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CIENCIAS DA RELIGIÃO-AULAS 9

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(
Aula
 
9:
 
Linguagens
 
da
 
religião:
 
organização,
 
instituição
 
e
 
experiência
Disciplina:
 
Ciências
 
da
 
Religião
)
Apresentação
A religião se apresenta, se expressa e é reconhecida como religião a partir de algumas linguagens e estruturas, independentemente da polêmica sobre seu caráter total ou parcialmente autônomo em relação às outras dimensões sociais ou de ser ou não uma função social ou uma experiência profunda do sujeito.
Como a religião fala e como ela pode ser vista como um tipo de linguagem é o que você é convidado a ver nesta aula. A religião pode ser a linguagem do poder, da violência e pode expressar-se como poder e como violência, mas também capaz de ser a linguagem do amor e da tolerância e expressar amor e tolerância. Reflita sobre essas ambiguidades.
Alguns dizem que há na religião, uma vocação autoritária; outros que há uma vocação amorosa e uns terceiros dizem que a religião é utilizada por outras forças em busca de legitimação e poder. De qualquer forma, a religião é uma linguagem, possui linguagens e fala de si e do mundo por meio dessas linguagens, uma tripla condição que a torna um fenômeno complexo e fascinante.
Objetivos
Reconhecer a religião com linguagem fundamental. Identificar as linguagens e formas de organização da religião.
Localizar fatos e contextos básicos para as linguagens da religião.
Introdução
O que é uma linguagem?
Nesta aula, você é convidado a pensar um pouco sobre a teoria da linguagem cujo precursor influente, foi o linguista e filólogo genebrino Ferdinand de Saussure (1857-1913). Observe que Saussure pensou a linguagem como um sistema de signos e afirmou que este era uma relação entre significante e significado, ou seja, um elemento que agrupava um som (áudio-imagem) a uma ideia (conceito).
 (
Introdução à Simiótica com o professor Bernardo Espíndola | 
Fonte: 
Youtube
 
URL
)
Uma das teses mais instigantes para sua reflexão pessoal é a do agrupamento arbitrário, puramente convencional, entre significante e significado. Pense um pouco, não há som ligado de forma eterna e inapelável ao agrupamento de letras da palavra asa, por exemplo.
 (
Você
 
se
 
acostumou,
 
por
 
heranças
 
sociais
 
e
 
culturais,
 
a
 
associar
 
esta
 
palavra
 
ao
 
som
 
correspondente
 
e
 
à
 
imagem
 
ou
 
sentido evocado por ela. Isto é, você pode entender a linguagem como um sistema de signos criados sem conexão
 
previamente
 
estabelecida “por natureza” ou
 
“por alguma força divina”.
O som da palavra cão não tem nenhum vínculo com a ideia de cão. Saussure revolucionou os estudos de linguagem
 
e chamou atenção para o caráter arbitrário da natureza do signo: há uma ligação puramente relacional entre o
 
significante
 
e o significado (o som e a ideia), ou seja, seria uma relação negativa.
Comentário
)
Veja dois filósofos que aprofundaram os estudos de Saussure:
 (
O filósofo austríaco-britânico pode ajudar você a entender mais o tema. Ele foi outro pensador que revolucionou a
 
teoria
 
da
 
linguagem,
 
elaborou
 
analogias
 
entre
 
a
 
linguagem
 
e
 
o
 
jogo
 
de
 
xadrez:
 
as
 
regras,
 
que
 
caracterizam
 
o
 
xadrez
 
como
 
o
 
jogo
 
de xadrez
 
não
 
tem
 
nada a
 
ver
 
com
 
a forma
 
das
 
peças.
 
Por exemplo,
 
para
 
que
 
você compreenda
 
melhor, é possível usar qualquer coisa no lugar da rainha, uma tampa de refrigerante, um pedaço grosso de
 
madeira e chamar essa peça de rainha se a 
função 
for de rainha, ou seja, andar em todas as direções dentro do
 
tabuleiro do xadrez.
Assim, o signo (e seus elementos, o 
significante 
e o 
significado
) é a peça do jogo e, portanto, não depende de uma
 
forma ou qualquer essência singular para existirem, mas, nesse caso, depende apenas da função dentro do sistema
 
a que pertence, uma linguagem.
Uma linguagem é um sistema de relações e de funções, baseadas em um sistema de signos, composto de
 
significantes e significados. A religião, nesse caso, é um sistema de signos que se move em relações específicas,
 
possui funções gramaticais e linguísticas específicas que não se confundem, por exemplo, com as linguagens do
 
poema
 
e da poesia, da Arte e do Cinema, das Ciências Naturais e das Ciências Sociais.
Ludwi
g
 
Witt
g
enstein
 
(
1889-1951
)
)
 (
Filósofo franco-argelino, aprofundou as teses de Saussure e manteve a arbitrariedade para os elementos da
 
linguagem,
 
a
 
saber,
 
o
 
signo
 
e
 
seus
 
componentes,
 
significante
 
e
 
significado,
 
e
 
acentuou
 
o
 
caráter
 
negativo
 
de
 
todos
 
os elementos.
Suas existências seriam definidas em função das regras que estruturariam a linguagem, mas, sob uma condição, se
 
tudo aquilo que cerca o signo não é. A tampinha de cerveja pode desempenhar a função de rainha, no jogo de
 
xadrez e, por isso, ela, a tampinha, não faz a função do cavalo ou da torre e somente nessa rede de relações e
 
funções
 
(no caso, desempenhar
 
o papel da
 
rainha) é que
 
aparece como se
 
estivesse vestindo uma
 
coroa.
Para Derrida, há um jogo de paradoxos que você pode entender da seguinte forma: toda presença do significado é
 
uma ausência e toda ausência dele (significado) é uma presença. O significado se põe negativamente, ou seja, só se
 
põe negando uma série de outros significados e, agindo dessa forma, se apresenta (fenômeno, o que está à vista) à
 
medida
 
que se retira.
Jacques
 
Derrida
 
(
1930-2004
)
)
A distinção entre gêneros de linguagens: religião, história e ciência
Wilhelm Dilthey (1833-1911)
Preste atenção no que escreve um dos filósofos que procuraram fundamentar o projeto das Ciências Humanas:
 (
Sutulo
 
