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( Aula 3: As Ciências da Religião e suas Perspectivas Discplina: Ciências da Religião ) Apresentação: As ciências das Ciências da Religião foram incorporadas ao longo de tempo e em função das profundas controvérsias travadas em torno do estudo da religião. É importante que você saiba que as principais subdisciplinas que auxiliam as Ciências da Religião são as seguintes: Fenomenologia da religião; História das religiões; Sociologia e Antropologia da religião; Psicologia da religião; Geografia da religião e outras. Nesta aula, você aprenderá os processos que desembocaram na constituição dessas subdisciplinas auxiliares. Objetivos: Compreender as perspectivas das Ciências da Religião; Analisar as orientações básicas das disciplinas das Ciências da Religião; Descrever fatos básicos da composição disciplinar das Ciências da Religião. Contexto ( Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver. Guimarães Rosa, escritor brasileiro ) ( Um deus não é unicamente uma autoridade de que dependemos; é também uma força sobre a qual se apoia a nossa força. O homem que obedeceu a seu deus e que, por essa razão, acredita tê-lo-consigo, enfrenta o mundo com confiança e com o sentimento de energia fortificada. Émile Durkheim, sociólogo e pedagogo francês no texto, O problema religioso e a dualidade da natureza humana ) Você já deve ter se perguntado sobre a diferença entre as Ciências da Religião e as outras Ciências Humanas. Ambas podem estudar a religião, de fato, mas quais seriam as especificidades? As diferenças entre as duas ciências não invalidam o diálogo entre elas, mas é possível identificar uma história especifica, com ênfases e métodos que evoluíram ao longo do tempo e dos estudos. Quase em todo lugar em que a Ciência da Religião começou a estruturar-se, dentro das universidades e centros de pesquisa, ela teve de lutar em três frentes de batalha. ( 1 ) Primeira frente Na primeira, buscava a independência e autonomia dos estudos e pesquisas em relação à Teologia, por um lado, e, por outro, em relação às igrejas. Por isso, a Ciência da Religião foi vista como a filha emancipada da Teologia. ( 2 ) Segunda frente Na segunda frente, procurou estabelecer a epistemologia e metodologia de estudo em face de outras ciências sociais e humanas que já estudavam a religião. ( 3 ) Terceira frente Na terceira frente, buscou suavizar a crítica filosófica, sociológica e psicológica da religião e surgiram perspectivas para superar as incompreensões sobre os estudos de religião. Você perceberá que durante a constituição do campo das Ciências da Religião, ocorreu a formação de três convergências em termos de método e posição epistemológica: 01 Abstinência de julgamento a respeito da validade (valor) de cada expressão religiosa. 02 Vocação interdisciplinar das Ciências da Religião, acolhendo e reinterpretando a contribuição da Teologia, Psicologia, Filosofia, História, Sociologia, Antropologia e Geografia e, por meio desse processo de intercâmbio, originando as Ciências da Religião. 03 Um duplo trabalho, um de viés concreto-empírico-contextual (diacrônico), analisando a religião em seu tempo e espaço específicos e outro, em caráter sistemático-teórico (sincrônico), buscando comparar as diversas religiões. Passadas as lutas, essas convergências deram lugar a outras buscas e tensões. ( Note que a autonomia institucional é gradativamente conquistada no Brasil quando a reflexão sobre religião foi, enfim, reconhecida na árvore do conhecimento, em agosto de 2016 e quando, em 2017, a área foi regulamentada em conjunto com a Teolo g ia , Coordena ç ão de A p erfei ç oamento de Pessoal de Nível Su p erior ( CAPES ) 1 . Comentário ) A criação de uma área específica com o nome de “Ciências da Religião e Teologia” é um importante ganho. Como é um campo ou área em consolidação, note que há um grupo de pesquisadores que propõe a expressão no singular, Ciência da Religião, entendida como uma prática, uma perspectiva e uma teoria em processo de coesão. Há, também, um grupo de pesquisadores que prefere ver a Ciência da Religião como campo unitário, propondo dois elementos, a dissolução da ideia de subdisciplinas e a ideia de perspectivas e temáticas transversais às várias Ciências da Religião. Observe que não há um procedimento metodológico único porque, entre outras questões, esse campo científico ou ciência ainda se debate com o jogo terminológico (ciência/ciências e religião/religiões) e com o embate entre teorias substancialistas e funcionalistas (FIROLAMO; PRANDI, 2016). Cada ciência (História da religião, Sociologia e Antropologia, Fenomenologia) trata de uma faceta específica, escancarando a complexidade conceitual dos termos