeos são resultantes da separação de blastômeros, eles têm cada um o seu âmnio, o seu córion e a placenta, e estas membranas podem ou não se fundir. Em gêmeos MZ é comum que ambos os embriões partilhem da mesma placenta e se desenvolvam no mesmo córion, mas cada um pode ou não ter o mesmo âmnio (monoamniótico ou diamniótico). Cada embrião apresenta, ainda, o seu sistema vascular individual, mas em alguns casos eles podem ser fundidos quando dividem a mesma placenta e nestes casos um gêmeo pode receber uma proporção maior de fluxo sanguíneo do que o outro, acarretando problemas de deformações, atrofias no crescimento, dentre outros. Os gêmeos DZ são originados da fecundação de dois oócitos por dois espermatozoides, o que os confere a possibilidade de possuírem o mesmo sexo ou sexos diferentes, sendo fraternos. Gêmeos dizigóticos têm características semelhantes como qualquer outro irmão. Já os gêmeos MZ são originados da fecundação de um ovócito e desenvolvidos 0 Ve r an ot aç õe s a partir de um único zigoto. Os gêmeos monozigóticos são sempre do mesmo sexo, são similares na aparência física e são geneticamente idênticos. Lembrando que nestes casos, as impressões digitais e algumas características fenotípicas são distintas, pois são resultantes da interação do genótipo com o meio ambiente. No caso de trigêmeos, quádruplos, quíntuplos e assim por diante, os nascimentos múltiplos podem ser originados de um único zigoto (sendo idênticos), originados de dois zigotos (com gêmeos idênticos e outro diferente), ou ainda a partir de um zigoto para cada gêmeo, o que os permite terem sexos iguais ou distintos, e as semelhanças entre eles são maiores do que em irmãos de gestações distintas. Você já deve ter ouvido falar de gêmeos siameses, que em alguns casos de sucesso são separados em cirurgia. Os gêmeos siameses são casos raros em que o disco embrionário não é dividido completamente, assim sendo, podem ser formados gêmeos monozigóticos conjugados. Para a genética humana, o estudo dos gêmeos é importante para comparar a influência do ambiente e as ações dos genes durante o desenvolvimento. As condições anormais quando não exibem um padrão genético simples podem ser comparadas à ocorrência em gêmeos para verificar se a hereditariedade está envolvida. Compreender o desenvolvimento humano é fundamental para o entendimento da vida, os processos que envolvem desde o momento da fecundação até o nascimento de um novo indivíduo são fascinantes, ao mesmo tempo complexos. Os principais eventos e as transformações pelas quais células, tecidos e órgãos passam foram elencados para que você possa relacionar à vida aos conceitos de biologia celular, de genética e de embriologia e perceber que estão todos interligados. FAÇA VALER A PENA 0 Ve r an ot aç õe s Questão 1 As membranas fetais, também chamadas de anexos embrionários, são derivadas das camadas germinativas do embrião. Auxiliam no desenvolvimento embrionário, no entanto, não fazem parte do corpo deste embrião. Cada uma das membranas tem funções específicas e importantes. Uma destas membranas é responsável por proteger o embrião de sofrer choques mecânicos e de que sofra ressecamento. Ela é gerada nas primeiras semanas do desenvolvimento embrionário e tem participação na formação do embrião. Assinale a alternativa correta que corresponda à membrana fetal descrita no texto. a. Saco vitelínico. b. Alantoide. c. Âmnio. d. Líquido amniótico. e. Córion. Questão 2 A placenta tem diversas funções, mas a principal delas é comunicar o corpo da mãe ao feto, permitindo a troca de nutrientes entre eles, além de conferir proteção e sustentação à gestação. Em relação à placenta, analise as afirmativas a seguir: A placenta tem diversas funções, mas a principal delas é comunicar o corpo da mãe ao feto, permitindo a troca de nutrientes entre eles, além de conferir proteção e sustentação à gestação. Em