/ Pixabay
o surgimento das ciências na Europa foi precedido por um tempo no qual se realizou o
 
desenvolvimento intelectual no interior da linguagem, da poesia e da representação
 
mítica, assim como no interior do progresso das experiências da vida prática.
DILTHEY,
 
2010,
 
p.
 
159
)
Essas linguagens que se formaram ao longo de séculos durante o desenvolvimento humano, estabeleceram sistemas de relações muito diversos, distintos que se diferenciaram e não podem ser confundidos. Por exemplo, a ciência moderna, desde sua ascensão a partir do século XVI, com Galileu Galilei (1564-1642), Isaac Newton (1643-1727), entre outros, mudou a linguagem da investigação.
Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em uma lógica rigorosa sem falácias 1 Nas próprias ciências, com as questões postas e com o passar do tempo, as polêmicas e disputas, as linguagens científicas se diferenciaram, e surgiram as Ciências Humanas e Sociais, e dentro delas, as Ciências da Religião.
Nesse sentido, a verdade não precisa mais ser definida como inventada ou descoberta, mas como uma propriedade de enunciados da linguagem em correspondência com o contexto e a realidade.
Falácias1
Palavra com origem no latim fallacia, indica a característica ou propriedade de algo que engana ou ilude. Pode ser entendida como uma linguagem que simula uma veracidade; sofisma. As falácias informais são difíceis de identificar, pois possuem uma forma lógica válida. No âmbito da lógica, uma falácia consiste no ato de chegar a uma determinada conclusão errada a partir de proposições que são falsas. Há muitos tipos, por exemplo, a falácia do espantalho: a distorção de um argumento inicial ao mesmo tempo em que se tenta legitimar o argumento distorcido, para refutar o argumento original (não distorcido). O argumento que é refutado não é o argumento que foi inicialmente apresentado.
Veja um exemplo a partir de um diálogo imaginário entre duas pessoas: Maria: “— Indivíduos menores de 20 anos deveriam ser proibidos por lei de comprar bebidas alcoólicas”.
Marta: “— Isso é incentivar que indivíduos com mais de 60 anos consumam mais e vendam álcool para os menores de 20 anos! É inadmissível!”.
Neste exemplo, Marta distorceu o argumento do Maria inventando palavras para tentar refutá-la.
Onde se poderia ver isso?
 (
Na multiplicidade de significados que todas as palavras carregam nascostas, a famigerada
 
polissemia intrínseca. Por exemplo, a expressão, “ele é um gatão”, pode remeter um gato de
 
raça grande, a um homem bonito ou a um leão feroz.
)
Cada palavra inscrita nas linguagens traz um grande número de significados, independente de seus usos, que são os mais distintos possíveis e que mudam conforme o tempo, a história e a sociedade. Você pode notar, assim, o poder da linguagem em sua arbitrariedade porque há uma dupla determinação:
 (
1
)
O contexto determina o significado dado no texto.
 (
2
)
O significado também determina o contexto dado.
Imagina o texto bíblico, por exemplo, o quanto é complexo e o quanto um teólogo precisa levar em conta os tipos, os modos e as formas de linguagens e de gêneros textuais, as formas de recepção do texto etc.
fonte: http://odetalhedapalavra.blogspot.com/2012/01/texto-biblico- indispensavel-em-uma.html
Note que não se lê uma poesia que fala do corpo humano da mesma forma como se lê e se entende um texto médico de anatomia, um texto acadêmico das Ciências Sociais sobre o corpo ou uma passagem bíblica que fala sobre o corpo. Se isso for feito, haverá confusão, falta de discernimento. Essa propriedade paradoxal da linguagem, cria o que Derrida chamou de desconstrução, que você pode entender da seguinte forma:
 (
Todo texto, ao se colocar e firmar (afirmar), se põe de modo negativo-positivo (nega, adia e
 
indica significados), se desconstruindo ao mesmo tempo em que necessita se construir. Em
 
outras palavras, os textos são, por conta da linguagem, “autodestrutivos” porque é uma
 
característica factual, e comprovada, da linguagem humana.
)
Pensamento humano e linguagem são muito similares e, por conta disso, você pode pensar que o próprio pensar humano é desconstrutivo. Se você tentar sair da prisão da linguagem, voltará para o mesmo lugar: é a linguagem que constrói nosso mundo e simultaneamente nos mantém nele, na sua fraqueza, nos muitos contextos e em suas muitas semânticas relativas.
A linguagem cria o eu, diriam os filósofos pós-modernos, e você poderia dizer, a linguagem da religião cria a religião. Não haveria, nesse sentido, uma essência anterior à linguagem, mas a própria ideia de essência é produto da linguagem, e, nesse caso, entenda essência como o desejo de que as coisas sejam mais fixas, permanentes, menos sujeitas às mudanças.
 (
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doom.ko
 