envolvidos nas tentativas de definição. Há, basicamente, duas grandes perspectivas, visões ou miradas, envolvidas no campo das Ciências da Religião: ( 1 ) Primeira perspectiva Uma que supõe a religião como derivada de outras ordens, em especial a ordem social, econômica e cultural. A religião teria uma “autonomia relativa” porque apesar de constituir-se em uma dimensão singular da vida e da realidade, ela está em contínua interação com outras dimensões (política, sexual, artística, econômica etc.). ( 2 ) Segunda perspectiva Uma que supõe a religião como derivada de outras ordens, em especial a ordem social, econômica e cultural. A religião teria uma “autonomia relativa” porque apesar de constituir-se em uma dimensão singular da vida e da realidade, ela está em contínua interação com outras dimensões (política, sexual, artística, econômica etc.). ( Ambas as perspectivas têm implicações sobre os métodos adotados para a abordagem da religião, entendida como conceito ou das religiões, entendidas como configurações específicas, presentes nas estruturas socioculturais das sociedades humanas. ) A partir dessas duas grandes perspectivas, as Ciências da Religião podem ser organizadas em dois grandes conjuntos, um, mais “fenomenológico”, com base na Fenomenologia, e outro “histórico-cultural-social”, com base no pluralismo metodológico das Ciências Humanas e Sociais. Apesar dessas duas grandes divisões, e das diferenciações internas a ambas, há uma inter-relação entre teorias, autores e pesquisadores dos dois conjuntos baseada em proximidades e distanciamentos. Uma Ciência da Religião pode desenvolver perspectivas distintas e olhares. Da crítica da religião à crítica das Ciências da Religião A história da crítica da religião, como você poderá perceber, é longa, acidentada, cheia de aventuras e desventuras. Para dar um marco ou um passo inicial, vejamos um pouco do nascimento da Ciência Moderna, por volta dos anos 1500 e 1600. ( Naquela época, nas universidades europeias, havia uma disputa intensa entre uma elite intelectual baseada nos ideais da Ciência Grega, em especial, nas ideias de Aristóteles (384 a.C.- 322 a. C.) e de Tomás de Saiba mais ) ( Aquino (1225-1274) um grupo insatisfeito com as respostas tradicionais da Teologia e da ciência aristotélica para novos problemas e questões que emergiam com as transformações que mundo atravessava. ) A antiga tese de que a Terra seria o centro do Universo, sustentada por setores da Igreja Católica, foi cada vez mais questionada, muitas vezes, dentro da própria instituição, levando, por exemplo, à perseguição e morte, como a de Giordano Bruno (1548-1600), monge, teólogo, filósofo italiano considerado “herege” e queimado na cidade de Roma (1600) a mando do Tribunal da Inquisição, acusado de espalhar as ideias de Copérnico. Houve tentativas para salvá-lo, mas as disputas de poder o condenaram. O novo racionalismo renascentista contribuiu para a valorização da Matemática (com a contribuição de pensadores muçulmanos, lembre-se de que a álgebra é um termo árabe),da experimentação e da observação sistemática da natureza. Tais procedimentos inauguraram a ciência moderna. Veja alguns dos nomes mais importantes dessa época: Nicolau Copérnico (1473-1543) Nascido em Florença (1469-1527), estabeleceu as fronteiras entre a ética e a política. Também escreveu dois livros clássicos: "O Príncipe" e "Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio". Johannes Kepler (1571-1630) Confirmou as teorias de Copérnico e formulou conceitos referentes à “mecânica celeste”. Galileu Galilei (1564-1642) Considerado inaugurador da ciência moderna. Contudo, um pouco antes, é preciso que tenha em mente dois filósofos: Nicolau Maquiavel (1469-1527) Demonstrou que o Sol era o centro do Universo (tese heliocêntrica) em oposição ao geocentrismo (Terra como o centro). Francis Bacon (1561-1626) Político e ensaísta inglês, produziu uma filosofia da ciência organizando o método indutivo com críticas à ciência escolástica, em especial à outra ciência que lhe dava base, a aristotélica. Criou a teoria dos “ídolos” (o falso e o errado) que atrapalham o conhecimento cientifico. E ainda... Immanuel Kant (1724-1804) No século XVIII, Kant disse ser necessário buscar a autonomia e maioridade do homem em relação às instituições que subtraíam sua independência e sua possibilidade de compreensão do mundo. É famosa sua frase: Sapere Aude! ou seja, “ousai saber”, a procura ativa do conhecimento, sem subordinação aos ditames que não os de uma razão universalmente válida. Mas, Kant também dizia que o núcleo da realidade, o noúmeno, inclusive o núcleo vivo da religião, não é acessível à análise racional-crítica. Questões como Deus, alma, redenção, e outras, não