relação à placenta, analise as afirmativas a seguir: I El é á l fil d ã li i d j 0 Ve r an ot aç õe s I. Ela é responsável por filtrar o sangue da mãe e eliminar os dejetos advindos do feto. II. Ela estimula a produção do hormônio da gonadotrofina coriônica humana (hCG), além de formar as vilosidades coriônicas. III. Ela transporta tanto oxigênio quanto gás carbônico, água, hormônios, vitaminas e até mesmo anticorpos. Agora, assinale a alternativa que apresenta as afirmativas corretas. a. I, apenas. b. II, apenas. c. I e II, apenas. d. I e III, apenas. e. I, II e III. Questão 3 As gestações múltiplas apresentam algumas características e cuidados maiores se comparadas às gestações únicas. Sabemos que o desenvolvimento embrionário é iniciado a partir da fertilização e formação de um zigoto. No caso de gêmeos, assinale a alternativa correta. a. Os gêmeos fraternos são formados a partir da fecundação de dois ovócitos, que darão origem a dois indivíduos. b. Os gêmeos dizigóticos são considerados gêmeos idênticos, tanto física quanto geneticamente. c. Os gêmeos idênticos são formados a partir da fecundação de um único ovócito, por dois espermatozoides. d. Os gêmeos monozigóticos compartilham a mesma placenta, o mesmo âmnio e possuem cada um o seu córion. e. Os gêmeos monocoriônicos são caracterizados por apresentarem o mesmo sexo e têm maior incidência. 0 Ve r an ot aç õe s REFERÊNCIAS BASTOS, V.; CARVALHAL, N. Roteiros de aula prática – Embriologia Humana. Universidade Católica do Salvador. Disponível em: https://bit.ly/3eGHwCm. Acesso em: 4 fev. 2021. CARLSON, B. M. Embriologia humana e biologia do desenvolvimento. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2014. MARCUZZO, S. Membranas Fetais. UFRGS. Disponível em: https://bit.ly/3bn3Xu0. Acesso em: 2 fev. 2021. FAMEMA – Faculdade de Medicina de Marília. Disciplina de Embriologia Humana. Disponível em: https://bit.ly/33FKHnl. Acesso em: 3 fev. 2021. GOEBEL, M. A. et al. Prolapso de cordão umbilical: relato de caso. Rev Med Minas Gerais, n. 20, v. 2, Supl. 1, p. S133-S135, 2010. Disponível em: https://bit.ly/33E85le. Acesso em: 5 fev. 2021. GUERRA, R. A. T. et al. Cdernos Cb Virtual 2 – Ciências Biológicas. UFPB. João Pessoa: Ed. Universitária, 2011. Disponível em: Link. Acesso em: 4 fev. 2021. MARCUZZO, S. MembranasFetais. UFRGS. Disponível em: Link. Acesso em: 5 fev. 2021. MONTANARI, T. Embriologia – Texto, atlas e roteiro de aulas práticas. Porto Alegre, 2013. Disponível em: https://bit.ly/3bp6t2Y. Acesso em: 21 jan. 2021. MOORE, K. L.; PERSAUD, T.V.N.; TORCHIA, M. G. Embriologia básica. 8 ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda., 2016. MOORE, K. L.; PERSAUD, T.V.N.; TORCHIA, M. G. Embriologia básica. 9 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. 0 Ve r an ot aç õe s https://www.scribd.com/document_downloads/direct/55553762?extension=pdf&ft=1612487971%3C=1612491581&show_pdf=true&user_id=539861330&uahk=6a3KgqUK1HY5tATq7yWQUbow9WY http://professor.ufrgs.br/simonemarcuzzo/files/membranas_fetais.pdf https://www.famema.br/ensino/embriologia/ http://www.rmmg.org/exportar-pdf/1074/v20n2s1a34.pdf http://portal.virtual.ufpb.br/biologia/novo_site/Biblioteca/Livro_2/4-BDH.pdf http://professor.ufrgs.br/simonemarcuzzo/files/membranas_fetais.pdf http://professor.ufrgs.br/tatianamontanari/publications/embriologia-texto-atlas-e-roteiro-de-aulas-pr%C3%A1ticas NETO, A. R. M.; CÓRDOBA, J. C. M.; PERAÇOLI, J. C. Etiologia da restrição de crescimento intrauterino (RCIU). Com. Ciências Saúde, n. 22, Sup 1, p. S21 – S30, 2011. Disponível em: https://bit.ly/2QijkNe. Acesso em: 4 fev. 2021. SHOLL-FRANCO, A.; THOLE, A. A.; UZIEL, D.; AZEVEDO, N. L. Corpo humano I, v.1, 2. ed. Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2010. 0 Ve r an ot aç õe s http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/etiologia_restricao_crescimento.pdf
Compartilhar