/
 
Shutterstock
)
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
É interessante que você remeta a Nietzsche que analisou a questão do sujeito em suas obras. Você pode pensar que o sujeito (o eu) é natural e cheio de autonomia, contudo, Nietzsche propõe que o sujeito só é sujeito à medida que é escrito, falado e indicado. Isto é, o sujeito não é um ponto fixo ou uma essência pronta desde sempre, mas um elemento gramatical que faz a frase ser escrita, falada e enunciada segundo a estrutura de uma gramática, que necessita, e só pode existir, como você sabe, dentro uma estrutura de frases com sujeito, verbo e predicado.
Daí você pode entender a famosa ideia de desconstrução, que muita gente acusa, sem ter lido nenhum “pós-moderno”. A desconstrução é permitida a você não por decisão voluntária de sua própria cabeça, mas porque as características da linguagem assim o exigem e o definem.
 (
Lightspring / Shutterstock
)
 (
Por
 
isso,
 
as
 
traduções
 
entre
 
linguagens
 
são,
 
no
 
sentido
 
estrito,
 
impossíveis
 
ao
 
pé
 
da
 
letra,
 
ou seja, só é possível uma aproximação tateante entre linguagens e seus significados dentro
 
de cada contexto e estrutura. Perceba que a comunicação poderia parecer impossível, mas
 
ela é sempre possível a partir de ajustamentos e correspondências entre linguagens e
 
sujeitos, o que é feito o tempo todo.
)
O que isso resulta, no campo das Ciências da Religião?
Pense, por exemplo, nas consequências para as religiões monoteístas do livro (sagrada escritura), como são chamados os complexos e diversificados (interna e externamente) sistemas cristão, muçulmanos e judaico. O impacto dessa ideia e concepção é muito grande:
 (
Na verdade, os fundamentalismos são frutos da má leitura dos textos sagrados, o resultado de confusão entre as
 
funções, os termos e as posições de uma linguagem e do diálogo entre as linguagens ou mesmo o empobrecimento
 
da linguagem. Saiba que um vocabulário e uma linguagem empobrecidos limitam a compreensão e a autonomia dos
 
seres humanos, tornando-os pobres e dificultando sua capacidade de interpretar os significados e as posições dos
 
signos
 
nas estruturas da linguagem;
Descarta
 
os
 
fundamentalismos
) (
Por isso, as “contradições” na Bíblia, apontadas por muitos ateus, são, na verdade, dificuldade de entender os
 
gêneros, as linguagens e as funções das palavras no texto sagrado. Muito das acusações contra a ciência, como as
 
feitas pelas campanhas de famílias contra a vacinação de crianças, às vezes, vindas de pessoas engajadas
 
religiosamente,
 
provém de incompreensões de como funcionam
 
as qualidades e limitações da linguagem científica.
Pense
 
um
 
pouco
 
sobre
 
os três
 
paradigmas
 
de
 
leitura, produção
 
de
 
textos
 
e linguagem
 
que
 
decifra
 
e interpreta
 
outras linguagens (a metalinguagem): pode-se ler um texto heurística (hermenêutica), política, estética e
 
tecnicamente
Contata
 
que
 
existem
 
distintos
 
modos
 
de
 
ler
 
as
 
literaturas
 
e
 
histórias
 
sa
g
radas
)
Pense um pouco sobre os três paradigmas de leitura, produção de textos e linguagem que decifra e interpreta outras linguagens (a metalinguagem): pode-se ler um texto heurística (hermenêutica), política, estética e tecnicamente
1
Se você deseja apreciar ou fruir o texto, você está sob o paradigma estético. 2
Se você quer usar o texto para algum fim que envolva terceiros (convencer, fazer apologia de alguma coisa, atacar alguém ou um grupo, marcar uma posição), então o paradigma é político.
3
Se você quer compreender o texto como ele deve ser compreendido, em termos técnicos, entendendo quem o escreveu e em seu contexto original, então o paradigma é heurístico ou hermenêutico, e, nesse caso, deve-se levar em conta os estudos sobre a história da recepção desse texto ao longo do tempo.
 (
Ben White / Unsplash
)
Ler um texto religioso ou uma escritura sagrada é mergulhar em uma polifonia de linguagens diversas, distintas, diferentes, é um mundo imenso e um labirinto.
Em geral, os textos religiosos possuem diferentes linguagens, por exemplo:
Moral
Modelos de conduta que variam de acordo com a época, a sociedade e o contexto.
Poética
Linguagem figurada, metáfora.
Erótica
O desejo, o corpo.
Sapiental
Reflexão e sabedoria.
Histórica
Registro de eventos e fatos.
Cada linguagem, veja bem, precisa ser considerada dentro de seus limites e em diálogo com o contexto onde os livros e textos foram produzidos e como os mesmos foram recebidos ao longo da história pelas diversas comunidade e grupos e as interpretações que deles fizeram.
 (
Atividade 1
As religiões que possuem escrituras sagradas, como o Cristianismo, o Hinduísmo, o Budismo, o Islamismo e o
 
Judaísmo,
 
enfrentam
 
um
 
dos
 
maiores desafios,
 
que
 
é
 
a
 
interpretação das
 
palavras
 
sagradas
 
escritas
 
no texto.
 