poderiam ser provadas com base na razão moderna. Esse filósofo germânico propõe um deslocamento chamado de Revolução Copernicana na Filosofia: ao invés de discutir a realidade em si (o núcleo mais denso e, de certa forma, impenetrável), seria possível analisar os aspectos da realidade passíveis de discussão racional e de conceituação, dentro dos limites da razão moderna. A partir de meados do século XIX, temos duas grandes críticas da religião vindas de Feuerbach e Nietzsche, vejamos. ( Leia dois trechos, extraídos do livro Princípios da filosofia do futuro , de Feuerbach para perceber sua forte crítica: “A tarefa dos tempos modernos foi a realização e a humanização de Deus — a transformação e a resolução da Teologia na Antropologia”. ... e esta: Ludwi g Feuerbach ( 1804 - 1872 ) ) “Deus enquanto Deus — como ser espiritual ou abstrato, isto é, não humano, não sensível, acessível e objetivo só para a razão ou para a inteligência, nada mais é do que a essência da própria razão; mas esta é representada pela Teologia comum ou pelo teísmo mediante a imaginação como um ser autônomo, diferente, distinto da razão. É, pois, uma necessidade interna, sagrada, que com a razão se identifique finalmente a essência da razão distinta da razão; portanto, que se reconheça, realize e atualize o ser divino como a essência da razão. Nesta necessidade, se funda o grande significado histórico da filosofia especulativa”. (Frases extraídas das páginas 6 e 7 do livro: FEUERBACH, Ludwig. Princípios da filosofia do futuro. Disponível em: https://goo.gl/XnsLia <https://goo.gl/XnsLia> . Acesso em 07 fev. 2018). Esse filósofo escreveu obras como: A essência do Cristianismo (de 1842) e A essência da religião (de 1846). Para ele, o papel da Filosofia não é o de desprezar a religião ou a Teologia, ambas são um importante fenômeno humano e merecem respeito, mas, podem ser objetos de novas interpretações. Friedrich Nietzsche (1844-1900) Nietzsche é autor de uma das questões de maior impacto na Filosofia e também a mais má compreendida: “a morte de Deus”. Poucos entendem corretamente, porque Nietzsche tem um estilo de escrita bem próprio. Além do modo tradicional, em prosa dissertativa, ele escreveu em aforismas e criou personagens (homem louco, Zaratustra, criança, camelo, leão). Vamos analisar, por exemplo, o o fragmento 125, do livro Gaia Ciência, de 1882: Nietsche coloca, na narrativa, um homem louco anunciando, em praça, as seguintes palavras: “’— Para onde foi Deus?’, gritou ele, ‘— Já lhes direi! Nós os matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos!”. ( Infelizmente, devido aos fortes problemas educacionais, no Brasil, você ouvirá interpretações ruins dessas críticas e de uma das ideias mais impactantes (“Deus está morto”, no pensamento de Nietzsche), que deve ser entendida como uma crítica à forma dominante da visão de mundo da modernidade. Para você entender melhor: a “morte de Deus” representa o fim dos valores supremos: o cientificismo positivista (arrogância da ciência moderna), a moral judaico-cristã e a metafísica platônica . ) Saiba mais Confira o livro: FEUERBACH, Ludwig. Princípios da filosofia do futuro. Disponível em: https://goo.gl/XnsLia <https://goo.gl/XnsLia> . Acesso em 07 fev. 2018. Observe um texto sobre o livro Gaia Ciência: SALAQUARDA, Jörg. A última fase de surgimento de A Gaia Ciência. Disponível em: https://goo.gl/VgNkef <https://goo.gl/VgNkef> . Acesso em: 20 nov. 2017. Veja o aforisma do homem louco completo: GHIRARDELLI Jr. Paulo. O homem louco. Disponível em: https://goo.gl/iMT5Ti <https://goo.gl/iMT5Ti> . Acesso em 20 nov. 2017 Assista a este vídeo sobre a Gaia Ciência: Café Filosófico - "A Gaia Ciência" de Nietzsche - Túlio Madson. Disponível em: https://goo.gl/oLm8Bt <https://goo.gl/oLm8Bt> . Acesso em: 20 nov. 2017. O olhar fenomenológico sobre a religião Você viu que as críticas feitas à religião colocaram em foco um processo de desnaturalização e desencantamento, ou seja, a religião nada mais é do que um fenômeno humano em suas raízes mais fundamentais. A partir da fenomenologia de Edmund Husserl (1859-1938) e das filosofias românticas alemãs, críticas da racionalidade moderna, além das Teologias do século XIX, nasceu uma forte corrente de pensamento desejando reestabelecer a ideia de que, na experiência religiosa, no sagrado mais propriamente dizendo, haveria um elemento irracional (além do seu alcance, misterioso), de cunho mais interior, subjetivo, da ordem da emoção, anterior à moralidade, sistematização e organização empreendidas pela religião. É necessário que você entenda um pouco do pensamento de Husserl sobre o que seria o olhar fenomenológico sobre a religião. Husserl critica a ideia de que as leis lógicas, bases de qualquer ciência, possam ser fundamentadas na psicologia empírica. Daí emerge a questão: como o sujeito que conhece (sujeito cognoscente) apreende uma realidade que lhe é exterior? Tentando superar a dicotomia entre objetividade e subjetividade do conhecimento, nasce uma definição que articula o mundo real e objetivo e o mundo da consciência do sujeito, marcado pela subjetividade. O que poderia definir a consciência além dos subjetivismos e empiricismos de forma segura e objetiva? A intencionalidade, ou seja, toda consciência dirige-se a, intenciona a algo, pois não há consciência pura, desligada do mundo, “toda consciência é consciência de”, nas palavras de Husserl. A Fenomenologia joga luz sobre o que aparece, o fenômeno, e deseja limpar os pré-aparecimentos, ou seja, limpar o objeto das cascas de cultura e história que lhe aderem ao longo do espaço-tempo. Veja bem que a Fenomenologia propõe a suspensão dos juízos ( epoché), temporariamente, e que se descasque o objeto de análise ao máximo, para que se atinja o cerne e a essência, despida de toda história acumulada. Os principais autores dizem que o sagrado não poderia ser totalmente e bem compreendido dentro dos cânones da ciência positiva e objetivista. Você perceberá que a religião é apresentada, vista e entendida como um domínio singular da existência humana. ( Leia este interessante e breve artigo: Saiba mais ) ( ZILLES, Urbano. Fenomenologiae teoria do conhecimento em Husserl. In: Revista da Abordagem Gestáltica . XIII, n. 2, p. 216-221, jul-dez., 2007. Disponível em: htt p s:// g oo. g l/t4E4 y Y <htt p s:// g oo. g l/t4E4 y Y> . Acesso em: 20 nov. 2017. Ele aborda as principais ideias da fenomenologia em linguagem acessível. ) Durante séculos, o conhecimento sobre as religiões foi crescendo lentamente, embora fosse fragmentário e restrito (poucos sabiam ler, havia poucas escolas e lugares para transmitir o saber acumulado). A partir do século XVII, você pode atentar para a importância do conhecimento filológico, ou seja, das línguas de outros povos e civilizações, pois ajudaram a decodificar grandes obras escritas, em especial sua literatura sagrada (relativa aos mitos, aos deuses, às divindades rituais etc.). Ocorreu a elaboração de dicionários e gramáticas de línguas orientais (árabe, chinês, malaio, persa, páli ou sânscrito). Pouco a pouco, nasceu uma visão mais madura sobre outros sistemas religiosos. Há vários desses sistemas que se tornaram mais conhecidos: Zoroastrismo Sistemas hindus e budistas Os estudos de civilizações antigas transformam-se em ciências próprias: Egiptologia (estudo da cultura/civilização egípcia) Indologia (estudo da cultura/civilizações hindus) Sinologia (estudo da cultura/civilização chinesa) Conforme escreveram os historiadores da religião italianos, Firolamo e Prandi (2016, p. 59): ( A ‘história’ das religiões, entendida como disciplina autônoma, com objeto e método próprios, representa uma conquista cultural de libertação, por parte da dimensão religiosa e de suas dinâmicas, dos vínculos de tipo teológico, estabelecido na segunda metade do século XIX. ) Você notará que, no livro do filósofo escocês, David Hume, História natural da religião (de 1757), ele não se contrapõe à noção de Deus criador da natureza, mas defende uma separação entre “a fé nos princípios fundamentais do verdadeiro teísmo e da verdadeira religião”, segundo palavras dos historiadores Firolamo e Prandi (2016, p. 59). A partir daí você notará que Hume investiga a suposta origem dos sentimentos (medo, horror, alegria) e sua relação com a religião. Para isso, ele compara o monoteísmo e o politeísmo que foi considerada a primeira e mais antiga religião da humanidade e considera o culto politeísta mais tolerante com os outros cultos, cooptando-os e adaptando-os (deuses, cultos, cerimônias e tradições). No paradigma histórico, a religião é vista como uma emergência — no sentido de vir à tona, vir a ser — e assim deve ser compreendida. A historiografia protestante, a exegese bíblica e a pesquisa filológica comparada entre as religiões marcaram profundamente os estudos históricos da religião. Assim, tal paradigma foi alimentado tanto pelo historicismo alemão quanto pelo italiano na, então, nascente Ciência da Religião. O olhar histórico foi marcado pela oscilação entre a explicação e a compreensão (Erklären e Verstehen): ( 1 ) Explicar é demonstrar as conexões entre causas e efeitos, de forma objetiva, clara, formulando juízos lógicos. ( 2 ) Compreender é o processo pelo qual apreende-se, entende-se e interpreta-se os sentidos das ações, símbolos, objetos, relações humanas. Nas palavras do cientista da religião Hans-Jürgen Greschat (2005, p. 34), ocorreram duas condições para o nascimento da