A
 
interpretação passa pela questão de entender a religião como linguagem.
Nesse sentido, considerando a questão da religião como uma linguagem assinale a alternativa correta:
Um
 
texto sagrado expressa um tipo único
 
de linguagem e só pode ser
 
interpretado por um tipo de linguagem.
Um texto sagrado contém um tipo único de linguagem e só pode ser entendido com um único tipo de
 
linguagem.
Um texto sagrado expressa diferentes tipos de linguagem e só pode ser bem entendido se se consideram as
 
funções dessas linguagens.
Um texto sagrado é a expressão de diversos tipos de linguagem e só ser entendido a parir de um único tipo de
 
linguagem.
Um
 
texto sagrado é fruto de muitos
 
tipos de linguagem e só pode ser
 
entendido com um tipo de linguagem.
)
 (
Atividade2
A religião pode ser vista como a expressão de linguagens, por exemplo, uma linguagem espaço-territorial. Em
 
outras palavras, toda religião existe em um espaço e território e possui uma linguagem espacial. Mircea Eliade
 
analisa essa linguagem, no livro 
O sagrado e o profano
.
A partir dessa análise, indique a alternativa correta:
Para
 
o
 
homem
 
religioso,
 
o
 
espaço
 
não
 
é
 
homogêneo,
 
ou
 
seja,
 
o
 
espaço
 
apresenta
 
rupturas
 
e
 
quebras;
 
há
 
porções
 
de espaço qualitativamente diferentes das outras.
Para
 
o
 
homem
 
religioso,
 
o
 
espaço
 
é
 
homogêneo,
 
ou
 
seja,
 
o
 
espaço
 
não
 
apresenta
 
rupturas
 
e
 
quebras;
 
não
 
há
 
porções
 
de espaço qualitativamente diferentes das outras.
Para
 
o
 
homem
 
religioso,
 
o
 
espaço
 
não
 
é
 
homogêneo,
 
ou
 
seja,
 
o
 
espaço
 
não
 
apresenta
 
rupturas
 
e
 
quebras;
 
não
 
há
 
porções de espaço qualitativamente diferentes das outras.
Para
 
o
 
homem
 
religioso,
 
o
 
espaço
 
é
 
homogêneo,
 
ou
 
seja,
 
o
 
espaço
 
apresenta
 
rupturas
 
e
 
quebras;
 
não
 
há
 
porções
 
de espaço qualitativamente diferentes das outras.
Para
 
o
 
homem
 
religioso,
 
o
 
espaço
 
é
 
heterogêneo,
 
ou
 
seja,
 
o
 
espaço
 
não
 
apresenta
 
rupturas
 
e
 
quebras;
 
há
 
porções
 
de espaço qualitativamente diferentes das outras.
)
A religião como organização
Um dos fatos mais básicos da linguagem religiosa é que ela se expressa sob a forma de uma organização e/ou de uma instituição. Uma religião, qualquer que seja seu culto, seus deuses, suas formas, seus símbolos, possui elementos básicos, entre os quais:
Um sistema de crenças
Um código ético
Um sistema de organização
Emile Durkheim escreveu, em sua obra maior, As formas elementares da vida religiosa, que não encontramos, na história, religiões sem igreja, ou, traduzindo seu pensamento, toda religião implica uma forma de organização social.
Veja que a religião é uma linguagem encarnada em práticas e ritos concretos, mas uma linguagem que socializa os indivíduos, fazendo com que estes aprendam um papel social.
Segundo o antropólogo Marcelo Camurça (2013, p. 287-298):
 (
Os ritos coletivos praticados por meio das ‘igrejas’, enquanto culto às divindades, são a
 
forma de inculcar no indivíduo os sentimentos sociais que por meio da religião fazem-no
 
sentir parte da sociedade.
Marcelo
 
Camurça
)
O sagrado, como expressão do social, nasce da efervescência e vai progressivamente se institucionalizando e uma “religião” e daí em uma “igreja”, com ritos, regras, normas etc.
Max Weber (1864-1920)
Em Weber, há uma mudança: temos a passagem do carisma 2 selvagem para uma situação de rotina, o que ele chama de rotinização do carisma. Em outras palavras, em torno do líder carismático surge um grupo e uma comunidade que, com a morte ou o desaparecimento dessa liderança, se vê as voltas com a necessidade de continuar (a questão dos sucessores).
Com isso, muda-se a autoridade e a transmissão do carisma, passando a ser controlado pelos adeptos do líder, que passam a se organizar e racionalizar a mensagem carismática. Você poderia se perguntar, por um exemplo, e Weber responde: o Cristianismo.
Carisma2
Na linguagem sociológica de Weber, é um tipo de autoridade e um modo de dominação baseada na ideia de um indivíduo, considerado pelo grupo ou pela comunidade com uma qualidade fora do comum (extraordinária) e do crescimento das redes de poder em torno dele. É pessoal, individual e, a rigor, intransferível. Ao lado do elemento racional-legal e da tradição, um dos três tipos ideias de autoridade e poder.
 (
Após o desaparecimento de Jesus, seu carisma fundador foi transformado em uma Igreja, uma organização
 
hierocrática
 
que
 
se
 
mantém
 
por
 
meio
 
do
 
“carisma
 
de
 
função
 
ou
 
de
 
cargo”,
 
um
 
tipo
 
de
 
dispositivo
 
permitindo
 
que
 
a
 
comunidade
 
ou
 
o
 
grupo continue,
 
por
 
outras
 
vias, o
 
carisma
 
pessoal
 
e individual
 
do
 
fundador
 
ou líder.
Comentário
)
E isso se daria por dois meios:
A rotinização do carisma se dá pela via legal-racional — quando se criam normas e estruturas legais e racionais, burocráticas.
Ou
Pela via da tradição — quando se criam normas e regras baseadas em costumes e hábitos que vão se arraigando.
Religião como linguagem do sagrado e como linguagem sagrada
Mircea Eliade (1907-1986)
O historiador, filósofo e cientista da religião romeno trata muito bem desse aspecto. O sagrado é uma presença e uma linguagem permanente e universal, é uma linguagem que os seres humanos possuem.
Leia e medite sobre suas palavras, nos trechos a seguir:
 (
O homem toma conhecimento do sagrado porque este se manifesta, se mostra como algo
 
absolutamente diferente do profano. A fim de indicarmos o ato da manifestação do
 
sagrado, propusemos o termo hierofania. Este termo [...] exprime apenas o que está
 
implicado no seu conteúdo etimológico, a saber, que algo de sagrado se nos revela. [...].
 