História da Religião e sua rápida consolidação como disciplina acadêmica: Por um lado, o termo religião já se libertou de sua identificação cristão-dogmática com o cristianismo e, por outro, a religião é [...] compreendida como grandeza histórica. Atenção Atente que nesses grandes movimentos, os livros bíblicos, seus relatos e personagens, são submetidos a teorias e análises arqueológicas, históricas, sociológicos, antropológicos, psicológicas e linguísticas. Perceba que o resultado de tudo isso revelou, e continua ainda a mostrar, um painel muito diferente do que os séculos de apologia e catequese transmitiram. Os autores e contextos onde se realizaram as narrativas bíblicas são diversos e passíveis de uma variada intepretação, algumas mais restritas e apologéticas, outras mais amplas e menos apologéticas. Animais pintados na Gruta de Lascaux, no sul da França | Fonte: wikimedia.org, autor: Prof saxx É importante que você saiba que a Arqueologia teve um papel central nesses estudos, por exemplo, os achados de estruturas pré-históricas, como são chamadas as estruturas anteriores ao surgimento dos sistemas de registro escritos (alfabetos). As pinturas rupestres encontradas em cavernas no sul da França (milhares de anos de idade), as escavações em Troia, na Ilha de Creta, na Turquia, no Egito, nos atuais Irã, Iraque, Síria, Israel, Índia etc., mostram que a religião cristã, apesar de ser uma das formadoras do Mundo Ocidental, é apenas uma entre outras manifestações culturais e religiosas na vasta história humana sobre a Terra. Considere o que pensava um dos muitos fundadores das Ciências da Religião, Cornelis Petrus Tiele (1830-1902), quando esteve no Parlamento Mundial das Religiões realizado na cidade de Chicago (EUA), em 1893: a comparação das religiões não deveria ser confundida com um empreendimento apologético (defesa de uma e condenação de outra). Note que o estudo das religiões é um estudo não preconceituoso de dogmas, textos, ritos e crenças das muitas religiões. A partir de todo esse conjunto, o conhecimento sobre as religiões enriqueceu- se e continuou aprofundando-se em muitas direções. Durante o século XX, novas áreas de estudos foram abertas e outras aprofundadas, por exemplo, o estudo das civilizações e culturas africanas, os estudos pós-coloniais e feministas etc. ( Você já deve ter ouvido ou lido algo sobre o imenso e rico continente africano, mas, em geral, o senso comum é preconceituoso e enxerga pouco as riquezas. A África foi palco de grandes civilizações, como a egípcia, a núbia. Houve grandes impérios e tribos, etnias e línguas variadas, sistemas “religiosos” e míticos muito diversos, sendo os mais famosos aqueles que contam as histórias dos orixás, divindades associadas à natureza e aos ancestrais dessas tribos e povos. Comentário ) Atualmente, mesmo após os graves problemas causados pelo colonialismo europeu, há um panorama de identidades. O olhar sociológico e o antropológico sobre a religião Olhar sociológico O olhar sociológico tem origem, como você pode suspeitar, diversa e plural, do mesmo modo que o histórico, aliás, quase são as mesmas fontes. Mas, no século XIX ele se distinguiu da História e da Antropologia. Os fundadores desse olhar, que você verá com mais detalhes na aula sobre as escolas sociológicas e antropológicas, estavam preocupados com a religião entendida como produto e função da sociedade, bem como com suas influências sobre a vida e as dimensões sociais, políticas e outras. As raízes desse olhar estão na Filosofia, a grande nascente das Ciências Humanas e Sociais. É no século XIX que a preocupação científica com perguntas pela origem e pelo desenvolvimento das religiões, fora do âmbito da Teologia, se tornou uma preocupação forte e com bases sólidas. Os modelos filosóficos de desenvolvimento da vida e da história são fundamentais nesse sentido. Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), filósofo alemão, abriu o caminho para essas concepções com sua filosofia da dialética (tese-antítese-síntese) e influenciou esquemas como o do filósofo e sociólogo francês August Comte (1798-1857). Esse pensador francês interpretou a história humana como dividida em três fases: 01 A da religião 02 A da metafísica 03 A da ciência positiva Cada etapa teria uma característica, mas haveria um progresso constante. Depois, essas divisões foram criticadas porque eram evolucionistas e inapropriadas. ( Perceba também que a obra e as ideias de Charles Darwin (1809- 1882), naturalista e biólogo inglês, autor do famoso livro A origem das espécies, de 1859, foram transladas para outras áreas, dando origem às primeiras escolas sociológica e antropológica (evolucionismo cultural- social). Essa transposição foi criticada porque