A partir da mais elementar hierofania — por exemplo, a manifestação do sagrado em um
 
objeto qualquer, urna pedra ou uma árvore — e até a hierofania suprema, que é, para um
 
cristão, a encarnação de Deus em Jesus Cristo, não existe solução de continuidade.
 
(Grifos do professor.
ELIADE,
 
1992,
 
p.
 
13
)
A linguagem do sagrado se expressa como paradoxo, porque, ao mesmo tempo em que fala a todos os seres humanos, encarna-se para seres humanos em determinadas épocas, símbolos, formas e religiões. Por exemplo, em sua maioria, as religiões possuem uma noção de “centro do mundo”, o lugar mais importante do Universo, que, obviamente, é diferente para cada religião específica.
Para os cristão e judeus, Jerusalém é fundamental, para os cristãos-católicos, além de Jerusalém, Roma, a cidade eterna. Repare que, nos mitos que envolvem esses lugares, existem narrativas de jardins e árvores da vida, expressões simbólicas presentes entre judeus, cristãos e muçulmanos, assim como o paraíso.
 (
Estrela
 
de Davi
)
Continuando os exemplos, todas as religiões possuem uma temporalidade profana e um tempo sagrado, no qual se repetem (por meio dos rituais), os atos ou eventos fundadores, a cosmogonia no dizer de Mircea Eliade.
Nas cosmogonias, o elemento feminino e o masculino existem em combinações variadas, mais “patriarcais”, nas religiões semíticas, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo e mais “matriarcais” no caso das cosmologias de povos étnicos.
Você reparou no uso das aspas?
 (
As palavras “patriarcal” e “matriarcal” devem ser usadas com cuidado e no sentido de ver a
 
primazia do pai ou da mãe, sem julgamento de valor.
)
As festas e os tempos festivos existem nas religiões como linguagens específicas dentro da linguagem maior. O mito é uma linguagem de linguagens que você já viu em aulas anteriores e está presente nas religiões como a forma de um modelo exemplar.
Mas, e na vida moderna, como fica a linguagem do sagrado?
Mudou completamente. Leia um trecho escrito esse historiador e filósofo romeno:
 (
Para a 
consciência moderna
, um 
ato fisioló
g
ico — a alimenta
ç
ão
, 
a sexualidade etc. — não
 
é
, 
em suma
, 
mais do
 
que uni fenômeno or
g
ânico
 [...]. Mas para o ‘primitivo’ um tal ato
 
nunca é simplesmente fisiológico; é, ou pode tornar-se, 
uni ‘sacramento’
, 
quer dizer
, 
uma
 
comunhão com
 
o sa
g
rado
.
ELIADE,
 
1992,
 
p.
 
30-40
 
(Grifos
 
do
 
professor.
)
Não há um ato ou gesto sagrado em si mesmo, e que o sagrado ou o profano, apesar de serem signos universais, dependem do jogo de linguagens e dos contextos em que esse jogo ocorre.
 (
Atividade 3
A ciência, a religião e a poesia são linguagens distintas, com contextos, histórias e funções distintas que mudaram
 
ao
 
longo do tempo, segundo o filósofo Wilhelm Dilthey (1833-1911).
Sobre a distinção de gênero de linguagens, assinale a alternativa correta:
Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial não são expressas em cadeias de causalidade,
 
explicadas em uma lógica rigorosa sem falácias.
Na linguagem religiosa, a relaçãoe a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em
 
uma lógica rigorosa sem falácias.
Na linguagem poética, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de causalidade, explicadas em
 
uma lógica rigorosa sem falácias.
Na linguagem cientifica, a relação e a função essencial são expressas em cadeias de metáforas e analogias
 
poéticas, explicadas em uma lógica simbólica.
Na linguagem religiosa, a relação e a função essencial são expressas de diversos modos, o poético, o moral, o
 
sapiencial etc.
)
Religião como linguagem geográfico-espacial
 (
Andrew Stutesman ; Unsplash
)
A religião possui uma forte linguagem espaço-territorial. A Ciência da Religião que estuda esse aspecto denomina-se Geografia da Religião, sendo um pouco recente como disciplina autônoma, desde os anos 1960.
Nas palavras do geógrafo da religião, Gil Filho (2008), no livro Espaço sagrado. Estudos em geografia da religião, não é possível entender a religião sem entender suas linguagens espaciais e territoriais. As religiões apresentam-se no espaço cultural, social econômico e político com linguagens universais e específicas.
Por exemplo, todos os templos de todas as religiões possuem divisões, estruturas, lugares definidos para funções, imagens e símbolos específicos etc.:
Na religião amazônica...
O Santo Daime, em geral, seus templos possuem bancos e posições em semicírculo, uma mesa central e divisão entre homens e mulheres.
Na igreja pentecostal
Na igreja Congregação Cristã, no Brasil, os bancos são dispostos em filas horizontais e sucessivas, homens e mulheres estão em lados opostos, o que não se verifica em outras Igrejas pentecostais.
 (
Perceba
 