se revelou inadequada, mas, até os anos 1920, foi muito valorizada. Atente para nomes como o do filósofo e sociólogo Herbert Spencer (1820-1903). Ele defendeu que Saiba mais ) ( a religião teria se originado a partir das longínquas raízes da humanidade, a partir de um culto primitivo dos mortos, com a veneração dos manes (manismo), os ancestrais mortos. ) O olhar sociológico é preocupado com questões próprias do social, da sociedade (classes sociais, organizações, instituições, poder, resistências, democracia, política etc.) e religião (ética, ação social, instituição, valor, norma). Daí nascerá a Sociologia da Religião. No campo da Etnologia, o modelo evolucionista cresceu, pois, no contexto do forte colonialismo, essa ciência emergente conseguiu organizar os dados de pesquisas descritivas sobre outros povos, tribos e etnias não europeus. Essa organização seguiu o esquema tripartite assim resumido: selvageria, barbárie e civilização, sendo que a última etapa, supostamente a mais desenvolvida e melhor, seria ocupada pelos povos europeus. Nasce daí a ideia de uma “missão civilizatória” que revelou ter uma face dupla: ( 1 ) Por um lado, antigas estruturas (tradições locais) eram desmanteladas por conta do avanço do mercado, das indústrias e do consumo (capitalismo como sistema mundial). ( 2 ) Por outro, novas instituições ou eram impostas ou eram negociadas com as elites políticas e econômicas dos povos não europeus. Aos olhos dos cientistas da época, era uma questão urgente documentar modos de vida e existência que estavam em vias de extinguirem-se, segundo sua ótica. Nasce, perceba bem, a ideia dos museus, ou seja, lugares onde objetos e materiais são organizados para contar uma história supostamente progressiva. Há muitas críticas ao evolucionismo, entre elas o modelo teórico (evolução linear, direta, necessária) e o critério usado (progresso técnico- material) para pensar os dados obtidos. Esse olhar voltado ao que era considerado exótico e estranho (ao diferente, à alteridade, como a Antropologia gosta de dizer) também foi direcionado à própria Europa, que descobriu dentro de si um rico universo de crenças e religiões populares, lendas, contos, que estavam: Nas memórias dos camponeses (tradição oral) Nos arquivos dos julgamentos e processos da Inquisição Em outras fontes documentais Olhar sociológico O olhar antropológico também tem, em sua história, as mesmas raízes que os olhares histórico e sociológico. Mas, somente no século XIX, ele se tornou distinto e com métodos próprios. Em um primeiro momento, o do Colonialismo, quando a Europa subjugou e explorou a África, Ásia, Oceania, e quando, por isso, se deparou com a alteridade, com diferentes costumes, valores e ritos, inclusive ‘religiosos”, o choque foi tremendo. ( Note: muitos pensadores perguntaram-se o que significavam aquelas novas realidades. Esse contato foi chamado de antropologia de gabinete porque não era feito diretamente, em contato vivo com a realidade viva, mas feito com dados coletados por etnógrafos, estudiosos que registravam os modos e costumes de tribos, grupos e povos. Atenção ) É interessante que você saiba alguns nomes, como o de William Robertson Smith (1846-1894), outro pesquisador, elegeu o sacrífico ritual, em especial no culto e na cerimônia, como a forma primordial de religião, na qual realiza- se o ato comunal do rito. Para chegar a essa hipótese, o estudioso comparou os antigos ritos hebreus de sacrifício com os de outros povos e as mudanças ao longo da história. Com isso, nascerá a Antropologia e, dentro dela, os estudos sobre religião. O olhar psicológico sobre a religião Forma-se ao longo de uma história com muita diversidade. Mas, você poderá localizar algumas ideias e autores fundamentais que, em princípio, estão no campo maior da Filosofia. Tenha em mente que o sentido de Psicologia variou no tempo e não pode ser tomada apenas no moderno significado que foi adquirido, ou seja, o de ciência que estuda a subjetividade humana (comportamento, cognição, afeto, estruturas mentais etc.). É necessário que você pense em outros sentidos, mais amplos, de cunho filosófico, por exemplo, investigação a respeito da alma ou do espírito humano. Nesse sentido, você encontra investigações sobre a relação entre sentimento, pensamento e religião no pensamento de autores como: 01 Friedrich Schleiermacher (1768-1834), filósofo e teólogo germânico, escreveu sobre a Hermenêutica, a Pedagogia e as relações entre as Ciências, a Filosofia e a Teologia. Afirmou que a essência da religião não é o pensar e o agir, mas a intuição e o sentimento, definindo a religião como sentido e gosto pelo infinito. A religião como intuição e sentimento do Universo. 