que
 
os
 
espaços e
 
seus
 
usos, e
 
as
 
linguagens, mudam
 
com
 
o correr
 
dos
 
tempos. Por
 
exemplo,
 
nos templos
 
católicos entre os séculos XVI e XVIII, no Brasil, quase não havia cadeira ou banco para que as pessoas se
 
assentassem.
Comentário
)
Até os anos 1960, antes do Concílio Vaticano II, separavam-se homens e mulheres, que usavam véus sobre a cabeça, sendo que cada cor simbolizava uma situação:
Grandes historiadores brasileiros, como o pernambucano Gilberto Freyre, quando escreveu seu livro clássico, Casa grande e senzala (de 1933), assinalam que o uso do véu pelas mulheres católicas é uma clara influência da cultura islâmica.
Mas como?
Entre os anos 730 e 1492 d.C., data da queda da cidade espanhola de Granada, capital do império muçulmano Al- Andaluz, as regiões que hoje são Portugal e Espanha ficaram sob forte influência islâmica. Perceba que, no mundo das religiões, uma linguagem dicotômica, do tipo “eles são inimigos e nós somos bons”, não é uma boa linguagem para um teólogo ou um pesquisador das religiões compreender de fato e com profundidade.
Pense no que escreve Mircea Eliade:
 (
Para 
o homem reli
g
ioso
, 
o es
p
aço não é homo
g
êneo
: o espaço apresenta roturas
 
[rupturas],
 
quebras;
 
há
 
porções
 
de
 
espaço
 
qualitativamente
 
diferentes
 
das
 
outras.
 
‘Não
 
te aproximes daqui, disse o Senhor a Moisés; tira as sandálias de teus pés, porque o lugar
 
onde te encontras é uma terra santa.’ (Êxodo, 3: 5). Há, portanto, um 
es
p
aço sa
g
rado
, e
 
por consequência 
“forte”
, 
si
g
nificativo
, e há 
outros es
p
a
ç
os não sa
g
rados
, e por
 
consequência
 
sem estrutura nem consistência
, em suma, amorfos.
ELIADE,
 
1992,
 
p.
 
80(Grifos
 
do
 
professor).
)
A religião como linguagem espacial estabelece os signos do sagrado e do profano, mas, veja que é preciso levar em conta a posição e o contexto dos signos, os contextos históricos, sociais, políticos etc.
 (
Atividade 4
A religião pode ser entendida como organização, ou seja, uma estrutura que pretende perdurar no tempo e no
 
espaço
 
transmitindo
 
a mensagem
 
religiosa.
 
Muitos foram
 
os
 
autores que
 
analisaram esse
 
aspecto
 
das religiões.
Sobre a religião como organização, assinale a alternativa correta:
Uma religião possui como elementos básicos, um sistema de crenças, um código ético e um sistema de
 
organização.
Uma religião, na perspectiva durkheimiana, é uma linguagem encarnada em práticas e ritos concretos, mas
 
uma linguagem que socializa os indivíduos.
Uma religião, na perspectiva durkheimiana, é uma linguagem que marca a passagem do carisma selvagem
 
para
 
uma situação de rotina, a rotinização do carisma.
Uma
 
religião,
 
na
 
perspectiva
 
durkheimiana,
 
não
 
é
 
uma
 
linguagem
 
do
 
conflito
 
entre
 
o
 
sagrado
 
selvagem,
 
efervescente
 
e espontâneo e o sagrado
 
domesticado, burocratizado.
Uma religião, na perspectiva durkheimiana, não é uma linguagem que marca a passagem do carisma selvagem
 
para
 
uma situação de rotina, a rotinização do carisma.
)
Religião como linguagem política: laicidade e secularização
A religião não ocupa mais o lugar que ocupou, por exemplo, na Idade Média, que entre os séculos V e XVI d. C., com muita diversidade e questões impedem você de vê-la como algo uniforme, invariável ou homogêneo, mesmo considerando-se a centralidade de questões teológicas e religiosas.
A religião, em especial a que se manifestava como uma instituição (as igrejas, Católica e Protestante) era a face social, cultural e política do mundo ocidental. Veja que muitos fatos históricos e sociais abalaram paulatinamente essa centralidade e a religião, como linguagem de poder e como poder da linguagem, será reposicionada e ressignificada.
Os abalos da Revolução Francesa (1789) e do Iluminismo, da Revolução Industrial (século XVIII e XIX), da Revolução Tecnológica e Biogenética (século XX e XXI), alteraram definitivamente a religião como linguagem do poder. Observe que outras linguagens do poder passaram a se expressar: o Estado e seus aparelhos de sustentação, o poder judiciário, o legislativo e o executivo, procuraram separar-se — com mais ênfase, no mundo ocidental ou sob sua influência — dos ditamos dogmáticos de uma religião e afirmaram postulados políticos democráticos e universais.
Você é convidado a pensar um pouco sobre o fato de que tal mudança não significou expulsar religião dos espaços públicos e sociais. Ao contrário, as religiões modificaram-se, se revestiram de novas formas de linguagem a interagirem de múltiplas formas com o espaço político e midiático, por exemplo, legitimando demandas e identidades desde as mais conservadoras às mais progressistas.
Gravura “Liberdade nas barricadas” de Delacroix - Revolução francesa /
 (
Gravura
 