02 Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855), filósofo e teólogo dinamarquês que escreveu obras com poderosas reflexões, como Temor e tremor (em 1843), na qual reflete sobre a questão do dilema ético do sacrifício de Isaac por Abraão, famosa passagem bíblica do Antigo Testamento e seus paradoxos e aporias se vista por uma ótica racional-abstrata moderna. Mas, uma de suas mais criativas obras foi sobre o filósofo Sócrates, intitulada Sobre o conceito de ironia. Observe que em outra obra, O conceito de angústia (1844), o dinamarquês explorou esse sentimento de vida no homem, junto com toda a galáxia de afetos associada à angústia: o desespero, a culpa e a melancolia. Apesar de todas essas ideias, o olhar psicológico se desenvolverá em outros termos e conceitos, com a importante contribuição de Wilhelm Wundt (1832-1920) e sua psicologia experimental (laboratórios). O olhar psicológico preocupa-se com a interligação entre religião, sagrado, espiritualidade e o comportamentos, personalidade e estrutura psíquica do ser humano. Daí nascerá a Psicologia da Religião. O olhar geográfico sobre a religião Tem origens e fontes parecidas com a dos olhares histórico, geográfico e antropológico. Mas, em termos de constituição de uma área específica da ciência, a Geografia da Religião é recente. A relação entre realidade geográfica, mito, rito, religião, espaço sagrado são antigas, remontam, por exemplo, aos cultos funerários, que implicavam em uma disposição espacial de objetos, do corpo, do lugar etc. Esses cultos possuem dezenas de milhares de anos, remontam ao “momento” quando a espécie humana desenvolveu uma “consciência” da finitude, da morte, da dor, do luto, da perda. As pirâmides egípcias são poderosos monumentos mortuários, construídos segundo disposições simbólicas relativas ao sistema mítico (os deuses, os homens, o universo e as relações entre os três). | Fonte: www.shutterstock.com A geografia mítica da Grécia, por exemplo, é complexa e rica, o Monte Olimpo, onde os deuses gregos viviam (Zeus, Hera, Afrodite, Ares, Hermes) era de fato um lugar muito bonito em Atenas. O Hades significava tanto a morada dos mortos, quanto o irmão de Zeus, que governava essa região mítica inferior. ( O Hades era representado por uma profunda caverna dividida por um rio lendário de fogo, o Estige, no qual as almas estavam. Os deuses gregos eram tidos como imortais, mas não eram transcendentes como o Deus hebreu ou o Deus cristão, tinham paixões e virtudes avassaladoras. Saiba mais ) Essa geografia mítica, que inclui ilhas encantadas, seres monstruosos e seus lugares, é descrita nas obras Odisseia e Ilíada). Saiba que o mapa mais antigo, pelo menos até o momento, data de 2500 a.C. e mostra um rio, provavelmente o Eufrates, na região entre Irã e Iraque, tida como a mítica região do Jardim do Éden. Conheça quatro nomes que estão na origem do olhar geográfico: Erastóstenes de Cirene (276 - 194 a.C.): matemático, poeta e geômetra, viveu nas cidadesde Alexandria e Atenas, poderosos centros culturais. Com talento e razão, demonstrou matematicamente a esfericidade da Terra. Heródoto (484 - 425 a.C.): filósofo e historiador grego, além de descrever os costumes, mitos e rituais, trouxe detalhados relatos de espaços, lugares e territórios. Estrabão (64 a.C. – 20 d.C.): filósofo e historiador grego, criou a ideia de coordenadas, mas procurou fazer a correspondência entre o mito e o lugar quando, por exemplo, menciona a luta entre Jasão (herói grego) e o Minotauro (monstro mítico, cabeça de touro e corpo de homem) na ilha de Creta. . Claudio Ptolomeu (90 – 168 d.C.): astrônomo, filósofo e matemático nascido no Egito durante a dominação romana, defendeu o geocentrismo (Terra como centro do Universo), sistema abraçado pela Igreja Católica até a revolução feita por Nicolau Copérnico (1473-1543), nascido onde é hoje a Polônia, foi astrônomo, matemático e médico. Note que todas as religiões, as tribais e étnicas — restritas a um povo ou etnia, com forte tradição oral — as universais — amplas, envolvendo classes, segmentos, grupos, países, povos, com forte tradição escrita, desenvolveram e desenvolvem uma concepção de espaço sagrado. ( Atividade 1. Entre a metade do século XIX e o início do século XX, identifique 3 grandes filósofos que ajudaram as Ciências da Religião a pensar o sentimento e o processo histórico. ) ( 2. Entre a metade do século XIX e o início do século XX, localize dois sistemas de pensamento que provocaram reações nas Ciências da Religião. ) ( 3. Como esses autores e sistemas influenciaram os estudos de religião? ) 4. Leia este texto de uma cientista da religião: “Ao tratarmos especificamente do tema religião, desconstruir as assimetrias implicaria verificar, nos termos dos religiosos, como