de
 
máquinas
 
que
 
fazem a
 
linha
 
de
 
algodão /
 
Shutterstock
Silhuetas
 
de braços
 
de robô de
 
automação | Shutterstock
)Shutterstock
Cândido Procópio Camargo (1922-1987) & Antônio Flávio Pierucci (1945-2012)
Para os sociólogos brasileiros da religião Cândido Procópio Camargo e seu continuador, o paulista Antônio Flávio Pierucci, havia, e há, uma trajetória de declínio de certa linguagem da religião. Ambos retomaram as colocações clássicas da Sociologia, em especial a weberiana para analisar como a religião, na modernidade, está estruturada no Brasil.
Note que, entre 1961 e 1973, Camargo escreveu três livros que abriram o caminho para uma nova linguagem acadêmica sobre a religião no Brasil:
 (
1
)
Kardecismo e umbanda: uma interpretação sociológica
 (
2
)
Católicos, protestantes, espíritas
 (
3
)
Igreja e desenvolvimento
A Sociologia da Religião, no Brasil, como em outros lugares do mundo, nasceu no momento de declínio do Cristianismo/Catolicismo, em momento de forte mudança social, cultural, urbana, comunicacional. Para o sociólogo paulista tratava-se, observe com atenção, de compreender a religião como mudança e transformação, ruptura com as ordens tradicionais, enfim, religião enquanto instituição/força/dimensão inseparavelmente ligada à sociedade, aos seus dilemas, aventuras e desventuras.
 (
Um dos textos mais instigantes de Pierucci, 
Reli
g
ião como solvente: uma aula <htt
p
s://
g
oo.
g
l/zYdAJn>
 
, é
 
guiado por várias questões, inclusive esta: por que as religiões da “tradição”, da “continuidade”, do “consenso”(Umbanda, Catolicismo, Luteranismo), minguaram no Brasil ao longo dos censos populacionais? Com isso, Pierucci
 
propõe algumas teses sobre a estruturação do campo religioso, a produção das individualidades e a articulação
 
entre
 
raça, cor, classe
 
social e expressões religiosas.
Saiba mais
)
Em suas palavras:
 (
A religião universal de salvação individual, forma religiosa que no desenvolvimento geral
 
da cultura tende a predominar sobre as demais, funciona como um dispositivo de
 
Vergemeinschaftung, de comunidade in fieri, quem, entretanto, e para tanto desliga as
 
pessoas de sua cultura-mãe, de um contexto cultural que antes lhes parecia natural e,
 
portanto, congenial. Destribaliza o índio e desterritorializa (melhor: deslocaliza) o
 
vizinho, fazendo do estranho o verdadeiro próximo, o verdadeiro irmão em um laço de fé
 
outro que o protende e projeta numa outra relação com a temporalidade de seus laços
 
sociais, que remove o mais próximo para o passado enquanto projeta no estranho o
 
doravante-próximo.
PIERUCCI,
 
2006
)
O mundo religioso perdeu a evidência de natural, pois com as profundas mudanças sociais, o esboroamento da separação burguesa entre público e privado, novos meios de comunicação etc., embora a religião passou a ser vista como símbolo de identidade. Pouco a pouco, reflita bem, a religião adquiriu novos sentidos, inclusive públicos, políticos e sociais, mobilizou massas, mudanças e lutas reacionárias (voltar ao antigo esquema, especialmente o moral-sexual) e revolucionárias (mudar completamente as condições sociais, culturais e econômicas).
1
Como diferenciação institucional entre as esferas de valor do mundo moderno (religião, arte, ciência, política, sexo etc.), cujos motivos iniciais encontram-se no interior do sistema religioso cristão-ocidental. A magia e a religião deixam de ser a totalidade absoluta das comunidades humanas e tornam-se sistemas ou segmentos em constante fricção e interação com outros sistemas (política, arte, acadêmica, ciência, sexualidade).
2
Como racionalização e desencantamento do mundo (recuo da magia e da religião como fundamentos da imagem do mundo e do homem) e sua re-apresentação como sistemas em interação com outros sistemas (política, ciência etc.). Ou seja, a ciência e suas narrativas racionais ocuparam o lugar central das explicações do mundo e seu funcionamento, da vida e do ser humano, deslocando as explicações teológicas e religiosas para outros planos da existência e do mundo.
Mas, concomitantemente, nos tempos contemporâneos, o elemento mágico e o elemento religioso podem ser conjugados por cientistas e pesquisadores em suas vidas pessoais e privadas.
3
Como desregulação do religioso (mercado e campo religioso) e recuo dos poderes normativo-institucionais frente ao individualismo como modo de vida. Quem demostra muito bem essa tese, é a socióloga da religião Danièle Hervieu-Léger (1947-), que analisou como as crenças religiosas se recompõem na modernidade, influenciadas por uma forte linguagem emocional e corporal.
4
Como enfraquecimento da metafísica e da ontologia em toda cultura ocidental e as reações a esse processo, por exemplo, a nostalgia de uma identidade pesada e atrelada a um passado idealizado, que irão influenciar os movimentos fundamentalistas e de retomada de uma tradição romantizada e distorcidas em muitas religiões universais, por exemplo, budistas, cristãos, islâmicos.
5
Como secularização da esfera pública e estatal (e laicização), ou seja, a perda do controle religioso sobre as estruturas públicas e estatais, embora as igrejas, em geral cristãs, tentem manter influência, em muitos países, sobre estruturas público-legais, militando contra o aborto e "casamento gay", por exemplo, a partir da atuação de bancadas religiosas.
Alguns pesquisadores defendem que a laicidade não deve ser confundida com a secularização. Esta última pode ser vista como a perda das determinações do religioso ou do sagrado [dessacralização] e de suas instituições sobre o conjunto da vida social, política, estética, jurídica, cultural, cognitiva-intelectiva-científica, educacional e econômica de uma sociedade.
 (
http://www.vermelho.org.br/noticia/272405-1
) (
Os discursos religiosos, no contexto da formação do espaço e da esfera públicas, foram
 
forçados, desde então, a abrir mão do uso da coerção, da censura e da imposição violenta
 
das verdades da fé. Na visão de alguns pesquisadores, a laicidade estatal, no Brasil, não
 
possui força normativa e cultural para promover a secularização e assegurar sua própria
 
reprodução.
) (
http://www.ofmscj.com.br/?p=3594
)A laicidade está relacionada com a derrocada da influência religiosa na relação jurídica Igreja-Estado. Ambas, laicidade e secularização, solapam o monopólio dos argumentos religiosos e sua pretensão de exclusividade sobre os assuntos humanos. Doravante, a religião não terá mais o monopólio da legalidade/legitimidade para fundamentar as estruturas sociopolíticas, jurídicas e culturais.
No dizer do sociólogo da religião Ricardo Mariano (MARIANO, 2011), ao contrário, tem “sido acuada pelo avanço de grupos católicos e evangélicos politicamente organizados e mobilizados para intervir na esfera pública”, pois “gozam de situação legal privilegiada”, conseguindo “volta e meia, através de seus lobbies e de sua representação parlamentar,
forçar uma insuportável capitulação do poder público”.
Por fim, Ricardo Mariano (2011) faz um alerta:
 (
A laicidade não constitui propriamente um valor ou princípio nuclear da República
 
brasileira, que deve ser defendido e preservado a todo custo, nem a sociedade brasileira
 
é secularizada como a francesa e a inglesa [...] o que [...] constitui séria limitação às
 
pretensões mais ambiciosas de laicistas.
Ricardo
 
Mariano,
 
2011
) (
Atividade 5
A religião, na modernidade, se tornou uma linguagem política, de protesto e identidade. Mas, entre o mundo
 
medieval
 
e o mundo moderno, emergiram
 
a laicidade e a secularização.
Sobre essa passagem e transformação, assinale a alternativa correta:
A
 
religião, como
 
linguagem de
 
poder e
 
como poder
 
da linguagem,
 
ocupa lugar
 
central no
 
mundo moderno.
A religião, como linguagem de poder e como poder da linguagem, não ocupou lugar central no mundo do
 
medievo.
A
 
religião,
 
apesar
 
de
 
perder a
 
centralidade
 
no
 
mundo
 
moderno, reproduziu
 
velhos
 
sentidos
 
e
 
não mobilizou
 
mudanças e lutas reacionárias.
A religião, no mundo moderno, adquiriu novos sentidos públicos, políticos e sociais, mobilizou mudanças e
 
lutas reacionárias.
A religião, como centro do mundo moderno, perdeu sentidos públicos, políticos e sociais, mas mobilizou
 
mudanças e lutas reacionárias.
)
Notas
INSERIR TÍTULO AQUI1
INSERIR TEXTO AQUI
Referências
CAMURÇA, Marcelo. Religião como organização. PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (orgs.). In: Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013, p. 287-298.
DILTHEY, Wilhelm. Introdução às ciências humanas — tentativa de uma fundamentação para o estudo da sociedade e da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 159.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 13.
FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016. GIL FILHO, Sylvio Fausto. Espaço sagrado. Estudos em geografia da religião. Curitiba: Intersaberes, 2008.
MARIANO, Ricardo. Laicidade à brasileira. Católicos, pentecostais e laicos em disputa na esfera pública. In: Revista Civitas, Porto Alegre, v. 11, n. 2, p. 238-258, p. 254, maio-ago. 2011, disponível aqui <https://goo.gl/M64oBT> . Acesso em: 05
fev. 2018.
OTTO, Rudolf. O sagrado. Petrópolis: Vozes, 2000.
PIERUCCI, Antônio Flávio. Religião como solvente: uma aula. In: Novos estudos. CEBRAP. São Paulo, n. 75, p. 111-127, jul. 2006. Disponível em: aqui <https://goo.gl/GnfB67> . Acesso em: 05 fev. 2018.
SILVEIRA, Emerson Sena; MORAES JÚNIOR, Manoel Ribeiro de. A dimensão teórica dos estudos da religião: horizonteshistórico, epistemológico e metodológico nas Ciências da Religião. São Paulo: Fonte Editorial, 2017.
Próximos Passos
A religião e suas múltiplas linguagens: estética, arte, política.
A religião e suas múltiplas linguagens: literatura, identidade visual, consumo. Espiritualidade e “pós-modernidade”.
Explore mais
Observe esses artigos que falam de algumas das linguagens da religião: Leia os textos:
Elementos para uma cartografia da fé: usos religiosos do espaço urbano e interpelação da laicidade
<https://goo.gl/MA1Vs1> . Acesso em 26 fev. 2018.
Turismo religioso popular? entre a ambiguidade conceitual e as oportunidades de mercado
<https://goo.gl/zK7gNY> . Acesso em 26 fev. 2018.
O potencial da Ciência da Religião de criticar ideologias — um esboço sistemático <https://goo.gl/TG5fE9> . Acesso em 26 fev. 2018.

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