funcionariam e o que significariam as expressões religiosas e as experiências individuais ‘pregnantes de emoção, de efervescência induzida e de experimentação polivalente’ e, reconhecendo que elas são constituídas de uma lógica não marginal, percebê-las não simplesmente como desvios de algum modelo ideal (católico apostólico romano, protestante anglo-saxão etc.), mas como racionalidade que mobiliza e articula vários sentidos de acordo com determinadas redes sociais”. (Fonte: RODRIGUES, Elisa. Ciência da Religião e ciências sociais: aproximações e distanciamentos. In: PLURA, Revista de Estudos de Religião, v. 2, nº 1, 2011, p. 65-79, p. 70). Tendo em vista o nascedouro da crítica da religião, assinale a alternativa que apresenta a melhor perspectiva: a) As Ciências da Religião devem defender e julgar as visões religiosas de mundo. b) As Ciências da Religião devem ser críticas mordazes das estruturas religiosas. c) As Ciências da Religião equilibram-se entre a crítica e a sensibilidade para com a religião. d) As Ciências da Religião não veem, na religião, uma forma de conhecimento do mundo. e) As Ciências da Religião veem, na religião, apenas uma forma ética de conhecimento do mundo. 5. O olhar fenomenológico procura antes o fenômeno do que a história de constituição desse fenômeno. Nesse sentido, a doutrina fenomenológica de Husserl contribui para o olhar fenomenológico presente nas Ciências da Religião. Tendo isso em vista, assinale a alternativa correta: a) O uso da epoché (suspensão do juízo), contribui na busca pela estrutura elementar da religião. b) O uso da epoché (suspensão do juízo), ajuda a buscar os contextos históricos da religião. c) A consciência, não definida em relação ao objeto, obscurece a estrutura religiosa. d) A consciência, somente definida em relação ao objeto, obscurece a estrutura religiosa. e) A consciência, definida parcialmente em relação ao objeto, desvela a estrutura religiosa. 6. O olhar sociológico e antropológico tem profundas e antigas raízes, mas somente no século XIX, esse olhar constituiu-se em duas ciências que estudaram a religião. Qual seria, dentre muitas, as duas maiores preocupações desses dois olhares? Assinale e resposta correta: a) As duas maiores preocupações estão relacionadas à estrutura religiosa da realidade. b) As duas maiores preocupações referem-se à relação sociedade- cultura-religião. c) As duas maiores preocupações referem-se à relação entre devoção, mito e magia. d) As duas maiores preocupações estão relacionadas à inter-relação sociedade, magia e cultura. e) As duas maiores preocupações referem-se ao sentimento religioso e sua expressão social. 7. O olhar psicológico possui antigas raízes nas reflexões dos gregos sobre a psique. Mas, ao longo do tempo, outras questões foram suscitadas. Tendo em vista suas mudanças, assinale o que essa perspectiva psicológica NÃO é nas Ciências da Religião. a) Uma visão sobe o comportamento religioso do ser humano. b) Uma compreensão do relacionamento entre o sentimento e a religião. c) Uma análise da relação entre intuição e a experiência religiosa. d) Um entendimento sobre a angústia e o sagrado. e) Uma explicação da relação entre razão e emoção na sociedade. ( O olhar geográfico, como os outros olhares tem como uma de suas raízes, o pensamento grego. Porém, esse olhar ampliou-se pouco a pouco, abarcando a experiência espacial do homem. O que estaria sendo analisado por essa perspectiva geográfica? O fluxo da experiência religiosa. A relação entre rito funerário e espaço sagrado. A relação entre a o mito e a sociedade. A relação entre o sagrado e o espaço social-geográfico. A relação entre as lendas e os povos. ) Notas Teologia, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) 1 Notícia disponível em: link www.anptecre.org.br <http://www.anptecre.org.br/index.php? pagina=grupo_noticia&tela=10&vw=259> . Acesso em 24 mar. 2017. Referências FIROLAMO, Giovanni; PRANDI, Carlo (orgs.). As Ciências das Religiões. 8. ed. São Paulo: Paulinas, 2016. GRESCHAT, Hans-Jürgen. O que é Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2005. PASSOS, João D.; USARSKI, Frank (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas: Paulus, 2013. USARSKI, Frank (org). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, 2007. Próximos Passos As escolas fenomenológicas e suas contribuições aos estudos de religião; As noções de sagrado e suas repercussões; A autonomia e a especificidade da experiência religiosa. Explore mais Leia este artigo: RODRIGUES, Elisa. As Ciências Sociais da Religião como Ciências da Intepretação. Disponível em: https://goo.gl/A4X5WV <https://goo.gl/A4X5WV> . Acesso em: 20 nov. 2017.
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